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COESÃO E COERÊNCIA Uma das principais propriedades de um texto é que ele tem coerência de sentido. Isso quer dizer que ele não é um amontoado de frases, ou seja, nele, as frases não estão pura e simplesmente dispostas umas após as outras, mas estão relacionadas entre si. É por isso que, nele, o sentido de uma frase depende do sentido das demais com que se relaciona. Se não levarmos em conta as relações de uma frase com as outras que compõem o texto, corremos o risco de atribuir a ela um sentido oposto àquele que ela efetivamente tem. Uma mesma frase pode ter sentidos distintos dependendo do contexto dentro do qual está inserida. Precisemos um pouco melhor o conceito de contexto. É uma unidade maior em que uma unidade menor está inserida. Assim, a frase (unidade maior) serve de contexto para a palavra; o texto para a frase etc. Um texto é, pois, um todo organizado de sentido. Dizer que ele é um todo organizado de sentido implica afirmar que o texto é um conjunto formado de partes solidárias, ou seja, que o sentido de uma depende das outras. Que é que faz que um conjunto de frases forme um texto e não um amontoado desorganizado? São vários os fatores. Citemos por enquanto dois. O primeiro é a coerência, isto é, a harmonia de sentido de modo que não haja nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo, que nenhuma parte não se solidarize com as demais. A base da coerência é a continuidade de sentido, ou seja, a ausência de discrepâncias. Em princípio, seria incoerente um texto que dissesse Pedro está muito doente. O quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos. Essa incoerência seria dada pelo fato de que não se percebe a relação de sentido entre as duas frases que compõem o texto. Outro fator é a ligação das frases por certos elementos que recuperam passagens já ditas ou garantem a concatenação entre as partes. Assim, em Não chove há vários meses. Os pastos não poderiam, portanto, estar verdes, o termo portanto estabelece uma relação de decorrência lógica entre uma e outra frase. A ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto chama-se coesão textual. Ela é manifestada por elementos formais, que assinalam o vínculo entre os componentes do texto. A coerência é um fator que distingue um texto de um amontoado de palavras. Significa estar junto, relação entre a ideias que se harmonizam, ausência de contradição. A coesão, por sua vez, “não é condição necessária nem suficiente da coerência: as marcas de coesão encontram-se no texto, enquanto a coerência não se encontra no texto, mas constrói-se a partir dele, em dada situação comunicativa, com base em uma série de fatores de ordem semântica, cognitiva, pragmática e interacional”. (KOCH, 2012, p. 186) “A coerência é um princípio de interpretabilidade do discurso: sempre que for possível aos interlocutores construir um sentido para o texto, este será, para eles, nessa situação de interação, um texto coerente.” (Ibid, p. 189) Sempre que nos for possível construir um sentido para o texto, este será, em uma dada situação de interação, um texto coerente, a leitura do texto em questão nos permite construir um sentido, apesar de suas contradições: não há como nos livrarmos da violência. (Ibid, p. 191) Coerência é, pois, a relação que se estabelece entre as partes do texto, criando uma unidade de sentido. A incoerência seria, pois, a violação das articulações de conteúdo de cada um dos níveis de organização do texto. Temos diferentes níveis de coerência: a) Coerência narrativa: é a que ocorre quando se respeitam as implicações lógicas existentes entre a partes da narrativa. Observe o exemplo de incoerência: Ela estava pronta há horas, esperando o namorado que viria buscá-la. Ainda não amanhecera, e tudo estava pronto para a fuga: sua mochila com algumas roupas, trezentos reais que conseguira economizar e a cartinha de despedida para a mãe, sempre tão sofrida nas mãos daquele homem que era seu pai. Rezava baixinho quando ouviu o barulho da carruagem parando à porta do seu castelo. b) Coerência argumentativa: diz respeito às relações entre os argumentos apresentados e a tese defendida. Observe o exemplo de incoerência: Felizmente, a justiça do Brasil tem dado exemplos para o mundo de que é ética, respeita os valores humanos e sabe castigar, de modo coerente, os infratores, de acordo com a gravidade de seus atos. Homens ricos e influentes têm sido poupados de penas rigorosas e contado com privilégios por parte de advogados e juízes benevolentes. c) Coerência temporal: diz respeito à obediência às leis de anterioridade e posterioridade, responsáveis por causa e efeito das orações. Observe o exemplo de incoerência: Abriu a carta recém-chegada, mas tão longamente esperada, com a respiração ofegante. Leu os primeiros parágrafos, mais com o coração do que com os olhos. Foi então que ouviu a campainha. A essa hora, era sempre o correio. d) Coerência de propriedade vocabular: diz respeito à escolha das palavras para se adequar às ideias. Observe o exemplo de incoerência: 1-A mocinha, dezesseis anos, filha de família da alta sociedade, não tinha coragem de dizer aos pais que estava prenhe de um rapaz pobre e desempregado. 2-Aquele ator famoso morreu graças a um câncer no pâncreas que lhe proporcionou muito sofrimento. e) Coerência no nível do uso da linguagem: diz respeito a compatibilidade entre o registro utilizado, a posição social do interlocutor e o assunto discutido. Observe o exemplo: Excelentíssimo Reitor, Como falei anteriormente com você, ontem no corredor da faculdade, estou entrando com um pedido de revisão da minha nota, visto que acho que a professora foi verdadeiramente injusta, sacana e me reprovou, sabendo que eu estou tentando arrumar um emprego, mas até agora, nada. Confiante no espírito de justiça o qual tão bem tem norteado todas as suas ações junto ao corpo discente desta universidade, valho-me deste para solicitar seu empenho junto à docente, se necessário, nomeando uma banca da mesma área para auferir meus conhecimentos da disciplina. Atenciosamente grato. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHAMADOIRA, J. B. N. RAMADAN, M. I. Língua portuguesa: pensando e escrevendo. São Paulo: Atlas, 1992. GOLDSTEIN, Norma (Org.). O texto sem mistério: leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática, 2009. FAULSTICH. Enilde L. de J. Como ler, entender e redigir um texto. Petrópolis-RJ: Editoras Vozes, 1989. FIORIN, J.L.; SAVIOLI, F.P. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2006. KOCH, I.V.; ELIAS, V.M. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2012. THEREZO, Graciema Pires. Redação e leitura para universitário. Campinas-SP: Alínea, 2007. MOYSÉS, Carlos Alberto. Língua portuguesa: atividades de leitura e produção de textos. São Paulo: Saraiva, 2005.
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