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NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS INTRODUÇÃO PARTE I - A AQUISIÇÃO DE NUTRIENTES Capítulo 1 – Elementos Essenciais Capítulo 2 – Raízes Capítulo 3 – Micorrízas Capítulo 4 – Soluções Nutritivas Capítulo 5 – Absorção de Nutrientes Capítulo 6 – Fixação Biológica de N2 Capítulo 7 – Efeitos Fisiológicos de Substâncias Húmicas Capítulo 8 – Efeitos Fisiológicos do Óxido Nítrico PARTE II - OS MACRONUTRIENTES Capítulo 9 – Nitrogênio Capítulo 10 – Potássio Capítulo 11 – Fósforo Capítulo 12 – Cálcio, Magnésio e Enxofre PARTE III - OS MICRONUTRIENTES Capítulo 13 – Micronutrientes PARTE IV - OS ELEMENTOS BENÉFICOS Capítulo 14 – Silício, Sódio e Cobalto PARTE V - OS ELEMENTOS TÓXICOS Capítulo 15 – Alumínio Capítulo 16 – Metais Pesados 1 CAPÍTULO 1 ELEMENTOS ESSENCIAIS E BENÉFICOS ÀS PLANTAS SUPEIRORES Antonio Roque Dechen(1);Gilmar Ribeiro Nachtigall(2) (1) Professor do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ/USP – C. Postal 9, 13418-900, Piracicaba, SP. ardechen@esalq.usp.br. (2) Eng. Agrº. Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, C. Postal 130, 95700-000, Bento Gonçalves, RS. gilmar@cnpuv.embrapa.br. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................. 2 2 CRITÉRIOS DE ESSENCIALIDADE ......................................................................................................... 3 3 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA............................................................................................................... 7 2 1 INTRODUÇÃO O uso de técnicas de cultivos hidropônicos com soluções de composição química bem definida e a possibilidade de obtenção de compostos químicos de alto grau de pureza foram fatores que contribuíram muito para os avanços nas pesquisas em nutrição mineral de plantas, já que possibilitaram o crescimento normal das plantas e permitiram um controle mais preciso no fornecimento de nutrientes às raízes. Revendo a história da nutrição mineral de plantas, provavelmente Woodward em 1699, realizou os primeiros experimentos em cultivo de plantas em meio líquido sem o uso de substratos sólidos. Em 1804, Saussure realizou uma das primeiras tentativas para analisar os fatores envolvidos no cultivo de plantas em meios nutritivos, estabelecendo a necessidade de fornecer nitrato à solução destes cultivos. No século XIX foram realizadas intensas pesquisas envolvendo soluções nutritivas e o crescimento de plantas. Pesquisadores como Sachs, Boussingault e Knop, realizaram experimentos que ajudaram a determinar que certos elementos eram importantes para o crescimento das plantas. O alemão Justus von Liebig compilou em seus livros e cartas publicadas entre 1840 e 1855, informações da época quanto a importância dos elementos minerais para as plantas, referindo-se que os elementos minerais essenciais para as plantas eram: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), silício (Si), sódio (Na) e ferro (Fe), todos retirados do solo, além dos elementos essenciais carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), retirados da água e do ar. Knop, em 1865, publicou os resultados de seu experimento envolvendo o efeito da composição de uma solução nutritiva sobre o crescimento das plantas, bem como propôs uma fórmula de uma solução nutritiva simples, baseada em relações moleculares, a qual foi o 3 ponto de partida para modificações posteriores por outros autores (Ploeg et al., 1999; Furlani, 2004; Epstein & Bloom, 2005). 2 CRITÉRIOS DE ESSENCIALIDADE Em termos médios, o protoplasma de uma planta contém 85 a 90% de água. O conteúdo de água nas raízes, expresso em peso fresco, varia de 71 a 93%, dos ramos de 48 a 94%, das folhas de 77 a 98% e dos frutos entre 84 e 94%. A presença de elementos químicos nas cinzas de uma planta não é um indicador das necessidades quantitativas e qualitativas dos diferentes elementos químicos para uma planta fotoautotrófica, como demonstraram Arnon & Stout (1939), utilizando cultivos hidropônicos. Estes autores estabeleceram três critérios que devem sem atendidos para que um elemento possa ser considerado como essencial: Critério 1: Um elemento é essencial se a sua deficiência impede que a planta complete o seu ciclo vital. Critério 2: Para que um elemento seja essencial, este não pode ser substituído por outro elemento com propriedades similares. Por exemplo: O sódio (Na) apresenta propriedades semelhantes ao potássio (K), contudo não pode substituir o potássio completamente. Critério 3: O último critério que deve ser cumprido é que o elemento deve participar diretamente no metabolismo da planta e que seu benefício não esteja somente relacionado ao fato de melhorar as características do solo, melhorando o crescimento da microflora ou algum efeito similar. A presença de um elemento em altas concentrações em uma planta não é um indicador seguro de sua essencialidade, já que as plantas apresentam uma capacidade de absorção seletiva limitada, de modo que podem absorver pelas raízes elementos minerais não essenciais e/ou mesmo tóxicos. Assim, mesmo que um elemento possibilite melhorar o crescimento ou 4 um processo fundamental de uma planta, não se considera como essencial se não atender os três critérios da essencialidade. Todos os 17 elementos apresentados na Tabela 1 cumprem estas exigências e devem ser fornecidos às plantas para que estas germinem, cresçam, floresçam e produzam sementes. Tabela 1. Relação dos elementos essenciais às plantas superiores, com as concentrações médias na matéria seca da parte aérea de plantas e os respectivos autores que demonstraram a sua essencialidade e o ano em que ocorreu a descoberta. Elemento Concentração na massa seca Demonstração da Essencialidade Ano Carbono (C) 450 g kg-1 Saussure 1804 Oxigênio (O) 450 g kg-1 Saussure 1804 Hidrogênio (H) 60 g kg-1 Saussure 1804 Nitrogênio (N) 15 g kg-1 Saussure 1804 Potássio (K) 10 g kg-1 Sachs & Knop 1860, 1865 Cálcio (Ca) 5 g kg-1 Sachs & Knop 1860, 1865 Fósforo (P) 2 g kg-1 Ville 1860 Magnésio (Mg) 2 g kg-1 Sachs & Knop 1860, 1865 Enxofre (S) 1 g kg-1 Sachs & Knop 1865 Cloro (Cl) 100 mg kg-1 Broyer et al. 1954 Manganês (Mn) 50 mg kg-1 Mazé, McHargue 1915, 1922 Boro (B) 20 mg kg-1 Warington 1923 Zinco (Zn) 20 mg kg-1 Sommer & Lipman 1926 Ferro (Fe) 10 mg kg-1 Sachs & Knop 1860, 1865 Cobre (Cu) 6 mg kg-1 Lipman & McKinney 1931 Níquel (Ni) 3 mg kg-1 Brown et al. 1987 Molibdênio (Mo) 0,1 mg kg-1 Arnon & Stout 1938 Fonte: Malavolta (1980); Marschner (1995). Alguns elementos são classificados como benéficos para algumas plantas, como o sódio (Na), selênio (Se), silício (Si) e cobalto (Co). Por exemplo, existem algumas espécies de plantas de mangue que acumulam Na, já algumas plantas de deserto como Atriplex vesicaria e Halogeton glomeratus que requerem sódio para o seu desenvolvimento, enquanto para a Amaranthus tricolor (espécie C4) o Na é essencial quando em condições de baixas 5 concentrações de CO2; existem plantas como Astragalus, Stanleya e Lecythis que crescem em solos com altas concentrações de Se, constituindo-se em plantas acumuladoras deste elemento. Tem sido proposto que os silicatos presentes em folhas e inflorescências de gramíneas podem impedir ou diminuir o ataque por animais e insetos. O Co é essencial e necessário para a fixação do nitrogênio (N) por bactérias presentes nos nódulos das raízes de leguminosas, bem como para bactérias de vida livre que fixam N. Destaforma, os elementos requeridos pelas plantas podem ser classificados como essenciais e benéficos, contudo, esta listagem atual pode ser ampliada, já que com o avanço das técnicas analíticas, outros elementos exigidos em quantidades mínimas poderão ser considerados essenciais ou benéficos às plantas. O conteúdo mineral dos tecidos vegetais é variável, dependendo do tipo de planta, das condições climáticas existentes durante o período de crescimento, da composição química do meio e da idade do tecido entre outros. Por exemplo, uma folha madura provavelmente contém uma concentração de nutrientes maior do que uma folha muito jovem. Por outro lado, uma folha madura pode ter uma concentração de nutrientes maior do que uma folha velha, devido ao processo de perda de minerais solúveis em água, ao ser lavado pela água de chuva ou mediante mecanismos de translocação para folhas jovens. Os elementos minerais essenciais são denominados nutrientes minerais e são classificados, conforme as quantidades exigidas pelas plantas em: macronutrientes que constituem aproximadamente o 99,5% da massa seca e em micronutrientes, que constituem cerca do 0,03%. Desta forma, são considerados macronutrientes os nutrientes C, H, O, N, P, K, Ca, Mg e S e como micronutrientes os nutrientes B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn. Esta classificação é utilizada sob o ponto de vista da nutrição mineral de plantas e da fertilidade do solo. 6 Segundo Mengel & Kirkby (2001), sob o ponto de vista fisiológico é difícil justificar a classificação dos elementos essenciais às plantas segundo a classificação de macro e micronutrientes, dependente da concentração do nutriente nos tecidos da planta. Segundo estes autores, a classificação dos elementos essenciais às plantas seguindo um critério que leve em consideração os processos bioquímicos e as funções fisiológicas é mais apropriada, e estabeleceram uma classificação dos nutrientes em quatro grupos segundo estas características (Tabela 2). Tabela 2. Classificação dos elementos essenciais às plantas Nutriente Absorção Funções Bioquímica 1° Grupo C, H, O, N, S Na forma de CO2, HCO3- H2O, O2, NO3-, NH4+, N2, SO42-,SO2, na forma de íons da solução do solo, de gases e da atmosfera. Maior constituinte de compostos orgânicos. Elementos essenciais de grupos atômicos que são envolvidos em processos enzimáticos. Assimilação por reações de oxidação-redução. 2° Grupo P, B Na forma fosfatos, ácido bórico ou borato, absorvidos da solução do solo. Esterificação com grupos alcoólicos em plantas. Os esteres de fosfato estão envolvidos em reações com transferência de energia. 3° Grupo K, Mg, Ca, Mn, Cl Na forma de íons da solução do solo. Funções não específicas, estabelecendo potencial osmótico. Reações mais específicas nas qual o íon proporciona um melhor arranjo em enzimas protéicas (ativação de enzima). Balanceamento iônico. Controlando a permeabilidade de membrana e o potencial elétrico. 4° Grupo Fe, Cu, Zn, Mo Na forma de íons ou quelatos da solução do solo. Presente predominantemente em formas quelatadas incorporadas em grupos prostéticos. Habilita o transporte de elétron através da mudança de valência. Fonte: Mengel & Kirkby (2001). 7 3 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ARNON, D.I.; STOUT, P.R. 1939. The essentiality of certain elements in minute quantity for plants with special reference to copper. Plant Physiology, 14:371-375. EPSTEIN, E.; BLOOM, A.J. 2005. Mineral nutrition of plants: Principles and perspectives. Sinauer, Massachusetts. 400p. FURLANI, A.M.C. 2004. Nutrição mineral. In: Kerbauy, G.B. Fisiologia vegetal. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. pp.40-75. MALAVOLTA, E. 1980. Elementos de nutrição mineral de plantas. Ceres, São Paulo. 254p. MARSCHNER, H. 1995. Mineral nutrition of higher plants. 2th ed. Academic Press, London. 889p. MENGEL, K.; KIRKBY, E.A. 2001. Principles of plant nutrition. 5. ed. Kluwer Academic, Dordrecht. 849p. PLOEG, R.R.; BÖHM, M.; KIRKHAM, M.B. 1999. History of soil science. On the origin of the theory of mineral nutrition of plants and the law of the minimum. Soil Science Society of American Journal, 63:1055-1062. CAPÍTULO 2 O SISTEMA RADICULAR E SUAS INTERAÇÕES COM O AMBIENTE EDÁFICO Everaldo Zonta1; Felipe da Costa Brasil2; Silvia Regina Goi3; Maria Mercedes Teixeira da Rosa4 1 – Prof. Dr. Departamento de Solos – UFRRJ – ezonta@ufrrj.br 2 - Prof. da Universidade Severino Sombra, Vassouras, RJ. 3 - Prof. Dr. Departamento de Silvicultura – UFRRJ 4 - Prof. Dr. Departamento de Botânica – UFRRJ 1. INTRODUÇÃO Durantes muitos anos (até meados do século passado), as raízes foram consideradas como a “metade oculta” dos vegetais (Waisel, et al, 2002), com uma significativa escassez de resultados de pesquisa sobre este tema em todo o mundo. As razões para esta carência de dados são historicamente explicáveis pelas dificuldades metodológicas (Van Noordwijk, 1993), a própria inacessibilidade ao sistema radicular como objeto de experimentação, sua complexidade tridimensional e sua marcada variabilidade espacial e temporal (Van Noordwijk, 1993). Hoje existe consenso da importância desses estudos com observações in situ no campo, para o manejo das lavouras, que quando associado aos fatores edafoclímaticos são fundamentais para a otimização das práticas de adubações e aplicações de pesticidas de solo, além das demais como, tratos culturais, densidade de plantio, irrigação, cultivos intercalares e na arborização urbana. Os estudos das raízes são ainda fundamentais para o entendimento das relações de absorção de água e nutrientes, necessários aos avanços das pesquisas básicas que nortearão os estudos aplicados. Neste capítulo, serão apresentados de forma sucinta os conhecimentos acumulados sobre sistemas radiculares, tanto básicos como práticos, obtidos nas ultimas décadas, de estudos sobre o assunto. 2. Origem e funções das raízes Filogenéticamente, as raízes são órgãos recentes, cujo aparecimento data da fixação dos vegetais na terra, da diferenciação do sistema vascular e novas rotas metabólicas conducentes à síntese de substâncias fenólicas e ligninas (Chriqui et al, 1996). Os ancestrais mais antigos conhecidos de plantas vasculares pertencem ao gênero Rhynia, que existiram durante o período Siluriano e Devoniano (há cerca de 354 a 435 milhões de anos). Eram plantas aquáticas sem sementes, não havendo diferenciação morfológica de suas partes (raiz, caule e folha), constituídas unicamente de um eixo com ramificações dicotômicas, possuindo, no entanto, estômatos e um sistema fotossintético rudimentar. É muito provável que as raízes tenham surgido ao longo da evolução, a partir da parte subterrânea do eixo da Rhynia, ou de uma subespécie um pouco mais evoluída, no final do período Devoniano ou no início do período Carbonífero da Era Paleozóica. Inicialmente, este sistema radicular pouco definido morfologicamente, tinha como função a fixação da planta no seu ambiente e substrato, visto que a absorção de água e nutrientes era primordialmente processada pela parte aérea, já que estas viviam em meio aquoso (Raven et al, 1996). Especificamente, as raízes, como órgãos distintos da parte aérea, evoluíram nas esporófitas, quando da maior ocupação do ambiente terrestre, onde, estruturas semelhantes a raízes penetravam a quase um metro dentro do substrato, aumentando o volume de material mineral sujeito à intemperização, pelo aumento do nível de CO2 gerado pela respiração das plantas e microrganismosem materiais com contacto restrito com a atmosfera. Estruturas mais refinadas envolvidas na absorção de nutrientes de baixa difusão no solo evoluíram a pelo menos 400 milhões de anos atrás, como as micorrizas arbusculares (capitulo 3 deste volume) ou pêlos radiculares. (Raven et al, 1996). Com essa evolução, o sistema radicular, subterrâneo e heterotrófico, passou a desempenhar funções mais complexas, como a fixação das plantas e a absorção e condução de água e nutrientes do meio externo até o caule. Funções estas, primordiais para o desenvolvimento vegetal e indiscutivelmente necessárias para a sobrevivência de toda e qualquer espécie (Raven & Edwards, 2001). Particularmente, em algumas espécies, além das funções primárias de sustentação e absorção de água e nutrientes, houve evolutivamente, a necessidade das raízes cumprirem outras funções, em parte moduladas pelo ambiente a que estavam submetidas, tais como: a) dreno final no armazenamento de substâncias de reserva, b) propagação e dispersão da espécie, c) nicho ecológico para simbiontes e organismos livres associados à rizosfera, d) produção de metabólitos secundários, e) aeração (oxidação) da rizosfera, e, f) síntese de reguladores de crescimento (Raven et al, 1996). Ainda, em modelos singulares de sistemas radiculares (como em orquídeas) os sistemas radiculares podem ser aéreos e fotossintetizantes (Peres & Kerbauy, 2000). Independentemente das características específicas, o primórdio do sistema radicular em plantas vasculares é o embrião (esporófito jovem), formado por um eixo caulinar (hipocótilo-epicótilo), uma ou duas folhas embrionárias (cotilédones) e por uma raiz embrionária (radícula). Com a germinação da semente, a radícula sofre divisões e alongamentos celulares por um período de tempo e espaço variado e com tendência caótica até o seu desenvolvimento total (Figura 1), e originando raízes laterais de primeira, segunda, terceira e demais ordens. Figura 1. Desenvolvimento de uma eudicotiledônea (sombreiro), mostrando a raiz principal e raízes laterais de primeira e segunda ordem. Desenho de Maria Mercedes Teixeira da Rosa, Depto de Botânica – IB – UFRRJ (2005). 3. Anatomia Radicular A unidade básica e estrutural da anatomia é a célula, que se caracteriza pela presença de parede celular envolvente, que mantém sua forma independente da célula estar viva ou não. Agrupadas, estas estruturas compõem todo o vegetal desde suas raízes até o pólen. A organização particular e especializada de parte destas células determina a anatomia radicular das plantas, conforme mostra Figura 2. Figura 2. Estrutura anatomica da raiz principal de Ravenala madagascariensis, na região de ramificação. Secção transversal. Desenho de Maria Mercedes Teixeira da Rosa, Depto de Botânica – IB – UFRRJ (2005). 3.1. Ápice da raiz O ápice da raiz (Figura 3a) em crescimento é protegida pela coifa que consiste de camadas de células concêntricas que envolvem o meristema apical onde novas células são produzidas. É freqüentemente coberta por uma grossa camada de mucilagem (Figura 3b), usualmente considerada um lubrificante, para ajudar o ápice a atravessar o solo. A mucilagem também protege contra a dessecação, especialmente se contém arabinogalactanas que se associam a partículas do solo e ajudam a garantir a continuidade do filme de água entre o solo e a raiz (Lynch, 1990). A mucilagem também tem a função de proteção contra substâncias tóxicas do solo e funciona como superfície de absorção, afetando a troca iônica, dissolvendo e provavelmente formando quelatos com certos nutrientes. À medida que novas células são produzidas, as células da periferia da ponta da raiz são destacadas (Figura 3b). Quando a raiz para de crescer, o ápice da raiz pode ser protegido por suberização das suas células externas. Essa metacutinização, que é uma modificação das pontas das raízes dormentes por suberização de uma ou mais camadas de células da coifa (Romberger, 1963), não é produzida em espécies anuais, mas é produzida em espécies perenes como as árvores, presumivelmente como uma forma de proteção contra fatores adversos do solo (Brundrett & Kendrick, 1990). Figura 3. a) Ápice da raiz de cebola. No detalhe, células em diferentes fases de divisão. Depto de Botânica – IB – UFRRJ (2005); b) Células da periferia radicular destacadas e mucigel em raiz de plântula de cana-de-açúcar. Silvia Regina Goi – Departamento de Ciências Ambientais – IF - UFRRJ (2005). 3.2. Epiderme A epiderme, chamada por alguns autores de rizoderme, presente na estrutura primária, funciona como interface entre a planta e o solo. A parede celular de células da epiderme podem ser suberizadas, lignificadas ou relativamente não modificadas. Células da epiderme de raízes novas secretam mucilagem. 3.3 Córtex O córtex, região compreendida entra a epiderme e o cilindro central, é freqüentemente composto por células do parênquima. O córtex pode se diferenciar em aerênquima (Figura 2), com espaços intercelulares representados por grandes lacunas. O aerênquima das raízes é considerado como um tecido que serve ao transporte de gases e como reservatório de oxigênio necessário à respiração dos tecidos principalmente em solos alagados. As células do córtex são altamente vacuoladas, seus plastídeos usualmente não possuem clorofila, mas acumulam amido. A camada interna do córtex é diferenciada em endoderme, e uma ou mais nas camadas externas, podem desenvolver uma exoderme. 3.4 Exoderme A camada de células abaixo da epiderme é chamada exoderme. É a camada mais externa do córtex, podendo, apresentar vários estratos celulares, cujas paredes poder ser suberizadas e/ou lignificadas (Raven et al, 1996). 3.5 Endoderme Na região de absorção das raízes, as células da endoderme contêm suberina em uma região que se estende completamente ao redor das células, nas paredes radiais e transversais, formando as estrias de Caspary. Nas raízes que não apresentam crescimento secundário, como nas monocotiledôneas, onde portanto o córtex é retido, verifica-se um depósito adicional de camadas alternadas de suberina e cera internamente às paredes das células endodérmicas, formando-se o chamado espessamento em “U” (Figura 4). Figura 4. Células da endoderme com espessamento em “U” e estria de Caspary de raiz de Heliconia sp em diferentes fases de desenvolvimento. Depto de Botânica – IB – UFRRJ (2005). 3.6 Tecido vascular e Cilindro central O cilindro central compreende os feixes vasculares e uma ou mais camadas de células não vasculares denominadas de periciclo. O xilema freqüentemente forma uma sólida medula com projeções cônicas dispostas radialmente no periciclo. Feixes de floema se alternam com os cones do xilema. Se o xilema não se diferencia no centro da raiz, um cerne, consistindo de parênquima ou esclerênquima aparece (encontrado em muitas monocotiledôneas). 4. Morfologia Radicular A morfologia radicular refere-se às características intrínsecas externas do sistema, sendo fundamental também na identificação e classificação das espécies. Em geral é morfologicamente que se pode visualizar as principais alterações no sistema Estria de Caspary Espessamento em “U” devido a efeitos bióticos e/ou abióticos (McCully, 1999). Essas alterações são devidas às características de elasticidade e plasticidade intrínseca dessa parte do vegetal. A maioria das plantas ramifica suas raízes a partir do eixo principal em eixos laterais de ordens superiores. Essas diferentes ordens de raízes podem variar suas características, com relação à espessura, taxa de crescimento,capacidade de crescimento secundário, duração, estruturas e adaptações. Essas variações por sua vez, vão influenciar a capacidade de obtenção de água, nutrientes, sobrevivência a condições adversas e a possibilidade de servir de habitat para microrganismos da rizosfera. A radícula é a raiz inicial da planta e está geralmente presente no embrião dentro da semente. Ela forma a raiz principal da plântula. Em certas espécies o embrião é tão pequeno e imaturo, como nas micro-sementes de orquídeas, que a radícula não está presente. Em gimnospermas e dicotiledôneas, a raiz principal e suas ramificações constituem o sistema radicular. Nas monocotiledôneas, a primeira raiz comumente tem um curto período de vida e o sistema radicular é formado por raízes adventícias (Figura 5) que emergem da parte aérea, freqüentemente em conexão com as gemas axilares (Esaú, 1977). Um esquema da morfologia externa de uma raiz é apresentado na figura 6. Figura 5. Raízes adventícias de Pandanus sp. No detalhe, a presença de espinhos. Fotografia de Lucia Helena Cunha dos Anjos – Depto de Solos – IA – UFRRJ (2003). Figura 6. Morfologia de eixo radicular principal ou de raiz lateral. Modificado de Raven et al (1996), por Orlando Carlos Huertas Tavares – CAPGA-CS – Depto de Solos – IA - UFRRJ (2006). 4.1 Pêlos Radiculares A epiderme pode apresentar projeções que são os pêlos radiculares (Figura 7), podendo ser curtos, longos, raros ou densos. Os pêlos radiculares são estruturas cilíndricas e tubulares derivadas de células epidérmicas da raiz chamadas tricoblastos (Müller & Schmidt, 2004). Figura 7. Pêlos radiculares de Ravenala madagascariensis. A e B) Tecido submetido a diferentes corantes; C) Detalhe do Pêlo (unicelular). Departamento de Botânica – IB – UFRRJ (2005). Os pêlos radiculares são importantes no processo de aquisição de nutrientes, pois aumentam a superfície de absorção radicular. Resultados obtidos por Itoh & Barber (1983) mostram a contribuição dos pêlos radiculares no aumento da superfície da raiz de alface, tomate e Salsola kali L.. A distribuição, densidade e comprimento dos pêlos radiculares, pode variar de acordo com fatores genéticos e ambientais. Experimentos com tomate, canola e espinafre mostraram que a formação do pêlo é fortemente influenciada pelo suprimento de nitrato e fosfato (Foehse & Jungk, 1983). O etileno parece estar envolvido na regulação do desenvolvimento dos pêlos radiculares de Arabidopsis thaliana L. crescida em baixa concentração de fósforo; a inibição do etileno sob deficiência de fósforo resultou em redução do crescimento da raiz, diminuição do número de células formadoras de pêlos radiculares e redução no comprimento dos pêlos (Zhang et al 2003). Essas mudanças morfológicas são sinergísticas à aquisição de fósforo, aumento da capacidade e competitividade da planta quando este elemento é o fator limitante (Bates & Lynch, 2000; Bates & Lynch, 2001). O crescimento dos pêlos radiculares é regulado por vários genes, como RHD2, RHD3, RHD4 e T!P! (Aeschbacher, 1994). Esses genes podem codificar produtos que afetam o crescimento da ponta do pêlo, tal como o fluxo de cálcio. Antes da emergência do pêlo radicular, a maioria dos feixes de microfilamentos nos tricoblastos são orientados longitudinalmente ao eixo da raiz; durante o desenvolvimento do pêlo, eles mantém essa orientação. O primeiro passo é a formação de uma protuberância no tricoblasto. Os microfilamentos ficam nesta protuberância com a mesma orientação das células epidérmicas. As protuberâncias se desenvolvem em pêlos radiculares e inicialmente apresentam diâmetro pequeno e têm feixes finos de microfilamentos no citoplasma, mas que não chegam à ponta do pêlo. No estágio intermediário de crescimento, o vacúolo principal fica encostado na ponta e os microfilamentos podem se estender até a ponta, mas não são tão finos como no início do crescimento. O pêlo totalmente crescido possui um grande vacúolo no centro da célula e o citoplasma localizado perifericamente. Os microfilamentos ficam no citoplasma e se dirigem até a ponta do pêlo, contornando-a (Miller et al 1999). Outras modificações na morfologia de pêlos radiculares tem sido mais intensivamente estudadas em plantas inoculadas com Rhizobium (Ervin & Hubbell, 1985; Cárdenas et al 2000). A especificidade das interações simbióticas entre Rhizobium e as leguminosas hospedeiras é governada por um número de fatores que atuam em vários estágios. Fatores “Nod” são os principais determinantes da especificidade para várias espécies de Rhizobium (Dénairié et al. 1996). Fatores “Nod” são lipo-quitina oligopolissacarídeos que aplicados em raízes de leguminosas podem induzir várias respostas, tais como deformação do pêlo radicular e divisão de células corticais (Walker & Downie, 2000). A estrutura básica de fatores “Nod” permite ao Rhizobium leguminosarum bv. viciae entrar no pêlo radicular e os genes nod nodO ou nodE promoveram o desenvolvimento subseqüente do cordão de infecção em Vicia hirsuta (Walker & Downie, 2000). Em pêlos radiculares, a presença de feixes finos de microfilamentos sub- apicais estão correlacionados com o crescimento da ponta do pêlo. Após a aplicação de fatores “Nod” específicos de Rhizobium, o número de feixes de microfilamentos sub- apicais aumentou em todos os estágios de desenvolvimento do pêlo radicular de Vicia sativa, mostrando de uma maneira quantitativa, como a aplicação de Fatores “Nod” pode mudar a configuração dos microfilamentos do citoesqueleto. As mudanças são muito rápidas para terem sido causadas pela transcrição de um novo gene e para síntese proteica “de novo”. Isso implica em que os fatores “Nod” lipochito-oligossacarídeos (LCO) acionam um sinal de transdução que termina produzindo moléculas que influenciam o citoesqueleto de microfilamentos. Após a percepção da sinalização do LCO, ocorre um influxo de íons de cálcio dentro dos pêlos radiculares de Medicago sativa (Felle et al. 1998). Vários trabalhos tem demonstrado o efeito da inoculação de bactérias diazotróficas endofíticas, não só em gramíneas mas também em outras plantas cultivadas, causando modificações nos pêlos radiculares. Azospirillum pode produzir “in vitro” os fitohormônios AIA, giberelina e citocinina A aplicação de giberelina teve efeito similar à inoculação de Azospirillum lipoferum, aumentando a densidade dos pêlos radiculares (Bashan & Holguin, 1997). Estirpes de Azospirillum brasilense e A. lipoferum aumentaram a formação de pêlos radiculares e produziram um número maior de raízes laterais em trigo, tomate e pimentão (Bashan, 1998). O Azospirillum promoveu um efeito específico na deformação do pêlo radicular de trigo, semelhante ao efeito causado por Rhizobium na deformação de pêlos radiculares de leguminosas (Patriquin et al 1983). Considerando o efeito da presença de bactérias no crescimento dos pêlos radiculares, estas poderiam modificar a expressão dos genes que codificam o crescimento dos pêlos em função da mudanças no nível de fitohormônios (Jain & Patriquin, 1985) ou mesmo em função de mudanças na absorção de nutrientes minerais (Lin et al, 1983). Foram observadas variações na distribuição e tamanho dos pêlos radiculares nas diferentes zonas de raízes de plantas cana-de-açúcar inoculadas com bactérias diazotróficas; pêlos radiculares de tamanho maior foram obtidos com a inoculação da estirpe Mex 77 de Azospirillum lipoferum; a inoculação com a estirpe PAL 5 de Gluconacetobacter diazotrophicus promoveram um aumento da densidade de pêlos radiculares na zona proximal da raiz (Baldani et al., 1999).Em relação à forma do pêlo, foram observados pêlos radiculares bifurcados (em forma de garfo) em plântulas de cana-de-açúcar inoculadas com Burkholderia brasilensis. Pêlos radiculares helicoidais foram observados em plântulas de cana-de- açúcar inoculadas com a estirpe PAL-5 de Acetobacter diazotrophicus (Goi et al 1998). 4.2 Formação de raízes laterais A formação das raízes laterais é um processo multifásico que inclui pelo menos a iniciação, emergência dos primórdios da raiz e ativação dos meristemas das raízes laterais. Estas raízes se originam no periciclo, onde células quiescentes individuais são estimuladas a se diferenciar e proliferar para formar primórdios de raízes laterais (Figura 8). Os primórdios crescem via divisão e expansão celular. A emergência dos primórdios a partir das raízes parentais ocorre primariamente por expansão celular. Imediatamente após a emergência o primórdio fica ativado para formar um sistema meristemático funcional da raiz lateral, que direciona o crescimento deste estágio em diante. Vários trabalhos indicam que a auxina seria necessária para a iniciação e subseqüente crescimento das raízes laterais (Lloret & Pulgarin, 1992; Reed et a, 1998). A aplicação exógena ou aumento da síntese endógena de auxina resulta em aumento significativo do número de raízes laterais (Boerjan et al. 1995). A citocinina juntamente com a auxina teria uma importante atuação na morfogênese da planta, influenciando a formação da raiz e da parte aérea e seu crescimento relativo. Segundo Wightman et al. (1980) as citocininas são formadas na ponta da raiz e interagem com a auxina na regulação da formação das raízes laterais, tendo ação inibitória em relação à emergência das raízes laterais. Resultados recentes mostram que as citocininas (cinetina e trans- zeatina) tiveram efeito inibitório na iniciação da raiz lateral e efeito estimulatório no alongamento da raiz lateral em arroz (Debi et al, 2005). Da mesma forma, em Lotus japonicum a expressão do gene ARR5 (que controla a expressão de citocinina em Arabidopsis) não foi observado nas células em divisão nos primórdios das raízes laterais, mas foi observada alta expressão nas etapas seguintes da formação da raiz lateral (Lohar et al. 2004); estes autores observaram também a expressão do ARR5 nos pêlos radiculares deformados e também nos primórdios de nódulos, em resposta à inoculação com rizobio. Em plântulas de Pinus pinea a formação de raízes laterais estaria controlada por fatores de estímulo localizados na parte aérea (Atzmon et al 1994) Figura 8. Emissão das raízes laterais de Ravenala madagascariensis. a) Corte transversal; b) Corte longitudinal, evidenciando os traqueídeos, que são células relativamente alongadas e com a parede primária e secundária lignificada, com função de condução de solutos e de sustentação; c) Detalhes do xilema primário da raiz lateral e do rompimento das células da endoderme. Depto de Botânica – IB – UFRRJ, 2005. 4.3 Formação de raízes adventícias Comumente, as raízes adventícias se formam a partir do caule, originadas da divisão celular do córtex ou menos freqüentemente, a partir de gemas axilares Traqueídes A B Raiz Lateral Raiz Lateral Endoderme Xilema C escondidas na casca. Geralmente tem origem endógena e surgem próximo aos tecidos vasculares. Em caules novos de eudicotiledôneas e gimnospermas, as raízes adventícias comumente surgem no parênquima interfascicular e em caules velhos, no raio hipotético dos tecidos vasculares, próximo ao câmbio. Portanto a nova raiz aparece próxima ao xilema e floema. Quando as raízes adventícias são formadas em explantes, elas provavelmente se originam no tecido que se localiza na base do explante. Os primórdios das raízes adventícias são iniciados por divisão de células do parênquima, lembrando as divisões que iniciam a formação de raízes laterais a partir do periciclo de raízes jovens. Antes da emergência das raízes adventícias do caule ou raiz, são diferenciados um meristema apical, uma coifa e o começo do cilindro vascular e do córtex. Quando os elementos vasculares se diferenciam, a partir das células do parênquima, localizadas na extremidade proximal do primórdio, estes passam a fornecer uma conexão com os elementos correspondentes do órgão principal. A formação das raízes adventícias tem sido bem estudada em conexão com os reguladores de crescimento. Em explantes, é possível regenerar raízes, através da aplicação de auxinas, o que aumenta o número de raízes adventícias (Esaú, 1977). Durante a formação das raízes adventícias podem ser distinguidos diferentes estágios de desenvolvimento: iniciação, desenvolvimento inicial, crescimento e emergência do primórdio da raiz. A iniciação da raiz adventícia a partir de células diferenciadas de tabaco é determinada pela expressão do gene HRGPnt3, induzido antes da divisão celular dos primórdios. O desenvolvimento de primórdios de raízes adventícias e raízes laterais de Arabidopsis é caracterizado pela expressão do gene LRP1, que em raízes laterais foi mostrado como desligado antes da emergência do primórdio. Em arroz inundado o crescimento de raízes adventícias é induzido pelo etileno. Quando as plantas são submersas, a concentração de etileno aumenta (Métraux & Kende, 1983) e a expressão das ciclinas sugerem que o etileno atua sistematicamente e o primórdio da raiz responde ao etileno no estágio inicial de desenvolvimento (Lorbiecke & Sauter, 1999). Recentemente isolado, o gene que controlaria a iniciação dos primórdios de raiz adventícia em arroz: ARL1 seria um gene responsivo a auxina e etileno. ARL1 estaria envolvido na diferenciação celular mediado pela auxina e promove a divisão inicial nas células do periciclo, adjacentes ao cilindro vascular periférico no caule (Liu et al., 2005). 4.4 Outras raízes especializadas São raízes especializadas, os pneumatóforos, que são raízes aéreas e esponjosas de plantas de mangue, e se constituem em raízes respiratórias, que possuem canais de ar (lenticelas), para troca gasosa com a atmosfera e existe uma via interna para distribuição de O2 dentro da raiz, para suprimento das raízes submersas. Ainda, as raízes adventícias do tipo escora, com espinhos, como as de Pandanus sp, que servem como suporte mecânico à planta, seriam também uma outra especialização (Figura 5). As raízes proteóides ou raízes em cluster (Figura 9) são adaptações encontradas em um número grande de famílias, incluindo Leguminosae, Betulaceae, Myricaceae, Elegnaceae, Casuarinaceae, Proteaceae e Moraceae (Skene, 2000; Neumann & Martinoia, 2002). Figura 9. Raizes proteóides ou raízes em cluster de diferentes espécies. a) Lupinus albus; b) Hakea sp; c) Lupinus sp e d) Imagem obtida por endoscopia de solo. Diâmetro do eixo radicular menor ou igual a 0,2 mm (Fotografia de 18 x 13,5 mm). Fontes: a b Nemoy, 2006; c Schimidt, 2006; d Brasil, 2005. Do ponto de vista ecológico, as raízes em cluster, embora ocorram em várias famílias, pertencem a um número limitado de ecotipos. Muitas espécies que possuem essas raízes são espécies pioneiras e muitas não se associam com micorrízas ou exibem infecção micorrízica reduzida. Essas raízes são consideradas juntamente com as micorrizas e nódulos das leguminosas, as maiores adaptações para a aquisição de nutrientes. Cada raiz em cluster é composta por pequenas raízes de desenvolvimento determinado, que surgem do periciclo, opostas ao pólo do protoxilema, e dão à raiz o A A C B D formato de “escova de lavar mamadeira”. A iniciação está ligada a vários fatores, incluindo deficiência de fosfato. Essasraízes combinam adaptação de ramificação da raiz, alteração da rizosfera, desenvolvimento da raiz e absorção de nutrientes em uma única via. A formação das raízes em cluster parece ser induzida pela diminuição da disponibilização de fósforo e pelo menos em algumas espécies, pela deficiência de ferro (Neumann & Martinoia, 2002). Existem evidências fortes de que ocorram mudanças metabólicas durante o desenvolvimento das raízes proteóides, contribuindo para um aumento no acúmulo de carboxilato no tecido da raiz e finalmente a liberação temporária desses compostos na rizosfera. Durante o estágio de desenvolvimento destas raízes, grandes quantidades de carboxilatos, prótons, fosfatases ácidas e compostos fenólicos são liberados na rizosfera durante um período de 1 a 3 dias. Este padrão de desenvolvimento da raiz em cluster é associado a um aumento na concentração de carboxilatos no tecido da raiz e uma troca na acumulação de malato por citrato, antes da exsudação. A liberação temporária de carboxilatos pelas raízes em cluster é provavelmente mediada por mecanismos de transporte controlado. Em Lupinus albus, estudos com inibidores sugerem o envolvimento de canais iônicos para exsudação de citrato acoplados com a concomitante liberação de prótons para manter o balanço de cargas (Neumann & Martinoia, 2002). 4.5 Rizosfera e Rizoplano Em termos nutricionais, a interface solo-raiz é bastante importante e os eventos que ocorrem na rizosfera, serão referenciados nos próximos capítulos. O termo rizosfera foi introduzido por Hiltner em 1904, e é a zona de influência das raízes, que vai desde a sua superfície até uma distância de 1 a 3 mm. Entretanto, atualmente, outros autores em trabalhos mais recentes, consideram uma distância de até 5 mm. A sua extensão varia com o tipo de solo, espécie considerada, idade e muitos outros fatores, mas assume-se que esta se estenda a partir da superfície da raiz (rizoplano) até poucos milímetros para dentro do solo, ou possivelmente poucos centímetros, em alguns casos especiais (Lynch, 1990). É neste volume do meio de crescimento do sistema radicular que se processa uma infinidade de eventos físico-quimico-biológicos que podem alterar a morfologia e a dinâmica do sistema radicular e a disponibilidade de nutrientes, ao mesmo tempo, que este espaço pode ser alterado pelo sistema radicular. 5. Fisiologia das Raízes. O sistema radicular como um todo, independente de seu desenvolvimento fásico ou idade, apresenta regiões espacialmente mais ou menos ativas, em relação à capacidade intrínseca de absorver água e nutrientes, de exsudarem moléculas orgânicas, ou de fazer extrusão de prótons. Em relação à absorção de água, nutrientes e outros solutos, faz-se necessário o entendimento da interface solo/planta, das rotas de absorção e das barreira existentes nos tecidos radiculares, que podem acelerar ou reduzir a velocidade do movimento radial, da superfície radicular até o cilindro central. 5.1. Rotas de Absorção O movimento da água, nutrientes e outras substâncias a partir da superfície da raiz - considerando a rizosfera - ao interior das plantas, ocorre em dois espaços distintos denominados de apoplasto e simplasto, até a endoderme (Figura 10). O apoplasto é definido como um "continuum" entre as paredes celulares, espaços intercelulares e os vasos xilemáticos ao longo de todo o corpo da planta desde o córtex da raiz até os traqueídes e elementos de vaso que chegam às folhas. A caracterização do apoplasto remonta ao botânico Ernst Münch, que em 1930, distinguiu a planta em dois compartimentos: o morto, que denominou de apoplasto e o vivo, que denominou simplasto. Münch sugeriu, na época, que a função do apoplasto era exclusivamente o transporte de água e solutos. Hoje sabemos que este compartimento tem funções mais numerosas, e que os nutrientes simplesmente não apenas atravessam o apoplasto, mas podem ser adsorvidos ou fixados na parede celular, por exemplo, com implicações diretas na aquisição de nutrientes, além de poder conferir tolerância de algumas plantas à toxidez por metais (Al, Mn). Este espaço pode ser colonizado por microorganismos, que podem contribuir diretamente para a nutrição da planta (Sattelmacher, 2001). De acordo com a compreensão atual, todos os compartimentos além da plasmalema constituem o apoplasto, incluindo o espaço interfibrilar e intermicelar das paredes celulares, o lumem das células mortas e os espaços intracelulares do xilema (com água e gases), sendo as suas bordas externas formadas pela superfície do rizoplano e da cutícula na parte aérea (Sattelmacher, 2001). Entretanto, pode existir uma interrupção neste contínuo apoplástico, quando considerada a planta toda, esta interrupção é representada pela endoderme, mais especificamente pelas estrias de Caspary, onde uma camada mais ou menos suberizada pode apresentar maior ou menor permeabilidade a água e solutos. Figura 10. Rotas para absorção de água e nutrientes. A partir do córtex até o cilindro central o movimento acontece entre os espaços celulares (rota apoplástica) ou através dos plasmodesmos (rota simplastica) ou aquaporinas (para água). Desenho de Orlando Carlos Huertas Tavares – CAPGA-CS – Depto de Solos – IA - UFRRJ (2006). Atualmente, considera-se a endoderme, com as estrias de Caspary, uma barreira, porém, não totalmente impermeável, ao movimento radial da água e íons nos dois sentidos (Pimentel, 2004). RANATHUNGE et al (2005) usando uma nova técnica de precipitação de sais, estudaram a permeabilidade da parede celular, e, em especial das estrias de Caspary da endoderme, utilizando como modelo de estudo raízes jovens de milho e arroz. Os autores concluíram que em termos de permeabilidade da estria de caspary para íons não representa uma barreira absoluta. Esses autores verificaram que alguns íons podem eventualmente ultrapassar a barreira da endoderme, mas consideram este fenômeno pouco relevante, do ponto de vista da nutrição da planta. A permeabilidade da barreira endodérmica pode variar em função das condições e fases do crescimento radicular. Em particular, observaram os autores, que em arroz pode haver um fluxo apoplástico significativo pelas regiões onde o surgimento das raízes laterais rompe a barreira endodérmica. O simplasto por sua vez é considerado como todo o citoplasma e membranas de todas as células vivas. Muitas vezes faz-se referência ao simplasto como uma unidade devido à existência dos plasmodesmos, observados apenas em células vegetais, e que são interligações entre membranas de células vizinhas, criando pontes citoplasmáticas (Figura 11). Os plasmodesmos, são estruturas tubulares da membrana plasmáticas de 40 a 50 nm de diâmetro que atravessam a parede celular e conectam os citoplasmas das células adjacente (Taiz & Zeiger, 2004), e ocorrem em uma densidade que pode variar de 0,1 a 10,0 por µm2 (cerca de 20.000 por cada parede tangencial, ou 5×108 unidades/cm2). Anatomicamente, apresentam uma estrutura interna complexa, constituída pelo eixo central, desmotúbulo (que é um prolongamento do retículo endoplasmático), cavidade central e proteínas filamentosas, entre outras organelas, sendo que o movimento do íon se faz exclusivamente pela cavidade central. O papel do desmotúbulo, que envolve o eixo central, ainda é incerto quanto ao movimento de solutos e outras substâncias, pois não parece existir espaço entre essas membranas para tal fim. Figura 11. Plasmodesmatas. Microfotografia de microscópio eletrônico de transmissão de nódulo radicular de Mimosa caesolpiniaefolia. Silvia Regina Goi – Departamento de Ciências Ambientais – IF - UFRRJ (2005).5.2. Absorção de água. Para as plantas terrestres, o solo é o reservatório natural de água, e ela está presente no solo como água gravitacional, capilar e higroscópica. A gravitacional é pouco utilizada, pois é drenada rapidamente através do macroporos. A higroscópica constitui uma fração que está quimicamente ligada às partículas do solo, formando uma película líquida, e não é utilizada pela planta devido a grande tensão de retenção. A fração de água capilar, retida nos microporos, por sua vez é de extrema importância por representar a fonte direta para a planta. Até à superfície das raízes, que representam o acesso para o interior do vegetal, a água se movimenta por difusão ou por fluxo de massa, e a partir daí, flui e penetra pela camada epidérmica. Uma vez na superfície da raiz, a absorção e/ou movimento da água pode ocorrer através de três rotas (simplástica, apoplástica ou transmembranar), até atingir o cilindro central onde ascenderá pela planta para as demais partes do vegetal. Esse deslocamento se dá sempre de zonas hipotônicas (menos concentradas) para zonas hipertônicas (mais concentradas), ou seja, de zonas com elevado potencial hídrico para zonas de baixo potencial hídrico. Um efeito típico, que viabiliza este mecanismo, é a própria absorção ativa de íons (Capítulo 5 deste volume), fazendo com que as raízes acumulem nutrientes, e outros solutos e elementos em concentrações centenas de vezes superiores ao do meio externo. Este transporte torna a solução interna ainda mais hipertônica, diminuindo o potencial hídrico e causando mais entrada de água por osmose. Pela rota apoplástica, da rizoderme até o xilema no cilindro central, passando pela endoderme, onde pode haver dificuldade à sua passagem, mas não impedimento, em função da composição química da endoderme, ao seu desenvolvimento e especificidade (mono e eudicotiledôneas; Pimentel, 1998). Durante este movimento, por um ou outro mecanismo, pode haver absorção de água pelas células corticais. Pela rota simplástica, a absorção preferencial para as células da raiz se dá através dos pêlos radiculares, onde a água se movimenta pelo citoplasma, passando de célula a célula, pelos plasmodesmos até o cilindro central. A rota transcelular (ou simplástica), sendo um movimento célula a célula, atravessa pelo menos duas membranas, via aquaporinas, descobertas na década de 90, que são canais seletivos para água, regulados pelo seu estado de fosforilação, de modo que as células podem regular a sua permeabilidade à água ao acrescentando ou removeno grupos fosfato a resíduos de aminoácidos específicos. Esta modulação da atividade da aquaporina pode então alterar a taxa de movimento da água através da membrana (Taiz & Zeiger, 2004). Espacialmente, considerando um único eixo radicular, a absorção e movimentação da água tende a ocorrer mais rapidamente através das regiões que oferecem menor resistência à sua movimentação. Essas regiões variam de acordo com a espécie, idade e velocidade de desenvolvimento da raiz. Atualmente, sabe-se que a máxima absorção de água ocorre na região de diferenciação celular onde o xilema está bem diferenciado e na qual a suberização e lignificação ainda não reduziram a permeabilidade das paredes celulares, destacando-se em especial as regiões de pêlos radiculares. Nas regiões meristemáticas, a absorção de água é bastante limitada, devido principalmente à grande resistência oferecida pelo protoplasma denso e a falta de elementos de condução nesta região. Quando considerado o sistema radicular como um todo, sob condições normais de hidratação da planta (e do solo), a absorção de água é feita preferencialmente via simplástica. Com a redução da água disponível, ou aumento da transpiração, o mecanismo apoplástico é ativado. Por fim, sob condições de déficit, o transporte trans- membrana é ativado (aquaporinas). Destes mecanismos, o apoplástico, resulta também em maior arraste de solutos da rizosfera, aumentando a zona de depleção (Pimentel, 2004). A velocidade de deslocamento de água pela via apoplástica pode ser cerca de 60 vezes superior à prevista para movimentos citoplasmáticos, e, considera-se que este deva ser o percurso preferencial, nos momentos de demanda elevada. 5.3 Absorção de nutrientes A absorção de nutrientes e o seu movimento radial até o cilindro central acontece da mesma forma que o descrito para a água, exceto para a rota transmembranar. As plantas adquirem numerosos íons e substâncias, mesmo desnecessárias ou tóxicas, do solo, pelas vias apoplásticas e simplásticas. Estes podem se movimentar até o cilindro central, serem assimilados em tecidos próprios ou ainda ficarem retidos nas cargas da superfície radicular (CTC radicular). Isso implica inclusive na possibilidade de dispersão de substâncias potencialmente tóxicas para os seres vivos, sendo, porém esta capacidade das plantas, proveitosa para a “remediação” de solos contaminados (Capitulo 15 neste volume). O deslocamento via simplasto por sua vez é dependente inicialmente de um mecanismo qualquer (bomba, canal ou transportador; Capitulo 6 neste volume), que permita a sua entrada na célula vegetal, ultrapassando a membrana plasmática, o que pode acontecer em qualquer parte da raiz, em células compreendidas entre o espaço físico da superfície radicular e o cilindro central, resguardando a variabilidade relativa para cada elemento e espécie vegetal. Este deslocamento, ao contrário do que se imagina, não é totalmente livre, pois estas superfícies radiculares, em geral, apresentam um quantidade relativa de cargas, que podem reduzir ou aumentar a velocidade de deslocamento do íon neste espaço. Porém, indubitavelmente, a velocidade de movimento neste espaço é sempre maior que pela rota simplastica. Quando o íon de uma forma ou outra cruza a endoderme, também pode regressar ao apoplasto, difundindo-se para dentro de um traqueídeo ou elemento de vaso no xilema, sendo conduzido até o local específico de sua absorção, e, para participar ativamente do metabolismo necessita ser reabsorvido (Taiz & Zeiger, 2004). É ainda possível, que alguns elementos, principalmente os não estruturais como o potássio, possam de uma ou outra forma retornar mais facilmente para os espaços intercelulares (apoplasto), após a reabsorção. Indiscutivelmente, porém, a presença da estria de Caspary permite à planta manter uma concentração iônica mais elevada em seus tecidos do que na solução do solo (Taiz & Zeiger, 2004). 5.4 Zonas e taxas de absorção O termo taxa de absorção de nutrientes, embora usado com conotações variadas na literatura, tende a englobar as contribuições dos processos associados à sua aquisição do solo, que é produto da interação entre as propriedades absortivas do sistema radicular, o seu estágio de desenvolvimento (arquitetura e tamanho), e a concentração do nutriente na solução do solo e na superfície radicular (Jungk, 1991; Williams & Yanai, 1996). A taxa de absorção de um dado nutriente pode ser estimada a partir da área superficial e da cinética de absorção, tal como mostra a equação (Williams & Yanai, 1996): TAn = 2 .pi .r L.α. C ................................. ...............Equação 1 onde “TAn” é a taxa de absorção do nutriente, “r” o raio radicular, “L” o comprimento radicular, “α” o poder de absorção radicular (relacionado aos mecanismos de transporte do nutriente a nível de membrana), e “C” a concentração do soluto na superfície radicular, expressos em dimensões e unidades homogêneas. A equação 1 ainda é uma representação parcial do processo de aquisição de nutrientes, na medida que não integra efeitos importantes, tais como exsudação radicularou variações do pH rizosférico, induzidas pelo próprio processo de absorção (Fernandes & Rossiello, 1995). Entretanto ela tem sido extensivamente usada em modelos de simulação de absorção, ao explicitar os principais fatores envolvidos (Williams & Yanai, 1996). Por outro lado, a qualquer instante, a taxa de absorção representa o produto da intensidade do influxo do nutriente (ou taxa de absorção por unidade de área radicular) pelo tamanho do sistema radicular (a sua área superficial total). Destaca-se ainda, que esses modelos avaliam o sistema radicular como um todo, mas consideram que apenas a superfície radicular é responsável pela absorção. Isso leva a uma superestimativa da atividade absortiva das células epidérmicas. Essa superestimativa acontece também quando se avalia o influxo ou efluxo em plantas de diferentes idades. Neste caso, sabendo-se que as regiões mais novas da raiz tem maior capacidade absortiva, pode-se explicar porque um sistema radicular novo tem maior influxo, pois proporcionalmente, existem mais superfícies aptas à absorção, do que regiões suberizadas. Quando se estuda um eixo unitário do sistema radicular, seja de uma raiz principal ou de uma lateral, pode-se observar a existência de um gradiente ativo entre seu ápice e a sua base, já que apresentam anatomia e fisiologia semelhantes, variando apenas em magnitude e função. Sabendo-se que a atividade radicular pode ser medida pela intensidade do efluxo de prótons, o trabalho de Fan & Neumann (2004) mostra que a acidificação ao longo da zona de alongamento de uma raiz, tende a alcançar um máximo a aproximadamente 4 mm do ápice, quando em condições de controle de deficiência hídrica, como mostrado na figura 12, e, a partir dos 6 mm, o ritmo é desacelerado, tendendo a ficar constante. 0 3 6 9 12 15 0 2 4 6 8 10 Distância do apice radicular (mm) Ef lu x o de H + (nm o l m - 2 s- 1 ) 0 0,1 0,2 0,3 TC R Ra iz (h- 1 ) Efluxo TCR Figura 12. Variação espacial do efluxo de prótons e da taxa de crescimento relativo da raiz (TCRRaiz) em raízes de milho, sob condições hídricas favoráveis. Modificado de Fan & Neumann (2004). Enquanto as raízes principais têm como principal função a fixação, e as laterais, a absorção, ambas possuem as respectivas zonas de crescimento, alongamento e maturação. Assim podem possuir regiões mais ou menos ativas fisiologicamente, quando da absorção de nutrientes, e este tem sido um tópico de considerável interesse. Taiz & Zeiger (2004) expõem claramente as diferentes linhas, onde alguns autores consideram que os nutrientes sejam absorvidos somente nas regiões apicais dos eixos principais ou de menor calibre, enquanto outros consideram a absorção ao longo de toda a superfície radicular. Isto está, entretanto relacionado com a espécie estudada e com a tecnologia adotada para estudar a absorção, que pode ser mais ou menos sensível a ponto de identificar tais diferenças. Trabalhos clássicos da literatura demonstram diferentes variações na absorção de nutrientes pelas raízes em função da espécie estuda. Por exemplo, na cevada, o ferro é absorvido mais intensamente na região apical, enquanto que no milho, a absorção do mesmo elemento não tem tal diferenciação. Potássio, nitrato e amônio, na maioria das espécies são absorvidos igualmente em toda superfície, mas, em particular no milho, é na zona de alongamento que encontramos as taxas máximas de absorção. Taiz & Zeiger (2004), explicam que uma possível maior absorção nas zonas apicais é resultado da elevada demanda metabólica por nutrientes nestes tecidos. De qualquer maneira porém, a absorção de íons é mais pronunciada na zona de ocorrência de pêlos radiculares, do que nos meristemas de crescimento ou na zona de alongamento. Isto se deve ao fato de que estas células completaram seu alongamento, mas não iniciaram seu crescimento secundário, e têm grande superfície de contato com o solo, aumentando a superfície de absorção (Taiz & Zeiger, 2004). A partir da zona de pelos radiculares, até o local onde surge a primeira raiz lateral, tem-se uma área com absorção reduzida (onde acontece o crescimento secundário, nas eudicotiledôneas). Quando surge a primeira raiz lateral, as regiões fisiológicas acima descritas se repetem, e as mesmas explicações são válidas. Um ponto duvidoso, mas importante, na absorção de água e nutrientes é o local de surgimento das raízes laterais, onde há o rompimento da endoderme (figura 8). Temporariamente, esta região pode ficar sujeita a fluxos intensos para o interior da planta de água, nutrientes, moléculas orgânicas e elementos tóxicos. 5.5 Extrusão de prótons O efluxo ativo de prótons na raíz, por H+-ATPases ligadas a membrana plasmática, na raiz, é de importância fundamental para a planta, participando de seu crescimento através de processos como absorção de nutrientes, geração de turgência celular, acidificação externa para relaxamento da parede celular e desenvolvimento de polaridade em células em crescimento (França et al, 2005). Quando um excesso de cátions é absorvido pelas células radiculares, (Capitulo 6 deste volume), uma quantidade equivalente de carga positiva deve ser deslocada para o espaço extracelular, para evitar excessiva despolarização através da plasmalema, com efeitos lesivos para a funcionalidade da membrana e evitando flutuações acentuadas no pH do citossol (Fernandes e Rossiello, 1995). Este efeito é notório quando acontece a absorção de cátions de alta demanda metabólica como por exemplo NH4+ e K+. Isso ocasiona a acidificação no meio rizosférico, como resultado do efluxo líquido de H+ gerado no processo (França et al, 2005). Na literatura encontram-se referências de estimativas do efluxo liquido expressas por unidade de massa de raiz fresca ou seca, ou ainda por planta inteira (França et al, 2005), porém uma estimativa mais apropriada para o efluxo instantâneo, considerando o sistema radicular como um todo e um volume fixo de solução ou meio, pode ser aproximado pela equação descrita por França et al (2005): E A dU dTH R H+ = ⋅ +1 ................................. ...............Equação 2 onde; UH+ é conteúdo total de prótons livres na solução, t o tempo, e AR a área radicular através da qual prótons permeiam à solução segundo a uma certa taxa dT dU H + . Na prática dT dU H + é aproximado por ∆ ∆ UH T + , mas mesmo assim a aplicação da Equação 2 envolve muita incerteza, considerando a variação axial do influxo-efluxo de H+ no ápice radicular, das dificuldades técnicas associadas à determinação da atividade de H+ ao nível da superfície radicular e da quantificação precisa da área radicular (Zonta, 2003). 5.6 Exsudação radicular Os sistemas radiculares acrescentam quantidades significativas de carbono ao solo, em suas mais diversas formas, independente da quantidade estocada nos seus tecidos e disponibilizada após a colheita ou morte da planta. O carbono acrescentado à rizosfera durante o crescimento ativo da raiz raramente excede 1% de peso seco (Nye, 1981) sob condições normais de crescimento. Porém, essas taxas podem ser 2 a 4 vezes maiores sob condições de estresse, onde, dependendo da espécie e condições ambientais, até 40% do carbono fixado pelas plantas pode ser depositado diretamente na rizosfera (Zonta, 2003), o que significaria 5 - 25% do C líquido assimilado pela planta, resultando em uma perda líquida de fotossintatos. Exemplos típicos de exsudações radiculares são os ácidos orgânicos, por estarem diretamente envolvidos na tolerância das plantasao Al (Zonta, 2003) (Capitulo 16 deste volume). Os ácidos orgânicos têm relação especial com a toxicidade por Al e outros metais e com a nutrição da planta (Jones, 1998; Ryan, 2001), participando como componente chave no sistema operacional da interface solo-raiz (Búcio et al, 2000). Além destes, uma grande quantidade de substâncias são exudadas pelas raízes, entre elas podem ser citados: açúcares, compostos aminados, ácidos orgânicos, ácidos graxos, esteróis, nucleotídeos, flavonas, enzimas e outras substâncias. 6. Dinâmica do desenvolvimento radicular O crescimento das raízes ocorre quando células da região meristemática (coifa) dividem-se, alongam-se e levam a ponta da raiz através do material adjacente. A pressão de turgor nas células que se alongam é direcional, que deve ser suficientes para se sobrepor à resistência da parede celular ou às demais resistências externas do meio. Assim, a pressão de turgor celular e a resistência da parede celular, somadas as resistências do meio à deformação, são fatores importantes para avaliação do crescimento radicular através do solo (Camargo & Alleoni, 1997). Plantas cultivadas, tipicamente possuem raízes que crescem 1 cm ou mais por dia (Russel, 1977), enquanto que raízes de plantas em ecossistemas naturais podem crescer 1 mm ou menos por dia (Brundrett & Kendrick, 1990). 6.1 Rizocrescimento Nos vegetais, a maior parte do desenvolvimento ocorre após a embriogênese através das atividades de seus meristemas, os quais continuam formando órgãos (raízes, ramos, folhas, verticilos florais e frutos) ao longo de todo o ciclo de vida. Essa continua formação de órgãos, parece ser uma adaptação das plantas à vida fixa em substratos, permitindo que seu desenvolvimento seja ajustado às variações de água, luz e nutrientes (plasticidade fenotípica). Dentre os principais grupos de hormônios envolvidos no crescimento dos vegetais, as auxinas e citocininas parecem estar intimamente associadas à atividade dos meristemas radicular PERES & KERBAUY (2000). Como um todo, o sistema radicular repete-se indiscriminadamente e de forma caótica, existindo um diferencial a nível hierárquico (magnitude do sistema), sempre modulado pelas condições ambientais. 6.2 Economia de carbono e nutrientes nos sistemas radiculares As raízes são órgãos heterotróficos das plantas (com exceção de alguns tipos singulares, fotossintetizantes, como das orquídeas), e por tal motivo, os gastos com carbono no sistema radicular se constituem em limitação primária para o crescimento de plantas cultivadas, comuns em solos com baixa disponibilidade de nutrientes (Nielsen et aI., 1999), como os solos brasileiros, pois o crescimento e a atividade do sistema radicular apresenta um custo metabólico significativo, especialmente, quando a planta está sob estresse edáfico (Lynch, 1995). MOREIRA & SIQUEIRA (2002) citam que até 60% do carbono fotoassimilado pode ser consumido pelo sistema radicular, sendo que metade deste em média é utilizado pela respiração (25% do carbono fotossintetizado), e o restante, utilizado para a formação de tecidos, do mucigel e exudação radicular. Estes fotossintatos são translocados de suas fontes até o sistema radicular através do floema, e seu movimento através dos tecidos se dá via plasmodesmatas, podendo, a qualquer momento, compor novos tecidos, formar o mucigel ou ainda deixar o simplasto e penetrar no apoplasto, podendo ser eventualmente exudados para o solo ou ser trocados por íons. Pimentel (1998), revisando diversos autores, indica que 44% do carbono fixado pela fotossíntese vá para a raíz, com 1/4 desse valor utilizado no crescimento, e o restante na respiração de manutenção. O mesmo autor afirma que para plantas em simbiose com o Rhizobium, pelo menos 12% dos fotossintatos produzidos pela planta são gastos na respiração e crescimento dos nódulos, assim como em plantas micorrizadas, 5 a 10% destes fotossintatos são usados pelo fungo. A quantidade de fotoassimilados na planta é, geralmente, proporcional à área foliar, resguardando as particularidades devidas. Sabe-se que o alongamento de raízes cessa num período de 24 horas, quando 40-50% da parte aérea é removida, tanto em plantas de metabolismo fotossintético C3, como C4 (Richards, 1993). Assim, o desenvolvimento de novas folhas, a partir do momento que assumem o papel de fonte, correlaciona-se positiva e linearmente com o alongamento radicular. Matthew et al (2001), mostraram que a redução no metabolismo e senescência do sistema radicular é diferenciada de acordo com o fitômero de origem da raiz. Raízes mais velhas, que crescem a partir de fitômeros mais distantes da coroa da planta, recebem menor quantidade de fotoassimilados, o que determina a redução na taxa de alongamento e a progressiva diminuição na respiração destas raízes, sinalizando o avançar do processo de senescência e eventual morte. Logo, pode-se conjecturar que a alocação de fotossintetizados é inversamente proporcional à distância das raízes em relação à coroa da planta, ou seja, há maior partição de carbono para as raízes mais próximas da fonte de fotoassimilados (folhas). MATTHEW et al (2001) demonstraram que a maior redução no carboidrato alocado à raiz ocorre em sua ponta, onde se concentra a atividade meristemática. As raízes recém formadas (mais jovens) e portanto, mais próximas à superfície do solo, foram as que receberam a maior parte do carbono direcionado ao sistema radicular. Neste contexto, estabelece-se um aparente paradoxo, em que a planta investe no metabolismo de raízes superficiais, mais sujeitas ao déficit hídrico do solo, enquanto provoca a morte de raízes (velhas) estabelecidas em maiores profundidades do solo, onde há maior disponibilidade de água. Portanto, a seleção de plantas com sistema radicular bem desenvolvido, para profundidade e área radicular, apesar da raiz não ser um órgão colhido na maioria das culturas, permitirá aumentos de produtividade (Pimentel, 1998). 6.3 Arquitetura e topologia radicular Um sistema radicular pode ser definido como um objeto que apresenta auto- semelhança e complexidade infinita, ou seja, têm sempre cópias aproximadas de si mesmo em seu interior. Essa é a própria definição de fractal, e assim é o sistema radicular de toda e qualquer espécie, apresentando aparência consensual e crescimento caótico. A arquitetura radicular nada mais é primordialmente do que a forma determinada geneticamente, de ordenar e organizar no espaço este órgão, de forma a obter sua melhor eficiência de uso, na aquisição de recursos. A topologia de um sistema radicular, por sua vez, está contida no sistema arquitetônico radicular, e permite a quantificação desta organização. A figura 13, mostra a arquitetura radicular de várias espécies (Lynch, 1995), onde a diversidade estrutural dos sistemas radiculares é vista como uma adaptação para o desempenho mais eficiente das funções das raízes. Figura 13. Exemplos de variação da arquitetura radicular. Imagens obtidas a partir de escavação parcial de diversas eudicotiledôneas Européias. Modificado de Lynch (1995), com permissão da American Society of Plant Biologists. Um sistema radicular eficiente é aquele que otimiza a relação entre quantidade de recursos adquiridos e empregados para sua obtenção, e, a arquitetura do sistema radicular é fundamental para a aquisição de recursos no solo (Miller et al., 1999). Sua definição é muito complexa, por envolver vários aspectos, como taxa de crescimento, ramificação, orientação e longevidade dos diferentes tipos de raiz (Bonser et aI., 1996). O desenvolvimento espacial do sistema radicular determina a habilidade daplanta em explorar recursos que estão mal distribuídos (Fan et aI., 2003), e a arquitetura do sistema radicular pode alterar o custo dessa exploração em termos de carbono, e, definir a capacidade de competição do sistema radicular (Fan et aI., 2003). Lynch (1995) afirma não existir uma ferramenta quantitativa adequada que caracterize o sistema radicular, já que estes sistemas variam amplamente em função da característica genética e da sua interação com vários fatores físicos, químicos e biológicos no solo, além dos temporais e espaciais. A geometria radicular tem importante papel na dinâmica global do ecossistema pastoril (Jarvis, 1999), através de efeitos sobre a aquisição de nutrientes de baixa mobilidade, como o fósforo; a captura e reciclagem de outros nutrientes em profundidade, como o nitrato, e o estabelecimento de associações com a biota do solo (Mc Cully, 1999; Salcedo, 1999). O estudo desses aspectos, que relacionam a distribuição radicular às suas funções de aquisição de água e nutrientes, demandam a separação das raízes em classes funcionais, e a quantificação da sua contribuição ao sistema total (Rossiello et al., 1995). A resposta da arquitetura radicular à disponibilidade de fósforo parece ser extremamente específica (Bates & Lynch, 2000; Williamson et aI., 2001; López-Bucio et aI., 2002), influenciando o ângulo de crescimento das raízes basais em relação à gravidade (Bonser et aI., 1996). Estudos relativos à arquitetura do sistema radicular são úteis na quantificação da eficiência fisiológica de sistemas radiculares contrastantes, fornecendo ferramentas para a investigação de mecanismos específicos, viabilizando a formação de variedades cultivadas com maior eficiência no uso de fósforo (Nielsen et aI., 1999). 6.4 Características de interesse quantitativo Na tabela 1 são apresentados as principais características radiculares a serem medidas de acordo com suas funções (Adaptadas do trabalho de Atkinson, 2000). Tabela 1. Principais características radiculares mensuradas, unidades e funções. Modificada e adaptada de Atkinson (2000). Característica Unidade Definição Função Comprimento Radicular m ou Km de raízes Somatório do comprimento de todos os eixos radiculares Determina o potencial de absorção de água e nutrientes do solo. Indicador da interação das raízes com os microorganismos do solo. Massa Radicular (fresca ou Seca) g ou Kg de raízes Somatório em massa de todos os eixos radiculares. Estoque total de massa subterrânea alocada. Conteúdo de Reserva. Volume Radicular cm3 ou m3 de raízes. Espaço ocupado pelo sistema radicular. Volume de solo explorado pelas raízes. Área radicular cm 2 ou m2 de raízes. Superfície de contato ente as raízes e o solo. Absorção de água e nutrientes do solo. Diâmetro Radicular mm Diâmetro médio dos eixos radiculares. Geralmente assume- se a raiz como um cilindro. Potencial do desenvolvimento de associações com microorganismos; indicação da regulação do stress hídrico; potencial do crescimento radicular; indicador da influencia e respostas das condições físicas e químicas do solo. Os valores da Tabela 1, podem ser expressos por unidade de volume de solo extraído, sendo apresentados como densidade da área radicular (DRA), do comprimento radicular (DRC) e da massa seca radicular total (DMR), expressas em cm2 dm-3, m dm- 3e g dm-3, respectivamente (Van Noordwijk, 1993; Brasil et al., 2005). Durante muitos anos, o tempo gasto nas atividades de quantificação desses parâmetros, e as incertezas quanto aos resultados, constituíram fortes desestímulos ao trabalho com raízes. Outros valores podem ser derivados das características morfológicas das raízes, como por exemplo, a utilização dos valores da área e do comprimento específico, obtido pela razão entre a área ou o comprimento e a massa radicular, respectivamente (cm2 g-1 e m g-1 de raízes) como indicadores da espessura ou do diâmetro radicular, (Oliveira et al., 2000). Os dados de densidade radicular podem ser a ajustados a uma função exponencial decrescente, da forma: DR = a(-bz), onde “a” é o parâmetro de ajuste, “b” é a taxa de decréscimo relativo da DR (m-1) e “z” a profundidade (m) para solos de textura homogênea, ou para diversas outras funções (Nicoullaud et al., 1994), com o objetivo de se estudar a distribuição vertical das raízes em profundidade. O que pode ser feito por classes de diâmetro. Embora em estudos de raízes no campo, a característica de maior enfoque seja a massa radicular (fitomassa de raízes), o comprimento radicular, tem sido a característica mais utilizada como base de cálculo para inúmeras funções de determinação de variações temporais do sistema radicular, sendo considerado como característica padrão para a determinação da densidade (m de raíz m-3 de solo) e do crescimento radicular (Van Noordwijk, 1993, Rossiello et al., 1995). Tal característica é um indicador do potencial de absorção de água e nutrientes, sendo proporcionalmente maior o volume ocupado e explorado do solo, quanto maior for o comprimento radicular total (Atkinson, 2000). Adicionalmente, os estudos sobre o influxo líquido de nutrientes deve levar em conta a influencia do diâmetro radicular e a distancia média entre raízes (França et al., 1999). Outros estudos, ligados à produtividade primária, necessitam de dados sobre as quantidades totais de biomassa e sua partição entre parte aérea e raízes. 6.5 Magnitude dos sistemas radiculares Em parte, a eficiência na captação de recursos das plantas está associada à capacidade de explorar o meio, e via de regra, quanto mais escassos os recursos no meio, maior o investimento em sistema radicular. Segundo TAIZ & ZEIGER (2004), a habilidade das plantas em obter água e nutrientes minerais está relacionada à sua capacidade de desenvolver um extenso sistema radicular. Os autores retornam a Dittmer, que em 1930, examinou o sistema radicular de uma única planta de centeio depois de 16 semanas de crescimento e estimou que a mesma tinha 13 milhões de eixos radiculares primários e secundários, estendendo-se por aproximandamente 500 km (comprimento total) e proporcionando 200 m2 de área radicular superficial, que somados aos 300 m2 de área dos pêlos radiculares do sistema, faziam contato com 500 m 2 de solo. TAIZ & ZEIGER (2004), também destacam as raízes das plantas do gênero Prosopis, que podem, em áreas desérticas, estender-se a 50 m de profundidade para alcançar a água subterrânea. Por outro lado, plantas cultivadas anualmente têm raízes que normalmente crescem entre 0,1 e 2,0 m em profundidade e se estendem lateralmente a distâncias de 0,3 a 1,0 m. Plantas perenes, atingem, em média, um comprimento total de 12 a 18 km por árvore. A produção anual de raízes, principalmente em ecossistemas naturais, pode facilmente ultrapassar a de partes aéreas, já que podem crescer continuamente ao logo de todo o ano, sendo que a proliferação das mesmas, no entanto, depende da disponibilidade de água e nutrientes. Em geral, se a rizosfera é pobre em nutrientes ou muito seca, o crescimento radicular é lento, havendo retomada do mesmo quando as condições na rizofera melhoram. Em azevém, Matthew et al. (2001), mostraram que o comprimento do sistema radicular atingiu 2,5 m por fitômero (unidade básica das gramíneas, constituída de de lâmina, bainha, entrenó,nó e gema, ou, simplesmente perfilho) , o que resultou em cerca de 82 km de raízes/m2 de superfície, para uma profundidade de 70 cm. 6.6 Plasticidade radicular A capacidade de adaptação do sistema radicular,
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