Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 Conceito de crime Há quatro formas de conceituar o crime: 1. Conceito formal: Para o conceito formal, o crime é uma conduta humana descrita em lei como tal. Ou seja, é crime, pois está na lei, seguindo o princípio da legalidade, o qual diz que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem há pena sem prévia cominação legal”. Contudo, esse conceito é muito basilar e, por isso, fez-se necessário algo mais desenvolvido para conceituar o crime; 2. Conceito material: Para o conceito material, o crime é uma conduta humana violadora de um bem jurídico. Bens jurídicos são aqueles bens essenciais à convivência em sociedade (vida, patrimônio, etc.). Vale lembrar que o Direito Penal se funda na proteção dos bens jurídicos, segundo a doutrina de Roxin. 3. Conceito Legal: O conceito legal está disposto na Lei de Introdução ao Código Penal (LICP). O art. 1º da referida Lei conceitua não só o crime, mas também a contravenção penal. Diz então que há dois tipos de infrações penais: crime (ou delito) e contravenção penal. Para a LICP, há algumas diferenças entre os dois tipos de infrações, a constar: Crime Sempre tem pena privativa de liberdade, sendo que ela pode aparecer de três formas: de maneira isolada, cumulada com a multa ou alternada com a multa. Exemplo de maneira isolada: Art. 121 reclusão de 6 a 20 anos; Exemplo cumulada com multa: Art. 155 reclusão de 1 a 4 anos e multa; Exemplo alternada com a multa: Art. 140 detenção de 1 a 6 meses ou multa. OBS: A única diferença entre detenção e reclusão é o regime inicial do cumprimento de pena. A reclusão pode se iniciar em regime aberto, fechado ou semiaberto, enquanto a detenção apenas no semiaberto e aberto. Contudo, a tendência é que essa diferença acabe. OBS²: A maior pena de detenção é de um ano. Contravenção penal Na contravenção penal, há quatro espécies de pena: 1. Pena Simples isolada: Não há diferença entre reclusão e detenção; 2. Multa isolada; Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 3. Prisão e multa; 4. Prisão ou multa. Principais pontos de divergência entre contravenção e crime 1. Crimes estão no Código Penal e outras leis especiais; contravenções estão apenas no Decreto Lei 3688141 (Lei de Contravenções Penais); 2. Crimes podem ser dolosos e culposos; contravenções apenas dolosas; 3. Crimes são punidos tanto na forma consumada quanto tentada; contravenções apenas na forma consumada; 4. Pena máxima de crime = 30 anos; Pena máxima de contravenção = 5 anos; 5. Crimes podem ser julgados tanto na justiça estadual, como na federal; contravenções sempre na justiça estadual; 6. Crimes podem ter ação penal pública ou privada; contravenções apenas em ação pública. Ou seja, aquilo que a sociedade quer reprimir de forma mais intensa são os crimes, e aquilo que a sociedade quer reprimir de forma mais branda são as contravenções. Além disso, um crime pode virar contravenção e vice-versa, a depender do desenvolvimento sociocultural de uma sociedade. Exemplo: porte de arma já foi uma contravenção, hoje é considerado crime. 4. Conceito analítico: É o conceito dado pela ciência do direito e vai decompor o crime em elementos. Conceito majoritário: Há a presença de três elementos: típico, ilícito e o culpável. Fato típico Para ser típico, tem que haver conduta (dolosa ou culposa). A conduta provocará um resultado. Entre conduta e resultado haverá um nexo causal. Por último, é necessário fazer um juízo de tipicidade. O conceito de crime se desenvolve num degrau onde o fato típico é o primeiro degrau, o critério de ilicitude o segundo degrau e o critério de culpabilidade o terceiro degrau. No Código Penal, na ilicitude, irá apresentar as exceções, os elementos que quebram a ilicitude. Exemplo: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito. Se algum desses elementos estiverem presentes, some a ilicitude e nem “sobe” ao critério de culpabilidade. Culpabilidade Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 Na culpabilidade vai se estudar a imputabilidade em primeiro lugar. Ou seja, a capacidade de receber pena. Depois, a exigibilidade de conduta diversa. Se pergunta se o comportamento é ou não censurável. Exemplo: gerente de banco dá a senha de cofre para salvar família sequestrada. Essa ilicitude a sociedade não irá censurar. Por fim, o potencial consciência da ilicitude. Aqui estuda se o sujeito conhecia que o seu comportamento era ilícito. Exemplo: sujeito acha uma arma na rua e vai entregar para a polícia. Essa conduta é considerada crime por ser porte de arma, contudo o cidadão não tinha conhecimento do seu comportamento ilícito. Conduta Há três conceitos de conduta: 1. Causal: Conduta é um comportamento humano, voluntário, que provoca uma modificação no mundo exterior. (Aqui tem a crítica de que a omissão e a agressão verbal não seriam consideradas condutas, já que não provocam modificação exterior); 2. Finalista: Conduta é um comportamento humano, voluntário e direcionado a um fim. (Crítica aqui é que a conduta dolosa tem um fim ilícito, mas a conduta culposa não tem um fim ilícito e sim um meio). Exemplo: Um sujeito quer chegar em casa mais cedo e passa da velocidade permitida. Ou seja, chegar em casa é um fim lícito, mas o meio utilizado foi ilícito. Vale lembrar que a teoria adotada pelo Código Penal é a teoria finalista; 3. Social: Conduta é um comportamento humano positivo ou negativo (ação e omissão) socialmente relevante (para serem alcançadas pelo Direito Penal). É o que mais atende atualmente ao conceito de conduta, porém não é adotado pelo nosso Código Penal. Espécies: Positiva (ação), negativa (omissão) Crime por ação: Se configura em um crime comissivo e identifica-se pelo verbo do tipo (núcleo do tipo), que indica ação. A maioria dos crimes são comissivos. Crime por omissão: Se configura em um crime omissivo, o qual tem dois desdobramentos. - Crime omissivo próprio/puro: Aquele em que o tipo penal narra o deixar de agir. Exemplo: Art. 135 do Código Penal (omissão de socorro) e art. 269 do Código Penal (omissão de notificação de doença). Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 - Crime omissivo impróprio/impuro: Omissão penalmente relevante, pois praticada por um garantidor, que é aquele que tem o dever de agir para impedir o resultado. Exemplo: Ambulância passa por alguém com risco de vida e se omite. Garantidores (art. 13. §2º): São aqueles que “devia e podia” agir para impedir o resultado. São eles: a) Aqueles que por lei tem a obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (garantidor legal). Ex: Policial, médico, bombeiro, salva-vidas, pais em relação aos filhos menores, etc.; b) Quem, de outra forma, assumiu o dever de evitar o resultado. Ex: Babá, segurança particular, salva-vidas particular, etc.; c) Aqueles que, com seu comportamento anterior, criam para outrem o risco da ocorrência do resultado. Ex: Jogar na água alguém que não sabe nadar; atropelar alguém e não prestar socorro, etc. O que ocorre com o garantidor quando se omite dolosamente? Vai responder ao que ocorreu por omissão. Sinônimo de crime omissivo impróprio é crime comissivo por omissão. Ou seja, o garantidor, ao se omitir, acaba permitindo que determinado crime ocorra. Desta forma, ele deverá responder pelo crime que ele tinha o dever de evitar na forma omissiva. Ou “não impedir um evento que se tem o dever jurídico de evitá-lo equivale a causa-lo”.Ex: Policial que vê pessoa ser roubada na rua pode agir e nada faz para evitar. Ele responderá por roubo por omissão. Outro exemplo: Uma mãe, que tem uma filha de 12 anos, se casa pela segunda vez e este homem (padrasto da menina) mantém relações sexuais com ela, o que caracteriza o estupro de vulnerável. A mãe, com medo de se separar de novo, nada faz em relação a isso. Contudo, a avó da menina soube da situação e fez denúncia ao Ministério Público. Neste caso, o padrasto responde por estupro de vulnerável e a mãe responde por estupro de vulnerável por omissão. OBS: A maioria da doutrina defende que os garantidores LEGAIS são universais, ou seja, são garantidores por 24h durante toda a vida, mesmo fora da sua função, desde que possam agir para impedir o resultado. Portanto, médicos, policiais, etc., caso possam, devem agir mesmo fora do expediente em caso de necessidade. Exclusão da conduta Exclusão da conduta serve para não surtir efeitos no mundo jurídico. São três os casos que as condutas podem ser excluídas: Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 a) Atos reflexos: Comportamento involuntário do corpo humano; b) Força física irresistível: Forças da natureza e situação de coação; c) Estados de inconsciência: Coma, ataque de epilepsia, hipnose, mediunidade, etc. Tipo doloso Previsão legal (art. 18, I): É doloso quando o sujeito quis o resultado ou quando assume o risco de produzi-lo. Espécies de dolo Quando quer o resultado = dolo direito; Quando assume o risco = dolo indireto. Teorias adotadas pelo Código Penal Dolo direto = Teoria da vontade: Há dolo quando o sujeito, livre e consciente, deseja realizar os elementos do tipo; Dolo indireto = Teoria da aceitação ou consentimento: Há dolo quando o sujeito, embora não queira diretamente provocar o resultado, conhece as consequências de sua conduta, não deixa de praticá-la e, com isso, consente com o resultado. Teoria da representação (NÃO ADOTADA PELO CÓDIGO PENAL): Há dolo sempre que o agente conhecer as prováveis consequências de sua conduta. Dolo direto É dividido em 1º grau e 2º grau. 1º grau: É o objetivo principal do agente; 2º grau: Se apresenta como outras consequências necessárias para chegar a esse objetivo. Exemplo: Sujeito quer matar o presidente da república, mas, para isso, explode um avião, matando o Presidente e os demais tripulantes. Assim, o que diferencia o dolo direto de primeiro e segundo grau é a provocação ou não dos efeitos colaterais, ou seja, é a análise se a conduta do agente atinge apenas o objetivo pretendido ou se para alcançar esse objetivo outras consequências são inevitáveis. Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 Dolo indireto Pode ser alternativo ou eventual • Alternativo: Agente apresenta uma dupla intenção, e qualquer resultado parra ele é satisfatório. OBS: A maioria da doutrina entende que essa espécie de dolo não existe no Brasil. Ex: Homem encontra sua ex com outro e decide atirar para matar qualquer um dos dois. No Brasil, isso se encaixa em homicídio + tentativa de homicídio. • Eventual: Agente prevê o resultado de sua conduta, ou seja, está ciente dos possíveis riscos e, mesmo assim, não deixa de agir aceitando as consequências Tipo culposo Previsão legal (art. 18, II): Há culpa quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Conduta (lítica, fim (lícito), mas os meios são imprudentes, negligentes e/ou imperitos. Ex: Sujeito dá carona, mas vai em alta velocidade. Ou seja, a conduta de dar carona é lícita, seu fim de deixar a pessoa em casa é lícito, mas o meio pelo qual ocorreu o fato é imprudente, negligente e/ou imperito. Espécies de culpa Existem duas espécies de culpa no Brasil: Clássica (própria ou inconsciente) e a culpa consciente (com previsão). Inconsciente: Deriva de uma inobservância de um dever de cuidado. O resultado, embora previsível, não foi previsto pelo agente. OBS: é necessário a provocação de um resultado, pois não se admite tentativa no tipo culposo. A culpa inconsciente é formada por imprudência, negligência e imperícia. • Imprudência: Ocorre quando o sujeito age enquanto o dever de cuidado impõe que ele não agisse; Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 • Negligência: Ocorre quando o sujeito deixa de agir, quando o dever de cuidado lhe impõe uma ação; • Imperícia: É a falta de técnica para a prática de um ato. Pode ser absoluta (sujeito não tem a técnica) ou relativa (sujeito tem a técnica, mas naquele caso concreto não tinha como emprega-la). Consciente: Sujeito prevê o resultado, entende ser uma situação de risco, mas, confiando em suas habilidades, afasta a possibilidade do resultado. Dolo eventual x Culpa consciente Tanto no dolo eventual, quanto na culpa consciente, o agente prevê o resultado e conhece ser a situação de risco. O que separa essas duas espécies é a postura do agente diante desta previsão. Na culpa consciente o agente afasta a possibilidade, confiando em suas habilidades; no dolo eventual ele aceita as consequências. Tabela explicativa Forma do resultado Atitude Espécie Previsível – previsto Aceitar Dolo eventual Previsível – previsto Afastar Culpa consciente Previsível Não previu Culpa inconsciente Imprevisível Não há conduta criminosa Excepcionalidade (art. 18, parágrafo único) A regra é que os tipos penais são dolosos, havendo modalidade culposa apenas aos crimes que tem essa modalidade expressa. Preterdolo Elemento subjetivo formado por dois momentos distintos: uma conduta inicial dolosa e um resultado final culposo. Ex: lesão corporal seguido de morte. Solução legal Um único tipo penal que já abarca o preterdolo ou dois tipos penais, chamado concurso de crime. Iter criminis É o itinerário, o caminho do crime. São as fases pelas quais percorrem o delito até a provocação do resultado. Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 Fases: cogitação – preparação – execução (tentativa) – consumação – exaurimento (tudo o que faz após a consumação) Cogitação: É uma fase interna, ou seja, ocorre na mente do sujeito delinquente. É o pensar criminoso. Nunca é punível. Preparação: Primeira fase externa do iter criminis. Reunião dos meios e dos métodos para a execução do delito. A regra geral é que os atos de preparação não são punidos, pois representam condutas do cotidiano. Exemplo: comprar uma faca. Ocorre que, alguns atos preparatórios, já violam certos bens jurídicos e já se apresentam como tipos penais. Exemplo: porte ilegal de arma para cometer um homicídio. Somente nesses casos o sujeito será punido no ato preparatório. Execução: Para se falar em ato de execução, foi usado no Brasil a TEORIA DA INEQUIVOCIDADE, ou seja, inequivocamente o sujeito deseja praticar o crime x. Acontece quando o sujeito começa a desempenhar o núcleo (verbo) do tipo penal. Iniciado os atos de execução, em regra, já é possível se falar em punição dessa conduta, pois o bem jurídico já está sendo, ao mínimo, ameaçado. Em regra, pois há dois motivos para que o crime seja considerado impossível e, portanto, inimputável. • 1º motivo: Meio absolutamente ineficaz. Os instrumentos que o sujeito utiliza são totalmente inaptos para alcançar o resultado pretendido. • 2º motivo: Objeto absolutamente impróprio. O objeto é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai o delito. Exemplo: atirar em pessoa morta, achando que está viva, tendo porte legal de arma. Consumação (art. 14, I): O crimeé considerado consumado quando nele se reúnem todos os elementos da sua definição legal. Classificação com base no resultado (aprimoração do conceito de consumação) 1. Exteriorização do resultado • Crime material • Crime formal • Crime de mera conduta Material: Aquele que se consuma produzindo resultado no mundo natural, no mundo exterior. É um o crime que deixa vestígios. Tem um resultado naturalístico, ou seja, é imprescindível a perícia, o exame de corpo de delito. Representa a grande maioria dos crimes. Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 Formal: Aquele em que o legislador descreve dois momentos, mas para a sua consumação basta a prática da primeira conduta. Exemplo: sequestrar pessoa + dinheiro de resgate. Pedir o dinheiro para resgate é o exaurimento, assim, se houve o sequestro, o crime já foi consumado, independente se vai receber o resgate ou não. De mera conduta: Aquele em que o verbo do tipo representa a execução e ao mesmo tempo a consumação do crime. Ou seja, execução e consumação são fundidas em fase única. Exemplo: desobedecer a ordem legal de agente público. Gera um resultado jurídico. 2. • Crimes transeuntes: Aqueles que não deixam vestígios. Exemplo: chamar de corno. • Crimes não transeuntes: Aqueles que deixam vestígios. Exemplo: lesão corporal. OBS: É basicamente uma cópia da primeira classificação. 3. Momento de provocação do resultado • Instantâneos • Permanentes • Instantâneos de efeitos permanentes • Habituais Instantâneo: Aquele que provoca o seu resultado imediatamente após a execução. Pode ser que o resultado seja a consumação ou tentativa. Permanente: Aquele cuja consumação se prolonga ao longo do tempo por vontade do agente, cabendo a ele encerrar a atividade criminosa. OBS: Todos os crimes que tem privação de liberdade da vítima são permanentes. Efeitos de crimes permanentes: 1º: Se o um crime de sequestro ocorre no dia 19/03, sob a legislação de lei A e, no dia 04/06, a vítima continua sequestrada, e sai uma novatio legis in pejus. A lei que regerá o processo será a novatio legis, pois se trata de um crime permanente, onde o final da consumação ocorreu com a novatio legis vigente. Súmula 711 do STF: Surgindo uma lei penal mais grave no curso da permanência, esta será aplicável, pois o crime ainda está se consumando. Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 2º: Só é contada a prescrição a partir do momento em que se encerra a permanência. Exemplo: caso Maluf, caixa 2 (evasão de divisas). O advogado alegou que o crime já havia prescrito, mas o STF disse que era um crime permanente, no qual só começa a contar a prescrição a partir da descoberta. 3º: Enquanto durar a permanência é possível prisão em flagrante delito, pois o delito ainda está se consumando, ou seja, não é preciso de um mandado para a polícia entrar em uma casa que serve de depósito de drogas, por exemplo. Instantâneo de efeitos permanentes: Apesar da consumação ser imediata, os efeitos do crime são irreversíveis. Exemplo: homicídio, lesão corporal que há a perda de um membro, etc. OBS: Eles não deixam de ser crimes instantâneos, é uma invenção da doutrina. Habitual: Aquele que só se consuma se houver uma repetição de condutas. Doutrina indica que são no mínimo três condutas para se considerar crime. COND 1 + COND 2 + COND 3 = CONSUMAÇÃO. Se fizer apenas uma conduta, o CP considera fato atípico, indiferente. Exemplo: curandeirismo, que é afastar habitualmente as pessoas da medicina tradicional, aplicando qualquer substância. Só é crime se usado sempre, causando um mal à saúde pública. Crimes habituais x Crimes continuados Os crimes habituais precisam de, no mínimo, três condutas para ser crime. O crime continuado cada conduta isoladamente é crime. Exaurimento: Só ocorre após a fase de consumação. Exaurir significa esgotar, então exaurimento é o esgotamento do crime. Via de regra, não é punido pelo direito penal (se não violar outro bem jurídico). Representa um “post factum” impunível. Exemplo: matar e esconder o corpo. O esconder o corpo é o exaurimento, mas, neste caso, é punível, pois foi exercido outro tipo penal, que é a ocultação de cadáver. Tentativa (Art. 14, II) O crime é tentado quando ele não se consuma por circunstância alheias à vontade do agente. Elementos: 1. Início da fase de execução 2. Presença do dolo Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 3. Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente OBS: Se ocorrer os dois primeiros elementos, mas o próprio agente salvar a vítima, não é tentativa. Adequação típica (tipificação) Tipo penal que o sujeito desejava praticar, combinado com (C/C) a forma tentada prevista no art. 14, II. A tipificação é, portanto, indireta e mediata, pois tem que combinar os tipos penais. Punição (art. 14, §único) A punição de um crime tentado é a mesma pena do crime consumado com a diminuição de 1/3 a 2/3 da pena. Classificação 1. Quanto percorrido no iter criminis - Tentativa perfeita/acabada/crime falho: Ocorre quando o agente esgota tudo que estava ao seu alcance para a execução do crime. O agente pratica segundo o seu entendimento tudo o que era necessário para o crime se consumar. - Tentativa imperfeita/inacabada: Ocorre quando o agente não consegue completar todos os atos de execução para interferência de uma circunstância alheia à sua vontade. Exemplo: arma trava, política chega, etc. 2. Provocação ou não de lesão ao bem jurídico - Cruenta/vermelha/negra (com sangue): Há produção de lesão ao bem jurídico. - Incruenta/branca (sem sangue): Aquela que não há provocação de lesão ao bem jurídico. Infrações que não admitem tentativa • Contravenção não existem na forma tentada • Crimes culposos • Crime habitual • Crimes de mera conduta (unissubsistente) • Crimes de atentado/empreendimento (aquele que tem a mesma punição para a forma tentada e consumada. Exemplo: art. 352 “fugir ou tentar fugir usando violência”). Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 Desistência voluntária e arrependimento eficaz Conceitos (art. 15) Há desistência voluntária quando o agente desiste de prosseguir na execução, VOLUNTARIAMENTE. Ou seja, inicia a execução, mas para. Há arrependimento eficaz quando o agente, VOLUNTARIAMENTE, impede que o resultado se produza. Ou seja, executa, mas pratica um contra-ato, impedindo a consumação. Para diferenciar tentativa de desistência voluntária, há duas frases: • Tentativa: Quero, mas não posso • Desistência: Posso, mas não quero Desistência espontânea? Espontânea quando a desistência parte da ideia do agente. Não espontânea quando a desistência parte da ideia de terceiro. Ambos são desistência voluntária. Responsabilização penal Segundo o art. 15 do CP, a desistência voluntária e o arrependimento eficaz fazem com que ao gente responda pelos atos até então praticados. Ou seja, o que o sujeito praticou de criminoso até a desistência/arrependimento será por ele respondido. OBS: Desistência voluntária e arrependimento eficaz são considerados “pontes de ouro”. Arrependimento posterior É a reparação do dano ou a devolução da coisa por ato voluntário do agente APÓS A CONSUMAÇÃO. Requisitos 1. Ato voluntário do agente 2. Crimes sem violência e sem grave ameaça 3. Devolução ocorrendo ANTES DO RECEBIMENTO da DENÚNCIA ou QUEIXA. Para explicar: Pense em uma linha do tempo. Primeiro ocorre o crime, e logo depois o inquérito policial. Seo crime for público, será oferecida uma DENÚNCIA pelo Ministério Público ao juiz. Se for crime privado, será oferecida uma QUEIXA-CRIME pelo advogado ao juiz. O juiz irá analisar se vai receber ou não a denúncia ou a queixa-crime. Após o recebimento, há a citação do réu, a resposta à acusação e as audiências. Ou Leonardo David – 3º semestre – Direito Penal II – T3AA – 2018.1 seja, A DEVOLUÇÃO TEM QUE OCORRER ANTES DO RECEBIMENTO DO JUIZ DA DENÚNCIA OU DA QUEIXA-CRIME. Consequência O arrependimento posterior gera uma diminuição de pena de 1/3 a 2/3, dependendo da satisfação da vítima Segundo o entendimento do STF é possível a reparação parcial dos danos, e isso influenciará na quantidade da redução da pena, ou seja, a diminuição de 1/3 a 2/3 dependerá do grau de satisfação da vítima.
Compartilhar