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Psicodiagnóstico (Modalidade Interventiva na Prática Clínica)

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58
ORIGINAL
Investigação - Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) v. 5 n. 1/6 jan. 2003 / dez. 2005
RESUMO: neste artigo, um caso clínico constituiu um campo vivencial para levantar
conjecturas sobre o caráter interventivo do processo psicodiagnóstico e até que ponto envolve
uma modalidade de investigação. O presente trabalho tem como objetivo discutir os aspectos
psicológicos obtidos qualitativamente por atendimentos aos pais e a uma criança, utilizando-
se instrumentos como entrevista semidirigida, anamnese, sessão lúdica e aplicação de testes
projetivos, tendo como finalidade buscar subsídio teórico-prático para a verificação dos
benefícios e prejuízos proporcionados pelo processo psicodiagnóstico. Certamente, as
conclusões apresentadas referem-se aos sujeitos envolvidos no caso estudado. Este artigo
menciona, também, como o psicodiagnóstico contribui para a formação da atitude clínica
do estagiário de Psicologia.
Palavras-chave: psicodiagnóstico, processo interventivo, ludoterapia, atitude clínica.
ABSTRACT: in this study, a clinical case constituted a source of questions in order to make
conjectures about the interventive character of the psycho-diagnosis process and to what
extent it involves an investigation modality. The study aimed at discussing psychological
aspects which were qualitatively obtained through the attendance given to a child’s parents
using instruments such as: semi-directed interview, questionnaire, child therapy and
application of projective tests with the purpose of searching a practical and theoretical base
to observe the benefits and damages caused by the psycho-diagnostic process. Certainly, the
conclusions presented refer to the subjects involved in the studied case. This article also
mentions how the psycho-diagnostic process contributes to the formation of the clinical
attitude of a Psychology trainee.
Key words: psycho-diagnosis, interventive process, child therapy, clinical attitude.
PSICODIAGNÓSTICO: MODALIDADE
INTERVENTIVA NA PRÁTICA CLÍNICA
PSYCHO-DIAGNOSIS: INTERVENTIVE
MODALITY IN CLINICAL PRACTICE
Leonardo de Carvalho Rodrigues Puccinelli1
Irma Helena Ferreira Benate Bonfim2
1 Psicólogo pela Universidade de Fran-
ca.
2 Docente do curso de Psicologia da
Universidade de Franca, Psicoterapeuta
e Supervisora de estágio em Psicologia
Clínica/Psicodiagnóstico no serviço de
Psicologia Clínica oferecido na Clínica-
Escola do curso de Psicologia da Uni-
versidade de Franca. Especialista em
Psicanálise de Criança pelo Instituto
Sedes Sapientiae e mestranda em Pro-
moção de Saúde.
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Investigação - Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) v. 5 n. 1/6 jan. 2003 / dez. 2005
INTRODUÇÃO
O processo de psicodiagnóstico vem sendo
amplamente discutido pela psicologia quanto a sua
função e adequação à realidade. Neste sentido, pelo
presente estudo de caso, objetiva-se efetuar uma
reflexão condizente à prática clínica atual.
De acordo com Ancona-Lopez (1995, p. 28-29),
“toda atuação psicológica é uma ação de intervenção
cujo significado será dado pelo campo relacional
que se estabelece entre as partes e que é exclusivo
e peculiar àquele momento e àquela relação”.
Por um lado, tem-se a ação terapêutica do
psicodiagnóstico no campo analítico, por outro,
torna-se importante para aquele que conduz a prá-
tica clínica considerar todo o universo em que a
criança está inserida, ou seja, conhecer as variáveis
do contexto a ela relacionada, no qual se desta-
cam aspectos familiares, sociais e econômicos.
Considerando o que foi sugerido, pressupõe
que os lugares que a criança freqüenta influenci-
am na formação de seu psiquismo. A partir disto,
resulta a importância em ter conhecimento do con-
texto social da criança possibilitando na prática clí-
nica um melhor estabelecimento do ‘campo
bipessoal1’ para compreender o sintoma.
Além deste aspecto referido acima, Dolto
(apud CAMERINI, 1998, p. 71) procura mostrar
que “não são apenas os fatos reais vividos pela crian-
ça que terão importância significativa em seu
psiquismo, mas também o conjunto das percepções
que ela tem deles e o valor simbólico registrado”.
O pensamento da autora supracitada assinala
a importância da escuta das percepções e fantasias
do paciente, as quais são vivências intrapsíquicas
que podem ser acessadas e exploradas pelo paciente.
Esta dinâmica ocorrerá gradualmente na medida em
que o analista proporcionar um espaço vivencial e
interventivo para a manifestação das mesmas.
Sabe-se que este aspecto interventivo aconte-
ce na relação paciente/analista, inclusive no pro-
cesso psicodiagnóstico, no qual o paciente encon-
tra uma possibilidade de acolhimento e abertura
para uma mudança na problemática apresentada
como queixa manifesta, mesmo sendo um pro-
cesso com um tempo pré-determinado.
Dessa forma, evidenciando-se o estudo dos
‘benefícios e das perdas’2 neste processo, será pos-
sível contribuir para a verificação no processo de
psicodiagnóstico, do que é proporcionado e
construído na relação analista/paciente.
Nota-se, por outro lado, que este processo
proporciona ao estagiário de psicologia possibili-
dades de configuração de sua atitude clínica, na
medida em que é a primeira oportunidade que
possui de atender a um paciente.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho derivou-se de um projeto de es-
tágio, que se constitui em uma avaliação
psicodiagnóstica de um paciente (criança). A partir
dessa oportunidade, verificou-se a necessidade de
entender quais os benefícios que o paciente obte-
ve com esse processo psico-avaliativo, pois ao final
do mesmo o paciente já relatava melhora na quei-
xa trazida.
Para tanto, fez-se um estudo de caso, empre-
gando-se como método de compreensão uma aná-
lise qualitativa.
Como fonte de estudo, selecionou-se uma cri-
ança do sexo masculino, com 9 anos de idade e
seus pais, os quais procuraram o serviço de Psico-
logia da Universidade de Franca, que obteve o
consentimento livre esclarecido.
Após a explicação dos objetivos e duração da
avaliação e do estudo de caso, foi assegurado aos
pais e ao paciente o direito de participação e não-
participação, sem implicações para a continuidade
do tratamento na clínica de psicologia, sendo man-
tido sigilo e respeito à integridade dos participan-
tes. Ressalte-se, portanto, que os participantes es-
tavam cientes dos objetivos deste estudo e em que
condições ele seria realizado.
Para a realização do estudo de caso, utiliza-
ram-se os seguintes instrumentos: roteiro de
anamnese com os pais, caixa lúdica contendo brin-
quedos, jogos e materiais didáticos (sulfite, lápis
1 Lisondo et al. (1996), coloca como útil o conceito de campo bipessoal de M. e W. Baranger
(1993). A situação analítica como um campo bipessoal pode ser entendido como uma
estrutura dinâmica resultante da interação consciente e inconsciente de analista/anali-
sando.
2 Entende-se como aspectos positivos e negativos proporcionados pelo psicodiagnóstico,
ou seja, uma avaliação psicológica de caráter interventivo que promove ao paciente um
espaço terapêutico, o qual deverá ser finalizado dentro de um breve período.
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preto e de cor, massa de modelar e guache) e testes
projetivos (HTP e CAT) com a criança.
DISCUSSÃO
a) Psicodiagnóstico: delineando estórias de vidas
A prática de avaliação psicológica constitui-se
numa das atividades mais antigas do psicólogo,
contribuindo de maneira significativa para a for-
mação de sua identidade profissional. Durante um
longo período, o psicólogo delineou seu trabalho
utilizando o modelo médico, cujos termos foram
consagradospelo exercício da psicologia clínica.
Atualmente, este modelo não mais exerce influên-
cia na prática da avaliação psicológica. E, justa-
mente por não mais haver influência do modelo
médico sobre a prática da psicoterapêutica, a psi-
cologia clínica vem sendo alvo de críticas infundadas,
sejam elas de natureza científica ou ideológica.
Ao delinear as concepções de diagnóstico de
personalidade, sente-se necessidade de se tecerem
alguns comentários sobre o pensamento clínico.
A respeito desta temática, é interessante repor-
tar-se aos processos de pensamento descritos por
Dewey (1933, p. 93 apud TRINCA, 1983, p. 96)
quando argumenta:
Que todo pensamento reflexivo é subordinado a cin-
co partes, logicamente diferenciadas entre si: a) exis-
tência de uma dificuldade; b) sua localização e defini-
ção; c) ocorrência de uma hipótese, ou sugestão de
uma solução possível; d) desenvolvimento do raciocí-
nio tendo em vista a sugestão ou hipótese; e) observa-
ções, verificações e experiências posteriores,
conducentes a sua aceitação ou ao seu afastamento.
O modelo de psicodiagnóstico utilizado, além
de refletir-se num vértice de orientação psicanalíti-
ca, é semelhante às elucidações anteriores, sendo
constituído por uma coleta de dados sobre a qual
será organizado um pensamento clínico acerca da
queixa apresentada, para estabelecer se o paciente
se enquadra nas propostas de atendimento para,
posteriormente, ser encaminhado a um serviço de
atendimento psicoterápico mais indicado.
Ancona-Lopez (1995, p. 28) esclarece que “o
psicodiagnóstico é uma atividade que veio se de-
senvolvendo paralelamente à própria Psicologia e
à profissão de psicólogo, recolhendo suas práticas
nas inúmeras teorias que procuram conhecer e
compreender o homem”.
A aproximação do psicodiagnóstico à técnica
psicanalítica possibilitou ao psicólogo maior auto-
nomia de idéias e práticas e, concomitantemente,
fortaleceu sua identidade profissional na medida
em que estuda o intra-subjetivo.
Afirma-se que na práxis clínica, o processo de
psicodiagnóstico ainda é hoje trabalhado nos mol-
des clássicos, respeitando-se uma avaliação siste-
matizada. No entanto, caminha para uma ampli-
tude maior, na medida em que busca uma com-
preensão da psicodinâmica do cliente.
Deste modo, a flexibilidade deve estar presente
na atuação psicológica e na construção do campo
bipessoal. Bleger (1998, p. 16) ressalta que “toda
conduta se dá sempre num contexto de vínculos e
relações humanas [...]”.
Sabe-se que a pureza ou imparcialidade na
observação científica de fenômenos é algo muito
estreito, ainda mais que, as manifestações do ob-
jeto que estudamos dependem da relação que se
estabelece com o psicoterapeuta.
b) Psicodiagnóstico como etapa anterior ao aten-
dimento infantil
A realização do psicodiagnóstico como etapa anterior
à psicoterapia infantil apóia-se em duas justificativas:
a primeira diz que o psicólogo deve obter a compre-
ensão mais profunda e completa possível da persona-
lidade do paciente para fornecer indicações terapêuti-
cas adequadas e a segunda argumenta que o
psicodiagnóstico deve ser utilizado como instrumen-
to para planejar, guiar e avaliar a intervenção terapêu-
tica (MONACHESI, 1995, p. 196).
Importante lembrar também que, anterior ao
atendimento infantil, fazem-se atendimentos aos
pais da criança, entrando-se em um campo de re-
lações imprevisíveis.
Fala-se do campo psicanalítico, entendido
como resultante da interação consciente e incons-
ciente da relação analítica, na qual estão presentes
a transferência3 e a contratransferência4.
Aberastury (1982, p. 139) afirma: “o psicana-
3 Roudinesco e Plon (1998) atestam como um termo introduzido por Freud para designar
um processo constitutivo do tratamento psicanalítico mediante o qual os desejos incons-
cientes do analisando concernentes a objetos externos passam a se repetir, no âmbito da
relação analítica, na pessoa do analista.
4 Laplanche e Pontalis (1998) citam como termo psicanalítico que designa o conjunto das
reações inconscientes do analista à pessoa do analisando, mais particularmente, à trans-
ferência dele. Reações estas, que emergem da inter-relação existente com o paciente.
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lista de crianças enfrenta-se com duplo problema
de transferência: do paciente e dos pais. Entramos
com este tema num ponto fundamental da técnica
de crianças: o relacionamento com os pais e sua
inclusão no tratamento da criança”.
Quando se trabalha com crianças, o campo
bipessoal não constitui mais uma dupla, mas uma
tríade: psicoterapeuta-paciente-pais, sendo estes
últimos elementos importantes para contribuírem
no trabalho dos impasses emocionais da criança e,
muitas vezes, deles próprios.
Durante o decorrer do presente estudo de caso,
percebeu-se uma identificação5 na relação
psicoterapeuta e pais, na qual pôde-se vivenciar
um resgate de experiências emocionais passadas,
tanto pelos pais quanto pelo analista.
O aparecimento da contratransferência como
turbulência emocional que se expressa na
concretude da atuação prejudica o interjogo men-
tal, principalmente quando “o pensamento verbal
é submetido a contínuos ataques, além do excessi-
vo uso de identificações projetivas que impedem
de sintetizar e articular as impressões sensoriais”
(BION, 1972, p. 62 apud TRINCA, 1983, p. 170).
Ainda neste sentido, na relação estabelecida
com os pais houve a presença de ataques destrutivos
inconscientes como tentativa de impossibilitar o
pensar do psicoterapeuta e sua atitude como agen-
te propiciador de insights.
Na relação transferencial com o analista, os
pais podem vivenciar a situação emocional com
rivalidade, devido ao fato de quando em análise
os pais retomam a posição de filhos, revivendo as
relações primitivas da própria infância.
Então, dá-se grande importância em compre-
ender e valorizar tais acontecimentos como instru-
mento para a aproximação do vínculo estabeleci-
do entre paciente e psicoterapeuta.
Complementando a questão, Ferro (1995, p.
16) afirma: “na sessão estão em jogo emoções, ou
melhor, estados de espírito muito primitivos que
não tiveram ainda acesso à possibilidade de serem
pensados [...]”.
Desta forma, é muito freqüente na análise de
crianças o surgimento de angústias que são desper-
tadas no psicoterapeuta, devido ao fato da necessi-
dade de lidar com seu mundo interno, bem como
também reviver o encontro da criança no adulto.
Freqüentemente, isso acontece pelo analista encon-
trar dificuldade no conteúdo da comunicação com
a criança.
Bastos (1988, p. 566) afirma que “[...] a eficá-
cia da comunicação verbal com a criança em aná-
lise está estreitamente ligada à compreensão do sig-
nificado que a palavra tem para ela [...]”.
Para alcançar tal eficácia, o psicoterapeuta deve
utilizar estratégias na relação com a criança, como
a capacidade de simbolização das palavras.
c) Ludoterapia em psicodiagnóstico: perdas e
ganhos
Ao longo do período de avaliação com a cri-
ança estudada, a relação psicoterapeuta/paciente
decorreu bem diferente das considerações
supracitadas. A criança mostrou-se cada vez mais
motivada na criação de seu próprio espaço, com
maior confiança naquele que lhe proporcionava
tal espaço (psicoterapeuta). Isto justifica sua inicia-
tiva em brincar e construir, demonstrando necessi-
dade em estar no setting analítico, o que mais tar-
de refletiu-se numa concordância com as impres-
sões trabalhadas na entrevista devolutiva, como a
dor da separação, uma problemática decorrente do
encerramento do processo terapêutico com o
psicoterapeuta. Então, temos uma faceta
interventiva do psicodiagnóstico, apresentando um
indicador visível de ‘ganho terapêutico6’ para o pa-
ciente, que se encontraem um processo com pro-
pósitos de avaliação.
Já com os pais, registraram-se fatos inespera-
dos, ocorrendo uma relação turbulenta nos primei-
ros contatos para a realização da anamnese. Du-
rante o processo terapêutico do paciente, os pais
experimentaram momentos de reflexão e depres-
são7, pela oportunidade de estarem pensando so-
5 Roudinesco e Plon (1998) discutem como um termo empregado em psicanálise para
designar o processo central pelo qual o sujeito se constitui e se transforma, assimilando ou
se apropriando, em momentos-chave de sua evolução, dos aspectos, atributos ou traços
dos seres humanos que o cercam.
6 Enquanto possibilidade de mudança e momentos de ressignificação das condutas
estabelecidas no repertório cotidiano do cliente.
7 O termo não se refere ao quadro clínico de depressão. O vocábulo empregado, conforme
Segal (1975), indica uma maior integração psíquica, referente à posição depressiva de M.
Klein, na qual predominam os mecanismos de integração do ego e do objeto. Está presen-
te, também, o sentimento de culpa e a capacidade de reparação, ou seja, restaurar os
objetos amados, internos e externos.
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bre a nova relação com a criança. Por intermédio
destes momentos, foi possível realizar uma
mensuração obtida dos relatos dos pais durante as
entrevistas com os mesmos. Estes se apresentaram
na entrevista final com um amplo repertório de
melhora na relação com a criança, e também uma
melhora da interação criança/escola. O paciente
mostrou-se mais voltado para sua individualida-
de, ou seja, no exercício de suas capacidades inte-
lectuais e emocionais com mais autonomia. Além
disso, os pais também relataram um maior respei-
to à privacidade da criança. Neste sentido, visualiza-
se outro ganho terapêutico para o paciente.
No entanto, temos uma outra faceta do pro-
cesso: as perdas como uma atitude de fechamento
e interrupção do processo psicodiagnóstico; o pa-
ciente e aqueles que estão envolvidos mal conse-
guem elaborar a separação do recente vínculo es-
tabelecido com o psicoterapeuta.
Compreendendo o processo psicodiagnóstico
com objetivos específicos, tem-se clara a necessi-
dade de uma avaliação quanti-qualitativa, referin-
do-se aos instrumentos metodológicos de avalia-
ção utilizados como anamnese e testes projetivos,
os quais mostraram indicadores importantes da
personalidade do paciente, seus conflitos atuais, sua
socialização e o desenvolvimento do dinamismo
psicológico.
Em nenhum momento, este trabalho teve
como finalidade discutir a validade destes méto-
dos. Pelo contrário, reforçou-se a sua prática sem
desprezar o contexto interventivo que o mesmo
proporciona, valorizando a demanda emocional
em questão.
Desta forma, é o caso de se questionar se este
será um processo de avaliação sistemática que tenha
por premissa proporcionar melhoras concretas.
Contudo, quanto à denominação (investiga-
ção e intervenção), pode-se assegurar que é mera-
mente didática, sendo que, na situação clínica
vivenciada, as atuações realizadas dentro de um
“método sistemático” de investigação foram de
proporções interventivas bastante significativas, ofe-
recendo espaço para a escuta e o acolhimento, os
quais constituem bases fundamentais na constru-
ção de um campo bipessoal.
d) Atitude clínica: relato de uma experiência
pessoal
 O processo psicodiagnóstico propicia ao esta-
giário envolvido um aprendizado que influencia
sobre sua formação profissional na área clínica. O
estagiário vivencia um período de conquista pelo
papel de psicólogo, aprendendo a discernir sobre
as possibilidades e limites que envolvem este pa-
pel. E, desta forma, exerce a abertura de caminhos
para a formação de sua identidade profissional
enquanto psicólogo.
Ainda no processo de psicodiagnóstico, o es-
tagiário tem que lidar com momentos de conquis-
tas e conflitos, bastante freqüentes ao iniciar a con-
duta clínica em psicologia. Após experimentar um
breve período de prática clínica, o estagiário finali-
za o psicodiagnóstico por determinações do pro-
cesso. Neste sentido, o estagiário recém-iniciado
se depara com a frustração seguida do término de
seu atendimento, tendo que elaborar certas angús-
tias emergentes da prática clínica interrompida.
Dentro de um enfoque psicanalítico, sabe-se
que o principal instrumento de estudo e trabalho
do analista é sua própria mente. Seguindo por esta
via, as experiências do mundo interno do
psicoterapeuta constituem os elementos que irão
influenciar na formação da atitude clínica do mes-
mo.
 Tsu (1983 apud AGUIRRE et al., 2000, p. 53)
define três fatores básicos necessários para a for-
mação da atitude clínica do estagiário de psicolo-
gia: “sua própria psicoterapia, seu conhecimento
teórico e sua prática clínica supervisionada”.
Ao pensar nestes três fatores básicos, volta-se
para a atitude clínica do estagiário, proporcionada
pela inter-relação destes três fatores, os quais
internalizados pelos estagiários, tornam possível a
utilização dos recursos pessoais (conhecimento te-
órico e análise pessoal) para a escuta e interpreta-
ção do psiquismo do paciente.
Nesta linha de pensamento, considera-se “que
a atitude clínica é uma experiência subjetiva que é
objetivada na relação com o cliente” (AGUIRRE
et al., 2000, p. 54).
Como experiência pessoal de um caso clíni-
co, tornam-se reais os argumentos supracitados na
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medida em que se vivencia emocionalmente a
constituição de um vínculo.
Esta vivência prática no processo de
psicodiagnóstico é supervisionada em grupo; a
aprendizagem teórico-prática torna-se muito váli-
da por dois motivos básicos: o primeiro refere-se
ao fato de um supervisor auxiliar na compreensão
da conduta clínica enquanto estagiário, levantan-
do questões sobre as próprias capacidades e limi-
tações frente ao paciente, o que é importante em
um momento inicial como estagiário. Isto porque,
este se encontra desprovido de qualquer tipo de
experiência de prática clínica profissional. O segun-
do dá-se devido às contribuições dos demais esta-
giários presentes no grupo, que contribuem com
diferentes percepções e posturas para a configura-
ção de uma atitude clínica.
Esta atitude é desenvolvida principalmente
por elementos pessoais. No entanto, alguns ins-
trumentos são necessários para exercer a prática
clínica, como a técnica e o enquadramento do tra-
balho, quando então se reforça a necessidade do
conhecimento teórico e de uma prática clínica su-
pervisionada como outra fonte de conhecimento e
a vontade de estar com o paciente.
CONCLUSÃO
Consignando as ilações propostas, pensar no
processo de psicodiagnóstico composto também por
um caráter interventivo é dar acolhimento àquele
que solicita ajuda, propiciando um espaço para
uma mudança de atitude mental com a realidade
interna e externa.
Ressaltando esta temática, Monachesi (1995,
p. 198) relembra que, com o processo
psicodiagnóstico, “[...] a compreensão diagnóstica
do cliente foi tão ampla que ‘a pesquisa de fatos,
em torno de uma avaliação, está fora de questão e
é praticamente inútil quando o método analítico
não é usado’[...]”.
Complementando o que foi sugerido, o pro-
cesso psicodiagnóstico, na medida em que permi-
te a entrada para um olhar e escuta de caráter ana-
lítico, demonstra a construção de um setting
terapêutico, possibilitando que o outro possa
ressignificar seu conteúdo psíquico. Desta forma,
implica uma prática clínica interventiva, mesmo
tendo um breve número de encontros, como é o
caso do psicodiagnóstico.
Em suma, o presente artigo empenha-seem
esclarecer que o processo psicodiagnóstico não
apenas possui um caráter de investigação, mas en-
volve também um caráter de intervenção, o qual
estabelece um elo de ligação entre as pessoas en-
volvidas neste processo.
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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:
Rua Jonas Alcântara Vilhena, nº 540, Bairro Pq.
Três Colinas - Franca - SP - cep: 14.401-031
Tel: (016) 3722 8481
e-mail: leopsique@yahoo.com.br
p. 58-64

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