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65 sbpc - os ciclos da seca

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Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Artes e Comunicação
Departamento de Rádio, TV e Internet
Aluna: Ingrid de Moura Costa
Resumo sobre a palestra do Dr. João Suassuna (Ciclos da seca e seus impactos) no auditório Barbosa Lima Sobrinho, localizado no CFCH da UFPE durante a 65ª SBPC à Sexta-feira, último dia de congresso pela manhã.
O primeiro conferencista Dr. João Suassuna diz que trabalha há 30 anos na área da seca e começa sua explanação trazendo alguns dados sobre a região semi-árida do Nordeste que chega a chover até 800 mm por ano e que lá vivem 21 milhões de pessoas em que 10 milhões sofrem com a seca. Ele diz que vai falar sobre alternativas tecnológicas para convivência com a seca. O Nordeste brasileiro sofre com várias massas de ar formadoras de clima, essas massas entram na região perdendo energia, além disso, existem elevações de temperatura nos mares Atlântico e Pacífico e essas duas questões induzem a seca no Nordeste. O Dr. Fala sobre o “miolão da seca”, onde de 80 a 100% das secas ocorrem neste lugar o que corresponde ao nosso setentrional e desde o séc. XVI que essas secas estão sendo catalogadas e estudadas e que até agora houveram 113 secas. 
Quando juntam-se estas secas de um ano para outro as consequências são gravíssimas para o desenvolvimento da região, ele dá alguns dados sobre a seca de 2013, como por exemplo: prejuízo na pecuária de 1.5 bilhões de reais (onde muitos pecuaristas levaram seus animais para fora do estado para não perder tudo), a pecuária da Paraíba foi reduzida em 60%, a safra de grãos do Ceará foi comprometida em 100% e no Rio Grande do Norte houve redução de 25% dos industrializados naquela região. 
Existem dois sistemas básicos geológicos no Nordeste: o embasamento cristalino, caracterizada por solos rasos, onde a rocha que fica por debaixo do solo sobe e quando chove existe um escoamento intenso e pouca água infiltra, nesse caso, só existem duas condições para se obter água de subsolo, na fratura das rochas ou nos solos de aluvião próximos a rios e riachos e essas águas quando tem contato com esse tipo de substrato elas se mineralizam, por isso elas são tão salinizadas a ponto do gado não beber. O outro tipo de sistema geológico é o sedimentário, diferente do cristalino, são solos profundos, porosos e quando chove há uma infiltração boa que acaba criando bolsões d’água chamados de lençóis freáticos. A água é de boa qualidade, porém essa geologia está muito esparsa na superfície do Nordeste, onde formam duas ilhas: a bacia do Maranhão e a bacia do Piauí, essas duas obtém 70% da água de subsolo. O prof. Provoca quando diz que é preciso cautela ao afirmar que a solução da seca é cavar poço para obter água da superfície porque as águas estão concentradas nessas duas bacias acima citadas. 
Na geologia cristalina houve uma corrida desenfreada para construção de açudes para segurar a água do subsolo para que a mesma não seja drenada pelo mar, porque esta geologia permite esse tipo de coisa, por causa disso, hoje em dia existem cerca de 70 mil represas e só represas interanuais (represas que nunca secam por causa do enorme volume que sustentam) são cerca de 400. Essa junção de casos da geologia cristalina resultou numa vegetação característica chamada de caatinga, com plantas espinhosas que durante o período de secas suas folhas caem, com sistema fisiológico diferente das plantas do litoral, etc. Em 1984, o DENOX contratou os estudos do espanhol Rafael Gonzalez de potencial de irrigação do Nordeste. Esse estudo resultou em dois livros, “O desenvolvimento do Nordeste árido”, lá ele chegou à conclusão de que só era possível irrigar no Nordeste algo em torno de 2 milhões de hectares ou 25 mil km² e o polígono da seca tem cerca de 1 milhão e 640 mil km², ou seja só daria para irrigar 2% desse polígono. Por isso, ele pergunta o que fazer com esses outros 98%? O Prof. Então começa a dar várias soluções de desenvolvimento tecnológico para o local, a primeira é explorar a capacidade de suporte dessa região. 
Segundo Guimarães Duque que foi incentivador da convivência e das plantas xerófilas diz que os problemas pluviométricos da região são verdadeiros pois é praticamente uma loteria (por exemplo, chove mais da metade de mm por ano em um único mês). A segunda é a questão da produção de grãos no semi-árido, porque o clima da região é “lotérico” e a produção desses grãos precisa de umidade em todas as suas fases, o que é algo muito perigoso pois de acordo com a EMBRAPA, somente 20% desses casos, você tem uma colheita segura. Ele dá um exemplo bem próximo, em 19 de Março de 2013 caiu uma chuva torrencial em todo Pernambuco, no outro dia, o Governador, levou pro sertão 3.500 toneladas de sementes de milho e feijão, os agricultores plantaram essas sementes, porém, não choveu nada e portanto todo esse material virou pó. Por isso, é muito mais seguro produzir carne e laticínios do que grãos, que podem ser adquiridos de outras regiões (como por exemplo na região MAPITOBA: junção de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia que tem condições de produzir esses grãos). A terceira é que a seca é um fenômeno previsível. Em 1978, o CTA produziu um dado de previsão de cerca de 100 anos para o Ceará resultando numa prospecção que diz que a cada 26 anos existem secas grandes e a cada 13 anos, secas menores. Ou seja, a seca desse ano já estava prevista e ninguém levou em consideração, João Suassuna provoca mais ainda, dizendo que se ele fosse um dirigente ele aproveitaria essas provisões para se programar ao invés de ver pobres flagelados sofrendo. Em quarto, quais as alternativas para a vivência com o fenômeno da seca? Por exemplo, explorar a caatinga de uma forma racional, como a exploração de plantas por causa de sua riqueza, pois elas podem produzir, gesso, fibras, forragem, frutas, energia (lenha), óleos, látex, mel, etc. Para alimentação dos animais pode se utilizar a palma forrageira e o capim rufel para fazer feno. O bagaço de cana também ajuda bastante quando hidrolisada com cal para alimentação de animais. Outra alternativa é criação de gado que resiste a ambientes secos, como a raça de gado guzerá da Índia, que produz leite e carne e o gado sindi, que vem do Paquistão, os caprinos, os novilhos desmamados, etc. outra questão é um crédito rural diferenciado pois se o produtor rural aceitar o tipo de crédito que lhes é dado hoje, é possível que o mesmo perca sua propriedade para o banco por causa da seca. Mais uma questão a ser analisada é a própria água. 12% d’água superficial está no Brasil, o problema é a distribuição pois, 72% está na região Amazônica. Segundo a EMBRAPA, no Nordeste chove 700 bilhões m³ da água, porém como estamos muito próximos à linha do Equador e os raios solares incidem perpendicularmente à linha do chão, 642 bilhões m³ são evaporados, ele diz “a água existe, só que não sabemos aproveita-la”.
Existem 3 questões que já estão sendo exploradas: transposição do São Francisco, Atlas Nordeste de abastecimento urbano de água e o programa “água para todos” de cisternas. João Suassuna diz que é contra à transposição do rio São Francisco pois ela vais abastecer as regiões que já são abastadas de água no Nordeste, abastecendo as principais empresas da região, é a chamada “indústria da seca”. Sem falar que devido à péssima administração, vários canais já estão se desgastando sem passar um fio de água sequer. A SBPC de 2004 conseguiu dar uma alternativa à seca, uma infraestrutura hídrica indo atrás das águas que já existem nessa região, algo bem mais barato do que a transposição, esse projeto foi chamado de Atlas Nordeste de abastecimento urbano de água. Por último ele fala sobre o sistema de cisternas rurais que recolhe água das chuvas que atende famílias de até 5 pessoas por 8 meses e também é uma boa solução. 
No final, o Dr. João Suassuna passou um vídeo feito pela rede globo sobre a seca no Nordeste e como é possível sobreviver durante este período como uma fazenda em Taperoá que segue tudo aquilo que o prof. Falou anteriormente. Infelizmente, não
pude ficar para a palestra do Dr. Ernani Rosa Filho da Universidade do Paraná, pois precisava trabalhar (já que a palestra acabou atrasando bastante) mas, ele falou principalmente das secas das regiões Sul e Sudeste, principalmente do Paraná e meu foco é a indústria da seca no Nordeste. A palestra do prof. João Suassuna foi bastante esclarecedora e me deu maiores perspectivas quanto ao meu TCC, focado na indústria da seca. Sem dúvida alguma, foi, para mim, a melhor palestra da 65ª SBPC, pois me deu oportunidade de conversar com um possível mentor para o meu projeto, o que já é bastante enriquecedor.

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