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Ética e comunicação: aspectos ético-profissionais Anotações de aula Prof. Dr. Cláudio Schubert 1 - PALAVRAS INICIAIS Vivemos uma fase da história brasileira onde falar em ética virou moda. Praticamente todos os dias nos confrontamos com personagens que aparecem na mídia falando como se a ética fosse um produto de consumo e não tivesse conseqüências concretas no dia-a-dia. Ao mesmo tempo em que a ética é pouco valorizada, nos damos conta que é necessário resgatar sua importância. O que nos interessa no tema “Ética e comunicação: aspectos ético-profissionais” é acentuar a relevância que tem uma posição equilibrada, moderada e fundada na razão. Esse é o procedimento ético recomendado. Uma postura orientada em princípios saudáveis e sérios terá, como desdobramento, a construção de relações que edificam, humanizam e dignificam. Cabe, portanto, a nós, formadores de opinião, que trabalhamos diretamente com pessoas das mais diferentes concepções, crenças, formação cultural e nível econômico, ter atitudes, comportamentos, consciência e principalmente uma compreensão clara da relevância do papel que desempenhamos na nossa ação no meio social onde estamos atuando. 2 - UMA HISTÓRIA DA VIDA João e Maria estão casados faz três anos. O casal tem um filho, o Pedrinho, um menino de cinco anos. Como toda a criança, Pedrinho gosta de brincar. Numa dessas tardes Maria foi buscar o filho na Escolinha e quando voltava ficou conversando um pouco com a vizinha, a Tereza. Também ela tinha um menino na idade do Pedrinho, o Manuelzinho. As duas crianças foram brincar enquanto que as mães conversavam na calçada da rua. Logo Maria se deu conta que já era hora de ir para casa. Chamou o filho e assim que chegaram em casa Pedrinho disse: “Mãe vou para o quarto brincar”. Logo Maria se deu conta que esse não era o procedimento normal de Pedrinho, pois quando voltava para casa pulava no sofá para ver televisão. Foi olhar no quarto e viu o filho brincando com um carrinho que não era dele. A mãe perguntou “Pedrinho onde você conseguiu esse carrinho?”. Peguei lá do Manuelzinho respondeu o filho e emendou, “mas o Manuelzinho não viu nada, peguei escondido”. Maria pensou no que fazer, pois o filho tinha se apropriado de um brinquedo de um modo que ela não aprovava. Era somente um brinquedinho, podia até deixar assim mesmo, pensou. A decisão dela, no entanto, foi outra. Disse ao menino: “Pedrinho você não pode pegar um brinquedo que não é teu. Vá lá na casa do Manuelzinho e o devolva”. Pedrinho tentou argumentar, mas Maria foi firme na sua decisão. O menino contrariado teve que ir para a casa do amiguinho e devolver o carrinho. Maria entendia que as crianças devem, desde cedo, aprender a distinguir, nas mais pequenas atitudes, os princípios positivos dos negativos. 3 - MORAL E A ÉTICA A Moral pode ser compreendida como sinônimo de princípios, valores, costumes, o certo e o errado, a cultura, os comportamentos, ou seja, são valores que existem na sociedade e são passados para as pessoas desde a fase infantil. Por isso as pessoas são o que aprenderam no meio social em que vivem. O Pedrinho da história acima vai crescer e se formar como cidadão a partir dos valores que aprende com a família, na escola, com os amigos, pelos meios de comunicação, na sociedade e a partir de seu caráter, de sua especificidade como ser humano único e exclusivo. Maria tinha como princípio moral que o filho não poderia se apropriar do que fosse do outro, mesmo que isso significasse um pequeno brinquedo. Na sua opção ética, ela decidiu aceitar essa norma moral. Poderia também ter pensado “é só um brinquedo, não vai fazer diferença”. Assim ela não teria considerado o princípio moral que diz que alguém não pode se apropriar do que não é seu. A Moral é, então, a lei, a norma, os princípios, os valores, o certo e o errado. A Ética é o comportamento, a atitude, o procedimento da pessoa diante das normas morais nas questões do dia-a-dia. Poderíamos dizer que a ética é uma decisão pessoal do sujeito. Outra definição assemelha à ética como um comportamento, uma atitude, um modo de ser do sujeito. Cada pessoa tema liberdade de seguir os princípios morais existentes no seu meio, sejam eles localizados ou universais. Os princípios morais locais são aquelas normatizações mais voltados às relações que ocorrem na família, sociedade, na Universidade, em sala de aula. Diante destes princípios o sujeito inevitavelmente fará sua opção ética, ou seja, fará escolhas, terá comportamentos, atitudes e esta é sua ética. Os princípios morais universais exigem uma postura ética também universal. São os acontecimentos voltados às grandes questões sociais, nacionais, internacionais. Temas como a ecologia, relações políticas nacionais e internacionais, campanhas humanitárias, diversas formas de violência, de pobreza, a sustentabilidade do planeta, as relações de interesse social. 3.1 - Moral, ética e sociedade Quando a sociedade perde a referência do certo e do errado, do bom senso, do que convém ou não cria-se uma situação de conflito, de ameaça, de exclusão. Diante disso, é necessário que aconteça uma reorganização para resolver os conflitos ou acomodá-los da forma menos dolorida possível. Essa é a realidade brasileira atual. Praticamente todas as instituições encontram-se na chamada crise ética. Na contemporaneidade, perdeu-se o paradigma seguro que orientava as pessoas nas suas ações. Em termos de ética, a decisão de contribuir para resolver as questões ou deixar tudo como está depende de cada sujeito. O que pode ser afirmado, de modo enfático, é a inexistência da neutralidade ética. Diante de qualquer fato, especialmente diante de situações relacionadas com a nossa ação como comunicadores, temos, inevitavelmente, uma ação ativa. 3.2 - Ser e ter De um teólogo da Idade Média chamado Martinho Lutero aprendemos que as pessoas são iguais perante Deus, e no nosso caso, perante a sociedade. Para explicar essa igualdade das pessoas umas em relação às outras e na sociedade como um todo, ele usou o termo alemão Beruf (vocação, profissão, dom, capacidade…). Para Lutero, as pessoas são vocacionadas para desempenhar as funções existentes na sociedade e por isso todas as profissões têm o mesmo grau de relevância, são igualmente importantes, mas especialmente aquelas que lidam diretamente com o ser humano. O que diferencia, na realidade, uma pessoa da outra é o seu caráter, o que ela é de fato. Na nossa sociedade sabemos que muitas vezes vale mais a aparência que a essência. E isso se torna um grande obstáculo para o convívio entre as pessoas. Muitos delitos são cometidos, muitas informações veiculadas equivocadamente, muita trapaça realizada tendo-se em mente o ter ao invés do ser. Por vezes, como não se pode ter um bem de consumo ou estar numa determinada situação social pelos meios legais fundados nas relações éticas, o caminho de burlar as leis é utilizado e aí se estabelece a situação de transgressão, instabilidade e conflito. 4 - O ÁGAPE Não existe uma receita que diga como devemos lidar com as pessoas a partir do princípio ético, pois este se aplica em cada situação de modo especial. Existem, no entanto, alguns princípios que podem nos ajudar. Um deles é o ágape (amor solidariedade, amor humanista, amor cuidado com o próximo, amor desinteressado, amor pelas outras pessoas, amor compreensão) que nos leva a respeitar o próximo, querer o seu bem, a compreendê-lo. Essa é uma racionalidade desinteressada que quer o bem sem pedir nada em troca. Ao olharmos para a realidade brasileira e Ocidental percebemos que o ágape é uma forma de procedimento não muito usual na contemporaneidade. Às vezes se tem impressãoque cada pessoa tem o seu preço, que tudo virou negociata, inclusive a afetividade e o amor. É diante das concepções individualistas que uma reflexão ética se impõe para resgatar e construir valores que dignifiquem a vida e signifiquem mais vida. Há quem diga que a utopia acabou, que a esperança morreu, que o sonho virou pesadelo. Quando reinam pensamentos pessimistas a ação de muitas pessoas acaba sendo individualista. É um mundo onde reina o “cada um por si e Deus por todos”. É a sociedade da padronização estética e comportamental é o universo da exclusão, da discriminação, do preconceito, da desumanização. Em termos de perspectiva ética é recomendável trabalhar sob o paradigma da inclusão, da aceitação, da dialogicidade, da comunicabilidade. Alguém pode dizer, “mas eu sozinho não mudo nada”. É verdade, mas nem tanto. Se olharmos para a história da humanidade encontraremos inúmeros exemplos de pessoas que, com a sua ação, fizeram a diferença. Basta lembrar São Francisco de Assis, Madre Teresa, Gandhi, Martin Luther King, Paulo Freire, entre outros. Existem algumas dicas que nos auxiliam a tornar as ações éticas mais concretas. Já ouviram falar em confiança, empatia, credibilidade, postura, influência e compromisso? Pois a vivência desses conceitos pode fazer a diferença na sua vida e na dos seus interlocutores. 5 - PALAVRAS FINAIS O aspecto principal nesse texto é enfatizar a extrema necessidade de profissionais, que são formadores de opinião por excelência, pautarem suas ações pela ética e pelo amor ágape. Indivíduos fragilizados pela guerra de informações tornam-se pobres culturalmente. Cabe ao profissional da comunicação compreender o contexto e, dentro dele, dar sua contribuição, de forma crítica, consciente e construtiva, visando o bem-estar coletivo e pessoal.
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