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Unidade I PRINCÍPIOS GERAIS DA ECONOMIA Profa. Ligia Vianna 1. PGE As necessidades da vida cotidiana tornam obrigatório o conhecimento sobre economia, independentemente da área profissional ou da formação acadêmica. Em outras palavras, todos nós nos deparamos com aspectos relacionados àdeparamos com aspectos relacionados à formação de preços, às estruturas de mercado, às questões de escassez de bens e serviços, à inflação, ao desempenho de determinados setores da economia e aos níveis deeconomia e aos níveis de desenvolvimento e crescimento das nações. PGE Em outubro de 2008, todos se chocaram com as notícias que anunciavam uma crise econômica de proporções tão imensas quanto as da quebra da bolsa americana em 1929. Delfin Netto, economista que, em vários momentos da história econômica brasileira, desempenhou papel de fundamental importância na formulação e na coordenação de políticas econômicas, em palestra proferida na Universidadeem palestra proferida na Universidade Paulista, opinou que “estaríamos vivendo mais uma das tantas crises da história do capitalismo”. PGE Entende-se por “ciência econômica” a ciência que investiga como fatores escassos de produção são alocados para a produção de bens e serviços que se destinam a saciar necessidades ilimitadas Em contrapartida “economiailimitadas. Em contrapartida, “economia de mercado” representa a forma pela qual, nas sociedades capitalistas, a reprodução material das sociedades passou a acontecer por meio de instituições orientadas para objetivosinstituições orientadas para objetivos econômicos. PGE Na economia de mercado, toda a organização da produção é confiada aos mercados, que compõem um sistema autorregulado: indivíduos perseguindo apenas seu interesse pessoal ofertam e demandam mercadorias fazendo comdemandam mercadorias, fazendo com que estes bens alcancem um preço determinado. As decisões sobre o que e quanto produzir serão tomadas como base apenas nos preços informados pelos mercados, que sinalizam aspelos mercados, que sinalizam as expectativas de ganho em cada processo produtivo. PGE Adam Smith, século XVIII “‘ Riqueza das nações’ um texto fundador, obra que marca uma mudança na natureza da reflexão sobre os temas econômicos, não tanto pela criação de novos conceitos, mas pelo estabelecimento de um novo arranjo dos conceitos, de um novo ponto de vista. Importa, sobretudo, que a economia tenha ganhado a forma de uma disciplina autônoma desligada da ética e daautônoma, desligada da ética e da filosofia política, no interior das quais a escolástica e as doutrinas do direito natural ainda a enquadravam.” (CERQUEIRA, 2001, p. 397) PGE 1.1 Antiguidade e Idade Média É evidente que a compreensão do contexto histórico que irá ensejar o nascimento das ciências econômicas traz à tona uma questão de fundamental importância: afinal, se a economia surge por meio do esforço de se distinguir da história, da sociologia, da ética, da filosofia moral e da política, poderíamos ser levados a crer na existência de uma distância entre ela e essas outras áreasdistância entre ela e essas outras áreas, especialmente do ponto de vista da delimitação do seu objeto de estudo ou da determinação de sua metodologia de investigação. PGE Façamos, então, uma viagem ao tempo. Na Europa do medievo, o mundo era bem diferente daquele que hoje conhecemos: em vez de trabalhadores livres, políticos, organizações não governamentais, supermercados e shopping centerssupermercados e shopping centers, havia reis, senhores feudais, cavalheiros, servos e clérigos. Assim estava organizada a sociedade durante o feudalismo, e essa estrutura iria sofrer abalos contínuos até a degradação total,abalos contínuos até a degradação total, num processo que levaria alguns séculos para se completar. PGE Sobre o período medieval, a imagem mais comumente lembrada é a do feudo, grande propriedade trabalhada por camponeses que aravam não apenas a terra arrendada, mas também a terra do senhorsenhor. Nesse sistema, que sobreviveria na Europa até o século XVIII, o castelo era o centro do mundo: era nele que morava o senhor e sua família. O feudo, unidade autossuficiente era o espaço em queautossuficiente, era o espaço em que ocorriam as relações de vassalagem entre o servo e o seu senhor. PGE O feudo tinha suas próprias regras e leis, e elas serviam para reger tudo e todos. O senhor feudal era quem decidia sobre casamentos, litígios e conflitos. Ele resolvia o quê, como plantar e quanto colher Em algumas regiões da Europa ocolher. Em algumas regiões da Europa, o senhor feudal tinha o direito “da primeira noite”, ou seja, podia desvirginar a noiva que morasse em sua propriedade ou que fosse esposa de alguém que morasse nas suas terras.nas suas terras. PGE Havia moedas, claro. Elas existiam, e sua variedade era imensa: cada uma delas tinha valor apenas numa determinada região, e não havia referência cambial com outras moedas de outras regiões. Por que haveria de existir referênciaPor que haveria de existir referência, afinal? A vida econômica ocorria dentro dos muros do próprio feudo, não havendo quaisquer relações comerciais com o que era exterior. PGE Os cruzados precisavam de provisões e, ao longo do trajeto que percorriam em direção ao oriente, foram sendo criados entrepostos comerciais e feiras. Ao longo dos séculos, esse comércio cresceria cada vez mais surgindo então em tornocada vez mais, surgindo então, em torno dele, as primeiras cidades. Os senhores feudais, donos das terras onde se realizavam as feiras, tinham direito a receber comissões pelos negócios lá efetuados; assim, eles eram receptivosefetuados; assim, eles eram receptivos às atividades comerciais porque elas traziam lucro e prosperidade. PGE Devagar, apareciam pequenas aberturas na estrutura feudal de imobilidade social: surgiam comerciantes e “banqueiros”; crescia uma população urbana que não se encontrava aprisionada pela vassalagem e tampouco tinha umavassalagem e tampouco tinha uma relação visceral com a terra. Interatividade A queda do sistema feudal deve-se primordialmente: a) Ao início das cruzadas. b) Ao uso de máquinas. c) À indignação do povoc) À indignação do povo. d) Às guerras civis. e) Todas as alternativas estão corretas. 2. PGE A moderna noção de que qualquer transação comercial é lícita desde que seja possível realizá-la não fazia parte do pensamento medieval. O homem de negócios bem-sucedido de hoje, que compra pelo mínimo e vende pelocompra pelo mínimo e vende pelo máximo, teria sido duas vezes excomungado na Idade Média. “O comerciante, porque exercia um serviço público necessário, tinha direito a uma boa recompensa e a nada mais doa uma boa recompensa e a nada mais do que isso.” (HUBERMAN, 1986) 2 PGE Conforme afirma Huberman (1986, p. 47): “A Igreja ensinava que, se o lucro do bolso representava a ruína da alma, o bem-estar espiritual é que estava em primeiro lugar. ‘Que lucro terá o homem se ganhar todo o mundo e perder sua alma?’ Se alguém obtivesse, numa transação, mais do que o devido, estaria prejudicando a outrem, e isso estava errado. São Tomás de Aquino, o maior pensador religioso da Idade Médiapensador religioso da Idade Média, condenou a ‘ambição do ganho’. Embora se admitisse, com relutância, que o comércio era útil, os comerciantes não tinham o direito de obter numa transação mais do que o justo pelo seu trabalho.” PGE Em contraste com os teólogos católicos, propensos a considerar a atividade humana como coisa fútil e vã, os calvinistas santificavam e aprovavam oesforço humano como uma espécie de indicador de valor espiritual De fato cresceu entre osvalor espiritual. De fato, cresceu entre os calvinistas a ideia de um homem dedicado ao seu trabalho, “vocacionado” para ele, por assim dizer. Disto resulta a fervorosa entrega de cada um à sua própria vocação que, muito ao contrário de evidenciar umque, muito ao contrário de evidenciar um afastamento dos fins religiosos, passou a ser considerada uma evidência da dedicação à vida. PGE Essa moral criaria o que Max Weber, no século XIX, ao estudar a fundo a relação entre a religião e o capitalismo, identificou como sendo o espírito do capitalismo: “De fato, o summum bonum dessa ética, o ganhar mais e mais dinheiro, combinado com o afastamento estrito de todo prazer espontâneo de viver é, acima de tudo, completamente isento de qualquer mistura eudemonista, para não dizer hedonista; é pensado tãodizer hedonista; é pensado tão puramente como um fim em si mesmo, que do ponto de vista da felicidade ou da utilidade para o indivíduo, PGE parece algo transcendental e completamente irracional. O homem é dominado pela geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final da vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como um meio parasubordinada ao homem como um meio para a satisfação de suas necessidades materiais. Essa inversão daquilo que chamamos de relação natural, tão irracional de um ponto de vista ingênuo, é evidentemente um princípio guia doevidentemente um princípio guia do capitalismo, tanto quanto soa estranha para todas as pessoas que não estão sob a influência capitalista.” (WEBER, 1996, p. 21). PGE O uso intensivo de maquinário nas fábricas – fruto de um incessante processo de inovação tecnológica – e a expansão de uma classe trabalhadora, explorada e assalariada, caracterizavam uma crescente atividade econômica jáuma crescente atividade econômica já bem distante da economia comercial e mercantil dos séculos XVII e XVIII. PGE As degradadas e sujas cidades inglesas viam circular trabalhadores esfomeados e que viviam em condições totalmente inadequadas; ao mesmo tempo, os pensadores e a elite empresarial discutiam o terrível destino quediscutiam o terrível destino que aguardava a humanidade (em especial, a fome resultante da explosão populacional e da escassez de terras aráveis e produtivas); outros pensadores e capitalistas buscavam alternativas quecapitalistas buscavam alternativas que pudessem criar um sistema social justo dentro (e a partir do) contexto de industrialização e da economia de mercado. PGE Em Nova Lanark, havia duas perfeitas fileiras de casas de trabalhadores com dois quartos em todas elas; havia ruas com o lixo cuidadosamente empilhado, à espera de remoção, em vez de estar espalhado em asquerosa imundície Eespalhado em asquerosa imundície. E, nas fábricas, uma cena ainda mais incrível apresentava-se aos olhos dos visitantes. PGE As crianças, agora, trabalhavam em fábricas, sob a direção de um supervisor cujo emprego dependia da produção que pudesse arrancar de seus pequenos corpos, com horários e condições estabelecidos pelo dono da fábricaestabelecidos pelo dono da fábrica, ansioso por lucros. Até mesmo um senhor de escravos das Índias Ocidentais poderia surpreender-se com o longo dia de trabalho das crianças. Um deles, falando a três industriais de Bradford,falando a três industriais de Bradford, disse: “Sempre me considerei infeliz pelo fato de ser dono de escravos.” Interatividade A industrialização deu causa: a) Ao desenvolvimento da agricultura manufatureira. b) Ao desemprego. c) À CLTc) À CLT. d) Toda as alternativas estão corretas. e) As alternativas “a” e “b” estão corretas. 3. PGE A Revolução Industrial pode ser descrita como “uma série contínua de transformações que perdurou além mesmo do século XIX, em vez de como uma modificação feita de uma só vez.” (DOBB 1987 p 269) No entanto “uma(DOBB, 1987, p. 269). No entanto, “uma vez vinda a transformação crucial, o sistema industrial embarcou em toda uma série de revoluções na técnica de produção, como traço notável de uma época do capitalismo amadurecido.”época do capitalismo amadurecido. (DOBB, 1987, p. 270) PGE As invenções provocavam a especialização do trabalho que, assim dividido, facilitava a introdução de novas inovações, caracterizando um processo cumulativo e irreversível em termos do aumento da produtividade daaumento da produtividade, da concentração da produção e da acumulação. PGE A força de trabalho não apenas era uma mercadoria, mas uma mercadoria disponível e disposta a se empregar em troca de salários extremamente baixos. Os cercamentos de terra e o êxodo da população rural disso resultante tambémpopulação rural disso resultante também faria aumentar o número de trabalhadores dispostos a trabalhar em troca de qualquer salário. A acumulação do capital, portanto, excedia o crescimento da oferta de trabalho.crescimento da oferta de trabalho. PGE Adam Smith (1723-1790) é o precursor dos autores clássicos, desenvolvendo um padrão de análise a ser reproduzido por seus sucessores. Para Smith, a riqueza de uma nação é medida pela produção total anual de um país queprodução total anual de um país, que será consumida por um determinado número de pessoas. PGE Assim, a riqueza é dada pela relação entre a produção anual e a população. A divisão do trabalho gera a riqueza, e esse processo (o de consecutivas divisões e especializações) só encontra limites no tamanho do mercado: a divisão dotamanho do mercado: a divisão do trabalho ocorrerá até o limite das possibilidades do tamanho do mercado. PGE Para Smith, o sistema econômico tende ao equilíbrio natural, tal como observado na natureza física, e é resultado do comportamento egoísta que, direcionado ao bem-estar individual, gera o bem-estar socialsocial. PGE O exemplo utilizado por Adam Smith em “A riqueza das nações” é o da fábrica de alfinetes. Por meio das atividades observadas nessa fábrica, ele explicará como a divisão de trabalho acaba por gerar riqueza a partir do aumento dagerar riqueza a partir do aumento da produtividade. PGE Marx, acrescentando, fará uma previsão: o capitalismo será destruído por si mesmo. A produção não planejada, a desorganização do sistema, as constantes oscilações de preços, tudo estaria conspirando para a inexorávelestaria conspirando para a inexorável crise. PGE O sistema, simplesmente, era complexo demais; desencaixava-se de maneira constante, perdia o ritmo, produzia determinada mercadoria em excesso e outra de menos. Dentro de suas grandes fábricas ele precisaria não apenas criar afábricas, ele precisaria não apenas criar a base técnica para o socialismo — produção racionalmente planejada —, mas teria, além disso, que criar uma classe bem treinada e disciplinada que viria a ser o agente do socialismo, oviria a ser o agente do socialismo, o amargurado proletariado. PGE Para Marx, a diferença entre dinheiro recebido pela troca das mercadorias produzidas e dinheiro gasto com salários era denominada “mais-valia”, gerada no processo de produção e que tinha como origem o fato de os capitalistasorigem o fato de os capitalistas comprarem um conjunto de mercadorias (fatores de produção, incluindo o trabalho que o operário vendia como mercadoria) por um valor abaixo daquele representado pelo conjunto derepresentado pelo conjunto de mercadorias vendidas (resultantes do processo produtivo). Interatividade O autor da teoria da divisão do trabalho foi: a) Max Weber. b) Karl Marx. c) Adam Smith. d)São Tomás de Aquino. e) NDA. 4. PGE Pensamento econômico contemporâneo A crise de 1929 traria outros ingredientes para a análise do pensamento econômico, e a escola neoclássica teria que proporcionar soluções antes não cotejadas no seu desenvolvimento teórico. PGE Vejamos um texto publicado na revista “Veja” sobre o famoso outubro daquele ano: “Um alvoroço incomum nos arredores da Bolsa de Valores de Nova York chamou a atenção do comissário de polícia da cidade, Grover Whalen, na última quinta- feira, dia 24. Por volta das 11 horas, um rugido cavernoso começou a escapar do edifício. Alguns minutos depois, já não era possível identificar se o bramidoera possível identificar se o bramido vinha de dentro ou de fora da Bolsa.” PGE Para Dobb (1987, p. 322), o que desmontava era o sonho de um paraíso econômico: “Os próprios fatos desses anos sombrios, com suas falências repentinas, fábricas abandonadas e filas de gente a pedir pão, forçaram nos espíritos já refeitos a conclusão de que algo – muito mais fundamental do que uma adaptabilidade lenta de desordenadas relações de preços – devia estar errado no sistema econômico e que a sociedadeno sistema econômico, e que a sociedade capitalista teria sido tomada por algo com todos os sinais de ser uma doença crônica que ameaçava tornar-se fatal.” PGE Desde muito, o governo americano incentivava o cidadão a participar do mercado acionário. Seria nesse tipo de mercado que agentes superavitários encontrariam formas alternativas de valorizar suas riquezas deixando as àvalorizar suas riquezas, deixando-as à disposição dos empresários, que investiriam mais e mais na produção de coisas úteis. Ao final do processo, o empresário vendia sua produção e repassava parte dos lucros aos agentesrepassava parte dos lucros aos agentes superavitários que acreditaram no “negócio”. PGE Na ânsia capitalista de querer acumular mais e mais capital, algumas pessoas chegaram a hipotecar seus imóveis para arriscar os lucros extraordinários do mercado financeiro. Já se deve ter percebido a cilada: para que lucrospercebido a cilada: para que lucros maiores fossem repartidos entre mais pessoas, maiores deveriam ser os lucros das empresas; para aumentar os seus lucros, as empresas deveriam diminuir custos e salários, produzir mais e vendercustos e salários, produzir mais e vender mais. Como aumentar o consumo se os salários baixavam para aumentar a margem dos lucros? PGE O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional são dois importantes organismos criados para promover a coordenação de políticas entre países, notadamente na área financeira, mas, muitas vezes tal coordenação ocorre emmuitas vezes, tal coordenação ocorre em detrimento de interesses de sociedades. PGE “A criação do Banco Mundial correspondia ao atendimento de outras necessidades: a instituição financeira internacional ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), e também criada em 1944, tinha como propósito financiar projetos de recuperaçãopropósito financiar projetos de recuperação e de promoção de desenvolvimento econômico dos países atingidos pela guerra.” (SANDRONI, 1996) PGE Se o objetivo básico do Banco Mundial era o de auxiliar na reconstrução e no desenvolvimento de territórios dos países membros atingidos pela destruição da guerra, ele agiria no sentido de desenvolver uma série de atividades dedicadas a:uma série de atividades dedicadas a: prover capital para fins produtivos; promover o investimento externo privado; complementar o investimento privado p p mediante o fornecimento de capital para fins produtivos; promover o crescimento equilibrado de longo prazo do comércio internacional. PGE A década de 90 será, portanto, a dos ajustes: fiscal, monetário e administrativo. Todos eles se comprometem a equacionar os problemas anteriores, causados pela excessiva participação do Estado naexcessiva participação do Estado na economia. Interatividade Uma das piores crises econômicas mundiais ocorreu em: a) 1929. b) 1930. c) 1840c) 1840. d) 1789. e) 2012. ATÉ A PRÓXIMA!
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