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Recuperação Judicial

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RECUPERAÇÃO JUDICIAL (art. 47 a 73 da Lei 11.101/2005)
CONCEITO – Instituto criado pela nova lei que busca viabilizar a reestruturação da empresa em crise sob o crivo jurisdicional. 
OBJETIVO - Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. 
AUTOR DO PEDIDO – De acordo com o artigo 1º da LRE , a Lei 11.101/2005 só se aplica aqueles que exercem atividade empresarial, não se referindo a devedores civis. Portanto, somente empresários podem requerer recuperação judicial. Vale lembrar que a lei não se aplica a empresa pública e sociedade de economia mista e a instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores (art. 2º).
REQUISITOS MATERIAIS DO PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL – No artigo 48 da LRE estão delineados os requisitos que o devedor deve atender para que o juiz autorize o processamento do seu pedido de recuperação. Veja-se que não estamos falando ainda na concessão do pedido do devedor, mas apenas no deferimento de seu processamento. Assim, de acordo com o dispositivo em questão,
Art. 48 - Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei. Parágrafo único. A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.
FORO COMPETENTE PARA O PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL - Art. 3o É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. O principal estabelecimento corresponde não exatamente à sede administrativa da empresa, mas ao local onde se concentra o maior volume de negócios dela.
CRÉDITOS SUJEITOS A RECUPERAÇÃO JUDICIAL – Todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos (art. 49, caput). Todos os casos excepcionais estão elencados no mesmo artigo.
PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL – Procede-se mediante petição inicial demonstrado ao juiz a real situação da empresa em crise, observando as exigências do artigo 51�.
No caso do inciso I, o correto é fazer uma descrição detalhada da crise, apontando as causas específicas (e não genéricas) – inadimplência de algum cliente relevante, desaquecimento dos negócios no ramo em que o devedor atua, pressão concorrencial na região de atuação. No caso do inciso II, a exigência, embora seja correta, acaba na prática não sendo de muita valia, uma vez que o juiz, na maioria das vezes, não possui conhecimento técnico em contabilidade e finanças para analisar a escrituração contábil do devedor.
Já no caso do inciso III, a apresentação da relação é fundamental para que o administrador judicial, caso a recuperação seja posteriormente concedida, publique o edital previsto no artigo 7�º, § 2º da LRE e no caso do inciso IV, a informação será de extrema valia para que o juiz e os credores avaliem a viabilidade da empresa. 
No caso do inciso V, a exigência tem em vista permitir ao juiz analisar o cumprimento do requisito do artigo 48 supracitado e no caso do inciso VI tem importância, uma vez que futuramente esses controladores ou administradores podem ser responsabilizados – citem-se, por exemplo, o artigo 82�, § 2º da LRE e a eventual decretação da desconsideração da personalidade jurídica pelo juiz (A responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade falida será apurada no próprio juízo da falência, independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo).
O devedor deverá expor, de acordo com o inciso VII, todos os seus dados bancários relevantes para que o juiz e os credores avaliem a sua situação patrimonial e financeira. No inciso VIII, a LRE, ao contrário do que fazia e lei anterior, não exige a apresentação de certidões negativas dos cartórios, bastando apenas a apresentação das certidões, ainda que estas indiquem a existência de títulos protestados. Isso, portanto, não impede o processamento da recuperação. Já no caso do inciso IX, permitirá ao juiz e aos credores a aferição da gravidade da crise da empresa e consequentemente a análise de sua viabilidade. Alguns até recomendam que se indique, para cada ação relacionada, a real possibilidade de vitória ou de derrota na demanda. 
DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DO PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Estando, todavia, devidamente instruída a exordial do devedor, prevê o artigo 52 da LRE que o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial (o que não significa o mesmo que conceder a recuperação judicial, o que só ocorrerá, eventualmente em momento posterior. Neste momento, o juiz apenas está deferindo o processamento do pedido de recuperação, por entender, após juízo sumário de cognição, que aquele atendeu aos requisitos mínimos exigidos pela lei. 
Deferido o processamento do pedido de recuperação, o juiz então deverá tomar as medidas descritas nos incisos do artigo 52 da LRE: I) nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21 desta Lei; II – determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, observando o disposto no art. 69 desta Lei (para que tal dispositivo fosse útil deveria dispensar a apresentação de certidões negativas em qualquer situação; o ideal seria que a regra dispensasse, de forma genérica, a apresentação de certidões negativas para que o devedor exercesse normalmente suas atividades); III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6o desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1o, 2o e 7o do art. 6o desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3o e 4o do art. 49 desta Lei; IV – determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores; V – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento.
O inciso III refere-se a instauração do juízo universal. Assim, todas as ações e execuções contra o devedor são suspensas, com exceção das ações que demandam quantia ilíquida (art.6º, § 1º), das ações que correm perante a Justiça do Trabalho (art. 6º, § 2º), das execuções fiscais (art. 6º, § 7º) e das ações e execuções movidas por credores cujos créditos não se sujeitam à recuperação judicial, nos termos do artigo 49, §§3º e 4º da LRE. Destaque-se, porém, que nesses casos o juízo universal não atrairá as demandas suspensas a sua competência: a lei deixou claro que elas se suspendem, mas continuam nosrespectivos juízos onde estão sendo processadas, sobretudo porque essa suspensão é temporária, conforme determinação do artigo 6º, § 4º da LRE: Art. 6o A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
§ 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.
Eventuais pedidos de falência ainda não julgados serão também suspensos e ficarão no aguardo do julgamento do pedido de recuperação. Por fim, registre-se que a LRE determina que “caberá ao devedor comunicar a suspensão aos juízos competentes de todas as ações e execuções a serem suspensas (art. 52, § 3º).
De acordo com o inciso IV, o juiz ainda determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores. Nesse momento a recuperação ainda não foi sequer concedida, pelo juiz, tendo havido apenas o deferimento do seu processamento. De qualquer forma, fica já ciente o devedor de que, caso a recuperação judicial seja posteriormente concedida, deverá o mesmo apresentar constas demonstrativas mensais para que sua situação financeira e patrimonial seja monitorada constantemente pelo juiz e pelos credores. Por fim, conforme o inciso V, o juiz ordenará a intimação do MP e a comunicação por cartas às Fazenda Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento para que esse órgãos tomem as providencias que entenderem pertinentes.
Proferida a decisão pelo juiz com atendimento a todos os requisitos analisados acima, determina o § 1º do artigo 52 a expedição de edital, para publicação no órgão oficial, que conterá: I – o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento da recuperação judicial; II – a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e a classificação de cada crédito; III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma do art. 7o, § 1o, desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art. 55 desta Lei.
Assim, segundo o artigo 52, § 2º da LRE, deferido o processamento da recuperação judicial, os credores poderão, a qualquer tempo, requerer a convocação de assembleia-geral para a constituição do Comitê de Credores ou substituição de seus membros, observado o disposto no § 2o do art. 36 desta Lei. Já o § 4º do artigo 52 o devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após o deferimento de seu processamento, salvo se obtiver aprovação da desistência na assembleia-geral de credores.
RESUMINDO
PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL – Se tiverem sido apresentadas os documentos necessários e presentes os requisitos legais, o juiz defere o processamento da recuperação (prosseguimento do procedimento judicial), determinando, no mesmo ato:
A – Dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades.
B – Suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do artigo 6º, § 4º, pelo prazo improrrogável de 180 dias;
C – apresentação de contas demonstrativas mensais pelo devedor.
D – intimação do Ministério Público e a comunicação por carta as Fazenda Públicas, Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento.
Obs.; a aprovação final do plano de recuperação é decidida pelos credores, em assembleia geral. 
A APRESENTAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Publicada a decisão que defere o processamento do pedido de recuperação, o devedor terá prazo de 60 dias para apresentar ao juízo o seu plano de recuperação, conforme previsão do artigo 53 da LRE: Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em falência. 
Se o plano não for apresentado no prazo de 60 dias, a falência do devedor será decretada. Portanto, é importante destacar: a partir do deferimento do processamento do pedido de recuperação judicial, ou o devedor conseguirá sua recuperação judicial ou sua falência será decretada. Não há uma terceira saída.
O plano deverá conter: I – discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, conforme o art. 50 desta Lei, e seu resumo; II – demonstração de sua viabilidade econômica; e III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada. Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano de recuperação e fixando o prazo para a manifestação de eventuais objeções, observado o art. 55 desta Lei.
Nesse sentido, podemos detectar que o plano não é uma mera formalidade, devendo ser encarado pelo devedor como a coisa mais importante para o eventual sucesso de seu pedido e, por essa razão deve ser minuciosamente elaborado, se possível por profissionais especializados.
MEIOS DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL - ART. 50 - Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros: I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas; II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente; III – alteração do controle societário; IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos administrativos; V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto em relação às matérias que o plano especificar; VI – aumento de capital social; VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios empregados; VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva; IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria ou de terceiro; X – constituição de sociedade de credores; XI – venda parcial dos bens; XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica; XIII – usufruto da empresa; XIV – administração compartilhada; XV – emissão de valores mobiliários; XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos, os ativos do devedor.
A medida constante do inciso I e IX é simplória e, tomada de forma isolada, dificilmente resolverá a crise do devedor. Nos incisos II, III, IV, V, VI, VII, XIII e XIV preveem-se como meios de recuperação medidas que buscam, de certa forma, alterar o comando da empresa em crise, e pode ser exatamente disso que a empresa necessita. A crise da empresa muitas vezes é resultado de má administração, decorrente, por exemplo, da dificuldade de adaptação a novas tecnologias de produção, da incompetência na utilização dos recursos humanos e técnicos disponíveis ou da incapacidade de diversificação da atuação da empresa para absorver novas oportunidades de negócios. Nesse sentido, a simples mudança no controle societário pode significar uma verdadeira revolução na condução do empreendimento.O meio de recuperação previsto no inciso VIII pode ser muito eficiente, mas deve sempre ser precedido de contrato coletivo de trabalho, no qual os sindicatos e os trabalhadores por eles assistidos terão ampla possibilidade de discutir a medida em questão. No inciso X, previu-se um meio de recuperação que depende essencialmente da vontade dos credores de continuar explorando a atividade desenvolvida pelo devedor em crise. Pode ser que o devedor esteja sem recursos para modernizar o seu estabelecimento ou para fazer investimentos necessários à absorção de novos mercados emergentes. Os credores podem visualizar na empresa em crise um empreendimento com potencial para desenvolver-se e superar as dificuldades. 
Já a medida constante do inciso XI pode ser extremamente eficiente. Muitas vezes uma empresa possui uma grande parte de seu ativo imobilizado – sede, galpões, filiais – quando poderia ter os recursos referentes a esses bens em caixa para movimentá-los e aumentar seus ganhos de capital. Nesses casos, portanto, pode ser bastante útil vender alguns imóveis e locá-los posteriormente. Assim, o devedor pode usar os recursos adquiridos com a venda de seu ativo imobilizado para fazer novos investimentos. O meio do inciso XV, além de ser possível apenas para as sociedades anônimas, dificilmente será viável na prática, em nossa opinião. Afinal, provavelmente os investidores do mercado de capitais não estarão muito dispostos a adquirir valores mobiliários de uma empresa cuja crise econômica é tão acentuada que lhe exigiu recorrer ao judiciário para a obtenção de recuperação judicial. 
PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL – Prazo para apresentação – 60 dias a contar da publicação da decisão que deferiu o seu processamento, sob pena de convolação em falência (art. 53, caput).
Conteúdo do plano: Discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados; demonstração de sua viabilidade econômica; Laudo econômico-financeiro e de avaliação de bens e ativos da empresa.
OS CRÉDITOS TRABALHISTAS NO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL - Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial. Parágrafo único. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial.
A ANÁLISE DO PLANO DE RECUPERAÇÃO PELOS CREDORES E PELO JUIZ – Deferido o processamento da recuperação pelo juiz e apresentado o plano de recuperação pelo devedor, o juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano de recuperação e fixando o prazo para a manifestação de eventuais objeções. Assim, depois que o devedor apresentar o seu plano de recuperação judicial, cabe aos credores analisar o plano e decidir se o devedor deve ter a concessão da recuperação ou não. Na atual lei, são os credores que decidem, e o juiz apenas “homologa” essa decisão, concedendo a recuperação, caso o plano seja aprovado, ou decretando a falência, caso o plano seja rejeitado.
OBJEÇÕES AO PLANO – Qualquer credor pode apresentar objeção ao plano apresentado. O prazo para apresentação é de 30 dias a contar do que tiver ocorrido por último: publicação de aviso aos credores acerca do recebimento de plano de recuperação em juízo ou da publicação da relação de credores pelo administrador judicial. Se não for apresentada qualquer objeção e a documentação estiver em ordem, o juiz concederá a recuperação.
Se nenhum credor apresentar objeções ao plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor, significa que houve uma aprovação tácita. Nesse caso, não se convoca assembleia. Por outro lado, se for apresentada alguma objeção por parte de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz convocará a assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano de recuperação. A data designada para a realização da assembleia-geral não excederá 150 dias contados do deferimento do processamento da recuperação judicial. É importante destacar que, havendo objeção de algum credor, não cabe ao juiz analisá-la e julgá-la. O juiz deve convocar a assembleia-geral de credores para que ela decida sobre o plano de recuperação apresentado pelo devedor. A convocação não pode demorar, sobretudo porque o prazo de suspensão da prescrição e das execuções, na recuperação judicial é de apenas 180 dias. É por isso que a lei determina que a data designada para a realização da assembleia não excederá 150 dias contados do deferimento do processamento da recuperação judicial e, dessa forma, ainda restarão 30 dias de suspensão da prescrição e das execuções. 
DA VOTAÇÃO EM ASSEMBLÉIA GERAL – Caso algum credor tenha objeção, o juiz deverá convocar assembleia geral de credores para deliberar sobre o plano. A aprovação do plano pressupõe a aprovação por todas as classes de credores, de acordo com as regras do artigo 45 da lei.
Classe 1 – titulares de créditos derivados da legislação trabalhista ou decorrentes de acidente de trabalho.
Classe 2 – titulares de crédito com garantia real.
Classe 3 – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados
POSSÍVEIS DECISÕES DECORRENTES DA ASSEMBLÉIA GERAL DE CREDORES - Aprovação do plano, nos termos propostos pelo devedor (sem alterações); Aprovação do plano com alterações propostas pelos credores com a anuência do devedor (art. 56, § 3º); rejeição do plano e decretação da falência do devedor (artigo. 56, § 4º).
DEFERIMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL – Se o plano tiver sido aprovado pela assembleia, o devedor será intimado para apresentar certidões negativas tributárias dentro de 30 dias. Caso as apresente, o juiz deferirá a recuperação. Contra essa decisão, cabe agravo de instrumento a ser interposto por qualquer credor ou pelo Ministério Público (art. 58, § 2º). A decisão que concede a recuperação constitui título executivo judicial (art. 475-N, III, do CPC).
Se os credores consentirem com o plano do devedor, sem a apresentação de qualquer objeção, ou se eles aprovarem o plano, com ou sem alterações, na assembleia geral, caberá apenas ao devedor providenciar a apresentação de certidões negativas de débitos tributários.
CONCESSÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL SEM O CONSNTIMENTO DOS CREDORES – Conforme mencionado acima, a LRE, em princípio, condiciona a concessão da recuperação judicial ao consentimento dos credores, o que pode ocorrer se estes não apresentarem nenhuma objeção ao plano do devedor ou se, apresentada objeção, o plano seja aprovado pela assembleia geral, com ou sem alterações. Nesses casos, caberá ao juiz apenas homologar o plano, após comprovada pelo devedor a sua regularidade fiscal por juntada aos autos das certidões negativas de débitos tributários. No entanto, a lei prevê também situação excepcional em que a recuperação judicial do devedor poderá ser concedida pelo juiz mesmo que a assembleia não tenha aprovado o plano. Vejamos:
Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou tenha sido aprovado pela assembleia-geral de credores na forma do art. 45 desta Lei.
        § 1o O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembleia, tenha obtido, de forma cumulativa: 
        I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes à assembleia, independentemente de classes;
        II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso haja somente 2 (duas) classes      com credores votantes, a aprovaçãode pelo menos 1 (uma) delas;
        III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos credores, computados na forma dos §§ 1o e 2o do art. 45 desta Lei.
        § 2o A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1o deste artigo se o plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver rejeitado.
Perceba-se que o juiz não está totalmente livre para conceder a recuperação judicial ao devedor se os credores não aprovarem seu plano. Ele só poderá fazê-lo se o plano tiver obtido a aprovação de parcela substancial dos credores. Em outras palavras, o juiz só poderá conceder a recuperação judicial, nesse caso, se o plano do devedor tiver obtido uma quase aprovação dos credores reunidos em assembleia.
ENCERRAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL – Se durante o prazo de dois anos da recuperação for descumprida qualquer condição do plano, haverá convolação em falência. Se forem cumpridas todas as condições, será decretado, por sentença, o encerramento do plano.
CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA – A convolação pode ocorrer (art.73): I – por deliberação da assembleia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei; II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do art. 53 desta Lei; III – quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4o do art. 56 desta Lei; IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, na forma do § 1o do art. 61 desta Lei. Parágrafo único. O disposto neste artigo não impede a decretação da falência por inadimplemento de obrigação não sujeita à recuperação judicial, nos termos dos incisos I ou II do caput do art. 94 desta Lei, ou por prática de ato previsto no inciso III do caput do art. 94 desta Lei.
PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL PARA MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE – Microempresa: pessoa jurídica que tenha auferido, no ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00 (art. 2º, I da Lei 9317/96). Empresa de pequeno porte: pessoa jurídica que tenha auferido, no ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (art. 2º, II da Lei 9317/96).
O microempresário ou o empresário de pequeno porte apresentar o chamado plano especial de recuperação judicial cujas condições estão elencadas no art. 71. 
Características do plano especial: a) não acarreta a suspensão do curso da prescrição nem das ações e execuções por créditos não abrangidos pelo plano (art.71, parágrafo único); b) é concedida pelo juiz se atendidas às exigências legais, independentemente de convocação de assembleia geral de credores para deliberação em torno do plano (art. 72, caput); c) os credores não atingidos pelo plano especial não terão créditos habilitados na recuperação judicial (art. 70, § 2º)
 
�	 Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira; II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento; V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor; VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras; VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial; IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados. § 1o Os documentos de escrituração contábil e demais relatórios auxiliares, na forma e no suporte previstos em lei, permanecerão à disposição do juízo, do administrador judicial e, mediante autorização judicial, de qualquer interessado. § 2o Com relação à exigência prevista no inciso II do caput deste artigo, as microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e escrituração contábil simplificados nos termos da legislação específica. 
�	 Art. 7o A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas. § 1o Publicado o edital previsto no art. 52, § 1o, ou no parágrafo único do art. 99 desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados. § 2o O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na forma do caput e do § 1o deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1o deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8o desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação.
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