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Saúde Coletiva aplicada à Odontologia Prof. Renata Freitas “Saúde é a ausência de doença” “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não a mera ausência de doença” “A paz, a educação, a habitação, a alimentação, a renda, um ecossistema estável, a conservação dos recursos, a justiça social e a equidade são requisitos fundamentais para a saúde” (Carta de Otawa, 1986) “Saúde é resultante da condição de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, acesso e posse de terra e acesso a serviços de saúde” (VIII Conferência Nacional de Saúde, 1986). Pesquisadores investigaram os impactos da dor de dente na vida diária de indivíduos e na sociedade como um todo (REISINE, 1986;1988). Impactos: • número de dias de trabalho perdidos; • qualidade do trabalho realizado; • interrupções no sono; • distúrbios nas atividades sociais, familiares; • restrição alimentar; • limitações na forma de falar. As medidas clínicas de doenças bucais podem ser obtidas na população com relativa facilidade; mas o mesmo não pode ser dito em relação às medidas subjetivas. Obter informações sobre estados ou condição de saúde que possibilitem aos indivíduos comer, falar e socializar sem desconforto ou embaraço não é tarefa simples. Medidas Clínicas Subjetivas Uma importante contribuição para essa finalidade foi proposta pela OMS, quando estabeleceu uma proposição para aferir incapacidade funcional. Classificação Internacional de Deficiência, Incapacidade e Desvantagem Social (WHO, 1980) Envolve medidas de doença, deficiência, limitação funcional, incapacidade, desconforto, e desvantagem social e morte”. Estudo de Smith e Sheiham (1979) envolveu uma população de idosos: “Como muitas pessoas eram portadoras de próteses inadequadas (deficiência), elas apresentavam limitações funcionais que geravam dificuldades para comer e falar (incapacidade), e várias delas gastavam muito tempo nas refeições, ficando embaraçadas e evitando se alimentar junto às crianças. Essas pessoas estavam sendo prejudicadas socialmente por sua deficiência” (LOCKER, 1989). Então, para que servem as medidas e indicadores de desconforto, incapacidade e desvantagem? Essas medidas procuram avaliar quão extensamente os estados de saúde bucal afetam a qualidade de vida dos indivíduos e o bem-estar da sociedade. Procuram, ainda, avaliar se esses estados de saúde bucal repercutem sobre as funções usuais (HOLLISTER e WEINTBRAUB, 1993). O impacto das desordens bucais pode repercutir em outras esferas, além da atividade física e do convívio social. Podem , por exemplo, apresentar um componente de impacto econômico, indicado pelo absenteísmo no trabalho ou na escola, e pelo número de dias de atividade forçada (REISINE; MILLER, 1986, 1989; GÓIS, 2001). A despeito de as doenças bucais serem muito prevalentes, seus sintomas iniciais, em geral, não são severos. Como resultado, muitos indivíduos tendem a não levar em consideração a doença bucal em seus estágios iniciais, considerando suas condições como normais ou sem importância (GIFT; REDFORD, 1992). Assim, os resultados apresentados pelos exames clínicos e pela auto-avaliação de saúde bucal tendem a apresentar alguma similitude apenas em episódios envolvendo dor e comprometimento estético ou funcional. ASSINTOMÁTICO X SINTOMÁTICO O Social Impacto of Dental Disease (SIDD), proposto por Cushing et al. (1986), pode ser considerado o primeiro instrumento específico para odontologia. Envolve 5 dimensões: • aparência (insatisfação com os dentes em relação à aparência de outras partes da face e com a estética bucal) • dor (bucal e facial) • conforto e bem-estar (sensibilidade para alguns alimentos ou com o frio, desconforto com a prótese) • limitação funcional (dificuldade para mastigar, morder e necessidade de mudar a dieta alimentar devido a restrições mastigatórias) • relação social (dificuldade para falar, restrição para sorrir, rir ou beijar). No Brasil, foi desenvolvido o Dental Impact on Daily Living (DIDL) (LEÃO; SHEIHAM, 1995), incluindo 5 dimensões: • conforto (sangramento, impactação alimentar, sensibilidade ao frio) • aparência (satisfação com aparência dos dentes) • dor (bucal e facial) • restrição alimentar (capacidade de mastigação e limitações para morder alimentos) • performance (relacionada a atividades diárias). Locker (1992) aplicou o SOHSI * em idosos canadenses e observou: • Um terço do grupo relatou problemas de mastigação • 37% sentiram dor de dente na boca ou no rosto nas 4 semanas que antecederam a aplicação do questionário • 68% apresentaram outros sintomas bucais. • Um terço desse grupo relatou problemas psicossociais relacionados a dificuldades na alimentação, comunicação e interação social; • Um quinto da amostra indicou elevada preocupação com aspectos de sua saúde bucal. • Questões psicossociais foram relatadas pela amostra como prazer em se alimentar, tempo para completar uma refeição e sensação de desconforto devido à aparência dos dentes ou da boca. Aspectos clínicos Aspectos subjetivos * SOHSI – Subjective Oral Health Status Indicator No Brasil, foram investigados os efeitos das lesões traumáticas em dentes anteriores de crianças de 12 a 14 anos (CORTES et al. 2002), com 68 delas apresentando fraturas não-restauradas envolvendo dentina e 136 crianças sem esse tipo de lesão. As crianças com fraturas dentárias relataram queixas quanto ao impacto em suas vidas de suas condições dentárias em proporção 20 vezes mais elevada que as demais crianças. Estudos recentes utilizando o COHQOL * mostraram que estudos bucais, como cáries e má-oclusão, pode causar impacto na vida diária de crianças de 11 a 14 anos (JOKOVIC et al, 2002). * COHQQL - Child Oral Health Quality of Life Questionnaire Dentre as queixas manifestadas pelas crianças: • halitose (68%) • dor de dente ou na boca (45%) • sangramento gengival (51%) • 52% relatou dificuldades para comer • um quarto (24%) teve problemas para falar • e uma em cada 10 dessas crianças relatou ter problemas para dormir. Os estados emocionais mais mencionados foram: • irritação e frustração (50%), nervosismo (45%) e preocupação em relação ao que os outros pensam sobre seu estado de saúde bucal (45%) • mais de um terço relatou estar envergonhado ou embaraçado devido a sua condição bucal • 20% do grupo indicou preocupação com a possibilidade de ser menos atraente que outras pessoas (JOKOVIC et al, 2002). A maior parte dos estudos sobre impactos de desordens bucais na vida diária de adultos sugere que os mais negativos desses impactos são os causados pela perda dentária. Agravos como cárie de raiz ou doença periodontal apresentam um impacto menor, provavelmente porque são frequentemente assintomáticas e não-visíveis. Definida como uma sensação subjetiva de secura na buca, que pode vir ou não acompanhada de redução de fluido salivar, a xerostomia pode ocorrer associada a doenças sistêmicas ou como efeito colateral de medicamentos utilizados por idosos. O uso dos instrumentos para esse fim foi testado em um estudo envolvendo idosos residentes em um centro comunitário (LOCKER, 1996). Todos os participantes se submeteram a exame clínico para determinar suas necessidades de tratamento e responderam ao questionário OHIP. Dois terços dos participantes acusaram necessidades de tratamento odontológico no exame clínico. Quando essa avaliação foi comparada com o resultado do OHIP, percebeu-se que o questionário identificara apenas 56%dos que tiveram avaliação clínica de necessidades de tratamento. Esse resultado sugere que tais instrumentos não são bons substitutos para o exame clínico, notadamente se o objetivo considerado for a identificação de adultos portadores de doença bucal necessitando de tratamento odontológico. * OHIP - Oral Health Impact Profile Pág. 260 a 267
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