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Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 1 Doenças da orelha externa e média Embriologia, Anatomia e Fisiologia As estruturas das orelhas iniciam sua formação ao redor da 4ª semana de gestação e originam-se a partir do 1º e 2º arcos branquiais, que são projeções mesodérmicas recobertas por ectoderme e revestidas internamente por endoderme, além do 1º sulco e 1ª bolsa branquiais. Do processo mandibular do 1º arco surge a cartilagem de Meckel, que dará origem ao martelo e bigorna. Do 2º arco surge a cartilagem de Reichert, que dará origem ao estribo, apófise estilóide, e corno menor do hióide. Alguns autores consideram que o processo lenticular da bigorna e o cabo do martelo sejam originados do segundo arco também. Cada arco tem seu nervo correspondente (V par do 1º arco e VII par do 2º arco). O 1º sulco formará o conduto auditivo externo (CAE). A fenda timpânica e tuba auditiva serão formadas principalmente pela a primeira bolsa branquial. O pavilhão auditivo é formado por 6 tubérculos do 1º e 2º arcos. A orelha interna é formada a partir da invaginação ectodérmica, chamada vesícula ou fosseta ótica. Assim, a orelha externa é revestida por epitélio queratinizado, a orelha média por mucosa, e a orelha interna diferencia-se em uma complexa e fantástica estrutura neurossensorial. O pavilhão auditivo é formado por cartilagem elástica recoberta por fina camada de pele. Apresenta elevações e depressões que auxiliam na captação e seleção do som que é conduzido à orelha média. As elevações são a hélice, anti-hélice, trago e anti- trago, e as depressões são a fossa escafóide, fossa triangular e concha, além do lóbulo. O CAE é um canal osteocartilaginoso de cerca de 25mm em sua porção póstero- superior, sendo pouco maior ântero-inferiormente em função da inclinação da MT. Seu terço externo é cartilaginoso e os 2/3 internos são ósseos, sendo revestido por fina camada de pele. No terço externo encontram-se anexos como glândulas sebáceas e ceruminosas, além de pelos. O cerúmen é composto principalmente por lipídeos, possui pH levemente ácido e contém elementos antibacterianos como lisozima, que protegem de infecções bacterianas e fúngicas, além de ter caráter hidrofóbico, impedindo o acúmulo de água no CAE. A inervação da orelha externa é dada pelos nervos auriculotemporal (V2), auricular magno (plexo cervical, C2 e C3) e ramo auricular do vago. Acredita-se que o nervo facial e glossofaríngeo também tenham participação (sinal de Hitselberger – diminuição de sensibilidade no CAE por compressão do n. facial em schwannomas vestibulares) A membrana timpânica (MT) limita as orelhas externa e média e tem origem nos 3 tecidos embrionários, externamente da ectoderme, internamente da endoderme e a camada intermediária da mesoderme, que forma as por fibras colágenas, radiais, circulares e parabólicas, conferindo suas propriedades vibráteis. Possui uma área em torno de 85mm², divididas em parte tensa (vibrátil, com cerca de 60mm²) e parte flácida, que delimita com o colo do martelo o espaço de Prussak, região relacionada à gênese do colesteatoma primário. A orelha média origina-se de 4 sacos endodérmicos formadas a partir principalmente da primeira bolsa branquial (faríngea) que formam uma cavidade revestida de mucosa, Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 2 que varia entre epitélio estratificado simples, cuboidal e pseudoestratificado cilíndrico ciliado. Pode ser dividida em cavidade timpânica propriamente dita, recesso hipotimpânico e recesso epitimpânico. Comunica-se com a nasofaringe através da tuba auditiva, tubo osteocartilaginoso de cerca de 35-38mm revestido por epitélio colunar, em sua maior parte ciliado. É responsável pela equalização da pressão da OM com a atmosférica, bem como pela drenagem das secreções da OM. Encontra-se na OM a cadeia ossicular, composta pelo martelo, bigorna e estribo, que formam um eixo de transmissão transferindo as vibrações da MT à janela oval. A diferença de área da MT com a da platina do estribo (cerca de 3,2mm²) amplifica a pressão sonora em cerca de 17 vezes, e o mecanismo de alavanca da cadeia ossicular contribui com mais 1,3x, representando um ganho de cerca de 26bB. Dois músculos participam de um sistema de proteção, o músculo tensor do tímpano, cujo tendão liga- se ao cabo do martelo (1º arco – V par) e o músculo do estribo, que se liga à cabeça deste (2º arco, VII par). Sons de 70 a 90dB acima do limiar auditivo desencadeiam reflexo que contrai os músculos diminuindo a transmissão sonora para a orelha interna. Doenças da orelha externa As doenças da orelha externa envolvem os mecanismos infecciosos, inflamatórios, neoplásicos, traumáticos e mecânico/obstrutivos. Otite externa difusa aguda (OEA) – caracteriza-se pela infecção aguda da pele do CAE, comum em épocas de verão por exposição prolongada à água (praia, piscinas, etc), tornando-a conhecida também por otite do nadador. Tem como fatores predisponentes o aumento do pH (normalmente ácido) e a falta do cerúmen, com suas propriedades antibacterianas e hidrofóbicas. Além disso, manipulação com microtraumatismos e excesso de umidade favorecem seu surgimento. O quadro clínico vai desde otalgia leve e prurido até otalgia intensa, com plenitude, hipoacusia e otorréia, podendo haver extensão do processo infeccioso para áreas adjacentes. Os principais agentes etiológicos são: Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus aureus, Peptoestreptococcus, Bacteroides sp. e Proteus mirabilis. O tratamento baseia-se na limpeza e secagem do CAE e aplicação de antibiótico tópico, podendo ser empregados associações com neomicina, polimixina e corticosteroides, bem como ciprofloxacina, associada ou não à hidrocortisona. Medicações orais como anti-inflamatórios e analgésicos podem ser prescritos, não sendo necessário uso rotineiro de antibioticoterapia oral. A presença de perfuração de MT não contraindica a gota otológica, mas a quinolona torna-se preferencial nesses casos. Deve-se evitar exposição à água após o início do tratamento Otite externa localizada – também chamada de furunculose, caracteriza-se pela infecção de folículo piloso e glândulas sebáceas no terço externo do CAE. A otalgia é mais localizada e o agente mais comum é o Staphylococcus aureus. Pode ocorrer obstrução do CAE pelo edema e flutuação, situação esta que indica drenagem local. O tratamento é feito com gotas otológicas e antibioticoterapia oral, com cefalosporinas de 1ª geração como a cefalexina, alem de analgésicos e anti-inflamatórios. Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 3 Otite externa crônica – constitui uma entidade de etiologia mista, sendo a infecção e a hipersensibilidade fatores importantes. Caracteriza-se pelo aumento da espessura da pele, com descamação e formação de debris celulares. As culturas são negativas ou com flora não patogênica. O quadro clínico apresenta-se com prurido crônico, desconforto, por vezes hipoacusia por estenose do CAE. O tratamento vista restabelecer a fisiologia do CAE, com limpeza dos debris, secagem, orientações para não manipulação, evitar água no CAE, e uso de corticóides e ceratolíticos como o ácido salicílico, além de substâncias que provocam secagem e aumento da acidez do CAE, como Timerosal. Para nadadores, uso de imunoterapia pode ser uma opção. Otite externa granulosa – consiste em exsudação purulenta do terço interno do CAE, incluindo a MT, com formação de lesões de aspecto granuloso e polipóide. Os agentes são em geral Pseudomonas aeruginosa e Proteus sp. O quadro clínico apresenta hipoacusia, otorréia e prurido, com otalgia leve às vezes. O tratamento é feito com limpeza do CAE, cauterização das lesões com ácido tricloroacético (ATA 50-70%) e utilização degotas otológicas. Atenção especial deve ser dada nos casos de pacientes imunocomprometidos e idosos diabéticos, pois apresenta similaridade da otoscopia como nos casos iniciais de otite externa maligna (apesar de a dor ser mais evidente nessa situação grave). Otite externa fúngica – a otomicose associa-se ao aumento da umidade e calor do CAE, e perda das suas características protetoras, nos casos de manipulação e alteração do pH. Pode surgir após tratamento de otites externas com antibióticos tópicos, por alteração da flora. Diabetes e imunossupressão podem estar associados. O quadro clínico caracteriza-se por prurido, desconforto, otorréia, plenitude e hipoacusia. À otoscopia, nota-se formação de massas com aspecto “felpudo”, de coloração variada. Os agente mais comuns são o Aspergillus sp (mais de 90%, coloração mais escura) e Candida albicans (coloração esbranquiçada). O tratamento passa pela limpeza do CAE, utilização de gentes acidificantes (Timerosal) e antifúngicos tópicos como clotrimazol e ciclopirox. Otite externa maligna (necrotizante) - é uma infecção necrozante do osso temporal e estruturas adjacentes, grave, em pacientes imunocomprometidos, sendo que 80% dos casos são idosos diabéticos insulinodependentes. Pode acometer ainda crianças imunodeprimidas, ou em outras faixas etárias com outros fatores de imunodepressão como AIDS, quimioterapia, radioterapia ou neoplasia hematológicas. O agente, na grande maioria dos casos, é a Pseudomonas aeruginosa. O quadro clínico é de otalgia significativa, pior à noite, com evolução de mais de um mês, com otorréia persistente e tecido de granulação no piso do CAE, a despeito de tratamentos realizados. A evolução do quadro afeta áreas adjacente como articulação têmporo-mandibular, nervo facial e base do crânio (osteomielite), acometimento do forame jugular e paralisia dos IX, X e XI pares (disfagia, disfonia, aspiração) ou ápice petroso, acometendo V e VI pares (dor profunda, paralisia reto lateral). O diagnóstico é feito pela história, exame físico, cultural e exames de imagem. O diagnóstico diferencial é com doenças granulomatosas (Wegener, granuloma eosinofílico), histiocitose e neoplasias malignas através de biopsias. A TC pode demonstrar a extensão da infecção pela destruição óssea. A RNM auxilia na determinação da extensão para partes moles e a cintilografia Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 4 com gálio (Ga67) é a mais sensível na determinação do diagnóstico nos estágios precoces e no seguimento do tratamento. A cintilografia com tecnécio (Tc99m) é útil na determinação da osteomielite. A cintilografia com glóbulos brancos marcados com índio (In111) também pode ser utilizada como marcador de resolução do quadro. O tratamento requer hospitalização e antibioticoterapia agressiva antipseudomonas, debridamento cirúrgico das áreas necrosadas e controle das doenças de base. Oxigenioterapia hiperbárica pode ser uma opção, especialmente e pacientes com resposta insatisfatória aos antibióticos. Otite externa herpética - O Herpes zoster, causado pelo vírus da varicela, que permanece latente em gânglios e raízes nervosas, caracteriza-se por quadro doloroso auricular seguido por erupções vesicobolhosas unilaterais, que posteriormente tornam-se secas. Os fatores desencadeantes para a reativação podem ser associados ao estresse e alterações de imunidade. A doença é autolimitada e podem ser administrados antivirais (como aciclovir), analgésicos (visto que a dor costuma ser intensa) e antibióticos tópicos ou sistêmicos, quando há infecção secundária. Uma forma de apresentação particular é a Síndrome de Ramsay Hunt, quando há acometimento do nervo facial, acrescentando a paralisia facial periférica ao quadro descrito, podendo haver hipoacusia e sintomas vestibulares. Otite externa bolhosa (miringite bolhosa) - a miringite bolhosa é uma infecção viral que acomete a MT, podendo estar associada a infecções por Mycoplasma pnemoniae. Caracteriza-se por quadros de otalgia e plenitude, com otorréia serossanguinolenta às vezes, por ruptura das lesões da MT. O diagnóstico é feito pela otoscopia, que revela as lesões bolhosas, que podem conter sangue ou líquido seroso. O tratamento é feito com gotas otológicas podendo conter anestésicos e eritromicina via oral, pela possível associação do micoplasma. Pode-se, eventualmente, promover a ruptura das bolhas na tentativa de aliviar os sintomas álgicos. Na maioria das vezes há resolução completa do quadro sem sequelas. Celulite e erisipela do pavilhão auricular - A celulite é uma infecção de pele e do subcutâneo, em geral causada por estreptococos beta-hemolíticos do grupo A, podendo ser causada por estafilococos. Pode surgir de pequenos traumatismos e lacerações, ou por extensão de otite externa. Acomete a pele do pavilhão, incluindo o lóbulo, e apresenta-se com hiperemia, edema, dor e calor. O tratamento é feito com penicilina, sendo alternativa a eritromicina. Pericondrite e condrite - trata-se de infecção do pericôndrio e da cartilagem, em geral causada por Pseudomonsas aeroginosa, e decorrente de traumatismos, lacerações e contusões do pavilhão, após cirurgias ou colocações de brincos e piercings. Há edema, endurecimento, hiperemia e dor, que tende a poupar o lóbulo, o qual não possui cartilagem. Pode ocorrer flutuação por serosidade ou pus. Com a evolução, pode haver necrose da cartilagem, resultando em deformidades. O tratamento é feito com antibioticoterapia oral, podendo ser necessária internação com debridamento cirúrgico de áreas necróticas e antibioticoterapia parenteral nos casos mais graves. A policondrite recidivante é uma doença inflamatória sistêmica que acomete os tecidos cartilaginosos, podendo acometer o sistema cardiovascular. Pode estar associada com Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 5 outras doenças do tecido conjuntivo como lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide e síndrome de Sjögren. O tratamento é feito com imunossupressores. Otite externa eczematosa A otite externa eczematosa compõe um amplo espectro de doenças dermatológicas que acometem a orelha externa, como dermatite atópica, dermatite seborreica, dermatite de contato, lúpus e psoríase. Dermatite atópica - é caracterizada por lesões eritematosas e pruriginosas como pápulas, por vezes descamativas, de início na infância, que exacerbam com exposição à alergenos. Afeta principalmente a face e pescoço, além de tronco e superfícies extensoras. História familiar de atopia é frequente. O tratamento é a base de corticóides, em forma de creme ou, por vezes, sistêmico, além de anti-histamínicos para controle do prurido, e de cuidados com substâncias irritativas e alergênicas. A doença cursa por anos ou décadas e infecções secundárias são frequentes. O acometimento isolado da OE não é característico, devendo ser considerada a possibilidade de dermatite de contato. Dermatite de contato - é uma reação cutânea localizada que ocorre em resposta a agentes irritativos ou alérgicos. O níquel de brincos, piercings, materiais de próteses auditivas, secreções da OM e mesmo água em excesso pode precipitar as reações dermatológicas. A neomicina é um dos medicamentos que mais causam dermatite alérgica de contato. O tratamento passa pela identificação e remoção do agente causador, e emprego de corticóides tópicos e sistêmicos. Dermatite seborreica - é uma doença inflamatória crônica que acomete áreas onde há grande número de glândulas sebáceas. O acometimento pode ser limitado à orelha, incluindo concha, fossa escafóide, meato externo e porção posterior, bem como atingir áreas como testa, couro cabeludo, sulco nasolabial e pálpebras. O tratamento inclui corticóides tópicos e xampus específicos. Psoríase e Lupus eritematoso discóide -a psoríase é uma doença genética que acomete mais frequentemente joelhos, cotovelos, couro cabeludo e períneo, mas pode ocorrem em qualquer superfície. O acometimento da orelha comumente ocorre por extensão das lesões do couro cabeludo. É lesão eritematosa com descamação branco-acinzentada, cuja esfoliação resulta em pequenos sangramentos (sinal de gotas de orvalho). O tratamento é baseado em corticosteroides tópicos e sistêmicos, por vezes com metotrexate (antimetabólito). Exposição ao sol melhora ajuda na melhora das lesões. Intercalam-se períodos de acalmia e exacerbação. O lúpus eritematoso discóide é uma doença autoimune que acomete a pele, principalmente a face. Forma manchas eritematosas ou escurecidas (em negros), que podem ser perenes ou surgir e desaparecer subitamente. O diagnóstico é difícil em vista da semelhança com outras dermatites. O tratamento passa por corticoides e imunossupressores. Traumatismos e Oto-hematoma - os traumatismos do pavilhão ocorrem comumente em esportes de contato como lutas marciais, resultando em formação de hematomas Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 6 localizados entre o pericôndrio e a cartilagem. Devem ser drenados e realizados curativos compressivos, com antibiótico profilaxia, podendo evoluir para deformidades, especialmente quando há condrites associadas. Traumatismos corto- contusos dever ser tratados imediatamente, com limpeza exaustiva e reconstrução, tendo cuidado para evitar exposição de cartilagem, que aumenta o risco de condrite. Traumatismos crânio-encefálicos também podem resultar em fraturas do osso temporal, acometendo CAE, OM e cadeia ossicular, cápsula ótica até o ápice petroso. São classicamente divididas em longitudinais (mais comuns), transversais e mistas, dependendo do tipo e do ângulo de incidência do impacto. O hemotímpano é frequente, podendo ocorrer lacerações de MT e CAE, fístula liquórica ou perilinfática, paralisia facial e perda auditiva até cofose. Exostoses e osteomas – as exostoses são formações ósseas de base larga no CAE, em geral múltiplas, que podem ser assintomáticas ou causar obstrução do CAE, levando à disacusia condutiva. Ocorre com mais frequência em esportistas aquáticos, como mergulhadores, e acredita-se que seja decorrente de irritação periostal pela água fria. Os osteomas são lesões ósseas únicas, pedunculadas, que crescem nas linhas de sutura timpanoescamosas ou timpanomastoideas. Em geral assintomáticos, podendo também ocluir o CAE, resultando em disacusia condutiva. Nesses casos indica-se a remoção cirúrgica. Colesteatoma de conduto - o colesteatoma de conduto é uma lesão cística, localmente erosiva, semelhante ao colesteatoma da orelha média, mais comum após os 40 anos, em paciente com história de otalgia crônica e otorreia. Pode haver sequestro ósseo e perda auditiva, quando há extensão para a OM. Seu tratamento é cirúrgico. Acúmulo de cerume - uma das causas mais comuns de queixas otológicas é a obstrução do CAE por excesso de cerume, que leva a hipoacusia, plenitude e zumbido, muitas vezes com otalgia. Acomete de 2 a 6% da população e seu tratamento é a remoção do excesso, que pode ser com lavagem com água morna, com curetas ou aspiração. As rolhas de cerume endurecidas que não saem com as manobras habituais devem ser amolecidas com emolientes para posterior remoção. Deve-se ter cuidado na remoção, pois não são infrequentes os traumatismos no CAE e até na MT, mesmo quando realizados por pessoas experientes. Corpos estranhos (CE) - Ocorrem em geral em crianças até 15 anos, podendo ser decorrentes de introdução voluntária ou involuntária. Pode ser de objetos inanimados ou insetos, sendo comuns as “missangas”, algodões e grãos em geral. O diagnóstico é feito pela otoscopia (evidentemente sempre bilateral) e o tratamento é a remoção, que pode ser realizada com estiletes, lavagem, ou mesmo no centro cirúrgico, com sedação/anestesia geral, principalmente nos casos onde já existe inflamação com edema do CAE, que torna mais difícil a remoção. CE vivos devem ser imobilizados antes, com soluções oleosas (MT íntegra) ou com algodão embebido com éter. As complicações são decorrentes da introdução e também da remoção, com lacerações do CAE e MT, chegando a lesões na cadeia ossicular até lesões na orelha interna. Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 7 Anomalias congênitas - pode-se dividir as malformações da OE em maiores e menores. Entre as maiores, a microtia é a mais frequente e resulta do desenvolvimento anormal dos tubérculos de His (do 1º e 2º arcos branquiais). A agenesia do CAE ocorre por defeito na canalização e absorção mesodérmica do primeiro sulco branquial. Das malformações menores, os seios pré-auriculares e apêndices são os mais comuns, também derivando do mal desenvolvimento dos tubérculos de His. Os seios pré- auriculares (coloboma auris) apresentam-se como pequenas perfurações em geral anteriores ao trago ou na raiz hélice. São tratos epidérmicos que terminam em fundo cego ou pequenas dilatações. O tratamento pode ser cirúrgico em casos de infecção secundária recorrente ou defeito estético significativo. Lesões pré-malignas e malignas da orelha externa – a ceratose actínica é uma lesão de pele que acomete áreas de expostas ao sol principalmente em pessoas de pele clara. É considerada pré-maligna, e no pavilhão, acomete principalmente a porção superior da hélice. Pacientes imunossuprimidos (como transplantas) têm 250x mais chances de desenvolver essas lesões. O tratamento consiste na proteção solar, além de criocirurgia, fototerapia ou ressecção. A grande maioria dos tumores malignos da orelha externa acomete o pavilhão, e tem origem no epitélio. O carcinoma de células escamosas é o mais comum, respondendo por ¼ dos CEC de cabeça e pescoço, seguido pelo carcinoma basocelular, sendo este localmente mais agressivo. Mais raramente, o melanoma pode ocorrer. Apresentam relação direta com exposição à radiação solar, principalmente em idosos de pele clara. O tratamento é baseado na cirurgia, sendo a RTx complementar em alguns casos. Metástases cervicais ocorrem em torno de 15% dos casos. As neoplasias do CAE são de diagnóstico mais difícil pela localização e frequente combinação com quadros inflamatórios e infecciosos. O CEC é o mais comum, podendo ocorrer carcinoma basocelular, carcinoma adenoide cístico e adenocarcinoma ceruminoso. Doenças da orelha média As doenças da OM têm com principal fator predisponente a disfunção tubária. A tuba auditiva tem como principais funções: 1) ventilação; 2)drenagem; e 3) proteção da contaminação da nasofaringe. Falhas nessas funções acarretam em alterações fisiopatológicas que podem resultar em inflamação da mucosa da OM. A otite média é definida como processo inflamatório, infeccioso ou não, localizado ou generalizado, na fenda auditiva. Otite média aguda (OMA) e OMA recorrente (OMAR) A OMA é a principal causa de prescrição de ATB em crianças. Estima-se que resulta em custo anual de mais de 5 bilhões de dólares nos EUA. Existem dois picos de incidência: 1) de 6 meses a 1-2 anos; 2) 4-7 ano. Estima-se que de 19 a 62% das crianças terão u pelo menos um episódio ao final do primeiro ano de vida, e cerca de 90% terão pelo menos um episódio até os 5 anos. Caracteriza-se OMAR quando há 3 ou mais episódios em 6 meses ou quando ocorrem 4 ou mais episódios em 1 ano. Fatores predisponentes: idade – 6 a 12 meses; Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 8 sexo – masculino tem maior tendência; raça – nativos americanos e aborígenes australianos têm maior incidência. Não há diferença entre negros e brancos; alergia e imunidade – é difícil de comprovar essa relação. Alergia a leite de vaca (beta- lactoglobulina) é deconsenso. Deficiências seletivas de IgA e de IgG2 são demonstradas em casos de OMR história familiar – admite-se que existência de pais e irmãos com história de OMR apresenta risco aumentado para OMA; anomalias anatômicas – fendas palatinas, mesmo submucosas, resultam em função inadequada da TA e predispõem a OMA, assim como hiperplasia da tonsila faríngea. Síndrome de Down resulta em obstrução funcional da TA; infecções de vias aéreas superiores (IVAS) – essas infecções provocam disfunção tubária e favorecem o surgimento de OMA, chegando a risco de 25-30% de desenvolvimento; creches e berçários – a aglomeração de crianças é associada ao aumento na incidência de OMA; tabagismo passivo – as alterações mucosas decorrentes da fumaça do cigarro causariam alterações na função mucociliar e alguns autores consideram como fator predisponente; estação do ano – a maioria ocorrem no inverno, seguidos de primavera e outono; tempo e posição da amamentação – existem evidências de que o aleitamento materno diminui o risco de OMA. Já a posição deitada, por razões anatômicas, aumenta esse risco; chupetas – alguns autores relacionam o uso das chupetas com aumento das OMAs; fatores sócioeconômicos – foi demonstrado que, nos dois primeiros anos de vida, existe relação inversa entre condição sócioeconômica e tempo de secreção na OM. Microbiologia – a bacteriologia das OMAs não se altera com a idade, sendo o Streptococcus pneumoniae o agente mais freqüente, seguido pelo Haemophilus influenzae e pela Moraxella catarrhalis, e menos frequentemente o Staphylococcus aureus. Atualmente, mais de 40% dos H. influenzae e mais de 90% das cepas de M. catarrhalis são produtoras de beta-lactamases. A resistência do S. pneumoniae tem aumentado nas últimas décadas, chegando a cerca de 30%. Com o advento da vacina conjugada penumocócica heptavalente (PCV-7), tem havido alteração na microbiologia das OMAS, passando o H. influenzae para primeira posição (Casey e Pichichero. Pediatr Infect Dis J 2004). Quadro clínico – em crianças menores, irritabilidade, anorexia, febre, vômitos e diarréia podem ser os únicos sintomas. Em crianças maiores, a otalgia é o sintoma mais comum. A febre ocorre em 1/3 dos casos, em geral não sendo maior que 39,5°C. Muitas vezes quadros de IVAS acompanham e otorreia pode estar presente. Diagnóstico – a história somada aos fatores predisponentes e a otoscopia é que determinam o diagnóstico. A MT apresenta vascularização aumentada, que evolui para opacificação e abaulamento. Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 9 Tratamento – existem alguns questionamentos acerca da utilização ou não de antibióticos em casos selecionados, isto é, em crianças maiores de 2 anos se doença leve ou maiores de 6 meses se doença leve com diagnóstico duvidoso (Rosenfeld, 2001). Entretanto, muitas vezes há dificuldade de acompanhamento após o início do tratamento, o que leva ao emprego mais constante dos antimicrobianos. A amoxicilina (40-50mg/Kg/dia) é a droga de escolha por sua eficácia e boa tolerabilidade. O uso de antibióticos nos últimos 30 dias aumenta a chance de haver resistência microbiana, sendo opção a duplicação da dose, ou emprego da associação amoxicilina com inibidor de beta-lactamase. Cefuroxima, macrolídeos, ceftriaxona e quinolonas podem ser alternativas. A timpanotomia e colocação de tubo de ventilação (TV) pode ser indicada em casos de OMA recorrentes (mais de 3 episódios em 6 meses ou 4 em 1 ano), presença ou suspeita de complicação supurativa, bem como sinais de disfunção tubária recorrente como retrações, plenitude e hipoacusia. Pode ser realizada adenoidectomia concomitante, dependendo do grau de hiperplasia presente. A imunoprofilaxia vem sendo estudada nas últimas duas décadas, com alguns resultados promissores. Em dois grandes estudos, Black S, et al. (Pediatr Infect Dis J 2000) e Eskola J, et al. (NEJM 2001) observaram que o emprego de vacina pneumocócica conjugada heptavalente (PCV-7) reduziu o número de OMAs em 7 e 6%, respectivamente (apesar do percentual variar de negativo a positivo, dentro do intervalo de confiança de 95%, no segundo estudo). Houve também redução na colocação de TV em 20% (Black, 2000). Atualmente o Center for Disease Control and Prevention (CDC) dos EUA recomenda a administração de vacina 13-valente (PCV-13), pois houve aumento de outros sorotipos, antes menos prevalentes e que não eram contemplados na PCV-7. Otite média com efusão Caracteriza-se por presença de coleção líquida na OM sem sinais de infecção aguda. São sinônimos: otite média serosa, secretora ou mucoide. Essas diversas denominações refletem as fases que compõem um continuum de um processo de alterações histopatológicas da OM. O trabalho clássico de Teele em 1989 demonstrou que, após um episódio de OMA, há persistência de secreção na OM após duas semanas em 70% dos casos. Após 1 mês 40%, e após 3 meses, cerca de 10% ainda persistiam com secreção. Os fatores de risco são semelhantes aos da OMA, porém o pico tende a ser entre 2-4 anos. A etiopatogenia baseia-se na disfunção tubária, associada a alterações histopatológicas na mucosa da OM. A efusão, que antes acreditava ser estéril, apresenta bactérias em 30 a 50% dos casos. O diagnóstico é feito pela história e pela otoscopia. A audiometria com imitanciometria complementam com informações objetivas o diagnóstico. A preda auditiva pode chegar a 40dB. O tratamento dependerá da história clínica, visto que boa parte das OME melhora espontaneamente. O emprego de antibióticos (com ou sem corticosteroides) é justificado pela presença relativamente frequente de bactérias, porém por período curto, em casos onde o quadro tem de 1 a 3 meses de evolução. Entre 3 e 6 meses, o antibiótico pode ser opção, caso ainda não tenha sido usado. A timpanotopia com colocação de tubo de ventilação deve ser considerada, especialmente se houver disacusia condutiva >20dB ou comorbidades, como fenda palatina, retrações da MT ou indícios de alterações no desenvolvimento da fala. Otite média crônica Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 10 A otite média crônica (OMC) pode ser definida por critérios clínico, histopatológico e temporal. Clinicamente é caracterizada por processo inflamatório/infeccioso com perfuração da MT. Histopatologicamente é representada por alterações teciduais irreversíveis e, cronologicamente, deve ter evolução não inferior a 3 meses. A OMC pode ser subdividida em dois grandes grupos: OMC não-colesteatomatosa e a OMC colesteatomatosa. Uma terceira forma tem sido estudada, que é a OMC silenciosa, isto é, quando existem alterações histopatológicas que antecedem os quadros habituais, até mesmo a perfuração da MT. OMC não-colesteatomatosa (OMCNC) A OMCNC ocorre caracteristicamente por evolução de quadros de OMAR, OMA necrotizante (OMA causada por cepa virulenta, em geral de estreptococo beta- hemolítico, que resulta em necroses da MT, podendo atingir a cadeia ossicular) e traumatismos da MT (CE, barotrauma). Pode ser subdividida em “Perfuração Permanente” (Lillie tipo I) e “Mucosite Tubotimpânica” (Lillie tipo II). Perfuração permanente: há perfuração da MT, que é central, e em geral a orelha está “seca”. Ocorrem agudizações intermitentes, com otorreia, que respondem bem aos tratamentos, permanecendo então por períodos por vezes prolongados sem infecção. A mucosa da caixa timpânica em geral está com aspecto normal, e a hipoacusia é do tipo condutiva de grau variado (dependendo da extensão da perfuração e de possível fibrose e redução da movimentação da cadeia ossicular). A audiometria deve ser realizada para determinar o impacto do quadro, e a impedanciometria fornece informações a respeito da patência tubária e sua pressão de abertura, útil no planejamento de cirurgias(timpanoplastias). O tratamento passa por 3 fases: 1) controle pré-operatório; 2) cirurgia (quando necessária); 3) controle pós-operatório. O cuidado com exposição à água (banhos, piscinas, etc) deve ser sempre reforçado. Limpezas e uso de gotas antibióticas, em geral, controlam os episódios de agudizações. Quando a orelha permanece seca por longos períodos, a cirurgia torna-se, de certa forma, opcional. Mucosite Tubotimpânica – caracteriza-se pela otorreia persistente, mucoide ou mucopurulenta, com piora em episódios de IVAS. As perfurações da MT são geralmente grandes e erosões ossiculares são frequentes. A mucosa da OM é hiperplásica, muitas vezes com granulações que se estendem ao CAE. Podem ocorrem perfurações marginais, relacionadas à gênese do colesteatoma secundário, por migração epitelial à OM. A disacusia é em geral condutiva e variada. Exames de imagem costumam revelar mastóides hipodesenvolvidas, com OM e células contendo material hipodenso, má definição da cadeia ossicular, porém sem erosões ósseas evidentes (mais comuns no colesteatoma). O tratamento inicialmente busca a “secagem” da orelha, com limpezas duas a três vezes por semana e emprego de antibióticos tópicos e/ou sistêmicos, muitas vezes com corticoides, que ajudam a reduzir o processo inflamatório. A cirurgia é a opção mais definitiva, sendo geralmente indicada a mastoidectomia em técnica fechada, com reconstrução funcional. OMC silenciosa – trata-se de alterações teciduais irreversíveis em orelhas que ainda mantém MT íntegra. O termo foi cunhado por Paparella em 1986, e tem sido estudada em nosso meio principalmente pelo Dr. Sady Selaimen da Costa. Ela foi dividida em Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 11 forma indetectada (quando há falha em sua suspeita diagnóstica) e indetectável (quando em orelha sintomática, não é possível, pelo exame físico, suspeitar de sua presença). As alterações histopatológicas são agrupadas em cinco grupos: 1) tecido de granulação; 2) erosão/neoformação óssea; 3) timpanosclerose; 4) granuloma de colesterol; 5) colesteatoma Otite média crônica colesteatomatosa (OMCC) O termo “colesteatoma” foi cunhado por Johannes Muller, em 1838, e significa tumor de gordura e colesterol. Etimologicamente é completamente errado (assim como o termo “neurinoma do acústico”, que na verdade trata-se de schwanoma no nervo vestibular). A definição mais simples é a de que se trata de acúmulo de queratina esfoliada na OM (pele no lugar errado). Histologicamente é composto por epitélio escamoso estratificado queratinizado, chamado de matriz do colesteatoma. Estudos ultraestruturais demonstraram a presença de citoqueratina 16 (CK16), uma proteína estrutural das células epiteliais, que é expressa doenças hiperproliferativas da pele (psoríase, dermatite de contato, dermatite atópica, carcinoma verrucoso, etc). A incidência é de 3 para cada 100.000 crianças e de 9 para cada 100.000 adultos, sendo mais comum no sexo masculino. Habitualmente são classificados em congênitos e adquiridos, sendo os últimos subdivididos em primários e secundários. Colesteatoma congênito – raro, representando 2% das OMCC. Caracteriza-se pela presença de massa branca ou perolada na OM com MT intacta. Sua patogênese ainda não foi totalmente compreendida. Uma das teorias propõe a persistência de formações epiteliais na orelha média. Quando localizado no quadrante ântero- superior, não costuma gerar perda auditiva (inicialmente). Nas localizações póstero- superiores, o envolvimento ossicular é mais comum, com perda condutiva. Colesteatoma adquirido primário – sua formação inicia-se com a disfunção tubária crônica, que leva à formação de bolsa de retração, que pode ocorrer na parte flácida (em direção ao espaço de Prussak) ou na parte tensa. A retração evolui formando uma bolsa, que determina a perda da função autolimpante, gerando acúmulo de descamação e formando o colesteatoma. A retração da parte tensa é ainda pouco compreendida, mas há evidências de alterações na lâmina própria da MT a qual sofre atrofia, iniciando o processo de retração. O quadro clínico depende da extensão da lesão, indo desde hipoacusia condutiva até extensas erosões temporais (mastoídeas, labirínticas) com infecção, paralisia facial, ou mesmo complicações intracranianas. Colesteatoma adquirido secundário – o evento desencadeante é a perfuração timpânica marginal com migração do epitélio para a OM. Nesses casos, habitualmente há história de otite crônica, com otorreia persistente. Diagnóstico – baseia-se primariamente na história e na otoscopia, que deve ser realizada com limpeza e aspiração. Muitas vezes é possível aspirar fragmentos do colesteatoma. O odor fétido é característico. A audiometria deve ser realizada para complementar diagnóstico e no seguimento. A TC dos ossos temporais fornece informações importantes sobre localização, extensão, acometimento ossicular e labiríntico, bem como informações da anatomia para planejamento cirúrgico. A RNM deve ser reservada para avaliação de complicações, mais precisamente as intra- cranianas. Tratamento - é essencialmente cirúrgico. Objetiva a erradicação da doença, resultando em orelha seca e segura de complicações. Secundariamente, o objetivo Prof. Dr. Fabrício Scapini Doenças da orelha externa e média 12 funcional busca preservar ou melhorar a audição, através do tratamento do sistema tímpano-ossicular. A mastoidectomia, dentre suas variações, apresenta basicamente duas formas, conforme manutenção ou não da parede posterior do CAE (aberta ou fechada). A técnica aberta é de maior segurança na erradicação da doença, porém, o resultado funcional muitas vezes não é mantido ao nível pré-operatório. Além disso, irá demandar constante acompanhamento ao longo da vida, para limpezas periódicas, bem como limitará atividades aquáticas, por exemplo. A técnica fechada é preferida em casos de colesteatomas primários originados da parte flácida, limitados ao ático e com boa condição da mucosa da OM. O seguimento é igualmente regular, sendo nessa situação realizada TC de controle após 8 a 12 meses após a cirurgia, para acompanhamento de possível recorrência, a qual impõe nova cirurgia, que poderá ser novamente fechada ou aberta, dependendo na maioria das vezes dos achados trans- operatórios.
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