Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Exames laboratoriais: uma Revisão de Literatura (Lab tests: a Literature Review) Carol Maciel1, Hellyna de lima2, Gislaine Cristine Pannek3, Paulo Roberto Christakis Costa4, Salete Roecker5, Vinicius Dahle6, Tiago Rocha7 Fapar – Faculdade Paranaense, Curitiba, PR, Brasil Neste trabalho é apresentado uma revisão de literatura abordando o estudo de exames laboratoriais. Os principais objetivos dos testes (exames feitos para testar) ou exames (observação cuidadosa) laboratoriais é auxiliar o raciocínio médico e especializado após a obtenção da história clínica e a realização do exame físico. Todas as fases de execução dos testes ou exames, sobretudo a pré-analítica e a analítica, devem ser direcionadas e conduzidas seguindo ética e rigor técnico garantindo a segurança do paciente e a segurança e veracidade dos resultados exatos. Palavras-chave: exames laboratoriais; testes; raciocínio médico; história clínica; ética; segurança. In this work, a literary review is presented addressing the study of lab tests. The main objectives of the tests (examinations made for testing) or laboratorial examinations (careful observation) is to assist the medical and specialized reasoning after obtaining the medical history and performing the physical examination. All phases of the tests or exams, especially preanalytical and analytical, should be directed and conducted following ethics and technical rigor, ensuring patient safety and the safety and accuracy of accurate results. Keywords: lab tests; tests; medical reasoning; clinical history; ethic; safety. 1. Introdução Os exames laboratoriais são uma série de exames ou testes indicados pelo médico ou em laboratórios de análises clínicas, afim de diagnosticar ou atestar uma doença. Eles também podem ser utilizados para a realização de exames de rotina. As amostras para análise dos exames são coletadas por profissionais de saúde habilitados. A educação continuada dos profissionais envolvidos com a coleta de exames e a elaboração de manuais de rotina de funcionamento contendo procedimentos operacionais, orientações técnicas e normas de biossegurança. A atualização contínua e a contribuição dos profissionais da rede, envolvida nesses processos, serão de fundamental importância para a implementação e/ou alteração das orientações aqui contidas, o que possibilitará a construção conjunta de um serviço laboratorial de melhor qualidade [1,2]. Podemos destacar como 1 E-mail: carolmaciel.silva@bol.com.br 2 E-mail: hellyna_lima@hotmail.com 3 E-mail: gipannek@hotmail.com 4 E-mail: paulochristakis@gmail.com 5 E-mail: salroecker@gmail.com 6 E-mail: vini.pin@outlook.com 7 E-mail: fisioterapeutarocha@hotmail.com exemplo inicial a coleta de urina (uroanálise), o paciente segue todo um procedimento indicado pelo médico ou pelo laboratório para a coleta da amostra. Depois ocorre a manipulação e conservação do material, e por último, acontece a análise em laboratório, em que é emitido um laudo diagnóstico. Anteriormente, a margem de erro para os resultados era elevada, pois a análise não era feita com equipamentos de alta tecnologia. Mas, ainda podem ocorrer erros derivados da falha em equipamentos, erros de digitação ou por fatores externos provocados pelo paciente como a ingestão de medicamentos, erros no jejum, transporte incorreto da amostra, dentre outros [1]. Os exames mais comuns são o de sangue, conhecido como hemograma e os exames de fezes e urina. Além desses, existem uma série de exames laboratoriais para diferentes tipos de situações (Figura 1). O conhecimento de exames laboratoriais e sua relação com a fisioterapia mostra-se uma ferramenta importante que tem o objetivo de auxiliar o fisioterapeuta na segurança e eficácia do tratamento para cada paciente [1,2]. Figura 1 – Exames realizados [1,2] 2 Conceitos básicos 2.1 Amostragem biológicas Os tipos de amostras biológicas de material humano são: sangue, urina, fezes, suor, lágrima, linfa que é o lóbulo do pavilhão auricular, muco nasal e lesão cutânea, escarro, esperma, secreção vaginal, raspado de lesão epidérmico da mucosa oral, raspado de orofaringe, secreção de mucosa nasal, conjuntiva tarsal superior, secreção mamilar, secreção uretral, swab anal, raspados de bubão inguinal e anal/perianal, coleta por escarificação de lesão seca/swab em lesão úmida e de pêlos e de qualquer outro material humano necessário para exame diagnóstico [1,3]. 2.2 Laboratórios São estabelecimentos destinados à coleta e ao processamento de material humano. Visam a realização de exames e testes laboratoriais, cujos ambientes e áreas específicas obrigatoriamente devem constituir conjuntos individualizados do ponto de vista físico e funcional [3]. 2.3 Procedimentos de coleta Os procedimentos de coleta de material humano que exijam a prévia administração (via oral), de quaisquer substâncias ou medicamentos ou que sejam de longa duração e exijam monitoração, deveram ser supervisionados, "in loco", por profissionais de nível superior. O Setor de Coleta deverá ter acesso aos equipamentos de emergência visando propiciar o atendimento de eventuais situações clínicas [2,3]. 2.4 Profissionais laboratoriais Nível universitário: médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biomédicos, biólogos e químicos com capacitação para execução das atividades de coleta. Nível técnico: técnicos de enfermagem, técnicos de laboratório, técnicos em patologia clínica e demais profissional legalmente habilitados com capacitação para execução das atividades de coleta. Nível intermediário: auxiliares de enfermagem, assim como profissionais legalmente habilitados com capacitação para a execução das atividades de coleta [3]. 2.5 Sala de coleta e espaço físico Os locais devem ter um único ambiente de coleta com uma sala específica e exclusiva no horário de coleta para esta finalidade, com dimensão pré-estabelecidas na legislação (mínima de 3,6 metros quadrados), ter pia para lavagem das mãos, mesa, bancada, etc. para apoiar o material para coleta e o material coletado. O ambiente deve ter janelas, ser arejado, com local para deitar ou sentar o usuário, as superfícies devem ser laváveis [3]. 2.6 Biossegurança Conjunto de medidas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de prestação de serviços, produção, ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, que possam comprometer a saúde, meio ambiente e a qualidade dos trabalhos executados. Neste caso, são usados os Equipamentos de Proteção Individual - EPI e Equipamento de Proteção Coletiva – EPC para proteger os profissionais durante o exercício das suas atividades, minimizando o risco de contato com sangue e fluidos corpóreos. Os EPI´s são: óculos, gorros, máscaras, luvas, aventais impermeáveis e sapatos fechados e, são os EPC´s: caixas para material pérfurocortante, placas ilustrativas, fitas antiderrapante, etc. [4] 3 Cuidados pré-analíticos Serve para auxiliar o raciocínio médico após a obtenção da história clínica e a realização do exame físico. As fases de execução dos testes, sobretudo a pré-analítica, devem ser conduzidas seguindo o rigor técnico necessário para garantir a segurança do paciente e resultados exatos. A fase pré-analítica concentra a maior parte dos erros/equívocos que podem gerar resultados não consistentes com oquadro clínico do paciente. São importante à orientação do paciente (necessidade de jejum e o intervalo adequado, alimentação, exercício físico, uso de medicamentos e hábitos da rotina diária precedendo a coleta). A inapropriada escolha de testes também pode constituir um erro pré-analítico. Por isso é importante a interação entre o médico- assistente e o patologista clínico [4]. 3.1 Fases de análise laboratorial Fase pré-analítica: começa na coleta de material, seja ela feita pelo paciente (urina, fezes e escarro), seja feita no ambiente laboratorial. Fase analítica: corresponde à etapa de execução do teste propriamente dita. Fase pós-analítica: inicia-se no laboratório clínico e envolve os processos de validação e liberação de laudos, encerrando-se após o médico receber o resultado final, interpretá-lo e tomar sua decisão. O controle do laboratório sobre os erros em cada uma dessas fases é variável, porém todos têm impacto na conduta adotada pelo médico assistente (Figura 2) [5]. Figura 2 – Fases da análise laboratorial [5] 3.2 Fatores pré-analíticos As condições pré-analíticas comumente abordadas no laboratório clínico incluem variação cronobiológica, gênero, idade, posição, prática de atividade física, dieta, jejum e uso de drogas para fins terapêuticos ou não. Em uma abordagem mais ampla, outras circunstâncias também precisam ser consideradas, a exemplo da realização de procedimentos terapêuticos ou diagnósticos, cirurgias, transfusão de sangue e infusão de soluções, entre outras. A coleta e a adequação de amostras igualmente têm papel essencial para um exame confiável [5]. Variação cronobiológica: são as alterações cíclicas na concentração de determinados parâmetros em função do tempo, podendo ser diária, mensal, sazonal, anual etc. [5,6]. Posição: A postura corporal determina variações no teor de alguns componentes séricos. Quando o indivíduo se move da posição supina para a ereta, ocorre um afluxo de água e substâncias filtráveis do espaço intravascular para o intersticial. Por essa razão, níveis de albumina, colesterol, triglicérides, hematócrito e hemoglobina, além de drogas que se ligam a proteínas e também os leucócitos, podem ser superestimados (em torno de 8% a 10%) se a coleta de sangue for feita antes da estabilização do equilíbrio hídrico [5,6]. Gênero: Alguns exames de sangue e urina apresentam níveis significativamente distintos entre homens e mulheres devido a variações hormonais, metabólicas e de massa muscular, entre outras. As alterações típicas do ciclo menstrual também se refletem em outras substâncias. De qualquer modo, os intervalos de referência para esses parâmetros são específicos para cada gênero [5,6]. Faixa etária: Certos indicadores bioquímicos possuem nível sérico dependente da idade, o que se deve a fatores como maturidade funcional dos órgãos e sistemas, conteúdo hídrico e lipídico, massa corporal, limitações funcionais da senilidade, etc. Em situações especiais, os intervalos de referência devem considerar essas diferenças. Convém ponderar que as mesmas causas de variações pré-analíticas que afetam os resultados laboratoriais em jovens interferem nos resultados de idosos, mas com intensidade maior nestes últimos. Doenças subclínicas também são mais comuns na maturidade e precisam ser levadas em conta na interpretação dos resultados [5,6]. Jejum: A necessidade do jejum decorre do fato de os valores de referência dos testes terem sido estabelecidos em indivíduos nessa condição. Ademais, a refeição pode alterar a composição sanguínea momentaneamente – sem o pré-requisito, cada exame teria de ser analisado à luz do que a pessoa ingeriu. A maioria dos exames exige três horas de jejum, com exceção da glicemia (oito horas) e do perfil lipídico (12 horas), dentro do qual, vale lembrar, existe considerável variação intraindividual nos lipídios plasmáticos, da ordem de 5% a 10%, para o colesterol total, e superior a 20%, para os triglicérides. Na população pediátrica e de idosos, o tempo sem alimentação deve guardar relação com os intervalos das refeições. Para crianças mais novas, o jejum pode ser de uma ou duas horas [5,6]. Dieta: A amplitude das alterações de parâmetros no plasma ainda depende da composição da dieta e do tempo decorrido entre a ingestão e a coleta da amostra. Alimentos que contêm muita gordura, por exemplo, fazem subir a concentração de triglicérides, da mesma forma que dietas ricas em proteínas promovem níveis elevados de amônia, ureia e ácido úrico [5,6]. Álcool e fumo: Da mesma forma que os medicamentos, o álcool e o fumo determinam variações nos resultados de exames laboratoriais por seus efeitos in vivo e in vitro. Mesmo o consumo esporádico de etanol pode ocasionar alterações significativas e quase imediatas na glicose, no ácido lático e nos triglicérides. Já o uso crônico eleva a atividade da gamaglutamiltransferase. O tabagismo, por sua vez, aumenta a concentração de hemoglobina, a quantidade de leucócitos e de hemácias e o volume corpuscular médio, além de reduzir o HDL-colesterol e elevar a adrenalina, a aldosterona, o antígeno carcinoembriogênico e o cortisol [5,6]. Atividade física: O efeito dos exercícios sobre alguns componentes sanguíneos é, em geral, transitório e decorre da mobilização de água e outras substâncias entre os diferentes compartimentos corporais, das variações nas necessidades energéticas do metabolismo e da modificação fisiológica que a atividade condiciona. Desse modo, dá-se preferência à coleta de amostras com o paciente em condições basais, que são mais facilmente reprodutíveis e padronizáveis. O esforço físico ainda é capaz de aumentar a atividade sérica de enzimas de origem muscular, como a creatinoquinase (CK), a aldolase e a aspartato aminotransferase, pelo aumento da liberação celular. Pode haver ainda hipoglicemia, elevação da concentração de ácido láctico em até dez vezes e aumento nas atividades das enzimas renina e CK em até quatro e dez vezes, respectivamente. As variações chegam a persistir por 12 a 24 horas, a depender da intensidade do exercício e do grau de condicionamento físico do indivíduo [5,6]. Gestação: Existem mecanismos que mudam o nível das substâncias no plasma durante a gravidez, os quais decorrem de vários fatores, como a hemodiluição de proteínas totais e albumina, as deficiências relativas em função do maior consumo de ferro e ferritina e o aumento das proteínas de fase aguda, como a velocidade de hemossedimentação, apenas para citar alguns [5,6]. Medicamentos em uso: Uma vez que podem se constituir em interferentes, os fármacos usados pelo paciente devem ser protocolados para evitar alterações que acabem induzindo o médico a erros na interpretação dos valores encontrados. Tais interferências ocorrem in vivo, quando o medicamento modifica o resultado, como a hiperglicemia causada pelo uso de corticoides ou a elevação da atividade da CK total pelo uso de estatinas [5,6]. 3.3 Coleta e adequação da amostra Entre os fatores pré-analíticos, devemos citar ainda as variáveis de coleta, que têm como agentes as condições do material biológico (como a temperatura), o tempo excessivo de garroteamento, o sangue colhido em locais de acesso venoso com infusão de líquidos e até a hospitalização, que pode afetar os resultados. No que concerne a amostras obtidas pelo paciente, merece atenção a coleta de urina de 24 horas, que exige cuidado paraevitar perdas das micções e garantir sua conclusão no mesmo horário em que foi iniciada. Abaixo, confira alguns dos fatores mais importantes nesse contexto. [5,6] Temperatura: A temperatura ideal para a coleta deve ser de 22 – 25o C. Já a necessária para o armazenamento das amostras tem de ficar entre 2o C e 8o C para inibir o metabolismo das células e estabilizar certos constituintes termolábeis. Para a dosagem de potássio, a refrigeração de amostra não centrifugada não pode passar de duas horas, uma vez que tal processo é capaz de impedir a glicólise, que alimenta a bomba de potássio, e promover sua saída para o meio extracelular, elevando o resultado do teste. É oportuno lembrar que as amostras para alguns exames requerem transporte refrigerado, tais como catecolaminas, amônia, ácido láctico, piruvato, gastrina e paratormônio [5,6]. Hemólise: Durante a coleta, os fatores que provocam hemólise devem ser prevenidos. Desse modo, os tubos precisam permanecer na posição vertical até a completa coagulação do sangue, quando, então, é possível centrifugá-los. A hemólise afeta substancialmente a dosagem de alguns elementos, como desidrogenase láctica, aspartato aminotransferase, potássio e hemoglobina. Outros testes, como os que medem ferro, alanina transferase e T4, são moderadamente influenciados por soros hemolisados. E há aqueles que sofrem pequenas influências desse processo, tais como fósforo, proteína total, albumina, magnésio, cálcio e fosfatase ácida [6] Luz: Alíquotas para dosagem de bilirrubina, betacaroteno, vitamina A, vitamina B6 e porfirinas devem ser preservadas ao abrigo da luz, pois sofrem interferência desta [6]. Infusão de líquidos e medicamentos: A coleta de sangue tem de ser realizada sempre em local distante da instalação do cateter, preferencialmente no outro braço e, se possível, pelo menos uma hora após o fim da infusão [6]. 4 Exames laboratoriais: tipos 4.1 Hemograma Utilizado para avaliar as células sanguíneas, que são os leucócitos (glóbulos brancos), as hemácias (glóbulos vermelhos) e as plaquetas. É uma das análises de sangue mais úteis e mais solicitadas na prática médica. Quando o médico solicita uma coleta de sangue, ele precisa dizer para o laboratório o que pretende que seja analisado nesta amostra. No nosso sangue circulam várias substâncias que podem ser dosadas ou pesquisadas, como proteínas, anticorpos, células, eletrólitos (potássio, sódio, cálcio, magnésio, etc.), colesterol, hormônios, drogas e até bactérias ou vírus, em casos de infecção. Se o médico quiser saber como andam os níveis de colesterol, ele precisa escrever no pedido que deseja uma dosagem do colesterol; se o objetivo for saber se a glicose do sangue anda controlada, solicita-se a dosagem da glicose sanguínea. O hemograma é solicitado quando o objetivo é ter informações sobre as células do sangue, nomeadamente, leucócitos, plaquetas e hemácias (Figura 3). Portanto, em um hemograma não é possível obter dados sobre o nível de colesterol, taxa de glicose, pesquisa de bactérias, pesquisa de drogas, teste para HIV, etc. [7,8] Figura 3 – Hemograma [7,8] 4.1.1 Eritograma É a primeira parte do hemograma. É o estudo dos glóbulos vermelhos, ou seja, das hemácias, também chamadas de eritrócitos. Os três primeiros dados, contagem de hemácias, hemoglobina e hematócrito, são analisados em conjunto. Quando estão reduzidos, indicam anemia, isto é, baixo número de glóbulos vermelhos no sangue. Quando estão elevados indicam policitemia, que é o excesso de hemácias circulantes. O hematócrito é o percentual do sangue que é ocupado pelas hemácias. Um hematócrito de 45% significa que 45% do sangue é compostos por hemácias. Os outros 55% são basicamente água e todas as outras substâncias diluídas. Pode-se notar, portanto, que praticamente metade do sangue é, na verdade, composto por células vermelhas. Se por um lado a falta de hemácias prejudica o transporte de oxigênio, por outro, células vermelhas em excesso deixam o sangue muito espesso, atrapalhando seu fluxo e favorecendo a formação de coágulos (Figura 4) [8]. Figura 4 – Eritograma [8] A hemoglobina é uma molécula que fica dentro da hemácia. É a responsável pelo transporte de oxigênio. A dosagem de hemoglobina acaba sendo a mais precisa na avaliação de uma anemia. O volume globular médio (VGM) ou volume corpuscular médio (VCM), mede o tamanho das hemácias. Esse dado ajuda a diferenciar os vários tipos de anemia. O CHCM (concentração de hemoglobina corpuscular média) ou CHGM (concentração de hemoglobina globular média) avalia a concentração de hemoglobina dentro da hemácia. O HCM (hemoglobina corpuscular média) ou HGM (hemoglobina globular média) é o peso da hemoglobina dentro das hemácias. O RDW é um índice que avalia a diferença de tamanho entre as hemácias. Quando este está elevado significa que existem muitas hemácias de tamanhos diferentes circulando. Isso pode indicar hemácias com problemas na sua morfologia [8]. 4.1.2 Leucograma É a parte do hemograma que avalia os leucócitos. Estes são também conhecidos como série branca ou glóbulos brancos. São as células de defesa responsáveis por combater agentes invasores. Os leucócitos são, na verdade, um grupo de diferentes células, com diferentes funções no sistema imune. Alguns leucócitos atacam diretamente o invasor, outros produzem anticorpos e alguns apenas fazem a identificação do microrganismo invasor. O valor normal dos leucócitos varia entre 4000 a 11000 células por microlitro (ou milímetros cúbicos). [8]. Existem cinco tipos de leucócitos: neutrófilos: é o tipo de leucócito mais comum. Representa, em média, de 45% a 75% dos leucócitos circulantes. São especializados no combate a bactérias. Quando há uma infecção bacteriana, a medula óssea aumenta a sua produção, fazendo com que sua concentração sanguínea se eleve. Portanto, quando temos um aumento do número de leucócitos totais, causado basicamente pela elevação dos neutrófilos, estamos provavelmente diante de um quadro infeccioso bacteriano [8]. Têm um tempo de vida de aproximadamente 24 - 48 horas. Por isso, assim que o processo infeccioso é controlado, a medula reduz a produção de novas células e seus níveis sanguíneos retornam rapidamente aos valores basais. Neutrofilia é o termo usado quando há um aumento do número de neutrófilos. Neutropenia é o termo usado quando há uma redução do número de neutrófilos; segmentados e bastões: são os neutrófilos jovens. Quando estamos infectados, a medula óssea aumenta rapidamente a produção de leucócitos e acaba por lançar na corrente sanguínea neutrófilos jovens recém-produzidos [8]. A infecção deve ser controlada rapidamente, por isso, não há tempo para esperar que essas células fiquem maduras antes de lançá-las ao combate. Em uma guerra o exército não manda só os seus soldados mais experientes, ele manda aqueles que estão disponíveis. Normalmente, apenas 4% a 5% dos neutrófilos circulantes são bastões. A presença de um percentual maior de células jovens é uma dica de que possa haver um processo infeccioso em curso. No meio médico, quando o hemograma apresenta muitos bastões chamamos este achado de “desvio à esquerda” [8]. Esta denominação deriva do fato dos laboratórios fazerem a listagem dos diferentes tipos de leucócitos colocando seus valores um ao lado do outro. Como os bastões costumam estar à esquerda na lista,quando há um aumento do seu número diz que há um desvio para a esquerda no hemograma. Portanto, se você ouvir o termo desvio à esquerda, significa apenas que há um aumento da produção de neutrófilos jovens. Os neutrófilos segmentados são os neutrófilos maduros. Quando o paciente não está doente ou já está em fase final de doença, praticamente todos os neutrófilos são segmentados, ou seja, células maduras; linfócitos: São o segundo tipo mais comum de glóbulos brancos[8]. Representam de 15 a 45% dos leucócitos no sangue. São as principais linhas de defesa contra infecções por vírus e contra o surgimento de tumores. São eles também os responsáveis pela produção dos anticorpos. Quando temos um processo viral em curso, é comum que o número de linfócitos aumente, às vezes, ultrapassando o número de neutrófilos e tornando-se o tipo de leucócito mais presente na circulação. São as células que fazem o reconhecimento de organismos estranhos, iniciando o processo de ativação do sistema imune. Os linfócitos são, por exemplo, as células que iniciam o processo de rejeição nos transplantes de órgãos. Também são as células atacadas pelo vírus HIV [7,8]. Este é um dos motivos da AIDS (SIDA) causar imunossupressão e levar a quadros de infecções oportunistas. Linfocitose é o termo usado quando há um aumento do número de linfócitos. Linfopenia é o termo usado quando há redução do número de linfócitos. Obs: linfócitos atípicos são um grupo de linfócitos com morfologia diferente, que podem ser encontrados no sangue. Geralmente surgem nos quadros de infecções por vírus, como mononucleose, gripe, dengue, catapora, etc. [8]. Além das infecções, algumas drogas e doenças auto-imunes, como lúpus, artrite reumatoide e síndrome de Guillain-Barré, também podem estimular o aparecimento de linfócitos atípicos. Atenção, linfócitos atípicos não têm nada a ver com câncer; monócitos: Representam de 3 a 10% dos leucócitos circulantes. São ativados tanto em processos virais quanto bacterianos. Quando um tecido está sendo invadido por algum germe, o sistema imune encaminha os monócitos para o local infectado. Este se ativa, transformando-se em macrófago, uma célula capaz de “comer” micro- organismos invasores. Os monócitos tipicamente se elevam nos casos de infecções, principalmente naquelas mais crônicas, como a tuberculose; eosinófilos: são os leucócitos responsáveis pelo combate de parasitas e pelo mecanismo da alergia. Apenas 1 a 5% dos leucócitos circulantes são eosinófilos. O aumento de eosinófilos ocorre em pessoas alérgicas, asmáticas ou em casos de infecção intestinal por parasitas. Eosinofilia é o termo usado quando há aumento do número de eosinófilos. Eosinopenia é o termo usado quando há redução do número de eosinófilos; basófilos: são o tipo menos comum de leucócitos no sangue. Representam de 0 a 2% dos glóbulos brancos. Sua elevação normalmente ocorre em processos alérgicos e estados de inflamação crônica [6,7,8]. 4.1.3 Plaquetas São fragmentos de células responsáveis pelo início do processo de coagulação. Quando um tecido de qualquer vaso sanguíneo é lesado, o organismo rapidamente encaminha as plaquetas ao local da lesão. As plaquetas se agrupam e formam um trombo, uma espécie de rolha ou tampão, que imediatamente estanca o sangramento. Graças à ação das plaquetas, o organismo tem tempo de reparar os tecido lesados sem que haja muita perda de sangue. O valor normal das plaquetas varia entre 150.000 a 450.000 por microlitro (uL). Porém, até valores próximos de 50.000, o organismo não apresenta dificuldades em iniciar a coagulação. Quando os valores se encontram abaixo das 10.000 plaquetas/uL há risco de morte, uma vez que pode haver sangramentos espontâneos. Trombocitopenia é como chamamos a redução da concentração de plaquetas no sangue. Trombocitose é o aumento. A dosagem de plaquetas é importante antes de cirurgias e para avaliar quadros de sangramentos sem causa definida [7,8]. 4.2 Colesterol O colesterol total é composto da soma das frações HDL+LDL+VLDL. HDL – colesterol bom. Protege os vasos da aterosclerose (Placas de gordura). Quanto mais elevado melhor. LDL e VLDL – Colesterol ruim, formador da aterosclerose que obstrui os vasos sanguíneos e leva a doenças como infarto. Quanto mais baixo melhor. Triglicerídeos – Estão relacionados ao VLDL. Normalmente equivale a 5x o seu valor. Um paciente com 150 mg/dl de triglicerídeos apresenta 30 mg/dl de VLDL [8,9]. 4.3 Ureia e Creatinina São as análise que avaliam a função dos rins. Seus valores são usados para cálculos do volume de sangue filtrado pelos rins a cada minuto. Os melhores laboratórios já fazem esse cálculo automaticamente para o médico e normalmente vem com o nome de “clearance de creatinina” ou “taxa de filtração glomerular”. Valores aumentados de ureia e creatinina indicam diminuição da filtração pelo rim. Valores menores que 60 ml/minuto de clearance de creatinina indicam insuficiência renal. Este é um dos exames que mais requerem interpretação do médico, pois o mesmo valor de creatinina pode ser normal para uma pessoa, e significar insuficiência renal para outra [8,9]. 4.4 Glicose A dosagem de glicose é importante para o diagnóstico ou controle do tratamento do diabetes mellitus. Só tem valor se realizada com um jejum mínimo de 8 horas. Valores menores que 100 mg/dl são normais. Valores entre 100 e 125 mg/dl são considerados pré- diabetes. Valores acima de 126 mg/dl são compatíveis com diabetes [8,9]. 4.5 TGO (AST) TGP (ALP) São exames para se avaliar o fígado. Valores elevados indicam lesão das células hepáticas. Normalmente traduzem algum tipo de hepatite, seja viral, medicamentosa ou isquêmica [8,9]. 4.6 Sódio (Na+), Potássio (K+), Cálcio (Ca++) e Fósforo(P-) São chamados de eletrólitos. Valores elevados ou diminuídos devem ser tratados e investigados, pois podem trazer risco de morte se estiverem muito alterados [8,9]. 4.7 TSH e T4 livre São análises para se avaliar a função da tireoide, um pequeno órgão que se encontra na região anterior do nosso pescoço e controla nosso metabolismo. São com eles que diagnosticamos e controlamos o hipertireoidismo e o hipotireoidismo [8,9]. 4.8 Ácido Úrico É o metabólito resultante da metabolização de algumas proteínas pelo organismo. Níveis elevados são fatores de risco para gota, cálculo renal, estão associados a hipertensão e doenças cardiovasculares [8,9]. 4.9 PCR É uma proteína que se eleva em estados inflamatórios. Ela, porém, é inespecífica, ou seja, não nos diz de forma clara o motivo pelo qual está elevada. Uma PCR elevada normalmente indica um processo infeccioso em andamento, mas também pode ocorrer nas neoplasias e nas doenças inflamatórias. Uma PCR elevada associado à leucocitose é um forte indicador de infecção em curso [8,9]. 4.9 PSA Proteína que se eleva em caso de câncer de próstata ou prostatites (infecção da próstata). Aumentos do tamanho da próstata com a idade, chamada de hiperplasia prostática benigna, também podem levar a elevações, mas não nos níveis da neoplasia [8,9]. 4.10 EAS ou Urina Tipo I É o exame básico de urina. Permite a detecção de doenças renais ocultas e pode sugerir a presença de infecções urinarias. Com ele podemos avaliar a presença na urina de pus, sangue, glicose, proteínas etc., substâncias que em geral não deveriam estar presentes(Figura 5) [8,9]. Figura 5 – Composição da urina [8,9]. 4.11 Urocultura É o exame de escolha para diagnosticar infecção urinária. Com ele conseguimos identificar a bactéria responsável e ainda testar quais são os antibióticos efetivos e resistentes [8,9]. 4.12 Exame parasitológico de fezes É o exame solicitado para investigar a presença de parasitas, conhecido vulgarmente por vermes [8,9]. 4.13 Albumina A albumina é a proteína mais abundante no sangue. É uma marcador de nutrição. Como é sintetizada pelo fígado também serve para avaliação da função hepática em doentes cirróticos [8,9]. 4.14 VHS ou VS É mais um teste não específico de inflamação. É menos sensível que o PCR. Costuma estar muito elevado nas doenças auto-imunes [8,9]. 5. Conclusão A principal tendência e importância no cuidado com os exames laboratoriais é a atuação de seus profissionais de saúde, apoiando à prática clínica na assistência à saúde, com base no avanço da tecnologia e na complexidade médica. Quando ligamos a análise de exames laboratoriais a fisioterapia, verificamos que a fisioterapia está direcionada para a qualidade de vida do paciente, oferecendo serviços e uma boa avaliação, pois este é um dos principais fatores para a elaboração do seu plano de tratamento, no qual deve auxilia e determina os objetivos e a melhor conduta a ser realizada. O fisioterapeuta traça objetivos de tratamento para com o paciente, quer seja a curto, médio ou longo prazo, levando em consideração o histórico do paciente, bem como, os seus exames complementares e laboratoriais. Para desenvolver um tratamento adequado, deve-se realizar uma avaliação efetiva para que os objetivos sejam alcançados. O processo de avaliação e elaboração de objetivos e condutas, além de ligar conhecimentos e habilidade, também integra equipes multiprofissionais que estão relacionadas com o processo de reabilitação e tratamento do paciente. Referências [1] RESENDE, Letícia M.R., VIANA, Luciana G; VIDIGAL, Pedro G. Protocolos clínicos dos exames laboratoriais. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Departamento de Propedêutica Complementar. 2009. [2] BERLITZ, F. A. Controle da qualidade no laboratório clínico: alinhando melhoria de processos, confiabilidade e segurança do paciente. J Bras Patol Med Lab, v. 46 n. 5. p. 353-363, 2010. [3] XAVIER, R. M. et al. Laboratório na prática clínica. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. 911p. [4] Brasil. Ministério da Saúde. Biossegurança em saúde: prioridades e estratégias de ação / Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 242 p. [5] XAVIER, Nathalia G. Principais erros na fase pré-analítica do laboratório prestador de serviço no Hospital Getúlio Vargas em Sapucaia do Sul. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ – FIOCRUZ INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM SAÚDE – ICICT. Porto Alegre, 2013. [6] Gestão da Fase Pré-Analítica: Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica / Medicina Laboratorial (SBPC/ML). Norma PALC versão 2010. [7] MATOS, J. F. et al. O hemograma nas anemias: aspectos diferenciais. JBPML, v. 48, n. 4, p. 255-8, 2012. [8] TORRESM JF, ORTEM ME, BOHORQUEZM MA, HIGALDO, G, RAMOS CA, SANZ R, et al. As diferenças entre o hematócrito, hemoglobina observada e estimada e a sua importância no diagnóstico de anemia na população costeira da Venezuela: análise do segundo inquérito nacional de crescimento e desenvolvimento humano. SENACREDH. Peru Exp Rev Med Saúde Pública 2011;28(1). [9] JUSTINIANO, Alexandre N. Interpretação de exames laboratoriais para o fisioterapeuta. Editora RUBIO, 2012.
Compartilhar