Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
75/99 CURSO DE CARTOGRAFIA ~ ...... ERN~ Cêurio de Oliveira 2~ Edição Presidente da República Itamar Franco Ministro-Chefe da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação Alexis Stepanenko FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA-IBGE Presidente Silvio Augusto Minciotti Diretor de Planejamento e Coordenação Mauricio de Souza Rodrigues Ferrão ÓRGÃOS TÉCNICOS SETORIAIS Diretoria de Pesquisas Tereza Cristina Nascimento Araújo Diretoria de Geociências Sergio Bruni Diretoria de Informática Francisco Quental Centro de Documentação e Disseminação de Informações Nelson de Castro Senra Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA ·IBGE IBQE _ Rede de BtbUotecu Dir~ria de lni'ormát~a. Curso de Cartografia Moderna Cêurio de Oliveira 211 edição Rio de Janeiro 1993 FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA Av. Franklin Roosevelt, 166- Centro- 20021-120- Rio de Janeiro, RJ- Brasil IBGE· CDDI/DEDOC IDE DE I 11 LI O T ECA 1.1 de tea. •-~ ........ s __ l1t11 ~.3.03 ,q<=) 0 .J?c:-l -------'J~"'\' EDIÇÃO E IMPRESSÃO Departamento de Editoração e Gráfica - DEDIT/CDDI, em novembro de 1993, os 03.03.1.0417/93. CAPA Aldo Victorio Filho - Divisão de Promoção/Depar- tamento de Promoção e Comercialização- DECOP/CDDI. ISBN 85-240-0465-7 ©IBGE 11 edição - 1988 21 edição - 1993 Oliveira, Cêurio de. Curso de cartografia moderna I Cêurio de Oliveira. - 2. ed. - Rio de Janeiro : IBGE, 1993. 152 p.: il. ISBN 85-240-0465-7 1. Cartografia- Estudo e ensino. I. Título. IBGE.CDDI. Dep. de Documentação e Biblioteca RJ/IBGE-93119 CDU 528.9 Impresso no Brasil/ Printed in Brazil Apresentação A presente obra Curso de Cartografia Moderna desenvolvida pelo Professor Cêurio de Oliveira, apre- sentada à Comunidade Cartográfica na década de 80, objetivava colocar à disposição de técnicos e profis· sionais da área temas que abordavam assuntos espe· cíficos de interesse de quem se utiliza da Ciência Cartográfica. A enorme aceitação dos conhecimentos difundidos pelo autor superou as expectativas iniciais pela procu· ra da publicação. O IBGE, no intuito de atender à crescente demanda pela obra, entendeu que sua reimpressão, certamen- te, continuará merecendo referências muito elogiosas pelo público usuário da área de Cartografia. Rio de Janeiro, RJ, novembro de 1993 Silvio Augusto Minciotti Presidente do IBGE DO MESMO AUTOR: As Pesquisas e os Estudos Fotogeoeconômicos (tese de livre-docência- UERJ)- Rio de Janeiro, 1968. Report on the 1971-1974 Cartographic Mission in Nigeria - Lagos, 1974. Dicionário Cartográfico (41 edição) - Rio de Janei- ro, 1993. Glossary of Cartographic and Photogrammetric Terrns (em co-autoria), nos seguintes idiomas: inglês, espanhol, fràncês e português, sob a responsabilidade do Instituto Panamericano de Geografia e História (IPGH) - México, 1986. No prelo: Vocabulário Inglês-Português de Geociên- cias. Quando, em 1958, o então titular de cartografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, professor Héldio Lenz Cesar, deixou o Pais para trabalhar na Unidade Cartográfica das Nações Unidas, eu fui indicado para substitui-lo. Procurei, desde a primeira aula, esforçar-me, ao máximo, para transmitir aos estudantes um tema com que tivesse intimidade, uma vez que vinha exercendo a profissão de cartógrafo, no IBGE, desde há muitos anos. Mas ensinar cartografia visando à formação de professores de geografia era uma estréia difícil, dado que a bibliografia cartográfica para fins didáticos, em língua portuguesa, era absoluta- mente escassa. Iniciei, então, a preparação para cada aula de uma apostila mimeografada destinada aos alunos. Nos anos que se seguiram, as apostilas foram inteiramente revistas e o conteúdo do programa cresceu em qualidade, não só devido à experiência adquirida, como pela aquisição de farta bibliografia cartográfica estrangeira que sempre pesquisei para me manter em dia com os novos e modernos in- fluxos didáticos e técnicos. Foi quando, em 1971, fui encarregado, pela ONU, duma missão carto- gráfica junto ao governo da Nigéria, encargo que não pude concluir senão três anos depois. A partir de 1974, ao voltar da África, revi, mais uma vez, aquele material, atualizando-o, dessa feita, segundo os últimos avanços que, incorporados sob a forma de instrumental, de técnicas, de materiais de tra- balho, etc., vêm transformando o método técnico- Por que este livro cientifico tremendamente dinâmico, sobretudo no que diz respeito à automatização da elaboração de cartas de várias espécies, aos instrumentos e pro- cessos fotogramétricos, ao sensoriamento remoto, etc. Verificando, ultimamente, que a bibliografia cartográfica, em nosso idioma, ainda se ressentia de quase as mesmas deficiências -de há vinte anos, e, concorrendo o fato de os cursos de cartografia terem se multiplicado em todo o território nacional, resolvi reestruturar a matéria num conteúdo homo- gêneo e atual, o qual espero consiga preencher a presente lacuna nos Institutos de Geociências do Brasil. Visando alcançar o objetivo a que me propo- nho, procurei aliar o texto a boas ilustrações, a fim de que os estudantes possam sempre se valer de uma figura ilustrativa bem planejada, com o propósito de que o texto fique bem elucidado. Para esse mister encarreguei a maior parte das ilustrações ao nanquim do jovem e talentoso desenhista Se- bastião Monsores, a quem nenhuma palavra, aqui, seria apropriada para expressar o meu reconheci· mento. Resta-me um apelo aos professores e aos alunos que irão servir-se deste meu modesto mas muito suado produto. Escrevam-me sobre este livro, por- que ele pertence menos a mim do que a vocês. Cêurio de Oliveira Rua Paissandu, 199/304 22210 Rio de Janeiro. I. 1.1 1.2 1.3 2 . 2 .1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 3. 3 .1 3 . 1.1 3.2 3.2.1 3 .2.2 3.2.3 3 .3 3.3.1 3.3.2 3.3.3 3.3 .3.1 3.4 3 .4 . 1 3.4 .2 3.4.3 - Cartografia: algumas defini- ções .. .. .. .... · · · · · · · · · · · · · · · - A es~era de ação cartográfica . . . - Metodologia cartográfica ..... . - Cartografia e geografia .... . . . . - Esboço histórico .. . .. . ....... . - Os mapas primitivos ...... . .. . - Os antigos levantamentos . .... . - Os mapas medievais .......... . - A cartografia moderna .... .. . . - Os levantamentos modernos .. . - Os mapas do Brasil nos pri- meiros séculos . . .. . ... . . . . ... . - A cartografia brasileira do século XIX . . ... ..... . . .. .... . - A moderna cartografia brasi- leira ... . ... . ............... . . O mapa de ontem e o mapa de hoje .... . .. .... ..... · · · · · · - Classificação de cartas ... . .. . . - Mapa e carta . . .............. . - Plantas •... .. .. .. ... . ... . .... - Os mapas segundo seus obje- tivos . . . . . ..... . . . . . . .... . ... . - Mapas gerais ... ....... . . .. .. . - Mapas especiais . ... . . .. . . . ... . - Mapas temáticos .. . . . ..... . .. . - Os mapas segundo a escala . ... . - Carta cadastral .. . . .. . .. ... .. . - Carta topográfica . .... ....... . - Carta geográfica . . . . . .. ... . .. . - A Carta Internacional do Mundo (CIM) ao milioné- simo . .. .. . . ... ·. · · · · · · · · · · · · · Os atlas - Os atlas nacionais .... .. ... .. . - Os atlas de referência ... . .... . - Os atlas complexos . ... .. ... . . 13 13 14 14 17 17 18 19 20 21 25 27 28 30 31 31 31 32 32 32 32 33 33 33 36 36 36 37 37 37 3.53.5 .1 3.5.2 4 . 4 . 1 4 .2 4. 3 4.3. 1 4 .4 5 . 5 .1 5 .2 5 .3 5.4 5.5 6. 6 .1 6.1.1 6 .2 6.2.1 6.3 7. 7 . 1 7 . 1.1 7 .2 7 .2 .1 7.2.2 7.2 .3 7 .2.4 7.2.5 7.3 7.4 7.5 Sumário - Os globos . ..... .. ... . ... . . . . - Breve histórico - Sua construção ... . . .... . .. . . . - Séries cartográficas ........... . - Formatos . ...... . . ... . ..... .. . - Séries de cartas . .. ... . . . .. ... . - Títulos e índices de referência . . . - índice de nomes - Informações marginais ........ . - Escalas - Classificação . . ........ .... .. . . - A escolha da escala .. .. . . .. .. . . - Problemas ... . ........ . . .. . . . . - Construção de escalas gráficas .. . - Ampliação e redução .. . .. . . .. . - Esfera terrestre ...... .. . .... .. . - Meridianos e paralelos .... . . . . - Latitude e longitude ......... . - Coordenadas geográficas .. . . . . . - Marcação de coordenadas .. .. . . - Fusos horários ...... .. . . .. .. . . - Projeções cartográficas . ... ... . - O desenvolvimento da esfera . . . - Condições que devem ser cum- pridas pelas projeções .. . . . . .. . - Classificação das projeções .... . - Projeções equivalentes .... . ... . - Projeções conformes . .. . . . . .. . . - Projeções eqüidistantes ... . ... . - Projeções azimutais ... ...... . . - Projeções afiláticas . ....... . . . . - O eixo duma superfície de projeção .............. . . . .. . . - Projeção de Mercátor ... ...... . - Projeção cônica conforme de Lambert . ... . . ... .. .. .. ... . · · 38 38 38 41 41 41 41 43 43 45 46 46 47 47 48 51 51 52 53 53 53 57 57 59 60 60 60 62 62 63 63 64 64 7.6 7.7 7 .7 . 1 7.8 7 .9 8. 8 .I 8 . 1.1 8 . 1.2 8.1.3 8.2 8.3 8.4 9. 9.1 9.2 9.3 9.4 9.5 9.6 9.7 10 . lO .1 10 .2 10.3 10.4 10.4.1 10 .4.2 10.4.3 10.4.4 10 .4 .5 10.4 .6 10 .5 10 .6 10 .7 10.7.1 10.7.2 10.7.3 10.8 10.9 ll. li. I - Projeção policônica .. .. ... ... . - Outras projeções . .. . .... .. . . . . - Projeções para o mapa do Brasil ........ . . .. ........... . - O sistema UTM .. .... .. .... . . - Coordena tógrafos .. . ...... .. . . - Documentação cartográfica ... . - Organização duma mapoteca . . - Arquivamento ... . .... ....... . - Catalogação ... ..... .... .... . . - Classificação . . .. . . .. .. . ... . . . . - Microfilmes - Toponímia ..... . .. . .... .. . . . . - Informática ... . ........ ..... . - Organização e planejamento duma carta .. ... .... .... . .. . - Finalidade . . .... ... .. .. . . .. . . - Documentação . .. .. . ..... . .. . . - Escala ..... ... .. ..... .. ... . . . - Sistema de projeção .... . ..... . . - Base cartográfica . .... ...... . . . - Formato .. . ... .. . . .. . ....... . -Tiragem - Sensoriamento remoto . ..... . . . - Generalidades ....... . ..... .. . - Pequeno histórico . . .... .... . - Princípios físicos ... ........ . . . ·- Principais tipos de sensores . . . . -Câmaras . . . ...... .. .. ... . . . . . - Câmara multiespectral . . . . . . . . - Radiômetros . . .... . ..... . ... . . - Varredores .... . ............. . - Espectrômetros .. . . .......... . - Radar ........ .. ... . ........ . - Radambrasil - Sistemas de sensores conheci- dos; suas plataformas e veículos .. .. . ................ . - Algumas aplicações .... . . . . . . . . - Pesquisas geográficas . . .. . .... . - Meteorologia .. . . . ... ..... .. . . - Outras áreas de aplicação . .. .. . - Sensores de posição . ......... . - O futuro próximo .... . .... . .. . - Levantamentos ... . . ...... . .. . - Elipsóides de referência . ... . .. . 65 66 66 66 68 71 71 72 73 74 74 74 77 79 79 79 80 80 81 81 82 83 83 83 84 84 85 85 85 85 85 86 86 86 89 89 90 91 91 91 93 93 11 .2 11 .3 11.4 li. 4 . 1 11. 4. 2 11.4 .3 11.5 12. 12. l 12.2 12.2 . 1 12 .3 12 .4 12 .4 . 1 12 .4.2 12 .5 12.6 12 .6 .I 12.7 12 .8 12.9 12 . 10 13 . 13 .I 13 . I . I 13 . 1.2 13 . l . 3 13.1.4 13 . 1. 5 13 . 1. 6 13 . 1.7 13 .2 13 .2 . 1 - Levantamentos geodésicos . . . . . . 93 - Levantamentos topográficos . . . . 94 - Levantamentos básicos . . . . . . . . 96 - Controle horizontal . . . . . . . . . . . 96 - Controle vertical . . . . . . . . . . . . . . 96 - Controle terrestre . . . . . . . . . . . . . 97 Reambulação . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 Fotogrametria . . . . . . . . . . . . . . . . 99 - Conceito e aplicações . . . . . . . . . . 99 - Fotografias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 - A câmara aérea . . . . . . . . . . . . . . . 100 - Vôo fotogramétrico . . . . . . . . . . . . 100 - Cobertura fotográfica . . . . . . . . . . 101 - Irregularidades convencionais . . . 102 - Superposição fotográfica . . . . . . . I 02 - Estereoscopia . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 - Aerotriangulação . . . . . . . . . . . . . . 104 - Triangulação radial . . . . . . . . . . . 105 Restituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 Mosaicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 Fotocarta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 - Fotointerpretação . . . . . . . . . . . . . 107 - Representação cartográfica . . . . . I 09 - Planimetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 - Hidrografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . I 09 - Aspecto do solo . . . . . . . . . . . . . . . IIO - Vegetação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 - Unidades políticas ou admi- nistrativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 - Localidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 Sistemas viários .e de comuni- cação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . lll Linhas de limites . . . . . . . . . . . . . 111 - Altimetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 - Curvas de nível . . . . . . . . . . . . . . . 113 13 . 2 . I. 1 - Eqüidistância .. .. .. .. .. .. .. .. . ll4 13 .2 .I. 2 - Interpolação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 13 . 2 . I. 3 - Cores h i psométricas .. .. .. .. .. . 114 13 . 3 - Relevo sombreado . . . . . . . . . . . . 115 13 . 4 - Perfil topográfico . . . . . . . . . . . . . ll6 13 . 5 - Blocos-diagramas . . . . . . . . . . . . . 117 13. 6 - Plastificação em alto-relevo . . . . 117 13 .6.1 - Modelagem .. .. .. .. .. .. .. .. .. ll8 13 .6 .2 - Molde e maqueta . . . . . . . . . . . . . 119 13.6. 3 - Impressão e modelagem em plástico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 13 . 7 Outros métodos de represen- tação do relevo . . . . . . . . . . . . . . . 120 13.8 13.9 13.9.1. 13.9.2 13.9.3 - Os pontos de controle ........ . - Letreiros .................... . - Tipos de letras .............. . - Posições dos nomes ........... . - Abreviaturas ................ . 120 120 120 121 122 14 . - Original cartográfico . . . . . . . . . . 123 14 .1 14.2 14.2 . 1 11.2.2 14 .2 .3 14.3 14.4 14.4.1 14.5 15. 15 . I 15 .2 15 .3 15.3.1 15 .4 - Confecção do letreiro ...... . - Compilação . . ...... ... ..... . . - Coleta .. ... .... ....... . ..... . - Seleção do material ........... . - Folha-mãe ................... . - Generalização ............... . - 1\IIinuta .................... . . - Fotoanálise .. . . .. ... ...... .. . . - Revisão (ou atualização) ..... . - Originais de reprodução ...... . - M~todos de reprodução ..... . . . - Laboratório fotogdfico - Negativos ......... ........ .. . - Fotoplásticos .... ... ......... . - Preparação ...... ............ . 123 124124 124 125 125 126 126 126 129 129 130 130 131 131 15 . 5 - Separação de cores . . . . . . . . . . . . 132 15. 5. 1 - Montagem do letreiro . . . . . . . 133 15.6 15.7 15.8 15.9 15 .I O 15 . 10.1 Apêndice A A a Ab A c Ad Ad Ad 2 A e Af Ag Ag I - Gravação ..... .. . . ...... . .... . - Máscaras ............. ....... . - Provas de negativos .......... . - lm pressão ................... . - Positivos ......... .... .. ..... . Processo ofsete ... .. ..... .... . . - Coo~d~nação e divulgação car- tograflcas . ............. .. .. . . - O papel das Nações Unidas ... . - Formação de uma mentali- dade cartográfica ............. . - Diretrizes e bases da carto- grafia brasileira ...... ... . .. . - Sistema Cartográfico Nacional .. . - órgãos federais de atividades cartográficas prioritárias . ..... . - órgãos federais de atividades cartográficas afins ............ . - órgãos estaduais . .... ..... . . . . - órgãos nacionais privados .. .. . - Associações cartográficas .. . . .. . - Sociedade Brasileira de Car- tografia ............. ..... ... . 133 134 135 136 136 137 139 139 139 140 140 141 141 142 142 143 143 143 Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 Prefácio Bastante lisonjeado ao prefaciar esta obra de grande valor para a ciência cartográfica, agradeço ao autor pela oportunidade de poder prestar minha colaboração a esse seu empreendimento. Ao longo de minha carreira como Engenheiro Cartógrafo do Exército, mantive contatos com vários trabalhos de cunho didático, destinados não só ao aprendizado, mas também a facilitar a execução das tarefas afetas à Cartografia, muitos deles dignos de todos os louvores, tanto por seu conteúdo, como pelo excelente nível em que os assuntos eram abordados. Assim, apoiado nesta minha experiência, fruto de vários anos de trabalhos e estudos na área carto· gráfica, pude examinar este CURSO DE CARTO- GRAFIA MODERNA, analisando-o detalhada- mente, tecendo comparações com outros autores, para concluir, de maneira inteiramente favorável, pela excelência desta obra. O trabalho do Professor Cêurio destaca-se pela diversificação dos temas abordados, abrangendo os vários campos de atividades relacionadas à Carto- grafia, caracterizando-se, dessa forma, como uma coletânea que vem suprir a comunidade cartográ- fica de informações de alto valor para o desempenho de suas funções, além do fato primordial de ser, para aqueles ainda em formação, uma fonte de conhecimentos que lhes minimizará os esforços na trilha para alcançar uma formação profissional efetivamente sólida. Esta iniciativa do Professor Cêurio é, portanto, merecedora dos mais efusivos elogios, tanto por seu significado como obra científica, como, principal- mente, pela intenção do autor de transmitir, de forma clara, concisa e abrangente, os conhecimentos adquiridos em função do esforço individual des- prendido ao longo de sua carreira profissional, aliado ao seu espírito de incansável pesquisador. Brasília-DF, 1983. Gen Div ARISTIDES BARRETO Diretor do Serviço Geográfico do Exército 1. Cartografia: algumas definições Como iremos ver no capítulo seguinte, o mapa antigo era extremamente simples, às vezes bem esquemático (os mapas T-0, por exemplo) , no que toca ao conteúdo informativo. isto é. aos dados de natureza geográfica. De posse das informações fornecidas por via- jantes, pilotos, etc., o cartógrafo que, via de regra. era também o gravador de seus mapas, portanto, um artista, de par com os conhecimentos inerentes a sua arte singular, compunha o mapa, embele- zando o e o gravava em madeira. Como se depreende disso, o campo cartográfico era extremamente limi- tado. O Dicioná1·io Contemporâneo da Língua Por- tuguesa define, assim, o termo cartogTafia: "Arte de traçar ou gravar cartas geográficas ou topográfi- cas··. O Novo Dicionário Brasileiro Melhoramentos é mais sintético: "Arte de compor cartas geográ- ficas". E o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, assim explica: "Arte ou ciência de compor cartas geográ- ficas; tratado sobre mapas". O Webster informa: "Arte ou prática de fazer cartas ou mapas" t, O Larousse avança um pouco mais: "Arte de desenhar os mapas de geografia: Mercátor criou a cartografia científica moderna" 2• E um léxico alemão moderno, De1· Volks Brockhaus se estende mais ainda: "Pro- jeto e desenho de cartas geográficas, plantas de cidade, etc." s. Como se vê, até os nossos dias, e no mundo todo, o campo das atividades cartográficas perma- nece, em geral, muito estreito, simplificado demais, para o grande público, conforme as definições dos dicionários. E sobretudo mal caracterizado. 1 .1 A esfera de ação cartográfica \J As Nações Unidas, através de uma comissão de especialistas em cartografia, reunida em Lake Suc- cess, em 1949, no sumário do relatório assim definiu: "A cartografia é a ciência que se ocupa da elabo- ração de mapas de toda espécie. Abrange todas as I The art or practice of making charts and maps. 2 Art de dresser les cartes de géographie: Mercator a cre'e la cartographie scientifique moderne. 3 Das Entwerfen und Bearbeiten von Landkartes, Stadtplãnen usw. fases dos trabalhos, desde os primeiros levantamen- tos até a impressão final dos mapas" 4 • - Houve um visível exagero na fixação do campo cartográfico, colocando sob a égide da cartografia, a astronomia, a geodésia, a topografia, a fotogra- metria e a oficina ofsete. Esta ambiciosa definição foi criticada tacitamente pelos cartógrafos de todos os países, uma vez que o campo da elaboração cartográfica é bem diferente. Na realidade, percebe- se hoje que os especialistas da ONU, em 1947, se referiam preferentemente ao vocábulo mapeamento, ao invés do termo cartografia. É que as discussões em Lake Success, quase sempre em inglês, giravam em torno do problema mundial do mapping tal qual se apresentava após a li Guerra Mundial. Ora, mapping, que, diga-se de passagem, pode igual- mente ter o sentido de cartografia, representava, naquela oportunidade, um problema a ser resolvido no mundo de após guerra. Impunha-se um programa racional de mapeamento. _,. Foi a Associação Cartográfica Internacional (ACI) , por ocasião do XX Congresso Internacional de Geografia, reunida em Londres, em 1964, que veio, pela primeira vez, estabelecer, em síntese, mas com precisão, o campo das atividades intimamente ligadas à cartografia: "conjunto de estudos e ope- rações científicas, artísticas e técnicas, baseado nos resultados de observações diretas ou de análise de documentação, com vistas à elaboração e preparação de cartas, projetos e outras formas de expressão, assim como a sua utilização". <M: Ora, se o cartógrafo quinhentista, seiscentista, ou setecentista dava cabo, praticamente sozinho, das poucas etapas de execução de um original a ser reproduzido, era ele também o grava,dor, quase sempre o impressor e, não raro, o próprio vendedor da sua obra. Hoje a situação é profundamente di- versa. As fases de trabalho encerradas no campo cartográfico, além de variadas, diferentes, se vêm tornando muito complexas e com graus de dificul- dade ou de responsabilidade bastante distintos. Em conseqüência, o número de operadores e de auxi- liares evoluiu, igualmente se diversificou, resultando daí um trabalho que não é de um só ou de uns poucos, mas de uma equipe, onde, além do cartó- grafo, do geodesista e do topógrafo, participam o desenhista e o gravador, o revisor tipográfico, o técnico em fotografia, em laboratório, etc., além de 4 NAÇOES UNIDAS La Cartographie modeme. outros, já situadosna mapoteca, por exemplo, onde não se prescinde do documentalista e do arquivista, ou ainda na área do ensino, do treinamento e do aperfeiçoamento do pessoal técnico. -" O quadro, ora descrito, como chegou a esta evolução? Diríamos que a partir da Revolução Industrial, as noções da divisão do trabalho repre- sentaram o primeiro impulso. Mas foram, sobretudo, as guerras que, pela necessidade urgente de cartas nos campos de batalha, apressaram a produção, surgindo de tudo isso, uma racionalização nesta produção. ~- Sabe-se que, durante a primeira guerra mun- dial, a necessidade de cartas era tão urgente que um vagão ferroviário, instalado para a elaboração de mapas, chegou, muitas vezes, a acompanhar o avanço ou recuo das tropas. Pode-se imaginar o desenvolvimento da cartografia ao longo da última guerra mundial. Já aqui comentado, os Estados Unidos fotografaram praticamente o mundo todo e, em conseqüência, elaboraram uma diversidade de cartas e mapas estratégicos e táticos, náuticos, aeronáuticos, etc. Consta que se chegou à impressão de 150 000 mapas. 1.2 Metodologia cartográfica A cartografia - com a sua feição e técnica, próprias, inconfundíveis - não pode constituir uma ciência, como o é, por exemplo a geografia, a geo- désia, a geologia, etc. Tampouco representa uma arte, de elaboração criativa, individual, capaz de produzir diferentes emoções, conforme a sensibili- dade de cada um. Não é uma ciência nem uma arte, mas é, sem dúvida alguma, um método cien- tífico que se destina a expressar fatos e fenômenos observados na superfície da Terra, e, por extensão, na de outros astros, como a Lua, Marte, etc., através de simbologia própria. Uma carta topográfica, por exemplo, explica, por via gráfica, isto é, através de traços, pontos, figuras geométricas, cores, etc., a configuração duma parte da superfície terrestre, tal como ela é, e dentro duma precisão matemática, sempre compatível com a escala. Os dados que a cartografia utiliza para a repre- sentação da realidade física e humana da crosta, conseguidos, seja por levantamentos tradicionais, seja por técnicas de sensoriamento remoto, são dis- postos metodicamente no sentido de traduzir, com fidelidade, aqueles fatos e fenômenos tais como eles se apresentavam no momento da coleta dos referidos dados. As migrações, outro exemplo, ocorridas em determinado período do tempo, num estado ou num município do Brasil, são um fenômeno que o geó- grafo observa e interpreta, e cujos dados o cartógrafo distribui, metodicamente, num mapa, retratando, também, mediante simbologia própria, e com a assistência de regras matemáticas, aquele fenômeno 14 ocorrido naquele espaço de tempo, naquela parte do território. Tanto no primeiro exemplo, quanto no segun- do, ambos de intenção e forma tão distintas, não podem oferecer ao usuário dois tipos de leitura. O método gráfico de que a cartografia se vale é, dessa maneira, um método científico, só podendo ser interpretado, racionalmente, dum modo uni- forme. É importante, igualmente, salientar que a forma própria de apresentar os fatos e os fenômenos em qualquer tipo de mapa é de tal natureza que o resultado é que a cartografia, valendo-se de algumas ciências e de determinadas técnicas, não se superpõe a nenhuma ciência, seja a matemática, a geografia, a meteorologia, a geofísica, etc., nem a nenhuma arte, como o desenho ou a escultura (caso dos mapas em alto-relevo, por exemplo), e nem a ne- nhuma técnica. Tampouco, depende de qualquer daquelas ciências ou técnicas, ou do próprio dese- nho, veículo através do qual ela se plasma. Entretanto, tem que estar associada ou vinculada a cada ciência ou técnica, ao expressar graficamente fatos e fenômenos a elas pertinentes, seja por meio do desenho ou de um computador. Neste caso, a cartografia moderna já dispõe de muitos processos automatizados. Na realidade, a cartografia compu- tadorizada realiza várias etapas da elaboração de mapas, mediante o emprego de computadores e seus acessórios, como digitalizadores, plotters e terminais de vídeo, resultando numa produção incomparavel- mente mais rápida e de qualidade final muito melhor. 1 . 3 Cartografia e geografia De todas as ciências ligadas à cartografia, ne- nhuma é tão importante como a geografia, na medida em que os fatos e fenômenos se originarem de qualquer ramo da geografia, quer física, quer humana, econômica, etc. Não queremos nos referir tão somente aos mapas temáticos de geografia. Que é a carta topográfica senão a paisagem física e humana da superfície da Terra mediante simbologia própria? Seria inviável a construção de um mapa eco- nômico sem o conhecimento e influxo da geografia econômica, como inexeqüível seria a elaboração de um mapa de distribuição da vegetação, sem a parti- cipação da fitogeografia. E assim por diante. Por- que, nesses casos, quem planeja e concebe tais mapas só pode ser o especialista de cada tema par- ticular: o geógrafo, o geólogo, o pedólogo, o agrô- nomo, etc., ficando para o cartógrafo, o método de expressar, em cada caso, o fenômeno. A fonte maior de lavor que a geografia em- presta à cartografia não se restringe tão-somente à elaboração de mapas temáticos. A carta topográfica, oriunda de uma cobertura regular de fotografias aéreas é a base inequívoca do binômio geografia- cartografia, através do qual nunca se pode deter- minar qual a influência que uma exerce sobre a outra: se a geografia sobre a cartografia, se a carto- grafia sobre a geografia. Há, por exemplo, certas formas de relevo e determinados padrões de drenagem de uma área, que se distinguem fundamentalmente dos de outras áreas; verificam-se coberturas florísticas inteira- mente diversas de uma região para outra, em que as causas dessa diversificação igualmente variam, como o clima ou o solo, ou a latitude; o homem, grande modificador da paisagem, quase sempre exerce a sua ação por meio de razões socio-econô- micas; a exploração agrícola de uma parte do terri- tório se evidencia muito diferente da praticada em outra. V ma carta topográfica, pois, não está obrigada a nos oferecer esse complexo de particularidades? A minuta fotogramétrica transmite-nos, em sua frieza matemática, uma grande parte de todos os aspectos físicos e culturais da área cartografada. Vêm com ela, paralelamente, os resultados da reambulação para complementar muitas informa- ções que a carta precisa apresentar. Faltam, entre- tanto, muitas vezes, determinados conhecimentos geográficos, os quais se impõem, a fim de que a carta seja realmente uma síntese segura desse con- junto de fenômenos geográficos. Mostrou-nos, certa vez, no Institut Géographi- que National, o cartógrafo que elaborava o relevo sombreado duma folha topográfica, uma particula- ridade muito expressiva daquele trabalho.- Veja, - apontando para um detalhe em execução - eu tenho, aqui, que exagerar o sombreado desta ver- tente, muito mais do que em outras vertentes. Se não o fizer, este divisor de águas vai ficar igual a outros divisores de águas. E isso tem que ser evitado porque se trata, aqui, de uma cuesta, cujo terreno é calcário. Se não o fizer, - -repetiu -dificilmente o usuário irá "descobrir" a cuesta apenas pelas curvas de nível ou pela hidrografia. Ficou-nos a lição daquele eminente cartógrafo francês, bem como a extrapolação do seu método de trabalho. Impõem-se, como se vê, bons conhecimentos geomorfológicos aos que planejam e constroem a carta de hoje. E quanto aos problemas de generalização (uma das mais difíceis da elaboração de cartas e mapas) é forçoso possuir o cartógrafo uma base geográfica, sobretudo em geomorfologia. A carta topográfica, de todos os documentos elaborados por uma instituição cartográfica, é a mais importante, nãosó do ponto de vista do grau de responsabilidade daqueles que a utilizam direta- mente, como administradores, economistas, enge- nheiros, militares, professores, políticos, etc., como devido à sua condição de documento básico para todas as outras cartas e mapas que dela se derivam mediante seleção, redução e generalização. Trata-se, pois, de uma carta de caráter modelar, a qual, por representar, ainda, um custo muito elevado, precisa receber cuidados especiais, além da precisão métrica nela implícita e da boa apresentação. Ela deve apre- sentar, para atingir a sua finalidade, um caráter mais científico, isto é, geográfico, a fim de que à sua condição matemática se justaponha um cunho científico mais amplo. 15 2 .1 Os mapas primitivos Pode-se afirmar, com muita segurança, que o mapa é, de todas as modalidades da comunicação gráfica, uma das mais antigas da humanidade, nesta premissa: todo povo, sem exceção, nos legou mapas, afirmação esta baseada, hoje em dia, e aliment~da por abundantes evidências. Há provas bem remotas de mapas babilônios, egípcios, chineses, etc., provas essas que se vêm acumulando até os dias atuais, os quais resultam de estudos históricos, geográficos, etnológicos e arqueológicos. · É, a propósito, de origem babilônia, o mais antigo mapa que o mundo conhece. Trata-se de um tablete de argila cozida com a representação de duas cadeias de montanhas e, no centro delas, um rio, provavelmente o Eufrates (V. a fig. I). Não se sabe, ao certo, a sua idade. Calculam os entendidos entre 2 400 e 2 200 anos antes da era cristã, havendo quem assegure que se origina de 3 800 anos. Fig. I - O mapa mesopotâmico de Ga-Sur. Num úmido penhasco do norte da Itália, no vale do Pó, foram descobertas, há poucas décadas, inúmeras figuras rupestres, sob a forma de mapas, sendo delas a mais importante a que proveio da 2. Esboço histórico localidade de Bedolina. É uma enorme gravação, e, rica em detalhes de cunho topográfico. Viviam ali, há cerca de 2 400 anos a.C., os Camônios, um povo de atividades agrícolas. Representa o mapa toda uma organização social camponesa (V. a fig. 2) , e constitui, com toda clareza, uma visão cartográfica em escala grande, da área em que laboravam, dada Fig. 2 - O mapa rupestre de Bedolina (vale do Pó). a exuberância de detalhes das atividades agropas- toris daquele povo. A cartografia que os chineses, outrora, desen- volveram é de excelente qualidade, e, sabe-se, este desenvolvimento não teve nenhum elo com o mundo ocidental. Já a invenção da bússola é devida aos chineses e aos árabes. Se a atração exercida pelo ímã era conhecida pelos egípcios e gregos, foram os chineses que descobriram o sentido direcional do ímã, e que inventaram o txi-nã (carro indicador do sul), pre- cursor da bússola. A figura 3 mostra o "carro". Sabe- se também que o mais antigo mapa chinês é de 227 a.C. Mas o fato sobre o qual nos baseamos para a afirmação de que o mapa é uma das mais antigas formas de comunicação gráfica é insofismável: todos os povos primitivos traçar~m e continuam a riscar mapas, sem que tenha havido, ou que haja, em tais povos, o menor conhecimento da escrita. É Raisz 5 quem afirma que a arte de desenhar mapas é mais antiga do que a arte de escrever. Indígenas 5 RAISZ, Erwin. General Cartography. 17 Fig. 3 - Representação da antiga bússola chinesa: o carrinho que aponta para o sul. das ilhas do Pacífico (é ainda Raisz que informa), rigorosamente iletrados, compuseram mapas de conchas da praia e de hastes de coqueiro; os peles- vermelhas traçaram mapas em couro de búfalo. De um índio brasileiro, descobriu o sábio alemão Karl von den Steinen, no século passado, um mapa em que o referido índio esquematizara as cabeceiras do rio Xingu, inclusive, com as denominações dos afluentes na língua local, como se vê através da fig. 4. Fig. 4 - As cabeceiras do rio Xingu villtas por um índio da região. 18 Exemplos como estes poderiam, aqui, ser cita- dos a fim de apoiar a afirmativa em causa. O impor- tante é, pois, que qualquer um desses mapas, no momento em que foram elaborados, teve o caráter da originalidade, uma vez que não houvera ainda nenhum contacto de seus idealizadores com quais- quer outros povos, e, por outro lado, nenhum deles sabia escrever. Eles não copiaram nada de ninguém, de ninguém de fora. Não sofreram influências alie- nígenas. No momento em que idealizaram os seus esquemas, inspiraram-se, provavelmente, em conso- nância com a prática da tribo, numa forma de retratar um fato local importante. 2. 2 Os antígos levantamentos Ao yue tudo indica, não sú a matemática como a geodésia tiveram a sua origem no Egito. Heródoto atribuiu aos egípcios a invenção de um método de medir os campos (a agrimensura, segundo os gre- gos) , por causa da necessidade prática da medição de suas terras, a fim de poderem determinar as alterações que ocorriam com a inundação anual do Nilo. Tão importante e vital eram estes assuntos que, no Livro dos Mortos, a alma do defunto, no momento em que devia justificar-se perante Osires e os quarenta e dois juízes, tinha que jurar, entre outras coisas: - Não diminuí a medida do côvado. - Não falsifiquei a medida do campo. É, como se vê, da mais remota antiguidade, a determinação do tamanho dos campos, através do cálculo das áreas e a demarcação de limites. ~s medidas lineares eram, pois, orientadas pelo côvado (a palavra se origina de cúbito, o que equivale, entre nós a 0,6849 m). Poucas, entretanto, são as informações do instrumental empregado. A fig. 5 mostra um instrumento egípcio primitivo, com uma alidade de pínulas, usado para observações astro- nômicas. Fig. 5 - A alidade de plnulas do antigo Egito. Outra invenção egípcia foi o cadastro 6, em que os homens encarregados do registro das proprie- dades foram, mais tarde, chamados topogrammateis pelos gregos. Quanto à astronomia, é certo que veio do Egito, conforme os detalhes da orientação da Grande Pirâmide, como ilustra a fig. 6. Fig. 6 - A Grande Pirâmide, de mais <ic 4000 anos. Os gregos, que muito aprenderam com os egípcios, organizaram e consolidaram a geodésia., palavra que, pela primeira vez, apareceu na Meta- physica de Aristóteles 7 • O famoso astrolábio (me- didor de astros) , que era chamado dioptra, foi invenção grega. Foram eles, igualmente, que deram notável impulso à astronomia e à cosmografia,_ de- vido ao alto grau de conhecimentos científicos que desenvolveram. Eratóstenes (275-194 a.C.), filósofo, astrônomo e matemático grego da escola de Ale- xandria, calculou a circunferência terrestre, tendo como referência a altura angular do Sol e a distância entre Alexandria e Siena. A fig. 7 mostra, esque- maticamente, o desenvolvimento dos seus cálculos e da operação. Hiparco, de Bitínia (190-125 a.C.), o maior astrônomo da antiguidade, criou o sistema de coor- denadas geográficas e descobriu o movimento de precessão dos equinócios. Ainda, com referência às atividades científicas dos gregos, não se pode deixar de citar Marino de Tiro, já ,do primeiro século da era cristã, e Cláudio Ptolomeu, da segunda centúria. A obra de ambos foi tão marcante que pela primeira vez houve autêntica cartografia, cuja perfeição foi tal que, só passados quatorze séculos, com a projeção de Mer- cátor, preludiada pela descoberta da linha loxodrô- mica por Pedro Nunes, apareceu algo de melhor 8 • Quanto aos romanos, sabemos que foram notáveis cultores da ciência grega. De espírito muito prático, porém, realizaram extensos levantamentos do Im- pério Romano, por meio da utilização de instru- 6 CADALSO, A1ejandro Ruiz. História General de las Ciencias Geodésicas. 7 Idem, ibidem. 8 CORTESÃO, Armando. Cartografia portuguesa an- tiga.9 li I I I I - 1 o i I cn l õ I I ~ ~ ~ .., • l o o i Estaco 2 1C. O l o b J I I O: j C: i I ,_, I I Q,' Obaervoçõo I I Oburvoçõo em Alexandria em Sleno I I I I Fig. 7 - Eratóstenes calculou a circunferência da Terra mcdiantf a altura angular do Sol, que mediu em Alexandria 7°12' (na reali· dade, 7•o.:;• ) , e a distância em estádias entre Alexandria e Siena, situadas em latitudes diferentes, mas não no mesmo meridiano (como supunha), para a qual achou 978 km (na realidade, 886 "m). mentos gregos, como a já citada dioptra e o corá- bato, tendo sido este instrumento sumamente útil no nivelamento de cidades e de edifícios. A groma, entretanto, parece ter sido mais romana (V. a fig. 8) , uma vez que foi o instrumento responsável pelo padrão quadrangular de demarcação das terras do Império, até hoje verificado através das modernas cartas topográficas da Itália 9. 2 . 3 Os mapas medievais A Idade Média marcou, no que diz respeito à concepção cartográfica, uma regressão lamentável a todo o progresso anterior, em que os gregos ha- viam pontificado. Todas as conquistas científicas, no campo da astronomia e da matemática, foram postas de lado, em prol de conceitos puramente religiosos, sobretudo no período medieval mais obscuro, ou seja, dos anos 300 até os . 500. Plínio, o Antigo, naturalista romano, do I século d.C., escreveu a sua História Natural, em 37 livros, uma espécie de enciclopédia dos conheci- o OLIVEIRA, Cêurio de. :->otas sobre' Cartografia an- tiga. Revista Brasileira rle Geografia, v. 33, n. 1, jan.fmar. 1971. 19 I I I I ! ~ I I 0 I r I I I i H I I I I i I I I I t I I ....___ I I , I I c..,Ftõ- 1 -t -o r--.__ I J k '--:-;.r..vs 1 ~j I oECVIA - _,- -V>~P \,I ....._ ..__ "' ~ -- - Fig. 8 - A grama. um dispositi\'O romano de medição topográfica. mentos científicos na Antiguidade, inclusive os assuntos de natureza geográfica. Um contador de histórias do século seguinte, Gaius Julius Solinus, conhecido pelos seus inimigos como "imitador de Plínio", apropriou-se, quer dire- tamente, quer através de Pompônio Meia, geógrafo romano, autor do De Situ 01·bis, de preciosa fonte de conhecimentos geográficos do litoral da Penín- sula Ibérica. Com esse material e as coisas tiradas da sua própria cabeça, publicou uma Collectanea rerum memorabilium (coleção das coisas que devem ser lembradas) , que conseguiu imediato sucesso e permaneceu conhecida por mais de mil anos, tendo sido revista no século IV, sob o título de Polistória. Devido, precisamente, a este livro, vários geógrafos e cosmógrafos (cartógrafos), muito tempo depois que os seus mitos e prodígios foram refutados, difundiram as monstruosidades biológicas nos car- tuchos dos seus mapas, "enquanto durou a Idade Média, até uns duzentos anos depois" 10• E que mapas carrearam aquelas monstruosi- dades? Ora, precisamente os da recém-descoberta Terra Nova, ou Terra de Brazilia, ou Terra de Papagaios, etc., como veremos no tópico 2. 6. Cosme Indicopleustes, do século VI, um padre possuído de ódio às idéias científicas da cultura grega, idealizou o seu mundo, do ano de 548 (ver a fig. 9), perfeitamente de acordo com o Taber- náculo. Um século depois, outro religioso, lsidoro (570-636), bispo de Sevilha, criou, no seu Etimo- logias, o famoso mapa conhecido como T-0, cuja lO BROWN, Lloyd A. The Story of maps. 20 esquematização estava em total desproporção com a mentalidade científica de tantos antecessores seus (V. a fig. lO). Sol o~eid.cns Fig. 9 - O mundo-tabernáculo de Cosmr lndicopl•mtes. Fig. 10 - O mapa T - O de lsidoro, o mais esquemático de todo• os que foram concebidos em seu tempo. 2. 4 A cartografia moderna Foi, sem dúvida, o incremento das viagens mediterrâneas e, em seguida, as navegações oceâni- cas, que tiraram da hibernação medieval a arte e a ciência da construção dos mapas. Já viera do ano de 1300 o surgimento da famosa Carta Pisana (fig. 11 ). Trata-se duma carta portu1ano, de pro- vável responsabilidade do almirantado genovês, cuja Fig. 11 - A Carta Pisana, um portulano de 1~00. elaboração se baseou num levantamento sistemático de rumos nos mares Mediterrâneo e Negro. Tão · precisa, para a época, orientou as navegações da- queles mares durante três séculos. Mas o incompanível impulso ao progresso cartográfico partiu do notável empreendimento que foi a Escola de Sagres. Ali era formado o piloto, e ao lado deste, o cosmógrafo era chamado o cartó- grafo daquele tempo 11 . Ao arrojo da navegação oceânica eram indispensáveis a segurança da arte de navegar e a garantia de roteiros lançados com precisão nas "cartas de marear" dos portugueses. A cartografia náutica <.la Espanha, Veneza e Gênova, da Holanda, França e Inglaterra expan- diu-se em segurança, em precisão e em beleza. Cabe-nos, porém, o dever de lembrar que o papel desempenhado pela escola portuguesa não ficou atrás. O adminível Pedro 1\: unes (I 502-1577) , com a invenção do nônio, já cedo se destacara com o seu Tratado da Esfera (conforme a fig. 12) e outras publicações astronômicas. Cou he à escola portuguesa o aperfeiçoamento da caravela. do astro- lábio e das cartas de marear. Fig. 12 - O Tratado da Esftra, de Pedro Nunes, numa edição quinhentista. 11 Foi um português, o Visconde de Santarém, Quem usou. pela primeira vez, o vocábulo cartografia. Conta Armando Cortes:! o (op. cit.) o seguinte: " .. . numa carta, em 8 de dezembro de 1839, escrita de Paris ao célebre historiador brasileiro Francisco Adolfo Varnhagem, na qual diz: "invento esta palavra já que ai se tem inventado tantas." Mas o momento determinante da cartografia moderna foi erigido em definitivo por um belga, Gerhard Kremer, mais conhecido como Mercátor, o qual, em 1569, construiu a famosa projeção que conserva o seu nome. Que razões induziram Mercátor a conceber esta projeção? Os navegadores daquele tempo lamen- tavam a falta de cartas exatas para a navegação. Outro cartógrafo, igualmente flamengo, Miguel Coignet, descobrira que, com as cartas existentes, o traçado de um rumo, de acordo com a bússola, não fazia nenhum sentido. Irradiando-se de uma rosa náutica, as retas da carta, uma vez transferidas para a superfície esférica do oceano, produziram espirais. Constituía, pois, o problema, em achar uma projeção em que uma linha reta na carta corres- pondesse a uma reta de igual rumo no oceano. Na tentativa de resolver o enigma, começou a reti- ficar os meridianos do globo, de maneira que, ao invés de convergirem para os pólos, seguissem, paralelamente entre si. e verticalmente, para o infinito. A conseqüência disso foi que provocaram uma distorção nas distâncias este-oeste, e cresciam cada vez mais, a partir do equador. Demais, reti- ficados os meridianos, as direções se distorciam obrigatoriamente. Trazendo, entretanto, as direções dos seus rumos para a realidade, o fator distância era ainda mais retificado por meio da separação ou da retificação, ficando cada grau de latitude na mesma proporção de seus meridianos, já distorcidos pelo paralelismo. Desta maneira, próximo ao equa- dor, a distorção de disttmcia era desprezível, ao passo que, nas proximidades dos pólos, os paralelos e meridianos eram tão distorcidos e alongados que, mesmo que uma direção de bússola fosse preser- vada, as direções indicadas na carta, em qualquer direção, seriam exageradas. A distorção do fator distância significava uma dilatação de todas as massas continentais nas altas latitudes. Mercátor, contudo, fez o que projetava, e construiu em 1569, uma carta com rumos e orientados na direção certa, já que o que importava eram as direções e não as distâncias. A fig. 13 apresenta a concepção de Mercátor, para retratar a Terrana forma de um cilindro. 2. 5 Os levantamentos modernos Antes que a era dos grandes levantamentos tivesse início, extensos esforços, na Europa, já data- vam de um passado de atividades no sentido de cartografar detalhes topográficos com o auxílio da bússola e de um tipo de hodômetro. É muito interessante a ilustração representada pela fig. 14. Trata-se, como se vê, de um topó- grafo do século XVI. Um quadrante registrava as voltas executadas pelas rodas do carro, enquanto o topógrafo e seu ajudante traçavam o croqui com o auxílio da bússola. 21 NNE NE ENE ENE Fig. 13 - O raciodnio de Mercátor, em achar, numa projeção plana quadrada (em ponttlhado), as loxodromas retas (em linhas contínuas) . Fig: 14 - llm car~·o topográfico do séc. XVI, em que um mostrador reg~stra a_s. re\'oluçoes das r<?das, ao mesmo tempo em que o topó· gra.o-at!Xlhar traça o croqu1 da estrada e das imediações. mediante" uma bus.wla . O século XVII marca o mtciO dos grandes levantamentos, em que, sobretudo os franceses, mas também os ingleses, logo a seg·uir, c os alemães realizaram extraordinários trabalhos geodésicos e ca.rtográfi~os: ao lon~o dos quais foram sendo aper- fetçoados mumeros mstrumentos, como o teodolito do inglês Jesse Ramsden (de acordo com a fig. 15) construído no ano de 1787. Foi sob o governo de Colbert. ministro de Luís XIV, que receberam todo apoio brilhantes matemáticos e astrônomos, como Jean Dominique Cassini ( 1625-1712) , Guilherme Delisle (I 67 5-1726) e outros. Achava Colbert que a inexistência de uma 22 Fig. 1;, - O teodolito c.lt• jcs~ Ramsdcn tornou possívd a primeira trianguJat;ão exata da Inglaterra. carta idônea da França constituía uma desgraça nacionall2. J can Picard ( 1620-1682) , sacerdote católico e not~vel astrônomo, usou, em 1669, um quadrante eqmpa.do c~m IL.metas, mas Pierre Bouguer, famoso geodeSISta, tdeahzou um quadrante melhor, confor- me ilustra a fig. 16. Deixou Bouguer admiráveis estudos sobre a gravidade, os quais ainda hoje são aplicados. . O conjunto de ações desenvolvido pelos cien- tistas franceses, que, diga-se de passagem, era espo- sado pela pr:ópria Académie Royale des Sciences, c~~gava ao hnal do século XVII, já com a dispo- stçao de ser estabelecida uma linha de meridiano no país. Mas "nesse tempo o mundo científico começava a se preocupar com uma crescente suspeita de que 12 BROWN. Lloyd A. Op. c:it. Fig. 16 .- O quadrante de Bouguer, que trazia o Sol para o hori· zonte, a fim de que o observador pudesse observar o Sol e o horizon· te, simultaneamente. a Terra não era uma esfera perfeita" 13• Muito bem. E se a Terra era esferoidal, qual seria o eixo maior, o que pass;tva através dos pólos ou o que coincidia com o plano do equador? Nesse tempo, já sob outro Cassini Oacques, filho de Jean Domi- nique), era iniciado o levantamento do meridiano, para cuja operação contava J acques com a coope- ração de um terceiro Cassini, César François, seu filho. Na medição de um pequeno triângulo, próximo da latitude de Paris, verificaram que um grau de longitude, que deveria ter 37 307 toesas 14, se se tratasse de uma esfera perfeita, foram encontrados 36 670 toesas, o que era demonstrado que os graus de latitude diminuíam cada vez mais em relação à direção do pólo. A solução que se impunha era o levantamento de dois arcos de meridiano, um nas proximidades do eq~ador e outro não longe de um dos pólos. Surgiu, assim, na história da geodésia moderna, o grande acontecimento, que foi a medi- ção do arco de Quito, de 1735 a 1745, e a do arco do Golfo de Bótnia, no Ártico, iniciado em 17 36. Como retrata a fig. 17, a triangulação nas proxi- midades da linha equatorial estendeu-se numa distância de três graus. Enquanto do lado francês toda essa admirável atividade era desenvolvida, não apenas no sentido de dotar o país de estrutura geodésica de alto valor, visando a uma carta básica precisa, mas de fornecer ao mundo um novo e definitivo padrão geodésico, também, no outro lado da Mancha, se corporificava 13 Ipem, ibidem. 14 Uma toesa equivale a 1,949 metro. Fig. 17 - O arco de meridiano entre Cotchesqui e Tarqui (no equador), medido entre os anos de 1735 e 1745, a fim de ser deter- minado o tamanho e a forma da Terra. uma ação de grande alcance prático. Coincidiu, entretanto, uma divergência entre os astrônomos franceses e ingleses, traduzida numa diferença de quase onze segundos para a longitude e quinze segundos para a latitude. Foi quando César François Cassini sugeriu o levantamento trigonométrico entre Londres e Dover, ou mais precisamente, entre o famoso Observatório de Greenwich e a costa, no que houve absoluta concordância da parte da Royal Society. Foi encarregado da missão o general William Roy, que tanto se notabilizaria na Ingla- terra por seus trabalhos geodésicos e cartográficos. Ver a fig. 18, em que a rede de triângulos cruza o Canal da Mancha, amarrando as duas estruturas geodésicas. Um certo holandês, Snellius, que, no passado, havia feito a primeira triangulação com um instru- mento, para a medição de ângulos, usou, para tal fim, o teodolito, e isso se deu em 1615. Agora, na grande triangulação 15 iniciada por Roy, o teodolito de Jesse Ramsden, construído pela Royal Society, marcou, de fato, a primeira triangulação de alta precisão. Vale acrescentar que os instrumentos usados no século XVIII, além do teodolito, eram a bússola portátil com alidade, a prancheta equipada com bússola e alidade, o hodômetro para a medição de Ui WINTERBOTHAM, H. S. L. A. Key to maps. 23 30' o• 30' ,. 30' Fig. 18 - O Canal da Mancha, com a rede de triângulo• entre os meridianos de Greenwkh e l'aris. linhas irregulares, como as de um rio, e um semi- circulo para a medição de ângulos, conforme pode- mos apreciar na fig. 19. No que diz respeito ao continente sul-ameri- cano, o arco de Quito foi, realmente, a primeir<:t grande operação geodésica realizada no Novo Mundo. O globo todo tem, hoje, os mapas mais pre- cisos, em todas as escalas e para todos os fins. A França, a Inglaterra, a Alemanha, a Suíça, os Estados Unidos, o Japão, a União Soviética, etc. têm produzido excelente cartografia, de par com um inusitado desenvolvimento de instrumentos eletrônicos geodésicos, fotogramétricos e cartográ- ficos, além de técnicas visando à excelência e à precisao, tanto no que toca aos levantamentos, quanto à elaboração de mapas e cartas para todas as finalidades. Não poderíamos, aqui, neste resumido esboço histórico, deixar fora de registro a fotogrametria, uma revolucionária modalidade de levantamento do terreno, baseada nas fotografias aéreas. Decor- rente, em grande parte, da invenção do avião, o seu desenvolvimento tem sido extraordinário. Mas antes do avião, as fotografias terrestres perspectivas já eram usadas, em decorrência da invenção da máquina fotográfica, à guisa de apoio de alguns 24 Fig. 19 - O semicírculo, um aparelho do séc. XVIII, para a me· dição de ângulos. levantamentos fotográficos. Foi, contudo, o francês Aimé Laussedat (1819-1907) quem fundou a foto- grametria, em 1851. Mas já em 1838, o físico inglês Charles Wheatstone (1802-1875) havia descoberto o estereoscópio (alma da fotogrametria, depois que o alemão Pulfrich, em 1903, aplicou ao ousado processo de levantamento a estereoscopia). A primeira vez que o terreno foi fotografado do espaço. em 1860, nos Estados Unidos, o veículo usado foi o balão. No capítulo 10, este assunto será mais bem ilustrado. A figura 20 apresenta um instrumento foto- gramétrico chamado Multiplex, que foi bastante usado na restituição de fotografias aéreas estereos- cópicas. O instrumental hoje existente é o mais complexo e o mais avançadopossível, uma vez qt~e a automatização, graças, em grande parte, à elctro- nica, vem substituindo, em muitos estágios, a parti· cipação humana na maioria das operações geodé- sico-fotogramétrico-cartográficas. Fig. 20 - O Multiplex. um restituidor de fotografias estereoscópicas. Mas os vôos orbitais, sobretudo de satélites artificiais não tripulados, estão desempenhando um papel fora do comum no mapeamento de extensas áreas da Terra, como é o caso do Landsat (land satellite) 1a, assunto tratado também mais extensa- mente no capítulo 1 O. 16 OLIVEIRA, Cêurio de. Dicionário Cartográfico. 2. 6 Os mapas do Brasil nos primeiros séculos "A história da cartografia brasileira segue de muito perto a própria história do Brasil" 17• Mal haviam sido enrolados os panos das caravelas anco- radas na Terra deVera Cruz, e um certo tripulante. João Emenelaus, físico e cirurgião de Sua Majestade o Rei Dom Manuel, descia a terra em companhia do piloto da nau capitânea e do piloto de Sancho de Tovar, e aí, tomou a altura do Sol ao meio-dia, e achou 17 graus, por meio do astrolábio. A fig. 21 sugere, com essa xilogravura do século XV, a ocorrência histórica da primeira operação cosmo- gráfica sob os céus da nova terra. Era o dia 27 de abril de 1500 ts. Fig. 21 - .'\ medição da latitude por meio do astrolábio. Daí em diante, não tardariam a aparecer os delineamentos do litoral, com muita pobreza de nomes. mas muito índio e florestas de pau-brasil. Os primeiros mapas da nova terra variavam, con- tudo, quanto à denominação: Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Terra Nova, Terra Incógnita, Terra de Papagaios, Terra de Brazília, Terra de Antropófagos, etc. Pois que a terra era grande de- mais e raros os conhecimentos geográficos a seu respeito, propiciando o surgimento de fantasias sobre esse mundo desconhecido. Até as "monstruo- sidades" de Solinus, aquele "contador de histórias" do UI século, autor da "Coleção das coisas que devem ser lembradas", viriam a ser enxertadas nos mapas dessa terra. A figura 22 apresenta uma das 17 OLIVEIRA, Cêurio de. A História dos mapas do Brasil. In: ENCICLOPÉDIA FATOS & FOTOS. n. 60, 1967. 18 OLIVEIRA, Cêurio de. Dicionário Cartográfico (apêndice I) . 25 Fig. 22 - Acima, dois desenhos popularilados por Solinus, no séc. 111 d. C. e, abai><o, um trecho do rio Amazonas, do cart6gra_f~ flamengo Hondiw (1563-1612), em que se pode ob<erYar a rcpeta~:ao de um dos desenhos do me•mo Solinus. inúmeras "monstruosidades" surgidas em plena Idade Média, e a mesma imagem reproduzida (doze séculos mais tarde) na margem esquerda do rio Amazonas, no mapa do famoso cartógrafo flamengo Jodocus Hondius, do século XVI. Tantas eram as fantasias, tantos os absurdos, cujos ecos dominaram os espíritos europeus, famin- tos de histórias fantásticas sobre o resto do mundo, sobretudo a África e a América, que um belo mapa do mundo, de 1628, viria registrar, abaixo do Medi- terrâneo, um continente Antichton, uma espécie de antiterra, em que "a vida era impossível" 19 (sic) . Diante de tudo isto, não admira, aliás, que haja dúvida, hoje em dia, da antropofagia ~o índio brasileiro. E assim como em mapas antenores ao descobrimento do Brasil, eram representadas ilhas ao sul do equador com dizeres co~o "f!ic incole anthropophagi sunt" e "H~rum etzam mc?le a::· thropophagi sunt" (V. a figura 23), tambem na~ admira que, depois de descoberto, fosse ? Brasil o repositório preferido de semelhantes notícias. Ocorre-nos transcrever a quadra de Swift, já glosada, várias vezes, por cartógrafos ingleses: So geogmphers, _in Afric~ maps~ With savage pzctures fzll then· gaps, And o'er inhabitable downs, , f ":!0 Place elephants for :want o towns - . 19 BROWN, Lloyd A. Op. cit. 20 Assim, os geógrafos, nos mapa_s da África .. com estra- nhos desenhos, preenchem os seus vaZios c, yor cuna t~e pla- nJcies desabitadas, colocam elefantes ao mvés de ctdades. 26 lus'ln a.:- . - - _ - - -- -- _-;H-Eê o ~ I'Y --~' • - ._ - - - - - - · SAB~~~Ç~E •. - .. -- -- - : . - .. ---.<~ ~- : ~ -.: ... · ... -_ "'-::.. .. - .. -· ~- -- -· ... _ .... -....... .,..- .. .... ·. -- : Hi.av.M-· ETJAA:tCOI.AE_· -- .- ".ANTiu\oPÓPKAG:l; S~ .: : -- - - .. . . ... - ... - .... -· .. -- ~-~ .-.-- ~ .-. .:. . -~~~ · ...... . ::_·'t' - f'ig. ~:l - Num mapa anterior ao descobrimento da América, algu- mas ilhas atribuída!' ao Novo Mundo traziam a indicação de serem habitadas por antropMagos. Na Mapoteca do Itamarati (Rio de Janeiro) existe, dentre tantos, um mapa bem interessante: aparece, em primeiro lugar, o litoral do Brasil, e para dentro, árvores c palmeiras, índios amon- toando madeira, c uma figura de mulher branca, nua, atravessada dos pés aos ombros por um grande espeto, a cabe~:a pendente, c um aborígine a giní-la sobre a fogueira. Podemos apreciar outro mapa, desta feita de origem turca, surgido apenas 13 anos após o desco- brimento do Brasil. Referimo-nos ao mapa do almi- rante turco Piri Re's, no qual, bem em cima do Brasil, est;í escrito: Este país tem animais ferozes de pêlo branco, tendo a forma de bois de seis chifres. Os mapas do século XVII, muitos dos quais com características náuticas, foram feitos não só por portug·uescs, como por holandeses, franceses, ingleses, espanhóis etc. Das maiores coleções são, por exemplo, as do cartógrafo João Teixeira, de 1627, 1630, 1631 e 1640, coligidas "das mais sertas noticias que pode aiuntar". Um belo mapa do final do século é o do famoso holandês Ianne Blaeu, com a representação das ca- torze capitanias hereditárias, desde a "de Para" até a "de Sancto Vicente". Com a finalidade de juntar uma documentação cartográfica para a questão sobre o Brasil e a França, o Barão do Rio Branco publicou uma co- letânea, onde se acham praticamente todos os mapas do Brasil anteriores ao Tratado de Utrecht de 1713. Quanto ao século XVIII, a documentação cartográfica sobre o Brasil é incomparavelmente melhor. Nesse século, Portugal viria dedicar im- portantes atenções aos lim!tes do B:asil com a Am~ rica Espanhola. Engenheiros, astronomos e carto- grafos portugueses e brasileiros levantam e tra~am enorme quantidade de documentos cartográficos e hidrográficos. São dessa época autores de mapas do porte de Azevedo Forte, de Manuel Gonçalves de Aguiar, além de outros. Naquele século, aqui chegaram os padres je- suítas Carbone e Capacci, enviados pelo Rei Dom João V, em 1730, com o fim de determinarem a latitude e a longitude do país e, em seguida, ela- borarem mapas corretos. Além das recomendações prescritas, de que os padres eram portadores, pa- rece que a intenção abrangia a importância, do ponto de vista de Portugal. em "descobrir por meio das longitudes observadas a posição exata das terras ocupadas pelos portugueses na América, em relação ao arquipélago do Cabo Verde, isto é, ao meridiano de Tordesilhas, situado 370 léguas a oeste da mais ocidental das ilhas, e traçar uma carta do Brasil de coordenada!> cientificamente obser- vadas, que ocultasse aquela averiguação" :!l . Recor- demo-nos de que três lustros mais tarde apareceria o Mapa das Cortes (de autor desconhecido), de I 749, "dos confins do Brazil com as terras da Coroa de Espanha na América Meridional", e que, no ano seguinte, iria orientar o Tratado de Madri de 1750. 2. 7 A cartografia brasileira do século XIX Como é sabido, a partir de 1808, com a chegada do rei de Portugal Dom João VI, um admirável impulso foi dado a todos os empreendimentos ar- tísticos e científicos, em cu_jo bojo se situaria, sem dúvida, um florescimento de todas as artes grá- ficas, em que era propício o aperfeiçoamento e a eclosão de novos valores na elaboração das cartas geográficas. Já em maio de 1808 era criada aImprensa Régia. Nesse mesmo ano foi confeccionada a Planta da Cidade do Rio de Janeiro, da autoria de A. J. dos Reis, c que passou a ser gravada por Ferreira Souto, que a concluiu em 1812. Essa planta foi executada no Real Arquivo Militar, que tinha atri- buições cartográficas e de mapeamento. Outras institmçoes criadas naquela época foram a Real Academia Naval e a Academia de Artilharia e Fortificação, as quais eram encarre- gadas de adestrar engenheiros para as atividades de levantamentos e de cartografia. Em meados do século, houve tentativas para a construção de uma Carta Geral do Império, conseguindo os seus idealizadores iniciar a trian- gulação do Município Neutro. Não houve, porém, prosseguimento algum, até que foi extinto em 1878, embora três anos antes tenha sido criada a Comissão Astronômica do Observatório Imperial, que teve por finalidade a determinação de posições geográ- ficas, e a medição de um grande meridiano, não tendo havido, igualmente, continuidade prática. Os vários estudos visando à criação de um órgão encarregado de executar levantamentos geo- désicos e topográficos, e construir uma carta exata, 21 CORTESÃO. Jaime. História do Brasil nos velhos mapas. toram, assim, mal sucedidos, e só na República é que, a partir de I 90 I, viria aparecer um plano sério, como iremos ver logo adiante. Como o Brasil se comportava como país-ilha, apesar das suas dimensões continentais, a carto- grafia hidrográfica teve a prevalência nas atividades de se dotar o país duma cobertura sistemática de mapas para uma nação que começava a organizar-se. Assim é que, com a criação da Repartição Hidro- gráfica, os esforços náuticos foram de grande valia, culminando com a obra do Almirante francês Amedée Mouchez, para cá contratado, que exe- cutou o levantamento da costa brasileira, entre I 856 e I 868, no comando dos navios Le Brisson, ])'Entrr.rastr~nux c La Motle Piquet 22. A figura 24 mostra-nos um detalhe típico duma moderna carta náutica da Marinha do Brasil. Fig. 24 - Parte' da folha "'Canal de ltacuruçá"", levantada c ela· horada pt"!a Marinha do Brasil, à escala original de I :20 000, na Projeção de Mercátor. Vêem·se um sem-número de pontos de son· dagem, em metros, assim como três curvas batimétricas (5 m, 10 m e 20 m) ; um farol na ilha ]uTubaíba, com a indicação da duração do lampejo; um fundeadouro na Ponta do BaTTeiTo, à NO da ilha de JtacuTuçá; uma rosa náutica (com a divisão de 10 em 10 graus c subdivisões de grau em grau), orientada para o N, e indicando a · declinação magnttica de 16°15" W. relativa ao ano de 1965, com a informação do seu aument.o anual em 8°. Observe-se que as informações sobre a terra firme são !_imitadas, c o rele vo ai representado t sugerido por cun as de forma e não le· vantado em curvas de ni9el; apenas alguns morros mostram as suas respectivas cotas. Quanto à cartografia terrestre, grandes esforços foram verificados no âmbito do Estado-Maior do Exército, com vistas à construção de uma carta básica. Em conseqüência daquela política cartográ- fica militar, era criada, em 1901 a Comissão da 22 A excelente coleção de cartas de Mouchez pode ser apreciada: na Diretoria . de Hidrografia c Navegação; na Mapoteca do Itamarati (RJ) ; na Biblioteca do IBGE (Rj) . 27 Carta Geral do Brasil, projeto do Estado-Maior. A organização da Carta competia à 3.a seção do Estado- Maior, e o projeto foi muito bem preparado, com detalhes sobre as operações geodésicas e astronô- micas, as operações topográficas e as operações car- tográficas. Constava do projeto a construção duma carta topográfica em 1: I 00 000 e uma carta geo- gráfica em I: l 000 000 23, Entretanto, somente após a I Guerra Mundial, é que iria ser fundado o Serviço Geográfico Militar, denominação que pas- saria depois a Serviço Geográfico do Exército. 2. 8 A moderna cartografia brasileira Em decorrência dos estudos executados no âmbito do Estado-Maior elo Exército, e consoante o grande desenvolvimento cartográfico atingido pelas potências européias na Grande Guerra, o Serviço Geográfico do Exército contratou, em I920, a fa- mosa Missão Austríaca, chefiada pelo engenheiro Emílio Wolf, e composta de excelentes profissionais austríacos, cujos trabalhos resultaram numa pro- dução topográfica de alta qualidade. O primeiro resultado prático da obra dirigida pelo Exército foi a conclusão, em 1921, do levan- tamento do antigo Distrito Federal na escala de I :50 000, em que pela primeira vez foi utilizado o avião para uma cobertura aerofotogramétrica. 'As primeiras fotografias foram tiradas sobre Copaca- bana, no morro dos Cabritos, tendo constado o levantamento de 22 vôos realizados em 16 dias, "num percurso aéreo de 718 km, a uma altura de 2.500 metros em que foram expostas 948 chapas fotográficas tiradas com eixo ótico vertical cobrindo uma área de terreno de I .345 km2, apro- ximadamente" 24. A figura 25 registra um belo de- talhe da carta publicada. A Diretoria de Serviço Geográfico, deno- minação atual do antigo Serviço Geográfico do Exiército, sempre se mostrou, em realização, ou produção, à altura dos seus planos. Exemplo disto foi o profícuo trabalho geodésico e cartográfico levado a efeito no Rio Grande do Sul, com uma cobertura topográfica em I: 50 000, I: 100 000 e I :250 000. Como se sabe, a rede geodésica do sul, seria amarrada, a partir de I945, à estrutura ini- ciada pelo IBGE. Em 1936, o Governo Federal criou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com a finalidade de coordenar as atividades estatísticas, censitárias e geográficas do país. Visando de ime- diato ao Recenseamento de I940, o IBGE, através de um dos seus órgãos, o Conselho N acionai de Geo- grafia, iniciou, em 1939, a preparação do projeto Carta do Brasil ao Milionésimo, em 46 folhas de 23 BRASIL, Estado-Maior do Exército. A Carta do Brasil. 24 VIDAL, Alfredo. Cartografia. 28 PARTE DA DO DISTRICTO FEDERJ Rto DE JANEIRo 19 16\ ,t c }'ig. !15 - Trecho da Cana do Distrito Federal, executada pelo Exér· cito brasileiro, em 1922. 4 X 6 graus, treinando, inicialmente, desenhistas- cartógrafos, e promovendo uma coleta de mapas e de levantamentos, em todo o território nacional, a fim de que a carta fosse compilada da melhor base de documentação cartográfica existente. Paralela- mente, instituía aquele Conselho a Campanha das Coordenadas Geográficas, a qual, até 1945, e sob a chefia de engenheiros bem aperfeiçoados em geodé- sia, determinou milhares de coordenadas em todos os estados do Brasil. Um dos elementos básicos de importância para a compilação das folhas foi a Carta em I: 1 000 000, igualmente em 46 folhas, organizada pelo Clube de Engenharia, em I922, comemorativa do 1.0 Centenário de Independência do Brasil. A melhor documentação surgiu, entretanto, após 1945. É que os Estados Unidos, à frente de operações estratégicas em todo o mundo, visando à vitória final contra o eixo Roma-Berlim-Tóquio, havia promovido uma extensa cobertura aerofo- togramétrica, com o sistema Trimetrogon, sobre- tudo em áreas pouco desenvolvidas cartografi- camente. Como após o conflito mundial, dois ter- ços do espaço territorial brasileiro estavam fot_o- grafados, aquela nação nos cedeu todo o volume dessa cobertura através dos seus próprios negativos. De posse de tal documentação, de precioso valor, em áreas como o Norte e o Centro-Oeste, até então sem mapeamento regular, pôde o total das 46 folhas ser, finalmente, editado, o que se deu em 1960. A direção do Conselho N acionai de Geografia, ao término da li Guerra Mundial, não descurou do aperfeiçoamento do pessoal técnico cartográfico, o qual, após um lustro de invejável dedicação a uma obra, àquele tempo, de indispensável valor, tão a fundo seempenhara. Assim, seguiu para os Estados Unidos um grupo de dedicados servidores, os quais, após um ano de estágio no Coast and Geodetic Survey, regressou com um excelente pa- drão de aprendizagem teórico-prática na totalidade das operações que conduzem à elaboração de cartas c mapas. Não tardaria, igualmente, que outros cartógrafos seguissem para o estrangeiro, desta vez, além dos Estados Unidos, alguns países europeus de tradicional adiantamento cartográfico, como a França, a Inglaterra 2~. Alemanha c a Itália. Não podemos deixar de mencionar, aqui, a participação da geodésia oficial americana no Brasil. Acolhemos durante muitos anos o lntn American Geodetic Survey (JAGS), que, além de proporcionar instruções sobre métodos e técnicas relativas ao levantamento geodésico básico do ter- ritório brasileiro, forneceu, em várias oportuni- dades, inestimável instrumental técnico especifico, como torres Rilhy, mart'~grafos, teodolitos, etc. Lem- bremos também, que, através do IAGS, dezenas de profissionais em geodésia, cartografia e foto- grametria, pertencentes a diversos órgãos federais e estaduais, puderam estagiar na Escola de Carto- grafia da Zona do Canal do Panam;í. Após a conclusão da Carta do Brasil ao Milio- nésimo, e percebendo a necessidade inadiável de poder concorrer também no sentido de preencher o imenso vazio territorial brasileiro em escalas topo- gráficas básicas ~6, sentiu-se o IBGE no dever de se munir, a fim de participar da cobertura sistemática de cartas topográficas, indispensáveis ao desenvol- vimento econômico e social do País. Como se viu, em pouco tempo, com a aquisição de variado instrumental fotogramétrico, lançou-se ao lado da Diretoria de Serviço Geográfico e de outros órgãos, como a Sudene, a Petrobrás etc., numa produção que já cobre mais de dois terços da área do país em cartas de 1:50 000, 1:100 000 e mais a de I :250 000, que é uma carta topográfica derivada das duas primeiras. A figura 26 apresenta, esquema- ticamente, o desenvolvimento dessa cobertura. Quanto aos levantamentos geodésicos de apoio básico, que constituem a infra-estrutura do mapea- mento das três escalas topográficas, acham-se, atual- mente, em pleno desenvolvimento, estendendo-se as suas operações pela Amazônia, com a adoção dos mais modernos métodos, e com o emprego de téc- nicas e instrumental muito avançado. A rede toda, de sul a norte, já dispõe duma área de 4,6 milhões de quilômetros quadrados. A este propósito, convém lembrar ainda que a "rede altimétrica implantada coloca o Brasil em terceiro lugar no mundo, ime- diatamente após os EUA e o Canadá, e em pri- meiro em extensão norte-sul 27". 2r. O autor "destas mal traçadas linhas" c de inúmeros mal rab;scados mapas fez, em 1951 152, um estágio no Ordnance Survcy, em Southampton (Inglaterra) c dois es· tágios no Institut Géographique National (França) . 26 Até 1964, a cobertura em cartas topográficas em 1:50000, 1:100000 e 1:250000 só alcançava cerca de 8% do nosso espaço territorial. 27 TRAilALHOS T~CNICOS, Rio de janeiro, IBGE, 1979. Fig. 2ô - Esquema da cobertura topográfica do território brasileiro executada pelo IBGE, DSG e outros órgãos de atividades cartográfica• afins. A Diretoria de Rotas Aéreas do Ministério da Aeronáutica, hoje denominada Diretoria de Ele- trônica e- Proteção ao Vôo, que, até há bem pouco tempo, vinha utilizando as folhas da Carta Aero- náutica editada pelo Army Map Service, com uma base cartográfica já em obsolescência 28, tomou a de- cisão de se aperceber do melhor suporte cartográfico possível, e realizou um convênio com o IBGE, para a elaboração da carta, dispondo, atualmente, de um conjunto de 46 folhas na escala de I: I 000 000, executado de acordo com as especificações da Carta Aeronáutica Mundial. O presente enfoque, sumamente resumido, do que foi feito e do que se realizou no Brasil, no tocante às atividades cartográficas, se apresentaria falho, e ao mesmo tempo injusto, se não mencio- nássemos, embora de passagem, a participação pri- vada. Está hoje o Brasil perfeitamente equipado, além da área governamental (federal, estadual e municipal), para qualquer tipo de planejamento e de execução de projetos fotogramétricos, desde a mais exata carta cadastral até o mais exigente projeto de engenharia. Referimo-nos às companhias de aerolevantamento, reunidas, quase todas, hoje, sob a denominação de Associação N acionai de Em- presas de Aerolevantamento (ANEA) , a qual, além do padrão técnico, apresenta um apreciável e diver- 28 Jà se tornara praxe que muitos pilotos, militares ou civis, preferiam usar, em vôo, algumas folhas da Carta do Brasil ao milionésimo, j<í por si também desatualizadas e, sobretudo, inadequadas do ponto de vista técnico aero- náutico, menos obsoletas, porém, do que as aeronáuticas americanas, àquele tempo, ein uso. 29 sificado volume de realizações, não só no Brasil, como em alguns países. 2. 9 O mapa de ontem e o mapa de hoje Se o mapa antigo podia, em parte, caracteri- zar-se pelo esmero gráfico e muitas vezes artístico da sua apresentação, fugindo, não raro, à infor- mação precipuamente geográfica, para ceder lugar a belos cartuchos ou mesmo interessantes fantasias de caráter decorativo 29 em detrimento, muitas vezes, do próprio conteúdo geográfico ou toponí- . mico, o mapa da hora que passa tem como finali- dade primeira a exatidão do detalhe aí represen- tado, não só do ponto de vista planimétrico como altimétrico. Se o cartógrafo do século XIX procurava, es- forçando-se ao máximo, no sentido de oferecer ao usuário uma forma original de representação do relevo, mediante as hachuras, magistralmente ela- boradas por italianos, franceses, alemães, etc., mas sem dispor de meios para representar esse relevo sob forma matemática (referimo-nos ao método das curvas de nível) , o cartógrafo de hoje oferece ao usuário o mesmo frio delineamento, e vai mais longe, complementa-o com outra espécie de relevo, o sombreado, cuja máxima expressão realizou-a o notável cartógrafo suíço, professor Edouard Imhof. Entretanto, a mais admirável forma de expres- são cartográfica dos nossos dias é o mapa plástico em alto-relevo. Tanto o relevo sombreado, quanto o relevo em terceira dimensão, em plástico, uma vez executados com precisão técnica, além do efeito prático e estético, são capazes, um ou outro, de transmitir a uma variedade de profissionais da área das geociências, como o geógrafo, o geólogo, o geomorfologista, o pedólogo e tantos outros, o caráter exato da razão de ser, ou da origem daquele modelado. 29 Consultem-se o nosso Diciondrio Cartogrdfico, abrindo-o no verbete Leão Belga, ou então o Mapa Geográfico de América Meridional, de Cruz Cano, existente na Mapoteca do Itamarati, o primeiro. extremamente original, o segundo, de sóbria beleza. 30 3. Classificação de cartas 3 .1 Mapa e carta A palavra mapa, de provável origem cartagi- nesa, significava "toalha de mesa". Os navegadores e os negociantes, ao discutir sobre rotas, caminhos, localidades, etc., em locais públicos, rabiscavam diretamente nas toalhas (mappas), surgindo, daí, o documento gráfico, donde a antiguidade, tão útil a todos. A palavra carta, igualmente, parece ser de origem egípcia, e significa papel, que vem dire· tamente de papiro. Num caso ou outro, é o material através do qual a comunicação se manifesta. Nos países de língua inglesa há uma nítida diferença entre mapa e carta. "Tanto mapa quanto carta, naturalmente, se relacionam principalmente com a parte sólida do terreno, mas o mapa encar- rega-se da parte descoberta, e a carta com a porção submersa" 3o. Em suma, mapa é o termo mais geral, enquanto carta é destinada unicamente à repre· sentação náutica ou marítima, lacustre c fluvial.
Compartilhar