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DIREITO CONSTITUCIONAL I Prof. Carlos Alberto Lima de Almeida ROTEIRO DE APOIO Advertência: a disponibilização aos alunos do roteiro de apoio utilizado pelo professor para o desenvolvimento do conteúdo programático da disciplina não exclui a leitura da legislação, jurisprudência, bibliografia básica e complementar indicadas. Esse é apenas um material de apoio. Logo, complemente seu estudo realizando a leitura da bibliografia básica e complementar. Se você encontrar algum erro de digitação ou tiver qualquer contribuição para a melhoria desse material ou dúvida sobre a matéria escreva para o professor. Cordialmente, Carlos Alberto Lima de Almeida carlosalberto.limadealmeida@gmail.com TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Segundo José Afonso da Silva “os direitos fundamentais é expressão que designa em nível do direito constitucional positivo, àquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas. No qualificativo fundamental acha-se a indicação de que se trata de situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive, e às vezes nem sobrevive; fundamentais do homem, no sentido de que a todos, por igual devem ser, não apenas formalmente reconhecidos, concreta e materialmente efetivados”. EVOLUÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Poderíamos chamar os direitos fundamentais de direitos humanos, embora o termo fundamentais tenha se consolidado no meio jurídico. Norberto Bobbio, assim como Ingo Sarlet e Paulo Bonavides, divide os direitos fundamentais em gerações ou dimensões. Estes são comumente dividas em três gerações, embora alguns autores já falem da quarta e da quinta geração de direitos. Vejamos cada uma das gerações separadamente: • 1ª Geração de Direitos Fundamentais: São as chamadas liberdades negativas, que marcam a passagem do Estado Absolutista para o Estado Moderno. Nas palavras de Bonavides: “os direitos de primeira geração ou direitos de liberdades têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem - se como faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico enfim, são direitos de resistência ou de oposição perante o Estado” (BONAVIDES apud LENZA, 2012, p. 958). Seu núcleo são os direitos políticos. • 2ª Geração de Direitos Fundamentais: Estes direitos são aqueles que exigem uma prestação por parte do Estado, tendo em vista que não são liberdades negativas como os de 1ª geração. Surgem nas Constituições do início do século XX. Inicialmente, não possuíam status jurídico, pois ainda era vigente a noção de Estado mínimo, que não deveria agir em relação aos particulares. São os direitos sociais, culturais e econômicos bem como dos direitos coletivos, ou de coletividade, correspondendo aos direitos de igualdade (substancial, real e material e não meramente formal). • 3ª Geração de Direitos Fundamentais: “Os direitos fundamentais da 3.ª dimensão são marcados pela alteração da sociedade por profundas mudanças na comunidade internacional (sociedade de massa, crescente desenvolvimento tecnológico e científico), identificando -se profundas alterações nas relações econômico-sociais. (...) Os direitos da 3.ª dimensão são direitos transindividuais que transcendem os interesses do indivíduo e passam a se preocupar com a proteção do gênero humano, com altíssimo teor de humanismo e universalidade.” (LENZA, 2012, p. 960). Incluem o direitos difusos, como o direito ao meio ambiente, à paz, ao desenvolvimento. DIREITOS X GARANTIAS É no art. 5º de nossa Constituição que temos listados os direitos fundamentais, lembrando que tal listagem não é taxativa. Antes de nos aprofundarmos nas classificações e características dos direitos fundamentais, cabe distingui-los das garantias fundamentais. “Assim, os direitos são bens e vantagens prescritos na norma constitucional, enquanto as garantias são os instrumentos através dos quais se assegura o exercício dos aludidos direitos (preventivamente) ou prontamente os repara, caso violados.”(LENZA, 2012, p. 961). OS DIREITOS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Na próxima etapa deste curso, estudaremos cada um dos direitos trazidos no art. 5º da CRFB. Vejamos agora os critérios de classificação nela adotados: 1) direitos individuais - também conhecidos como liberdades públicas, direitos negativos, liberais ou de 1ª geração (art. 5º da CRFB/88) - são direitos que apresentam como principais características terem os indivíduos como titulares e controlar os abusos de poder estatais; 2) direitos coletivos e difusos - os primeiros caracterizam-se por serem direitos de um grupamento humano com interesses homogêneos, por exemplo o pleito dos sindicatos. Já os difusos são direitos que pertencem a todos, ou seja, não somos capazes de identificar quem são o seus titulares, como por exemplo o meio ambiente; 3) direito da nacionalidade – caracteriza-se como vínculo jurídico-político de uma pessoa com o Estado que nos permite dizer que esta pessoa faz parte do povo deste Estado. Ela pode ser de dois tipos: originária, que chamamos de natos, que no Brasil pode ser adquirida pelo critério misto, ou seja, pelo nascimento em nosso território (ius soli) ou pela consanguinidade (ius sanguinis) de pai ou mãe brasileiros ou; Derivada, que se adquire com um pedido ao governo brasileiro atendendo aos requisitos de se for originário de país de língua portuguesa: ter visto (autorização de permanência regular no Estado Brasileiro) de permanência, residência ininterrupta por um ano e idoneidade moral e, se originário de outro país: visto de permanência, quinze anos de residência ininterrupta e nenhuma condenação penal. (art. 12 da CRFB/88); 4) direitos políticos – segundo Pedro Lenza “direitos políticos nada mais são do que instrumentos através dos quais a Constituição Federal garante o exercício da soberania popular atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja direta ou indiretamente”. Esses direitos são basicamente exercidos pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto. O sufrágio (capacidade eleitoral ativa) determina o direito de eleger e ser eleito (capacidade eleitoral passiva) O voto é um direito público subjetivo que tem como características ser personalíssimo, sigiloso, obrigatório, livre, periódico e igual. Apenas para não confundir, vale lembrar que escrutínio significa a maneira pela qual se vota e que a legislação infraconstitucional referente aos direitos políticos é a Lei 4737/65 (Código Eleitoral); 5) direitos sociais – direitos sociais, ou de 2ª geração, se caracterizam por terem como titulares grupos específicos de pessoas como por exemplo crianças, mulheres, trabalhadores etc. Exigem do Estado um fazer, um animus de proteção efetiva na persecução desses direitos a fim de amenizarem as desigualdades sociais. Importante ressaltar que, como já entendeu o Supremo Tribunal Federal, o rol dos direitos fundamentais (que são cláusulas pétreas – art. 60, §4º ,inciso IV da CRFB/88) é meramente exemplificativo, visto que podemos depreender novos direitos implicitamente como também pela incorporação de tratados internacionais de direitos humanos (art. 5º §§ 2º e 3º da CRFB/88). CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS A doutrina aponta sete características para os direitos fundamentais. São elas: a) universalidade – eles se destinam a todos os seres humanos; b) imprescritibilidade – esses direitos não seperdem pelo decurso do tempo; c) inalienabilidade – esses direitos não podem ser transferidos; d) irrenunciabilidade – esses direitos não podem ser renunciados; e) concorrência – possibilidade de acumular os direitos fundamentais; f) relatividade – estes direitos não são absolutos, pois podem entrar em conflito com outros direitos fundamentais e; g) historicidade – eles são direitos conquistados por revoluções políticas e tecnológicas no decorrer da história no mundo ocidental. APLICABILIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS O art. 5º da Constituição Federal nos diz: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)” Importante notar que tais direitos são extensíveis também aos estrangeiros em território nacional. No entanto, o estrangeiro não residente também poderia ser abrangido, conforme diz Pedro Lenza: “O caput do art. 5.º faz referência expressa somente a brasileiros (natos ou naturalizados, já que não os diferencia) e estrangeiros residentes no País. Contudo, a estes destinatários expressos, a doutrina e o STF vêm acrescentando, mediante interpretação sistemática, os estrangeiros não residentes (por exemplo, turismo), os apátridas e as pessoas jurídicas. Nada impediria, portanto, que um estrangeiro, de passagem pelo território nacional, ilegalmente preso, impetrasse habeas corpus (art. 5.º, LXVIII) para proteger o seu direito de ir e vir.”(LENZA, 2012, p. 963) “Nos termos do art. 5.º, § 1.º, as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. (...) Como anota José Afonso da Silva, ter aplicação imediata significa que as normas constitucionais são “dotadas de todos os meios e elementos necessários à sua pronta incidência aos fatos, situações, condutas ou comportamentos que elas regulam.(...)” (...) Então, qual seria o sentido dessa regra inscrita no art. 5.º, § 1.º? José Afonso da Silva explica: “em primeiro lugar, significa que elas são aplicáveis até onde possam, até onde as instituições ofereçam condições para seu atendimento. Em segundo lugar, significa que o Poder Judiciário, sendo invocado a propósito de uma situação concreta nelas garantida, não pode deixar de aplicá-las, conferindo ao interessado o direito reclamado, segundo as instituições existentes” Nesse sentido, diante de omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, a CF/88 trouxe duas importantes novidades, quais sejam, a ação direta de inconstitucionalidade por omissão — ADO (agora regulamentada na Lei n. 12.063, de 27.10.2009, e por nós comentada no item 6.7.3) e o mandado de injunção (MI, art. 5.º, LXXI, estudado no item 14.11.5).” (LENZA, 2012, p. 963 e 964) “Diante do exposto, sem dúvida, cresce a teoria da aplicação direta dos direitos fundamentais às relações privadas (“eficácia horizontal”), especialmente diante de atividades privadas que tenham um certo “caráter público”, por exemplo, em escolas (matrículas), clubes associativos, relações de trabalho etc. Nessa linha, poderá o magistrado deparar-se com inevitável colisão de direitos fundamentais, quais sejam, o princípio da autonomia da vontade privada e da livre- iniciativa de um lado (arts. 1.º, IV, e 170, caput) e o da dignidade da pessoa humana e da máxima efetividade dos direitos fundamentais (art. 1.º, III) de outro. Diante dessa “colisão”, indispensável será a “ponderação de interesses” à luz da razoabilidade e da concordância prática ou harmonização. Não sendo possível a harmonização, o Judiciário terá de avaliar qual dos interesses deverá prevalecer.”(LENZA, 2012, p. 969) QUESTÕES QUESTÃO DISCURSIVA 1 A União Brasileira de Artesãos, sociedade civil sem fins lucrativos, por decisão de sua diretoria determinou a exclusão de alguns de seus sócios sem garantia da ampla defesa e do contraditório. Entendendo que os direitos fundamentais assegurados pela Constituição não vinculam somente os poderes públicos, estando também direcionados à proteção dos particulares nas relações privadas, tais sócios buscam tutela jurisdicional no sentido de invalidar a referida decisão. Diante do que dispõe o art. 5º, XIX, CRFB, poderia o Poder Judiciário invalidar a decisão da diretoria da entidade? QUESTÃO DISCURSIVA 2 A ABRATI – Associação Brasileira das Empresas de Transporte Rodoviário Intermunicipal, Interestadual e Internacional de Passageiros - ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal onde pedia a declaração de inconstitucionalidade da Lei 8.899/1994. Tal norma assegura o direito ao passe livre às pessoas portadoras de deficiência, desde que comprovadamente carentes, no sistema de transporte coletivo interestadual. Segundo a ABRATI, a norma viola os seguintes dispositivos constitucionais: art. 1º, IV; art. 5º, XXII; art. 170, II e art. 195, § 5º. Alega, em síntese, violação do direito de propriedade e da livre iniciativa, direitos fundamentais que devem ser protegidos pelo Supremo Tribunal Federal. Em parecer, o Procurador-Geral da República manifestou-se pela improcedência da ação, uma vez que a Constituição consagra como Direito Fundamental a proibição de discriminação e a norma em xeque procura realizar a efetiva inclusão social dos deficientes físicos com carências econômicas, razão pela qual, numa ponderação entre os direitos em conflitos estes deveriam prevalecer em detrimento do direito à propriedade. Analise o conflito acima, assinalando se a Lei 8.899/1994 deve realmente ser declarada inconstitucional. Para a solução deste caso procure utilizar a técnica da ponderação de interesses. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA NESTA AULA, NA PESQUISA E CONFECÇÃO DO MATERIAL Material didático fornecido pela Universidade Estácio de Sá – Coordenação do Curso de Direito CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. Coimbra: Livraria Almedina, 1993. LENZA, PEDRO. Direito Constitucional Esquematizado, São Paulo: Saraiva, 2012. Disciplina: DIREITO CONSTITUCIONAL I Professor: CARLOS ALBERTO LIMA DE ALMEIDA Email: carlosalberto.limadealmeida@gmail.com Facebook: Carlos Lima de Almeida
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