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Preconceito ou Intolerância Religiosa sob Movimento Hare Krishna em Caruaru-PE.docx

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Um Estudo Sobre Intolerância E Preconceito A Partir Da Realidade Do Movimento Hare Krishna Em Caruaru-Pe.
Ewerton Alves da Silva[1: Acadêmico do 2° Período em Direito no Centro Universitário Tabosa de Almeida – ASCES-UNITA, Caruaru-PE. E-mail: tomalvess@gmail.com]
Adilson Ferraz [2: Doutorando em Direito pela Universidade de Buenos Aires - UBA, Doutorando em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica Argentina - UCA, Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE e Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Caruaru - ASCES. ]
Resumo
O trabalho utiliza-se de elementos históricos da colonização com participação religiosa em meio aos conceitos da ciência política. Pesquisa uma tendência natural da rejeição ao desconhecido ou pré-concebido ao indivíduo, para tal o estudo no âmbito antropológico. A axiologia investida na eficácia sócio-jurídica da liberdade de crença. Substancia o estudo hermenêutico enquanto preconceito e intolerância e sua antinomia. Utilizamos a participação da sociedade caruaruense, do movimento Hare Krishna em Caruaru-PE e instrumentos da Administração Pública Municipal. O estudo indica um entendimento duplo, a sociedade compreende como preconceito algo de "menor" dano e a intolerância sendo atos valorados por ato de agressão. Já́ para o grupo de pesquisa, os adeptos do movimento Hare e para os órgãos do Governo Municipal, bem como para o ordenamento jurídico, tratam-se de sinônimos em prática.
Palavras-chave: Caruaru; Religião; Intolerância; Hare Krishna.
Introdução
Muitas batalhas já foram travadas no processo de integração de grupos com foco racial, de trabalhadores, de gênero e mais recentemente ao que tange a liberdade sexual. O anseio da aceitação social de forma total por estes grupos, resultou em grandes lutas, obtendo respostas significativas, amparadas em sua maioria primeiramente no âmbito jurídico, que gera um amparo legal que se torna uma ferramenta poderosa diante de uma "maioria". 
Entender a ação da maioria neste sentido é relativo ao que cita Mendes Chaves (CHAVES, Rev. C. Sociais. Vol. I N.01, p.149): 
Na literatura sociológica a palavra minoria tem sido utilizada frequentemente em dois sentidos. Significa primeiro, mais amplamente, um grupo de pessoas que de algum modo e em algum setor das relações sociais se encontra numa situação de dependência ou desvantagem em relação a um outro grupo, "maioritário", ambos integrando uma sociedade mais ampla. As minorias recebem quase sempre um tratamento discriminatório por parte da maioria. Nesse sentido, por exemplo, uma pequena comunidade religiosa de credo divergente da fé professada pela maioria da população é uma minoria e pode sofrer problemas vários no campo das relações religiosas; ou a oposição num país "pouco democrático", ocupando lugar subordinado na estrutura política, tendo pouca chance de ação. 
Pouco se conhece quando é abordado o tema Intolerância Religiosa, pois é facilmente reportado o assunto ao entendimento de preconceito. Qual seria esta diferença? Em que ponto a discriminação, a não aceitação pode ser rotulada e definida pela intolerância ou mero preconceito? Haveria um nivelamento de superioridade e inferioridade entre o preconceito e a intolerância? Quais as sanções positivas e negativas sociais e dos instrumentos do Estado? 
O Movimento Hare Krishna, a religião, protagonista principal do objeto de pesquisa – a dúvida relacionada à manifestação de preconceito ou intolerância - fundamenta-se a partir da premissa histórica de origem do que seria neste momento, portanto, o Movimento Hare Krishna, diferente da maioria dos brasileiros: cristãos. 
Teorias e dogmas do Hare Krishna a nível mais profundo e suas peculiaridades que não colaboram com esta pesquisa serão desprezadas.
Delineando ainda Mendes Chaves, segundo o autor em seu artigo Minorias e seu Estudo no Brasil (CHAVES, 1974), fundamentamos a necessidade da pesquisa também contemplar os instrumentos do Estado, uma vez que a própria criação do Estado e seu processo evolutivo na história vem contribuir para o surgimento e manutenção das minorias, ampliando a diferença entre as relações maioria-minoria. Convenciona ao poder estatal como um instrumento eficiente de uso da maioria para subjugar as minorias. 
Para o Estado Democrático, laico, que detém várias origens étnicas, culturais e religiosas, criar uma nacionalidade homogênea e única seria estar na contramão do regime proposto.
Há de se questionar, o próprio interesse do Hare Krishna na ampla difusão de sua dogmática, do convite à adesão e nas formas gerais de publicidade convidativa. 
Delimitaremos geograficamente o território de pesquisa na cidade de Caruaru, Estado de Pernambuco. Caruaru possui em base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, população (estimada em 2016) em pouco mais de 351 mil e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - (IDHM 2010) de 0,677. Considerada matriz polo econômico do Estado de Pernambuco, detentora de instituições educacionais tradicionais e cursos de nível superior. [3: IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Brasília, 2016. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/pe/caruaru/panorama>. Acesso em: 17 de maio de 2017.]
1. Conceitos De Tolerância Religiosa E Preconceito 
Desde a antiguidade que a humanidade enfrenta conflitos conviviais com base nas divergências religiosas. Em todos os períodos históricos são evidenciadas as batalhas entre pessoas e povos, movidos pela "intolerância", termo que ainda buscaremos melhor compreensão adiante. 
Assim como nas perseguições cristãs contra pagãos e judeus, através de conversões obrigatórias ou às vias de execução em praça pública ou fogueira. A evolução no tempo é visualizada pelas perseguições aos judeus na Alemanha nazista, o conhecido Holocausto, bem como na União Soviética, um Estado com jurisdição ateísta que perseguia quaisquer grupos religiosos. 
Para o estudo contemporâneo, na esfera delineada para Caruaru-PE, município brasileiro, com regime de Estado Democrático de Direito constituído, na realidade do pluralismo religioso, com amparo legal para a liberdade de exercício de escolha individual da prática religiosa, delineia-se o desenvolvimento histórico brasileiro.
A ocupação do Brasil, oriunda da colonização ocidental, portuguesa, católica. Assim destacamos: 
Em certo sentido, o achamento do Brasil esteve inserido dentro do ideal de cruzada presente em Portugal. Os lusos desbravaram os oceanos em busca de cristãos e especiarias, pretendendo encontrar riquezas que pudessem ser comercializadas e cristianizar o mundo. Portanto, a origem do processo de ocupação territorial da Terra de Santa Cruz, serviu, de certa forma, as intenções da igreja católica. 
Os portugueses que vieram para o Brasil estiveram inseridos no universo mental de seu tempo e espaço, partilharam o ideal de cruzada, adotando o catolicismo como insígnia do poder da coroa. (Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 1, Volume ago., Série 29/08, 2010: 01-06). 
Destacamos aqui a característica correlacionada da força religiosa amparada e de certa forma aliada da vertente política das vontades e influências destes que compõem o poder da coroa, do controle social posto naquele momento. 
A ação dos padres jesuítas no Brasil Colônia do século XVI, quando os jesuítas que compunham a ordem religiosa católica chamada Companhia de Jesus, com o objetivo de pulverizar a fé católica, especificamente no Brasil o objetivo de era de cristianizar as populações indígenas. Nas missões, os jesuítas organizavam os indígenas em torno de um regime de trabalho e religiosidade. Submetiam aos costumes e culturas europeias não admitindo qualquer tipo de diversidade cultural, nem mesmo as originárias da colônia, em uma relação de trabalho escravo. 
Trazer estes fatos históricos, colaboram com o entendimento axiológico da predominância religiosa brasileira. Já que a formação da sociedadedar-se-á a partir dos instrumentos educacionais, traz ainda mais a influência religiosa da Igreja Católica, sendo os mesmos jesuítas a instituírem as primeiras escolas no Brasil Colonial. Portanto, todo desenvolvimento ao conhecimento religioso daquela época era controlado pela Igreja. 
No passado, quando a heterodoxia judaica, que perseguiu os seus próprios no processo de evolução e surgimento do Cristianismo, eram judeus perseguindo judeus, apenas pela não aceitação dos ideais ortodoxos. Um quadro bastante original de sectarismo religioso, portanto de intolerância religiosa. Há o que se dizer do símbolo da Intolerância Religiosa, o próprio Jesus Cristo, sendo perseguido, torturado e crucificado pela disseminação de posições divergentes da maioria predominante, em contrário à minoria de Jesus Cristo e seus seguidores. Tais perseguições ocorreram por muitos anos e em todo Império Romano, com penalidades que poderiam ser até mesmo serem devorados por leões. Sofreram ainda os cristãos com o ateísmo da antiga União Soviética da política marxista-lenista. Há ainda na Índia, uma crescente violência perpetrada por Nacionalistas Hindus contra cristãos. O aumento da violência anticristã na Índia tem uma relação direta com a ascendência de movimentos partidários, estes que também justificam suas ações em resposta à condenação dos cristãos pela intolerância religiosa recebida pela crítica em suas crenças. 
Sendo o preconceito como característica de utilizar-se de uma opinião ou sentimento sem uma análise clínica e profunda, manifestado por atitude discriminatória, observamos no decorrer da história, a existência ininterrupta de conflitos religiosos. Um processo de socialização em que o grupo da "maioria" determina e impõe, conciliado frequentemente pelo poder político e educacional, formatando os costumes morais e éticos dominantes da sociedade com base em seus dogmas e leis desta religião. 
2. Entendendo O Movimento Hare Krishna, Sua Introdução No Brasil E Seu Desenvolvimento Na Cidade De Caruaru-Pe. 
Pouco se tem conhecido sobre o Movimento Hare Krishna, em especial no Brasil, principalmente pela característica sociocultural do Nordeste brasileiro, oriundo de uma colonização predominantemente católica como antes abordado. 
Na atualidade as religiões protestantes, popularmente difundidas na sociedade e conhecidas pelo "Movimento Evangélico", onde os praticantes ou adeptos são intitulados popularmente por "crente". Assim mesmo há uma base sustentada pelo cristianismo. A comparação de pesquisa, uma análise por uma religião completamente diferente, com vestimentas e comportamentos, estética, divergentes no aspecto na origem divina da crença elencada como "maioria predominante" no Brasil, em especial na cidade de Caruaru. 
Haveria ainda, o desconhecimento tão profundo do Movimento Hare Krishna a ponto de sequer haver qualquer ilustração da aplicação quaisquer sejam os resultados dos conceitos de Intolerância Religiosa ou Preconceito Religioso? 
A Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna (ISKCON), popularmente conhecida como movimento Hare Krishna, foi fundada por Bhaktivedanta Swami Prabhupada, nasceu com a contracultura na década de 60. Um momento em que as práticas e manifestações visavam criticar, debater e questionar tudo aquilo que era visto como vigente em naquele determinado contexto sócio-histórico, conflitando com o movimento hippie pela semelhança de algumas práticas dogmáticas do Hare Krishna. 
Prabhupada nasceu em Calcutá na Índia e em dado momento da vida encontrou-se com seu mestre espiritual, Bhaktisiddhanta Sarasvati, que o escolheu para difundir o conhecimento védico na língua inglesa, então ele vai para Nova York e lá começa todo um trabalho para difundir a cultura védica. Fundou uma Editora, viajou pelo mundo, publicou livros, o que para ele era sua tarefa principal, e escreveu várias cartas que hoje estão disponíveis em forma de livros. Morreu em 1977, seus seguidores continuaram propagando seus ensinamentos. 
O movimento faz parte de uma das vertentes do hinduísmo, que por sua vez é constituído de múltiplas tradições religiosas. O Hare Krishna está inserido na tradição vashinava, que se caracteriza por ser monoteísta, embora lide com múltiplos aspectos de Deus. 
Descreve o diálogo de Krishna com Arjuna, seu discípulo guerreiro, em pleno campo de batalha. Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre seu dever, e recebe iluminação diretamente de Krishna, que o instrui na ciência da autorrealização. 
Os devotos fazem votos de seguir princípios que irão nortear sua vida espiritual, como uma prática de autorrealização, esses princípios estão diretamente relacionados com a prática da bhakti-yoga. Visam possibilitar a elevação da consciência individual até o estado de consciência de krishna. São eles:1) Não comer carne, peixe e ovos - Este princípio baseia-se na compaixão para com os demais seres vivos. 2) Não intoxicar-se - A pessoa que busca a autorrealização não deve usar substancias que provocam alteração no estado de mente. Princípio da austeridade. 3) Não praticar jogos de azar. Princípio da veracidade. 4) Sexo destinado à procriação. Princípio de limpeza. 
São vegetarianos do tipo vegano que não permite consumir nada de origem animal, em nenhuma área de suas vidas. 
Em resposta, um membro explica o motivo pelo qual tornou-se adepto do Hare, seria por uma busca de solucionar questionamentos sobre a vida, e os livros da doutrina Hare eram os únicos que respondiam suas dúvidas. No início os pais não aceitavam, pois era devotos evangélicos cristãos, mas hoje em dia o apoiam. Elucida que as pessoas tinham medo e nojo ao saber que ele era um "Hare", mas haviam outras pessoas que gostavam, e o abraçavam quando ficavam sabendo que era adepto do movimento. Ele acredita que existe muito preconceito, pois sofreu muitas agressões verbais imediatamente de pessoas que souberam que era um Hare. Na sua opinião, não considera uma religião e sim uma filosofia de vida, comumente entendida pelas principais ideologias: vida simples para ser elevado espiritualmente. 
O movimento se instaurou em Caruaru há 30 anos. A fazenda que moram, é uma reserva ecológica. O procedimento de manutenção é mantido por projetos, a exemplos da loja de artigos indianos que vende roupa, acessórios, incensos, perfumes e livros; tem casa de hóspedes e restaurante vegetariano. Realizam um projeto chamado "Viva o campo", que ensina métodos de agricultura básica e alfabetização. Projeto que tem parceria de desenvolvimento com as igrejas Católica e Anglicana. 
Segundo pesquisa com membros locais de Caruaru, o movimento já sofreu retaliação. As pessoas criam muitos mitos do Hare, um exemplo é que no casamento de pessoas adeptos ao Hare, a primeira noite da mulher é com o chefe. 
Não existe faixa etária, nem gênero, nem raça pra aderir ao movimento Hare Krishna, a exemplo de outro entrevistado, que diz ter encontrado o sentido da vida depois de aderir ao movimento. Sofreu também preconceito na família, principalmente com sua mãe por ser filho único. Houve o mesmo destino do primeiro entrevistado em seu berço familiar, após decorrer do tempo e maior conhecimento por parte dos familiares sobre o que seria o movimento Hare Krishna e suas repercussões na vida. 
O membro Hare comenta que especificamente em Caruaru, nos dias de hoje, não visualiza mais um quadro alarmante de preconceito, em suas palavras diz estarem "acostumados" aos ver nos trajes característicos do Hare. Contudo sofrera agressão verbal enquanto vendia livros na rua, o chamando de vagabundo e "ir para o inferno". Na sua compreensão o Hare Krishna deve sim ser considerado uma religião. 
Krishna significa "toda atrativa", ou seja, um conceito geral de "conexão", entendida através desta consciência. 
Expressa aqui um cenário pelo qual, há uma inércia dos adeptos do movimento quanto à adesão ou não de terceiros, não há um processo de convencimento do outro, tão pouco há qualquer tipo de discriminação, nem relação da prática de atividadesreligiosas que incitam a adesão do outro em face da sua não aceitação, caberá determinada penalidade. Torna-se caracteristicamente inofensivo para a manutenção religiosa do não adepto ao movimento.
3. Pesquisa Social, Instituições Jurídicas E Dispositivos Da Administração Pública. 
O enfoque dado às respostas da sociedade é o instigante, a pesquisa feita aos anônimos urbanos, através de uma limitação quantitativa de indivíduos e de diferentes classes social, econômica e cultural, mais ainda das divergentes religiões. 
3.1 PESQUISA SOCIAL - Na Tabela 1, estratificamos entendimentos abordados, traçando perfis que sustentam uma base preconceituosa no Brasil. Nossa área de atuação da investigação maximizou-se aos arredores da Prefeitura Municipal de Caruaru dentre os populares e alguns entrevistados que compunham espaços administrativos da gestão municipal. Vejamos, portanto: 
1) Qual sua primeira impressão ao ver um adepto do Hare Krishna? 
INTERESSADO: 02; INDIFERENTE: 23; CRÍTICO: 0.
2) O que você sabe sobre o movimento Hare Krishna?
CONHECE: 03; NÃO CONHECE: 06; OUVIU FALAR: 12
3) Como você reagiria ao ver um parente próximo aderir ao Hare Krishna?
INDIFERENTE: TODOS; ESTRANHARIA: 0
4) O que você entende por intolerância, existe? 
EXISTE: 13; NÃO EXISTE: 05; ENTENDE: 07; NÃO ENTENDE: 05
5) Praticante de alguma religião? 
CATÓLICO: 08; AGNOSTICO: 03; PROTESTANTE: 06; Sem religião mas acredita em Deus (pressupõe cristão não atuante): 04; OUTROS: 02
No questionário da pesquisa de campo acima, visualizamos alguns pontos entre os entrevistados: 
a) A maioria das pessoas são indiferentes ao movimento Hare Krishna ou seus adeptos. 
A pergunta questiona sobre a percepção imediata ao se deparar com um adepto do Hare Krishna com vestimentas próprias do movimento. Há um contraponto com o discurso proferido na pesquisa de campo com os próprios integrantes do Hare, a partir do momento que são submetidos à discriminação em vias públicas enquanto comercializavam pacificamente seus livros, em que mesmo sem haver agressão física, a ofensa verbal, gratuita, em público, atingindo a sua moral. 
b) A maioria das pessoas apenas "ouviram falar". 
Há, portanto, com este resultado, um quadro efetivo do desconhecimento da totalidade da doutrina Hare Krishna, assim sendo: 
Em si mesmo, “preconceito” (Voruteil) quer dizer um juízo (Urteil) que se forma antes do exame definitivo de todos os momentos determinantes segundo a coisa em questão. [...] “Preconceito” não significa, pois, de modo algum, falso juízo, uma vez que seu conceito permite que ele possa ser valorizado positiva ou negativamente. (GADAMER, 2005: 360).
O autor aduz que esses preconceitos são guias da compreensão do homem em relação às coisas do mundo (GADAMER, 2005: 389). Todavia, eles se tornam prejudiciais quando se alicerçam em noções populares, intuições arbitrárias e repentinas, com a estreiteza dos hábitos de pensar imperceptíveis (GADAMER, 2005: 355). É por essas formas de preconceito que se entende o surgimento da intolerância no âmbito religioso. 
Pelo conceito até o momento, há portanto completa correlação entre as definições de preconceito e intolerância religiosa. Pressupõe o inverso, aquele que "tolera" não tem qualquer tendência mínima preconceituosa para uma corrente divergente, há além disso, como visto em pesquisa que, a minoria que atende aos perfis de desenvolvimento educacional e desprendimento religioso, tender à prestar curiosidade sobre aquilo que apenas ouviu falar, logo nos primeiros instantes, sem refutar minimamente restrição. 
c) Todos responderam serem indiferentes ao saber que algum familiar aderiu ao Hare Krishna. 
Assim também observado em pesquisa que houveram por parte dos familiares dos adeptos do movimento Hare terem sofrido discriminação familiar. Quadro revertido seja pela necessidade espontânea ou obrigatória pelo vínculo familiar, ou mesmo, havendo uma quebra de paradigma amparada pela garantia no ordenamento jurídico da liberdade de crença. 
Há que seja vinculado que os costumes da doutrina Hare Krishna sejam incomuns aos da grande maioria, em seus aspectos culinários, de reclusão, em sua aparência física e suas roupas, causando estranheza e dúvida quanto a aceitação destes familiares que ingressam no Hare Krishna em relação à aceitação e desenvolvimento social dentro dos perfis padrões e costumeiros. 
d) A maioria aceita existir intolerância religiosa. 
Apesar de não saberem conceituar de forma clara e precisa, a maior parte dos entrevistados acredita na existência da intolerância religiosa. Há um consenso em definir que há na prática da discriminação a violação dos direitos de crença e de liberdade de expressão, destacamos o conceito adotado do uso comum em sempre referirem-se aos direitos. 
e) A maioria dos entrevistados são de religiões predominantemente cristãs. 
Sejam católicos ou protestantes, a soma dos entrevistados que praticam estas religiões com matriz no cristianismo é bastante superior à soma dos demais. Ratificando e colaborando com a evolução histórica da origem e ocupação do Brasil. 
 
3.2 INSTITUIÇÕES JURÍDICAS - Cabe levantar as possibilidades de conhecimento da causa desta rejeição social ou da repercussão negativa no impacto da formulação e condução da infraestrutura jurídica e dos instrumentos do Estado. 
É perceptível que o preconceito revela-se uma barreira para o alcance da liberdade religiosa. Como e quando os preconceitos demonstram-se realmente maléficos no que tocante à religião? Constatamos que eles se tornam prejudiciais quando são externados ofendendo a honra e a dignidade de outrem. Para este controle há limitação das manifestações no âmbito religioso e a legislação nacional intenta delinear esses limites. Inicialmente, deve-se salientar que a Constituição Federal além do artigo 5º, inciso VI, que tutela a liberdade religiosa, prevê no artigo 3º, IV, como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Complementa através do artigo 20 da lei 7.716/89 na esfera penal, criminalizar condutas preconceituosas, inclusive na religião. Ainda no Código Penal tipifica-se a injúria por 2 Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa. 
Segundo dados obtidos em matéria publicada pela jornalista Marcionila Teixeira, Caderno Direitos Humanos do Jornal Diário de Pernambuco, como fonte do serviço "Disque 100", em quatro anos aumentaram os casos de intolerância e violência e origem religiosa de forma alarmante conforme os números: 
Denúncias de intolerância e violência religiosa explodiram no Brasil entre 2011 e 2015, segundo dados do Disque 100 – Disque Direitos Humanos, do governo federal. Passaram de 15 para 556 no período de quatro anos, ou seja, um aumento de cerca de 37 vezes. Pernambuco segue o crescimento. Se em 2011 houve o registro de uma denúncia, em 2015 o número saltou para 10, um crescimento de 1.000%. Em 2016, até 30 de junho, o estado teve quatro casos, enquanto o Brasil registrou 196. (TEIXEIRA, 2016). 
3.3 DISPOSITIVOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - Existe na estrutura da Administração Pública de Caruaru, subordinada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, o Centro de Referência de Promoção da Igualdade Étnico Racial. Dispositivo disponível que porém, necessita de implementação para ser atuante aos casos de acolhimento de denúncias pelo poder público, ou mesmo realizar atividades que atuem no propósito da promoção destes direitos iguais. 
Há o Conselho, que de forma precária ainda atua na militância de forma desonerada por representantes religiosos. Há que se destacar a participação mais assídua das religiões com matrizes africanas, sendo respectivamente, o maior número de casos reais de intolerância religiosa. Disponibiliza vaga participativa para todas as matrizes e formataçõesreligiosas, no caso do Hare Krishna, não há participação efetiva de líderes ou membros. 
Para a instituição pública, os conceitos de Intolerância e Preconceito são semelhantes, enquadrados nos mesmos dispositivos legais e dentro do propósito unificado de promoção e defesa dos direitos. 
Embora esta pesquisa tenha sido realizada no final do primeiro semestre do início do quadriênio (2017-2020) de uma nova gestão administrativa, em que pela tradicional não transição entre gestores e transição de informações, não há antecedentes de registros que pudessem ser fornecidos dados estatísticos, perfis gerais, bem como quaisquer informações que possam fundamentar este estudo. Faltam estudos referentes ao caso de Intolerância Religiosa em Caruaru. Há sim, um quadro visível de falta de investimento financeiro, estrutural e de pessoas para que de fato se apliquem as políticas públicas de combate e prevenção à Intolerância Religiosa, bem como em contrapartida a pouca participação das lideranças religiosas e ativismo na contramão das dificuldades elencadas pelo poder executivo. 
CONCLUSÃO
Conhecer o movimento Hare Krishna foi tão novidade quanto seriam para aqueles populares, os quais submeteram nossa pesquisa de campo. A receptividade, a bondade, consciência social, atuação dedicada ao voluntariado, desapego das questões materiais e econômicas, fazem dos adeptos do movimento Hare Krishna, indivíduos pacíficos e dignos de serem reconhecidos em sua parcela de contribuição numa transformação social, na prerrogativa de que deve proceder apenas do próprio indivíduo e não de forma impositiva.
Ouvir diretamente dos entrevistados, dentro da comunidade Hare, os relatos pessoais de atos constrangedores de sua imagem e honra um primeiro sentimento de rejeição dos familiares e olhares pejorativos dos populares enquanto seus dogmas e crenças, divergentes da maioria da sociedade caruaruense, comprova a existência de preconceito.
Quanto a necessidade de se obter um posicionamento se há preconceito ou intolerância, haja visto que enfrentamos duas questões: uma mais popular, disseminada pela mídia e no entendimento simplista de que exista uma separação, na melhor explanação possível, de que o preconceito seria uma forma mais "amena" e a intolerância os atos mais agressivos e violentos, sendo ainda a intolerância uma forma de não aceitar a religiosidade de outrem. Contudo, a pesquisa traz a resposta científica da igualdade entre os termos, podendo ainda inserir um terceiro, a discriminação, uma vez que a partir do significado antagônico de intolerância, ou seja, a tolerância seria dada a partir da livre aceitação da liberdade religiosa de terceiro sem tecer, ao mínimo que seja um juízo de valor. 
Felizmente, o amparo no ordenamento jurídico, embora não seja tratado de forma específica, entrelaçando-se a discriminação religiosa, junto com raça, cor e etnia, vem dando cada vez mais voz aos que pertencem à minoria de classe religiosa, incluindo as de matrizes africanas – sendo as que mais sofrem represálias - possa através da publicidade dos direitos fundamentais, ocupar seus espaços garantidos em Constituição Federal, porém ainda não absorvidos completamente pela sociedade, mas que se direciona cada vez mais à compreensão, como mostra o recente aumento das denúncias, desconsiderando os casos em que a vítima, descrente de resultados, em face da pouca infraestrutura destinada à estes crimes, não denuncia formalmente, bem como, os casos em que o crime de preconceito torna-se homicídio ou lesão corporal ou mesmo agressão verbal, mascare a causa: intolerância e preconceito religioso.
REFERÊNCIAS
BA, G1. Nº de casos de intolerância religiosa aumenta 300% na BA, segundo MPE. Em 2015 foram registrados 13 casos, enquanto em 2016 já são 56. Órgão diz que casos resultaram em inquéritos policiais, denúncias e acordos. Globo Comunicação e Participações S.A. Bahia, 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/bahia/noticia/2016/11/n-de-casos-de-intolerancia-religiosa-aumenta-300-na-ba-segundo-mpe.html>. Acesso em: 06 de mai de 2017.
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 18 de mai de 2017.
BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Vade mecum. São Paulo: Saraiva, 2008.
BRASIL. LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989. Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7716.htm>. Acesso em: 18 de mai de 2017.
CHAVES, L. G. Mendes. Minorias e seu estudo no Brasil. Revista de Ciências Sociais
Volume 2, número 1, 1971. Universidade Federal do Ceará. Ceará, 1971. Disponível em: <http://www.rcs.ufc.br/edicoes/v2n1/rcs_v2n1a8.pdf>. Acesso em: 05 de mai de 2017.
TEIXEIRA, Marcionila. Denúncias de agressões ligadas à religião aumentaram em Pernambuco. Segundo dados do Disque 100, denúncias de intolerância e violência religiosa passaram de 15 para 556 em quatro anos. Jornal Diário de Pernambuco. Pernambuco, 2016. Disponível em: <http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/2016/10/17/interna_vidaurbana,670413/conciliacao-em-tempos-de-intolerancia.shtml>. Acesso em: 06 de mai de 2017.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Brasília, 2016. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/pe/caruaru/panorama>. Acesso em: 17 de mai de 2017.
MALUF, Sahid, (1914-1975). Teoria geral do estado. 26. ed atual. Pelo Prof. Miguel Alfredo Malufe Neto. São Paulo : Saraiva, 2003.
RAMOS, Fábio Pestana. Religião e religiosidade no Brasil. Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 1, Volume ago., Série 29/08, 2010, p.01-06. 2010. Disponível em: <http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2010/08/religiao-e-religiosidade-no-brasil.html>. Acesso em: 07 de mai de 2017.
SOUSA, Rainer. Jesuítas. Brasil Colônia. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/jesuitas.htm>. Acesso em: 07 de mai de 2017.
TEMPORIM, Christie. Sociologia - Estadual Central: Textos complementares para serem usados em aulas de Sociologia do Ensino Médio. 2010. Disponível em: <http://sociologiacta.blogspot.com.br/2010/07/modernidade-texto-ii-minorias-sociais-e.html>. Acesso em: 06 de mai de 2017.

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