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Fichamento em língua portuguesa dos textos ‘ETNOGRAFIA’ e ‘ESTUDO DE CASO’ In: HESSE-BIBER, S. N. The practice of qualitative research: engaging students in the research process (Capítulos 7 e 8). 3ª ed. Boston College: Mar, 2016. Salvador, BA Janeiro/2017 2 7. ETNOGRAFIA Robert Park, um sociólogo urbano, deu a seus alunos o seguinte conselho: Devem ter dito a você que fosse trabalhar duro na biblioteca, acumulando, desse modo, uma massa de notas e uma camada abundante de sujeira. Devem ter dito para escolher problemas onde quer que você encontre pilhas mofadas de registros rotineiros com base em programações triviais preparadas por burocratas cansados e preenchido por requerentes relutantes ou por alguém exigente cujo desejo e esforço para ajudar as pessoas é considerado irritante, inútil ou balconistas indiferentes. Isso se chama "sujar as mãos na pesquisa real". Aqueles que aconselham são sábios e honrados; as razões que eles apresentam são de grande valor. Mas uma coisa é necessária: observação em primeira mão. Sente-se nos salões dos hotéis de luxo e à porta dos bordéis; sentem-se sobre as ruas de Gold Coast e na favelas abaladas; Sente-se na sala de orquestra e na Star and Garter Burlesque. Em suma, senhor@s, vão sujar o assento de sua calça em pesquisa real. (McKinney, 1966, p. 71) O que é Etnografia? A Pesquisa Etnográfica visa obter uma compreensão holística de como indivíduos em diferentes culturas e subculturas dão sentido a sua realidade vivida. Etnografia: escrita da cultura. Etnógrafos: pesquisadores que, imersos nos mundos sociais dos sujeitos de suas pesquisas, fornecem descrições do contexto social e atividades quotidianas dessas pessoas [...] (Geertz, 1973). Eles fornecem descrições detalhadas das práticas cotidianas e os costumes de uma cultura, subcultura ou grupo, muitas vezes, coletando artefatos e outros materiais culturais. Gravam e analisam a variedade de estruturas sociais dentro de sua configuração, prestando atenção à vida religiosa, familiar, política e econômica. 3 Este método é "próximo e pessoal" e geralmente ocorre em ambientes naturais (lugares onde das vidas diárias). Observação participante: ferramenta de pesquisa primária da etnografia e da sua prática que requer que o pesquisador viva ou faça visitas extensas ao espaço que está estudando, observando e participando das atividades desse lugar. A prática sociológica da etnografia: final do século XIX; movimentos de reforma social (buscam compreender e prestar assistência às classes mais pobres - Emerson, 2001). Antes disso, a etnografia dos sociólogos continha uma variedade de métodos mistos, da pesquisa de levantamento de observações de campo e entrevista intensiva. Um movimento de pesquisa social influencia as primeiras pesquisas etnográficas. Robert Emerson (etnógrafo): Usa o conceito de trabalho de Booth1: Combinação de dados estatísticos, entrevistas e observação direta para acumular uma descrição extremamente detalhada e sistemática das vidas de Chicago. Anderson: Técnica de observação participante em sua pesquisa. Anderson e Charles Booth: Ambiente urbano. Fazem parte da tradição etnográfica. Preocupados com os significados culturais das atividades diárias e dos mundos sociais dos participantes. Não estão lá como meros entrevistadores, mas, principalmente, estão envolvidos na observação e conversação. Gravam suas observações e interações como notas de campo (relatos escritos de suas experiências cotidianas no campo), às vezes anotam na hora, mas, geralmente escrevem pouco depois de deixar o setting2. Podem utilizar outros métodos como entrevistas em profundidade ou grupos de discussão com membros na configuração e estão especialmente interessados em documentos que possam lhes dar insights; realizam análise de conteúdo para estudar de documentos históricos a artefatos culturais. O conceito de setting/campo na etnografia difere de acordo com o tipo do projeto de pesquisa do pesquisador. Para Anderson, estudar um bar ou vizinhança 1 Charles Booth - “Vida e trabalho do povo em Londres” (1902). 2 Microambiente de relação interpessoal/Campo de Pesquisa (Campos e Turato, 2009). Fonte: <http://www.scielo.br/pdf/rlae/v17n2/pt_19.pdf>. 4 local, o bar ou bairro torna-se o campo. Este tipo de pesquisa é muitas vezes conhecido como etnografia urbana. William Foote Whyte (1943) Cornerville, bairro americo-italiano no centro da cidade de Boston. Whyte buscava compreender as interações sociais que ocorriam dentro dessa comunidade, cuja imagem popular (como lugares semelhantes) era de ser desorganizada e suspeita, por parte da cultura dominante, especialmente durante a II Guerra Mundial, que imaginava que o "morador de favela italiana poderia ser mais dedicado ao fascismo e à Itália do que à democracia e aos Estados Unidos" (Gubrium & Holstein, 1997, p. 20). Ao andar com os moradores locais, Whyte foi capaz de conhecer a vida desse bairro do ponto de vista de seus habitantes. A Etnografia é uma ferramenta útil para a criação de uma imagem em profundidade de um campo cultural, particularmente exclusivo de ambiente urbano, que exige a presença física do pesquisador a fim de acessar a vida escondida do mundo exterior. Usando uma abordagem etnográfica: quando é apropriado? A pergunta de pesquisa determina o tipo de método a ser utilizado. Se uma pergunta de pesquisa requer um conhecimento profundo do contexto social, da cultura dos indivíduos envolvidos, etnografia é um método importante. Métodos etnográficos permitem compreender a realidade social na perspectiva dos participantes. Etnógrafos perguntam: Como indivíduos vêem seu mundo? Qual é a sua história? Como membros de uma dada cultura entendem um costume ou comportamento? 5 Perspectiva Etnográfica: conjunto de pressupostos filosóficos ou epistemológicos sobre a natureza do mundo social. O trabalho etnográfico baseia-se, na maior parte, em uma perspectiva interpretativa ao invés de uma perspectiva positivista. O objetivo é explorar e descrever os fenômenos sociais. No entanto, alguns etnógrafos podem ser positivistas e empregar métodos quantitativos. Etnografia Crítica: perspectiva que vai além da descrição e da compreensão; postura etnográfica mais ativista - fornece interpretação e perspectiva crítica. Variedade de abordagens feministas para a etnografia: O trabalho de etnografia feminista importante para revelar aspectos "invisíveis" dos papéis das mulheres no cenário etnográfico. Um etnógrafo feminista poderia olhar para o estudo de Whyte de Cornerville e perguntar, "Onde estão as mulheres neste cenário? Qual é a sua história?" Apesar de Whyte ter feito muito para esclarecer a vida desta comunidade italiana do ponto de vista de seus habitantes masculinos, sabemos pouco sobre a vida de mulheres que também habitavam esta comunidade italiana. Como começar? Negociando com o setting da pesquisa Familiaridade com um ambiente pode impulsionar um indivíduo a ser curioso sobre o ambiente que quer pesquisar. Outras vezes, a escolha de uma questão de investigação específica pode determinar quais locais de pesquisa são aceitáveis. Às vezes você pode precisar selecionar mais de um campo. Vários fatores importantes a considerar na escolha de um setting: Você pode realizar pesquisas neste setting? Como acessível é o setting para você como um pesquisador? Você considerou questões práticas de investigação no que se refere uma seleção de determinado local, tais como o quão caro será para conduzir a pesquisa neste setting? Alguns espaços que à primeira vista parecem serinacessíveis, podem se abrir para o indivíduo como resultado de laços de rede específicos que o pesquisador tem 6 com esse cenário; outros locais sobre os quais se poderia pensar ser de fácil acesso, podem ser impermeáveis aos forasteiros. Quem é considerado forasteiro, também depende do tipo de setting. Por exemplo, algumas comunidades podem restringir tipos específicos de indivíduos com base na sua idade, sexo, raça, etnia ou classe social. A maioria das pesquisas pode achar que o estudo dessa cultura é inacessível. O status de homem negro e ex-professor de prisão bem-recebido foi o fator chave que ajudou Williams (1996) em ganhar o acesso a casas noturnas como um recurso para seu estudo da cultura da cocaína. Às vezes a seleção de um campo pode depender de questões práticas, tais como a economia (quão caro será conduzir a pesquisa neste cenário?), restrições de tempo (quanto tempo que você tem que gastar no cenário? Sua pesquisa conflita com outras obrigações?) E os potenciais riscos para @ pesquisador@ (por exemplo, risco de danos corporais em um cenário onde ocorre atividade ilegal)?. Pergunta de pesquisa e locais escolhidos, o próximo passo é negociar o acesso para o setting e estabelecer qual o seu papel como etnógrafo nesse cenário. Obter acesso no setting Como você ganha acesso a uma comunidade ou grupo é fundamental na determinação do tipo de dados, se for o caso, que você será capaz de coletar e como difícil ou fácil será o processo. Primeiro: precisa pensar sobre como vai obter a permissão de um “comitê de ética”, caso haja um no setting. De modo geral, começa-se estabelecendo uma conexão pessoal com alguém do setting que possa servir como um elo de ligação para alguns membros-chave desse espaço. Deve-se pensar sobre qual a melhor forma de estabelecer esse contato. Deve escrever uma carta de permissões? Dar um telefonema? Qual tipo de carta? O quanto você deve/pode revelar sobre seu estudo? Exemplo de carta informativa que inclui um formulário de consentimento: 7 Formulário de consentimento para um projeto etnográfico que exige uma componente de entrevista Prezado participante, Meu colega e eu somos professores de Sociologia da Faculdade___________________. Temos previamente realizado vários estudos sobre a cultura de faculdade, focando a questão do consumo de bebidas alcóolicas entre estudantes universitários. Atualmente conduzimos um estudo específico sobre os padrões de consumo de bebidas de homens e mulheres universitári@s. Sua participação é completamente voluntária e você encerrar sua entrevista a qualquer momento. Além disso, todas as informações pessoais serão mantidas estritamente confidenciais e qualquer pessoa que não trabalhe diretamente no projeto não terá acesso aos seus dados de entrevista. Aqui está um exemplo de algumas das perguntas que estamos interessados em fazer: Quais são suas percepções específicas da cultura da faculdade no que diz respeito a beber? Que fatores você acha que podem levar a beber excessivamente? Que fatores você acha que podem tornar alguns alun@s mais suscetíveis a beber enquanto estiverem na faculdade? Que fatores tornam @s estudantes suscetíveis a beber em excesso? Nós acreditamos que esse estudo é uma oportunidade única de dar a sua opinião. Queremos saber o que você acha dessas questões, e esperamos publicar nossos resultados. Suas opiniões nos ajudarão a formular estratégias para resolver o problema do consumo excessivo de bebidas alcoólicas entre estudantes universitários. Se você tiver dúvidas ou perguntas, por favor sinta-se à vontade para ligar ou enviar um e- mail. Obrigad@ Nome d@ pesquisador@ Afiliação (Faculdade/Universidade/Laboratório) Telefone e endereço de e-mail ***************************************************************** 8 Confirmação e consentimento Confirmo que concordo em participar do projeto de pesquisa “Atitudes que direcionam universitári@s a beber”. Eu entendo a natureza do projeto e concordo com a utilização dos resultados, conforme descrita na carta acima. Eu entendo que qualquer material deve estar em conformidade com um código de ética profissional. Assinatura d@ participante: __________________________________________________ Nome:__________________________________________________________________ Data: _______________________________________________________________________ Os diretores do projeto concordam com as condições estabelecidas no presente formulário de consentimento: Assinatura d@ Pesquisador@:_______________________________________________ Nome:__________________________________________________________________ Data: _______________________________________________________________________ Os settings muitas vezes contêm porteiros, cuja aprovação é crucial para obter acesso e aceitação. Porteiros formais – permissão formal Porteiros informais – posições-chaves Locais públicos como cafés, bares, ou lavanderias não são normalmente difíceis de acessar. Acesso locais privadas pode ser mais difícil, pois os membros podem buscar proteger as fronteiras de seu território e, em alguns casos, manter seus assuntos escondidos da vista pública. Se atividades ilegais são uma parte rotineira de um setting de interesse, obter o acesso pode ser quase impossível para @ pesquisador@ e o seu ingresso pode colocál-@ em perigo. Estratégias de acesso: ir "à paisana", estabelecer uma relação com figuras centrais que se tornam informantes-chave. Seu Papel de Pesquisador no setting 9 Tensão entre se aproximar do setting e manter o papel de pesquisador. Algumas pesquisas podem exigir mais apego e outras, menos apego: encontrar equilíbrio entre os dois é fundamental. Figura 7.1. Níveis de participação no campo Fonte: Gold, 1958. O pesquisador pode avançar a partir de cada um desses papéis, movendo-se para frente e para trás, no continuum entre observação e participação. Deve-se começar como um observador ativo e gradualmente se envolver no campo. Iniciar no extremo oposto e esperar que sua presença se torne participação ativa pode manchar o relacionamento com os membros do setting. Observador Ativo: Requer identidade oculta do pesquisador; Não interage com os sujeitos do setting; Observa o setting utilizando dispositivos (como uma câmera de vídeo escondida); O pesquisador estuda o ambiente sem interferir em suas atividades cotidianas, minimizando assim o viés (ou erro diferencial); 10 Possui a desvantagem de não permitir ao pesquisador esclarecer significados e responder perguntas sobre coisas que não são facilmente compreendidas por ele. Observador como Participante: Movimenta-se ao longo do continuum e mais intimamente no cenário; Requer que o pesquisador revele sua identidade como pesquisador no setting, mas, torna-se limitada na medida em que ele se envolve ativamente com os membros desse espaço. Pamela Fishman (1990) analisou as relações de poder através das conversas entre três casais na privacidade de suas casas. El@s concordaram em Fishman gravar suas conversas. Suas perguntas: Como casais interagem uns com os outros na sua vida quotidiana? Como o poder e a autoridade são produzidos e mantidos em um relacionamento íntimo? A presença de Fishman foi invisível, mas, sabida, pois os casais estavam cientes pela intromissão de um gravador em suas vidas cotidianas, portanto, na maior parte do tempo, o papel do Fishman permanece periférico no cenário de pesquisa. Participante como Observador Participa plenamente das atividades no setting e seus membros sabem de sua identidade; Existem graus departicipação no cenário de pesquisa e graus para que membros do setting considerem o pesquisador como um membro interno desse local. 11 Participante Ativo: Engaja-se ativamente como membro do setting. Etnógrafos muitas vezes começam como participantes ativos indo "à paisana" (participantes do setting não sabem a identidade ou a intenção do pesquisador; posição de “enganar” aqueles que estão sob observação, para "se passar" por um autêntico membro do setting. Judith Rollins (1987), escolheu se disfarçar para estudar a situação dos trabalhadores domésticos, trabalhando um mês como doméstica. @ pesquisador@ se disfarça para se tornar "um dos nativos" A Ética do Disfarce na Pesquisa Etnográfica Questões éticas que pesquisadores devem enfrentar seu papel envolve disfarce. Aqueles que defendem o disfarce argumentam que certos tipos de pesquisa seriam inviáveis se a identidade do pesquisador fosse revelada. Laud Humphries (1976) estudou as atividades dos homossexuais masculinos que se engajaram em atividades sexuais "ilícitas" em banheiros públicos, usando um disfarce de “Watch Queen”3. Ética do Estudo de Caso: os fins justificam os meios? Ann Slate, estudante de etnografia de 20 anos, decide se disfarçar e se juntar a uma seita religiosa perto de sua faculdade que tem vindo recrutar um número crescente de meninas adolescentes. Seu interesse é sobre as seguintes questões: 1. que estratégias (se houver) os cultos religiosos utilizam para recrutar adolescentes? 2. que fatores e/ou rituais de estilo de vida (se houver) servem para sustentar a associação dos adolescentes ao culto? 3. Por que alguns adolescentes abandonam o culto? 3 1. Gay que não participa ativamente de um ato homossexual, mas assiste de outros. 2. Vigia para a polícia (segurança), enquanto outros se envolvem em sexo público. 3. Gay que é muito velho para participar de sexo gay, mas ainda gosta de ver os outros. Fonte: <http://www.urbandictionary.com/define.php?term=watch%20queen>. 12 O disfarce e a natureza à paisana desse projeto levam a perguntas como: Quais são os benefícios da pesquisa, se for o caso? Seja específico. Quais são os riscos potenciais para os entrevistados e o pesquisador? Supondo que você é membro do Comitê de Ética de sua Instituição e com base na sua avaliação dos riscos e os benefícios desse projeto, você o aprovaria? Por que ou por que não? Seja específico. Armadilhas Etnográficas de “Ser Nativo” Quanto mais etnógrafos participarem de um cenário, mais difícil será para eles se afastarem e se tornarem mais observadores. Fazer trabalho etnográfico pode se tornar confuso e a imersão no campo etnográfico está continuamente envolvendo relações dinâmicas e em movimento. Na medida em que os etnógrafos se tornam parte do ambiente de pesquisa que estudam, desenvolvem vínculos pessoais e se assumem personagens de tal forma que pode ser difícil para eles restabelecer o papel de pesquisador. Essa superidentificação com seu papel de participante pode pôr seu projeto etnográfico em risco. Saindo do Campo O papel particular que você assume no cenário pode determinar quão fácil ou difícil será o começo. O final de um projeto pode acontecer para várias razões, como limitações de tempo ou razões pessoais ou econômicas (interrupções imprevistas). Outros fatores podem se originar de acontecimentos adversos no cenário. No entanto, o que muitas vezes ocorre, é que você chega a um ponto de saturação, onde já não encontra novas informações no cenário. Há algumas estratégias de saída que se pode utilizar ao deixar o campo, como previamente informar os membros do setting que a sua estadia é apenas temporária ou informar sobre seu próprio calendário de pesquisa. No processo de pesquisa de campo deve-se estabelecer uma relação de reciprocidade (rapport) entre o pesquisador e o pesquisado. Quando o pesquisador se retira, pode criar uma sensação de perda e abandono para ambos. 13 Métodos Etnográficos Virtuais Existem formas de coleta de dados etnográficos que fazem uso das tecnologias virtuais que ultrapassam o tempo e o espaço reais (ver Hine, 2000, 2005; Dicks, Mason, Coffey, & Atkinson, 2005). Mundos virtuais como Facebook e Twitter, e sites de compartilhamento de mídia tais como o YouTube, Flickr e Instagram criaram espaços de interação que contêm uma fonte rica de dados gerados pelos usuários. Etnografia virtual é a pesquisa que acontece on-line e não envolve a interação face a face. Na realização de etnografias virtuais, o pesquisador enfrenta a questão de como aplicar alguns dos princípios básicos dos métodos etnográficos descritos neste capítulo para um projeto etnográfico online, por exemplo, onde seu estudo está localizado? Em um ambiente on-line pesquisadores devem lidar com limites espaciais mais fluidos. Outra dimensão de projeto de pesquisa importante é a do tempo. A dimensão de tempo de um estudo on-line pode variar de síncrono para assíncrono. Como Coletar e Gerenciar seus Dados Etnográficos? O papel do pesquisador no setting irá determinar quais tipos de dados ele será ou não capaz de coletar. A maioria das decisões deve ser guiada por sua questão de investigação. Caso esteja coletando dados através da observação e participação, a coleta e a análise dos dados devem proceder simultaneamente. Atenção à linguagem: O que está e o que não está sendo dito? Às vezes, o que não está presente é tão importante quanto o que está presente. Dicas para Estudantes Pesquisadores no Campo: Manias comuns que devem ser evitadas O problema de observação etnocêntrica ou a tendência de supor que o que é comum ou verdadeiro em sua própria cultura tem de ser assim para aqueles na cultura de acolhimento (Bacchiddu, 2004, p. 5). Um segundo ponto comum fraco no campo que enfrentam muitos etnógrafos é uma tendência a terminar a entrevista prematuramente e apressar-se julgamento sobre o que ocorre no setting. 14 Mantendo as Notas de Campo Nem todos os etnógrafos concordam sobre a melhor forma de registar as suas observações de campo. Além de registrar o que ocorre no setting através das notas de campo, há outros métodos como o uso de um gravador (audio ou vídeo). Notas de campo servem com auxílio por escrito para os resultados de sua investigação. É importante registrar a data, hora, local e número de página de todas as notas de campo. Há diferentes tipos de notas de campo: Notas instantâneas. Consistem em algumas palavras-chave ou frases para ajudar a lembrar eventos importantes ou ideias que ocorrem enquanto faz suas observações. Descrições grosseiras do setting. Tudo o pode ser lembrado sobre exatamente o que ocorreu no cenário. Certifique-se de gravar, sempre que possível, a vivo em palavras ou frases dos entrevistados, ou como perto de suas palavras como você pode obter. Análise e a Interpretação dos Dados e Teorias se conectam às notas instantâneas que colheu. Certifique-se para não esquecer as observações sensoriais do cenário. Questões Pessoais e Reflexividade. Onde você pode explorar seu próprio posicionamento no processo de investigação. Contabilidade ou Resumo de Memórias. Contabilidade ou resumo dos dados que se reúnem em uma base diária que fornece um breve resumo do que você encontrou e uma breve nota sobre o que você acha que isso significa até agora. Não há nenhuma fórmula perfeita para escrever notas de campo; notas de campo de todos assumem uma vida própria. Lembre-se, pesquisa de campo também pode consistir em documentos que você coletar no campo, e estes também precisam ser analisados. 15 Nora: uma estudante universitária branca de classemédia que está a fazer a observação participante em uma escola carente predominantemente negra que também serve como um centro comunitário local após o horário escolar. Notas de Campo de Nora Campo Nota: número 1 Data: julho Local: Centro comunitário, Cityville Evento: mãe e filha dia Tempo total de observação: 2,5 horas. Reflexões pessoais Descrição do setting Reflexões pessoais Reflexões pessoais - sobre ser uma forasteira Descrição do Ambiente - Foco nas atividades da programação mãe-filha Reflexões pessoais - sendo uma forasteira e observando as interações mãe- filha através do prisma da diferença Dicas para o Iniciante Tomar Notas de Campo Identificar e descrever o campo Iniciar com o foco em um determinado conjunto de interações no ambiente Começar a refletir sobre como a sua presença no cenário está afetando você Que influência você acha que você tem sobre o campo e suas atividades? Analisando suas Anotações de Campo: o quebra-cabeças da análise dos dados etnográficos A análise de dados etnográficos ocorre como uma atividade em andamento – coleta-se dados, pensa-se nisso; coleta-se mais dados, e pensa-se nisso. A coleta e a análise de dados se movem ascendentemente para a criação de significado. Etnógrafos podem usar técnicas quantitativas e análises estatísticas, embora, em geral, esse tipo de análise permaneça secundário à análise qualitativa. 16 Pode-se começar a organizar a história descritiva ao ler sobre o que foi coletado com base em perguntas como essas: O que está acontecendo no cenário? Capturei totalmente o setting social, o layout físico do cenário, sons e conversas? Como coletei as amostras de observações? Como sei que tenho uma boa representação do que se passa no setting? O quanto anotei sobre meu próprio impacto no setting? O que eu percebo como meu efeito lá? Como aqueles no cenário reagiram à minha presença? Parte da análise é organizar as peças descritivas em uma história. A análise (organizar essas peças em uma imagem inteira) leva à interpretação (o retrato do quebra-cabeças). Problemas Comuns de Análise e Interpretação Distrair-se por uma determinada estratégia de análise. Concentrar-se em obter mais peças do quebra-cabeças mas não investir tempo suficiente para estabelecer qualquer vinculação entre elas; Ser muito rápido para categorizar e conectar suas peças e como resultado, sua figura fica distorcida ou incompleta. Fazer grande interpretação sobre o significado de sua figura sem a menor ideia de se o quebra-cabeças está claro ou quais são seus componentes. Pode-se ser sucinto na análise; Prometer mais do que entregou. Deve-se certificar de que respondeu às perguntas que formulou. Conselho final: lembrar que o processo de análise e interpretação vai e volta. Peças do puzzle podem ou não caber e ainda, pertencer a outro quebra- cabeças. O que orienta a montagem do quebra-cabeças é o conjunto de perguntas de investigação. 17 Conclusão O método etnográfico fornece ao pesquisador uma importante janela para a compreensão do mundo social a partir do ponto de vista daqueles que residem nele. As etnografias fornecem ao leitor uma compreensão aprofundada dos acontecimentos acerca dos que habitam um setting. Observação participante é o principal meio de coleta de dados, embora outras formas de coleta de dados como entrevistas, documentos e fotografia também podem ser usadas. A escrita e a análise de notas de campo são características importantes deste método. Análise de dados requer que o pesquisador estar aberto à descoberta, com análise de dados e coleta ocorrendo quase simultaneamente. Interpretação dos dados exige sensibilidade por parte do pesquisador para a variedade de significados múltiplos no cenário e uma tomada de consciência de seu próprio ponto de vista. Embora métodos etnográficos não possam ser utilizados para fazer generalizações amplas sobre um determinado fenômeno social, eles fornecem um contexto importante para a compreensão dos resultados da investigação em grande escala (como as entrevistas). Etnógrafos levam uma variedade de abordagens para observar a realidade social, dependendo de sua disciplina específica e viés teórico. Alguns etnógrafos podem estar mais interessados na mudança social do que outros (etnografia crítica); outros são mais focados em estudar populações que têm sido negligenciadas pela etnografia tradicional, como as mulheres (etnografia feminista). O que caracteriza em comum essas abordagens são a ênfase na interpretação, no significado do ponto de vista daqueles que são pesquisados. 18 8. ESTUDO DE CASO Lynd e Lynd (Middletown, 1929), sociólogos: o objetivo de seu projeto de pesquisa foi estudar de forma sincronizada as tendências entrelaçadas que ocorrem na vida de uma pequena cidade americana (a cidade estudada foi selecionada como tendo muitas características comuns a grandes grupos de comunidades). Procuraram compreender como o crescimento crescente da industrialização na América dos anos 1920 impactou na cidade americana de classe média média. Eles queriam capturar uma imagem da vida em uma cidade americana em transição para uma nova ordem econômica. Os dados foram coletados de 1923 a 1925. Os autores concluíram que, sob muitos aspectos, o trabalho se infiltrou nas vidas dos residentes de Middletown de modo a alterar suas relações familiares, sua vida religiosa e seus níveis de participação comunitária. O que é um Estudo de Caso? Um estudo de caso difere dos métodos de pesquisa revisados nessa obra porque ele não é enfatizado ou identificado como um método de pesquisa. Embora muitas vezes se referira na literatura como um método (ver Yin, 1994), metodologia, projeto de pesquisa e até mesmo paradigma, estas não são as conceituações definidoras da sua essência básica (Simons, 2009; Van Wynsberghe & Khan, 2007). Engajar-se com uma abordagem de estudo de caso é que uma decisão sobre o que está a ser estudado, não uma decisão metodológica, embora também orienta como inquérito continua (Stake, 2005). Pesquisa de estudo de caso é empregada mais comumente na educação, saúde, estudos de gestão, Estudos Organizacionais, Relações Públicas, Serviço Social, História e Sociologia. Emergência de Abordagem de um Estudo de Caso Mesmo uma história do surgimento da pesquisa de estudo de caso estimula o debate. "Casos" são usados em muitas áreas, incluindo medicina, direito e serviço social, e estudo de caso tem sido influenciado por todos estes campos (Gomm et al., 2000). 19 Graebner e Eisenhardt (2004), referem-se ao estudo de caso, como uma estratégia de pesquisa. Alguns sugerem que estudo de caso não é um método ou metodologia, mas um campo expansivo dentro do paradigma qualitativo. O objetivo principal é gerar conhecimento profundo sobre um tópico específico, programa, política, instituição ou sistema para gerar conhecimento e/ou para informar o desenvolvimento de políticas, prática profissional e civil ou ação de comunidade. A única contribuição de uma abordagem de estudo de caso é que fornece para o pesquisador uma compreensão holística de um problema, questão ou fenômeno dentro de seu contexto social. Casos podem ser indivíduos, eventos, programas, instituições ou uma sociedade. Tipos de Metodologias de Estudo de Caso Dependendo do total de perguntas de sua pesquisa e a perspectiva metodológica que guia sua abordagem qualitativa, existem várias razões para a realização de um estudo de caso (ver Yin, 2009): Exploratório. Este tipo de abordagem de estudo de caso permite que os pesquisadores tenham novos insights sobre sua pergunta de pesquisa com o objetivo de formular ideias específicas ou teoriasque podem querer usar mais tarde para testar suas ideias sobre casos semelhantes. Descritivo. Um estudo de caso descritivo é selecionado quando o pesquisador pretende retratar detalhadamente as especificidades de um fenômeno social que não é compreendido e sobre o qual há pouca pesquisa. Explanatória/Causal. Este tipo de estudo de caso é geralmente associado a um estudo de mais quantitativo. Um estudo de caso geralmente se estabelece como um tipo específico de agenda de pesquisa ou um conjunto de hipóteses que o pesquisador quer testar. No entanto, qualitativamente conduzindo um estudo de caso, pesquisadores também podem criar hipóteses provisórias, para testar dados de outro estudo, comparando e contrastando com suas suposições. Podem procurar evidências de casos negativos (que divergem de sua hipótese) como uma maneira de construir a validade para estas ideias através de tentativas e descobertas. 20 Desenho do Estudo de Caso Decidir sobre o tipo de estudo de caso que você quer coletar depende de seus objetivos globais de pesquisa. Robert Stake (1995, 1998) distingue três tipos gerais de estudos de caso: Instrumental Simples. Inquérito aprofundado que focaliza um problema ou preocupação e em seguida, seleciona um caso limitado para ilustrar estas questões. Também pode ser usado para construção de teoria. Intrínseco Simples. A pesquisa centrada sobre o caso em si porque ele representa uma situação incomum ou exclusiva. Coletivo ou Múltiplo. Esta abordagem para amostragem de casos permite ao pesquisador comparar e contrastar os diferentes casos. Aqui o foco é analisar vários casos diversos. Decidir sobre o tipo de estudo de caso que você empregar também envolve a pergunta de qual é o seu caso. É fundamental na condução de um estudo de caso para saber os limites do caso que você está selecionando. Determinar a unidade de análise do seu caso significa que você será alvo de sua análise e conclusões no que respeita à unidade particular. Assim, por exemplo, você pode selecionar uma unidade de estudo de caso de análise para ser um ou mais indivíduos, uma determinada comunidade ou várias comunidades, um grupo social específico, uma organização ou instituição, um evento específico ou tipos de interação social (por exemplo, o comportamento dos casais). Gomm et al. (2000): Oferece uma comparação esquemática de uma abordagem de pesquisa de estudo de caso com experimental e abordagens de pesquisa para pesquisa. A tabela ajuda a esclarecer os parâmetros de pesquisa de estudo de caso. Como você pode estender esta tabela e adicionar uma coluna para a etnografia? Como seria uma etnografia difere de uma abordagem de estudo de caso? Por um lado, os estudos de caso são mais limitados em tempo e no âmbito do inquérito. Muitas vezes, procuram respostas para perguntas muito específicas. Uma 21 etnografia está focada na compreensão de sistemas de crenças e práticas culturais. Um etnógrafo está imerso no campo etnográfico, por um período considerável de tempo para adquirir uma compreensão profunda dos acontecimentos estranhos dentro de uma determinada configuração cultural. Uma coisa que ambas as abordagens têm em comum é que eles podem empregar muito semelhante e vários tipos de métodos de coleta de dados, tais como as observações e entrevistas. Razões para Adotar a Abordagem de um Estudo de Caso Robert Stake (1995, 2000, 2005) argumenta que o principal objetivo do estudo de caso é compreender, de forma significativa e diferenciada, a visão daqueles dentro do caso. Embora o estudo de caso possa ser realizado a partir de qualquer referencial teórico, perspectiva de Stake é alinhada com uma abordagem interpretativa que enfatiza a criação de descrições grosseiras da vida social dos pontos de vista dos participantes para entender o significado de suas perspectivas. Como eu posso generalizar as minhas conclusões de um estudo de caso único? Um mito sobre a investigação de estudo de caso é que não pode fazer recomendações ou até mesmo começar a generalizar as suas conclusões, porque o número de casos utilizado é muito pequeno, muitas vezes apenas um único caso (ver Flyvbjerg, 2006). No entanto este ponto de vista é de generalização estatística que se baseia na utilização de amostras aleatórias representativas para extrapolar as conclusões para a população em geral maior. Este tipo de generalização estatística não visa uma perspectiva qualitativa. O objetivo é ganhar uma compreensão mais complexa e mais rica de dados em profundidade, porém, com intensa exploração de um processo. Yin (2009) fornece um conjunto de maneiras pelas quais os pesquisadores do estudo de caso qualitativamente conduzido podem ganhar confiabilidade em muitas dimensões e assim assumir a validade (credibilidade) para seus resultados de pesquisa global. 22 Abordagem Passo a Passo para a Realização de um Estudo de Caso Passo 1. Determine sua pergunta de pesquisa. O que você quer saber? O que você quer estudar? Por que uma abordagem de estudo de caso é adequada para responder sua pergunta global de pesquisa? Lembre-se que a questão deve estar no centro de qualquer/quaisquer método/s que se escolha. Na formulação de sua pergunta de pesquisa ao escolher o seu estudo de caso, considere as seguintes perguntas: Pretendo testar, ilustrar ou gerar teoria? Viso identificar as fontes ou soluções para os problemas? Que dimensões do meu tópico devem ser descrito que cumprem meus objetivos? Estou explorando um novo tópico ou é uma re-pesquisa? O que estou buscando? Que tipo de estudo de caso será mais benéfico para a minha pesquisa? Passo 2. Revisão da literatura de seu interesse geral de pesquisa Esta etapa é muitas vezes tomada em conjunto com a Etapa 1. Perguntas sobre o trabalho anterior realizado sobre este tema de pesquisa. Que conclusões foram alcançadas? Quais problemas ou contradições ainda precisam de trabalho? Passo 3. Selecione um desenho de pesquisa de um estudo de caso O que quer estudar? Está interessado em indivíduos como seu objeto de estudo? Organizações? O que? Talvez o elemento mais crítico da realização de qualquer estudo de caso é delinear claramente qual é seu caso. Passo 4. Determinar os métodos da coleta de dados Conduzir entrevistas? Obter informações a partir de observações etnográficas? Usar documentos? O que? Estudo de caso é um exemplo perfeito de uma abordagem centrada no problema de pesquisa: métodos são selecionados com base na sua eficácia na coleta de dados sobre as dimensões fundamentais do caso. Passo 5. Analisar e interpretar seus dados de estudo de caso Que tipo de métodos analíticos irá empregar no intervalo de dados em que você coletou que servirão para responder à sua pergunta de pesquisa global? Um estudo de caso pode envolver a coleta de dados qualitativos e quantitativos. 23 Passo 6. Relatar suas descobertas Como escreverá seus resultados de pesquisa global? Até que ponto você fará recomendações de políticas públicas com base em suas conclusões gerais? Como suas descobertas informam a atual pesquisa? Por que realizar a pesquisa de estudo de caso Realização de pesquisas sobre um único ou múltiplos casos permite que o pesquisador alcance um conhecimento profundo sobre o que está acontecendo no que se refere um determinado caso ou um conjunto de casos. Esse processo interativo de comparar, contrastar e interrogar seus resultados de pesquisa de forma contínua fornece ao pesquisador um processo de validação interna de dados. EXEMPLOS DE ESTUDOS DE CASOS Estudo de Caso 1: EM DIREÇÃO A JUSTIÇA SOCIAL EM UMA ESCOLA PRIVADA: O CASO DE ST MALACHY Antecedentes para o Estudo de Caso: Realizado por Martin Scanlan (2010), centra-sena escola primária de St Malachy, privada, católica, urbana, cuja missão é servir a crianças marginalizadas de diversas etnias. Em comparação com as outras quatro católicas urbanas escolas primárias localizadas nas proximidades, distingue- se por estar conseguindo os meios necessários para realizar sua missão de servir sua diversificada população marginalizada. Questão de investigação: O objetivo do autor é compreender como a escola St Malachy é capaz de gerir com êxito os recursos comunitários para melhor atender as necessidades da sua população estudantil, bem como criar um clima escolar que suporta intensamente sua missão de justiça social no que respeita à diversidade em todos os níveis dentro de sua estrutura de escola. A questão específica de pesquisa o autor visa apurar é esta: como uma comunidade de escola particular o promove inclusão como experiências aceleração graus de diversidade através de múltiplas dimensões? (Scanlan, 2010, p. 573). 24 Desenho de Pesquisa: a unidade de análise para este estudo é um estudo de caso instrumental. Métodos de Coleta de Dados: Entrevistas semiestruturadas com dirigentes escolares chave (19 líderes diversificados - administradores, professores, funcionários e voluntários, membros do Conselho St Malachy); Observações de reuniões, aulas e eventos da escola; Documentos do arquivo escolar (ano letivo 2004-2005). O autor também continuou seu diálogo com os líderes da escola via e-mail ou conversas telefônicas subsequentes no decurso do seu projeto de um ano. Análise de Dados: Em sua análise de dados, o autor procurou evidências para apoiar ou desafiar seu quadro teórico inicial que envolveu o que ele denominou de ‘praxis de ensinamentos sociais católicos’. O conceito desse quadro foi retirado do conceito de conscientização de (Paulo) Freire (1973), que descreve como um processo no qual os indivíduos "ao alcançar uma consciência cada vez mais profunda da realidade sociocultural que molda suas vidas e seus estudos, obtêm insights sobre como os líderes escolares formais e informais promovem a inclusividade na medida em que suas experiências na comunidade escolar aceleram graus de diversidade em múltiplas dimensões". Conclusões e Interpretação: O que o autor descobriu mergulhando profundamente na compreensão do funcionamento interno da escola de St. Malachy foi uma confirmação de sua estrutura conceitual inicial. Ele descobriu que o ambiente escolar de St. Malachy foi caracterizado por uma profunda reflexão e ação em sua missão geral e de governança de inclusão. Ele observa que a escola nunca descuidou de suas metas de inclusão. Os líderes da escola refletiram e agiram sobre essa missão, proporcionando ao seu pessoal um desenvolvimento profissional em torno dela. Além disso, a missão da escola foi aprovada com êxito por seus principais líderes e membros da comunidade que foram capazes de obter uma gama de recursos da comunidade para atender às necessidades da população estudantil diversa de St. Malachy. Ao focar em profundidade o sucesso desse estudo de caso de justiça social, o autor foi capaz de identificar os fatores que permitiram a redução de barreiras à prestação de serviços a estudantes marginalizados. O autor conclui que "em St. 25 Malachy as dimensões da missão, desenvolvimento profissional, governança e gestão de recursos emergiram como centrais e enredadas umas com as outras na busca de proporcionar educação aos alunos através aproximação com as dimensões da diversidade" (Scanlan, 2010: pp. 592). Estudo de Caso 2: COMPREENDENDO A FUNÇÃO, O CLIMA E O MANUTENÇÃO DE IRMANDADES NO CAMPUS DE FACULDADE (UM ESTUDO DE CASO HIPOTÉTICO) Antecedentes para o Estudo de Caso: É o primeiro dia de aula, e seu orientador já quer que você comece a planejar um trabalho baseado em uma abordagem de estudo de caso. Parece querer colocar o método antes do problema, mas agora você precisa se perguntar sobre que tipo de problema ou conjunto de problemas podem se prestar a uma abordagem de estudo de caso. Você vai ao seu professor pedir mais esclarecimentos sobre exatamente o que você deve pensar nessa fase do seu projeto. Ela/e diz que os alunos da turma de metodologia de pesquisa devem escolher uma organização no campus como a unidade de análise para o seu estudo de caso. Mais de um mês de aula. Você passa na frente da irmandade mais popular de sua universidade em um passeio pelo campus e se lembra que esta casa particular foi considerada "irmandade do ano" pelo jornal do estudante esse mês. Sua experiência passada com irmandades deixou você um pouco consternado porque uma amiga próximo deixou de falar com você quando se juntou a esta irmandade em particular. Seu sentimento geral é que talvez a vida de ‘irmã’ tenda a excluir os alunos que não fazem parte de sua nova turma de irmandade. Isso parece ser um interessante estudo de caso instrumental em que a irmandade em sua universidade talvez possa lhe dizer algo sobre a vida de irmandade em geral, e os limites da irmandade particular que você está interessado se encaixam nos parâmetros de seu projeto de pesquisa. Você decide colocar seus preconceitos sobre irmandades de lado para descobrir se suas impressões sobre a vida irmandade são confirmadas. Você pode começar seu projetando praticando a reflexividade em torno deste projeto particular, ou seja, pode começar por refletir sobre como seus próprios sentimentos sobre este tópico podem influenciar os dados que você vai coletar e também, como analisar e interpretar esses dados. Nossos valores estão presentes no processo de pesquisa, qualquer tópico 26 em que decidamos nos concentrar. Mesmo que seus sentimentos sobre um determinado projeto de pesquisa sejam inconscientes, eles podem influenciar o processo. Questão de Pesquisa: Uma vez que decidiu estudar irmandades, tentar ler alguma pesquisa sobre como é a vida nesses espaços. Na medida em que se começa a tomar notas e acessar mais da literatura sobre este tópico, várias perguntas de pesquisa podem surgir. Suas perguntas de pesquisa podem derivar de sua própria experiência pessoal, como é o caso com desse projeto hipotético. Depois deve inquirir sobre como uma irmandade socialmente constrói sua missão global de metas que ela transmite para a comunidade universitária. Ao fazer isso, você também está interessado em como esse tipo de construção pode se prestar à sustentabilidade global da irmandade como uma organização ao longo do tempo. Sua unidade de análise é, então, a própria herança. Perguntas sobre a organização: 1. Qual é o clima geral da irmandade como uma organização socialmente construída? 2. Como as irmandades se sustentam ao longo do tempo? Desenho de Pesquisa: Amostra: Você decide selecionar um estudo de caso instrumental. O que torna assim é que ele é selecionado não necessariamente para aprender sobre o funcionamento interno de qualquer irmandade particular (mas que poderia ser um dos objetivos específicos). Em vez disso, o objetivo geral é usar o caso para entender como irmandades em geral funcionam no ambiente da universidade e como eles sustentam a sua existência no campus dessa instituição ao longo do tempo. Métodos de Coleta de Dados: A tabela de métodos de coleta de dados de Yin (2008) - tabela 8.1. - fornece um bom ponto de partida para decidir o tipo de dados que coletará para seu projeto de estudo de caso. Esses dois problemas de pesquisa são complexos e exigirão um bom tempo coletando os dados que pertencem a cada um dos objetivos de pesquisa. Dever começar com uma pergunta para ver quanto tempo leva para reunir informações, realizar a sua análise e interpretação e escrever os seus resultados. Pode usar uma variedade de métodos de coleta de dados. Dados documentais podem ser cópias do jornal estudantil dafaculdade. Pode visitar o site 27 da irmandade para coletar documentos e verificar o clima geral desse espaço examinando o layout do site em si. Por exemplo, o que é mais proeminentemente exibido? O site contém algum depoimento de membros da irmandade ao longo dos anos? Esses tipos de dados podem variar de contas pessoais informais a relatórios mais formais. Contudo, precisa permanecer ciente da validade ou confiabilidade dos dados que você usa. Análise de Dados e Interpretação: Análise e interpretação da pesquisa de estudo de caso ocorre de forma interativa. O pesquisador coleta alguns dados, realiza uma análise para obter o que os dados estão dizendo (análise), e procura entender o que significa (interpretação). Isso serve para construir confiabilidade em relação aos resultados de sua pesquisa e também fornece uma trilha de auditoria do que você fez ao longo do caminho. Para Guba e Lincoln (1981) "para que uma auditoria ocorra, o investigador deve descrever em detalhes como os dados foram coletados, como as categorias foram derivadas e como as decisões foram tomadas ao longo do inquérito". Pergunte a si mesmo se esses diferentes tipos de dados contam a mesma história. Se não, então esses dados são válidos ou apenas contando um aspecto diferente da história? Conclusão: Uma abordagem de estudo de caso conduzido qualitativamente proporciona ao pesquisador social a oportunidade de estudar em profundidade um aspecto limitado do mundo social, quer se trate de um único indivíduo, de um grupo, de uma comunidade ou de um evento. Permite também a exploração de contextos historicamente limitados. As abordagens qualitativamente orientadas para a pesquisa de estudos de caso utilizam uma ampla gama de perspectivas teóricas que privilegiam a obtenção de uma variedade de questões e processos de justiça social cujo objetivo envolve a compreensão profunda da complexidade das experiências vividas e dos processos sociais. O objetivo é obter visões profundas, descobrir, e até mesmo testar, uma gama de impressões emergentes e percepções teóricas. O pesquisador qualitativamente conduzido estudo de caso armazena descrições ricas e detalhadas da vida humana enraizada em um rico contexto social. O pesquisador desenvolve uma gama de métodos de coleta de dados - tanto qualitativos como quantitativos - a serviço da compreensão das experiências vividas e dos processos sociais que compõem um dado espaço delimitado.
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