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editorial Dormir bem é sinal de boa saúde Gláucia Viola, editora O sono é para o indivíduo o mesmo que dar corda ao relógio. Arthur Schopenhauer SH UT TE RS TO CK O despertador não é um item apreciado pela maioria de nós. Mas ouvir seu som após uma noite ruim piora ainda mais a situação. A sensação de ter o peso de uma rocha no corpo e areia nos olhos é desesperadora para quem precisa levantar da cama com uma energia potencial para começar um NOVO�DIA��!�PREVISÎO�Ï�CERTA��SERÉ�UM�DAQUELES�DIAS�ARRASTADOS��!lNAL��O�SONO�Ï�UM�ESTADO�QUE� permite o descanso do cérebro para que ele se recupere e possa suprir as próximas necessidades biológicas e PSICOLØGICAS��-AS�lCAR�COM�A�QUALIDADE�DO�SONO�COMPROMETIDA�PODE�TRAZER�INÞMEROS�PREJUÓZOS�QUE�VÎO�MUITO� ALÏM�DO�ESGOTAMENTO� FÓSICO��.OITES�MALDORMIDAS�AFETAM�AS�ÉREAS�EMOCIONAIS��PSICOLØGICAS�E�COGNITIVAS�DE� qualquer pessoa. Imagine quando acomete crianças desde a primeira infância. 1UEM�NÎO�TEM�UMA�BOA�NOITE�DE�SONO�ESTÉ�SUJEITO�A�SENTIR�SONOLÐNCIA�DIURNA�EXCESSIVA��IRRITABILIDADE�E�DI- lCULDADE�DE�CONCENTRA¥ÎO��/�SONO�TAMBÏM�INTERFERE�NA�MANUTEN¥ÎO�DA�MEMØRIA�E�NO�BOM�FUNCIONAMENTO� GASTROINTESTINAL��%SPECIALISTAS�EXPLICAM�QUE�DURANTE�O�PERÓODO�EM�QUE�A�PESSOA�DORME�HÉ�A�PRODU¥ÎO�DE�MUI- TOS�HORMÙNIOS��COMO�POR�EXEMPLO�O�DO�CRESCIMENTO��5MA�ALTERA¥ÎO� no ciclo do sono pode causar problemas metabólicos nessa área. Por ISSO��DORMIR�Ï�TÎO�IMPORTANTE�PARA�O�DESENVOLVIMENTO�DE�UMA�CRIAN- ¥A�QUANTO�BRINCAR�� COMER�OU�ESTUDAR��0ORÏM��ESTUDOS�DEMONSTRAM� QUE� OS� DISTÞRBIOS� DO� SONO� INFANTIL� ESTÎO� CADA� VEZ�MAIS� FREQUENTES� em nossa sociedade. Esse dado é ainda mais preocupante quando COLOCAMOS�EM�PAUTA�A�QUESTÎO�DA�APRENDIZAGEM��E�A�CONDI¥ÎO�DE�UM� bom sono nessa fase é essencial para que o processo ocorra de forma saudável e adequada. Por isso o tema de capa desta edição da Psique Ciência&Vida aborda as diversas parassonias que atingem os pequenos desde mui- TO�CEDO�E� TAMBÏM�FAZ�UM�IMPORTANTE�ALERTA��-UITAS�CRIAN¥AS�COM� esses sintomas podem ser diagnosticadas de forma equivocada como PORTADORAS�DE�TRANSTORNOS�DE�APRENDIZAGEM��A�EXEMPLO�DO�4$!(��QUANDO�NA�VERDADE�SOFREM�DE�DISTÞRBIOS� do sono. h¡�PRECISO�TER�CUIDADO�E�VERIlCAR�QUAL�Ï�REALMENTE�O�PROBLEMA��3E�ESSA�CRIAN¥A�ESTÉ�TENDO�UM�PADRÎO�DE�SONO� COMPROMETIDO��ESCASSO��ALTERADO��OU�AINDA�SE�EXISTE�ALGUMA�PARASSONIA��QUE�COSTUMA�CAUSAR�OS�SINTOMAS�QUE� PODEM�SER�CONFUNDIDOS�COM�OS�DE�4$!(v��ENFATIZA�A�PSICOPEDAGOGA�CLÓNICA�E�NEUROPSICØLOGA�#ARLA�$ANIELA� 2ODRIGUES��AUTORA�DO�ARTIGO�� $ESSE�MODO��lQUE�ALERTA�ÌS�ALTERA¥ÜES�NO�PADRÎO�DE�SONO�DOS�PEQUENOS��POIS�UMA�INDISPOSI¥ÎO�EMOCIONAL� ou falta de atenção na aula podem estar longe de ser fricote ou dengo da idade. Boa leitura! Gláucia Viola www.facebook.com/PortalEspacodoSaber CAPA sumário 58 03/05/2017 23:50:5 9 MATÉRIAS ENTREVISTA Especialista em business coaching, o canadense Brian Tracy crê que as emoções mais intensas podem gerar formas de eliminação de maus hábitos SEÇÕES 06 EM CAMPO 12 IN FOCO 14 PERFIL 16 CIBERPSICOLOGIA 18 PSICOPOSITIVA 20 PSICOPEDAGOGIA 22 SEXUALIDADE 32 COACHING 34 LIVROS 50 RECURSOS HUMANOS 52 NEUROCIÊNCIA 66 DIVà LITERÁRIO 68 CINEMA 80 EM CONTATO 82 PSIQUIATRIA FORENSE 08 Promotor de sofrimento A discriminação, seja religiosa, de etnia ou orientação sexual, ainda é frequente e pode provocar danos graves à saúde 24 Psicanálise e o câncer A ideia é adotar um novo entendimento para a realidade, olhando a doença para buscar aquilo que está escondido e latente 54 Artesanato saudável !�RESSIGNIlCA¥ÎO�DAS�PRÉTICAS� manuais contribui para um agrupamento humano afetivo e para a ativação da memória 72 IM AG EM D A CA PA : S HU TT ER ST OC K DISTÚRBIOS DO SONO As chamadas parassonias interferem na evolução da criança e geram grandes prejuízos nos aspectos emocionais, psicológicos e cognitivos Dossiê: PSICOPEDAGOGO NA EMPRESA O universo corporativo tem aberto ESPA¥O�Ì�PARTICIPA¥ÎO�DO�PROlSSIONAL� da Psicopedagogia na gestão de funcionários e colaboradores www.portalcienciaev ida.com.br psique ciência&vida 35 P sic o p e d ag o g ia c o rp o rativ a d o s s i ê P sic o p e d ag o g ia c o rp o rativ a Desenvolvimento do CAPITAL HUMANO 12 3R F Por Marília Maia C osta Marília Maia Costa é especialista em Psi copedagogia Clínic a e Institucional. Par ceira de negócios d a BLP RH. Autora dos livro s Recrutamento & S eleção, Psicopeda gogia Empresarial e Jogos Corporativo s – ,�G� �����,�G���IG�.� �� �����I��, publicados pela Wak Editora. O mundo corporat ivo moderno investe cada vez m ais na participação do ps icopedagogo nas questões inter nas referentes ao relac ionamento humano, treinamen to e desempenho dos f uncionários 04/05/2017 00:07:16 35 Altruísmo nas redes sociais !¥ÜES�lLANTRØPICAS�PEDEM�UMA� leitura psicanalítica da sociedade, que tem o comportamento narcisista como padrão 28 www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5 INTELECTUALIDADE PERDIDA REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 68 giro escala A edição 68 da revista Sociolo- gia traz um texto, cujo título é “In- telectualidade perdida”, que aborda a necessidade do intelectual pro- gressista brasileiro de desenvolver o trabalho de resgatar o inconsciente popular, história e desejo de trans- formar o homem, o mundo e a vida. Af inal de contas, um dos temas que mais reclamam uma profunda re- f lexão nesses tempos de maré cheia pós-moderna e, ao mesmo tempo, reacionária, diz respeito ao papel que cabe ao intelectual. “A f igura do intelectual (artista, f i lósofo, pensa- dor), tal como criada na moderni- dade clássica, entrou no seu ocaso”, af irma Beatriz Sarlo, em Cenas da Vida Pós-moderna . Porém, segundo a mesma escritora, algumas das fun- ções reclamadas pelos intelectuais ainda continuam atuais, tais como: “a crítica daquilo que existe, o espí- rito livre e anticonformista, o deste- mor perante os poderosos, o sentido de solidariedade com as vítimas”. Hoje, o sentido heroico atribuído à prática intelectual não atrai mais ninguém. Primeiro porque os pró- prios empreenderam uma profunda revisão do elitismo explícito dos in- telectuais do modelo clássico, bem como as instituições cooptaram esses mensageiros do conhecimen- to imprescindível à prática do juízo crítico. E nas academias trabalham como especialistas. A ensaísta ar- gentina tenta traçar uma linha sutil demarcando o exercício teórico dos especialistas e dos intelectuais. A INTERNET E NOSSOS RELÓGIOS REVISTA FILOSOFIA – EDIÇÃO 126 No artigo que estampa a capa da edi- ção 126 da revista &ILOSOlA�#IÐNCIA�6IDA, o professor Francisco de Castro Samarino e Souza, graduado em História com mes- trado em História e Cultura Política, mos- tra como a internet ajusta nossos relógios criando um laço entre pessoas que sequer se conhecem, mas que dependem umas das outras para a realização das suas ati- vidades. Para ele, desde muito cedo nos vemos sendo disciplinados a lidar com o tempo. “Na escola os horários são rígidos. Adaptamos nossas necessidades bioló- gicas às demandas do tempo. Hora para sentir fome, hora para nos higienizarmos e hora para dormirmos. Não percebemos, mas desde muito cedo somos discipli- nados a agir de acordo com convenções estabelecidas em torno dos relógios e dos calendários”, destaca. Dessa forma, o autor avalia que o “ser moderno” representava uma ruptura com um passado e um presente não mais inte- ressante aos jovens. Entretanto,a ambição EM�ROMPER��EM�REDElNIR�A�REALIDADE�QUE� os circundava, ocasionava a necessidade DE� SE�DElNIR�UMA�DIRE¥ÎO�A� SER� SEGUIDA�� “Ser moderno”, então, acarretava na cons- TRU¥ÎO�DE�UM�PROJETO��NA�DElNI¥ÎO�DE�UM� hHORIZONTE�DE�EXPECTATIVAv�E�NA�REDElNI- ção de um passado como fonte de experi- ência. A revista disponibiliza artigos sobre política, ética, sociedade, comportamento e economia, todos elaborados por espe- cialistas e desenvolvidos com base em UMA�AMPLA�VISÎO�lLOSØlCA�E�ACADÐMICA� O LEGADO NADA LÍQUIDO DE BAUMAN, POR DENNIS DE OLIVEIRA, DA ECA www.portalespacodosaber.com.br O VERDADEIRO DESENVOLVIMENTO Em Sala de Aula: Discuta o trabalhismo e seus desdobramentos atuais Os aspectos que o infl uenciam e como o Estado pode promovê-lo, na teoria e na prática Mundo na era Trump Ações do novo presidente dos EUA podem TF�DPOm�HVSBS� enormes paradoxos, B�TVSQSFFOEFS�� os reacionários F�B�FTRVFSEB� Quem é o novo intelectual? Pensadores precisam rever TFV�QBQFM� frente aos novos cenários sociopolíticos Política na modernidade 3FHSBT � JOTUJUVJªFT�F� atores políticos DPOTBHSBEPT� não mais respondem isoladamente às demandas na BUVBMJEBEF LUIZ FELIPE PANELLI A jusfilosofia e a possibilidade de gerar novas reflexões sobre a democracia REFLEXÃO E PRÁTICA: A indústria cultural em meio ao colapso da globalização ANO X No 126 – www.portalespacodosaber.com.br �(',d2�������35(d2�5������� RENATO JANINE RIBEIRO Os diversos aspectos e paradoxos presentes na chamada liberdade de expressão A intensa sincronização de nossos atos cotidianos tornou a sociedade refém de uma corrida sem fim O NOVO SENTIDO DO TEMPO HABERMAS O quanto a linguagem religiosa continua a influenciar nossa compreensão sobre as coisas que nos rodeiam ÉTICA Valores morais como valores mercantis em um mundo em eterna crise econômica e social 6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br em campo A IRONIA DO AUTOCONTROLE Pesquisadores da Universidade de Bar Ilan (Israel), em cooperação com a Universidade Estadual da Flórida (EUA) e Queensland (Austrália), mediram o impacto de nosso desejo de autocontrole em sua prática efetiva diante de tarefas exigentes. Os cientistas descobriram que as pessoas com um desejo mais forte de autocontrole achavam mais difícil exercê-lo quando a tarefa era difícil. A razão para isto, eles determinaram, é que quando confrontado com uma tarefa difícil, o desejo se traduz em uma sensação de que não se tem AUTOCONTROLE�SUlCIENTE��O�QUE�CAUSA� BAIXA�AUTOElCÉCIA��ISTO�Ï��CREN¥A� reduzida em nossas habilidades). E, subsequentemente, o desengajamento da tarefa em mãos. O nível de auto- controle nos traços de personalidade dos participantes (sua predisposição intrínseca para tal) não afetou os achados, sendo que estes valem para aqueles que têm alto ou baixo índice desse comportamento. YOGA E TPM Uma revisão sistemática da literatura CIENTÓlCA�PUBLICADA�SOBRE�A�PRÉTICA� de yoga e transtornos menstruais comuns constatou que todos os estudos AVALIADOS�RELATARAM�UM�EFEITO�BENÏlCO� e sintomas reduzidos. O impacto de uma série de intervenções de yoga sobre o sofrimento menstrual associado a sintomas físicos e psicológicos para mulheres pré-menstruais é descrito em um artigo publicado no The Journal of Alternative and Complementary Medicine. por Jussara Goyano TER E SER VIDA ORIENTADA POR CONSUMO PODE GERAR FRUSTRAÇÃO, DIZ ESTUDO Pesquisa conduzida na Universidade de Buffalo, Estados Unidos, mostra que uma VIDA�BASEADA�EM�CONSUMO�E�ACUMULA¥ÎO�lNANCEIRA�PODE�SER�ALTAMENTE�FRUSTRANTE�� caso tal orientação tenha a ver com aumentar a própria autoestima. Segundo conclusões dos pesquisadores envolvidos, isso pode ocorrer porque UMA�VIDA�BASEADA�EM�SUCESSO�lNANCEIRO�PRESSUPÜE�COMPARA¥ÜES�SOCIAIS�CONSTANTES�� além de um lócus de controle externo de bem-estar que, caso seja desestabilizado, gera sensação de impotência e falta de controle e autonomia sobre a própria vida. A pesquisa envolveu 349 estudantes universitários e um grupo representativo na- cional de 389 participantes. Voluntários responderam a uma escala de Contingência Financeira de Autovalor (CSW), que mostra o grau em que as pessoas baseiam sua AUTO�ESTIMA�NO�SUCESSO�lNANCEIRO��ALÏM�DE�PARTICIPAR�DE�UMA�SÏRIE�DE�EXPERIÐNCIAS� EM�QUE�O�SENSO�DE�SEGURAN¥A�lNANCEIRA�DAS�PESSOAS�FOI�AFETADO� 1UANDO� SOLICITADOS� A� ESCREVER� SOBRE� UM� ESTRESSOR� lNANCEIRO�� OS� VOLUNTÉRIOS� experimentaram uma queda em seus sentimentos de autonomia, segundo os pes- quisadores envolvidos. Eles também não procuravam soluções para as questões lNANCEIRAS��QUADRO�DIFERENTE�DO�ENCONTRADO�QUANDO�OS�PARTICIPANTES�ERAM�CONVI- dados a escrever sobre outros estressores ou entre indivíduos cuja autoestima não Ï�ATRELADA�AO�SUCESSO�lNANCEIRO� PARA SABER MAIS: Park, L. E.; Ward, D. E.; Naragon-Gainey, K. (2017). It’s all about the money (for SOME �� CONSEQUENCES� OF� lNANCIALLY� CONTINGENT� SELF WORTH��Personality and Social Psychology Bulletin, n. 88, p., 589-604. em campo www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7 IM AG EN S: 1 23 RF PREOCUPAÇÃO NA MEDIDA PREOCUPAR-SE NÃO É ALGO TOTALMENTE NEGATIVO. ENTENDA No artigo “4HE�SURPRISING�UPSIDES�OF�WORRYv�� publicado no periódico Social and Personality Psychology Compass���A�PESQUISADORA�+ATE�3WEENY� comenta achados sobre o lado bom da preocu- pação – ela gera um comportamento preventivo e protetor e um senso de planejamento que evita riscos e insucessos. Isso melhora corpo e mente, livrando-nos de emoções negativas e situações indesejáveis, além de melhorar as estratégias de SOLU¥ÎO�DE�PROBLEMAS�E�CONmITOS�� Segundo o estudo, a preocupação gera be- nefícios quando utilizada na medida certa, não SENDO�BENÏlCA�QUANDO�DE�MENOS�OU�EM�DEMASIA�� Na proporção exata, ela é um motivador compor- tamental que age positivamente, por três razões, segundo o artigo: 1. A preocupação serve como uma sugestão que a situação é séria e requer a ação. As pessoas usam suas emoções como fonte de informação ao fazer julgamentos e decisões; 2. Preocupar-se com um estressor faz com que o mantenhamos sob nosso foco e leva as pessoas à ação; 3. O sentimento desagradável de preocupação motiva as pessoas a encontrar maneiras de redu- zir a sua preocupação. Entre os efeitos danosos da preocupação em excesso estão transtornos como os de ansiedade, o burnout e a depressão, entre outros. AR Q UI VO P ES SO AL Jussara Goyano é jornalista e coach certificada pelo Instituto de Psicologia Positiva (IPPC). Atua com foco em performance e bem-estar. Estudou Medicina Comportamental na Unifesp. E-mail: atendimento@jussaragoyano.com REDES SOCIAIS LIKES E CHAT COM OS AMIGOS MELHORAM ANSIEDADE E RESULTADOS ACADÊMICOS Da mesma forma que as redes sociais são campo fértil para haters e dis- seminação de bullying, é por meio desses canais que o suporte emocional nos chega em momentos críticos. Um grupo de pesquisadores da Univer- sidade de Illinois investigou esse suporte on-line e concluiu que, entre estu- dantes, ele ajuda a reduzir o nervosismo que antecede os testes acadêmicos, até mesmo entre indivíduos que têm altos níveis de ansiedade registrados em testes psicológicos. Entre as interações que mais dão resultado estão os comentários de apoio, likes nas postagens e mensagens privadas de amigos. Os resultados das provas pelas quais passaram os estudantes apoiados por seus amigos nas redes também tiveram incremento, segundo os cientistas. Um exame simulado foi a situação em que voluntários do curso deCiências da Computação da universidade foram avaliados. Com o apoio via redes sociais, estes reduziram seus níveis de ansiedade em até 21% no teste. O teste em questão foi uma prova aberta, com várias soluções viáveis, em que os estudantes deveriam executar códigos de programação. Estima-se que até 41% dos estudantes sofram com esse problema antes e durante as provas, o que inclui medo de avaliação negativa, baixa auto estima e um maior número de pensamentos distrativos e irrelevantes em situações de teste. O estudo em questão foi publicado no Proceedings of CHI 2017, resul- tado da Conference on Human Factors in Computing Systems, em Denver, Es- tados Unidos. 8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br BRIAN TRACY CR ÉD IT O DA S FO TO S: M AU RO N ER Y/ ED IT IO NS F IL M S Para Brian Tracy, hábitos são uma maneira fácil de reagir e as pessoas tendem a se sentir confortáveis com isso, indo para a chamada zona de conforto www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9 Gláucia Viola é jornalista com experiência nos segmentos de saúde, ciência e psicologia. Jussara Goyano é jornalista com experiência nos segmentos de coaching, performance e bem-estar. Considerado um dos principais especialistas em business coaching do mundo, Brian Tracy acredita que as fortes emoções originam objetivos que, por sua vez, podem funcionar como gatilhos para a superação do mau hábito E N T R E V I S T A T EMAS� COMO�DESAlOS� DA� ATUALIDADE� QUE� os líderes enfrentam, desenvolvimento da capacidade de liderança, plano de NEGØCIOS��MARKETING�ElCIENTE��MELHORES� estratégias empresariais, alto desempenho e como encantar clientes fazem parte do dia a dia do cana- dense Brian Tracy, considerado um dos principais especialistas em business coaching do mundo. Ele foi um dos convidados de honra do 4º Fórum Interna- cional de Negócios, Liderança e Coaching, realiza- do em São Paulo. 4RACY�DEU�INÓCIO�A�SUA�VIDA�PROlSSIONAL�ATUANDO� no mercado de imóveis comerciais, com vendas e locações. Depois de se tornar diretor de operações da empresa em que trabalhava, acabou decidindo montar seu próprio negócio, como palestrante e co- ACH�PROlSSIONAL��0ARA�ISSO��ESTUDOU�E�SE�ESPECIALIZOU� NA�ÉREA�DE�.EGØCIOS��%CONOMIA��(ISTØRIA��&ILOSOlA� e Psicologia, procurando aprimorar suas habilida- des. Atualmente, com uma trajetória de mais de trinta anos, já teve suas palestras assistidas por mais de cinco milhões de pessoas, em 55 países. Além disso, escreveu 55 livros, que foram traduzidos em 42 idiomas. Tracy trouxe seu conhecimento para o Brasil ao trabalhar com a SBCoaching, única em- presa do país licenciada para usar sua metodologia exclusiva, que ajuda a desenvolver empreendedores, executivos, líderes e empresas. 0ARA� O� ESPECIALISTA�� UMA� DAS� PRINCIPAIS� DIlCUL- dades encontradas pelo ser humano é criar meca- nismos para mudar de hábitos e, em consequência, evoluir. “Ficamos confortáveis em fazer as coisas de um mesmo jeito, e é muito difícil para nós mudar, parar de fazer algo e começar a fazer de outra for- ma. O caminho para desenvolver um novo hábito é FAZÐ LO�EM�PEQUENAS�ETAPASv��AlRMA� QUANTO MAIS AUTOMÁTICO FOR O HÁBITO, MAIS DIFÍCIL SERÁ A MUDANÇA Por Gláucia Viola e Jussara Goyano 10 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br UMA FÓRMULA PARA AJUDAR A SUPERAR OS DESAFIOS PARA SABER MAIS N o livro Sem Desculpas, Brian Tracy busca mostrar aos leitores uma fórmula para auxiliar as pessoas a superarem os principais desafios oferecidos pela vida. A questão se resume na aplicação da autodisciplina para chegar ao tão sonhado sucesso e à felicidade, especialmente no aspecto profissional. Tracy destaca aspectos como a importância de agir com integridade, além das melhores práticas de vendas. O autor canadense defende a necessidade de a pessoa assumir a responsabilidade pelo próprio contentamento e carreira profissional. A abordagem do Sem Desculpas elimina a conveniência dos bo- des expiatórios, tomados geralmente por culpados pelo insucesso, e ensina como cuidar do próprio destino. TRACY: Digitar… você pode digitar pa- lavras enquanto vê TV ou durante uma aula, enquanto escrever à mão ativa três partes do cérebro. A primeira parte ativa- da é a visual, você tem de ver o que escre- ve. A segunda parte é a auditiva, quando você escreve, você repete para si; mesmo quando não faz nenhum ruído, você fala consigo mesmo quando escreve. A tercei- ra é a cinética, quando você escreve algo, MOVE�lSICAMENTE�O�SEU�CORPO��!�COMBI- nação das três requer concentração total, é quando não é possível fazer mais nada no mundo a não ser concentrar-se. É por isso que há uma concessão entre mão e cabeça. Dessa forma, escrever à mão pro- grama imediatamente o cérebro e isso COME¥A�A�lCAR�AUTOMÉTICO� A DISCRIÇÃO É UM PROBLEMA EM NEGÓCIOS E NA VIDA DIÁRIA. COMO NÃO CAIR NESSA ARMADILHA? TRACY: As maiores armadilhas são as de relacionamento e as distrações ele- trônicas, como o telefone, a campainha, as mensagens. A resposta nesses casos é desligar, principalmente desligar o te- lefone. A segunda parte é física, quando se distrai conversando com pessoas e é necessário responder que não se pode conversar. É quando tentam conversar e a pessoa diz que não pode, pois está tra- balhando. Assim, para-se antes que co- mece. E assim formam-se hábitos, como o de desligar o computador, o celular e IMA GE NS : 1 23 RF POR QUE É TÃO DIFÍCIL ABANDONAR HÁBI- TOS INEFICIENTES? E POR QUE É TÃO DIFÍCIL INICIAR A MUDANÇA? TRACY: Em seres humanos, 90% do que fazemos são hábitos e eles são formados, muitas vezes, rápido e facilmente, e não são questionados. Hábitos são uma ma- neira fácil de reagir ou responder a algo, e nós nos tornamos assim confortáveis com um hábito, indo para o que chamamos de zona de conforto. Ficamos confortáveis em fazer as coisas de um mesmo jeito, e é muito difícil para nós mudar, parar de fazer algo e começar a fazer de outra forma. O caminho para desenvolver um novo hábito é fazê-lo em pequenas etapas, em baby steps: nós decidimos exatamente como queremos nos comportar no futuro e desenvolvemos comportamentos consis- tentes com o novo hábito. Se quisermos levantar cedo, por exemplo, e o horário é 7 horas, o ideal é despertar uma hora mais cedo, 6 horas. É aconselhável, no início, começar a despertar 15 minutos antes. Fazer isso por uma semana ou duas ATÏ�SE�TORNAR�UM�NOVO�HÉBITO��!O�lNAL�DE� um mês ou dois, você acordará uma hora antes. Baby steps são indicados para iniciar um novo hábito, porque seres humanos não gostam de mudanças. É mais difícil iniciar a mudança, porque o hábito se tor- na fácil e automático, e desenvolver um novo hábito requer repetição. FALANDO EM MUDANÇA, PODEMOS DIZER QUE OS GATILHOS PSICOLÓGICOS PODEM OFERECER RECURSOS PARA A BUSCA DE UMA META? TRACY: Os gatilhos psicológicos reme- tem a emoções e claro que as emoções fortes são mais sólidas do que as fracas. A emoção sólida pode ser muito enco- rajadora na busca por metas. Se há um objetivo e queremos alcançá-lo intensa- mente, passamos pelo empoderamen- to emocional e encontramos meios de superar o mau hábito. Então, uma das questões que devemos nos fazer nesses casos são: qual é o novo hábito e quais são as razões ou benefícios de desenvol- ver o novo hábito? Você pode ponderar Ficamos confortáveis em fazer as coisas de um mesmo jeito, e é muito difícil para nós mudar, parar de fazer algo e começar a fazer de outra forma. O caminho para desenvolver um novo hábito é fazê-lo em pequenas etapas as razões, avaliar os benefícios, mas as razões devem ser mais poderosasdo que o prazer obtido com o hábito antigo. En- tão, a maneira de criar hábitos e estabe- lecer metas é visualizar o quão melhor a sua vida será com o novo hábito, com a nova meta, e com a superação de hábi- tos antigos. Esse mecanismo tem relação com os gatilhos psicológicos de cada um. DURANTE SUA PALESTRA NO 4º FÓRUM INTERNACIONAL DE NEGÓCIOS, LIDERAN- ÇA E COACHING, VOCÊ ENFATIZOU A DIFE- RENÇA ENTRE DIGITAR METAS E ESCREVÊ- -LAS À MÃO; POR QUE A SEGUNDA TÉCNICA É MELHOR PARA ATIVAR A MENTE CONS- CIENTE E SUBCONSCIENTE? www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 11 POR QUE PSICÓLOGOS ORGANIZACIONAIS E COACHES EXECUTIVOS E MESMO LÍDERES E GESTORES FALHAM EM PROMOVER MUDAN- ÇAS? QUAIS SÃO AS VARIÁVEIS QUE ELES PROVAVELMENTE NÃO LEVAM EM CONTA? TRACY: Eu não tenho ideia. Eles são di- ferentes. Além disso, toda pessoa é di- ferente. É necessário ter uma pergunta ESPECÓlCA��Ï�COMO�UM�PROBLEMA�MÏDICO�� É como se perguntasse ao médico o que fazer quando se tem um problema de saúde, o doutor replicaria: qual problema médico? Então, é possível responder à questão sobre o que o médico deve fazer. Não há uma resposta para essa pergunta. O COACHING HOJE É UM CAMPO DE ATUA- ÇÃO E CONHECIMENTO QUE SAIU DO UNI- VERSO CORPORATIVO E SE EXPANDE EM NICHOS DIVERSOS DE COACHING DE VIDA. MUDANÇAS SUBSTANCIAIS EM HÁBITOS DE VIDA NÃO SERIAM MAIS IMPACTANTES DO QUE PROMOVER MUDANÇAS ESPECÍFICAS EM NOSSA ATUAÇÃO NOS NEGÓCIOS? TRACY: A primeira pergunta é quem vai para onde. Depende do indivíduo e da companhia para a qual ele trabalha, então não há uma resposta rígida. É uma per- gunta que equivale a “com quem eu devo casar?”. É uma pergunta que não pode ser respondida, pois depende de você, dos pais, de alguém mais em sua vida. Assim, não há uma resposta pronta. Talvez a res- posta certa para uma pessoa seja comple- tamente oposta à de outra pessoa. o de dizer às pessoas que está ocupado e que não pode falar naquele momento. E tudo o que se faz repetidamente se torna um novo hábito. Em minha companhia, todo mundo desliga os celulares, exceto por umas duas horas ao dia. Então, todo mundo é extremamente produtivo. ISSO É ALGO TAMBÉM CULTURAL, NÃO? EM ALGUMAS CULTURAS É DIFÍCIL COLOCAR UM LIMITE, DIZER NÃO. NO BRASIL, POR EXEMPLO, EXISTE ESSA DIFICULDADE. COMO PROCEDER NESSES CASOS? É MAIS DIFÍCIL MUDAR UM HÁBITO CULTURAL? TRACY: Nesse caso é necessário usar o de- lay. Delay é uma técnica cross-cultural (en- treculturas) e consiste em dizer “eu não posso falar com você agora, mas eu falarei com você mais tarde, logo que terminar meu trabalho”. Não é um não, é um mais tarde. Então, o mais tarde chega e você nunca mais fala com a outra parte. QUAIS MECANISMOS PSICOLÓGICOS CONSI- DERA MAIS EFICIENTES PARA TRABALHAR O DESENVOLVIMENTO DE UM BOM LÍDER? TRACY: Há mil livros sobre esse tópico. Logo, não há resposta pronta. Cada situ- ação requer um tipo de líder. Um líder es- tudantil é diferente de um líder do depar- tamento de demissões, que é diferente de um líder nos negócios, que é diferente de um líder de um time esportivo. Não há resposta para isso. Baby steps são indicados para iniciar um novo hábito, porque seres humanos não gostam de mudanças. Quanto mais automático, é mais difícil iniciar a mudança e desenvolver um novo requer repetição EM BUSCA DO CICLO DO SUCESSO PARA SABER MAIS É cada vez mais frequente que pessoas competentes e inteligentes se questio-����G���G���������Ô��G�������������I�������������G��I���G�����G��GI��� G �� que outros (que muitas vezes parecem bem menos capazes). Brian Tracy procura ������ ���G����G��������Gd�\����I�������G�����I�I��� ����I����9�I�������� ���:� ����������G�G��G����G��G��������I�����`�������� �IG�G�G���I��G�hG9���������O Ciclo do Sucesso – Como descobrir suas reais metas de vida e chegar aonde você quer proporciona que o leitor constate que é exatamente a capacidade de acreditar em si que determina o tamanho dos objetivos que se escolhe, assim como a ener- gia e a determinação que serão dispensadas para atingi-los e a intensidade da per- sistência aplicada para superar cada obstáculo. Tracy busca oferecer o caminho para que se estabeleçam metas e as ferramentas para superar os problemas, preparando ����������G�G�����������I�G�G� ����G���� G ���G�p�G�G���G�����G�o:�������G�\d���� é possível treinar o corpo, a pessoa pode treinar a mente e criar o ciclo do sucesso. Um exemplo de mudança de hábito é para quem deseja acordar mais cedo. O ideal é começar a despertar 15 minutos antes do horário pretendido 12 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br in foco por Michele Müller O medo do TÉDIO A IMPACIÊNCIA É UMA CARACTERÍSTICA DA ATUALIDADE COMPROVADA EM UMA PESQUISA QUE REVELA QUE ESTAMOS PERDENDO A CAPACIDADE DE NOS ENTRETERMOS COM OS PRÓPRIOS PENSAMENTOS GANHAMOS TANTAS FORMAS DE COMBATER E DE PROTEGER OS FILHOS CONTRA O TÉDIO QUE ELE SE TORNOU UM DESCONHECIDO, TEMIDO E EVITADO A QUALQUER CUSTO de vivenciar os minutos de tédio. Para surpresa dos pesquisadores, mesmo entre aqueles que, antes do experi- mento, disseram que pagariam para não sentir novamente o choque, um quarto das mulheres e dois terços dos homens acabaram apertando o botão – alguns inúmeras vezes – para esca- par da opção aparentemente mais in- suportável de não ter nada para fazer. O estudo é um exemplo extremo de uma dif iculdade que, ao que tudo indica, está se acentuando. O fator que imediatamente associamos a isso é a tecnologia e suas constantes noti- f icações, que nos colocam em alerta e nos oferecem pequenas e contínu- as gratif icações. Não há dúvida de que os smartphones contribuem para tornar o tédio mais dolorido que um eletrochoque. Mas não são os causa- dores dessa ânsia por estímulos – ape- nas alimentam esse traço da natureza humana, privando adultos e crianças do exercício muitas vezes desconfor- tável da introspecção. O distanciamento das pessoas dos momentos que exigem ref lexão e controle sobre os próprios pensamen- tos e das atividades que demandam um tempo prolongado de atenção concentrada é um fenômeno inegá- vel. Estudos indicam que o tempo de atenção dedicado a informações disponíveis na rede está caindo: entre onze experimentos em que partici- pantes precisavam f icar entre seis e quinze minutos sem acesso a ne- nhuma distração. Em todos eles, a maioria das pessoas relatou uma di- f iculdade grande em cumprir a tare- fa. Nos experimentos feitos em casa, 32% admitiram ter trapaceado e consultado o telefone ou outro apa- relho no período em que deveriam estar sem distrações. Um dos estudos da série revelou um resultado ainda mais surpreen- dente e desconcertante. Nele, foi dada aos participantes a opção de apertar um botão enquanto estives- sem sozinhos. O resultado desse ato seria um dolorido eletrochoque, que todos precisaram experimentar antes D urante toda a minha infân- cia, as férias começavam e terminavam com uma via- gem de dez horas. No traje- to até a casa da minha avó, geralmen- te feito de carro (de ônibus demorava ainda mais), eu me ocupava com os próprios pensamentos, ilustrados pela monótona paisagem que via da janela do banco de trás. Era só o começo de um longo período longe de amigos e de estudos, em que o tempo era lento e permitia o exercício da comtempla- ção, da leitura e de inf indáveis con- versas interiores. Ficar sem ter o que fazer nunca era um problema. Hoje nem consideramos fazer uma viagem com crianças sem levar um tablet ou outro eletrônico que as mantenham entretidas por um tempo razoável. Se a viagem for longa, nos precavemos da inquietação dos f ilhosfazendo download de seus f ilmes e jo- gos preferidos – de preferência vários, para não correrem o risco de enjoa- rem dos recursos. Ganhamos tantas formas de combater e de proteger os f ilhos contra o tédio que ele se tornou um desconhecido, temido e evitado a qualquer custo. Desconf iados de que estamos perdendo a capacidade de nos entre- termos com os próprios pensamen- tos, pesquisadores da Universidade de Virgínia f izeram uma série de www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 13 IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K E AR QU IV O PE SS OA L 2000 e 2015 passou de 12 segundos para 8.25 segundos, de acordo com Statistics Brain. Atualmente, apenas 4% das visualizações em páginas da internet duram mais de 10 minutos – o tempo razoável para que um texto que se aprofunde um pouco em um determinado assunto seja lido até o f im. Essa impaciência provoca inevi- táveis prejuízos na aprendizagem e na produtividade: o mesmo levantamen- to mostra que, enquanto trabalham em seus escritórios, prof issionais checam seus e-mails nada menos que 30 vezes por hora, em média. Hoje, segundo o neurocientis- ta Daniel Levitin, autor de A Mente Organizada (Editora Objetiva, 2016), absorvemos por dia uma quantidade cinco vezes maior de informações que há trinta anos. Sem a capacida- de de selecionar os fatos de acordo com sua relevância e aplicabilidade, de analisá-los, ref letir e fazer asso- ciações pertinentes, eles se mantêm no campo raso das ideias que não se transformam em conhecimento e que logo são apagadas. Para que tenham destino mais nobre e ajudem a cons- truir sabedoria, as informações ne- cessitam de recursos que a busca fre- nética por novidades e estímulos está tornando escassos: tempo e atenção. Sem a prática desconfortável e muitas vezes entediante da ref lexão, até mesmo um bom livro pode resul- tar em um ensinamento superf icial e impermanente. Estar sozinho e desli- gar os aparelhos, meditar, contemplar a natureza ou f icar sem fazer nada são formas de exercitar o domínio sobre os próprios pensamentos e atenção. Mais que preparar a mente para o sucesso na aprendizagem, na realiza- ção de tarefas que demandam tempo maior de concentração e na compre- ensão dos eventos externos, essas prá- ticas nos colocam em contato com o mundo interior. A introspecção pode despertar a dor da melancolia e nos colocar frente a frente com nossas fraquezas e inseguranças, mas sem ela jamais alcançaremos o autoconhe- cimento – caminho único para a rea- lização pessoal e para o sucesso em qualquer relacionamento. Michele Müller é jornalista, pesquisadora, especialista em Neurociências, Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos estão reunidos no site www.michelemuller.com.br 14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br PERlL Por Anderson Zenidarci CARRIE FISHER FOI DIAGNOSTICADA COM TRANSTORNO BIPOLAR, PORÉM USAVA OS REMÉDIOS PSICOFÁRMACOS COM ÁLCOOL E COCAÍNA, AGRAVANDO O QUADRO PSIQUIÁTRICO A VIDA DE CARRIE FOI MAIS MOVIMENTADA QUE A MAIORIA DOS SEUS PERSONAGENS. COLECIONOU TRABALHOS DE SUCESSO E INTERNAÇÕES CLÍNICAS DECORRENTES DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA E DO DIAGNÓSTICO DE BIPOLARIDADE ESTRELA efervescente Foi diagnosticada com transtorno BIPOLAR��PORÏM�USAVA�OS�REMÏDIOS�PSICO- FÉRMACOS�COM�ÉLCOOL�E�COCAÓNA��AGRAVAN- do o quadro psiquiátrico. Apresentava depressão severa e mania acentuada, era CICLOTÓMICA�NO�ESTADO�DE�ÊNIMO�E�HUMOR�� /� PROBLEMA� TORNOU SE� TÎO� GRAVE� QUE� O� DIRETOR� DE� lLMES� *OHN� ,ANDIS� QUASE� A� demitiu de Os Irmãos Cara de Pau (1980) POR�SER�INCAPAZ�DE�lCAR�SØBRIA�O�SUlCIEN- TE�PARA�lLMAR�UMA�CENA�ADEQUADAMENTE�� 4ORNOU SE�MAIS�CONHECIDA�POR� INTERPRE- TAR�A�0RINCESA�,EIA�NA�SÏRIE�DE�lLMES�Star Wars, MAS� TRABALHOU� EM�MAIS�DE� ���lL- MES�� ENTRE� ELES��Shampoo (1975), Hannah e suas Irmãs (1986), Harry e Sally: Feitos um para o Outro. (1989). Escreveu vários ROMANCES� SEMIAUTOBIOGRÉlCOS�� GANHOU� ELOGIOS�POR�FALAR�PUBLICAMENTE�SOBRE�SUAS� EXPERIÐNCIAS� E� ESCLARECER� PARA� OS� LEIGOS� QUAIS�AS�CARACTERÓSTICAS�DA�PSICOPATOLOGIA� QUE� POSSUÓA� E� TAMBÏM� SOBRE� SUA� TOXI- CODEPENDÐNCIA��%RA� UMA�PESSOA� CULTA� E� ESCLARECIDA��&OI�INTERNADA�ALGUMAS�VEZES� EM�CLÓNICAS�DE�RECUPERA¥ÎO�PARA�DEPEN- DENTES�QUÓMICOS�� %M�������CASOU SE�COM�O�CANTOR�0AUL� 3IMON�� $URANTE� SEU� CASAMENTO� MALSU- CEDIDO�� QUE� DUROU� POUCOS� MESES�� ELA� ABORTOU�UM�lLHO�DELES��$O�SEU�SEGUNDO� casamento, com o agente Bryan Lourd, TEVE�SUA�ÞNICA�lLHA�"ILLIE�#ATHERINE��/�RE- LACIONAMENTO�DO�CASAL�TERMINOU�QUANDO� ,OURD�SE�ASSUMIU�BISSEXUAL��%LA�MANTEVE� ALGUNS� RELACIONAMENTOS�APØS�O�SEGUNDO� DIVØRCIO��MAS�NÎO�CASOU�NOVAMENTE��%M� ������SEU�NAMORADO�'REGORY�3TEVENS�FOI� C ARRIE� &RANCES� &ISHER� NASCEU� EM�"EVERLY�(ILLS��,OS�!NGELES�� EM�������.ASCEU�ENTRE�ESTRELAS� DE�(OLLYWOOD��lLHA�DO�CANTOR� %DDIE�&ISHER�E�DA�ATRIZ�$EBBIE�2EYNOLDS�� 1UANDO� TINHA� APENAS� DOIS� ANOS� DE� IDA- DE��SEUS�PAIS�SE�SEPARARAM��%LA�NÎO�TINHA� LEMBRAN¥AS�DA�FAMÓLIA�VIVENDO�JUNTA��3EU� PAI� SE� CASOU� IMEDIATAMENTE� COM�%LIZA- BETH�4AYLOR��hMELHOR�AMIGAv�DE�SUA�MÎE�� MAS� QUE� ESTAVA� VIVENDO� UM� RELACIONA- MENTO�EXTRACONJUGAL�COM�SEU�PAI��&OI�UM� ESCÊNDALO�NA�ÏPOCA��$EPOIS�ELE�TEVE�MAIS� quatro casamentos, sempre com atrizes OU�CANTORAS�FAMOSAS��%DDIE�ERA�BELO��SE- dutor, famoso e rico. Sua vida amorosa foi TUMULTUADA�� E� #ARRIE� VIVIA� ESSA� INCONS- TÊNCIA�AFETIVA�DO�PAI�� Sua mãe casou-se mais duas vezes, TEVE� UMA� VIDA� RELATIVAMENTE� PACATA�� EM� COMPENSA¥ÎO�O�RELACIONAMENTO�CONmITUO- SO�DAS�DUAS�ERA�FREQUENTEMENTE�MANCHETE� NOS� TABLOIDES� DE� FOFOCAS�� #ARRIE� SEMPRE� FOI� CURIOSA� E� OBSERVADORA�� CHEGAVA� A� SER� TÓMIDA�EM�MEIO�A�TANTAS�FESTAS�E�GLAMOUR� QUE�OS�PAIS�VIVIAM��0ASSOU�A�INFÊNCIA�LEN- DO�LITERATURA�CLÉSSICA�E�ESCREVENDO�POESIAS�� ERA� UMA� LEITORA� COMPULSIVA�� %STUDOU� NO� Beverly Hills High School ATÏ� OS� ��� ANOS�� quando surpreendeu a todos e debutou COMO�CANTORA�NA�"ROADWAY�COM�O�MUSICAL� Irene��EM�������OBTENDO�SUCESSO�DE�PÞBLICO� E�CRÓTICA��)NICIA SE�AÓ�UMA�CARREIRA�MÞLTIPLA�� NO�DECORRER�DE�SUA�VIDA��ALÏM�DE�SEU�TRA- BALHO�DE�ATRIZ�E�CANTORA��FOI�ESCRITORA��FO- TØGRAFA��ROTEIRISTA��PRODUTORA�E�HUMORISTA�� .O� lNAL� DOS� ANOS� ������ TORNOU SE� VICIADA�EM�VÉRIAS�DROGAS��%LA�FALAVA�PU- BLICAMENTE�DE�SEUS�PROBLEMAS�COM�BE- BIDAS�ALCOØLICAS�E�DROGAS��$IZIA�QUE�ERA� IGUAL� AO� SEU� PAI�� QUE� FAZIA� USO� DESSAS� MESMAS�SUBSTÊNCIAS�� A atriz tinha um relacionamento difícil com a mãe Debbie Reynolds. Eram duas personalidades fortes, combativas e dominadoras. Muito iguais dentro de total diferença de estilo de vida www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 15 IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K/ A RQ UI VO P ES SO AL Anderson Zenidarci é mestre em Psicologia pela PUC-SP, supervisor e palestrante. Coordenador e professor do curso de Especialização em Transtornos e Patologias Psíquicas pela Facis, professor de pós-graduação no curso de Psicologia de Saúde Hospitalar na PUC-SP. Atua há mais de 30 anos em atendimento clínico em diversos segmentos da Psicologia, com especial dedicação à psicossomática, transtornos e patologias psíquicas. %RAM�DUAS�PERSONALIDADES�FORTES��COMBA- tivas e dominadoras. Muito iguais dentro DA�TOTAL�DIFEREN¥A�DE�ESTILO�DE�VIDA�� %M�UMA�DE� SUAS� INTERNA¥ÜES� NA� CLÓ- NICA�DE�RECUPERA¥ÎO��#ARRIE�SE�DEDICOU�A� ESCREVER� UM� LIVRO� TENDO� A� RELA¥ÎO� DELAS� COMO� TEMA�� #RIOU� PERSONAGENS� CLARA- MENTE� IDENTIlCADOS� COMO� ELA� E� A� MÎE�� /�LIVRO�Memórias de Hollywood foi muito BEM ACEITO�E�SURGIU�O�CONVITE�PARA�A�PRØ-PRIA�#ARRIE�ADAPTÉ LO�PARA�O�CINEMA��&OI� TAMBÏM�UM� SUCESSO� ESTRELADO�POR�DUAS� DIVAS��3HIRLEY�-AC,AINE�E�-ERYL�3TREEP� NOS�PAPÏIS�DE�MÎE�E�lLHA�RESPECTIVAMEN- TE��%M�DEZEMBRO�ÞLTIMO��#ARRIE��AOS���� ANOS��ESTAVA�EM�TURNÐ�INTERNACIONAL�PARA� LAN¥AMENTO�DO�SEU�LIVRO�Diários da Prin- cesa�� PUBLICADO�EM�������QUANDO�PASSOU� por uma emergência medica, dentro de um avião no voo de Londres para Los !NGELES�� 2ECEBEU� TRATAMENTO� DE� EMER- GÐNCIA�DE�PASSAGEIROS�MÏDICOS��MAS�DU- RANTE�A�INTERNA¥ÎO�TEVE�OUTRA�PARADA�CAR- DÓACA�E�NÎO�RESISTIU��3UA�MÎE�MORREU�UM� DIA�DEPOIS�� AOS����ANOS�� APØS� SOFRER�UM� DERRAME�CEREBRAL��DEVIDO�AO�ABALO�EMO- CIONAL�PELA�MORTE�DA�lLHA��&ORAM�VELADAS� E�ENTERRADAS�JUNTAS��0RATICAMENTE�EM�UM� ÉPICE�DO�ROTEIRO�DA�VIDA�REAL�� 0ARA�UM�RELACIONAMENTO�TÎO�DIFÓCIL��ESSA� extrema proximidade representava a re- LA¥ÎO�AMBIVALENTE�DE�AMOR�E�ØDIO�QUE�TI- NHAM��3UA�MÎE�ERA�UMA�LENDA�DOS�ÉUREOS� TEMPOS�DOS�MUSICAIS�DE�(OLLYWOOD��%RA� ELEGANTE�� LINDA�� DISCRETA�� CLÉSSICA�� CARRE- GOU� DURANTE� ANOS� O� ESTIGMA� DE�MULHER� TRAÓDA�E�INJUSTI¥ADA��%RA�AVESSA�A�DROGAS�� encontrado morto na casa de Carrie, em UM�QUARTO�DE�HØSPEDES��,EVANTARAM SE� SUSPEITAS�DE�QUE�ELE�MORRERA�AO�LADO�DELA�� ENQUANTO�USAVAM�DROGAS�JUNTOS��E�APØS�A� MORTE�O�CORPO� FOI� LEVADO�PARA�O�QUARTO� DE� HØSPEDES� PARA� NÎO� COMPROMETÐ LA�� MAS� NADA� FOI� COMPROVADO��/� QUE� lCOU� PROVADO��ATRAVÏS�DE�UMA�AUTØPSIA��Ï�QUE� ELE�MORREU�POR�UMA�OVERDOSE�DE�COCAÓNA� e OxyContin. /UTRA� GRANDE� BATALHA� QUE� ENFRENTOU� FOI�O�RELACIONAMENTO�COM�A�MÎE�$EBBIE� 2EYNOLDS�� %RAM� VIZINHAS� DE� CASA� EM� (OLLYWOOD�� DIVIDIAM� O�MESMO� QUINTAL�� “Sou melhor pessoa que atriz. E no meio que nasci e cresci acontecem mais situações inusitadas e estranhas que qualquer ������������G����� escrito” (Carrie Fisher) Tornou-se mais conhecida por interpretar a +���I��G�'��G��G��\���� �������Star Wars, mas ��GHG���������G��� ��=;����� 16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br ciberpsicologia Por Igor Lins Lemos IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K/ AC ER VO P ES SO AL O USO ABUSIVO DA TECNOLOGIA TEM SIDO PAUTA CONSTANTE NO SETTING TERAPÊUTICO E EXIGE QUE OS PROFISSIONAIS SE ATUALIZEM SOBRE AS ESTRATÉGIAS QUE PODEM SER USADAS EM CONSULTÓRIO PARA O TRATAMENTO TÉCNICAS para dependências tecnológicas riais básicos de psicoterapia cognitivo- -comportamental para melhor compre- ensão do texto a seguir. As estratégias fazem parte de um material desenvolvi- do para uso em consultório, intitulado baralho das dependências tecnológicas. Estas são apenas algumas das possibilidades de intervenção com este tipo de deman- da (Lemos, 2016). N esta edição serão reveladas, de forma diretiva, estratégias cog- nitivo-comportamentais para as dependências tecnológicas. Em diversos momentos, nesta coluna, foram discutidas psicopatologias refe- rentes ao campo tecnológico. Sugere-se, então, que o leitor possa ler inicialmente essas temáticas, já publicadas, e mate- A primeira estratégia que deve ser utilizada em consultório é a psicoedu- cação (sendo a prevenção de recaídas e manutenção dos ganhos a última). Nes- SE�MOMENTO��O�PROlSSIONAL�EDUCA�O�PA- ciente sobre o que é caracterizado como dependência tecnológica, quais são as possíveis causas (fatores etiológicos), as comorbidades (psicopatologias que www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 17 portamental é a elaboração de uma lista de vantagens e desvantagens do uso de tecnologia. Essa atividade auxiliará o PACIENTE�A�REmETIR�SOBRE�AMBOS�OS�ASPEC- TOS� E� VERIlCAR� QUAIS� COMPORTAMENTOS� podem ser inseridos no seu repertório de estratégias para combater as dependên- CIAS� TECNOLØGICAS�� #ASO� ELE� TENHA� DIl- culdades em acessar essas informações, sugira que permita deixar a sua mente mUIR�PARA�QUE�O�MÉXIMO�DE�DADOS�POS- sa ser coletado. Em vários momentos o paciente desiste no começo da técnica, por isso é importante que generosamen- te você insista. Há também o convite de terceiros para atividades de lazer sem o uso de tecnologia. Essa atividade tem como ob- jetivo auxiliar o paciente a sentir prazer e se envolver em atividades de lazer que não tenham ligação com o objeto de de- PENDÐNCIA�DO�PACIENTE��0OR�lM��SUGERE- -se que o paciente possa criar um crono- grama de estudo/trabalho. O terapeuta poderá auxiliá-lo nessa construção pre- enchendo as atividades cotidianas de forma organizada junto ao uso de tec- nologia. Essa tarefa não só ajudará o pa- ciente a controlar seu uso, mas também potencializará o cumprimento das obri- gações acadêmicas e/ou de trabalho. Existem diversas outras estratégias que podem e devem ser utilizadas em consultório, para isso é importante que o leitor mantenha suas pesquisas e estudos atualizados (aqui temos um recorte de técnicas). A demanda de pa- cientes com dependências tecnológicas é grande, porém, infelizmente, ainda há UMA�SUBSTANCIAL�LACUNA�DE�PROlSSIONAIS� preparados para intervir de forma ade- quada com essa parcela de usuários que estão adoecidos. Igor Lins Lemos é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das dependências tecnológicas. E-mail: igorlemos87@hotmail.com uso de tecnologia no dia. Se for possí- vel, sugere-se a criação de uma tabela, onde nela será registrado o tempo apro- ximado de uso de jogo eletrônico em cada turno do dia. Sabe-se que devido ao uso intermitente, não é possível obter um resultado preciso, mas quase, desse usufruto. A quarta estratégia é limitar o tem- po de uso de tecnologia. Apesar de cada paciente registrar um tempo distinto de uso, recomenda-se uma redução para ATÏ�DUAS�HORAS�DIÉRIAS� �PARA�lNS�DE�EN- tretenimento) e sem prejuízos no traba- lho, vida acadêmica ou relacionamentos (para adolescentes esse tempo pode ser ainda menor nos dias úteis). Essa meta não é fácil de ser cumprida, por isso, é importante que se for possível um mo- nitoramento do paciente por um pa- rente, ou outra pessoa, esse auxílio é interessante. Além disso, apesar dessa recomendação de limitar o tempo, cada família apresenta um funcionamento distinto, então é necessário adaptar essa estratégia a cada modelo familiar. Outra intervenção amplamente uti- lizada na psicoterapia cognitivo-com- Referências: LEMOS, I. L. Baralho das Dependências Tecnológicas: Controlando o Uso de Jogos Eletrônicos, Internet e Aparelho Celular. Nova Hamburgo: Sinopsys, 2016. ocorrem de maneira concomitante), os sintomas, os prejuízos decorrentes desse adoecimento e como a psicoterapia cog- nitivo-comportamental poderá auxiliar o paciente nessa evolução. Nesse momento o psicoterapeuta torna o paciente ativo no processo de melhora (embasado no empirismo colaborativo). É essencial que O�PROlSSIONAL�QUE�LIDA�COM�ESSA�DEMAN- da tenha um conhecimento básico sobre tecnologia: os jogos mais utilizados, os aplicativos de celular mais debatidos no cotidiano etc. É visto que compreender o campo tecnológico aumenta a adesão TERAPÐUTICA� E� TORNA� O� PROlSSIONAL� MAIS� seguro no momento das intervenções e debates com o paciente. Uma segunda importante estratégia é auxiliar o paciente a abster-se de um APLICATIVO� OU� JOGO� ESPECÓlCO� �TEMPORA- riamente). Comumente algum recurso tecnológico, para um paciente depen- dente, é considerado como “predileto”, sendo nele que o indivíduo despende a maior parte do tempo. Nos jogos ele- trônicos, os títulos mais mencionados no consultório são:League of Legends, DOTA 2 e Minecraft; nas redes sociais, Facebook, Instagram e Whatsapp. Dessa forma, sugere-se que, para o paciente diminuir seu nível de dependência, o elemento de maior risco na manutenção do transtorno deve ser reestruturado em relação ao tempo e frequência de uso. %X�� *OÎO� �NOME� lCTÓCIO � MENCIONA� QUE� utiliza excessivamente o jogo League of Legends, porém outros títulos são pouco jogados. Para que o paciente não tenha uma redução completa do seu uso de tecnologia (ressalto: o objetivo é sempre o uso moderado), é solicitado que ele interrompa, por ao menos uma semana, esse recurso tecnológico, mas não os outros. Após essa intervenção é possí- vel organizar seu cotidiano e observar quais são os pensamentos disfuncionais, as emoções em desequilíbrio e os com- portamentos inadequados relacionados a essa “abstinência”. Outra intervenção possível é solicitar ao paciente que ele registre o tempo de O PROFISSIONAL QUE LIDA COM ESSA DEMANDA PRECISA TER CONHECIMENTO SOBRE OS JOGOS MAIS UTILIZADOS E OS APLICATIVOS MAIS DEBATIDOS PARA QUE HAJA ADESÃO TERAPÊUTICA 18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br psicopositiva por Lilian Graziano de cara. Embora fosse mais reservada nas aulas do que eu, percebi que Ana era inteligente, que tinha algo a dizer e por isso não me conformava com sua resistência em acompanhar meu ritmo de escrever artigos, fazer resenhas para a revista da faculdade, apresentar tra- balhos na sessão de pôster dos congres- sos. Incentivava-a a participar e, cada vez mais frustrada, observava suas reti- cências, seu pouco entusiasmo. frequentam os cursos noturnos. Cho- colate, roupa, tupperware... fazia de tudo para conseguir uma renda extra que me ajudasse a viabilizar meu so- nho. Foi com sacrifício que terminei a graduação e já no ano seguinte estava matriculada numa pós, envolvida com PRODU¥ÎO� CIENTÓlCA�� CONGRESSOS� ETC�� Foi quando conheci a Ana. Bem nasci- da, elegante, família rica... em suma, o oposto de mim. Ficamos amigas logo AO CONTRÁRIO DO QUE MUITOS PENSAM, NEM SEMPRE O CONFORTO É UM ALIADO. ÀS VEZES ELE PODE SER NOSSO PIOR INIMIGO A pesar do desejo, já na infân- cia, de ser psicóloga, demo- rei um pouco para me dar esse presente, de forma que a Psicologia foi minha segunda (e não primeira, como haveria de se esperar) graduação. Quando entrei no curso já ERA�MÎE� DE� DOIS� lLHOS�� COM� ALUGUEL� E� mensalidade da faculdade para pagar, vivendo a realidade de muitos brasilei- ros que, após um longo dia de trabalho, O perigo da GAIOLA DOURADA www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19 Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. graziano@psicologiapositiva.com.br IM AG EN S: 1 23 RF / AC ER VO P ES SO AL Um dia, após ouvir mais um dos meus sermões de engajamento, ela me disse que o fato de sermos ambas in- TELIGENTES� NÎO� ERA� SUlCIENTE� PARA� SU- plantar a profunda diferença que havia entre nós: escolhas. “Você é uma aluna brilhante porque não tem escolha”, dis- se-me Ana com uma dureza quase ele- gante. “Nunca lhe ocorreu que o con- forto pode também ser uma maldição? Uma gaiola dourada que nos impede de alçar voos?” Não. Tendo crescido em uma família de recursos limitados, eu nunca havia pensado no conforto nes- ses termos, de forma que aquela frase me trouxe uma nova perspectiva. Con- TINUAMOS� AMIGAS� ATÏ� O� lNAL� DO� CURSO�� e depois disso nossas vidas tomaram rumos diferentes. Nunca mais soube da !NA�� 0ORÏM�� DIA� DESSES�� AO� REmETIR� SO- bre o cenário de crise econômica que temos enfrentado, algo me fez resgatar essa história de mais de vinte anos. E isso tem a ver com a gaiola dourada. Estabilidade econômica gera gaiolas DOURADAS�� 1UE� lQUE� CLARO� QUE� NÎO� SE� trata de fazermos, aqui, a apologia da crise. Todos os esforços para a promo- ção do crescimento econômico podem e devem ser empreendidos. Mas às ve- zes, a despeito dos esforços, a crise nos pega de jeito: menos clientes, menos trabalho, desemprego. Tempos som- brios que trazem tristeza, medo, ansie- dade, e tantas outras legítimas emoções desagradáveis de sentir, sobre as quais não pretendo me deter neste texto. O VIVEMOS RECLAMANDO NÃO TER TEMPO PARA FAZER O QUE GOSTARÍAMOS. O PERIGO É QUE O SOFRIMENTO NOS PARALISE E NOS TORNE CEGOS PARA AS OPORTUNIDADES QUE A CRISE É CAPAZ DE TRAZER perigo é que o sofrimento nos paralise e nos torne cegos para as oportunidades que a crise é capaz de trazer. Consideremos a questão do tempo. Vivemos reclamando não ter tempo para fazer o que gostaríamos: escre- ver um livro, fazer jardinagem ou um trabalho voluntário. De repente os clientes rareiam, o volume de trabalho diminui ou, por causa de uma demis- são, vai a zero. E então o que fazemos? Passamos parte do tempo tentando resgatar os clientes e o trabalho, é cla- ro! Mas ainda assim, enquanto eles não vêm, nos sobra tempo. E o que faze- mos com ele? Nada. Mas felizmente há aqueles que, compulsoriamente expulsos da gaiola dourada, ousam o voo. De acordo com o levantamento da Associação Brasileira de Startups, o nú- mero de startups no Brasil teve um cres- cimento de 40% no período de junho de 2015 a junho de 2016 e, de acordo com a mesma entidade, esse número não para de crescer. Isso porque, felizmen- te, existem aqueles que, diante da perda de um emprego, preferem, ao invés de se jogar pela janela (sim, há aqueles que, literalmente, o fazem), se jogar no mer- cado, aproveitando o que minha amiga Ana talvez chamasse de “falta de esco- lhas” para ir atrás de seus sonhos. Sim, até mesmo a crise tem seu lado positivo e percebê-lo pode ser, mais do que uma questão de sobrevivência, uma oportu- nidade para a realização. Gerenciamento 13º Curso de do Stress com certificação internacional Congresso de Stress da ISMA-BR (International Stress Management Association) Fórum Internacional de Qualidade de Vida no Trabalho Encontro Nacional de Qualidade de Vida na Segurança Pública Encontro Nacional de Qualidade de Vida no Serviço Público Encontro Nacional de Responsabilidade Social e Sustentabilidade 17º 19º 9º 9º 5º 20 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br psicopedagogia por Maria Irene Maluf CALIGRAFIA digital? A TECNOLOGIA ESTÁ CADA VEZ MAIS PRESENTE NO MUNDO INFANTIL E TEM GERADO POLÊMICA ACERCA DA ALFABETIZAÇÃO TRADICIONAL FOCADA NA ESCRITA À MÃO A cena é comum: bebês, ainda de fraldas, com um celular ou tablet em mãos, passam agil- mente os dedinhos nas telas, enquanto seus olhos brilham de alegria, lXOS�NAS�IMAGENS�QUE�SE�SUCEDEM��$E- pois, assistem desenhos, posteriormen- te curtem joguinhos e, anos depois, co- meçam a digitar as primeiras letrinhas nesses mesmos teclados, até porque al- gumas escolas estimulam e muitos pais APROVAM�INCONTINENTE� Hoje, para muitas crianças, a tela é APRESENTADA� ANTES� DO� PAPEL��5M� LUGAR� onde o dedo faz (aparentemente) mais que o lápis e o prazer encontrado sem esforço à frente de um eletrônico pode ser (e geralmente é) muito maior do que diante de um livro, um caderno, uma LOUSA��.ÎO�RARO��CRIAN¥AS�PEQUENAS�PAS- sam os dedos sobre revistas impressas ESPERANDO�QUE� AS� IMAGENS� MUDEM�� ¡� uma forma de descobrir o mundo, que, QUANDO�NÎO�Ï�ÞNICA��Ï�ENRIQUECEDORA� A própria internet, bem utilizada, é uma janela aberta para o conhecimen- to, e a educação pode tirar muito pro- veito desse fato, desde que se orientem AS�CRIAN¥AS�PARA�lLTRAREM�INFORMA¥ÜES�� SINTETIZÉ LAS�� REmETIR� SOBRE� ELAS� ANTES� DE�UTILIZÉ LAS��4EMOS�ASSISTIDO�GRANDES� projetos pedagógicos serem desenvol- vidos por alunos de locais remotos e professores com poucos recursos mate- riais que podem se cercar de riquezas virtuais inimagináveis por meio da in- À luz de vários trabalhos, como ci- taremos alguns, percebemos que a es- crita à mão, aquela com que a maioria quase total dos humanos hoje vivos se alfabetizou, e para a qual nosso sistema nervoso se adaptou ao longo dos sécu- los, pode não ser a única possível, mas na opinião de muitos pesquisadores de renome internacional parece ser o me- LHOR�MEIO�DE�ALFABETIZA¥ÎO� Ninguém aqui está falando de cali- GRAlA�� LETRA�DESENHADA��A�QUESTÎO�Ï�DA� ESCRITA�Ì�MÎO��%�NÎO�ESTAMOS�DE�FORMA� alguma desprezando a tecnologia digi- tal, os tablets, computadores, celulares, mas lhes dando o lugar de riquíssimos recursos pedagógicos, muito úteis se BEM�UTILIZADOS� 5M�EXEMPLO�IMPORTANTE�QUE�EMBA- sa essa conclusão é o estudo da neuro- cientista Karin James, da Universidade de Bloomington nos Estados Unidos, sobre a relação da escrita à mão com O�DESENVOLVIMENTO�DO�CÏREBRO� INFANTIL�� Ela separou em dois um grande grupo de crianças não alfabetizadas, mas já CAPAZES� DE� IDENTIlCAR� LETRAS� SEM� FOR- MAR� SÓLABAS�� /� PRIMEIRO� SUBGRUPO� FOI� treinado para copiar as letras à mão e o segundo para copiar no computa- DOR�� %NTRE� OUTROS� ACHADOS�� POR� MEIO� de ressonâncias magnéticas realizadas, concluiu-se que o cérebro responde de forma diferente nos dois tipos de apren- dizagem e que as crianças do grupo que escrevem apenas à mão mostraram TERNET��1UANTAS�NOVIDADES�E�CURSOS�ES- tão ali a um click! Surgiu há algum tempo, entre al- guns educadores, a ideia de trazer às escolas, mesmos às infantis, o uso de computadores e tablets de uma forma a substituírem o papel inclusive na hora DA� ALFABETIZA¥ÎO�� )SSO� GEROU� UMA� INl- NIDADE�DE�DÞVIDAS�ENTRE�PROlSSIONAIS�E� especialistas, pois embora se reconhe- ça a importância da contribuição que a TECNOLOGIA�DIGITAL�NOS�TROUXE�ENQUANTO� EDUCADORES�� PSICOPEDAGOGOS� E� AlNS�� TAMBÏM� SABEMOS� QUE� TODO� EXAGERO� costuma trazer mais prejuízos do que BENEFÓCIOS� A� LONGO� PRAZO�� !� SOLU¥ÎO� é buscar nos estudos e pesquisas sé- rias algumas respostas que norteiem a aplicação desses recursos de forma a otimizar a aprendizagem de todas as crianças, com e sem problemas de APRENDIZAGEM��NA�ESCOLA�E�NAS�CLÓNICAS� www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21 Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K/ A RQ UI VO P ES SO AL PADRÜES�DE�ATIVA¥ÎO�CEREBRAL�MUITO� SI- MILARES�AOS�DAS�PESSOAS�JÉ�ALFABETIZADAS�� Além disso, os resultados desse es- tudo indicam que “escrever prepara um sistema que facilitou a leitura quando as crianças começaram a passar por esse PROCESSOv��SEGUNDO�A�DRA��*AMES��1UAN- TO�A�HABILIDADES�MOTORAS�lNAS�APRIMO- radas ao escreverem à mão, o seu de- SENVOLVIMENTO�SE�MOSTROU�BENÏlCO�EM� VÉRIAS�ÉREAS�COGNITIVAS� Outros pesquisadores, como Anne Mangen, da Universidade de Stavanger, Noruega, comprovaram que escrever à mão fortalece o processo de aprendi- ZAGEM�� JÉ� QUE� AS� A¥ÜES�MOTORAS� FORNE- cem um feedback�IMPORTANTE�AO�CÏREBRO�� Além disso, o tipo de esforço para escre- ver corretamente em uma folha de pa- PEL� Ï� EXPRESSIVAMENTE� DIFERENTE� E�MAIS� COMPLEXO� DO� QUE� O� DE� DIGITAR�� )NCLUSI- VE�� EXISTE� UMA�MEMØRIA�MOTORA� NA� RE- gião sensório motora do cérebro, criada quando escrevemos, o que é importante no processo de reconhecimento visual DURANTE� A� LEITURA�� h0ELO� FATO�DE�A� ESCRI- ta à mão demorar mais que digitar em um teclado, o aspecto temporal também PODE� INmUENCIAR�NO�PROCESSO�DE�APREN- DIZAGEMv��ACRESCENTA�A�DRA��!NNE� 0!2!�!3�#2)!.!3��/�$%$/�&!:�-!)3�15%�/� LÁPIS E O PRAZER ENCONTRADO SEM ESFORÇO À FRENTE DE UM ELETRÔNICO PARECE SER -5)4/�-!)/2�$/�15%�$)!.4%�$%�5-�,)62/ Não podemos esquecer, em nossas REmEXÜES�� QUE� UM� ASPECTO� FUNDAMEN- tal para todas as aprendizagens é que o cérebro humano se desenvolve a par- TIR�DAS�TROCAS�COM�O�MEIO��!S�CRIAN¥AS� APRENDEM� EXPERIMENTANDO�� TOCANDO�� SENTINDO�� VIVENCIANDO�� %STAR� COM� OU- tras crianças, brincar, falar, manipular, jogar fazem parte do amadurecimento SADIO�� .OSSO� CÏREBRO� PASSA� NATURAL- mente por etapas de neurodesenvolvi- mento, em que as diferentes áreas se desenvolvem em tempos diversos, pe- ríodos sensíveis e críticos se sucedem e, se bem estimulado em meio a múl- TIPLAS�EXPERIÐNCIAS��CRIAM SE� INDIVÓDU- os cognitivamente muito mais aptos a QUALQUER�APRENDIZAGEM� 22 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br sexualidade Por Giancarlo Spizzirri DIVERSOS FATORES INFLUENCIAM O FUNCIONAMENTO SEXUAL DURANTE A GRAVIDEZ, COMO A FALTA DE CONHECIMENTO DAS MUDANÇAS DO CORPO E OS MITOS E TABUS QUE ENVOLVEM SEXO E GESTAÇÃO Momento de dúvidas e incertezas variações hormonais durante a gravi- dez, descreveremos algumas delas. O primeiro hormônio que mencionare- mos é a gonadotrofina coriônica huma- na, que pode ser detectada no sangue materno após alguns dias do início da gestação. Ela estimula a produção de progesterona e estrógenos. A progestero- N o consultório, é comum ouvir relatos de pacientes que du- rante o período gestacional têm dif iculdade em enfrentar as alterações hormonais, a inseguran- ça da inexperiência, a vergonha, a re- sistência da parceria no relacionamen- to, entre outros fatores. Muitas são as na é essencial durante toda a gestação, ela age no corpo da mulher, preparan- do-o para a gravidez e o aleitamento. Além deles, começa a ser produzido o hormônio relaxina, que, em conjunto com a progesterona, ajuda na implan- tação do feto na parede do útero, au- xilia no crescimento da placenta, além www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 23 IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K E AR QU IV O PE SS OA L Giancarlo Spizzirri é psiquiatra doutor pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP, médico do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do IPq e professor do curso de especialização em Sexualidade Humana da USP. NÃO HÁ UMA ALTERAÇÃO ESPECÍFICA DURANTE O PERÍODO GESTACIONAL QUE PROMOVA PERDA DO INTERESSE SEXUAL, E SIM O RESULTADO DA INTERAÇÃO DOS ASPECTOS BIOLÓGICOS COM OS EMOCIONAIS E SOCIAIS nado a sentimentos de fragilidade, se- jam eles motivados pelas dif iculdades emocionais pertinentes à gestação e/ ou problemas relacionais com a parce- ria, entre outros. Terceiro trimestre: Nessa fase, o parto está próximo, e consequente- mente a ansiedade aumenta, não é incomum a diminuição do interesse sexual ocasionado pelo estresse asso- ciado à iminência do parto; além disso, as mudanças físicas, mais acentuadas, podem acarretar dores físicas que, TAMBÏM�� INmUENCIARÎO� NEGATIVAMENTE� na resposta sexual. O acompanhamento médico é im- prescindível durante toda a gestação.Quanto mais bem preparado esse prof issional estiver em relação aos as- pectos concernentes à sexualidade de suas gestantes, dúvidas poderão ser esclarecidas e dirimidas; assim como orientar para que a atividade sexual seja interrompida, em situações que possam comprometer a saúde da mãe e/ou do feto. Muitas vezes, um acom- panhamento psicológico pode ser im- portante também. Quando não há intercorrências, a atividade sexual pode ser mantida durante a gravidez, aliado ao fato de que a maior produção de hormônios durante o período gestacional promo- ve incremento da lubrif icação vagi- nal. Portanto, um bom caminho a ser seguido pelas futuras e/ou presentes gestantes é o conhecimento sobre as alterações que seu corpo e psiquismo enfrentarão nesse período. A instru- ção aliada aos aconselhamentos por prof issionais envolvidos com a temáti- ca da sexualidade humana podem ser de grande valia para a promoção de uma qualidade de vida sexual satisfa- tória durante a gestação. namento sexual, dividiremos o perío- do gestacional em três trimestres. Primeiro trimestre: Durante essa fase, questões como aceitação e/ou rejeição da gravidez poderão ser rele- vantes e causar angústia. Sentimentos ambíguos em relação a esse momen- to da vida poderão estar presentes, os quais, na grande maioria das vezes, irão repercutir na resposta sexual. Vá- rias mulheres não notam diferença no desejo sexual no primeiro trimestre da gravidez, algumas referem, inclu- sive, melhora no desempenho sexual; entretanto, outras apresentam uma diminuição e/ou falta do interesse se- xual. Não podemos esquecer que as alterações hormonais poderão causar sintomas como: náuseas, vômitos, so- nolência e até mesmo depressão, que também ref letirão de forma negativa no desempenho sexual. Segundo trimestre: Habitualmen- te, os temas relacionados à aceitação/ rejeição deixaram de compor o cená- rio das gestantes (na sua maioria), é uma fase que várias mulheres referem melhora da autoestima, e, consequen- temente, percebem-se mais felizes com sua aparência, o que inf luenciará positivamente no desempenho sexu- al. Associado ao fato de que sintomas como náuseas, vômitos e sonolência tendem a desaparecer, o que promove bem-estar. Por outro lado, para outras, pode ocorrer diminuição do desejo se- xual, que frequentemente está relacio- de inibirem as contrações uterinas, evitando os partos prematuros. Ou- tro hormônio relevante, que aumenta uniformemente durante a gravidez, é a prolactina – que inf luenciará na produ- ção do leite pelas glândulas mamárias, assim como no aumento das mamas. Já o hormônio ocitocina, que aumenta bastante no f inal da gestação, possi- bilitará que as contrações uterinas se- jam ritmadas, até o nascimento, além de reduzir o sangramento durante o parto. A ocitocina também é liberada durante a amamentação e faz com que o leite f lua com mais facilidade; assim como ela tem importância na ligação afetiva entre a mãe e o bebê. Tendo em vista o mencionado, o corpo da mulher passará por diversas mudanças durante a gravidez. Vale lembrar que não há uma alteração específ ica – durante o período ges- tacional – que promova a perda do interesse sexual, e sim o resultado da interação dos aspectos biológicos com os emocionais e sociais. Por exemplo: a gravidez pode ser um dos momentos para o redimensionamento dos víncu- los afetivos de um casal, que poderão inf luenciar na intimidade e na respos- ta sexual; outro aspecto que merece ser lembrado diz respeito às “cren- ças, mitos e tabus” que acompanham as alterações pelas quais o corpo das mulheres passará. Está relatado que mulheres com conhecimento das mu- danças f ísicas que seu corpo enfren- tará terão uma relação mais saudável com diversos elementos de sua sexu- alidade; ainda mais quando a parceria estiver envolvida nesse processo. Para facilitar o entendimento e suas possí- veis inf luências da gravidez no funcio- 24 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br TOLERÂNCIA Apesar de ser considerada crime, a manifestação de discriminação, seja geográfica, religiosa, de etnia, aparência ou orientação sexual, ainda é frequente e pode provocar danos graves à saúde Preconceito gera sofrimento PSÍQUICO Por Sof ia Bauer www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 25 Sofia Bauer possui título de especialista em Psiquiatria pela ABP. É hipnoterapeuta, com formação na Fundação Milton H. Erickson, AZ, tem especialização em Psicologia Positiva, com Tal Ben-Shahar, em Nova York. Entre os livros lançados estão O Salto do Coração – a Cura por Meio do Amor em um Salto Quântico e Roteiros de Hipnoterapia, ambos publicados pela Wak Editora. IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K A empatia é mãe das emoções positivas. Colocar-se no lugar do outro, sentir o que ele sente é fundamental. Até mesmo no trânsito é possível observar isso Você já imaginou a se-guinte cena: uma crian-ça ser chamada de feia, gorda, baixa, magrela, idiota, burra, colorida, chocolate, ferrugem ou gigante? Será que alguém gosta quando recebe uma crítica ferrenha? Certamente que não. E com um adulto é diferente? Também não. O preconceito é algo danoso à vida humana. Inclusive tido como ato ile- gal, um crime. É preciso mudar isso rá- pido, pois essa situação está tornando o ser humano segregado e infeliz a cada dia que passa. Em princípio todo ser humano é bom. Não importam cor, aparência, intelecto, religião ou país de origem. E onde fica o amor? Pois é exatamente o amor que nutre a natureza das pessoas. O amor pode curar tudo. A empatia é mãe das emoções positivas. Colocar-se no lugar do outro, sentir o que ele sente é fundamental. Até mesmo no trânsito é possível observar isso. Quem já não deu uma fechada em alguém ou fez al- guma “barbeiragem”? Via de regra, se alguém faz isso, já é rotulado de igno- rante, ou então surge a indagação: “não vê por onde anda”? Será que não foi só um momento de vacilo, um descuido, um cansaço? E saímos ofendendo um ser humano bom. Todo mundo nasce amoroso e tem em seus princípios naturais a tendência a se relacionar, fazer amizades e cuidar do outro com carinho, como deseja ser cuidado. Mas o que está acontecendo nesse mundo? Preconceito, disputas, rivalidades, mau humor, brigas, guer- ras. Por quê? Porque parece que todo mundo quer o “seu mundo” como prioridade. Escolhe sua religião como a melhor, seu partido político como o melhor, sua cor, seu negócio etc. O ser humano necessita de mais amor e mais alegria. A vida é reabastecida por essa energia maravilhosa. Gentilezas e generosida- de podem refazer a energia das pessoas. O Butão, um país tão pequenino lá no Oriente, preza pelo nível de fe- licidade interna de sua população, o FIB – Felicidade Interna Bruta. Não pelo Produto Interno Bruto (PIB), como nos outros países, para ver seu desenvolvimento. A vida de hoje coloca as pessoas numa corrida desenfreada pelo consu- mo. Todos querem ter algo mais e me- lhor. Por isso, trabalham mais horas e se dedicam a TER. Deveriam se dedicar mais a SER, como no Butão. A vida seria mais prazerosa e educaríamos as crian- ças do futuro com mais amor. Será que ninguém vê que se estão criando crianças para um mal maior, cada vez mais com preconceitos, dife- renças, agressividade, falta de amor e guerras? As crianças que se desenvol- vem num meio amoroso e que recebem elogios verdadeiros de seus pais e edu- cadores são mais fortes e resilientes às dificuldades do futuro. A autoestima se baseia no amor próprio. Num primeiro momento ela vem de fora. Vem dos pais que aben- çoam com seu amor e carinho, que dizem que amam seu filho, que o tra- tam bem. A criança deve crescerrece- bendo elogios em suas habilidades, em suas conquistas. Desde a mais básica, como conseguir balbuciar as primeiras palavras, bater palmas, entender o sig- nificado das coisas. Isso ainda em seu primeiro ano de vida. E segue assim. Recebendo elogio porque andou sozinha, comeu com as próprias mãos, tomou banho sozinha, deu o laço no sapato, andou de bicicleta com rodinha, sem rodinha, aprendeu a escrever seu nome etc. Uma criança que recebe elogios e carinho se abas- tece de autoestima primária. Enxerga a si mesma através do amor e cuidados dos pais. Ela se vê como especial e quer mais elogios. Pois como se abastece dos mesmos, os elogios se tornam o alimento que faz a autoestima crescer. Amor Quem quiser que seu filho tenha uma vida com mais condições de lutar pelas oportunidades, em meio aos obstáculos, deve cuidar bem dele. Dar amor! O cuidado básico e o elogio verdadeiro criam na criança uma auto- confiança. Ela se vê uma pessoa baca- na. Para isso bastam atitudes simples: colocar no colo, falar “eu te amo” sem- pre, fazer carinho, elogiar as pequenas habilidades conquistadas, mostrar os talentos natos que a criança pequena tenha. O caminho das pedras se baseia no amor e no apreciar. Uma criança que foi elogiada quan- do pequena enfrenta muito melhor qualquer adversidade. Ela é mais se- gura. Ela sabe que pode dar conta das coisas. Em contrapartida, o contrário é significativo. No mundo de hoje, com tantas dificuldades, pais que não têm tempo de cuidar bem de seus filhos, que sofrem de ansiedade, depressão ou coisa pior como poderão abastecer seus pe- quenos de amor? Uma mãe deprimida não elogia, não investe em seu filho. Pais mui- to atarefados podem chegar em casa 26 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br TOLERÂNCIA pos extremistas, segregarão pessoas de grupos contrários. Participarão de gru- pos de opinião muito extremistas, por- que aprenderam a ser preconceituosos. Destruição As coisas só pioram com a evolução da humanidade. Contudo, sabe- -se que essa parte preconceituosa vem desde que o homem existe. Mas, infe- lizmente, será ela a destruir a espécie humana em breve (daqui a alguns mi- lhares de anos ou agora?!). Se em contrapartida o amor cons- trói, o mal destrói. Ter preconceito ajuda muito a aumentar o sofrimento psíquico e o mal-estar da humanidade. Devemos cuidar dos nossos e espalhar a luz do amor. A nova onda é seguir aqueles que ajudam, libertam, trazem paz e amor. Dalai Lama uma vez disse: “Basta uma vela acesa para acender mil outras velas”. Que tal entendermos que o mun- do precisa de mais amor e tolerância? Praticar o bem sem saber a quem, isso sim traz muita paz e alegria. Se cada um parasse e refletisse sobre o seu próprio preconceito? O que você discrimina? Quem você trata diferente e mal? Como você poderia fazer diferente? Aplicando a empatia! Colocando-se no lugar do outro, vendo com outros olhos, estendendo a mão àquele que precisa, sem distinguir preconceitos, apenas lembrando que ele é um ser humano também. Simples, faça o bem! O sofrimento das pessoas que são perseguidas vem do tempo bíblico, com os judeus perseguidos e fugidos da escravidão do Egito, buscando sua Terra Prometida. Ou em séculos atrás, os negros africanos que foram escravi- zados por sua cor. E, hoje, os gordos, os homossexuais... Mas todo mundo é gente! Tem sentimentos e dor. E por que discrimi- namos tanto? Será uma forma de auto- afirmação de que “sou melhor do que você?” Que pena! Ninguém é melhor do que ninguém, ninguém é pior do que ninguém, nem tampouco ninguém é exaustos e não elogiarem ou até mesmo brigarem com seus filhos pequenos. Muitas dessas crianças estão expos- tas a serem cuidadas de forma negligen- te por pessoas desalmadas, que podem começar a tratá-las mal desde cedo. Ofender, desaprovar e até espancar. As- sim, vemos crianças que já crescem ser ter autoestima. Sem estímulo amoroso, sem confiança e na condição sub- hu- mana da falta de cuidados. E, muitas vezes, passam fome, frio, medo, raiva e estão caladas por não encontrarem um meio de se livrarem desse que é, no mo- mento, “o seu protetor”. Essas crianças ainda não têm de- fesa, não sabem se libertar dos males que sofrem pelos seus próprios cuida- dores. Acabam aprendendo que quem cuida é do mal. E evitam contato, amor e relacionamentos. Aprenderam que cuidador faz mal. Agora, imagi- nem que essa criança despreparada e sem amor-próprio segue para a escola e é exposta ao preconceito malvado das outras crianças, ou dos professo- res, de alguém na rua. Como ela vai se defender? O preconceito vira um grande sofrimento psíquico! Se a vida começa assim, como fica- rá essa pessoa no futuro? Ela se tornará um agressor, imitando os que um dia a agrediram ou tiveram preconceito, se- Uma criança que foi elogiada quando pequena enfrenta muito melhor qualquer adversidade. Ela é mais segura. Ela sabe que pode dar conta das coisas. Em contrapartida, o contrário é significativo gregando pessoas, formando facções, tomando raiva radical de grupos contrá- rios. Ou se tornará um sofredor, talvez até mesmo sofrer de algum mal psíquico maior, como a depressão ou transtorno de personalidade dissociativo, sofrido por aqueles que foram abusados, agredi- dos quando pequenos. É possível observar isso com frequência entre as crianças pobres e abandonadas. Elas se tornam pequenos infratores, vendem drogas, assaltam e não sentem que estão fazendo mal a nin- guém. No entanto, acham que estão fa- zendo justiça contra uma sociedade mal- vada. Outros se tornarão radicais de gru- O preconceito é extremamente prejudicial e, por isso, é preciso mudar, pois essa situação está tornando o ser humano segregado e infeliz a cada dia que passa www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 27 Muitas crianças estão expostas a serem cuidadas de forma negligente por pessoas desalmadas, que podem começar a tratá-las mal desde cedo. Ofender, desaprovar e até espancar. Assim, vemos crianças que já crescem sem ter autoestima igual a ninguém. Cada um é único, fa- gulha divina, filho de Deus, ser ilumi- nado. Mas único e diferente do outro. Somos todos diferentes, mas iguais. So- mos seres humanos! Como se pode ajudar a quem sofre preconceitos? Ensinando as qualidades que essa pessoa tem. Mostrando que cada um tem um dom, talento especial, que pode usar esse dom e levar ao mun- do coisas boas. Todo mundo pode se- guir sua vida com um propósito maior. Traz sentido à vida, faz o coração saltar de alegria. Muda a energia e faz vibrar. De certa forma, essa maneira de agir, seguir seus propósitos dando sen- tido à vida pessoal, com prazer e seguin- do seus talentos, torna a pessoa muito mais feliz. A alegria de estar alinhado com algo que o indivíduo pode espalhar ao mundo ilumina o caminho e traz de volta aquela autoestima que um dia foi apagada da vida. Mesmo que nunca tenha existido, à medida que a pessoa consegue realizar tarefas que fazem dar sentido à vida, e o faz com prazer, todos serão mais felizes. Neurociência E para finalizar, é importante acres-centar que a Neurociência vem es- tudando que somos os únicos seres na IM AG EN S: 1 23 RF cial à saúde mental e física. Uma pes- soa pode deprimir, ter pânico e outras doenças mais pelo estresse. Portanto, é possível imaginar o quanto sofrem aqueles que passam por preconceito diariamente? Qual é a tendência deles de adoecerem? Para se conseguir uma vida me- lhor no planeta, é preciso melhorar o amor e a empatia. Que todos possam ter uma vida plena, que o preconceito seja mesmo combatido e que se possa viver com amor e alegria. E Shakes- peare,
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