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HESSE BIEBER caps 7 e 8

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Fichamento em língua portuguesa dos textos 
 
‘ETNOGRAFIA’ e ‘ESTUDO DE CASO’ 
In: HESSE-BIBER, S. N. The practice of qualitative research: engaging 
students in the research process (Capítulos 7 e 8). 3ª ed. Boston College: 
Mar, 2016. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Salvador, BA 
Janeiro/2017
 2 
7. ETNOGRAFIA 
 
Robert Park, um sociólogo urbano, deu a seus alunos o seguinte conselho: 
 
Devem ter dito a você que fosse trabalhar duro na biblioteca, 
acumulando, desse modo, uma massa de notas e uma camada 
abundante de sujeira. Devem ter dito para escolher problemas onde quer 
que você encontre pilhas mofadas de registros rotineiros com base em 
programações triviais preparadas por burocratas cansados e preenchido 
por requerentes relutantes ou por alguém exigente cujo desejo e esforço 
para ajudar as pessoas é considerado irritante, inútil ou balconistas 
indiferentes. Isso se chama "sujar as mãos na pesquisa real". Aqueles 
que aconselham são sábios e honrados; as razões que eles apresentam 
são de grande valor. Mas uma coisa é necessária: observação em 
primeira mão. Sente-se nos salões dos hotéis de luxo e à porta dos 
bordéis; sentem-se sobre as ruas de Gold Coast e na favelas abaladas; 
Sente-se na sala de orquestra e na Star and Garter Burlesque. Em suma, 
senhor@s, vão sujar o assento de sua calça em pesquisa real. 
(McKinney, 1966, p. 71) 
 
 
O que é Etnografia? 
 
A Pesquisa Etnográfica visa obter uma compreensão holística de como 
indivíduos em diferentes culturas e subculturas dão sentido a sua realidade vivida. 
Etnografia: escrita da cultura. 
Etnógrafos: pesquisadores que, imersos nos mundos sociais dos sujeitos de 
suas pesquisas, fornecem descrições do contexto social e atividades quotidianas 
dessas pessoas [...] (Geertz, 1973). Eles fornecem descrições detalhadas das práticas 
cotidianas e os costumes de uma cultura, subcultura ou grupo, muitas vezes, 
coletando artefatos e outros materiais culturais. Gravam e analisam a variedade de 
estruturas sociais dentro de sua configuração, prestando atenção à vida religiosa, 
familiar, política e econômica. 
 3 
Este método é "próximo e pessoal" e geralmente ocorre em ambientes 
naturais (lugares onde das vidas diárias). 
 
Observação participante: ferramenta de pesquisa primária da etnografia e da 
sua prática que requer que o pesquisador viva ou faça visitas extensas ao espaço que 
está estudando, observando e participando das atividades desse lugar. 
A prática sociológica da etnografia: final do século XIX; movimentos de reforma 
social (buscam compreender e prestar assistência às classes mais pobres - Emerson, 
2001). Antes disso, a etnografia dos sociólogos continha uma variedade de métodos 
mistos, da pesquisa de levantamento de observações de campo e entrevista intensiva. 
Um movimento de pesquisa social influencia as primeiras pesquisas etnográficas. 
 
Robert Emerson (etnógrafo): Usa o conceito de trabalho de Booth1: 
Combinação de dados estatísticos, entrevistas e observação direta para acumular 
uma descrição extremamente detalhada e sistemática das vidas de Chicago. 
 
Anderson: Técnica de observação participante em sua pesquisa. 
 
Anderson e Charles Booth: Ambiente urbano. Fazem parte da tradição 
etnográfica. Preocupados com os significados culturais das atividades diárias e dos 
mundos sociais dos participantes. Não estão lá como meros entrevistadores, mas, 
principalmente, estão envolvidos na observação e conversação. Gravam suas 
observações e interações como notas de campo (relatos escritos de suas 
experiências cotidianas no campo), às vezes anotam na hora, mas, geralmente 
escrevem pouco depois de deixar o setting2. Podem utilizar outros métodos como 
entrevistas em profundidade ou grupos de discussão com membros na configuração 
e estão especialmente interessados em documentos que possam lhes dar insights; 
realizam análise de conteúdo para estudar de documentos históricos a artefatos 
culturais. 
O conceito de setting/campo na etnografia difere de acordo com o tipo do 
projeto de pesquisa do pesquisador. Para Anderson, estudar um bar ou vizinhança 
 
1 Charles Booth - “Vida e trabalho do povo em Londres” (1902). 
2 Microambiente de relação interpessoal/Campo de Pesquisa (Campos e Turato, 2009). Fonte: 
<http://www.scielo.br/pdf/rlae/v17n2/pt_19.pdf>. 
 4 
local, o bar ou bairro torna-se o campo. Este tipo de pesquisa é muitas vezes 
conhecido como etnografia urbana. 
 
William Foote Whyte (1943) 
 
Cornerville, bairro americo-italiano no centro da cidade de Boston. Whyte 
buscava compreender as interações sociais que ocorriam dentro dessa comunidade, 
cuja imagem popular (como lugares semelhantes) era de ser desorganizada e 
suspeita, por parte da cultura dominante, especialmente durante a II Guerra Mundial, 
que imaginava que o "morador de favela italiana poderia ser mais dedicado ao 
fascismo e à Itália do que à democracia e aos Estados Unidos" (Gubrium & Holstein, 
1997, p. 20). Ao andar com os moradores locais, Whyte foi capaz de conhecer a vida 
desse bairro do ponto de vista de seus habitantes. 
 
A Etnografia é uma ferramenta útil para a criação de uma imagem em 
profundidade de um campo cultural, particularmente exclusivo de ambiente urbano, 
que exige a presença física do pesquisador a fim de acessar a vida escondida do 
mundo exterior. 
 
Usando uma abordagem etnográfica: quando é apropriado? 
 
A pergunta de pesquisa determina o tipo de método a ser utilizado. Se uma 
pergunta de pesquisa requer um conhecimento profundo do contexto social, da cultura 
dos indivíduos envolvidos, etnografia é um método importante. Métodos etnográficos 
permitem compreender a realidade social na perspectiva dos participantes. Etnógrafos 
perguntam: 
 Como indivíduos vêem seu mundo? 
 Qual é a sua história? 
 Como membros de uma dada cultura entendem um costume ou 
comportamento? 
 
 5 
Perspectiva Etnográfica: conjunto de pressupostos filosóficos ou 
epistemológicos sobre a natureza do mundo social. O trabalho etnográfico baseia-se, 
na maior parte, em uma perspectiva interpretativa ao invés de uma perspectiva 
positivista. O objetivo é explorar e descrever os fenômenos sociais. No entanto, 
alguns etnógrafos podem ser positivistas e empregar métodos quantitativos. 
 
Etnografia Crítica: perspectiva que vai além da descrição e da compreensão; 
postura etnográfica mais ativista - fornece interpretação e perspectiva crítica. 
 
Variedade de abordagens feministas para a etnografia: O trabalho de 
etnografia feminista importante para revelar aspectos "invisíveis" dos papéis das 
mulheres no cenário etnográfico. Um etnógrafo feminista poderia olhar para o estudo 
de Whyte de Cornerville e perguntar, "Onde estão as mulheres neste cenário? Qual é 
a sua história?" 
 
Apesar de Whyte ter feito muito para esclarecer a vida desta comunidade italiana do ponto de 
vista de seus habitantes masculinos, sabemos pouco sobre a vida de mulheres que também 
habitavam esta comunidade italiana. 
 
Como começar? Negociando com o setting da pesquisa 
 
Familiaridade com um ambiente pode impulsionar um indivíduo a ser curioso 
sobre o ambiente que quer pesquisar. Outras vezes, a escolha de uma questão de 
investigação específica pode determinar quais locais de pesquisa são aceitáveis. Às 
vezes você pode precisar selecionar mais de um campo. Vários fatores importantes a 
considerar na escolha de um setting: 
 Você pode realizar pesquisas neste setting? 
 Como acessível é o setting para você como um pesquisador? 
 Você considerou questões práticas de investigação no que se refere uma 
seleção de determinado local, tais como o quão caro será para conduzir a 
pesquisa neste setting? 
 Alguns espaços que à primeira vista parecem serinacessíveis, podem se abrir 
para o indivíduo como resultado de laços de rede específicos que o pesquisador tem 
 6 
com esse cenário; outros locais sobre os quais se poderia pensar ser de fácil acesso, 
podem ser impermeáveis aos forasteiros. Quem é considerado forasteiro, também 
depende do tipo de setting. Por exemplo, algumas comunidades podem restringir tipos 
específicos de indivíduos com base na sua idade, sexo, raça, etnia ou classe social. 
A maioria das pesquisas pode achar que o estudo dessa cultura é inacessível. 
 
O status de homem negro e ex-professor de prisão bem-recebido foi o fator chave que ajudou 
Williams (1996) em ganhar o acesso a casas noturnas como um recurso para seu estudo da 
cultura da cocaína. 
 
Às vezes a seleção de um campo pode depender de questões práticas, tais 
como a economia (quão caro será conduzir a pesquisa neste cenário?), restrições de 
tempo (quanto tempo que você tem que gastar no cenário? Sua pesquisa conflita com 
outras obrigações?) E os potenciais riscos para @ pesquisador@ (por exemplo, risco 
de danos corporais em um cenário onde ocorre atividade ilegal)?. 
Pergunta de pesquisa e locais escolhidos, o próximo passo é negociar o acesso 
para o setting e estabelecer qual o seu papel como etnógrafo nesse cenário. 
 
Obter acesso no setting 
 
Como você ganha acesso a uma comunidade ou grupo é fundamental na 
determinação do tipo de dados, se for o caso, que você será capaz de coletar e como 
difícil ou fácil será o processo. 
Primeiro: precisa pensar sobre como vai obter a permissão de um “comitê de 
ética”, caso haja um no setting. De modo geral, começa-se estabelecendo uma 
conexão pessoal com alguém do setting que possa servir como um elo de ligação para 
alguns membros-chave desse espaço. Deve-se pensar sobre qual a melhor forma de 
estabelecer esse contato. Deve escrever uma carta de permissões? Dar um 
telefonema? Qual tipo de carta? O quanto você deve/pode revelar sobre seu estudo? 
Exemplo de carta informativa que inclui um formulário de consentimento: 
 
 
 
 
 7 
Formulário de consentimento para um projeto etnográfico que exige uma 
componente de entrevista 
 
Prezado participante, 
 
Meu colega e eu somos professores de Sociologia da Faculdade___________________. 
Temos previamente realizado vários estudos sobre a cultura de faculdade, focando a questão 
do consumo de bebidas alcóolicas entre estudantes universitários. Atualmente conduzimos 
um estudo específico sobre os padrões de consumo de bebidas de homens e mulheres 
universitári@s. Sua participação é completamente voluntária e você encerrar sua entrevista a 
qualquer momento. Além disso, todas as informações pessoais serão mantidas estritamente 
confidenciais e qualquer pessoa que não trabalhe diretamente no projeto não terá acesso aos 
seus dados de entrevista. Aqui está um exemplo de algumas das perguntas que estamos 
interessados em fazer: 
 Quais são suas percepções específicas da cultura da faculdade no que diz respeito a 
beber? 
 Que fatores você acha que podem levar a beber excessivamente? 
 Que fatores você acha que podem tornar alguns alun@s mais suscetíveis a beber 
enquanto estiverem na faculdade? 
 Que fatores tornam @s estudantes suscetíveis a beber em excesso? 
Nós acreditamos que esse estudo é uma oportunidade única de dar a sua opinião. Queremos 
saber o que você acha dessas questões, e esperamos publicar nossos resultados. Suas 
opiniões nos ajudarão a formular estratégias para resolver o problema do consumo excessivo 
de bebidas alcoólicas entre estudantes universitários. 
 
Se você tiver dúvidas ou perguntas, por favor sinta-se à vontade para ligar ou enviar um e-
mail. 
 
Obrigad@ 
 
Nome d@ pesquisador@ 
 
Afiliação (Faculdade/Universidade/Laboratório) 
 
Telefone e endereço de e-mail 
 
***************************************************************** 
 
 
 
 
 
 8 
Confirmação e consentimento 
 
Confirmo que concordo em participar do projeto de pesquisa “Atitudes que direcionam 
universitári@s a beber”. Eu entendo a natureza do projeto e concordo com a utilização dos 
resultados, conforme descrita na carta acima. Eu entendo que qualquer material deve estar 
em conformidade com um código de ética profissional. 
 
Assinatura d@ participante: __________________________________________________ 
Nome:__________________________________________________________________ 
Data: 
_______________________________________________________________________ 
 
Os diretores do projeto concordam com as condições estabelecidas no presente formulário 
de consentimento: 
Assinatura d@ Pesquisador@:_______________________________________________ 
Nome:__________________________________________________________________ 
Data: 
_______________________________________________________________________ 
 
 
Os settings muitas vezes contêm porteiros, cuja aprovação é crucial para obter 
acesso e aceitação. 
 Porteiros formais – permissão formal 
 Porteiros informais – posições-chaves 
Locais públicos como cafés, bares, ou lavanderias não são normalmente 
difíceis de acessar. Acesso locais privadas pode ser mais difícil, pois os membros 
podem buscar proteger as fronteiras de seu território e, em alguns casos, manter seus 
assuntos escondidos da vista pública. Se atividades ilegais são uma parte rotineira de 
um setting de interesse, obter o acesso pode ser quase impossível para @ 
pesquisador@ e o seu ingresso pode colocál-@ em perigo. 
Estratégias de acesso: ir "à paisana", estabelecer uma relação com figuras 
centrais que se tornam informantes-chave. 
 
Seu Papel de Pesquisador no setting 
 9 
 Tensão entre se aproximar do setting e manter o papel de pesquisador. 
 Algumas pesquisas podem exigir mais apego e outras, menos apego: 
encontrar equilíbrio entre os dois é fundamental. 
Figura 7.1. Níveis de participação no campo 
 
 
Fonte: Gold, 1958. 
 
O pesquisador pode avançar a partir de cada um desses papéis, movendo-se 
para frente e para trás, no continuum entre observação e participação. Deve-se 
começar como um observador ativo e gradualmente se envolver no campo. Iniciar no 
extremo oposto e esperar que sua presença se torne participação ativa pode manchar 
o relacionamento com os membros do setting. 
 
Observador Ativo: 
 Requer identidade oculta do pesquisador; 
 Não interage com os sujeitos do setting; 
 Observa o setting utilizando dispositivos (como uma câmera de vídeo 
escondida); 
 O pesquisador estuda o ambiente sem interferir em suas atividades 
cotidianas, minimizando assim o viés (ou erro diferencial); 
 10 
 Possui a desvantagem de não permitir ao pesquisador esclarecer 
significados e responder perguntas sobre coisas que não são facilmente 
compreendidas por ele. 
Observador como Participante: 
 
 Movimenta-se ao longo do continuum e mais intimamente no cenário; 
 Requer que o pesquisador revele sua identidade como pesquisador no 
setting, mas, torna-se limitada na medida em que ele se envolve 
ativamente com os membros desse espaço. 
 
Pamela Fishman (1990) analisou as relações de poder através das conversas 
entre três casais na privacidade de suas casas. El@s concordaram em Fishman 
gravar suas conversas. Suas perguntas: 
 
 Como casais interagem uns com os outros na sua vida quotidiana? 
 Como o poder e a autoridade são produzidos e mantidos em um 
relacionamento íntimo? 
 
A presença de Fishman foi invisível, mas, sabida, pois os casais estavam 
cientes pela intromissão de um gravador em suas vidas cotidianas, portanto, na maior 
parte do tempo, o papel do Fishman permanece periférico no cenário de pesquisa. 
 
Participante como Observador 
 
 Participa plenamente das atividades no setting e seus membros sabem 
de sua identidade; 
 Existem graus departicipação no cenário de pesquisa e graus para que 
membros do setting considerem o pesquisador como um membro interno 
desse local. 
 
 
 
 
 11 
Participante Ativo: 
 
 Engaja-se ativamente como membro do setting. 
 Etnógrafos muitas vezes começam como participantes ativos indo "à 
paisana" (participantes do setting não sabem a identidade ou a intenção 
do pesquisador; posição de “enganar” aqueles que estão sob 
observação, para "se passar" por um autêntico membro do setting. 
 
Judith Rollins (1987), escolheu se disfarçar para estudar a situação dos 
trabalhadores domésticos, trabalhando um mês como doméstica. @ pesquisador@ 
se disfarça para se tornar "um dos nativos" 
 
A Ética do Disfarce na Pesquisa Etnográfica 
 
Questões éticas que pesquisadores devem enfrentar seu papel envolve 
disfarce. Aqueles que defendem o disfarce argumentam que certos tipos de pesquisa 
seriam inviáveis se a identidade do pesquisador fosse revelada. 
Laud Humphries (1976) estudou as atividades dos homossexuais masculinos 
que se engajaram em atividades sexuais "ilícitas" em banheiros públicos, usando um 
disfarce de “Watch Queen”3. 
 
Ética do Estudo de Caso: os fins justificam os meios? 
 
Ann Slate, estudante de etnografia de 20 anos, decide se disfarçar e se juntar 
a uma seita religiosa perto de sua faculdade que tem vindo recrutar um número 
crescente de meninas adolescentes. Seu interesse é sobre as seguintes questões: 1. 
que estratégias (se houver) os cultos religiosos utilizam para recrutar adolescentes? 
2. que fatores e/ou rituais de estilo de vida (se houver) servem para sustentar a 
associação dos adolescentes ao culto? 3. Por que alguns adolescentes abandonam o 
culto? 
 
3 1. Gay que não participa ativamente de um ato homossexual, mas assiste de outros. 2. Vigia 
para a polícia (segurança), enquanto outros se envolvem em sexo público. 3. Gay que é muito 
velho para participar de sexo gay, mas ainda gosta de ver os outros. Fonte: 
<http://www.urbandictionary.com/define.php?term=watch%20queen>. 
 12 
O disfarce e a natureza à paisana desse projeto levam a perguntas como: Quais 
são os benefícios da pesquisa, se for o caso? Seja específico. Quais são os riscos 
potenciais para os entrevistados e o pesquisador? Supondo que você é membro do 
Comitê de Ética de sua Instituição e com base na sua avaliação dos riscos e os 
benefícios desse projeto, você o aprovaria? Por que ou por que não? Seja específico. 
 
Armadilhas Etnográficas de “Ser Nativo” 
 
Quanto mais etnógrafos participarem de um cenário, mais difícil será para eles 
se afastarem e se tornarem mais observadores. Fazer trabalho etnográfico pode se 
tornar confuso e a imersão no campo etnográfico está continuamente envolvendo 
relações dinâmicas e em movimento. Na medida em que os etnógrafos se tornam 
parte do ambiente de pesquisa que estudam, desenvolvem vínculos pessoais e se 
assumem personagens de tal forma que pode ser difícil para eles restabelecer o papel 
de pesquisador. Essa superidentificação com seu papel de participante pode pôr seu 
projeto etnográfico em risco. 
 
Saindo do Campo 
 
O papel particular que você assume no cenário pode determinar quão fácil ou 
difícil será o começo. O final de um projeto pode acontecer para várias razões, como 
limitações de tempo ou razões pessoais ou econômicas (interrupções imprevistas). 
Outros fatores podem se originar de acontecimentos adversos no cenário. No entanto, 
o que muitas vezes ocorre, é que você chega a um ponto de saturação, onde já não 
encontra novas informações no cenário. 
Há algumas estratégias de saída que se pode utilizar ao deixar o campo, como 
previamente informar os membros do setting que a sua estadia é apenas temporária 
ou informar sobre seu próprio calendário de pesquisa. No processo de pesquisa de 
campo deve-se estabelecer uma relação de reciprocidade (rapport) entre o 
pesquisador e o pesquisado. Quando o pesquisador se retira, pode criar uma 
sensação de perda e abandono para ambos. 
 
 
 
 13 
Métodos Etnográficos Virtuais 
 
Existem formas de coleta de dados etnográficos que fazem uso das tecnologias 
virtuais que ultrapassam o tempo e o espaço reais (ver Hine, 2000, 2005; Dicks, 
Mason, Coffey, & Atkinson, 2005). Mundos virtuais como Facebook e Twitter, e sites 
de compartilhamento de mídia tais como o YouTube, Flickr e Instagram criaram 
espaços de interação que contêm uma fonte rica de dados gerados pelos usuários. 
Etnografia virtual é a pesquisa que acontece on-line e não envolve a interação face a 
face. 
Na realização de etnografias virtuais, o pesquisador enfrenta a questão de 
como aplicar alguns dos princípios básicos dos métodos etnográficos descritos neste 
capítulo para um projeto etnográfico online, por exemplo, onde seu estudo está 
localizado? Em um ambiente on-line pesquisadores devem lidar com limites espaciais 
mais fluidos. Outra dimensão de projeto de pesquisa importante é a do tempo. A 
dimensão de tempo de um estudo on-line pode variar de síncrono para assíncrono. 
 
Como Coletar e Gerenciar seus Dados Etnográficos? 
 
O papel do pesquisador no setting irá determinar quais tipos de dados ele será 
ou não capaz de coletar. A maioria das decisões deve ser guiada por sua questão de 
investigação. Caso esteja coletando dados através da observação e participação, a 
coleta e a análise dos dados devem proceder simultaneamente. Atenção à linguagem: 
O que está e o que não está sendo dito? Às vezes, o que não está presente é tão 
importante quanto o que está presente. 
 
Dicas para Estudantes Pesquisadores no Campo: Manias comuns que devem 
ser evitadas 
 
O problema de observação etnocêntrica ou a tendência de supor que o que é 
comum ou verdadeiro em sua própria cultura tem de ser assim para aqueles na cultura 
de acolhimento (Bacchiddu, 2004, p. 5). 
Um segundo ponto comum fraco no campo que enfrentam muitos etnógrafos é 
uma tendência a terminar a entrevista prematuramente e apressar-se julgamento 
sobre o que ocorre no setting. 
 14 
Mantendo as Notas de Campo 
 
Nem todos os etnógrafos concordam sobre a melhor forma de registar as suas 
observações de campo. 
Além de registrar o que ocorre no setting através das notas de campo, há outros 
métodos como o uso de um gravador (audio ou vídeo). Notas de campo servem com 
auxílio por escrito para os resultados de sua investigação. É importante registrar a 
data, hora, local e número de página de todas as notas de campo. Há diferentes tipos 
de notas de campo: 
 
Notas instantâneas. Consistem em algumas palavras-chave ou frases para 
ajudar a lembrar eventos importantes ou ideias que ocorrem enquanto faz suas 
observações. 
 
Descrições grosseiras do setting. Tudo o pode ser lembrado sobre 
exatamente o que ocorreu no cenário. Certifique-se de gravar, sempre que possível, 
a vivo em palavras ou frases dos entrevistados, ou como perto de suas palavras como 
você pode obter. 
 
Análise e a Interpretação dos Dados e Teorias se conectam às notas 
instantâneas que colheu. Certifique-se para não esquecer as observações sensoriais 
do cenário. 
 
Questões Pessoais e Reflexividade. Onde você pode explorar seu próprio 
posicionamento no processo de investigação. 
 
Contabilidade ou Resumo de Memórias. Contabilidade ou resumo dos dados 
que se reúnem em uma base diária que fornece um breve resumo do que você 
encontrou e uma breve nota sobre o que você acha que isso significa até agora. 
 
Não há nenhuma fórmula perfeita para escrever notas de campo; notas de 
campo de todos assumem uma vida própria. Lembre-se, pesquisa de campo também 
pode consistir em documentos que você coletar no campo, e estes também precisam 
ser analisados. 
 15 
Nora: uma estudante universitária branca de classemédia que está a fazer a 
observação participante em uma escola carente predominantemente negra que 
também serve como um centro comunitário local após o horário escolar. 
 
Notas de Campo de Nora 
 
Campo Nota: número 1 
Data: julho 
Local: Centro comunitário, Cityville 
Evento: mãe e filha dia 
Tempo total de observação: 2,5 horas. 
 Reflexões pessoais 
 Descrição do setting 
 Reflexões pessoais 
 Reflexões pessoais - sobre ser uma forasteira 
 Descrição do Ambiente - Foco nas atividades da programação mãe-filha 
 Reflexões pessoais - sendo uma forasteira e observando as interações mãe-
filha através do prisma da diferença 
 
Dicas para o Iniciante Tomar Notas de Campo 
 Identificar e descrever o campo 
 Iniciar com o foco em um determinado conjunto de interações no 
ambiente 
 Começar a refletir sobre como a sua presença no cenário está afetando 
você 
 Que influência você acha que você tem sobre o campo e suas 
atividades? 
Analisando suas Anotações de Campo: o quebra-cabeças da análise dos dados 
etnográficos 
 
A análise de dados etnográficos ocorre como uma atividade em andamento – 
coleta-se dados, pensa-se nisso; coleta-se mais dados, e pensa-se nisso. A coleta e 
a análise de dados se movem ascendentemente para a criação de significado. 
Etnógrafos podem usar técnicas quantitativas e análises estatísticas, embora, 
em geral, esse tipo de análise permaneça secundário à análise qualitativa. 
 16 
Pode-se começar a organizar a história descritiva ao ler sobre o que foi coletado 
com base em perguntas como essas: 
 O que está acontecendo no cenário? 
 Capturei totalmente o setting social, o layout físico do cenário, sons e 
conversas? Como coletei as amostras de observações? Como sei que 
tenho uma boa representação do que se passa no setting? 
 O quanto anotei sobre meu próprio impacto no setting? O que eu percebo 
como meu efeito lá? Como aqueles no cenário reagiram à minha presença? 
 Parte da análise é organizar as peças descritivas em uma história. A análise 
(organizar essas peças em uma imagem inteira) leva à interpretação (o retrato do 
quebra-cabeças). 
 
Problemas Comuns de Análise e Interpretação 
 Distrair-se por uma determinada estratégia de análise. Concentrar-se em 
obter mais peças do quebra-cabeças mas não investir tempo suficiente 
para estabelecer qualquer vinculação entre elas; 
 Ser muito rápido para categorizar e conectar suas peças e como 
resultado, sua figura fica distorcida ou incompleta. 
 Fazer grande interpretação sobre o significado de sua figura sem a 
menor ideia de se o quebra-cabeças está claro ou quais são seus 
componentes. Pode-se ser sucinto na análise; 
 Prometer mais do que entregou. Deve-se certificar de que respondeu às 
perguntas que formulou. 
Conselho final: lembrar que o processo de análise e interpretação vai e volta. 
Peças do puzzle podem ou não caber e ainda, pertencer a outro quebra-
cabeças. O que orienta a montagem do quebra-cabeças é o conjunto de 
perguntas de investigação. 
 
 
 
 
 17 
Conclusão 
 
O método etnográfico fornece ao pesquisador uma importante janela para a 
compreensão do mundo social a partir do ponto de vista daqueles que residem nele. 
As etnografias fornecem ao leitor uma compreensão aprofundada dos acontecimentos 
acerca dos que habitam um setting. Observação participante é o principal meio de 
coleta de dados, embora outras formas de coleta de dados como entrevistas, 
documentos e fotografia também podem ser usadas. A escrita e a análise de notas de 
campo são características importantes deste método. Análise de dados requer que o 
pesquisador estar aberto à descoberta, com análise de dados e coleta ocorrendo 
quase simultaneamente. Interpretação dos dados exige sensibilidade por parte do 
pesquisador para a variedade de significados múltiplos no cenário e uma tomada de 
consciência de seu próprio ponto de vista. Embora métodos etnográficos não possam 
ser utilizados para fazer generalizações amplas sobre um determinado fenômeno 
social, eles fornecem um contexto importante para a compreensão dos resultados da 
investigação em grande escala (como as entrevistas). Etnógrafos levam uma 
variedade de abordagens para observar a realidade social, dependendo de sua 
disciplina específica e viés teórico. Alguns etnógrafos podem estar mais interessados 
na mudança social do que outros (etnografia crítica); outros são mais focados em 
estudar populações que têm sido negligenciadas pela etnografia tradicional, como as 
mulheres (etnografia feminista). O que caracteriza em comum essas abordagens são 
a ênfase na interpretação, no significado do ponto de vista daqueles que são 
pesquisados. 
 
 18 
8. ESTUDO DE CASO 
 
Lynd e Lynd (Middletown, 1929), sociólogos: o objetivo de seu projeto de 
pesquisa foi estudar de forma sincronizada as tendências entrelaçadas que ocorrem 
na vida de uma pequena cidade americana (a cidade estudada foi selecionada como 
tendo muitas características comuns a grandes grupos de comunidades). Procuraram 
compreender como o crescimento crescente da industrialização na América dos anos 
1920 impactou na cidade americana de classe média média. Eles queriam capturar 
uma imagem da vida em uma cidade americana em transição para uma nova ordem 
econômica. Os dados foram coletados de 1923 a 1925. Os autores concluíram que, 
sob muitos aspectos, o trabalho se infiltrou nas vidas dos residentes de Middletown 
de modo a alterar suas relações familiares, sua vida religiosa e seus níveis de 
participação comunitária. 
 
O que é um Estudo de Caso? 
 
Um estudo de caso difere dos métodos de pesquisa revisados nessa obra 
porque ele não é enfatizado ou identificado como um método de pesquisa. Embora 
muitas vezes se referira na literatura como um método (ver Yin, 1994), metodologia, 
projeto de pesquisa e até mesmo paradigma, estas não são as conceituações 
definidoras da sua essência básica (Simons, 2009; Van Wynsberghe & Khan, 2007). 
Engajar-se com uma abordagem de estudo de caso é que uma decisão sobre 
o que está a ser estudado, não uma decisão metodológica, embora também orienta 
como inquérito continua (Stake, 2005). Pesquisa de estudo de caso é empregada mais 
comumente na educação, saúde, estudos de gestão, Estudos Organizacionais, 
Relações Públicas, Serviço Social, História e Sociologia. 
 
Emergência de Abordagem de um Estudo de Caso 
 
Mesmo uma história do surgimento da pesquisa de estudo de caso estimula o 
debate. "Casos" são usados em muitas áreas, incluindo medicina, direito e serviço 
social, e estudo de caso tem sido influenciado por todos estes campos (Gomm et al., 
2000). 
 19 
Graebner e Eisenhardt (2004), referem-se ao estudo de caso, como uma 
estratégia de pesquisa. Alguns sugerem que estudo de caso não é um método ou 
metodologia, mas um campo expansivo dentro do paradigma qualitativo. 
O objetivo principal é gerar conhecimento profundo sobre um tópico específico, 
programa, política, instituição ou sistema para gerar conhecimento e/ou para informar 
o desenvolvimento de políticas, prática profissional e civil ou ação de comunidade. 
A única contribuição de uma abordagem de estudo de caso é que fornece para 
o pesquisador uma compreensão holística de um problema, questão ou fenômeno 
dentro de seu contexto social. Casos podem ser indivíduos, eventos, programas, 
instituições ou uma sociedade. 
 
Tipos de Metodologias de Estudo de Caso 
 
Dependendo do total de perguntas de sua pesquisa e a perspectiva 
metodológica que guia sua abordagem qualitativa, existem várias razões para a 
realização de um estudo de caso (ver Yin, 2009): 
 
Exploratório. Este tipo de abordagem de estudo de caso permite que os 
pesquisadores tenham novos insights sobre sua pergunta de pesquisa com o objetivo 
de formular ideias específicas ou teoriasque podem querer usar mais tarde para testar 
suas ideias sobre casos semelhantes. 
Descritivo. Um estudo de caso descritivo é selecionado quando o pesquisador 
pretende retratar detalhadamente as especificidades de um fenômeno social que não 
é compreendido e sobre o qual há pouca pesquisa. 
Explanatória/Causal. Este tipo de estudo de caso é geralmente associado a 
um estudo de mais quantitativo. 
 
Um estudo de caso geralmente se estabelece como um tipo específico de 
agenda de pesquisa ou um conjunto de hipóteses que o pesquisador quer testar. No 
entanto, qualitativamente conduzindo um estudo de caso, pesquisadores também 
podem criar hipóteses provisórias, para testar dados de outro estudo, comparando e 
contrastando com suas suposições. Podem procurar evidências de casos negativos 
(que divergem de sua hipótese) como uma maneira de construir a validade para estas 
ideias através de tentativas e descobertas. 
 20 
Desenho do Estudo de Caso 
 
Decidir sobre o tipo de estudo de caso que você quer coletar depende de seus 
objetivos globais de pesquisa. Robert Stake (1995, 1998) distingue três tipos gerais 
de estudos de caso: 
 
Instrumental Simples. Inquérito aprofundado que focaliza um problema ou 
preocupação e em seguida, seleciona um caso limitado para ilustrar estas questões. 
Também pode ser usado para construção de teoria. 
 
Intrínseco Simples. A pesquisa centrada sobre o caso em si porque ele 
representa uma situação incomum ou exclusiva. 
 
Coletivo ou Múltiplo. Esta abordagem para amostragem de casos permite ao 
pesquisador comparar e contrastar os diferentes casos. Aqui o foco é analisar vários 
casos diversos. 
 
Decidir sobre o tipo de estudo de caso que você empregar também envolve a 
pergunta de qual é o seu caso. É fundamental na condução de um estudo de caso 
para saber os limites do caso que você está selecionando. Determinar a unidade de 
análise do seu caso significa que você será alvo de sua análise e conclusões no que 
respeita à unidade particular. Assim, por exemplo, você pode selecionar uma unidade 
de estudo de caso de análise para ser um ou mais indivíduos, uma determinada 
comunidade ou várias comunidades, um grupo social específico, uma organização ou 
instituição, um evento específico ou tipos de interação social (por exemplo, o 
comportamento dos casais). 
 
Gomm et al. (2000): Oferece uma comparação esquemática de uma 
abordagem de pesquisa de estudo de caso com experimental e abordagens de 
pesquisa para pesquisa. A tabela ajuda a esclarecer os parâmetros de pesquisa de 
estudo de caso. Como você pode estender esta tabela e adicionar uma coluna para a 
etnografia? Como seria uma etnografia difere de uma abordagem de estudo de caso? 
 Por um lado, os estudos de caso são mais limitados em tempo e no âmbito do 
inquérito. Muitas vezes, procuram respostas para perguntas muito específicas. Uma 
 21 
etnografia está focada na compreensão de sistemas de crenças e práticas culturais. 
Um etnógrafo está imerso no campo etnográfico, por um período considerável de 
tempo para adquirir uma compreensão profunda dos acontecimentos estranhos dentro 
de uma determinada configuração cultural. Uma coisa que ambas as abordagens têm 
em comum é que eles podem empregar muito semelhante e vários tipos de métodos 
de coleta de dados, tais como as observações e entrevistas. 
 
Razões para Adotar a Abordagem de um Estudo de Caso 
 
Robert Stake (1995, 2000, 2005) argumenta que o principal objetivo do estudo 
de caso é compreender, de forma significativa e diferenciada, a visão daqueles dentro 
do caso. Embora o estudo de caso possa ser realizado a partir de qualquer referencial 
teórico, perspectiva de Stake é alinhada com uma abordagem interpretativa que 
enfatiza a criação de descrições grosseiras da vida social dos pontos de vista dos 
participantes para entender o significado de suas perspectivas. 
 
Como eu posso generalizar as minhas conclusões de um estudo de caso único? 
 
Um mito sobre a investigação de estudo de caso é que não pode fazer 
recomendações ou até mesmo começar a generalizar as suas conclusões, porque o 
número de casos utilizado é muito pequeno, muitas vezes apenas um único caso (ver 
Flyvbjerg, 2006). No entanto este ponto de vista é de generalização estatística que se 
baseia na utilização de amostras aleatórias representativas para extrapolar as 
conclusões para a população em geral maior. Este tipo de generalização estatística 
não visa uma perspectiva qualitativa. O objetivo é ganhar uma compreensão mais 
complexa e mais rica de dados em profundidade, porém, com intensa exploração de 
um processo. 
Yin (2009) fornece um conjunto de maneiras pelas quais os pesquisadores do 
estudo de caso qualitativamente conduzido podem ganhar confiabilidade em muitas 
dimensões e assim assumir a validade (credibilidade) para seus resultados de 
pesquisa global. 
 
 
 
 22 
Abordagem Passo a Passo para a Realização de um Estudo de Caso 
 
Passo 1. Determine sua pergunta de pesquisa. O que você quer saber? 
O que você quer estudar? Por que uma abordagem de estudo de caso é 
adequada para responder sua pergunta global de pesquisa? Lembre-se que a questão 
deve estar no centro de qualquer/quaisquer método/s que se escolha. 
Na formulação de sua pergunta de pesquisa ao escolher o seu estudo de caso, 
considere as seguintes perguntas: Pretendo testar, ilustrar ou gerar teoria? Viso 
identificar as fontes ou soluções para os problemas? Que dimensões do meu tópico 
devem ser descrito que cumprem meus objetivos? Estou explorando um novo tópico 
ou é uma re-pesquisa? O que estou buscando? Que tipo de estudo de caso será mais 
benéfico para a minha pesquisa? 
 
Passo 2. Revisão da literatura de seu interesse geral de pesquisa 
Esta etapa é muitas vezes tomada em conjunto com a Etapa 1. Perguntas sobre 
o trabalho anterior realizado sobre este tema de pesquisa. Que conclusões foram 
alcançadas? Quais problemas ou contradições ainda precisam de trabalho? 
 
Passo 3. Selecione um desenho de pesquisa de um estudo de caso 
O que quer estudar? Está interessado em indivíduos como seu objeto de 
estudo? Organizações? O que? Talvez o elemento mais crítico da realização de 
qualquer estudo de caso é delinear claramente qual é seu caso. 
 
Passo 4. Determinar os métodos da coleta de dados 
Conduzir entrevistas? Obter informações a partir de observações etnográficas? 
Usar documentos? O que? 
Estudo de caso é um exemplo perfeito de uma abordagem centrada no 
problema de pesquisa: métodos são selecionados com base na sua eficácia na coleta 
de dados sobre as dimensões fundamentais do caso. 
 
Passo 5. Analisar e interpretar seus dados de estudo de caso 
Que tipo de métodos analíticos irá empregar no intervalo de dados em que você 
coletou que servirão para responder à sua pergunta de pesquisa global? Um estudo 
de caso pode envolver a coleta de dados qualitativos e quantitativos. 
 23 
Passo 6. Relatar suas descobertas 
Como escreverá seus resultados de pesquisa global? Até que ponto você fará 
recomendações de políticas públicas com base em suas conclusões gerais? Como 
suas descobertas informam a atual pesquisa? 
 
Por que realizar a pesquisa de estudo de caso 
 
 Realização de pesquisas sobre um único ou múltiplos casos permite que o 
pesquisador alcance um conhecimento profundo sobre o que está acontecendo no 
que se refere um determinado caso ou um conjunto de casos. Esse processo interativo 
de comparar, contrastar e interrogar seus resultados de pesquisa de forma contínua 
fornece ao pesquisador um processo de validação interna de dados. 
 
 
EXEMPLOS DE ESTUDOS DE CASOS 
 
Estudo de Caso 1: EM DIREÇÃO A JUSTIÇA SOCIAL EM UMA ESCOLA 
PRIVADA: O CASO DE ST MALACHY 
 
Antecedentes para o Estudo de Caso: Realizado por Martin Scanlan (2010), 
centra-sena escola primária de St Malachy, privada, católica, urbana, cuja missão é 
servir a crianças marginalizadas de diversas etnias. Em comparação com as outras 
quatro católicas urbanas escolas primárias localizadas nas proximidades, distingue-
se por estar conseguindo os meios necessários para realizar sua missão de servir sua 
diversificada população marginalizada. 
 
Questão de investigação: O objetivo do autor é compreender como a escola 
St Malachy é capaz de gerir com êxito os recursos comunitários para melhor atender 
as necessidades da sua população estudantil, bem como criar um clima escolar que 
suporta intensamente sua missão de justiça social no que respeita à diversidade em 
todos os níveis dentro de sua estrutura de escola. 
A questão específica de pesquisa o autor visa apurar é esta: como uma 
comunidade de escola particular o promove inclusão como experiências aceleração 
graus de diversidade através de múltiplas dimensões? (Scanlan, 2010, p. 573). 
 24 
Desenho de Pesquisa: a unidade de análise para este estudo é um estudo de 
caso instrumental. 
 
Métodos de Coleta de Dados: Entrevistas semiestruturadas com dirigentes 
escolares chave (19 líderes diversificados - administradores, professores, funcionários 
e voluntários, membros do Conselho St Malachy); Observações de reuniões, aulas e 
eventos da escola; Documentos do arquivo escolar (ano letivo 2004-2005). 
O autor também continuou seu diálogo com os líderes da escola via e-mail ou 
conversas telefônicas subsequentes no decurso do seu projeto de um ano. 
 
Análise de Dados: Em sua análise de dados, o autor procurou evidências para 
apoiar ou desafiar seu quadro teórico inicial que envolveu o que ele denominou de 
‘praxis de ensinamentos sociais católicos’. O conceito desse quadro foi retirado do 
conceito de conscientização de (Paulo) Freire (1973), que descreve como um 
processo no qual os indivíduos "ao alcançar uma consciência cada vez mais profunda 
da realidade sociocultural que molda suas vidas e seus estudos, obtêm insights sobre 
como os líderes escolares formais e informais promovem a inclusividade na medida 
em que suas experiências na comunidade escolar aceleram graus de diversidade em 
múltiplas dimensões". 
 
Conclusões e Interpretação: O que o autor descobriu mergulhando 
profundamente na compreensão do funcionamento interno da escola de St. Malachy 
foi uma confirmação de sua estrutura conceitual inicial. Ele descobriu que o ambiente 
escolar de St. Malachy foi caracterizado por uma profunda reflexão e ação em sua 
missão geral e de governança de inclusão. Ele observa que a escola nunca descuidou 
de suas metas de inclusão. Os líderes da escola refletiram e agiram sobre essa 
missão, proporcionando ao seu pessoal um desenvolvimento profissional em torno 
dela. Além disso, a missão da escola foi aprovada com êxito por seus principais líderes 
e membros da comunidade que foram capazes de obter uma gama de recursos da 
comunidade para atender às necessidades da população estudantil diversa de St. 
Malachy. 
Ao focar em profundidade o sucesso desse estudo de caso de justiça social, o 
autor foi capaz de identificar os fatores que permitiram a redução de barreiras à 
prestação de serviços a estudantes marginalizados. O autor conclui que "em St. 
 25 
Malachy as dimensões da missão, desenvolvimento profissional, governança e gestão 
de recursos emergiram como centrais e enredadas umas com as outras na busca de 
proporcionar educação aos alunos através aproximação com as dimensões da 
diversidade" (Scanlan, 2010: pp. 592). 
 
 
Estudo de Caso 2: COMPREENDENDO A FUNÇÃO, O CLIMA E O MANUTENÇÃO 
DE IRMANDADES NO CAMPUS DE FACULDADE (UM ESTUDO DE CASO 
HIPOTÉTICO) 
 
Antecedentes para o Estudo de Caso: É o primeiro dia de aula, e seu orientador 
já quer que você comece a planejar um trabalho baseado em uma abordagem de estudo 
de caso. Parece querer colocar o método antes do problema, mas agora você precisa se 
perguntar sobre que tipo de problema ou conjunto de problemas podem se prestar a uma 
abordagem de estudo de caso. Você vai ao seu professor pedir mais esclarecimentos 
sobre exatamente o que você deve pensar nessa fase do seu projeto. Ela/e diz que os 
alunos da turma de metodologia de pesquisa devem escolher uma organização no 
campus como a unidade de análise para o seu estudo de caso. Mais de um mês de aula. 
Você passa na frente da irmandade mais popular de sua universidade em um passeio 
pelo campus e se lembra que esta casa particular foi considerada "irmandade do ano" pelo 
jornal do estudante esse mês. Sua experiência passada com irmandades deixou você um 
pouco consternado porque uma amiga próximo deixou de falar com você quando se juntou 
a esta irmandade em particular. Seu sentimento geral é que talvez a vida de ‘irmã’ tenda 
a excluir os alunos que não fazem parte de sua nova turma de irmandade. 
Isso parece ser um interessante estudo de caso instrumental em que a irmandade 
em sua universidade talvez possa lhe dizer algo sobre a vida de irmandade em geral, e os 
limites da irmandade particular que você está interessado se encaixam nos parâmetros de 
seu projeto de pesquisa. Você decide colocar seus preconceitos sobre irmandades de 
lado para descobrir se suas impressões sobre a vida irmandade são confirmadas. Você 
pode começar seu projetando praticando a reflexividade em torno deste projeto particular, 
ou seja, pode começar por refletir sobre como seus próprios sentimentos sobre este tópico 
podem influenciar os dados que você vai coletar e também, como analisar e interpretar 
esses dados. Nossos valores estão presentes no processo de pesquisa, qualquer tópico 
 26 
em que decidamos nos concentrar. Mesmo que seus sentimentos sobre um determinado 
projeto de pesquisa sejam inconscientes, eles podem influenciar o processo. 
 
Questão de Pesquisa: Uma vez que decidiu estudar irmandades, tentar ler 
alguma pesquisa sobre como é a vida nesses espaços. Na medida em que se 
começa a tomar notas e acessar mais da literatura sobre este tópico, várias 
perguntas de pesquisa podem surgir. Suas perguntas de pesquisa podem derivar de 
sua própria experiência pessoal, como é o caso com desse projeto hipotético. Depois 
deve inquirir sobre como uma irmandade socialmente constrói sua missão global de 
metas que ela transmite para a comunidade universitária. Ao fazer isso, você 
também está interessado em como esse tipo de construção pode se prestar à 
sustentabilidade global da irmandade como uma organização ao longo do tempo. 
Sua unidade de análise é, então, a própria herança. Perguntas sobre a organização: 
 
1. Qual é o clima geral da irmandade como uma organização socialmente 
construída? 
2. Como as irmandades se sustentam ao longo do tempo? 
 
Desenho de Pesquisa: Amostra: Você decide selecionar um estudo de caso 
instrumental. O que torna assim é que ele é selecionado não necessariamente para 
aprender sobre o funcionamento interno de qualquer irmandade particular (mas que 
poderia ser um dos objetivos específicos). Em vez disso, o objetivo geral é usar o 
caso para entender como irmandades em geral funcionam no ambiente da 
universidade e como eles sustentam a sua existência no campus dessa instituição ao 
longo do tempo. 
 
Métodos de Coleta de Dados: A tabela de métodos de coleta de dados de Yin 
(2008) - tabela 8.1. - fornece um bom ponto de partida para decidir o tipo de dados 
que coletará para seu projeto de estudo de caso. Esses dois problemas de pesquisa 
são complexos e exigirão um bom tempo coletando os dados que pertencem a cada 
um dos objetivos de pesquisa. Dever começar com uma pergunta para ver quanto 
tempo leva para reunir informações, realizar a sua análise e interpretação e escrever 
os seus resultados. Pode usar uma variedade de métodos de coleta de dados. Dados 
documentais podem ser cópias do jornal estudantil dafaculdade. Pode visitar o site 
 27 
da irmandade para coletar documentos e verificar o clima geral desse espaço 
examinando o layout do site em si. Por exemplo, o que é mais proeminentemente 
exibido? O site contém algum depoimento de membros da irmandade ao longo dos 
anos? Esses tipos de dados podem variar de contas pessoais informais a relatórios 
mais formais. Contudo, precisa permanecer ciente da validade ou confiabilidade dos 
dados que você usa. 
 
Análise de Dados e Interpretação: Análise e interpretação da pesquisa de 
estudo de caso ocorre de forma interativa. O pesquisador coleta alguns dados, realiza 
uma análise para obter o que os dados estão dizendo (análise), e procura entender 
o que significa (interpretação). Isso serve para construir confiabilidade em relação 
aos resultados de sua pesquisa e também fornece uma trilha de auditoria do que 
você fez ao longo do caminho. Para Guba e Lincoln (1981) "para que uma auditoria 
ocorra, o investigador deve descrever em detalhes como os dados foram coletados, 
como as categorias foram derivadas e como as decisões foram tomadas ao longo do 
inquérito". Pergunte a si mesmo se esses diferentes tipos de dados contam a mesma 
história. Se não, então esses dados são válidos ou apenas contando um aspecto 
diferente da história? 
 
Conclusão: Uma abordagem de estudo de caso conduzido qualitativamente 
proporciona ao pesquisador social a oportunidade de estudar em profundidade um aspecto 
limitado do mundo social, quer se trate de um único indivíduo, de um grupo, de uma 
comunidade ou de um evento. Permite também a exploração de contextos historicamente 
limitados. As abordagens qualitativamente orientadas para a pesquisa de estudos de caso 
utilizam uma ampla gama de perspectivas teóricas que privilegiam a obtenção de uma 
variedade de questões e processos de justiça social cujo objetivo envolve a compreensão 
profunda da complexidade das experiências vividas e dos processos sociais. O objetivo é 
obter visões profundas, descobrir, e até mesmo testar, uma gama de impressões 
emergentes e percepções teóricas. 
O pesquisador qualitativamente conduzido estudo de caso armazena descrições 
ricas e detalhadas da vida humana enraizada em um rico contexto social. O pesquisador 
desenvolve uma gama de métodos de coleta de dados - tanto qualitativos como 
quantitativos - a serviço da compreensão das experiências vividas e dos processos sociais 
que compõem um dado espaço delimitado.

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