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Estudos Sócio-Antropológico - A1; M2

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Homem,
natureza e cultura
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
2
Homem, natureza e cultura
Por Sydney Cincotto Junior
Objetivo de estudo:
A cultura, por sua vez, é vista como produto da ação criativa do homem e não como algo 
inerente a natureza dele. Ela deve ser compreendida resultado de um desenvolvimento 
histórico/social e respeitada na sua diversidade. Sendo assim, ao final do estudo deste 
módulo esperamos que você seja capaz de apresentar a antropologia como uma ciência 
que tem como objeto de estudo a cultura. 
Antropologia, ciência do homem e da cultura
É possível afirmar que as primeiras questões que deram origem ao 
saber sobre o homem têm origem com a própria humanidade, pois o 
homem sempre se interrogou sobre sua origem, sua condição e seu 
destino (Laplantine, 2005). No entanto, somente no século XIX é que 
se consolidou, no campo científico europeu, uma disciplina que toma o 
homem como objeto de estudo: a Antropologia. Até aquele momento, o 
pensamento sobre o homem tinha sido mitológico, artístico, teológico, 
filosófico, mas não científico. Tratou-se de transformar o sujeito do 
conhecimento – o homem –, no próprio objeto de pesquisa.
O fato de a Antropologia ter surgido na Europa contribuiu para a cons-
trução do objeto antropológico a partir de uma diferenciação dualista 
entre as sociedades europeias e as não-europeias. A proposta inicial 
da Antropologia era uma tentativa de análise das populações consideradas “simples” 
ou “primitivas” porque não pertenciam ao restrito espaço das sociedades europeias 
consideradas “complexas” ou “civilizadas”. No início do século XX, no entanto, a Antro-
pologia passou a se preocupar também com o estudo da cultura nas sociedades ditas 
“complexas” – urbanas e industrializadas. Foi nesse contexto que a ciência do homem 
passou a ser o estudo da cultura de todos os povos e sociedades. 
Para a Antropologia, o homem e a cultura constituem-se como conceitos básicos, e 
estabeleceu-se como tarefa aos antropólogos responder a difíceis questões: “o que é 
o homem?” e “o que é a cultura?”. Convencionou-se, a partir do século XVII, que o 
homem destacou-se da natureza por ser ele o único animal dotado de razão, convincente 
explicação filosófica demonstrada por René Descartes, que afirmou a separação existente 
entre res extensa – corpo, e res cogitans – espírito.
De acordo com Descartes, os corpos de todos os animais se assemelhavam ao funcio-
namento de máquinas biológicas, mas no corpo-máquina humano havia um espírito, 
responsável por fazer do homem um animal racional. Posteriormente, a ciência, através 
dos estudos da Paleontologia humana revelou que a transição da animalidade para 
a humanidade deu-se de forma processual, em decorrência da evolução da espécie, 
principalmente com o desenvolvimento do bipedismo, da hipercomplexidade cerebral 
e da simbolização (uso da linguagem). Eis que surgiu dessa condição a espécie homo 
sapiens sapiens, nosso ancestral direto. Segundo Morin, homem e cultura nascem juntos, 
e o que ocorre é uma retroação entre mutação genética cerebralizante e complexificação 
cultural. 
3
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
“Enquanto, por um lado, foi a evolução ‘natural’ do cérebro hominídeo 
que produziu e desenvolveu a cultura, foi a evolução cultural que, por 
outro lado, depois, impeliu ou estimulou o hominídeo a desenvolver seu 
cérebro, isto é, a transformar-se em homem. Assim, o cérebro passou 
de 500cm³ (antropoide) para 600 e 800cm³ (primeiros hominídeos) e, em 
seguida, para 1.100 cm³ (homo erectus), antes de atingir 1.500 cm³ (homo 
sapiens neanderthalensis e homo sapiens sapiens)” (Morin, 1975, p. 87).
É nesse sentido que o projeto antropológico consiste no estudo da unidade do homem 
e no estudo do homem em todas as sociedades, em todas as culturas, como afirmou 
Laplantine. Estudar o homem na sua existência fisico-bio-psíquica implica também 
conhecê-lo na sua vivência sociocultural, ou seja, devemos compreender a unidade 
biológica e a diversidade cultural da espécie humana. Por isso os estudos antropológicos 
passaram a ser sinônimo de estudos da cultura e acatou-se como verdade inabalável a 
equação de que o homem é humano por ser produtor de cultura.
Atualmente, a tradicional fronteira entre humanos 
e não-humanos, definida pela cultura, vem sendo 
questionada, especialmente pelos estudos da Pri-
matologia, que acumula exemplos de como nós nos 
assemelhamos a outros macacos, principalmente aos 
chimpanzés. 
“É difícil encontrar hoje em dia qualquer capacidade 
supostamente racional que os primatólogos não 
digam que está replicada em outros macacos: uso da 
linguagem, fabricação de ferramentas, imaginação 
simbólica, autoconsciência – imagine qualquer uma, 
sempre haverá macacos não humanos que a exercem” 
(Fernández-Armesto, 2007, p. 9).
Diante desse novo dilema, devemos recolocar as questões “o que é o homem?” e “o que 
é a cultura?”. Podemos ainda introduzir uma nova questão: “ser humano significa ser 
unicamente produtor de cultura?”. A busca incansável para essas respostas faz do 
estudo do homem e da cultura um campo fértil para o conhecimento de nós mesmos, 
e, consequentemente, para o conhecimento das relações natureza/cultura, cultura/
sociedade e espécie/indivíduo/sociedade.
O homem como produtor de cultura
Continuando...
O termo cultura é comumente utilizado para designar acúmulo de saberes. Ter cultura, 
para o senso comum, passa a ser empregado para indicar um indivíduo de boa educação, 
culto, que adquiriu boa instrução no campo intelectual, que acumulou conhecimentos. 
Da mesma forma, os incultos são considerados pessoas sem cultura. Outra maneira de 
usar o termo cultura é no sentido de indicar que determinada sociedade tem mais cultura 
ou que possui cultura mais evoluída do que outra. No caso do Brasil, habituamo-nos a 
ouvir que os povos indígenas possuem cultura inferior ou atrasada em relação à nossa, 
mas isso não é verdade. Cientificamente, todos os seres humanos possuem cultura; o 
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
4
surgimento da cultura está intimamente relacionado ao surgimento do homem, e não 
há cultura melhor ou pior, superior ou inferior, o que há são culturas diferentes.
Há aproximadamente quatro milhões de anos, entre os grupos de primatas africanos, 
surgiram os australopithecus, nossos antepassados mais distantes – os primeiros 
primatas a caminho da hominização. Ao longo da evolução emergiram sucessivamente 
o homo habilis, o homo erectus e o homo sapiens; esse processo não foi marcado só 
por mudanças fisico-biológicas, como bipedismo e aumento da caixa craniana, mas 
também pelo aumento da capacidade dos nossos antepassados de intervir na natureza, 
transformando-a e adaptando-a para atender às suas necessidades. Nesse sentido é que 
a cultura emerge e vai se tornando cada vez mais complexa. 
“Há milhares de anos, a espécie humana não se diferenciava dos outros 
animais. Não utilizava instrumentos nem agasalhos e não apresentava 
formas de organização além das que sua condição biológica exigia. 
Podia, por exemplo, reunir-se com outros de sua espécie para caçar ou 
defender-se de animais maiores. Agia por instinto, e suas necessidades 
se restringiam àquelas determinadas pela sua biologia, como neces-
sidade de comer, de se reproduzir, de se defender, de se proteger do 
tempo etc. No entanto, com o passar dos anos, o animal humano foi se 
diferenciando profundamente dos outros animais: embora menor e pouco 
dotado em tamanho e força, ia se transformando, gradativamente, num 
dos maiores predadores de outros seres. Aprendeu a utilizar roupas e 
instrumentos e a criar inovações que o tornavam capaz de enfrentar 
qualquer animal” (Dias, 2005, p. 49).
 Essas criações do homem que ultrapassam a sua condiçãobiológica é que 
chamamos de cultura. Para além do ambiente natural primeiro – a natureza –, nossa 
espécie criou um segundo ambiente, que não é natural, ao qual denominamos ambiente 
cultural – as sociedades humanas. A cultura compreende tudo aquilo que criamos, 
material e imaterialmente, a partir da nossa interação com o meio em que vivemos. 
Instrumentos e objetos de uso cotidiano, hábitos alimentares, vestimentas, relaciona-
mentos interpessoais, religiões, idiomas, tecnologias, cidades etc. são invenções 
humanas ou simplesmente produtos da cultura.
 A cultura varia de um local para outro; por isso podemos afirmar que 
existem várias culturas e que cada localidade possui uma determinada cultura, 
cada qual com suas singularidades. Essas variações entre as culturas podem ser:
• Entre diferentes países, por exemplo: a cultura francesa é diferente da cultura 
chinesa; 
 
• Entre uma região e outra no mesmo país, por exemplo: no Brasil a cultura 
mineira é diferente da cultura baiana; 
 
• Entre diferentes grupos étnicos em um mesmo território, por exemplo: a cultura 
dos índios yanomâmi é diferente das dos kayapó, e ambos vivem na Amazônia; 
• Entre diferentes grupos ou comunidades na mesma cidade: grupos de jovens 
punks diferem culturalmente dos funkeiros; ou mesmo entre comunidades 
religiosas distintas, como a cristã e a islâmica.
5
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
Assim, podemos entender que a cultura da humanidade pressupõe ao mesmo tempo a 
existência de várias culturas, que a humanidade é uma só, constituída da mesma espécie 
e que a sua maior aptidão está em criar modos e estilos de vida diferenciados; isso é o 
que caracteriza a diversidade cultural. Em outras palavras, a cultura humana é composta 
por várias subculturas, e cada subcultura é composta por outras várias subculturas. 
Podemos, assim, dizer que a cultura brasileira abriga um conjunto de subculturas, como 
a caipira, a católica e a nordestina, subculturas dentro da cultura brasileira.
O estudo da Antropologia, ou seja, o estudo do homem e da cultura “consiste, portanto, 
no reconhecimento, conhecimento, juntamente com a compreensão de uma humanidade 
plural” (Laplantine, 2005, p. 22). Compreender que agimos e pensamos de formas 
diferenciadas porque temos culturas diferentes é o caminho que pode levar o ser 
humano a ser mais tolerante e a combater os preconceitos. Isso também implica nos 
Não existem raças na espécie humana
 Uma equipe de cinco cientistas estudou e comparou 
mais de oito mil amostras genéticas colhidas aleatoriamente 
de pessoas de todo o mundo. Segundo Alan Templeton, 
biólogo americano que dirigiu a pesquisa, diferentemente de 
todas as outras espécies de mamíferos, não há raças entre os 
humanos porque “as diferenças genéticas entre grupos das 
mais distintas etnias são insignificantes”. Para que o conceito 
de raça tivesse validade científica, “essas diferenças teriam 
de ser muito maiores”. Ou seja, não importa a cor da pele, as 
feições do rosto, a estatura ou mesmo a origem geográfica de 
qualquer ser humano (traços que distinguem culturalmente as 
etnias): geneticamente, somos todos muito semelhantes. (...)
 Os resultados mostraram que, quando há diferença 
genética significativa, pelo menos 85% dela acontecem entre 
indivíduos dentro de um mesmo grupo étnico (como os asiáticos, 
por exemplo). As diferenças entre etnias (brancos europeus e 
negros africanos, por exemplo), que seriam a base para haver 
raças distintas, são de apenas 15% ou menos que isso. “Um 
índice muito abaixo do nível usado para diferenciar raças 
dentro de qualquer espécie animal”, explica Templeton. Isso 
quer dizer que dois brancos europeus diferem mais entre si do 
que em conjunto diferem de um africano. “Portanto, os humanos 
são a mais homogênea espécie que conhecemos”, diz ele.
SOMOS todos um só. Pesquisa genética internacional 
mostra que não existem raças na espécie humana, 
derrubando qualquer base científica para a discri-
minação. Revista IstoÉ, 18 nov. 1998. 
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
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reconhecermos como pertencentes à mesma espécie homo sapiens sapiens. Afinal, somos 
uma só humanidade diferenciada pela cultura e não pela genética; isso quer dizer que a 
ideia de raça é mais uma construção ideológica do que uma verdade científica. Insistir 
na diferenciação/identificação dos grupos humanos através da raça apenas reforça o 
sentimento de racismo, cria preconceito e discriminação. 
Conceito de cultura: características, elementos e estrutura 
O trabalho dos antropólogos em pensar o conceito de cultura nem sempre produziu resul-
tados de consenso; em verdade, levou à elaboração de definições distintas. Entre essas 
definições, foi Edward B. Tylor, em 1871, o primeiro a criar um conceito de cultura que 
se tornou clássico: “cultura é aquele todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, 
arte, moral, leis, costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem 
como membro de uma sociedade” (in Kahn, 1975, p. 29). Poderíamos aqui elaborar um 
rol de contribuições acerca do conceito de cultura, mas em vez disso priorizaremos os 
aspectos essenciais que perpassam essas definições.
Definições 
• A cultura é transmitida pela herança social e não pela hereditariedade genética. 
Adquirimos cultura na convivência com outros indivíduos em sociedade, em 
especial com o grupo familiar com o qual travamos nossas primeiras experiências. 
A essas interações sociais com vários grupos denominamos processo de sociali-
zação. A transmissão cultural pelos principais agentes de socialização – que são 
a família, os grupos de amigos, a escola, os meios de comunicação de massa, os 
ídolos etc. – nos ensina a viver em sociedade e nos transforma num ser humano 
culturalmente definido.
 
• A cultura age como um mecanismo de adaptação do indivíduo ao meio. Da 
mesma forma que o homem transforma a natureza modificando-a para sobreviver, 
criando assim um ambiente cultural, é também capaz de transformar o meio 
cultural já existente com a finalidade de atender às suas novas necessidades. 
Isso quer dizer que tanto o meio natural como o meio social são modificados pelos 
homens para neles melhor viver. 
 
• A cultura compreende a totalidade das criações humanas. Essas criações são 
materiais e imateriais. As materiais compreendem instrumentos de trabalho, 
construções, vestuário, objetos e artefatos de uso cotidiano, obras de arte, 
alimentos, enfim tudo que é tangível, palpável. As imateriais são ideias, valores, 
crenças, conhecimentos, ideologias, mitos; são elementos intangíveis, sem 
substância material.
• A cultura condiciona a visão de mundo do homem. Uma vez que a cultura é 
uma herança social, transmitida pelo grupo através do processo de socialização, 
os indivíduos acabam por assimilar ideias, valores, comportamentos, hábitos, 
crenças da sua sociedade que interferem na interpretação que fazem do mundo. 
Podemos dizer que vemos através da cultura na qual fomos socializados. Como 
nossas ideias, valores, comportamentos, hábitos, crenças são passíveis de mu-
danças ao longo do tempo, nossa interpretação de uma dada realidade também 
está sujeita a mudanças. 
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Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
• A cultura é uma característica exclusiva das sociedades humanas. Crê-se que 
animais não dotados de razão são incapazes de produzir cultura, que dentre os 
animais terrestres o homem é o portador exclusivo dessa condição, que, como 
vimos, nos fez seres humanos. Essa afirmativa é constitutiva do pensamento 
antropológico e balizadora da nossa compreensão do que é ser humano. Mas 
a fronteira entre primatas humanos e não-humanos vem sendo questionada e 
problematizada frente às evidências já comprovadas de que macacos não-humanos 
são produtores de cultura.Mesmo que continuemos com a afirmativa clássica 
de que a cultura é uma especificidade humana, não podemos mais ignorar que 
bonobos, chimpanzés, gorilas e orangotangos são capazes de produzi-la. Os 
defensores dessa rígida fronteira preferem afirmar que não se trata de cultura, 
mas de protocultura ou da capacidade rudimentar de transmiti-la.
Frente a essas características da cultura, evidencia-se que todos os grupos humanos a 
possuem, que se expressam nela e através dela com seus símbolos, idiomas, conhecimen-
tos, crenças, valores e normas identificados como elementos básicos na sua conformação. 
Esses elementos comuns a todas as culturas são os responsáveis por fazer delas um 
mosaico de diversidades.
Diversidades
• A simbolização permite às sociedades humanas transmitir sua herança cultural 
às futuras gerações. Podemos dizer que um símbolo é portador de um significado 
específico atribuído por uma determinada cultura. Assim, a cultura pode ser 
simplesmente entendida por meio de suas relações simbólicas, uma vez que 
ao falar, escrever, agir, pensar, gesticular etc. estamos nos comunicando por 
simbolização. Os símbolos têm significados diferenciados de acordo com cada 
cultura. Por exemplo, a cor preta é símbolo de luto no Brasil, enquanto a cor 
branca é que sinaliza luto na China.
 
• Todas as sociedades têm seu próprio idioma, ele é um sistema simbólico que 
permite a comunicação entre os seus indivíduos. A variação de uma língua para 
outra nas diferentes sociedades é indicativa de que o idioma é uma construção 
cultural, pois um dos elementos-chave constitutivos da condição humana foi 
o uso da linguagem, em especial a fala articulada, característica essencial aos 
homens.
 
• Todas as culturas possuem grande número de conhecimentos, que são trans-
mitidos, através do processo de socialização, aos membros de uma determinada 
sociedade; eles referem-se às técnicas de trabalho, à organização social, aos 
costumes e hábitos, ao sistema educacional, às formas de habitação e moradia 
etc. Não há sociedade sem conhecimento; por exemplo: os esquimós detêm 
tecnologia de construção de casas no gelo, enquanto os povos indígenas da 
Amazônia detêm outra tecnologia, de construção de moradias na floresta tropical; 
são conhecimentos distintos.
 
• As crenças também são elementos da cultura, e todas as culturas são cons-
tituídas por um conjunto de crenças. Entre os fiéis das religiões que acreditam 
na reencarnação, a visão sobre o destino da alma após a morte não é a mesma 
compartilhada entre os fiéis de religiões que pregam a vida eterna.
 
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
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• Os valores também são constitutivos da cultura; eles indicam o que é bom, 
desejável, apropriado, importante, certo e belo; ou o que é ruim, indesejável, 
impróprio, sem importância, errado e feio em uma sociedade. Os valores variam 
de acordo com a importância que lhes é atribuída pelos indivíduos, e quando 
ocorrem mudanças comportamentais numa sociedade os valores também se 
modificam.
 
• As normas são regras que determinam o nosso comportamento em sociedade; 
podem ser formais, como leis, estatutos, códigos de ética profissional; ou informais, 
como sentar-se na cadeira e não na mesa ou no chão.
Como podemos ver, há elementos invariantes constitutivos da cultura. Essas invariantes 
são as responsáveis diretas pela diferenciação cultural entre os povos, que permite 
sempre que pensemos em “culturas”, no plural. Para melhor compreender a cultura, a 
ciência antropológica armou-se de conceitos explicativos das suas formas de organização 
estrutural; os mais importantes são os traços culturais, os complexos culturais, os 
padrões culturais e as subculturas.
• Traços culturais – são dados simples, geralmente unitários, que permitem 
identificar uma cultura. Eles podem ser identificados e descritos isoladamente, 
mas um traço cultural está sempre relacionado a outro ou a outros traços que 
juntos constituem um complexo cultural. Exemplos de traços culturais: a batina 
identifica um padre, a burca identifica uma mulher muçulmana, o chimarrão 
identifica os hábitos dos gaúchos, o uso de hashi (palitos) como talheres para 
alimentar-se é hábito de alguns povos orientais.
• Complexo cultural – é um conjunto de traços culturais que constituem um com-
plexo cultural. É possível substituir alguns traços culturais por outros tornando o 
complexo cultural identificável com outra cultura. Exemplo de complexo cultural: 
o carnaval carioca reúne um grupo de traços culturais como fantasia, serpentina, 
confete, desfile de blocos de rua, samba. Se substituirmos o samba por maracatu 
ou frevo identificaremos esse carnaval como sendo pernambucano. Ao invés de 
samba, frevo ou maracatu; se a música for axé diremos que é carnaval baiano. 
Outro exemplo de complexo cultural são os eventos sociais como aniversários, 
casamentos e funerais. As organizações, como universidades, hospitais, igrejas 
e empresas, também são complexos culturais.
• Padrões culturais – são modelos comportamentais generalizados, regularizados, 
aceitos como normais pelos membros de uma cultura. Esses padrões são esta-
belecidos consensualmente por todos. Por exemplo, no Brasil é padrão homens 
usarem calças em vez de saias. Os padrões formam-se pela repetição contínua de 
um comportamento por um largo período de tempo, quando então são incorporados 
pela sociedade como modelos a serem seguidos.
• Subculturas – uma subcultura é a caracterização de um determinado grupo com 
hábitos, costumes, normas e valores particulares que acabam distinguindo-se 
da cultura predominante em uma sociedade na qual está inserida. Por exemplo: 
a cultura brasileira é constituída por várias subculturas regionais, como a 
nordestina, a mineira e a paraense, que apresentam culinárias típicas e termos 
9
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
linguísticos próprios identificadores de suas subculturas, mas também são ao 
mesmo tempo identificados com a cultura brasileira. “Em resumo, podemos 
afirmar que uma subcultura constitui-se num padrão de vida que apresenta 
aspectos importantes, distintos da cultura principal, mas que tem continuidades 
fundamentais com essa mesma cultura dominante” (Dias, 2005, p. 59).
A cultura assim apresentada serve para nos fazer compreender que, do ponto de 
vista antropológico, ela não deve ser entendida como acúmulo de conhecimento por 
determinados indivíduos ou grupos, o que os faz cultos ou detentores de uma cultura 
superior. Ao contrário, a cultura deve ser entendida como um patrimônio da humanidade, 
constituinte e constituidora de todas as sociedades humanas, sem exceção. Presente 
em todos os povos, sejam esses povos habitantes das florestas em pequenas aldeias, 
sejam eles nômades viventes na tundra siberiana ou moradores das grandes metrópoles 
contemporâneas. O que faz esses inúmeros povos e sociedades diferenciarem-se não 
é a sua condição biológica ou “racial”, mas sim a capacidade criadora e criativa das 
manifestações da cultura da espécie humana.
Referências
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1999.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. 8ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Adaptações do quadro Correntes Antropológicas, organizado pelo prof. dr. Vagner 
Gonçalves da Silva, Departamento de Antropologia da USP.
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
10
Diversidade sociocultural:
etnocentrismo e relativismo
Ana Lúcia Guimarães
Para entendermos o que significam os conceitos de etnocentrismo e relativismo cultural 
precisamos nos ater um pouco mais ao conceito de cultura aqui apresentado.
Se estamos compreendendo cultura como toda produção humana, portanto podemos 
identificar que todos os grupos e povos possuem cultura, como já visto aqui.
A Antropologia desenvolveu-seno período de expansão colonial das sociedades europeias, 
quando estas desejavam saber sobre as culturas existentes nas sociedades tidas como 
“não-europeias” que haviam sido descobertas, para estabelecer estratégias de dominação. 
Portanto, a Antropologia, ao estudar o conceito de cultura, vem contribuindo cada vez 
mais para o entendimento do conceito de etnocentrismo, já que ao estudar a cultura 
podemos fazer uma tradução melhor da diferença entre nós e os outros.e assim, resgatar 
nossa humanidade no outro e a do outro em nós mesmos. A evolução dos estudos sobre 
cultura foi possível através das críticas ao conceito de etnocentrismo. O que significa 
etnocentrismo? 
O que significa etnocentrismo?
O etnocentrismo é concebido como uma ideologia que prega a superioridade ou inferio-
ridade de um grupo em relação a outro. O etnocentrismo existe em todos os grupos e se 
constitui a partir de um choque cultural, ou seja, de um lado existe um grupo no qual 
os seus membros procedem de forma comum e possuem mais ou menos as mesmas 
maneiras de encarar a vida; tudo vai bem até o dia em que esse grupo se depara com a 
possibilidade de existência cultural de outro grupo, que sobrevive à sua maneira e que 
gosta dela, ainda que para outros grupos seja percebida como desviante, destoante ou 
simplesmente diferente. 
O etnocentrismo acontece quando, por conta desse contato cultural, um grupo ao 
olhar para o outro interpretar esse outro como sendo inferior, atrasado, marginalizado 
culturalmente, tomando como referência seus próprios valores e comportamentos sociais, 
como se estes fossem a referência universal para analisar e conhecer qualquer outro 
grupo. 
O etnocentrismo pode ser observado desde os séculos XV e XVI, quando ocorreram as 
Grandes Navegações, que partiam do território europeu e se destinavam a conhecer para 
melhor dominar outros povos do planeta; assim o foi o contato entre a cultura europeia 
e os povos do “mundo novo”, assim chamadas as terras que não fossem geograficamente 
situadas no espaço europeu, como as Américas. 
O conceito de relativismo cultural se contrapõe ao conceito de etnocentrismo. Como 
podemos entender essa diferença conceitual? Analisar uma cultura sob um olhar rela-
tivista significa entender a lógica de funcionamento dela à luz de seu próprio contexto 
de existência, ou seja, significa considerar que aquela cultura existe com seus próprios 
valores, hábitos, costumes, sentimentos, tradições, comportamentos, porque tem um 
sentido para os indivíduos que fazem parte dela. Segundo Rocha (1999) , relativizar não é 
11
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas 
vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferente. É o respeito à diversidade cultural.
A Antropologia, nos dias atuais, tem consciência de que as ideias divulgadas nos grupos 
são apriorísticas e de que é preciso conviver com o discriminado para saber se as pré-
concepções são reais ou não.
Precisamos aqui também marcar muito bem em que momentos de organização dos 
estudos da Antropologia nascem esses dois conceitos fundamentais, etnocentrismo e 
relativismo cultural. 
(imagem extraída do google imagens etnocentrismo -pag-6 )
Podemos dizer que o primeiro olhar sobre as culturas humanas que fundamenta os 
estudos da Antropologia foi o de evolucionismo social, corrente antropológica que 
organizou-se no início do século XIX e que foi marcada fundamentalmente por uma 
tentativa de sistematização do conhecimento acumulado sobre os chamados povos 
primitivos. Como método de trabalho, os primeiros pesquisadores realizavam o trabalho 
de gabinete, ou seja, produziam suas análises e reflexões em seus gabinetes a partir 
de relatos de viagens (cartas, diários, relatórios etc.) feitos por missionários, viajantes, 
comerciantes, exploradores, militares, administradores coloniais. Eles defendiam que 
as civilizações partem do zero e evoluem gradativamente até a civilização, isto é, as 
sociedades avançadas já estiveram em algum momento de maneira primitiva e depois 
evoluíram. Convém destacar o caráter etnocêntrico dessa análise, pois considera que 
todas as sociedades devem tomar como referência de civilização a sociedade europeia 
para alcançar o progresso e a evolução social. O próprio fato de utilizarem conceitos 
como “atrasados”, “selvagens”, “inferiores”, “primitivos”, já enfatiza o etnocentrismo 
presente nesse pensamento. 
Observe um quadro-síntese dessa escola antropológica.
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
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Evolucionismo social
Período Séc. XIX
Características
Busca apreender as origens da humanidade e 
apresenta o desenvolvimento cultural a partir de 
estágios sequenciais de evolução, do mais primitivo 
ao mais civilizado. 
Método Trabalho de gabinete
Conceitos Visão etnocêntrica da realidade cultural. 
Alguns representantes e obras de referência
E. Tylor (A cultura primitiva, 1871);
L. Morgan (A Sociedade Antiga, 1877);
James Frazer (O Ramo de Ouro, 1890).
Com a discussão apresentada verificamos que os pesquisadores evolucionistas rece-
biam de forma secundária suas fontes de dados para a análise da cultura dos vários 
povos encontrados naquele contexto, ou seja, não eram eles que iam até os grupos e 
povos e recolhiam esse material; portanto, seu olhar apresentava muitas distorções 
da realidade concreta de experiência e vivência dos vários povos. 
Assim, podemos dizer que somente no século XX, com os trabalhos e estudos da escola 
funcionalista é que foi possível configurar uma nova percepção sobre a cultura dos 
povos. O funcionalismo, então, traz ênfase muito forte ao trabalho de campo como fun-
damento da retirada de material para o conhecimento da cultura dos vários povos. 
Funda-se, assim, a Etnografia Clássica, ou seja, a análise de uma cultura a partir das 
informações e observações feitas pelo pesquisador em sua vivência no campo, no grupo 
a ser compreendido. Essa prática constituída como trabalho de campo e observação 
participante ofereceu aos estudos da Antropologia a possibilidade de compreender o 
“outro” de forma mais “próxima” de sua realidade existencial. Uma percepção extre-
mamente Relativista. 
Observe o quadro-síntese dessa escola antropológica.
Funcionalismo
Período Séc. XX - anos 20
Características 
Modelo de Etnografia clássica (Monografia). Ênfase 
no trabalho de campo (observação participante). 
Sistematização do conhecimento acumulado sobre 
uma cultura.
Método Trabalho de campo e observação participante.
Conceitos Visão relativista da realidade cultural. 
Alguns representantes e obras de referência
Bronislaw Malinowski (Argonautas do Pacífico 
Ocidental, 1922);
Radcliffe Brown (Estrutura e Função na sociedade 
primitiva, 1952); e Sistemas políticos africanos de 
parentesco e casamento, (org. c/ Daryll Forde, 1950).
Da análise dos quadros extraímos que:
Quando olhamos ou julgamos um grupo social de forma tendenciosa ou levando em 
consideração os valores de nossa própria cultura como referência para entender um 
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Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
outro grupo social e passamos a perceber esse grupo como sendo inferior, pior, atrasado, 
errado estamos sendo etnocêntricos; no entanto, quando nos colocamos em posição de 
olhar o outro grupo diferente do nosso, que possui valores e cultura díspares do nosso e 
procuramos entendê-lo e explicá-lo respeitando suas características e suas propriedades 
culturais, estamos sendo relativistas.
Segue uma mensagem para essa reflexão
Lençol Sujo 
Um casal recém-casados mudou-se para um bairro muito tranquilo. Na primeira manhã que passavam na casa, 
enquanto tomavam café, a mulher reparou, através da janela, uma vizinha que pendurava lençóis no varal e comentoucom o marido: 
 
- Que lençóis sujos ela está pendurando no varal! 
Provavelmente está precisando de um sabão novo. Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a 
lavar as roupas! O marido observou calado. 
Alguns dias depois, novamente, durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal e a mulher comentou 
com o marido: 
 
- Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos! Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a 
ensine a lavar as roupas! 
E assim, a cada dois ou três dias, a mulher repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal. 
Passado um mês a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis brancos, alvissimamente brancos, sendo estendidos, e 
empolgada foi dizer ao marido: 
 
- Veja! Ela aprendeu a lavar as roupas; será que outra vizinha ensinou!? Porque não fui eu que ensinei. 
 
O marido calmamente respondeu: 
 
- Não, é que hoje eu levantei mais cedo e lavei os vidros da nossa janela! 
E assim é. Tudo depende da janela através da qual observamos os fatos. Antes de criticar, verifique se você fez 
alguma coisa para contribuir; verifique seus próprios defeitos e limitações. 
 
Devemos olhar, antes de tudo, para nossa própria casa, para dentro de nós mesmos. 
Só assim poderemos ter real noção do real valor de nossos amigos. 
Lave sua vidraça. Abra sua janela. 
 
Essa mensagem traz uma reflexão sobre os vários olhares distanciados da reali-
dade que no nosso dia a dia colocamos em prática. Qual a sua reflexão sobre ela? 
Como, nesse caso, poderíamos apresentar uma visão relativista?
Reflita e continue a leitura a seguir.
Para Rocha (1999), o relativismo possui três concepções diferentes:
1 - A existência de relativismo onde as culturas formam entidades separadas, com 
limites facilmente identificáveis;
2 - Relativismo ético:
A - Exigência de respeito absoluto de cada cultura em particular;
B - Um relativismo que pode servir de garantia a uma posição ideológica oposta a qualquer 
definição universal de direitos humanos. A exaltação da diferença leva-nos até, em sua 
forma mais perigosa, à justificação de regimes segregacionistas. O direito à diferença é 
então transformado em obrigação.
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
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3 - Relativismo como princípio metodológico: “todo o conjunto cultural tem tendência 
para a coerência e umas certas autonomias simbólicas que lhe conferem seu caráter 
original singular; não se pode analisar um traço cultural independente do sistema cultural 
ao qual ele pertence e que lhe dá sentido. É preciso saber considerar a dependência ou 
a independência no que se refere a esses sistemas culturais”.
Ainda para Rocha (1999), repensar a cultura como conceito significa reexaminar a noção 
de etnocentrismo. Para ele, etnocentrismo é uma palavra que caiu no uso comum. Pelo 
abuso do senso comum, etnocentrismo torna-se sinônimo de racismo e passa a ser 
condenado com o mesmo vigor que este último.
Em suas reflexões, aponta que racismo é mais do que uma atitude. É ideológico, baseado 
em pressupostos pseudocientíficos cuja origem é datada do final do século XIX e está 
longe de ser universal. O etnocentrismo pode ser encontrado em todas as sociedades – das 
mais simples às mais complexas.
Pelo que podemos apreender sobre esses conceitos, podemos agora compreender o 
quanto temos dificuldade de pensar a diferença. Essa dificuldade está diretamente 
ligada à cultura e às formas e valores de socialização que recebemos dos grupos dos 
quais fazemos parte. 
Assim, será que é possível pensar que estamos sendo etnocêntricos quando julgamos 
de forma precipitada os vários grupos sociais presentes em nossa realidade e que se 
apresentam contrários ou diferentes de nossa realidade cultural? Somos capazes de 
entender e respeitar a lógica e o sentido de existência desses grupos, como as prostitutas, 
os usuários de drogas, os skin-heads, as populações de rua, os vários grupos que se 
encontram à margem da sociedade?
Uma coisa é certa: quando estamos direcionados por um olhar etnocêntrico, podemos 
fazer julgamentos e avaliações que podem não corresponder à realidade empírica. Nesse 
caminho também cometemos injustiças e perdemos em conhecimento e riqueza cultural. 
O etnocentrismo leva, sim, a uma visão deformada da realidade cultural. O conhecimento 
do outro e da diferença faz com que passemos a praticar a tolerância social. Conhecer 
para melhor conviver não significa converter-se, mas sim entender que as culturas se 
complementam e dão um sentido vivo à realidade social.
Lembro-me agora da história do Lenhador e da Raposa; gostaria de encerrar essa 
discussão com ela e deixá-la para vossa reflexão:
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Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
O lenhador e a raposa 
Existiu um lenhador que acordava às 6 da manhã e trabalhava o dia inteiro cortando lenha; só parava tarde da 
noite. Esse lenhador tinha um filho, lindo, de poucos meses, e uma raposa, sua amiga, tratada como bicho de 
estimação e de sua total confiança.
Todos os dias o lenhador ia trabalhar e deixava a raposa cuidando de seu filho. Todas as noites, ao retornar do 
trabalho, a raposa ficava feliz com sua chegada. Os vizinhos do lenhador alertavam que a raposa era um bicho, 
um animal selvagem; portanto, não era confiável.
 
Quando ela sentisse fome comeria a criança. 
O Lenhador sempre retrucava com os vizinhos, falava que isso era uma grande bobagem. A raposa era sua 
amiga e jamais faria isso.
 
Os vizinhos insistiam: 
- Lenhador, abra os olhos! A raposa vai comer seu filho.
 
- Quando sentir fome, comerá seu filho!
 
Um dia, o lenhador, muito exausto do trabalho e muito cansado desses comentários, ao chegar a casa viu a 
raposa sorrindo como sempre e sua boca totalmente ensanguentada... O lenhador suou frio e sem pensar duas 
vezes acertou o machado na cabeça da raposa...
 
Ao entrar no quarto desesperado, encontrou seu filho no berço dormindo tranquilamente e ao lado do berço uma 
cobra morta...
 
O lenhador enterrou o machado e a raposa juntos. 
Como você analisa a mensagem a partir da reflexão dos conceitos de etnocentrismo e relativismo 
aqui apresentados?
Vamos discutir sobre essa questão no Fórum?
Fórum
Homem, natureza e cultura - Módulo 2 Estudos Sócio-Antropológicos
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Referências
BOFF, Leonardo. Virtudes para um outro mundo possível, vol. I: hospitalidade: direito 
e dever de todos. Petrópolis: Vozes, 2005.
DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
 
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
 
FERNÁNDEZ-ARMESTO, Felipe. Então você pensa que é humano?: uma breve história 
da humanidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
 
KAHN, J. S. El concepto de cultura: textos fundamentales. Barcelona: Anagrama, 
1975.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2005.
 
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 2006.
 
MARCONI, Marina de Andrade. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2001.
 
MORIN, Edgar. O enigma do homem: para uma nova Antropologia. Rio de Janeiro: 
Zahar, 1975.
Anexo - Atividades Estudos Sócio-Antropológicos
Bloco de notas
e anotações
Este espaço é para você anotar suas observações com relação a 
disciplina estudada.
Importante:
Leia todas as orientações passo a passo no “Tutorial do Aluno” de como realizar suas Atividades.
Anexo - Atividades Estudos Sócio-Antropológicos

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