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Numa interação clínica, a maior parte da interação baseia-se no comportamento verbal. Na categorização que criou, Skinner (1957) pôde observar padrões de interação operante específicos ao controle do comportamento do outro. É preciso entender que tudo o que o cliente relata (verbal) vem de uma história de reforço que selecionou tal relato. Ex: “Eu me dôo para as pessoas, sou altruísta. Não consigo ter uma relação sexual em que a mulher não chegue ao orgasmo”. “É o produto comportamental que dá consistência ao relato verbal. O analista de comportamento transforma o relato (...) em uma descrição precisa das contingências em funcionamento, avançando além do relato” (Guilhardi, Diretrizes para ação terapeuticas). Para a clínica, basicamente podemos selecionar 4 categorias mais relevantes: Mando Tato Intraverbal Autoclíticos Os 3 primeiros referem-se aos operantes primários enquanto que o último condiz com o processo de elaboração verbal. O mando é o comportamento verbal em que o falante especifica um reforçador ou comportamento do ouvinte. É controlado por uma O.E. (privação ou est. aversiva), e mantido por uma consequência reforçadora específica. “Eu falei com a P. que gostaria de sair com ela, mas ela quis levar o namorado. Daí eu virei: ‘não dá pra irmos só nós duas?’” Tato é o operante verbal que está sob controle de um estímulo antecedente (não verbal). É mantido por reforço generalizado pois favorece muitas vezes o ouvinte que carece de informações sobre o falante. “Como está se sentindo?” “Sinto que estou perdendo o controle, não sei mais como agir com ele. Fico triste pois tudo que fiz deu errado” Intraverbal é o operante que está sob controle de um estímulo antecedente verbal. É mantido por reforço generalizado. Você tem dificuldades para aceitar um não na relação com as pessoas? Sim, até porque você já viu como é um libriano né?! Passos (2004) afirma que: “O autoclítico é o comportamento verbal que comenta ou qualifica outras porções de comportamento verbal, inclusive outros autoclíticos, ao descrever sua força, apontar suas circunstâncias controladoras, negar afirmações que vêm em seguida [...]” (p.196). Função primordial: modificar a eficácia e o efeito dos operantes de primeira ordem sobre o ouvinte. Portanto, o comportamento autoclítico consiste de unidades de comportamento verbal que comentam, qualificam, enfatizam, ordenam, coordenam e alteram a função de outros comportamentos verbais 9 Todos os operantes citados anteriormente não são corretamente identificados sem que se descreva a função do ouvinte na interação. Audiência é o conceito dado a todo o processo de controle de estímulos, indicativo de punição ou reforço, seleção da temática abordada e até mesmo dos autoclíticos evocados na interação. Cliente é audiência para o terapeuta e terapeuta é audiência para o cliente Para o autor há algumas vantagens em considerar o cliente enquanto audiência: 1. Significado pelo uso: conceitos são selecionados em comunidades verbais específicas, ou seja, usar os termos e sentidos do cliente aumenta o controle de estímulos e compreensão sobre o que o terapeuta aborda; 2. “Escuta do terapeuta”: suprime aversivos condicionados, evita operantes verbais manipulativos, sinaliza reforço, amplia repertório e facilita modelagem; Para Skinner (1953/1994, 1974/2000), o autoconhecimento não é inato, e sim construído por meio das demandas da comunidade verbal, a qual exige que as pessoas descrevam não só o seu comportamento, mas também as variáveis das quais este é função. Se o relato é punido, este repertório comportamental é enfraquecido, impossibilitando, portanto, o autoconhecimento. 3. Redução da “assimetria” na terapia: facilita o controle antecedente e amplia a eficácia do terapeuta enquanto forte SD. Quanto maior o distanciamento menor a eficácia das falas do terapeuta e mais chance de “vaidade cega” controlar o mesmo. Audiência “não punitiva”: neste caso, a “qualidade” da audiência em terapia significa o sucesso ou insucesso do processo. Solteira, 20 anos, filha única de mãe solteira, histórico de abandono por parte do pai. Queixa: cortes por todo corpo, agressividade, depressão. Mãe ia nas primeiras sessões, mas não era “autorizada” a falar com o terapeuta. Abandonara 2 terapeutas que apresentaram discurso parecido com o da mãe. Meio social crítico e impaciente reforçava intermitentemente junto a punições. “Consciente” dos efeitos do próprio comportamento em afastar as pessoas. Terapeuta se colocou “neutro” sem nenhum questionamento crítico e “óbvio” sobre o que ela esperava que iria ocorrer com o comportamento dela. Busca por temas de interesse dela (até mesmo músicas). Redução da esquiva = redução dos cortes, análise funcional. A maioria dos clientes apresenta uma história de controle aversivo que gerou: 1)Supressão condicionada do repertório verbal; • “Acho que não queria vir hoje a terapia pois sei que tá cansado de ouvir minha ladainha sobre o Ricardo” (perigo de uso da punição em algumas abordagens) 2)Manipulação como subproduto (contracontrole verbal: ironia, deboche, dúvida, etc.). Segundo Skinner (1957) o controle aversivo ou a privação de reforçadores importantes atuando sobre o repertório verbal do cliente gera a manipulação verbal como resposta de fuga- esquiva. O termo “manipulativo” trata da arbitrariedade que sustenta o comportamento verbal analisado. Importante distinção: No comportamento verbal manipulativo, os operantes em geral ocorrem em função de reforço para o falante, mesmo que às custas de perda de reforçadores para o ouvinte. A topografia verbal do cliente é controlada mais pela presença do ouvinte do que pelo ambiente não-verbal. • Gera padrão manipulativo pois o sujeito freqüentemente está privado de algo ou sob controle de condições aversivas. É um operante do tipo mando que é emitido com topografia de uma descrição verbal (tato). Por mais que possa perder um pouco a eficácia do mando por não especificar um reforçador para o ouvinte, reduz também possibilidade de punição. Caso a punição seja sinalizada, o falante pode falar que foi um erro de interpretação do ouvinte. “Virei para minha colega e falei que as coisas estavam difíceis pra mim” “Minha amiga perguntou impaciente: se você precisa de mais tempo para juntar dinheiro, porque não fala de uma vez?”. O mando disfarçado parece se tornar “insustentável” no meio social. A comunidade verbal após discriminar a função das verbalizações passa a punir o falante. Contudo, este passa a buscar outros contextos em que tal operante poderá ser reforçado (terapia é um deles) Cuidado! Ser receptivo e se antecipar em solicitações indiretas do cliente pode ser reforço a uma complexa classe de mandos disfarçados. Medeiros (2002) sugere como procedimento reagir aos mandos disfarçados como se fossem realmente tatos. JUSTIFIQUE??? Não reforçar o mando disfarçado, reforçando como tato: Não se utilizou de punição, evitando esquiva; Aumento da variabilidade, privilegiando o reforço diferencial (podendo então se reforçar os mando diretos; Produz tolerância ao atraso do reforço (tolerânciaà frustração); Instruir a emissão de mandos diretos. Apontar os efeitos da manipulação verbal, no terapeuta e nos outros (principalmente em termos dos prejuízos a longo prazo) 19 anos, veio do interior para fazer o pré- vestibular. Nunca foi exigida de nada, apenas em momentos específicos em que se esperava algum desempenho acadêmico/profissional. Considerada “a princesa” da família, apresentava repertório bem caricato de manipulação (mimo) Começou uma faculdade em Biomédicas que exigia muito dela. Sem repertório, passou a se esquivar dormindo nos momentos que tinha que estudar. Em um dado momento a situação na faculdade ficou insustentável, estava quase reprovando se não mudasse seu comportamento. Trouxe a mãe (sem avisar) para a terapia para “discutir” sobre o melhor caminho na resolução do problema. Neste caso, assim como no mando disfarçado, a topografia do operante é alterada para reduzir a probabilidade do contato com punição e aumento da probabilidade de reforço. Topografia de mando sob controle de uma outra OE que não a especificada. “Jogue sua aliança ao mar que eu nunca mais te procuro” “Quero que fique ao meu lado para sermos felizes” Incoerência entre um relato e os comportamentos emitidos é um bom exemplo de manipulação verbal. O controle não se dá pelo tato, mas pela presença de uma audiência específica. Distorção do tato pode ocorrem em função de reforçamento positivo ou estimulação aversiva. Nestes casos, ao relatar um fato ocorrido (tato puro) o sujeito foi punido, entretanto, devido ao atraso da contingência, a punição não atua sobre o comportamento relatado, mas sim sobre o comportamento de relatar. A emissão do tato distorcido na clínica sinaliza controle aversivo do terapeuta ou generalização para a clínica de outros contextos sociais aversivos. Falta de repertório para produção de reforçadores generalizados (ex: status) também se relaciona ao tato distorcido. Pais reforçam tatos distorcidos dos filhos: reforço imediato e menos trabalho na educação. Deve-se evitar (não é uma regra proibitiva!!!) instruções sobre o que fazer fora do consultório (pois esses reforçadores serão arbitrários) e privilegiar a relação terapêutica como mote para reforçar naturalmente novas respostas. Estudamos o comportamento verbal exatamente pelo fato de que (nos humanos) o comportamento verbal exerce controle sobre o comportamento não verbal. Ponto importante: fornecer regras para o cliente tem sua eficácia muito comprometida, pois poderá apenas estabelecer comportamento intraverbal. “A dedicação e organização nos estudos é fundamental” (cliente completamente desorganizado que não passa no vestibular após 6 anos de tentativas) O terapeuta deve treinar auto-observação no cliente assim como tatear seus comportamentos em termos da tríplice contingência. O questionamento e alteração das regras pode ser feito através: Elucidando as consequências a longo prazo; Melhorar a descrição do relato dos eventos, ampliando o controle do tato até que a descrição torne-se adequada; Expondo o cliente a suas próprias regras de maneira planejada (teste) e solicitando uma análise posterior das mesmas. Op. primários apresentado com muitos recursos editivos (floreios). A edição é considerada manipulativa estar sob controle maior por parte de um ouvinte do que da contingência. Um discurso rebuscado demonstra esquiva condicionada e generalização para outros contextos. • 47 anos, divorciado. • Queixa: ansiedade, dificuldade de defender postura oral adequada frente a situações do trabalho em que há pessoas de hierarquia elevada. “Eu não tenho problemas pessoais. O único problema aqui é a questão que eu travo na hora de defender minha postura em alguns momentos no trabalho”. • Histórico de muito controle aversivo na família, “cada um corre atrás do seu”. • Regras do tipo: “se descansar o outro rouba”, “a vida é uma selva”, “ninguém faz nada de graça”. • Falta de contato com reforçadores “gratuitos”. Todos oferecidos por desempenho. O cliente emocionado ao contar uma forte decepção amorosa: C: Eu estou com minha credulidade abalada. Ela havia minado todos os pilares da relação. T: Inácio, como você está se sentindo agora? C: Eu creio que estou bem. Não acho que eu deveria estar sentindo nada demais agora. Deveria? T: Não deveria, mas teria este direito. Me emociona o que você contou, mas você tenta formalizar o que diz até mesmo na hora de falar de um sofrimento... O controle de estímulos oferecido via metáforas parece bastante eficaz por oferecer no episódio verbal propriedade de uma contingência difícil de tatear. É um recurso diferenciado pois reduz a aversividade no questionamento de regras e comportamentos assim como permite a descrição de contingências do futuro. É operação motivacional para a clínica, pois torna preciso o controle verbal sobre o cliente e tende a emocionar o mesmo.
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