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Material Didático de apoio à disciplina BVE 270 Professor Marcelo Ehlers Loureiro Professor Carlos Martinez 5) Fase Fotoquímica da Fotossíntese A fotossíntese pode ser representada pela seguinte equação: A síntese de carboidratos ((CH2O)n) a partir de dióxido de carbono e água requer um grande consumo de energia. A energia livre para a redução de um mol de CO2 até o nível de glicose é de 478 kJ mol-1, sendo utilizada a energia luminosa para promover essa reação. A fotossíntese pode ser dividida em duas fases que ocorrem simultaneamente (Fig. 1): 1) fase fotoquímica, onde a energia luminosa é transformada em energia química presente nas moléculas de ATP e de NADPH, e 2) fase bioquímica, na qual essa energia produzida nas reações fotoquímicas é utilizada para a fixação do CO2. Anteriormente, essas fases eram denominadas erroneamente de fase clara e fase escura da fotossíntese. O erro do uso desses termos para definir as diferentes fases da fotossíntese, consiste em que ambas as fases só ocorrem na presença de luz, visto que muitas das enzimas participantes nas reações bioquímicas de fixação de CO2 só estão ativas na presença da luz (ver fig. 25). Na fase fotoquímica da fotossíntese participam 4 grandes complexos protéicos principais: 1) fotossistema II (PSII), onde ocorre a decomposição da molécula de água; 2) complexo citocromo b6-f, o qual participa no transporte de elétrons entre o fotossistema I e II; 3) fotossistema I (PSI), onde os elétrons provenientes da água são utilizados para a redução do NADP+; 4) complexo ATP sintase, onde a energia química potencial presente no gradiente protônico entre o lúmen do tilacóide e o estroma é utilizada para a síntese de ATP. Participação na editoração e processamento de imagens: Marcelo Francisco Pompelli, Leonardo Carnevalli Dias CO2 + 2n H2O + Energia Luminosa (CH2O)n + n O2 + n H2O Figura 13: Esquema geral das reações fotoquímicas, apresentando os quatro grandes complexos protéicos envolvidos nas reações fotoquímicas (Adaptado de Buchanan et al., 2000). No Fotossistema II (PSII), ocorre perda de um elétron da clorofila do centro de reação. A perda desse elétron está associada também a atuação do complexo de evolução do oxigênio (CEO), o qual retira 4 elétrons de duas moléculas de água de uma só vez. Cada elétron oriundo da água será usado para restituir aqueles perdidos pelas moléculas de clorofila do centro de reação, re-estabelecendo a capacidade de doação de elétrons daquelas moléculas. As plastoquinonas (PQ) receberão esses elétrons e, ao recebê-los, captarão dois prótons do estroma, liberando-os no lúmen, quando da liberação dos mesmos elétrons ao complexo citocromo b6f (Cit. b6f). Esses elétrons serão então doados à plastocianina, a qual os transportará ao fotossistema I (PSI) , repondo os elétrons perdidos pelas clorofilas do centro de reação desse fotossistema, quando excitadas pela luz. Esses elétrons são doados pelo PSI à ferredoxina (Fdx), a qual então, através da enzima Ferredoxina-NADP+ oxidoredutase (FNR), fará a redução do NADP+ a NADPH. A decomposição da água liberará 4 prótons no lúmen, que, somados a mais quatro prótons transportados pelas plastoquinonas (quando do transporte de 4 elétrons advindos da quebra daquelas moléculas), gera uma energia química potencial presente neste gradiente eletroquímico de prótons. O gradiente de prótons será utilizado pela ATP sintase, podendo gerar 3 ATP a partir desses 8 prótons liberados no lúmen. Assim, a decomposição de duas moléculas de água, e o transporte de seus quatro prótons, envolvendo os dois fotossistemas, poderão gerar 2 moléculas de NADPH e 3 moléculas de ATP. 5.1 Estrutura dos Complexos Protéicos Envolvidos nas Reações Fotoquímicas Em resumo, a etapa fotoquímica começa com a absorção de energia luminosa pelos dois sistemas coletores antena LHCII e LHCI, associados respectivamente aos fotossistemas II (PSII) e I (PSI). A captura da energia luminosa possibilita a transferência de elétrons da molécula de água até o NADP+ , com a formação de NADPH. A foto-oxidação da molécula de água e o transporte de elétrons permitem a criação de um gradiente de prótons entre o lúmen do tilacóide e o estroma do cloroplasto. Esse gradiente eletroquímico de prótons permite a síntese de ATP, via complexo ATP-sintase. A etapa fotoquímica resulta então, em produção de poder redutor (NADPH), liberação de oxigênio (subproduto da dissociação da molécula da água), e formação de ATP por meio do complexo ATP-sintase. O ATP e NADPH são utilizados no Ciclo de Calvin, onde o CO2 será fixado e reduzido. Como pode ser observado na fig. 13, são quatro os complexos protéicos envolvidos nas reações fotoquímicas da fotossíntese. Esses complexos diferem quanto as proteínas que os compõem, bem como sua função. 5.1.1 Fotossistema II (PSII) Fotossistema II é um complexo composto de mais de 15 polipeptídeos. Entre os seus principais componentes, poderíamos destacar: a) O centro de reação P680 , o qual contém uma molécula especial de clorofila a que atua como doador primário de elétrons; b) A feofitina, que é uma molécula de clorofila a modificada (2 átomos de H ao invés do átomo central de Mg), e que atua como aceptor primário de elétrons; c) A plastoquinona QB, quinona especial de plastídeo, que transporta elétrons da QA até o complexo citocromo b6 /f ; d) O doador secundário de elétrons Z (resíduo de tirosina da proteína D1), que transfere elétrons da molécula da água até o P680. e) A proteína D2 mantém ligada à sua estrutura a plastoquinona QA, que transfere elétrons da feofitina até a QB. Recentes evidências mostram que o heterodímero D1 / D2 também mantém ligado o complexo de oxidação da molécula de água (complexo que evolui oxigênio, CEO) (Figura 14). Figura 14: Estrutura do fotossistema II, apresentando as suas proteínas constituintes, centro de reação e o complexo de evolução de oxigênio (CEO), indicado no esquema pelas letras MSP. Ligados às proteínas do CEO, existem quatro átomos de manganês, os quais servem como “fontes” temporárias de elétrons. A reação de decomposição da água por esse complexo, utiliza como substrato, duas moléculas de água simultaneamente, retirando os quatro elétrons de uma só vez, os quais vão repor as perdas dos átomos de manganês. Esses elétrons irão, posteriormente, recompor os elétrons perdidos pela clorofila do centro de reação do fotossistema II. Somente após a retirada dos quatro elétrons do CEO, é que uma nova foto- oxidação da água pode ocorrer. Esse processo é dependente da perda de elétrons pela clorofila e, sendo assim, ocorre somente na presença de luz. Em resumo, no Fotossistema II, a molécula de água é oxidada liberando oxigênio e os elétrons gerados permitem a redução da plastoquinona. Na oxidação de duas moléculas de água, são removidos 4 elétrons, gerando-se uma molécula de oxigênio molecular(O2) e 4 íons hidrogênio. 5.1.2 Complexo Citocromo b6/f O complexo citocromo b6 /f é formado por quatro diferentes polipeptídeos, o citocromo b6 , o citocromo f, uma proteína que contém ferro-enxofre (2Fe-2S) e um quarto polipeptídeo chamado de polipeptídeo IV, de função ainda desconhecida. Em resumo, o complexo citocromo b6 / f transfere elétrons da quinona reduzida (PQH2) até a plastocianina, que é uma proteína periférica móvel que contém cobre e que tem como principal função transferir elétrons do citocromo b6/f até o P700 ,centro de reação do Fotossistema I. O citocromo b6/f também participa no transporte cíclico de elétrons, um fenômeno denominado de Ciclo Q (Q de quinona), doando e recebendo os elétrons da plastoquinona. Esse processo também ocorre na cadeia de transporte de elétrons mitocondrial, no entanto nesta há outro complexo protéico envolvido. 5.1.3Fotossistema I (PSI) O Fotossistema I é formado por um complexo multiproteíco que mantém ligados vários transportadores de elétrons. O centro de reação é energizado por um complexo "antena" de aproximadamente 200 moléculas de clorofila a. A energia é transferida ao P700, dímero de clorofila a. Associados ao PSI se encontram o A0 , monômero de clorofila a, centros Ferro-Enxofre (Fx , FA, FB), que transportam elétrons até a ferredoxina (Fig. 15). O complexo Fotossistema I catalisa a oxidação da plastocianina e a redução da ferredoxina. Figura 15: Estrutura do fotossistema I, mostrando o transporte de elétrons pela plastocianina (doador de elétrons para o PSI) e pela ferredoxina. 5.1.4. Complexo ATP-sintase e síntese de ATP O complexo ATP-sintase é formado de duas partes, o F0 e o F1 . O F0 é composto de 3 tipos de subunidades em diferente número, as proteínas a(1), b(2) e c(9-12). Esses polipeptídeos se encontram inseridos na membrana tilacoidal, formando no seu interior um canal protônico, através do qual ocorre o fluxo de prótons do lúmen até o estroma (fig. 8). O F1 é composto de, pelo menos, 5 polipeptídeos extrínsecos (α, β, γ, δ, ε ), formando uma estrutura esférica, que contém sítios catalíticos para a síntese de ATP (fig. 16). A energia do gradiente eletroquímico de prótons, criado durante o transporte de elétrons entre os fotossistemas, é utilizada para a síntese de ATP, por meio do mecanismo quimiosmótico proposto por Peter Mitchell em 1960. ADP-3 + Pi-2 + H+ =========> ATP-4 + H2O Figura 16: Esquema da ATP Sintase e suas subunidades (adaptado de Buchanan et al., 2000) Segundo esse mecanismo, que valeu o Prêmio Nobel de Química a Mitchel, em 1976, a diferença de concentração de íons e a diferença de potencial eletroquímico através da membrana são as fontes de energia livre utilizada para sintetizar ATP. Mitchell propôs que a energia total disponível para a síntese de ATP, chamada de força próton motora (∆p), resulta da soma do potencial químico de prótons (∆ pH) e do potencial elétrico transmembrana (∆ψ ): ∆ p = ∆ pH + ∆ ψ A elucidação do mecanismo enzimático da síntese do ATP foi realizada por Paul Boyer e John Walker, da Universidade de California (EUA) e do Laboratório de Biologia Molecular, Cambridge (Reino Unido), respectivamente. Estes pesquisadores obtiveram o prêmio Nobel de Química em 1997 por esta descoberta. Boyer e colaboradores decifraram a estrutura tridimensional da ATP sintase. Em resumo, a etapa fotoquímica começa com a absorção de energia luminosa pelos dois sistemas coletores antena LHCII e LHCI, associados respectivamente aos fotossistemas II (PSII) e I (PSI). A captura da energia luminosa possibilita a transferência de elétrons da molécula de água até o NADP+, com redução de NADPH. A foto-oxidação da molécula de água e o transporte de elétrons permitem a criação de um gradiente de prótons entre o lúmen do tilacóide e o estroma do cloroplasto. Esse gradiente eletroquímico de prótons permite a síntese de ATP, via complexo ATP-sintase. A etapa fotoquímica resulta em: • Produção de forte agente redutor, o NADPH; • Liberação de oxigênio como subproduto da dissociação da molécula da água; • Formação de ATP, por meio do complexo ATP-sintase; O ATP e NADPH são utilizados no Ciclo de Calvin. 5.2. Transporte Cíclico de Elétrons nas Membranas dos Tilacóides Até agora apresentamos o transporte acíclico, através do qual os elétrons são retirados da água (fonte dos elétrons), no CEO do PSII, e transportados ao receptor final de elétrons (NADP+), resultando na síntese de NADPH. Os elétrons, quando chegam ao NADP+, não voltam mais à membrana do tilacóide, uma vez que formam NADPH, inexistindo então a possibilidade de um transporte cíclico a partir dessa molécula. No entanto, pode haver um transporte cíclico de elétrons nas reações fotoquímicas. Especialmente sob estresse, o funcionamento do PSII pode ser prejudicado, levando a uma ativação do transporte cíclico de elétrons envolvendo o Fotossistema I. O transporte cíclico de elétrons, que pode ser denominado de “Fotofosforilação cíclica”, não deve ser confundido com o “Ciclo Q” (Q de quinona), assim denominado em analogia a um ciclo semelhante que ocorre nas reações de transporte de elétrons na cadeia de transporte mitocondrial de elétrons, envolvendo ubiquinona. Este Ciclo Q faz parte normal e obrigatória do fluxo de elétrons pelo complexo Citocromo b6f. O ciclo Q envolve o transporte cíclico de elétrons entre a plastoquinona reduzida (ou plastoquinol, ou PQH2) e o complexo citocromo b6f (Fig 17). No sítio de ligação do quinol (Qp), uma molécula de plastoquinol é oxidada e dois prótons são liberados no lúmen. Durante o primeiro desvio de elétrons pelo complexo (A), um elétron liberado do plastoquinol é passado para carregadores de alto potencial para o transporte de elétrons (proteína FeS de Rieske e o citocromo f), chegando então à plastocianina (PC). O outro elétron é desviado dessa rota normal (transporte acíclico), passando para dois tipos de citocromos b (b1 e bh), chegando, finalmente ao sítio de ligação da quinona PQ, denominado na figura como Qn, que reduz uma molécula de quinona para formar uma plastosemiquinona (PQ-2). Durante a oxidação de uma segunda molécula de plastoquinol (B), a rota de transferência de elétrons é idêntica, exceto que o segundo elétron reduz a plastosemiquinona no síton Qn a uma molécula de plastoquinol totalmente reduzida (PQ-2), a qual captura dois prótons do estroma, estando novamente apta para doar elétrons para o mesmo complexo, transportando também prótons para o lúmen. Este ciclo é obrigatório e faz parte normal do transporte acíclico de elétrons, pois ele representa a maneira pela qual o complexo citocromo b6f recebe os elétrons da plastoquinona reduzida (PQH2) e os repassa para a plastocianina. Figura 17: Esquema de um ciclo Q, o qual pode ser dividido em duas fases: (A) desvio de um elétron de uma primeira plastoquinona doadora, e (B) desvio de outro elétron de uma segunda molécula doadora de plastoquinona, resultando na produção de outra plastoquinona reduzida. O ciclo Q aumenta o rendimento quântico das reações fotossintéticas, ou seja, mais prótons são transportados, para um mesmo número de elétrons gerados da foto-oxidação da água. No transporte cíclico de elétrons, às vezes denominado de “Foto-fosforilação cíclica”, a ferredoxina não cede os seus elétrons para o NADP+ através da enzima Ferredoxina NADP Redutase. Ao invés disso, a ferredoxina desloca-se até o fotosistema II e cede seus elétrons para a enzima oxidoredutase da ferredoxina-plastoquinona. Essa enzima só está presente no PSII, e pega os elétrons da ferredoxina e os transfere à plastoquinona. Esta, então, abandona o PSII, captura mais dois prótons do estroma e os “aporta” ao complexo citocromo b6f, descarregando seus elétrons nesse complexo e, dessa forma, permitindo com que mais dois prótons sejam transportados para cada dois elétrons recebidos da ferredoxina. Esse transporte garante a formação de um gradiente protônico, o que permite a síntese de ATP no tilacóide, apesar de não ser produzido NADPH. Para que o transporte cíclico de elétrons resulte em formação de gradiente eletroquímico de prótons, é essencial a participação do Ciclo Q, anteriormente descrito, uma vez que ele envolve a participação do complexo citocromo b6f. Figura 18: Fototransporte cíclico de elétrons. A enzima Fed-PQ oxidoredutase está localizada no fotossistema II, próxima ao sítio de ligação da plastoquinona A importância deste transporte cíclico de elétrons, sob condições fisiológicas normais ainda é um assunto controverso. Contudo há evidências de que a fotofosforilação cíclica deve operar a altas taxas nos cloroplastos das células da bainha de certas plantasC4. A função desse transporte cíclico é, provavelmente, ajustar as taxas de síntese de ATP e NADPH de acordo com a demanda, especialmente aumentando a produção de ATP. 6) Herbicidas que Afetam as Reações Fotoquímicas Vários herbicidas afetam as reações fotoquímicas e estão disponíveis comercialmente. Muitos desses compostos apresentam semelhança estrutural com moléculas transportadoras de elétrons dos fotossistemas, como mostra a Fig. 18. Figura 19: Classes de herbicidas que afetam a fase fotoquímica da fotossíntese. A) Estrutura da Plastoquinona B. B) Herbicidas que afetam o transporte entre a QA e QB (DCMU e Bentazona) ou afetam o transporte de elétrons entre FS1 e Fd (Paraquat). Esses herbicidas apresentam como mecanismo de ação, sua ligação a um dos componentes dos fotossistemas, impedindo o transporte normal dos elétrons, como esquematiza a figura 20. Figura 20: Esquema do modo de ação dos herbicidas que afetam as reações fotoquímicas Esses herbicidas podem apresentar certa seletividade, como por exemplo, as atrazinas, as quais não afetam plantas como o milho e o sorgo. A razão para esta seletividade baseia-se em pequenas diferenças na seqüência de aminoácidos da proteína D1, na região peptídica a qual liga a quinona B e a atrazina. Nessas plantas a quinona B liga-se normalmente, mas não ao herbicida. O uso contínuo (por várias décadas) desse produto no cultivo de milho no cinturão do milho nos EUA (Corn Belt) tem levado a uma pressão evolutiva que resultou na seleção de mutantes em alguns aminoácidos das proteínas D1, em várias plantas daninhas, resultando na seleção de populações resistentes nesta área de plantio. Com exceção do paraquat, a maioria dos herbicidas afeta o transporte entre o PSII e o complexo citocromo b6/f. O paraquat retira os elétrons do fotossistema I, competindo com a ferredoxina. O efeito herbicida do paraquat se deve a este levar a uma rápida produção de radicais superóxido (O2-). A produção desse radical é tão rápida, que esse herbicida é utilizado inclusive como dessecante, de forma, por exemplo, a antecipar a colheita de alguns produtos agrícolas. 7) Ciclo de Calvin (redução do CO2) A segunda fase da fotossíntese é a fase bioquímica, composta pelo Ciclo de Calvin, o qual pode ser subdividido em três fases: 1) fixação do C02 pela Rubisco, gerando duas moléculas de ácido 3-fosfoglicérico, a partir de uma molécula de ribulose 1,5-bisfosfato (Fig. 20); 2) redução, envolvendo duas reações químicas, pelas quais as duas moléculas de ácido 3-fosfoglicérico serão transformadas em duas trioses (gliceraldeído 3-fosfato) (Fig. 21) e, 3) regeneração, na qual serão envolvidas 5 moléculas de trioses para regenerar três moléculas de ribulose 1,5-bisfosfato (RuBp), dando continuidade ao ciclo (Fig. 22). Figura 20: Primeira fase do Ciclo de Calvin. A enzima Rubisco (Carboxilase da ribulose 1,5 bisfosfato), enzima mais abundante na natureza, pode promover dois tipos de reação: a reação carboxilativa, normalmente predominante, e a reação de oxigenação. A enzima Rubisco é uma proteína abundante nas folhas (praticamente 50% da proteína solúvel total das folhas) sendo a enzima mais abundante do planeta, e composta de 8 subunidades grandes e 8 subunidades pequenas. O gene que codifica as subunidades grandes está localizado no DNA do cloroplasto, enquanto o gene que codifica as subunidades pequenas está localizado no DNA do núcleo. A Rubisco, além de atuar como uma carboxilase, também apresenta atividade de oxigenação. Quando atua com o oxigênio, o aceptor ribulose 1,5-bisfosfato (RuBP) produz um PGA e uma molécula de fosfoglicolato. Esse processo é a primeira etapa da rota metabólica denominada de fotorrespiração. Quando se considera a riqueza relativa de O2 na atmosfera terrestre (21% de O2 contra somente 0,036% de C02), pode-se primeiramente pensar que a reação de oxigenação predomina. Contudo a afinidade da Rubisco pelo C02 é cerca de 100 vezes maior do que pelo oxigênio, razão pela qual a reação de carboxilação predomina sobre a de oxigenação. Figura 21: Esquema das reações componentes da fase de redução do ciclo de Calvin. É nessa fase que a energia gerada na fase fotoquímica é utilizada, produzindo trioses ricas em energia (3-fosfogliceraldeído). Para que ocorra uma fase de regeneração, serão necessárias seis moléculas de trioses, as quais serão sucessivamente condensadas em moléculas intermediárias, de número variável de carbonos, até que sejam formadas três moléculas de RuBP (fig. 22). Considerando a ocorrência de 3 reações de carboxilação, 6 reduções serão necessárias, gerando então 6 trioses (fig. 22). Dessas 6 trioses geradas, 5 serão utilizadas na fase da regeneração do Ciclo de Calvin, enquanto que uma triose poderá então ser utilizada para a síntese de sacarose e de amido (fig. 23). Essa “sexta” molécula de triose (a qual contém 3 carbonos), representa então o produto líquido da fixação de três moléculas de CO2. Figura 22: Esquema simplificado do Ciclo de Calvin, considerando a ocorrência de três carboxilações. ATP e NADPH são consumidos na fase de redução e ATP também é utilizado ao final da fase de regeneração. Figura 23: Síntese de sacarose e amido. A triose fosfato pode ser desviada para o citosol, onde será utilizada para a síntese de sacarose, ou permanecer no cloroplasto, sendo utilizada na síntese de amido primário. Tais desvios dependerão do funcionamento do trocador triose / Pi, presente na membrana interna do cloroplasto. 8) Regulação do Ciclo de Calvin A regulação do ciclo de Calvin tem como uma de suas funções evitar a formação de ciclos fúteis, como por exemplo, a síntese e degradação da frutose-1,6-bisfosfato, que resultaria em um gasto adicional de ATP. Uma outra função é a manutenção de concentrações adequadas de intermediários, como eritrose e sedoheptulose, que devem ser suficientes para garantir a regeneração da Ribulose-1,5-bisfosfato. O esquema abaixo mostra detalhes da ativação da rubisco. Figura 25: Esquema da regulaçao da Rubisco pela enzima Ativase da Rubisco e pela carbamilação associada aos sinais fotoquímicos. Durante a noite a RuBP se encontra em alta concentração dentro do cloroplasto, e liga-se a um sítio regulatório da Rubisco (sítio esse diferente do sítio catalítico da enzima). A ligação da RuBP nesse sítio evita a ativação da Rubisco pelo processo de carbamilação. O papel da enzima Ativase da Rubisco, é retirar essa molécula RuBP desse sítio alostérico, permitindo então que a carbamilação prossiga. As reações de carbamilação só ocorrem Figura 24: Esquema mostrando simplificademente as diversas fases do Ciclo de Calvin. Somente duas entre doze trioses formadas estarão disponíveis para a célula utilizar em suas reações biossintéticas, para formar um açúcar de seis carbonos, resultando em ganho de matéria orgânica. Para a fixação de 6 CO2 são necessários 12 NADPH e 18 ATP. durante o dia e são uma forma pela qual sinais da ocorrência de níveis significantes das reações fotoquímicas regulam a ativação do Ciclo de Calvin. Assim, nas reações fotoquímicas, ocorrerá um grande transporte de prótons do estroma para o lúmen do tilacóide. Isso levará a uma redução da concentração de prótons no estroma (e a 1ª reação da carbamilação), onde o grupo amino do resíduo aminoácido da serina da Rubisco é desprotonado. Paralela ao intenso transporte de prótons para dentro do lúmen, um transporte de Mg+2 em direção contrária ocorrerá, do lúmen para o estroma, duplicando a concentração de magnésio no estroma. O aumento da concentração de íons magnésio permite então a carboxilação do grupo amino do resíduo de serina, ligando-se o magnésio a esse novo carbono introduzido. Note que a carbamilaçãoocorre em um aminoácido diferente daqueles do sítio ativo da Rubisco. Com a ocorrência das reações fotoquímicas um alto nível de ferredoxina reduzida é encontrado no estroma, permitindo a transferência de seus elétrons para a tiorredoxina, e finalmente, para as enzimas alvo, as quais após sua redução, podem ser ativadas ou inativadas. Entre as enzimas ativadas por esse sistema, encontra-se a ativase da rubisco, a fosfatase da frutose 1,6-bisfosfato, a fosfatase da sedoheptulose-1,7-bisfosfato, a fosforibulocinase, e a desidrogenase do 3-PGA. Assim, essas enzimas também só estarão ativas durante o dia. A função dessa ativação das enzimas somente durante o dia, tem como objetivo evitar a ocorrência de ciclos fúteis de síntese e degradação de alguns intermediários do Ciclo de Calvin (p.ex., síntese e degradação da Frutose 1,6 bisfosfato, o que levaria ao desperdício de ATP). Figura 26: Sistema ferredoxina-tioredoxina de regulação da atividade de algumas das enzimas do Ciclo de Calvin. A ação em conjunto desses diferentes mecanismos de regulação do Ciclo de Calvin pela luz resulta na atividade de várias enzimas, somente durante o período diurno. Assim não ocorre carboxilação, mas também não ocorre redução nem regeneração, preservando-se à noite razoável quantidade de intermediários desse ciclo, de forma que ele, quando do início de um novo período diurno, possa rapidamente ocorrer em altos níveis.
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