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Trabalho de hist. antiga

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Trabalho
De 
História Antiga
Universidade Federal de Pernambuco
CFCH – Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Alunos: André Souza, Paulo Portela e Roberto Pedro
Professor: José Luciano Cerqueira
Disciplina: História Antiga
A Ilíada Como Fonte Histórica
Sumário
Apresentação...........................................................................
Sobre o autor da Ilíada..................................................
Aspectos geográficos....................................................
Contexto histórico..........................................................
A visão de mundo da obra............................................
O Olimpo e a moral dos deuses..................................
Conclusão..........................................................................
Anexos................................................................................
Bibliografia........................................................................
Perguntas e respostas...................................................
Apresentação
 Esse trabalho tem a finalidade de apresentar os diferentes aspectos da sociedade grega da Antiguidade no período XII e VI a.c. período do apogeu e declínio da civilização micênica e do período da Guerra de Tróia. Analisando a obra épica de Homero “a Ilíada” como fonte documental de estudos sobre essa civilização e sobre a formação da “nacionalidade” grega Antiga.
 Demonstrando diferentes aspectos da cultura e da vida social dos povos gregos, das características e aspectos geográficos, políticos e configuração econômica dessa sociedade. O uso de determinados utensílios durante a Guerra, as contradições da Ilíada, e todos as particularidades da vida religiosa, da moral dos deuses e da concepção de divindade e eternidade por parte dos gregos, a relação com esses deuses, a sua interferência na guerra e a atitude dos homens em relação as tragédias e a construção dos heróis dos poemas épicos e ligação deste na cultura popular. Analisando também a autenticidade e a conjuntura política, o contexto desses escritos e da existência de Homero como verdadeiro autor dessa obra.
Sobre o autor da Ilíada
 
 Muito se fala sobre a existência de Homero, autor da Ilíada e também da Odisseia, como sendo o verdadeiro autor dessas obras. A Homero atribuem-se os dois maiores poemas épicos da Grécia antiga, que tiveram profunda influência sobre a literatura ocidental. Além de símbolo da unidade do espírito helênico, a Ilíada e a Odisseia são fontes de prazer estético e de ensinamento moral. Segundo o historiador grego Heródoto de Halicarnasso (485-420 a.C.), Homero viveu cerca de 400 anos antes de seu tempo, ou seja por volta de 800 a.C. Porém esses dados não batem com a época da Ilíada e da Odisseia, que teria ocorrido por volta de 1180 a.C. Ainda segundo o próprio Heródoto ele havia nascido em algum lugar da Jônia, antigo distrito grego na costa Ocidental da Anatólia, que hoje constitui a parte asiática da Turquia, mas as cidades de Esmirna e Quio também reivindicavam a honra de ter sido o seu berço.
 O que realmente se sabe é que sua existência é muito contraditória, as fontes apresentam inúmeras contradições, e a única coisa que se sabe com certeza é que alguns gregos atribuíam a ele a autoria dos dois poemas. A tradição atribuía também a coleção de 34 Hinos homéricos, dos quais procede a imagem lendária de Homero como poeta cego, mas depois constatou-se serem de fins do século VII a.C. 
 Já posteriormente a sua existência, no século II a.C. os gregos antigos duvidavam da existência de Homero, mesmo alguns gregos atribuindo-lhe esses escritos, não se tinha certeza de que ele realmente era o autor ou não. As várias lendas e a escassa fidedignidade dos escritos foi posta a prova em finais do século VIII d.C. Muitos questionavam além de sua existência, as suas obras, como ele mesmo sendo autor desses escritos (Ilíada e Odisseia). O estudioso alemão Frederic-Auguste Wolf na sua obra “Prolegômeno a Homero” de 1795 afirma que os poemas surgiram espontaneamente da cultura popular, das canções épicas contadas pelo povo grego, o que muitos tentaram abordar e comprovar, levantando teorias e dados que dessem uma base sólida a esse argumento. As diferenças de tom e estilo na abordagem entre a Ilíada e a Odisseia levaram alguns críticos a levantar a hipótese de que teriam sido criadas por autores diferentes. Os unitaristas das epopeias de Homero e adversários de Wolf, demonstraram a unidade artística e lírica dos poemas. 
 Atualmente a maior partes dos estudiosos,analistas e especialistas afirmam que efetivamente os dois poemas de Homero foram compostos por uma única pessoa, que viveu entre o final do século IX ou começo do século VIII a.C., mais essa suposta pessoa não mais do que fez, foi reunir hàbilmente dentro dessas obras os diferentes cânticos e poemas cantados durante séculos pelos ‘aedos’ gregos e que estavam presentes à muito tempo na cultura popular. 
 Todas essas duvidas se constituem na chamada “questão homérica” e permanecem abertas à discussão. Acerca da questão homérica, entre os estudiosos e Gramáticos Alexandrinos, Zenão e Helânico, consideravam ser totalmente improvável que a Ilíada e a Odisseia haverem sido elaboradas por um único autor, já que a Odisseia parece ter sido escritas dois séculos posteriores a Ilíada, segundo eles. Aristarco contemporâneo de Zenão e Helânico, não acreditava numa separação tão grande, ele supunha que algumas partes iniciais do poema foram acrescidas por vários outros autores e seus poemas independentes.
 Os pontos em que há mais concordância dos estudiosos são: a Ilíada e a Odisseia; quase com certeza foram compostos no século VIII a.C., cerca de três séculos após os fatos narrados; foram original escritos em escrita jônica, com numerosos elementos da escrita eólica – o que confirma a origem jônica de Homero; pertenciam à tradição épica oral,pelo menos no que referem as técnicas empregadas, já que existem opiniões divergentes quanto ao emprego ou não da escrita pelo autor. 
 A tese que defende a autoria única baseia-se na afirmação de Aristóteles, de que a Ilíada seria uma obra da juventude de Homero enquanto a Odisseia teria sido composta na velhice, quando o poeta decidiu redigir a segunda obra como complemento da primeira e ampliação de sua perspectiva. Alfred Heubeck afirma que a influência formativa dos trabalhos de Homero modelando e influenciando todo o desenvolvimento da cultura grega foi reconhecida por muitos dos próprios gregos, que consideravam seu instrutor. Quanto a morte de Homero, a versão mais aceita é que teria ocorrido em uma das ilhas Cíclades.
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Aspectos geográficos
 As analises geográficas colocam no foco, a questão econômica, política e física da Grécia Antiga. No período da Ilíada é o mesmo onde começam a ocorrer determinadas mudanças da dinâmica do sistema e das concepções econômicas, com eminente ascensão de uma aristocracia que começava a dominar as terras coletivas, viu se no começo do período homérico a desagregação da sociedade patriarcal e do uso coletivo das terras. 
 O nascimento de uma formação de uma sociedade escravista que se dividia em duas partes; um nascimento de um grupo dominante e explorador das camadas menos favorecidas, proprietário de terras, senhores de escravos e a classe pobre de miseráveis, que sofria privações e restrições, sem direitos acabavam se vendo próximo a situação de escravo, na mais pura condição de mendigo ou explorado. Formando também uma Talossocracia minoica e um avanço da supremacia naval que aparecem de forma significativa, a Ilíada tem como principal foco o contexto do apogeu e declínio da civilização Micênica, ao mesmo tempo, que essas relações de poder e a configuração aristocrata dessa sociedade ainda estivesse em processo de estabelecimento.
 Dentre os séculos VIII e VII a.C a Beócia localizada na região Central da Grécia, experimentou um avanço significativo
da aristocracia local, isso se viu também nas demais partes do Mar Egeu na região leste da Grécia. Pode-se salienta o papel das assembleias populares que cada vez mais pareciam ser dominadas por essa aristocracia, afastando os chefes tribais (Basileus), para instaurar uma Oligarquia, enraizada na detenção de terras por um grupo limitado da sociedade. 
 De grande destaque as contribuições da civilização Minoica para a formação da civilização Micênica. Em torno de 1 450 a.C., a Civilização Minoica experimentou uma reviravolta, devido a uma catástrofe natural, possivelmente um terremoto. Os sítios dos palácios minoicos foram ocupados pelos micênicos em torno de 1 420 a.C. O contexto essencial da Ilíada passava se pelo fim do período micênico e a invasão dos Dórios. Sobre a civilização Micênica, se estabeleceu na ilha de Creta, a maior ilha grega no mar mediterrâneo e situada à sudeste do Peloponeso, onde um dos principais personagens relatos na Ilíada se tornou rei; Agamemnôn que herdou de seu pai Atreu, o reino de Micênia e Argos e o seu irmão Menelau, que herdou o reino de Esparta (que fica na Peloponeso, ao sul da Grécia central). Os dois por serem filhos de Atreu são comumente chamados de Atridas.
 Podemos citar a região da Ática, região de solo fértil, onde habitavam os Jônios que sobreviveram a invasão dórica, que ficava na região central da Grécia continental e na parte oeste, no mar Jônico e o Peloponeso que era uma península ao sul, perto da ilha de Creta no mar Mediterrâneo, berço de Esparta e das cidades estado. 
 O principal ponto da Ilíada é a Guerra de Tróia. Ela se localizava na parte à leste do que hoje se configura o território grego, na Ásia Menor, na região da Anatólia (hoje parte do territorial da Turquia). É provável que a destruição de Tróia tenha sido a marca do fim da civilização micênica, sofrendo a influência da crescente dinâmica econômica das oligarquias, fato observada entre 1230 e 1180 a.C. e esta diretamente relacionado com os relatos de Homero na Ilíada, escrita séculos depois. 
 O fato importante para os aspectos geográficos é a descoberta de Tróia pelo arqueólogo clássico Heinrich Schleimann, alemão e autodidata, ele, um entusiasta dos estudos da arqueologia, partiu a direção a Anatólia em busca das ruínas da Antiga cidade de Tróia e a própria Micênas, em suas pesquisas ele escavou o sítio arquelógico de Hirsalik próximo à costa, sudoeste do Monte Ida, revelando várias cidades construídas em sucessão a cada uma, uma cidade sobre várias cidades, em camadas. Uma das cidades descobertas por Schleimann, chamada Troia Tróia VII, que é reconhecida pelos arqueólogos como sendo a Tróia homérica. 
 Tróia, localizada próximo ao Mar Egeu, era conhecida por seus ricos ganhos do comércio portuário com o leste e o oeste, roupas pomposas, produção de ferro e maciças muralhas de defesa. 
 Ela foi fundada por Dardano, governada mais tarde por Enéias e posteriormente entregue a Tros (daí deriva o nome ‘Tróia’). Terra dos reis da Ilíada, Príamo e seus filhos, París autor do rapto de Helena, a rainha de Esparta, e Heitor, o guerreiro lendário e futuro sucessor de Príamo no trono de Tróia. O domínio troiano no comércio de mercadorias da Anatólia no Egeu, talvez seja a principal causa da Guerra de Tróia, esse domínio foi trocado pela dinastia heracleida em Sardes que governou por 505 anos até a época de Caudales, antes da invasão de vários povos, dentre eles os persas. 
 Na Grécia, encontrar um solo bom para plantar era muito difícil, talvez daí surja a importância do povo autóctone na implementação das técnicas de agricultura, mais avançadas, isso se deve muito pela assimilação desses pelas demais culturas, em especial os aqueus, que instituíram a essa civilização um novo caráter artístico cultural e econômico. 
 Além de questões econômicas, os povos da Grécia passavam por um processo transformação pela invasão Dória, onde todas essas evoluções culturais e sociais se perderam, a escrita grega agora é substituída pela massa analfabeta que sequer tinha o domínio do que falava, é de muito valia ressaltar o papel das demais civilizações, os eólios e o jônicos na construção dessa civilização grega da antiguidade. 
 Os povos autóctones trouxeram consigo essa nova dinâmica econômica, o uso de caráter mais artístico da arte, o papel do campo e de adaptação da agricultura as necessidades da população. As condições climáticas da Grécia Antiga remontam ao típico clima Europeu, Invernos com frio, neve e temperaturas abaixo de zero, um ciclo de chuvas regular que permitia o plantio numa determinada época, e grandes períodos de aridez no verão, boa parte do solo grego, é pedregoso e de baixa produtividade, em algumas áreas o relevo e recortado por montes e colinas de cascalho e pedras, em áreas litorâneas estão situados alguns paredões de rocha calcaria. 
 A Grécia Antiga ou Hélade localizava-se na bacia do Mar Egeu, abrangendo o território europeu ao sul da Península Balcânica, as ilhas dos mares Egeu e Jônio e a costa ocidental da Ásia Menor. Daí se espalhou pelas costas dos mares Negro e Mediterrâneo, atingindo o sul da Itália e da França e a costa da Líbia no norte da África, sendo o mar Mediterrâneo sua principal via de comunicação. A civilização grega ou helênica começou a existir por volta de 1200 a 1100 a.C., com a chegada dos dórios ao sul da Península Balcânica, conquistando os aqueus que aí habitavam. Anteriormente à chegada dos dórios, existiram na região da bacia do Mar Egeu duas importantes civilizações: a Cretense, na ilha de Creta e a Aqueana ou Micênica, no continente europeu. Essas civilizações conheciam a escrita, utilizavam armas e instrumentos de bronze e tinham agricultura, artesanato e comércio desenvolvidos. 
 Seu solo rico também em mármore, e demais pedras argilosas e de material seco, como o calcário, a sua vegetação típica mediterrânea, é composta por árvores caudalosas e esparsas entre si, sobreviventes ao solo árido, o cultivo de parreiras e oliveiras para a produção de azeite e vinho, havia também espaços para o cultivo de trigo em regiões centrais, onde a terra parecia ter ciclos de produtividade e fertilidade. 
 Por ter um relevo montanhoso a só um quinto da Grécia era habitável, solo pobre em recursos minerais, os rios tem pequenas extensão e pouco volume de água. Essas características isolavam os vários grupos humanos locais, dificultando a comunicação e favorecendo a formação de uma política baseada nas propriedades pequenas e na configuração posterior das Pólis.
 Apesar de seu litoral extenso, a atividade pesqueira só veio em um período tardio, os gregos estavam de “costas para o mar”, a principal preocupação se dava com o aumento da população e a concepção de expansão era necessária, daí se partiu a colonização grega do século VI a.C., pelas várias partes do mediterrâneo e da Ásia Menor, era a busca por terras férteis, esse período conhecido como a Diáspora grega.
 A expansão do eminente comércio marítimo que já chegava a ser notado na Ilíada, também pode ser notado o caráter militar aristocrata dos chefes políticos do período Homérico, a civilização que Esparta iria se configurar, já apresentava traços militares fortes, decisões políticas e estratégias de guerra bem concretizadas. 
 A disseminação da arte no contexto geográfico da Ilída aparece como uma forte influência na mitologia, na produção de ferro e da cerâmica inserida nos contexto de; arte, guerra e heroísmo. A Grécia aprendeu a usar e fabricar e a utilizar as armas de ferro na Ásia Menor, o crescimento das forças produtivas se deu num ritmo bastante acelerado. A Ilíada vem nos mostrar a sociedade marítima e militar grega que apresenta nas pequenas descrições, nas minúcias os principais aspectos geográficos, políticos e econômicos que se passavam nas sociedades.
 É retratado um período de transição da civilização antiga e arcaica a modos de produção e dinâmica dentro de um espaço cada vez mais em expansão. As sociedades que apresentavam uma economia coletiva gradualmente
foram se extinguindo dando espaço a uma sociedade escravista, na fonte lírica de Homero se pode notar os espaços utilizados, o papel social de cada guerreiro e uma sociedade cada vez mais classista.
Contexto histórico
 A versão na forma escrita, tal como se conhece hoje, teria sido feita em Atenas durante o século VI a.C., se bem que a divisão de cada poema em 24 cantos corresponderia aos eruditos alexandrinos do período helenístico. No decorrer desse período, teriam sido introduzidas várias interpolações. Com base nesses dados, todos mais ou menos hipotéticos, deduziram-se alguns dados básicos sobre Homero e sua obra. 
 Tanto a Ilíada quanto a Odisseia apresentaram diversas inconsistências internas, como alusões a técnicas e equipamentos de combate que existiriam em épocas diferentes. Tais inconsistências, porém poderiam ser explicadas pelo fato de o poeta, ter utilizado materiais anteriores e por alguns outros terem sido provavelmente incorporados. 
 Quanto a existência de um autor único para a Ilíada, a mais antiga das obras, argumenta-se que embora seja evidentes a existência de poemas épicos anteriores sobre os mesmos temas, não parece haver existido nenhum de extensão sequer aproximada, nem dotado de tal complexidade estrutural. Tal constatação indicaria a existência de um criador individual que deu uma nova estrutura aos temas tradicionais e integrou-os em sua visão pessoal de realidade.
 Os micênicos são “ancestrais” dos gregos e correspondem à fusão dos povos na região muito antes dos povos indo-europeus e os imigrantes invadirem a Grécia em torno de XVII a.C. Eles possuíam uma cultura bastante esplêndida e controlavam grande parte do Mar Egeu, no momento, e acredita-se que, a partir da descoberta de Tróia no final do século XIX, e após os estudos posteriores arqueológicos,possivelmente invadiram a cidade na Ásia Menor (Tróia) em meados do século XII a.C. No século XII a cultura micênica começou a declinar por várias razões, e finalmente sucumbiu devido a invasão dos dórios, outros povos do norte à atingir a península, em seguida, vêm os séculos de retrocesso, da Idade das Trevas, em que, entre outras coisas, a escrita desaparece (os micênicos tinham um alfabeto linear). 
 Durante todo este período, floresce a poesia oral, os aedos (poetas populares), começam a contar e recontar histórias do seu glorioso passado esse misturavam com ideias e invenções populares. Isto é a mitologia e, em particular, a história de Tróia. Essa história tem provavelmente uma posição real, mas como sabemos, em parte é um produto da invenção poética oral do período. O período da Ilíada retrata a Guerra de Tróia, a maior parte dos gregos admitia que essa guerra, era um evento histórico, porém alguns de seus habitantes concordavam que os poemas de Homero tivessem vários exageros. 
 O historiador grego Tucídides, reconhecido pelo seu método critico, duvidava da grandiosidade da guerra, da quantidade de guerreiros e navios mencionados por Homero, mas considerava que foi um evento que realmente aconteceu.Por volta de 1870, na Europa, os estudiosos da Antiguidade em concordes em considerar as narrativas homéricas (até a descoberta de Heinrich Schliemann).
 Durante o século XX, buscou-se tirar conclusões a cerca da Guerra de Tróia, em textos hititas e egípcios que da datam da provável guerra. Arquivos encontrados foram estudados afim de comprar essa guerra, as “Cartas de Tawagalawa”, um texto hitita datado de aproximadamente 1250 a.C., mencionam o reino de Ahhiyawa (Acaia, a moderna Grécia) que se localizava além do Mar Egeu e controlava a cidade ‘Milliwanda’, identificada como Mileto. Consequentemente nesse texto e em outros, apresentam-se menções a Confederação de Assuwa, uma liga composta por 22 cidades, uma das quais, ‘Wilusa’(Ilios ou Ilium), pode ter sido Troia. Em um documento datado de 1280 a.C, o rei de ‘Wilusa’ é chamdo de ‘Alaksandu’, ou seja Alexandre, que é um dos nome pelo qual Páris é referido na Ilíada.
 Mas sobre o reinado de Arnuwanda III ( 1210-1205 a.C.) os Hititas foram forçados a abandonar as terras que controlaram na costa doEgeu, abrindo espaço para possíveis invasores de além-mar. Nesse momento, a Guerra de Tróia teria sido o ataque de Ahhiyawa (Acaia) contra a cidade Wilusa (ílios) e seus aliados da Confederação de Assuwa. Os trabalhos dos historiadores Moses Finley e Milman Parry procuraram associar a Guerra de Troia com um amplo fluxo migratório micênico, decorrente da invasão dos Dórios no Peloponeso.
 Poderia também haver uma correlação com o ataque ao Egito pelos "povos do mar", nos tempos do faraó Ramsés III. As hiposes levantadas tratam especificamente do período homérico, onde os povos micênicos estavam num momento de transição do apogeu para o declínio, culminando com a invasão dórica. 
 Os mais céticos da guerra glorificada nos poemas de Homero, fixam-se na falta de qualquer registro documental consistente de uma invasão hitita da Anatólia (local de Tróia) por povos advindos do além mar. A questão da historicidade da guerra continua dividindo a opinião dos estudiosos.
 A Ilíada retrata e remete o fim da idade do bronze no mediterrâneo, sendo este segundo a mitologia grega, o período que os deuses criaram e Zeus destruiu. Segundo Pausânias, durante aera dos heróis, todas as armas eram feitas de bronze, ele mesmo se baseou nos escritos deixados por Homero e em artefatos e relíquias preservados até os seus dias, como a lança de Aquiles no santuário de Atena em Phaselis e a espada de Agamemnôn no templo de Asclépio em Nicomedes. 
 Neste período se estabeleceu no Mar Egeu o comércio de metal, principalmente vindo da Ilha de Chipre, onde se estende o período de expansão marítima grega, as bases sociais estavam cada vez mais afastadas entre si, dentro de um contexto militarista da sociedade. Surgia daí o advento e do aperfeiçoamento das técnicas de fundição dos metais, do processo de modulação e dos detalhes, e também da figura do Deus da forja dos metais, Hefesto. 
 Essa obra remete ao contexto social vigente na Grécia antiga, uma população menos ligada aos interesses coletivos e mais interessada e motivos pessoais e individuais, contudo é importante salientar a formação de um conceito social mais restrito as aristocracias, e com a formação de aristocracias ligadas a dominação de terras, exploração de mão de obra, aculturamento dos povos autóctones e da convivência com povos rivais (aqueus e jônicos), além de uma eminente expansão das áreas de cultivo agrícola e de povoamento. O império minoico, substituído mais tarde pelo grego micênico, surgiu graças a este grande comércio. 
 A situação das camadas populares passava diretamente pelas formações de guerras e da dinâmica da economia, os dórios estavam na eminência de uma invasão ao antigo território continental da Grécia, por isso viu nessa expansão uma forma de ampliar o domínio político e do firmamento da civilização Micênica. As disputas e a dinâmica da colonização grega na Anatólia permitiu uma competição entre e povos já estabelecidos com os gregos, a própria Tróia seja o principal exemplo de competição comercial com o mundo grego. 
 A cólera de Aquiles, como se anuncia desde o primeiro verso, é motivo central da Ilíada, epopeia do grego Homero, que inicia a literatura narrativa ocidental. Relato de um dos episódios da Guerra de Tróia, travada entre gregos e troianos, a ação da Ilíada se situa no nono ano depois do começo da guerra, a qual duraria um ano mais, e abarca no conjunto cerca de 51 dias. O título deriva de Ílion, nome grego de Tróia. O poema é construído por 15.693 versos, em 24 cantos de extensão variável. A divisão em cantos foi feita pelos filólogos de Alexandria. 
 A Ilíada narra o drama humano, o do herói Aquiles, filho da Deusa Tétis e do mortal Peleu, rei de Ftia, na Tessália, em torno do fim da guerra dos gregos contra Tróia. Segundo a lenda, a guerra foi motivada pelo rapto de Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau, por Páris, filho do rei
Príamo, de Tróia. Agamêmnon, chefe dos exércitos gregos, arrebatara a Aquiles, o mais valioso dos guerreiros gregos, sua cativa Briseida. Em protesto, Aquiles retirou-se para o acampamento com seus guerreiros, e recusou-se a entrar em combate. É nesse momento que tem início a Ilíada, com o verso “Canto, ó deusa, a cólera de Aquiles”.
 Para apaziguar Aquiles, Agamêmnon envia-lhe mensageiros, com o pedido de que entre na luta. Aquiles recusa-se e Agamêmnon com seus homens entram no combate, os troianos tomam de assalto, as muralhas gregas e chegam até os navios. Aquiles concorda em emprestar a armadura ao seu amigo Pátroclo, que repele os troianos mas é morto por Heitor. Cheio de dor pela morte do amigo, Aquiles esquece a divergência com os gregos e investe contra os troianos, vestido com uma armadura feita por Hefesto, deus das forjas. Consegue recuar para dentro dos muros da cidade todos os troianos, menos Heitor, que o enfrenta, mas aterrorizado pela fúria de Aquiles, tenta fugir.
 Aquiles o persegue e finalmente atravessa-lhe com a lança a garganta, única parte descoberta de seu corpo. Agonizante, Heitor pede-lhe que não entregue o seu cadáver aos cães e às aves de rapina, mas Aquiles nega piedade, e depois de atravessar sua garganta mais uma vez com a lança, ata-o pelos pés a seu carro e arrasta o cadáver em volta do túmulo de Pátroclo. Somente com a intervenção de Zeus, Aquiles aceita devolver o cadáver a Príamo, rei de Tróia e pai de Heitor. O poema termina com os funerais do herói troiano.
 Uma questão muito discutida é o fundo histórico do ciclo da Guerra de Tróia. Possivelmente, sua origem remonta a reminiscências da luta, travada antes da invasão daria, no século XII a.C, entre povos de cultura micênica, como os aqueus, e um estado da Anatólia, o de Tróia. É historicamente comprovada a existência de estabelecimentos micênicos na Anatólia, sem que se conheçam as causas possíveis da guerra.
 Os exércitos, fizeram uma pequena trégua e se preparam para enterrar os corpos dos heróis de guerra, as honras fúnebres. Esses aspectos marcaram a obra, pois, relatam os principais sentimentos humanos, a vingança, a raiva, o medo aterrorizante, do respeito e a compaixão. Toda essa mistura de sensações, fazem parte do jogo da vida.
 O mundo helênico a que se refere a Ilíada não parece circunscrever-se de uma época cronológica determinada. É muito provável que as lendas foram incorporando elementos de diferentes etapas da civilização, no curso de sua transmissão oral e até textual. Aponta-se, por exemplo, a descrição de armamentos e técnicas militares, até rituais correspondentes a diferentes períodos históricos, desde o micênio a aproximadamente meados do século VIII a. C. Salvo alguns prováveis acréscimos atenienses, nenhum dado ultrapassa esse período, o que reforça a tese de que o poema foi redigido nesse último período.
 Em suma, a Ilíada trata de um contexto histórico da expansão da civilização micênica até a Guerra de Tróia, dos contrates sócias e da evolução para a monarquia centralizada, comércio marítimo e escrita linear, fala dos contos épicos e das epopeias, da origem dos registros orais da cultura popular, da exaltação dos deuses no cotidiano dos cidadãos e posteriormente a destruição pela invasão dos Dórios(1200-1000 a.C.), também pelos povos arianos. Esse panorama marcava o inicio do período Homérico(1200-800 a.C) no mundo grego antigo.
A Visão de mundo da obra
 
 Na maioria das antigas civilizações, produziu-se, em determinado momento, a compilação e a fusão das tradições nacionais orais em um poema épico. As epopeias têm em comum, na origem, o caráter espontâneo popular e coletivo. Constituíam o modo pelo qual as lendas eram normalmente transmitidas, obedecendo ao imemorial impulso humano de contar histórias. Em muitas delas, porém, a começar pela Ilíada e pela Odisseia, parece decisiva a ação final de um único artista – o poeta, que organiza o todo em um enredo harmonioso e o transforma em poema de feito grandioso e de características universais.
 O estilo característico da epopeia, nobre e grandiloquente, prestava-se à exaltação dos fatos narrados, desenrolados em cenários frequentemente monumentais. Batalhas heroicas, viagens prolongadas e exóticas e a presença constante, na ação, de seres sobrenaturais são elementos básicos do poema épico, assim como a evocação à musa, que acontece logo no início da história. 
 Na Ilíada, Homero narra as aventuras do herói Aquiles durante a tragédia de Tróia. Na Odisseia, conta as aventuras de Ulisses, perdido pelos mares por muitos anos após a queda de Tróia, até a volta triunfal com a ajuda e a perseguição dos deuses de Olimpo. Nas duas obras, além da narrativa e dos feitos heroicos, sobressaem valores como o espírito de nobreza, a amizade, o respeito à família e às tradições pátrias. As epopeias clássicas, contudo, são de fundamental importância para o conhecimento da trajetória histórica dos valores sociais, éticos e políticos da humanidade.
 Alguns dos personagens da Ilíada, em particular Aquiles, encarnam o ideal heroico grego: a busca da honra ao preço do sacrifício, se necessário; o valor altruísta; a força descomunal mas não monstruosa; o patriotismo de Heitor; a fiel amizade de Pátroclo; a compaixão de Aquiles por Príamo, que o levou a restituir o cadáver de seu filho Heitor.
 Nesse sentido, os heróis constituem um modelo, mas o poema ostra também suas fraquezas – paixões, egoísmo, orgulho, ódio desmedido. Toda a mitologia helênica, todo o Olimpo grego, com o seus deuses, semideuses e deidades, estão maravilhosamente descritos. Os deuses, que nos mostram os vícios e virtudes humanas, intervêm constantemente no desenvolvimento da ação, alguns em favor dos aqueus, outros em apoio aos troianos.
 Zeus, o deus supremo do Olimpo grego, imparcial, intervém apenas quando os heróis ultrapassam os limites, ao proporcionar o tenebroso espetáculo de passear à volta de Tróia arrastando o cadáver mutilado de Heitor. O poema encerra grande volume de dados e pormenores geográficos, históricos, folclóricos e filosóficos, e descreve com perfeição os modelos de conduta e os valores morais da sociedade do tempo em que foi escrita a obra.
 A visão dos céus entre os gregos é assunto vasto que com dificuldade se torna algo de um tratamento profundo para se fazer em poucas páginas. Sendo este um campo bastante complexo, analisando aspectos bastante peculiares percebemos a visão mítica que eles tinham em relação à guerra e aos valores morais, muitas vezes essa ideia mítica confunde-se com a própria história do mundo cotidiano dos cidadãos. A relação que eles construíram com o místico traz a vida cotidiana, a força e o desejo humano representado pela ação dos deuses, eles eram reflexo de uma sociedade que se confrontava diariamente com a busca pela glória e a justificativa de uma vida. 
 A epopeia homérica é a celebração da moral heroica. Moral que pressupõe a existência de uma tradição da poesia oral, repositória de uma cultura comum, que funciona para o grupo como memória social. Não há glória senão cantada. O herói homérico não luta e morre esperando obter recompensas em numa outra vida, mas busca a glória celebrada na poesia épica. Os heróis da Ilída são regidos por um grupo de normas, um rígido código de valores, onde o sujeito é regulado por um sistema de controle social, forjado na visão mágica.
 Vê-se nessa dicotomia, racionalidade e misticismo o conceito de habitatus de Pierre Bordieu, onde ele tenta fundir essa dualidade de conceitos para a explicação a relação dos deuses gregos com os humanos. A característica mística dos deuses norteia principalmente pelas ideias de timé (honra),Arete (virtude,excelência), kléos (glória),géras (privilégio). Por ser um poema que trata da guerra, a Ilíada apresenta valores ligados a aristocracia guerreira, que necessita mostrar os valores que se sobressaem diante das pestes, e das perdas. Tudo é justificado a partir da interferência divina, o panorama das derrotas
bélicas e dos aspectos ruins que ocorriam na sociedade, seriam fruto da ira de algum deus, fruto de sua insatisfação com determinada atitude daquele povo.
 Essa Aristocracia guerreira necessitava mostrar a destreza nos campos de batalha, para tal, os contos e as poesias orais, foram de fundamental importância na construção das epopeias e dos heróis épicos. De acordo com a moral heroica predominante no mundo dos poemas, os reis devem ser guerreiros proeminentes para, assim, desfrutar do poder e dos privilégios, gozando destes na devida proporção de suas habilidades bélicas
 
 Os monarcas tinham um papel especial na narrativa homérica, uma das principais funções do rei é o comando militar. Sendo muito idoso para estar no campo de combate, o basileús pode delegar poderes na escolha do seu futuro sucessor, como faz Peleu, rei da Fítia, que, não podendo participar da Guerra de Tróia, envia o seu filho, o bravo guerreiro Aquiles, para o combate no comando de seus exércitos. A guerra tem um papel preponderante na visão da sociedade, na construção desse imaginário heroico, muitos viam a guerra como uma oportunidade de ascensão do prestigio diante da sociedade grega, o combate representava uma oportunidade única de se mostrar a valentia e honra.
 Nos poemas homéricos, nos textos mais antigos já chegados até nós ( século VIII a.C.) nos deparamos com as descrições noturnas e referências às constelações do Zodíaco, do céus entre os gregos. No canto 8 da Ilíada, no fim de uma batalha, os troianos acampam em frente à muralha defensiva dos Aqueus, construída na noite anterior para defenderem os navios de possíveis ataques, e acendem fogueiras para se aquecerem. O poeta compara esses diversos pontos brilhantes das fogueiras com a noite estrelada.
 Percebe-se também, diversos elementos contemplativos dos céus, citado esse aspecto em diversos poemas, criando um gênero entre os autores gregos antigos. Esta observação do nascer e desaparecimento de certas constelações
dominava sobretudo o ano do camponês, como se pode verificar nos Trabalhos e Dias de Hesíodo, um poeta cuja vida decorreu por volta de 700 a.C.
 É evidente que nos referimos a diversidade e a visão mítica de mundo dos gregos, um exemplo disso é na própria Ilíada, onde na passagem de Agamêmnon, comandante das tropas gregas, onde um vigia passava asnoites no terraço do palácio de Argos à espera do sinal luminoso que Agamêmnon prometera enviar, como anúncio de que Tróia tinha sido tomada.Convivia por isso diariamente com os astros, há vários anos e nas diversas estações.
 Eram divindades todas as constelações aqui referidas: Oríon, as Plêiades e as Híades, que ficam próximas uma da outra; Sírius e Arcturo que fazem parte respectivamente das constelações Ursa Maior e Boieiro. Oríon era um gigante, filho de Poséidon, que teve uma vida acidentada e em certa altura teria tentado violar a deusa Ártemis, ou Diana entre os Romanos, que lhe envia um escorpião que mordeu o gigante num calcanhar. Por esse serviço prestado à deusa foi transformado em constelação, o mesmo sucedendo a Oríon. Será essa a razão, pensavam os Antigos, por que a constelação Oríon sempre fugiu das estrelas do Escorpião. As Plêiades eram sete irmãs, filhas do gigante Atlas e de Plêione, que foram divinizadas e transformadas nas sete estrelas da referida constelação.
 A aparição desse céu no mudo grego, coincide com o início da estação das chuvas na primavera, . As Híades eram de início ninfas, filhas de Atlas e de uma Oceânide; foram as amas de Diónisos antes da sua metamorfose em estrelas. Todas essas constelações foram observadas a fundo pelos especialistas gregos, e se confundiram na realidade do imaginário popular, dentre dos cantos populares, reproduzidas pelos poetas épicos.
 
 Segundo a teoria de Bordieu, a concepção sociológica apresentada na Ilíada é um pouco distante da de “habitatus” onde a construção da trama se dá pelo conceito antigo de que coisas transpassam o tempo e se constituem através das experiências. A personagem principal da Ilíada, o herói Aquiles, representa a recusa das experiências em detrimento à esses mecanismos de analise, ele descreve as características dele, como sendo carregada de aspectos heroico-juvenis. 
 A recusa à experiência, por correspondência, vincula-se a uma negação do envelhecimento que o tempo de vida implica assumir. A obra se apresenta nessa dicotomia constante, entre o misticismo e o que torna a narrativa real,a racionalidade, o saber pregresso que faz um tipo de interação entre os agentes mais velhos e os mais novos. 
 O papel de Aquiles, nos remete à seu desenvolvimento durante a trama e ilustra as necessidades da sociedade que correspondia a época. Uma sociedade que buscava no heroísmo patriótico a sua constituição de modelo de cidadão, sem levar em conta os aspectos socioeconômicos. O que a obra tenta nos passar diante de aspectos, sejam de foro individual, seja coletivo, é de que todo o ser humano para se constituir como individuo de fato, passa pela concepção de, “saber pelo sofrer”, o herói é construído pelo suor das batalhas, e pelas emoções do momento. 
 Para analisar um passo mais complexo e com maior interesse para o nosso caso, um trecho da famosa descrição do “Escudo de Aquiles”, no Canto 18 do referido poema. Descreve a representação dos astros na primeira das cinco camadas que constituem o escudo e reza assim. (vv. 483-489):
Forjou lá a terra, o céu e o mar,
o sol infatigável e a lua na plenitude,
e ainda quantos astros coroam o céu,
as Pléiades e as Híades, e a força de Oríon,
e a Ursa, conhecida igualmente pelo nome de Carro,
que gira no mesmo lugar e espreita para o Oríon,
e é a única a quem não coube tomar banho no Oceano
 Além desta camada que podemos considerar relacionada com a astronomia, a descrição do “escudo de Aquiles” inclui cenas de uma cidade em paz e de uma cidade em guerra, cenas de lavra, de ceifa, de vindima e de pastoreio (ou seja as quatro estações do ano representadas pelas suas atividades mais significativas de cada uma), cenas de divertimento e, a envolver este conjunto a toda a volta, o grande “rio Oceano na cercaduraextrema do escudo tão bem lavrado”.
Aqui Oceano é uma divindade e distingue-se do mar. E temos, neste passo como no anterior de Hesíodo, uma visão de certo modo mítica do mundo e dos corpos celestes. Divindades são ainda, como acabamos de ver, as Plêiades e as Híades, Oríon.
 Também o é a Ursa que não aparecia especificada no passo de Hesíodo. A descrição que estamos a analisar é importante porque parece dar-nos uma ideia da representação do mundo no tempo de Homero, bem como dos conhecimentos astronômicos da época: a Terra, cuja forma se não especifica, é rodeada por Oceano, o rio oceano; o céu que cobre a terra e é coroado de astros; o sol infatigável e a lua cheia. Nomeia, além disso, várias constelações, 
como as Plêiades, as Híades, Oríon, a Ursa Maior.
 Além dos inúmeros elementos místicos e bélicos, a sociedade dividida em classes, se apresenta na guerra de acordo com o nível social, é no calor do momento que o individuo se aclama como herói, é no campo de batalha que ele demonstra as suas virtudes. Onde ele expressa a sua nacionalidade e seu patriotismo exacerbado, levando ao mais alto nível de batalha sua suposta areté (virtude, excelência), e sua timé (honra). 
 
 É no campo de batalha que também se faz a distinção entre quem é agathós (bom) e quem é kakós (mau), de acordo com as habilidade bélicas de cada guerreiro, se separa, o bem guerreiro que serve de exemplos aos seus compatriotas, em relação aos que demonstram pouca técnica. Sobre esse aspecto, na Ilìada há uma referencia sobre uma passagem onde Nestor dirige- se a Agamêmnon, dizendo:
Isso feito e seguindo-te
os Gregos, saberás que chefes, que guerreiros
vacilam, quais são bravos, cada um por si
lutando. Saberás se é o mal-querer dos deuses,
ou a moleza inútil de homens que te tolhe.
 O status e o privilégio do rei homérico são adquiridos pelo seu nascimento,
mas devem ser sustentados pela sua capacidade guerreira. Isso assegura a sua posição e a da sua descendência. Ao basileús não basta apenas herdar o apanágio real, é preciso justificá-lo. Agamêmnon é criticado por Aquiles por ter a proeminência nos espólios de guerra (um dos privilégios reais), mas não se destacar como guerreiro.
 O rei tem uma série de deveres. Um deles é esforçar-se no campo de batalha. Somente assim, o basileús pode retribuir à comunidade o respeito que lhe é demonstrado. Sendo valoroso no combate, o líder estende suas conquistas ao povo. Nesse aspecto, Heitor é um caso ilustrativo. Ao lamentar a morte do herói troiano, sua mãe, Hécuba, exclama: “Vivo, eras um deus, uma glória grandiosa para Troia”. Sendo vitorioso na guerra, o rei homérico glorifica seu povo.
 Outro fato, bastante interessante, é o de que Aquiles, por ter durante boa parte da trama, ter um comportamento considerado infantil. Recusando-se ir à guerra, por divergências com Agammêmnon, Aquiles demonstra ainda a suas atitudes juvenis em relação ao caráter guerreiro.O que torna a princípio, uma afeição com o personagem Heitor, por demonstrar logo de início, o seu caráter combativo.
 Só com o fato da morte de seu amigo Pátroclo, Aquiles movido pelas suas emoções saí de sua condição de auto-exílio de guerra, para honrar o valor de sua amizade dentro dos campos de batalha. Por isso, muitos teóricos, ao analisar a Ilíada, atestam o caráter evolutivo de Aquiles, sua transição da infância para a vida adulta, resaltando os seus valores.
 Como no mundo homérico o valor de um homem está ligado a sua reputação, toda ofensa a sua dignidade, todo ato ou comentário que atinja seu prestígio serão sentidos pela vítima como uma forma de rebaixar ou destruir seu ser, sua virtude íntima, e de consumar sua queda. Desonrado, aquele que não conseguiu que o homem que o ofendeu pague pelo ultraje perde, com sua timé, o renome, o lugar na hierarquia e os privilégios. Separado das solidariedades antigas, afastado do grupo de seus pares, só lhe resta a condição de kakós, torna-se um errante, sem país ou sem raízes, é um exilado desprezível, um homem sem nenhum valor. Aquiles, ainda ofendido pela afronta de Agamêmnon, exclama: “Sempre recordo como o Atreide (Agamêmnon) entre os meus pares tratou-me: um sem-pátria, um qualquer...”
 Outra das grandes características do povo grego, dentre as suas relações com o mundo, soa a cordialidade e a hospitalidade. A palavra hospitalidade no grego (filoxenía) significa afeição para com estrangeiros. Na GréciaAntiga, havia um inviolável código de paz enviado por Zeus, do Olimpo: a “lei” da hospitalidade (Ksenia): Nem mesmo os deuses poderiam infrinigi-lo. 
 Trata-se da obrigação de receber bem todo e qualquer pessoa, de prestar cuidados, auxilio e hospitalidade. Qualquer pessoa, viajante de passagem, que precisasse de algum local para se abrigar, poderia se dirigir diretamente à casa de algum cidadão local. Bastava apenas bater à porta, da forma mais comum possível seria recebido e acolhido diretamente pelo dono da casa.
 O “presente grego” representado pelo cavalo à Tróia era comum naquele tipo de situação. Não é possível que os troianos não percebessem algum tipo de armadilha dos gregos, que estavam dentro do cavalo de madeira. Mas não é nada absurdo quando se sabe que presentes e gentilezas eram trocados – mesmo entre inimigos – constantemente. Não foi por ingenuidade que os troianos aceitaram o cavalo de Tróia. É que o costume era esse.
 Por tudo, o mundo grego vê na guerra, a sua principal forma de demonstrar as suas qualidades, vê também no aspecto místico dos seus deuses e divindades uma forma de justificativa para as tragédias. Sempre salientando que esse misticismo se mistura com a vida cotidiana, na narrativa ele está presente na construção das lendas e da mitologia grega.
O Olimpo e a moral dos deuses
 
 A visão mítica, observada durante boa parte dos textos anteriores, era comum entre os gregos desde os mais remotos tempos. Está implícita, por exemplo, nos atributos descritos nos poemas feitos por Homero. Porém nem sempre essa concepção dos deuses do Olimpo foi aceita pela população. A ideologia religiosa aparece na época homérica de forma mais consistente, as canções épicas, os mitos e as lendas relativas aos deuses que eram transmitidas oralmente pelas pessoas, agora temo toque dos poetas gregos, os “aedos”. 
 A arte popular cantava os mitos, esses mitos exprimiam acima de tudo; as forças da natureza e sobre a atitude dos homens diante dessa força. A influência que os deuses tinham em relação a vida econômica e social das pessoas. Tudo se referia as divindades que, sendo presente na vida cotidiana, tomavam formas humanas apesar de sua condição imortal.
 Os mitos mais antigos não deixavam de relatar a condição moral dos deuses e relatavam frequentemente a suas características zoomórficas, provando assim a influencia e sociedades mais antigas, longínquas sociedades que se acreditavam ser sem classes. A ideologia totêmica presente nas civilizações de caráter autóctone, também aparecem no período homérico.
 A religião grega tinha uma grande mitologia, que consistia em sua maior parte das histórias dos deuses e de como eles afetaram os humanos na Terra. A composição da teologia grega girava em torno do politeísmo, existiam diversos deuses e deusas. Havia uma espécie de hierarquia, onde Zeus (o deus dos deuses do Olimpo), era ele que, mantinha um certo controle sobre os demais. Isso também é relatado diante Guerra de Tróia na Ilíada, onde também cada deus tem um domínio de determinado aspecto da natureza ou da vida cotidiana das pessoas. As principais divindades descritas na obra, além de Zeus, são, Efestos, o deus da forja do ferro; Atena, deusa grega da sabedoria; Hera, deusa dos partos e do casamento; Áretmis, deusa dos seres da floresta; Afrodite deusa do amor e seu filho Eros; Apolo ou Febo, deus que tinha um carro de fogo; Posseidon, o deus dos mares.
 Ainda existiam os titãs, seres que partilhavam de alguma característica ou força sobrenatural e eram odiados pelos deuses do panteão Olímpico. A natureza personificada pelos seres meio-homens, meio animais. As dríades, as ordinas, os sátiros e os centauros eram seres que para os gregos eram sagradose para manter a paz e conseguia a felicidade , era recomendado manter uma boa relação com esses seres (eudonismo).
 Ainda é observável os aspectos animistas na sociedade baseada de clãs dos gregos antigos. As Pítonisas ou Pítias representavam bem esses poder animista, elas eram sacerdotisas do templo e forneciam oráculos, dentre as mais conhecidas Pítonisas  estas eram as que forneciam o Oráculo de Delfos, na península continental grega. O “culto dólar domestico” era outra característica importante, semelhante ao que ocorria no período romano, os cidadãos gregos cultuavam e faziam sacrifícios a determinadas divindades em suas respectivas casas, religião era uma concepção menos articulada, onde todos estavam regidos por aquele senso comum.
 Embora fossem imortais, os deuses não eram onipotentes; obedeciam ao destino, que se impunha a todos eles. No caso, temo como exemplo na Ilíada, o destino da guerra não passava na mão dos deuses, porém eles interferiam de modo direto nos desígnios que as batalhas tomavam. O deus Apolo ou Febo, na Ilíada em diversos momentos toma partido de Heitor e Páris, os protegendo da fúria do jovem guerreiro Aquiles e seus exércitos, ou mesmo quando Posseidon no canto XIII, socorre os navios gregos. No V canto, verso 101, a deusa Atena encoraja o guerreiro Diomedes ao combate:
A precestais, Atena o enrija a alesta,
Reforçando –lhe o braço, e perto fala:
“Peleja afouto; que te pus, Diomedes,
No peito o coração do vibra-escudo
 Sobre o destino, os deuses não tinham a capacidade de impedi-lo, mais suas atitudes interferiam na vida dos homens de forma substancial. Os deuses agiam como humanos, com quem partilhavam os mesmos vícios. Também interagiam com os seres humanos,
por vezes mesmo tendo filhos com eles. Alguns deuses se opunham a outros, e tentavam superá-los. Na Ilíada, por exemplo, Zeus, Afrodite, Ares e Apolo apoiam o lado troiano na Guerra de Troia, enquanto Hera, Atena e Posseidon apoiam os gregos.
 Alguns deuses gregos teriam sido associados e cultuados de forma mais especial em determinadas cidades, como por exemplo, a cidade de Atena tinha uma afeição a deusa Atena, Apolo com Delfos e Delos, Zeus com Olímpia e Afrodite com Corinto. Outras divindades eram associadas a nações fora da Grécia; Posseidon, por exemplo, era associado à Etiópia e Tróia, e Ares com a Trácia. 
 Com o gradual desagregamento do sistema do sistema econômico de caráter comunitário e o nascimento de uma aristocracia rural e guerreira, começa a aparecer uma religião nova e mais complexa, a religião dos deuses olímpicos que assim eram chamando pelo simples fato de morarem no alto do Monte Olímpo. Formavam um tipo de remonte aos clãs, eram um tipo de “clã divino”.
 Quando obras literárias como a Ilíada relatavam conflitos entre os deuses, estes conflitos ocorriam porque seus seguidores estavam em guerra na Terra, e eram um reflexo celestial do padrão terreno das divindades locais. Embora o culto das principais divindades tenha se espalhado de um lugar a outro com frequência, e embora as maiores cidades tivessem templos aos principais deuses, a identificação de diferentes deuses com diferentes locais permaneceu forte até o fim da prática do politeísmo nestas regiões.
 Isso explica a situação de muitos deuses, tomando forma de humanos, irem a guerra lutar por aqueles que eles tivessem alguma afeição. Esse é um aspecto bastante importante, é como os deuses viam os humanos, diferente de muita crenças posteriores, os deuses gregos eram muito parecidos com os homens, tinha adquirido suas feições, interagiam com eles, tendo relações e filhos.
 Um dos conceitos morais mais importantes dos gregos da antiguidade era medo, esse medo refletido na húbris, que podia consistir de diversas coisas, desde o estupro até tocar em cadáveres, em dessecar eles. Um bom exemplo disso era a cidade de Atenas, isso era considerado um crime. Um dos exemplos de híbris era o chefe militar, o Atrida Agamêmnon, que honrou desde o início as suas tropas e partiu para o combate, desistiu de tomar a cativa Briseida. Embora o orgulho e a vaidade não fossem considerados pecados em si, os gregos costumavam enfatizar a moderação. 
 Os deuses não tinham o menor pudor para com os humanos, os castigava e fazia com que eles o que quisesse, além de demonstrarem suas feições como sendo humanas, eles também tinha sensações e sentimentos humanos. Tais como, inveja, raiva, amor e compaixão. Zeus governa a sua incontrolável família de olimpianos enquanto eles brigavam entre si, se digladiavam e morriam de inveja uns dos outros, demonstrando sensações, e transgressões, os deuses partem a ser entendidos dentro de uma perspectiva mundana. 
 A húbris é um tema comum na mitologia, às tragédias gregas e do pensamento pré-socrático, cujas histórias incluíam com frequência, protagonistas que sofriam de húbris, e como consequência da suas transgressões, eram castigados pelos deuses (o qual não necessariamente implica um desfecho trágico). A tragédia ocorre com a ultrapassagem das atitudes homens, uma transgressão contra a ordem social e, portanto, contra os deuses imortais: a hybris. Isto origina a nêmesis, o ciúme divino, provocando que seja lançada contra o herói até a cegueira da razão. Ele virá a ser subjugado sem apelo pela moira, o destino cego.
 A concepção da húbris como infração determina a moral grega como uma moral da mesura, a moderação e a sobriedade, obedecendo o provérbio pan metron, que significa literalmente 'à medida de todas as coisas', ou melhor ainda 'nunca demais' ou 'sempre bem'. O homem deve continuar sendo consciente do seu lugar no universo, é dizer, ao mesmo tempo da sua posição social numa sociedade hierarquizada e da sua mortalidade ante os imortais deuses.
 Os deuses gregos representavam a antiga crença grega de que quando uma pessoa morria, seu sopro vital ou psique deixava o corpo para entrar no palácio de Hades (rei dos mortos). Nos períodos anteriores da Grécia antiga, a psique não era o mesmo que a visão cristã de uma alma. Assim que deixava o corpo, a psique era uma imagem fantasma que podia ser percebida, mas não tocada. O muro que separava os vivos dos mortos era impenetrável. Gradualmente, o conceito da psique tornou-se semelhante ao conceito de uma alma. A alma estava separada do corpo, mas era responsável pela personalidade de um indivíduo. A alma também era responsável pelas decisões morais de um indivíduo. 
 Os primeiros gregos não acreditavam que a ação de uma pessoa nesta vida tinha qualquer influência na sua próxima vida. No entanto, com o começo do "Período Clássico" (480-323 a.C), já predominava a crença de que uma pessoa moral seria recompensada na outra vida. Ao mesmo tempo, desenvolveu-se a ideia de que uma pessoa que repetidamente cometia transgressões merecia o castigo eterno. A preocupação de como alguém passaria a próxima vida deu origem a muitos rituais funerários e cerimônias comemorativas para os mortos. 
 Os deuses gregos são uma parte principal da mitologia grega. O nosso conhecimento formal dos antigos deuses gregos pode ser rastreado aos escritos de Homero na Ilíada (século VIII aC). Além disso, muitos estudiosos acreditam que os mitos foram fortemente influenciados pela cultura micênica que existia na Grécia entre 1700 e 1100 aC. 
Surpreendentemente, há evidências de que o início da mitologia grega possa ser rastreado até às culturas antigas do Oriente Médio da Mesopotâmia e da Anatólia, pois há muitas semelhanças entre a mitologia delas e a dos gregos antigos. 
 É difícil traçar a linhagem dos deuses da Antiga Grécia porque existem vários mitos da criação. Uma combinação de relatos agrupados pelo poeta grego Hesíodo no século V III a.C. e um relato escrito pelo mitógrafo (compilador de mitos) Apolodoro tinham sido reconhecidos pela maioria dos gregos antigos. Era assim: O deus Caos (uma brecha) foi a fundação de toda a criação. Deste deus surgiu Gaia (terra), Tártaro (submundo) e Eros (amor). 
 O deus Eros foi necessário para aproximar Caos e Gaia para que pudessem se reproduzir. Caos então criou a noite e o primogênito de Gaia foi Urano (deus dos céus). A união de Caos e Gaia também resultou na criação das montanhas, dos mares e dos deuses conhecidos como Titãs. 
A interação desses deuses primitivos resultou na criação de vários outros deuses. Estes incluíam figuras bem conhecidas como Afrodite, Hades, Poseidon e Zeus. Zeus eventualmente entrou em guerra com o seu pai (Cronos) e os Titãs. Como resultado deste conflito, Zeus estabeleceu um novo regime no Monte Olimpo. Zeus governava os céus, o seu irmão Poseidon dominava os mares e o seu irmão Hades governava o submundo. A criação dos seres humanos é o resultado de mitos contraditórios. Muitas histórias da criação contavam que o ser humano surgiram diretamente do solo. Em alguns casos, distintas sociedades gregas tinham os seus próprios e singulares eventos da criação.
 Isto é verdade para os árcades e tebanos, os quais atribuem as suas origens a diferentes homens nascidos da terra, criados em diferentes áreas. Um mito afirma que os seres humanos foram criados da terra e da água, ajudados pelo titã Prometeu com o seu dom de fogo.
 
Conclusão
 
 A Ilíada nos mostra visões gerais do mundo grego da antiguidade, em certos aspectos, traz consigo relatos bastante peculiares que podem situar um historiador dentro de uma pesquisa. É obvio também, que por parte, a sua demasiada carga mitológica, suas questões controversas e principalmente o contexto da obra, devem ser problematizados e bem avaliados dentro de um trabalho. A sua importância como fonte histórica é notáveis, Homero trás consigo toda uma gama de características sociais e históricas
do homem grego.
 As referências, aqui citadas, são de importante fonte para a construção do imaginário da sociedade antiga clássica. Homero nos revela o caráter da guerra como excelente exemplo de demonstrar o caráter e honra, as sensações mundanas que se misturam dentre os gêneros da literatura e a história, aspectos de alta relevância, como as condições geográficas daquele período, as relações políticas e econômicas são exprimidos por Homero.
 A Teogonia dos trabalhos dos dias de Hesíodo, a Ilíada e a Odisseia de Homero, e as Odes de Píndaro, são consideradas como textos sagrados para os antigos gregos, bem como diversas outras obras da  Antiguidade Clássica; estes eram os textos centrais a toda a literatura do período, e eram considerados inspirados; costumavam incluir uma invocação às Musas em suas linhas iniciais. 
 Homero mostra em sues poemas, uma fonte muito intrigante. A Ilíada e a Odisseia, atribuídas a ele, ambas as obras têm características comuns absolutamente inovadoras, como a visão antropormórfica dos deuses, a confrontação entre os ideais heroicos e as fraquezas humanas e o desejo de oferecer um reflexo integrador dos ideais heroicos e as fraquezas humanas e o desejo de oferecer um reflexo integrador dos ideais e valores da emergente sociedade helênica. 
 Esses argumentos, somados a maestria técnica evidente nos dois poemas, favorecem a conclusão de que o autor da Ilíada, esse grande poeta jônico a quem os gregos chamavam Homero, foi também o autor, ou principal inspirador da Odisseia. Ao mesmo tempo em que refletiam luminosamente a antiguidade mais remota da civilização grega, os poemas homéricos projetaram-na adiante com tamanha originalidade e riqueza que ela se faria em diversas manifestações da arte, da literatura e da civilização do Ocidente.
 Inúmeros poetas partiram de sua influencia e inúmeros artistas impregnaram-se de sua fortuna criativa, de seu colorido e de suas situações, que se tornaram símbolo e síntese de toda a aventura humana na Terra, a ponto de o nome de um poeta, cuja à existência mesma não se pode provar, passar a confundir-se com a própria poesia.
 Por ser um marco para a literatura Clássica, a ilíada é, sem dúvida, um importante documento a ser estudado. As mentalidades aplicadas naquele período são de caráter peculiar para os estudos historiográficos, é importante resaltar o devido lugar do conteúdo místico da obra, dos aspectos mitológicos e dos sociais. Ao trabalhar com a Ilíada, nos deparamos com inúmeros elementos de guerra utilizados durante a batalha, analisamos também a moral dos deuses e suas condutas perante os seres humanos. 
 Nós conseguimos estabelecer com esses escritos, o padrão de relação entre os principais grupos sociais, percebemos também o final de uma sociedade de caráter econômico primário, e comunitário, se transformando nem sociedade ligada as glórias de guerra, uma formação de uma aristocracia e de uma separação entre classes. Esse novo sistema social, agora aparece dentro de um contexto mitológico, fortemente sendo estabelecido pelos “aedos”, vendo cada vez mais o fator místico influenciando na produção cultural e artística.
 Com a cultura clássica apresentadas nos poemas homéricos, conseguimos extrair uma importante base teórica, que nos ajuda, nos mostra um caminho para reconstruir o passado dessa civilização como um objeto de estudo. A obra tem um padrão narrativo que nos revela os aspectos cotidianos dos gregos antigos. Sem contar com os diversos recursos literários utilizados pelo autor, o texto possui uma linguagem temporal antiga, em prosa, elaborada, nos parece, com a intenção enaltecer a cultura grega, os heróis e a situação de guerra.
 O corpo literário da Ilíada, trabalha o tempo um de transição da cultura grega, porém o corpo de sua composição em verso, nos dá uma visão geral de como trabalha os poetas da Grécia antiga. O contexto histórico, que apresenta o declínio da cultura micênica e a invasão dos Dórios, à época homérica mostra a nobreza militar e os valores da nobreza militar. Retrata o papel social dos reis, os heróis divinizados.
 A história tece múltiplos enredos, vagueando entre o lado dos aqueus (isto é, os gregos), o dos troianos, e o dos deuses. Deuses estes que gostam sempre de se meterem nos assuntos humanos, e guiam o destino conforme lhes desejarem. Não podem deixar de achar engraçado, as próprias disputas que existem entre os deuses: quando se erguem uns contra os outros e se dividem cada grupo para o lado que estão a apoiar na guerra.
 No meio de tanta guerra e destruição, é ainda possível captarem-se momentos de beleza e ternura impressionantes no contexto da obra. Quando, num dado canto, Heitor se despede da sua mulher e do seu filho, o leitor sente um arrepio perante o momento. Mesmo os cantos que parecem repetir-se na sua confusão bélica, todas as lutas e confrontos em busca da honra e da vitória, têm um sentido.
 Durante os milênios da humanidade a obra tem sido estudada de diversas maneiras. Ora rechaçada assumindo roupagem de paganismo, ora elevada aos patamares da genialidade humana. Cabe a cada época estabelecer seus pilares morais e éticos. Cabe a nossa época resgatar valores morais sólidos que ficaram perdidos em uma literatura de excelente valor artístico. 
 Não seremos de maneira alguma acusados de anacronismo ao louvarmos as figuras construídas por toda a obra e nem muito menos seremos acusados de paganismo alienado diante do deleite e da beleza da mitologia greco-latina. Seremos, antes de tudo, presenteados com tamanha explosão catártica. Seremos contemplados com impressionante criação estética e aprisionados pela paixão que o homem desenvolve pela leitura após contato com obra de tamanha importância para a humanidade.
Anexos
Ruínas de Tróia VII
Detalhes das ruínas de Tróia
 Templo de Poseidon (Itália)	
Aquiles cura Pátroclo - Detalhe de vaso em técnica de cerâmica vermelha 500 a.C.
Figura 1 Escultura do poeta Homero
Corpo de Heitor sendo levado de volta a Troia – Alto relevo romano em mármore, detalhe de um sarcófago
Bibliografia
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- GIORDANI, Mário Curtis. História da Grécia, Petrópolis: Vozes,3ª edição,1984.
Perguntas e respostas
Qual a importância da Ilíada no processo de entendimento da civilização grega antiga?
 
 Para entendermos a Ilíada de forma adequada, devemos olhar o contexto histórico, ele de suma importância para que se possa ter o devido critério diante das informações apresentadas nesta obra. A sua composição, em grande parte, remonta o tempo antigo que passava por algumas transformações, culturais, sociais e econômicas; também ressaltando que, a Ilíada sofreu uma forte influência de aspectos mitológicos, o que faz todo historiador precise ter cautela e levar isso em conta, dentro
de uma produção de trabalho.
 Ao construir um discurso historiográfico, a historiador deve analisar os aspectos primordiais da Ilíada, Homero nos expõe com a sua obra (por volta de 750 a.C.), uma indicação de que nesta época as oposições cidadão/estrangeiros e livre/escravo, tão típicas futuramente das pólis gregas, tinham uma pequena iniciação mas sem clareza. Como próprio Ciro Flamarion Cardoso, nos fala: “ As poesias homéricas são um indicio bastante consistente do fim da economia coletiva e da ascensão de uma aristocracia rural.”
 A organização social era a família aristocrática, era comum nessas famílias se auto julgarem descendentes de um herói ou de um deus; a família aristocrática patriarcal era extensa em vários casais vivendo sobre a utoridade de um mesmo chefe. O fim da sociedade patriarcal nos é dito através das narrações pelos poemas de Homero.
 Nos seus versos, Homero, fala da exaltação dos deuses e dos combatentes que demonstravam a honra, determinação, e seus devidos valores que a vida lhe privava exprimir. Em grande parte dos seus versos, apresenta as peculiaridades das tácticas de guerra, demonstração de afeto das família e de seus chefes, uma formação de poderes que se distribuíam agora, dentro de uma nova ética de comercio. 
 Havendo também nos deixado uma obra totalmente primorosa, o autor se debate em questões bastante compreensivas, mesmo tendo controvérsias históricas, os escritos que compõem a Ilíada, tratam de dados geográficos e sociológicos que podem ser usados por qualquer historiador que deseje se aprofundar na obra. Sua representatividade dentro do imaginário da cultura popular, o faz de uma voz proeminente nu período onde os vestígios documentais são extremamente raros e bastante complexos.
 Sendo a Ilíada uma representação da Grécia Antiga, em uma formação bélica, também nos traz dúvidas e composições interpretativas diferentes. Literariamente é aclamada como uma das obras primorosas da antiguidade; historicamente, nos apresenta dados e figuras, das quais temos que nos dispor sobre, para poder interpretar de forma coesa e que mostre uma linha de pensamento plausível. O que faz ela nos parecer, uma obra que ao mesmo tempo tenha um caráter mítico, também tenha essa complexidade, englobando todos os aspectos, o historiador tem que a partir desse caráter complexo, se exponha argumentações compreensíveis.
 Para os gregos, Homero foi uma figura elementar para a disposição de sua história, sistematicamente a obra pode ser analisada de uma panorama. A chegada de imigrantes da língua indo-européia à Grécia continental e às ilhas do Mar Egeu como descreve o autor foi o ponto de partida para a história helênica, isso não se sabe ao certo, mas indica ter sido entre 2200-2100 a.C. sem ter certeza se foi uma única onda migratória ou várias.
 A civilização era Habitada por povos de origem minoica ou cretense, esse contato de vários povos, até mesmo os de origem autóctone, configura-se como parte de uma civilização grega em formação. Compreendendo que ela tenha se aculturado com as demais culturas e civilizações, antes do período das trevas, a produção cultural baseava-se nesse contexto.
 A constituição da pólis aristocrática deu-se como desaparecimento da monarquia, substituída por magistrados eleitos pela nobreza de sangue entre seus próprios membros, segundo o autor, também enfatiza que as cidades-Estados não se formaram em toda a Grécia antiga.
 A colonização grega deu-se principalmente pela busca de terras cultiváveis que levou as primeiras expedições gregas ao Mediterrâneo Ocidental ao norte da África, ao norte do Egeu. Tróia é um exemplo de disputa comercial, onde a civilização micênica, se via agora em partida para o mar, o que leva essas duas civilizações à disputa comercial em escala marítima. Querendo representar as sociedades.
 Ainda que essa literatura esteja repleta de elementos míticos, ela é um dos poucos vestígios que se têm da civilização micênica, revelando ao longo da narrativa muito da economia, da política, das artes, da educação, dos costumes e da convivência social dessa época. Numa perspectiva didático-pedagógica, é possível perceber que esses mitos apresentam personagens de extrema bravura, honestidade, sabedoria e um elevado senso de justiça. Heróis, como Aquiles, Ulisses e Heitor converteram-se em modelos a ser seguidos. 
 Desde pequeno, o homem grego aristocrata era incitado a buscar as virtudes modelares desses heróis, tais como a honra, a coragem e a amizade; além disso, aprendia a respeitar os deuses e a crer em seus mitos, particularmente naqueles contidos na Ilíada. Deveria também mostrar-se superior aos seus pares na força, na beleza, na habilidade com instrumentos musicais ou ainda na nobreza de sua linhagem. 
 Todos estes atributos deveriam ser desenvolvidos ao máximo, para que esse jovem pudesse atingir a excelência, a arte heróica. Desse modo, por meio de suas personagens e do ideal que essas personagens incorporavam, os mitos exemplificavam comportamentos, instituíam determinados modos de ser e viver constituindo-se como instrumentos essenciais para a formação do homem dessa civilização. Por meio desses poemas procura-se refletir sobre as preocupações gregas quanto ao processo educativo, com vista a esboçar o sentido de educação para Homero e para os homens de seu tempo. 
 Por tudo isso, a Ilíada mostra-se como um importante vestígio. Os poemas épicos homéricos são considerados as primeiras obras de literatura grega e os primeiros documentos significativos da história, e representa parte substancial no processo constitutivo da cultura grega clássica.
 
Disserte sobre a mitologia apresentada na Ilíada e os principais aspectos da vida religiosa na Grécia da Antiguidade.
 A abordagem da Ilíada em relação as divindades e as relações com os humanos são de uma posição bastante peculiar. Os indivíduos se vinham cercados por uma condição, onde o ser humano e os deuses interagiam de forma direta, tornando o divindades algo parte do cotidiano das pessoas. 
 Lendo-se as primeiras linhas da obra de Homero, a Ilíada, onde duas personagens tomam vulto, Agamêmnon e Aquiles, um, o rei suserano dos gregos e o outro, o maior herói da seara bélica dos campos de Tróia, apesar da ação de Apolo, contra o acampamento dos gregos, lançando inexorável peste, a disputa entre os dois homens é a presença mais forte e, humana, a responsabilidade dos acontecimentos, aparentemente. 
 Os heróis homéricos, como vão sendo desfilados, agem de forma relativa e livre dentro do contexto do mito que o poema relata, ainda que nestas mesmas linhas iniciais, haja a frase, “cumpriu-se o desígnio de Zeus”. Significativo ainda a antiguidade do texto e consequentemente das injunções que poderiam ser levadas para o ato humano, diante dos onipresentes deuses.
 Mas Homero, de fato, insere-se na cultura grega não apenas constituindo-se seu maior poeta, mas como fomentando a própria mítica,  relatando o tema clássico dos heróis e da ação dos deuses nas gestas destes indivíduos. Não é sem razão que chega a afirmar que a Ilíada, “corporifica este ideal (a arete*) em todos os seus heróis, e que “o quadro cultural de nobres esboçado nos poemas homéricos engloba também descrições vivas da educação usual em tais círculos”.
 Em geral, significa força e destreza dos guerreiros ou dos lutadores, valor heróico intimamente vinculado à força física”. E o mesmo autor recorda, que “humanizando os deuses e afastando o temor dos mortos, as epopéias homéricas descrevem um mundo luminoso no qual os valores da vida presente são exaltados.
 Educar, portanto, mas não é apenas um processo intelectivo e pedagógico. O texto homérico, e particulariza-se aqui a Ilíada, retrata igualmente a ação divina entre os homens e entre estes, também suas ações. No caso da religião grega, há o elemento mitológico do herói, entrando em cena neste processo de educação religiosa.
 A religião grega é necessário neste momento pontuar,
ainda que se encontrando figurada nos elementos de templos, sacrifícios, sacerdotes ou sacerdotisas, ou seja, numa determinada constituição religiosa cultural.
 O essencial, no tocante à Ilíada, é lembrar que o cenário é predominantemente de guerra. Os homens encontram-se em campo de batalha, armados, furiosos, ansiosos por defender uma coisa para eles primordial: a honra. Além disso, os gregos não estavam instalados em habitações estruturadas, mas acampados, vivendo em uma situação precária, adversa, distinta de seu cotidiano. A alimentação é escassa, os níveis de higiene são mínimos, quase inexistentes; estão longe de casa e da família, sendo o cenário predominantemente masculino. As únicas figuras femininas da trama ou são deusas ou são presas de guerra. Com efeito, nesse contexto, os valores presentes são aqueles que favorecem a sobrevivência em uma situação atribulada como aquela: a força bruta e o vigor físico.
 Os deuses, personificados como seres humanos, interagindo, tendo filhos e ocasionalmente ajudando ou punindo os humanos, faz com que a religião mítica da antiguidade grega, ganhe um caráter excepcional. O que Homero retrata é que, a vida humana e a vida divina se confundiam, elas eram o obejo de força nas batalhas. A mão que ampara é a mesma que luta, lado a lado conosco. Vimos também nos deuses gregos a questão dos vícios e virtudes humanas, as emoções que fazer eles tomar atitudes destruidoras ou beneficiar os seres humanos, o fator “impulsivo” que ficava permeando o imaginário das pessoas.
 Elemento constante nas religiões e aqui, na afirmação de Homero, o desígnio do deus, o destino, o fado, é outro ponto presente nas religiões e mitos e na religião grega, não é exceção. Zeus, divindade suprema da mitologia grega, entre tantos filhos e filhas que gerou, traz ao universo, as Moiras, as deusas do destino.
 Ainda que o conceito de Moira  passe a significar alternadamente para uma ação além do próprio Zeus, ora para as deusas citadas, pode-se recordar que estas deusas, estão comentadas em sua ação na própria Ilíada ou ainda nas mãos do próprio pai dos deuses. Segundo as palavras de Homero, Zeus determinou o destino de Heitor, porém estava apenas constatando o que de fato iria ocorrer. Desta forma, o destino não é estranho ao mito e a religião grega.
 Ainda comenta Homero, sobre a sorte do herói Licáone, sobre seu encontro com Aquiles, na Ilíada: “por onze dias, depois do regresso de Lemnos, se goza a companhia dos seus; mas no dia seguinte um dos deuses, nas mãos de Aquiles o entrega, que enviá-lo por certo para o Hades negro, por mais que lhe fora essa viagem odiosa. A moira está aqui identificada por “um dos deuses”, talvez tentando o autor não responsabilizar por condição tão definitiva, como o fato de não poder evitar o encontro com a morte.
 Recordando, a moira é identificada em momentos distintos a duas situações; a moira em questão que diz respeito, “é a personificação do destino individual, da “parcela” que toca a cada um, é a projeção de uma lei que nem mesmo Zeus pode transgredir, sem colocar em perigo a ordem do cosmo”. O mito heróico é constante na religião grega, possivelmente ombreando-se com os relatos sobre os deuses, em sua importância.
 Os próprios deuses relacionam-se com heróis, tendo os seus prediletos ou os seus desafetos, promovendo o êxito de suas campanhas ou um amargo caminho. O fato, é que estes estão ricamente ilustrados nos mais famosos textos mitológicos, bem como, favoreceram de forma constante a ação trágica da religião e do teatro entre os helenos.
 Seus mitos são complexos e retratam muito antes do surgimento, por exemplo, de uma psicologia da personalidade no sentido moderno da expressão, uma tentativa ou uma exposição de revelar as contradições pelas quais poderia passar o ser humano. Seus relatos também chegaram ao modo ritualístico da religião grega, com características bem evidentes. O próprio ritual do culto às divindades tinha o momento da oferenda a estes seres que oscilavam entre o céu e a terra.

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