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Direito Civil I

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DIREITO CIVIL I 
AULA 5 – Capacidade e Emancipação. 
DAS PESSOAS NATURAIS : CAPACIDADE
Com efeito, enquanto personalidade jurídica é conceito absoluto (ela existe, ou não existe), capacidade jurídica é conceito relativo (pode ter-se mais capacidade jurídica, ou menos). A personalidade jurídica é a potencialidade de adquirir direitos ou de contrair obrigações; a capacidade jurídica é o limite dessa potencialidade
	Portanto, percebam, apesar de alguns autores considerarem inclusive sinônimos, a capacidade e a personalidade não se confundem. Enquanto a personalidade determina a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações a capacidade determina a medida desse exercício de direitos e da possibilidade de se assumir obrigações. Em razão dessa proximidade conceitual, os doutrinadores criaram duas espécies de capacidade, são elas:
Capacidade de direito ou de gozo – é a capacidade que se confunde com a personalidade. Em outras palavras, é a capacidade que todos tem ao nascer com vida, sendo protegidos os direitos do nascituro (art. 2º do Código Civil).
Capacidade de fato ou de exercício – é a capacidade para exercer sozinho os atos da vida civil. Explica Carlos Roberto Gonçalves: “Por faltarem a certas pessoas alguns requisitos materiais, como a maioridade, saúde, desenvolvimento mental etc., a lei, com o intuito de protegê-las, malgrado não lhes negue a capacidade de adquirir direitos [receber doações, p. ex.], sonega-lhes o de se autodeterminarem, de os exercer pessoal e diretamente, exigindo sempre a participação de outra pessoa, que as represente ou assiste”.
CAPACIDADE NÃO É A MESMA COISA QUE LEGITIMIDADE (condiciona o exercício do direito ou a assunção de obrigações às previsões legais.)
	
	Conclui-se que, alguém pode ter capacidade civil plena, mas faltar-lhe a legitimação para a prática do ato. Isso implica dizer que apesar de deter a capacidade de direito e de fato, não poderá exercer o ato por lhe faltar a legitimidade.
	Em razão disso tudo, devemos entender que apesar da proximidade dos conceitos, os institutos não se confundem. Mas fica a dúvida. Os doutrinadores falaram em “hipóteses legais genéricas de incapacidade”. O que seria isso? É o que veremos a seguir.
1.1	DA INCAPACIDADE ABSOLUTA E RELATIVA
		Os arts. 3º e 4º do Código Civil estabelecem as hipóteses de incapcidade absoluta e relativa. Vamos estudar cada uma delas, a começar pelo art. 3º do CC.
	 O art. 3º do Código Civil determina os absolutamente incapazes. É o que explica Flávio Tartuce� abaixo:
“...o art. 3º do CC envolve situações em que há proibição total para o exercício de direitos por parte da pessoa natural, o que pode acarretar, ocorrendo violação à regra, a nulidade absoluta do negócio jurídico eventualmente celebrado, conforme o art. 166, I, do mesmo diploma.
Os absolutamente incapazes possuem direitos, porém não podem exercê-los pessoalmente, devendo ser representados.”
 Importante lembrar que estamos tratando da pessoa física, natural, do ser humano, e não da pessoa jurídica, aquela que tem existência abstrata e não se confunde com a pessoa humana. 
A doutrina esclarece que os absolutamente incapazes serão representados e não assistidos. É o que explicam Stolze e Pamplona� a seguir: “Tal disciplina não foi substancialmente modificada pelo CC-02, uma vez que os menores de dezesseis anos são representados por seus pais ou tutores ...”.
	Isso implica dizer que para a prática dos atos da vida civil os absolutamente incapazes deverão ser representados.
Por fim, deve ser destacado que o Estatuto da Pessoa com Deficiência (art. 6º da Lei nº 13.146 de 2015) alterou as previsões que tratam da capacidade no Código Civil, para afastar a pessoa com deficiência do rol dos incapazes (além de outras alterações).
 	Em razão disso, a redação do caput do art. 3º do CC/02, passa a ser:
	Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
	Dessa maneira, trata-se de imposição legal que irá considerar a idade da pessoa para determinar se possui capacidade de fato ou de exercício. Deve ser ressaltado que a capacidade de direito ou de gozo ele possui (arts. 1º e 2º do CC). Uma ressalva técnica é feita por Stolze e Pamplona� no trecho abaixo:
É bom notar que não é correto dizer que apenas as crianças são absolutamente incapazes. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, até os doze anos de idade incompletos considera-se a pessoa criança (art. 2º, do ECA). Entretanto, conforme mencionado acima, os adolescentes até os dezesseis anos também são reputados absolutamente incapazes.
Assim é tecnicamente mais preciso designar os menores de dezesseis anos tanto quanto crianças (até 12 anos) quanto adolescentes (até os 18 anos)
A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que assistido por seu representante legal, sob pena de anulabilidade (CC, art. 171, I). Certos atos, porém, pode praticar sem a assistência de seu representante legal, como ser testemunha (art. 228, I), aceitar mandato (art. 666), fazer testamento (art. 1.860, parágrafo único), exercer empregos públicos para os quais não for exigida a maioridade (art. 5º, parágrafo único, III), casar (art. 1.517), ser eleitor, celebrar contrato de trabalho etc.
	Relevante começarmos pela transcrição acima para identificarmos algumas características importantes da nulidade relativa. Em primeiro lugar, a necessidade de assistência e não de representação daqueles considerados relativamente incapazes. Além disso, não serão todos os atos que demandarão assistência pois, é reconhecido um “razoável discernimento”� para prática de determinados atos (conferir na transcrição acima).
	Surge a pergunta: Quem são os relativamente incapazes? A resposta está no art. 4º do Código Civil. Vamos comentar as hipóteses.
I – Os maiores de 16 e menores de 18 anos.
	A hipótese trata dos anteriormente denominados menores púberes (em contrapartida aos menores impúberes). Estamos diante novamente de um critério etário que define a capacidade de realizar os atos da vida civil a partir do discernimento esperado das pessoas com essa idade.
	Importante a transcrição em razão de permitir a diferenciação entre assistência e autorização. Na assistência há participação direta do assistente, que participa fisicamente do ato, validando a prática do relativamente incapaz. Já na autorização há participação indireta, em que o responsável apenas comunica que houve autorização para prática daquele ato (geralmente por meio escrito com reconhecimento de firma). 
	Além de tudo isso, dois pontos importantes são destacados por Flávio Tartuce�, abaixo:
“Em complemento, quanto aos menores púberes, vale citar dois dispositivos do Código Civil. O primeiro é o art. 180, pelo qual 'o menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior'. O outro é o art. 181 do CC, pelo qual 'ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga'.”
	No primeiro ponto em destaque, buscou-se flexibilizar a proteção dada a aquele que não possui a capacidade civil plena em razão do discernimento reduzido (o relativamente incapaz – menor púbere), para penalizar o menor que utiliza da idade intencionalmente para obter vantagem. É o caso, por exemplo, de adquirir um produto alegando ter capacidade civil plena, e depois se recusar ao pagamento, alegando ser relativamente incapaz em razão da idade. O segundo ponto em destaque diz respeito a necessidade de se demonstrar o proveito do menor púbere para que seja determinada a devolução de valores que eventualmente recebeu. Caso não seja verificada a vantagem aferida pelo próprio menor, deve-se buscar quem se beneficiou do pagamento realizado ao relativamente incapaz, para se exigir adevolução.
II – Os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
	O inciso II do art. 4º do Código Civil prevê casos em que o discernimento não estará aniquilado, mas de certa maneira, reduzido. Dessa maneira, o critério será o grau de discernimento e não a idade.
	Em razão de serem relativamente incapazes, dependerão de assistência assim como os menores púberes, sendo que os atos da vida civil podem ser limitados pelo juiz, por meio do indispensável procedimento de curatela, conforme art. 1.767 do Código Civil (antigo procedimento de interdição). Destaca-se, também, a possibilidade de se adotar o regime de “Tomada de Decisão Apoiada”, conforme art. 1.783-A, CC/02.
	
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
	Após as mudanças do Estatuto da Pessoa com Deficiência, o inciso III do art. 4º do Código Civil determina que serão considerados relativamente incapazes aqueles que por causa transitória ou permanente, não conseguem exprimir sua vontade.
O exemplo mais comum na doutrina é o do coma, mas também podemos encontrar referência a perda de memória e a hipnose. Outros exemplos são citados por Carlos Roberto Gonçalves�, como: “arteriosclerose, excessiva pressão arterial, paralisia, embriaguez não habitual, uso eventual e excessivo de entorpecentes ou de substâncias alucinógenas...ou outras causas semelhantes, mesmo não permanentes).” 
Ocorre que a doutrina critica a mudança imposta pelo Estatuto, da seguinte forma�:
“Não convence inserir as pessoas sujeitas a uma causa temporária ou permanente, impeditiva da manifestação da vontade (como aquela que esteja em estado de coma), no rol dos relativamente incapazes. Se não podem exprimir vontade alguma, a incapacidade não poderia ser considerada meramente relativa. A impressão que tenho é a de que o legislador não soube onde situar a norma. Melhor seria, caso não optasse por inseri-lo no próprio artigo art. 3º (que cuida dos absolutamente incapazes), consagrar-lhe dispositivo legal autônomo.”
A crítica não deixa brechas para justificar a escolha do legislador. Ao considerar a impossibilidade de expressão da vontade como hipótese de incapacidade relativa, o Estatuto cria um problema técnico. Se os relativamente incapazes são assistidos e não representados, os atos praticados durante sua incapacidade exigem também sua presença física para serem considerados válidos. Portanto, não caberia sua representação apenas pelo curador para que o ato seja válido. Como fazer isso se a pessoa está em estado de coma?
Em razão dessas particularidades é que devemos aguardar novas mudanças no tratamento dessa espécie.
IV – os pródigos.
	Mais uma vez, quem melhor explica o que são os pródigos é Flávio Tartuce�, no seguinte trecho:
“São aquelas pessoas que dissipam de forma desordenada e desregrada os seus bens ou seu patrimônio, realizando gastos desnecessários e excessivos, sendo seu exemplo típico a pessoa viciada em jogatinas.”
	Reparem que não se trata de uma pessoa que gasta muito, mas sim daquela que não consegue se controlar, podendo comprometer todo o seu patrimônio. Dessa forma, trata-se de alguém que não consegue controlar suas finanças, e, em razão disso, pode ficar sem nada. É o que explica Carlos Roberto Gonçalves�, abaixo: “Justifica-se a interdição do pródigo pelo fato de encontrar-se permanentemente sob o risco de reduzir-se à miséria, em detrimento de sua pessoa e de sua família, podendo ainda transformar-se num encargo para o Estado, que tem a obrigação de dar assistência às pessoas necessitadas.”
	Estamos diante de mais um caso que requer declaração judicial de interdição, mas agora, de maneira limitada, visando proteger o pródigo, naquilo que exige cuidado. 
Destaca-se que após as mudanças é preferível utilizar a expressão procedimento de curatela e não procedimento de interdição.
	Por fim, o parágrafo único do Art. 4º do Código Civil prevê que: “Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.” Apesar de Stolze e Pamplona� explicarem a questão em um longo trecho, peço permissão para transcrevê-lo em razão de ser o melhor tratamento dado nas doutrinas consultadas:
“A Lei n. 5.371, de 5 de dezembro de 1967, consagrando sistema de proteção ao índio, institui a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), que exerce poderes de representação e apoio ao indígena. Interessante notar que a Lei n. 6.001, de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto do Índio), considera o indígena, em princípio, agente absolutamente incapaz, reputando nulo os atos por eles praticados sem a devida representação.
Assim, acreditamos que a melhor disciplina sobre a matéria é considerar o índio, se inserido na sociedade, como plenamente capaz, podendo ser invocada, porém, como norma tuitiva� indigenista, não como presunção absoluta, mas sim como situação verificável judicialmente, inclusive com dilação probatória específica de tal condição, para a declaração de nulidade de eventual negócio jurídico firmado.”
3. DA MAIORIDADE E DA EMANCIPAÇÃO
	A subdivisão do estudo que iniciamos agora trata de hipóteses em que a incapacidade irá desaparecer. Em termos técnicos, a doutrina se refere a maioridade e a emancipação como hipóteses de cessação da incapacidade�. Tais hipóteses estão relacionadas a incapacidade relacionada a idade. Isso quer dizer que a maioridade e a emancipação afastam a incapacidade em razão da idade e não em razão de deficiência mental, ou demais casos. É o que explica Carlos Roberto Gonçalves�:
“Cessa a incapacidade desaparecendo os motivos que a determinaram. Assim, no caso da loucura ou da surdo-mudez, por exemplo, desaparece a incapacidade, cessando a enfermidade físico-psíquica que as determinou [ou, no caso do surdo-mudo, quando consegue expressar sua vontade e não há comprometimento do seu discernimento]. Quando a causa é a menoridade, desaparece pela maioridade e pela emancipação.”
	Dessa maneira, vamos tratar agora de hipóteses em que a incapacidade oriunda da menoridade é afastada.
	A primeira delas é a maioridade. Quanto à maioridade não há muito segredo. Segundo o art. 5º, caput, do Código Civil, temos a seguinte redação: 
	Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
	Portanto, a incapacidade para a realização dos atos da vida civil cessa, ou acaba, quando a pessoa completar dezoito anos completos. Quanto a isso, a doutrina tece alguns comentários. O primeiro deles é de Carlos Roberto Gonçalves�, transcrito a seguir:
“Essa capacidade de natureza civil não deve ser confundida com a disciplinada em leis especiais, como a capacidade eleitoral, que hoje se inicia, facultativamente, aos 16 anos (CF, art. 14, §1º, II, c; Código Eleitoral, art. 4º), nem com a idade limite para o serviço militar (17 anos, para fins de alistamento e prestação do serviço militar, segundo o art. 73 da Lei n. 4.375/64, reproduzido no Dec. n. 57.654/66) ou com a prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, de 13-7-1990, art. 2º, parágrafo único) para a aplicação de suas normas às pessoas entre 18 e 21 anos de díade, nos casos expressos em lei e excepcionalmente. Igualmente não deve ser confundida com a idade em que tem início a responsabilidade penal. Se esta vier a ser antecipada para os 16 anos, como pretendem alguns, em nada tal redução afetará a maioridade civil, que permanecerá regida por dispositivo específico do Código Civil.”
	Importante a transcrição completa, pois além de citar diversos dispositivos legais, nos permite visualizar que a capacidade civil é instituto próprio (autônomo) e não se confunde com outras previsões que também consideram a idade como fator determinante.
	Um exemplo interessante é levantado por Carlos Roberto Gonçalves� para ilustrar a cessação da incapacidade pela maioridade, conforme abaixo:
“Desse modo, aos 18 anos os jovens passaram a responder civilmente pelos danos causados a terceiros, ficando autorizadosa praticar validamente todos os atos da vida civil sem a assistência de seu representante legal, como adotar uma criança, por exemplo, desde que sejam 16 anos mais velhos que o adotado (art. 1.618).” [no ECA a previsão está no art. 42, §3º].�
	O segundo comentário importante feito pela doutrina surge de um questionamento natural quando estudamos a maioridade. A pergunta é: “em que instante, precisamente, se completa a maioridade?” Para responder a questão, Stolze e Pamplona� citaram Washington de Barros Monteiro que levanta novos questionamentos e explica:
“Contam-se os 18 anos de momento a momento? Será preciso se compute o último dia integralmente? A opinião mais correta é no sentido de que o indivíduo se torna maior e capaz no primeiro momento do dia em que perfaz os 18 anos. Se ele nasceu num ano bissexto, a 29 de fevereiro, a maioridade será alcançada no 18º ano, mas a 1º de março. Se ignorada a data do nascimento, exigir-se-á exame médico, porém, na dúvida, pender-se-á pela capacidade (in dúbio pro capacitate).”
	Feitos os comentários acima, podemos estudar a emancipação. Como visto anteriormente, trata-se de hipótese de cessação da incapacidade. Segundo Tartuce�, a emancipação pode ser entendida como:
“A emancipação pode ser conceituada como sendo o ato jurídico que antecipa os efeitos da aquisição da maioridade, e da consequente capacidade civil plena, para data anterior àquela em que o menor atinge a idade de 18 anos, para fins civis. Com a emancipação, o menor deixa de ser incapaz e passa a ser capaz. Deve ser esclarecido, contudo, que ele não deixa de ser menor.”
	A última parte da transcrição acima pode parecer sem importância, mas Carlos Roberto Gonçalves � explicando a prevalência de regras especiais sobre as de caráter geral exemplifica a questão:
“As regras sobre capacidade constantes da Parte Geral do Código Civil são de caráter geral e sucumbem ante regras especiais. Desse modo, por exemplo, a jovem que se casa com 14 ou 15 anos de idade, mediante alvará judicial de suprimento de idade, não pode, mesmo emancipada, obter logo título de eleitora, porque o Código Eleitoral exige, para tanto, idade mínima de 16 anos. Da mesma forma, não pode receber carteira de habilitação para dirigir automóveis, pois a idade mínima exigida pelo Código de Trânsito Brasileiro é de 18 anos. Pelo mesmo motivo pode ter o seu ingresso obstado em locais que, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, só podem ser freqüentados por maiores de 18 anos.”
	Dessa maneira, em nome do rigor técnico, estamos tratando de hipótese de antecipação dos “efeitos da aquisição da maioridade e da consequente capacidade civil plena” ou da emancipação. Surge a pergunta: quando poderá ocorrer a emancipação? A resposta está no parágrafo único do art. 5º do Código Civil, conforme abaixo:
	Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
	A partir das previsões legais acima, Stolze e Pamplona classificam a emancipação da seguinte maneira:
“Ocorre que é possível a antecipação da capacidade plena, em virtude da autorização dos representantes legais do menor ou do juiz, ou pela superveniência de fato a que a lei atribui força para tanto.
Cuida-se da emancipação, figura equivalente à declaração de maioridade do direito alemão e do direito suíço.
A emancipação poderá ser:
voluntária;
judicial;
legal.”
	
	Reparem que a nomenclatura utilizada pela doutrina – voluntária, judicial e legal – se relaciona com as previsões do art. 5º, parágrafo único do CC. Para analisarmos cada uma delas, começamos pelos ensinamentos de Flávio Tartuce�, conforme a seguir:
“a) Emancipação voluntária parental – por concessão de ambos os pais ou de um deles na falta do outro. Em casos tais, não é necessária a homologação perante o juiz, eis que é concedida por instrumento público e registrada no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais. Para que ocorra a emancipação parental, o menor deve ter, no mínimo, 16 anos completos.”
	Percebam que a emancipação voluntária está prevista no inciso I do parágrafo único do art. 5º do Código civil. Mas é também no inciso I que vemos a possibilidade de emancipação por “sentença do juiz”, explica Flávio Tartuce�, abaixo:
“b) Emancipação judicial – por sentença do juiz, em casos, por exemplo, em que um dos pais não concordar com a emancipação, contrariando um a vontade do outro. A decisão judicial, por razões óbvias, afasta a necessidade de escritura pública.”
	Apesar do doutrinador tratar como única hipótese de emancipação judicial, nos filiamos a proposta de Tartuce, anteriormente transcrita, no sentido de que é possível visualizar a necessidade de emancipação judicial nos casos em que não há um consenso entre os pais quanto a emancipação. É necessário destacar, porém, que a divergência entre os pais deve ser fundamentada, pois, do contrário, estaríamos diante de um abuso de direito, daquele que impede a emancipação de forma injustificada. 
	Quanto à emancipação voluntária e a judicial merece destaque o seguinte trecho de Nestor Duarte:
Em qualquer caso, seja por concessão dos pais, seja por sentença, a emancipação é irrevogável e só será possível se o menor tiver dezesseis anos completos e reclamar registro de emancipação no Registro Civil de Pessoas Naturais (arts. 9º, II, do CC, e 29, IV, da Lei n. 6.015/73).
	Devemos ficar atentos, portanto, ao fato de que a emancipação é irrevogável. Em outras palavras, após a concessão válida dos pais (que não sofreram coação ou qualquer outro vício que tornaria a emancipação inválida), ou da sentença proferida pelo juiz (também sem vícios que a tornem inválida), não poderá a emancipação ser revogada.
	 “c) Emancipação legal matrimonial – pelo casamento do menor. Consigne-se que a idade núbil tanto do homem quanto da mulher é de 16 anos (art. 1.517 do CC), sendo possível o casamento do menor se houver autorização dos pais ou dos seus representantes.”
	Duas importantes considerações são feitas por Stolze e Pamplona� quanto à emancipação legal pelo casamento, a seguir:
“Um dado relevante a ser destacado é que, excepcionalmente, será permitida a convolação de núpcias por aquele que ainda não alcançou a idade mínima legal (art. 1.520 do CC)�.” (...)
“Interessante notar que, mesmo havendo a dissolução da sociedade conjugal (pelo divórcio, separação judicial ou morte), o emancipado não retorna à anterior situação de incapacidade civil.”
	As considerações são importantes, pois, em primeiro lugar, evidencia a possibilidade de casamento antes dos 16 anos (ver nota de rodapé número 120). Além disso, esclarece que com o fim do casamento pelo divórcio, separação judicial ou morte, o emancipado não retorna a incapacidade civil. Deve ser ressaltado que em caso de nulidade (art. 1.548, CC) ou anulação (art. 1.550, CC), a doutrina se posiciona no sentido de verificar a boa-fé do emancipado�. Se o emancipado agiu de boa-fé, e, portanto, desconhecia a causa de nulidade ou anulação, permanece a emancipação. Do contrário, se agiu consciente da nulidade ou da anulação, retorna a situação de incapaz.
	Seguindo as hipóteses de emancipação legal previstas no art. 5º, parágrafo único, do CC, Flávio Tartuce� explica a previsão do inciso III, abaixo:
“d) Emancipação legal, por exercício de emprego público efetivo – segundo a doutrina, a regra deveser interpretada a incluir todos os casos envolvendo cargos ou empregos públicos, desde que haja nomeação de forma definitiva (DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado..., 2005, p. 21). Estão afastadas, assim, as hipóteses de serviços temporários ou de cargos comissionados.”
	A respeito dessa previsão, Carlos Roberto Gonçalves ensina que�:
“A expressão ‘exercício de emprego público efetivo’ não tem, permissa venia, a extensão que lhe foi dada, significando apenas que o menor tomou posse em emprego público efetivo. Não se compreende que o Estado, depois de reconhecer que o agente público tem maturidade suficiente para representá-lo, e por isso o emancipou, venha a tratá-lo posteriormente como incapaz porque pediu exoneração do cargo que ocupava como se tivesse perdido o siso� ou o amadurecimento anteriormente reconhecido. Eventual burla ou fraude praticada pelo menor, em conluio com suposto empregador, será reprimida pela anulação da emancipação.”
	Deve ser percebido que como no casamento, o posicionamento da doutrina é no sentido da continuidade da emancipação, mesmo com o fim da situação que lhe deu origem. Porém, nos dois casos, privilegiou-se a boa-fé, sendo possível afastar a emancipação caso o emancipado tenha agido de má-fé.
	Atualmente não é fácil visualizar uma situação em que ocorrerá a emancipação legal por exercício de emprego público efetivo. É o que explica Carlos Roberto Gonçalves�, a seguir:
Esse modo de emancipação constava do Código Civil de 1916 e do projeto de novo Código. E se justifica plenamente, porque a maioridade começava aos 21 anos de idade. No entanto, tendo havido, à última hora, emenda para reduzi-la para 18 anos, que acabou aprovada, não mais se justifica a sua manutenção, por ter-se tornado inócuo�. Passou despercebido o reflexo de tal mudança neste capítulo. Aos 18 anos, hoje, as pessoas já são maiores e capazes. E é essa a idade mínima para se ingressar no funcionalismo público, em caráter efetivo, como exige a lei. Dificilmente admitirá o acesso, nessas condições, ao maior de 16 e menor de 18 anos.
	 Dessa maneira, em razão de limitações impostas para ingresso na carreira pública essa modalidade de emancipação legal é pouco utilizada.
	A partir do inciso IV, parágrafo único, art. 5º do CC, encontramos mais uma previsão de emancipação legal. Segundo Tartuce�:
“e) Emancipação legal, por colação de grau em curso de ensino superior reconhecido – para tanto, deve ser o curso superior reconhecido, não sendo aplicável à regra para o curso de magistério, antigo curso normal. A presente situação torna-se cada vez mais difícil de ocorrer.”
	Assim como na hipótese anterior, os doutrinadores destacam a dificuldade em se encontrar situações em que a emancipação legal, por colação de grau em curso de ensino superior reconhecido, aconteça. Em consonância pelo afirmado por Tartuce, Carlos Roberto Gonçalves� ensina:
A colação de grau em curso de ensino superior, e o estabelecimento civil ou comercial, ou a existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria, justificam a emancipação, por demonstrar maturidade própria do menor, afastando, nas duas últimas hipóteses, as dificuldades que a subordinação aos pais acarretaria, na gestão dos negócios, ou no exercício do emprego particular, ao mesmo tempo em que tutela o interesse de terceiros, que de boa-fé com eles estabeleceram relações comerciais.
	Podemos estudar, finalmente, algumas considerações feitas pela doutrina à previsão do inciso V, parágrafo único, art. 5º, CC. Conforme Tartuce� temos o seguinte:
“f) Emancipação legal, por estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego, obtendo o menor as suas economias próprias, visando a sua subsistência – necessário que o menor tenha ao menos 16 anos, revelando amadurecimento e experiência desenvolvida.”
	 Em primeiro lugar, cumpre esclarecer que a utilização da expressão “estabelecimento civil ou comercial” data da divisão entre Direito Civil e Direito Comercial nos primórdios da formação da codificação civil, conforme João Baptista Villela�, sendo mais atual a utilização da expressão estabelecimento empresarial.
	Quanto à relação de emprego, Stolze e Pamplona� tecem a seguinte consideração:
É importante, porém, deixar claro que a emancipação não se adquire, pura e simplesmente, com a celebração de contrato de trabalho, devendo concorrer, como outro requisito, a existência de economia própria, o que descarta, a priori, os contratos de aprendizagem (art. 428 da CLT) e os de jornada a tempo parcial (art. 58-A da CLT), que admitem contratação com remuneração por valores inferiores ao salário mínimo legal.
	O parâmetro do salário mínimo para verificar a economia própria deve ser levado em conta, no entanto, é fantasioso acreditar que o salário mínimo seja a única diretriz a ser analisada, embora seja um critério objetivo a ser seguido. 
		Duas importantes ressalvas são feitas por Nestor Duarte�, que esclarece:
 É preciso que o menor conte com dezesseis anos completos. Aliás, a Constituição Federal proíbe ‘qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos’ (art. 7º, XXXIII).[ver arts. 402 e segs. da CLT]
 O estabelecimento civil ou comercial haverá de ocorrer com recursos próprios, sem auxílio de terceiros, e não se confunde com a continuação da empresa antes exercida ‘por seus pais ou pelo autor de herança’ (art. 974 do CC).
	Dessa maneira a emancipação legal, por estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego, obtendo o menor as suas economias próprias, visando a sua subsistência deve respeitar diversos requisitos, visando proteger o incapaz e, sendo o caso, facilitar a administração dos bens.
	
�	 Flávio Tartuce, ob. cit. ant., pág.126.
�	 Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, ob. cit. ant., pág. 149.
�	 Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, ob. cit. ant., pág. 139.
�	 Idem, pág. 121.
�	 Flávio Tartuce, ob. cit. ant., pág.129.
�	 Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit. ant., pág. 119.
� 	Pablo Stolez, “É o fim da interdição”, 2016, p. 4. Disponível em: � HYPERLINK "http://pablostolze.com.br/" �http://pablostolze.com.br/�. Acesso em 15/02/2016
�	 Idem, ibidem.
�	 Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit. ant., pág. 126.
�	 Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, ob. cit. ant., pág. 148.
�	 Tuitivo: adj (lat tuitu) 1 Que defende, que protege. 2 Diz-se das cartas que se dão a alguém para conservar-lhe a posse ou direito, ou para livrá-lo de ser preso. FONTE: http://www.dicio.com.br/tuitivo/
�	 Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit. ant., pág. 133.
�	 Idem, ibidem.
�	 Idem, pág. 133-134.
�	 Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit. ant., pág. 134.
�	 Pergunta: Se uma pessoa com 18 anos busca adotar outra, sem se importar com a diferença de idade estabelecida pelo art. 42, §3º, ECA, podemos dizer que ela terá capacidade civil plena e legitimidade?
�	 Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, ob. cit. ant., pág. 153. Redação alterada para adequar à redução da maioridade civil, de acordo com o Código Civil de 2002.
�	 Flávio Tartuce, ob. cit. ant., pág.135.
�	 Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit. ant., pág. 139.
�	 Flávio Tartuce, ob. cit. ant., pág.135.
�	 Flávio Tartuce, ob. cit. ant., pág.136.
�	 Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, ob. cit. ant., pág. 155.
�	 Atualmente limitada às hipóteses de gravidez, conforme Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit. ant., pág. 139 e nos casos de ação penal privada em que o casamento pode ser visto como “renúncia tácita, ou perdão tácito” conforme Milton Paulo de Carvalho Filho in Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência: Lei n. 10.406, de 10.01.2002. Coordenador Cezar Peluso. – 3. ed. rev. e atual. – Barueri, SP: Manole, 2009, pág. 1.580.
�	 Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit. ant., pág. 139; Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo PamplonaFilho, ob. cit. ant., pág. 155; Flávio Tartuce, ob. cit. ant., pág.136.
�	 Flávio Tartuce, ob. cit. ant., pág.136.
�	 Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit. ant., pág. 140.
�	 Significado de Siso. s.m. Bom senso; juízo. Fonte: http://www.dicio.com.br/siso/
�	 Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit. ant., pág. 141.
�	 Significado de Inócuo adj. Que não provoca prejuízo; que não ocasiona danos; aquilo que é inofensivo ou não oferece perigo para; útil: remédio útil. Que não oferece perigo moral ou psicológico; que não ofende moralmente. P.ext. Que não consegue atingir a real finalidade ou propósito: medidas políticas inócuas. (Etm. do latim: innocuus.a.um). Fonte: http://www.dicio.com.br/inocuo/
�	 Flávio Tartuce, ob. cit. ant., págs. 136 e 137.
�	 Carlos Roberto Gonçalves, ob. cit. ant., pág. 141.
�	 Flávio Tartuce, ob. cit. ant., pág. 137.
�	 João Baptista Villela. Capacidade civil e capacidade empresarial: poderes de exercício no Projeto. Disponível em: � HYPERLINK "http://daleth.cjf.jus.br/revista/numero9/artigo4.htm"��http://daleth.cjf.jus.br/revista/numero9/artigo4.htm�, Acesso em: 10 de setembro de 2013.
�	 Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, ob. cit. ant., pág. 159.
�	 Nestor Duarte in Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência: Lei n. 10.406, de 10.01.2002. Coordenador Cezar Peluso. – 3. ed. rev. e atual. – Barueri, SP: Manole, 2009, pág. 22.
Profa. Ma. Caroline Vargas Barbosa
profcarol.vargas@gmail.com

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