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p. 1 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA LEPTOSPIROSE A leptospirose é uma doença febril aguda causada pela espiroqueta Leptospira interrogans. Acomete praticamente todos os estados brasileiros, sendo considerada um importante problema de saúde pública. Na maioria das vezes, manifesta-se apenas como uma síndrome febril, muito semelhante a dengue clássica. Num percentual variável de casos, pode se apresentar como uma doença grave e potencialmente fatal – a doença de Weil, caracterizada pela presença da tríade: icterícia, hemorragias e insuficiência renal aguda. Os surtos de leptospirose são mais comuns nas enchentes de verão nas zonas urbanas e periurbanas do país. Leptospira interrogans Micro-organismos aeróbicos obrigatórios, helicoidais, flexíveis e móveis (facilitando a entrada do parasita na pele, seja ela íntegra ou não). Podem permanecer viáveis em solo úmido ou na água por semanas a meses, mas precisam de um hospedeiro animal para manter seu ciclo vital. Diversas espécies de mamíferos, répteis e anfíbios podem albergar o espiroqueta, mas o rato representa seu principal reservatório – ao se infectarem não desenvolvem a doença e tornam-se portadores albergando o germe nos rins, eliminando-o vivo no meio ambiente e contaminando dessa forma a água, o solo e alimentos. Introdução É uma zoonose (doença habitualmente encontrada em animais vertebrados, porém circunstancialmente transmissível ao homem). Principal ocorrência no meio rural, mas com grande disseminação para as cidades. Relação com enchentes: caráter sazonal da doença. Predomina em adultos jovens, sobretudo do sexo masculino (20 a 35 anos) – porém qualquer idade e sexo é vulnerável à doença. Profissões de risco: trabalhadores de abatedouros, peixeiros, lavradores, criadores de animais, veterinários, mineiros, lixeiros, colhedores de arroz e trabalhadores da rede de esgoto. Obs: Enchentes e chuvas constituem em nosso meio, um grande favorecedor do contato do ser humano com a água contaminada fazendo a leptospirose perder totalmente a sua natureza ligada a certas atividades profissionais ou animais domésticos. Qualquer indivíduo exposto a água de enchente pode desenvolver a doença. Os principais surtos de leptospirose ocorrem na estação chuvosa do ano (verão), entre os meses de fevereiro a abril. A chuva aumenta a concentração de roedores peridomiciliares, facilitando o contato do ser humano com a urina do rato. p. 2 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Formas de transmissão Mais comum: leptospira presente na água poluída pela urina de rato penetra através da pele e mucosas. Contato direto com a carne ou urina do animal contaminado. Transplacentária. Transmissão interpessoal: rara. Patogênese Leptospira penetra em mucosa íntegra ou lesada, alcançam a corrente sanguínea, multiplicam e disseminam fase de leptospiremia. Difusão rápida para órgãos e tecidos: liquor e olhos, fígado, rim, coração e sistema muscoloesquelético – não causando inflamação exuberante nestes locais. (Devido à ativa movimentação helicoidal e produção de hialuronidase). Lesão direta do endotélio vascular (capilarite generalizada): aumento da permeabilidade capilar, com extravasamento de líquido para o terceiro espaço. Fenômenos hemorrágicos e redução do aporte de oxigênio aos tecidos (paciente pode entrar em choque). Patogenia Fígado: hepatomegalia com icterícia (aumento de bilirrubina direta) que pode ser devida à hemólise ou lesão hepatocelular e colestase intra-hepática, classicamente atinge uma tonalidade rubínica (amarelo-avermelhado) devido à vasculite. Leve elevação das transaminases. Rins: IRA pré-renal por hipovolemia relativa, nefrite intesticial, e necrose tubular aguda. o Disfunção tubular predomina no túbulo proximal elevando a fração excretória de sódio e potássio – a disfunção renal da leptospirose pode não ser oligúrica e frequentemente não cursa com hipercalemia. Frequentemente observa-se uremia aumentada. Trato Gastrointestinal: sufusões hemorrágicas e edema de mucosa gástrica e intestino delgado. Hemorragia gastrointestinal e extensa desidratação. Meninges: inflamação mononuclear das leptomeninges. Músculo: necrose hialina de fibras musculares esqueléticas individuais. Elevação de CPK. Pulmões: aumento da permeabilidade capilar, com extravasamento de plasma e hemácias para a luz alveolar, originando opacificações radiológicas, que são fugazes pela rápida reabsorção do material extravasado. Quadro de hemoptise e/ou insuficiência respiratória aguda. (A lesão pulmonar é a principal causa de óbito na síndrome de weil desde que a diálise começou a ser utilizada no tratamento dos pacientes, deixando o óbito por insuficiência renal como causa secundária). p. 3 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Coração: miocardite – pode levar à insuficiência cardíaca, inflamação do sistema de condução e das ramificações coronárias intramiocárdicas. Manifestações clínicas A maioria é oligossintomática (90-95%) – evolução benigna: síndrome febril inespecífica. 5 a 10% dos casos o paciente evolui para a forma grave – ictérico hemorrágica: Síndrome de Weil. Formas clínicas: Na forma anictérica bifásica: Sorologia vem negativa, e só a PCR é capaz de identificar a leptospirose. Na forma anictérica imune começa-se a se desenvolver os anticorpos contra a doença, porém o paciente pode ainda caminhar para forma ictérica. Na primeira fase de leptospiremia os sintomas mais Febre alta de início abrupto, hiperemia conjuntival, mialgias importantes, principalmente nas panturrilhas, oligúria, icterícia rubínica e hemorragias p. 4 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA proeminentes são a febre alta, que pode ser entre 38 a 40 graus e cefaleia marcada por queixas na região frontal e retrorbitária. Palpação da panturrilha é extremamente dolorosa e são comuns sufusões hemorrágicas conjuntivais. Na segunda fase, imune: o término da primeira fase é assinalado pela redução da febre em lise (queda gradual sem sudorese profusa). Forma ictérica (síndrome de Weil) – forma grave. O início do quadro é semelhante ao da forma anictérica evoluindo de forma fulminante para a síndrome multissistêmica, insuficiência respiratória e IRA. Patogênese Síndrome de Weil Fase ictérica. Aparecimento de icterícia entre 3-7 dias de doença – icterícia rubínica. o Fenômeno de Faget (dissociação pulso temperatura – paciente pode estar febril sem taquicardia). o Insuficiência cardíaca (10%). o Pericardite em consequência da uremia. o Esplenomegalia (15%) e linfadenopatia (25%). o Faringite (23%). o Exantema macular (ou maculopapular, eritemas e urticárias – 7%). o Fenômenos hemorrágicos. Petéquias, hematomas, sangramentos cutâneos nos locais de punção. Hemorragia conjuntival. Hemorragia peritoneal em lençol. Hemorragia digestiva. Hemorragia pulmonar. p. 5 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Hemorragia cerebral. Diagnóstico Exames Complementares Anemia normocrômica; Leucócitos normais ou aumentados até 40.000/mm³ (na S. Weil) – aumento as custas de segmentados, neutrófilos e bastonetes; Trombocitopenia; Alterações hepáticas (50% dos pacientes): o Aumento de bilirrubina direta (colestase intra-hepática); o Elevação de fosfatase alcalina; o Transaminases pouco elevadas (na hepatite é mais aumentada); o Inversão globulina/albumina; Elevaçãode CK total (na 1ª semana da miosite) e CK-MB (em caso de miocardite); Ureia e creatinina elevados sem acidose metabólica ou hipercalemia significativas; Amilase: eleva-se em 70% das formas graves; Urina anormal em 75% dos pacientes: proteínas, cilindros, leucócitos, eritrócitos; Liquor: alterado em 2/3 dos pacientes: o Aumento da celularidade (igual ou menor que 500/mm3) principalmente monócitos; o Aumento das proteínas (igual ou menor 80 mg/dl). Materiais biológicos utilizados para diagnóstico: sangue, líquor, urina, saliva, exsudato peritoneal e pleural e tecidos. Diagnóstico específico: Caso confirmado: o ELISA IgM reagente; o Microaglutinação com título acima de 1/800 (mesmo em amostra única); o Soroconversão na amostra de microaglutinação (14 a 21 dias após) com título maior que 1/200 ou aumento 4x ou >; p. 6 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA o Isolamento da leptospira – sangue, líquor, urina, tecidos ou detecção de DNA de leptospira por PCR; o Diagnóstico pós-morten: imuno-histoquímica; Métodos diretos: pesquisa do agente etiológico no material biológico: o Microscopia de campo escuro, técnicas de coloração de Giemsa ou de impregnação pela prata; o Imunofluorescência; o Cultura de leptospiras: Hemocultura; Líquor; Urina; Tecidos. o Isolamento em animais de laboratório; o ELISA de captura e em tecidos pela Imuno-histoquímica: Reação em cadeia da polimerase (PCR). Métodos indiretos: imunológicos, são os mais empregados: o Teste de aglutinação microscópica em campo escuro (mais sensível): utiliza-se antígenos de leptospiras vivas inativadas; o Aglutinação macroscópica; o Fixação de complemento / Reação de hemaglutinação; o ELISA; p. 7 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA o Imunofluorescência e contra-imunoeletroforese Diagnóstico Diferencial Dengue; Hepatites; Malária; Febre amarela; Colecistite; Infecções respiratórias; Sarampo; Rubéola; Meningoencefalites; Pielonefrite; Faringite; Septicemia; Endocardites. Tratamento Hidratação oral; Hidratação parenteral: principalmente na síndrome de Weil; Antibioticoterapia: o Formas leves: (cinco a sete dias); Amoxicilina 500mg VO 8/8h por sete dias; Doxiciclina: 100 mg de 12/12h, (acima de 8 anos, não administrar em grávidas). o Formas graves: (sete dias); Ampicilina: 4g /dia; Penicilina G cristalina: 1,5 milhões U, EV 6/6h; Ceftriaxona: 1g EV 12/12h; Cefotaxima: 1g EV 6/6h. Todo caso suspeito ou confirmado deve ser notificado. A sorologia deve ser colhida a partir do sétimo dia de doença e pareada com intervalo de duas semanas para se evitar falso- positivo (infecção passada recente) e falso negativo (período septicêmico). p. 8 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Em casos de hemorragia alveolar administrar corticoide (hidrocortisona 4mg/Kg EV de 6/6h). Critérios para diálise: 1. Clínica de uremia: sangramentos, alteração dos níveis de consciência, pericardite; 2. Ureia acima de 200mg/dl, com deterioração rápida das condições clínicas; 3. Hiperpotassemia refratária ao tratamento clínico; 4. Sobrecarga hídrica. Critérios de hospitalização: Problemas respiratórios; Alteração urinária; Hemorragias; Diminuição do nível de consciência; Vômitos; Icterícia. Profilaxia Combate aos roedores em áreas urbanas. Vacinação de animais domésticos. Vacinação humana não adotada em massa no Brasil, mas pode ser usada em profissionais expostos a alto risco. Antibioticoterapia por previsão de exposição temporária. (doxiciclina 200mg 1x/semana). Controvérsias. Proteção física de pessoas expostas. Medidas de saneamento básico. HEPATITES VIRAIS Processo inflamatório do parênquima hepático decorrente da ação viral direta ou indireta (mediadas pelo sistema imunológico) Na maioria das vezes é causada por tropismo hepático. Porém outros vírus também podem causar hepatite (CMV, EBV, Herpes, Dengue, Febre Amarela). Nas hepatites por vírus com tropismo hepático, o acometimento é mais intenso, com destruição importante de hepatócitos, levando a alterações muito altas das transaminases. HEPATITE A Transmissão fecal-oral. Água e alimentos contaminados com HAV eliminado nas fezes de indivíduos infectados. p. 9 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Sangue e derivados (raro<<<1%). Comum entre crianças que ainda não aprenderam noções de higiene. A pessoa pode desenvolver ou não as manifestações da doença; 10 dias após ser infectada ela passa a eliminar o vírus pelas fezes, durante 3 semanas. Incubação: 15-45 dias. Lesão hepática resultante da resposta imune e não do efeito citopático direto do HAV. Fase prodrômica (3-10 dias): febre baixa, fadiga, dor abdominal, hiporexia, náuseas, vômitos. Fase ictérica (1-3 semanas): icterícia, fezes claras (aspecto de massa de vidraceiro) e colúria (urina cor de coca-cola). Hepatite fulminante: 0,4% dos casos. Internação hospitalar: 15% dos casos. Pacientes com HIV deverão ter acesso à vacina para Hepatite A. Pacientes sem comorbidades terão que pagar pela vacina, em torno de 150 reais; Para as pessoas que não tenham o IgG positivo pode-se fazer a vacinação; Não cronifica e é autolimitada; A maioria dos pacientes serão assintomáticos ou oligossintomáticos. Gráfico: antes mesmo de ter IgM positivo o indivíduo está eliminando o vírus nas fezes, e já tem elevação de ALT (geralmente maior que AST) sendo capaz de transmitir a doença. IgG continua elevado sempre (mas não sabemos distinguir se foi vacina ou doença passada). Quem nunca teve contato = Anti-HAV negativo. Já teve contato = anti-HAV positivo com presença de IgG positivo e IgM negativo. p. 10 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Diagnóstico e Tratamento IgM anti HAV+ (aguda); Não tem tratamento especifico, pois geralmente é autolimitada, Oligossintomática (que pode durar de 3 a 6 meses) dar tratamento suportivo; o Casos leves a moderados: repouso e hidratação oral; o Casos graves: reposição volêmica, cuidados intensivos (tratar os distúrbios de coagulação, monitorar encefalopatia hepática, controle de edemas secundários à hipoalbuminemia, raramente transplante hepático). HEPATITE B Transmissão sexual: principal forma de transmissão. Transmissão parenteral: sangue e hemoderivados, uso compartilhado de seringas e agulhas contaminadas (assim como o contato por compartilhamento de drogas que sejam injetáveis ou inaladas). Procedimentos cirúrgicos ou propedêuticos com materiais não esterilizados corretamente. Transmissão vertical: o Mãe HBeAg +: 90%; o Mãe HBeAg -: 10-15%. Vacinação: 3 doses de hepatite B; Deve-se fazer a investigação via ANTI-Hbs; HBeAg: marcador de replicação viral. Para impedir a transmissão vertical, a gestante é encaminhada para o pré-natal de alto risco e a mesma é tratada com acompanhamento da carga viral, sendo que quando os bebês nascem, os mesmos são vacinados e tratados com imunoglobulina. Na transmissão vertical, só não é recomendado a vacinação em grávidas que tenham uma mastite importante. Incubação: 40-160 dias. A transmissão adquirida na infância é mais grave que na transmissão adquirida na vida adulta. Grande maioria: oligossintomático ou assintomática.Evoluindo para cura. Fase prodrômica: náuseas, vômito, hiporexia e dor abdominal. Fase ictérica: 10% em menores de 5 anos e de 30-50% nos maiores de 5 anos. Recuperação completa ocorre em 95% dos casos. Integração do DNA do HBV pelo genoma do hepatócito facilitando a transformação neoplásica (o vírus integra o seu DNA no genoma do hepatócito sendo difícil o tratamento. Por ser um vírus oncogênico pode causar carcinoma hepatocelular, mesmo sem passar pela fase da cirrose). Hepatite fulminante: indicado transplante, indo o paciente para o primeiro da fila. p. 11 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Nas crianças com transmissão vertical: 95% dos casos cronifica. A hepatite B é a que mais está relacionado a hepatocarcinoma, cirrose hepática e insuficiência grave. No tratamento o paciente deve ser acompanhado ao longo da vida, devido ao vírus está inserido na célula do hepatócito, não conseguindo assim determinar quando deve-se terminar o tratamento. Marcadores sorológicos: HBsAg: Antígeno de superfície. Principal marcador da presença do vírus B; positivo por mais de seis meses é preditivo de evolução crônica. Sua negativação deverá indicar clearance viral. (Como a grande maioria dos pacientes evolui para cura, só falamos que o paciente tem HB se em 6 meses ele ainda apresenta HBsAg). Anti-HBS: Anticorpo contra o HbsAg. Tendência à cura. Desenvolvimento de imunidade. Quando só ele está presente indica imunidade vacinal ao HBV. HBeAg: Antígeno de replicação (indica que o vírus está multiplicando). Tendência à cronicidade quando positivo. Grande infectividade do portador. Ausente nas infecções por vírus B mutante. Anti-HBe: anticorpo contra o HBeAg: indica que o vírus não está em replicação. Evolução para cura. Baixa infectividade. HBcAg: antígeno do core viral (marcador de tecido hepático). Não costuma estar presente no soro. Anti-HBc: anticorpo contra o HBcAg (IgM na fase aguda, IgG na fase crônica). Anti-HBc total (IgM+ IgG na fase aguda ou só IgG na crônica). DNA-HBV+: alto risco de transmissão. p. 12 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Ou seja: Paciente que teve contato com o vírus e curou perde o HBsAg, havendo a tendência natural para evoluir para o Anti-HBs. O Anti-HBs positivo: nos pacientes que evoluíram para cura ou naqueles que tomaram a vacina. HBsAg positivo: iniciar tratamento e acompanhamento. Se o HBsAg em 6 meses der negativo: o paciente teve uma doença aguda que evolui para cura. Caso seja positivo, ele cronificou a doença. A importância do Anti-HBc é que a sua positividade indica que o paciente teve contato com o vírus, não sendo positivo em caso de vacinação. Nesse caso se o paciente chega com um quadro agudo, porém o anti HBc é IgG provavelmente a causa é outra, não hepatite. p. 13 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Imunotolerante: não está sofrendo nenhuma consequência da replicação viral (paciente com hepatite crônica). HbeAg positivo, portador ativo: fígado está sendo lesado. HbeAg negativo, portador inativo: não se pode dar alta a esse paciente, acompanhar de 6 em 6 meses, pois ele tem uma hepatite crônica, que sem acompanhamento pode sofrer um aumento da replicação viral. Mutante pré-core: vírus com mutação em DNA que burla o sistema imune, mesmo que haja uma tendência a cura. Risco para progressão da doença: Aumento de HBV-DNA; Sexo masculino; Idade avançada; Etilismo; Tabagismo; Co-infecção com hepatite C, D e HIV; Imunossupressão. Metas do tratamento Supressão viral; Soroconversão de HBeAg para Anti-HBe; Diminuição do ALT; Melhora do padrão histológico. Tratamento Tenofovir 300mg/dia; Entecavir 0,5mg/dia. p. 14 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Biopsia Hepática: Biopsia hepática substituída por elastografia hepática - dá a classificação no E-F. Descrição de US de abdome: cirrose hepática: fígado de tamanho normal ou reduzido, superfície serrilhada ou nodular, parênquima heterogêneo, com ecogenicidade aumentada, formação de nódulos. Já pode haver dilatação da veia porta e da artéria esplênica e esplenomegalia. Exame Físico: abdome distendido, piparote positivo, macicez móvel, aranhas vasculares, flapping, eritema palmar, icterícia, hálito hepático, edema de mmii e ginecomastia. Pacientes portadores de hepatite B crônica, mesmo que sem indicação para o tratamento anti-viral devem ser monitorados para hepatocarcinoma (US de abdome + alfa-fetoproteína anuais, nos cirróticos semestralmente). p. 15 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA HEPATITE C Participação da resposta imune, muito mais do que ação citopática direta do vírus, respalda os mecanismos de lesão do hepatócito. Principal forma de transmissão é o contato com o sangue: drogas (60%) e relação sexual anal (15%). A resposta imune que causa mais lesão hepática (diferente da hepatite B, em que o vírus insere o material genético na célula). Temos 6 genótipos: sendo 1,3 e 4 os mais comuns, o 3 é o mais difícil de tratar. Incubação: 4-6 semanas. >80% dos casos: infecção aguda assintomática. Minoria (15%) apresenta forma aguda com icterícia, colúria, náuseas, vômitos, dor abdominal (3 a 6 semanas de evolução). Hepatite fulminante: <1% dos casos. Recuperação completa: 15% dos casos. Cronicidade: 75 a 80% dos casos. Avaliação de tratamento p. 16 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Perfil sorológico típico: fazer anti HCV, lembrando que a maioria das hepatites são assintomáticas ou oligossintomáticos. 3 a 6 meses é o período de janela para virar o HCV. Podendo ocorrer oscilações das transaminases. Hepatite C crônica: anti-HCV positivo, avaliando PCR para ver se tem vírus circulante, se tiver carga viral positiva, estadiar a doença, realizando avaliação hepática completa. Indicações de tratamento Alterações na biópsia hepática - classificação METAVIR >= A2F2 (atividade inflamatória e fibrose moderadas); ALT alterada isoladamente não é critério para indicação de tratamento. Escolha do tratamento Sofosbuvir comprimidos de 400mg – 400mg/dia VO; Daclatasvir comprimidos de 60mg – 60mg/dia VO; Simeprevir comprimidos de 150mg – 150mg/dia VO; Ombistavir + veruprevir + ritonavir; Dasabuvir com ou sem ribavirina. Saber que são 2 drogas, 2 comprimidos por dia quase sem efeito colateral. Tratamento dura em torno de 3 meses. O genótipo 3 usa por 6 meses. Avaliação da resposta ao tratamento: Anti HCV-RNA no final do tratamento: resposta virológica final: RVS, resposta! Carga viral zera. Após três meses do término, repete o PCR para avaliação da resposta virológica sustentada: RVS. A hepatite C não cria resposta imunológica sustentada, por isso, o paciente pode pegá-la novamente. p. 17 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA CENÁRIOS CLÍNICOS Suspeita de hepatite viral aguda: o Hepatite A: solicitar Anti-HAV IgM; o Hepatite B: solicitar HBsAg e Anti-HBc IgM; o Hepatite C: solicitar Anti-HCV>>>PCR. BIOSSEGURANÇA Tipo de exposição Percutâneas: lesões por instrumentos perfuro-cortantes e cortantes; Mucosas: respingos no olho, nariz, boca, genitália; Cutâneas: contato com pele com dermatite ou feridas abertas. Situaçõesde risco Limpeza de material hospitalar; Descarte de materiais perfurocortantes; Coleta de lixo hospitalar; Punção venosa periférica: 30 a 35% dos casos (60 a 80% após o procedimento); Movimentos bruscos de paciente durante a retirada da agulha; Reencapar as agulhas; Manipulação de acessos venosos. Exposição de risco Exposições mais frequentes: sangue e outros fluidos orgânicos; Risco ocupacional: o Gravidade; o Tamanho da lesão; o Presença e volume de sangue; o Condições clínicas do paciente-fonte; o Uso correto da Profilaxia Pós-Exposição (PPE). Risco Biológico Infecção pelo HIV: risco de 0,3% de contaminação se contato direto com sangue de paciente-fonte sabidamente HIV positivo. Infecção pelo HBV: risco de 30% de contaminação se contato direto com sangue de paciente-fonte sabidamente HBV positivo. Infecção pelo HCV: risco de 3% de contaminação se contato direto com sangue de paciente-fonte sabidamente HCV positivo. Transmissão entre pacientes. Transmissão do paciente para o profissional de saúde. Transmissão do profissional de saúde para o paciente. p. 18 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Transmissão de infecções através do ambiente para o paciente e para o profissional de saúde. Secreções infectantes: o Sangue; o Sêmen; o Secreção vaginal; o Líquidos de cavidades: líquidos pleural, ascítico, pericárdico e céfalo- raquidiano; o Vômitos, pus, suor, lágrimas, fezes e urina, apenas na presença de sangue; o Mordedura humana é considerada de risco quando envolver presença de sangue. Equipamentos de proteção individual Luvas; Capote; Gorro; Máscara; Óculos; Botas. Medidas no momento do acidente Lavar o local com água e sabão. Informar à fonte da necessidade da coleta dos exames de rotina. Coletar amostra de sangue da fonte e do acidentado. Emissão da CAT. Encaminhamento para atendimento na UPA mais próxima. Avaliação de Profilaxia p. 19 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Avaliação da exposição ao vírus da Hepatite B Fluxo para atendimento de acidentes com materiais biológicos Testes rápidos da fonte: HIV (anti-HIV), HCV (anti-HCV) e HBV (HBsAg). O teste rápido da fonte deverá ser confirmado em seguida com a sorologia convencional. Exames do protocolo HIV (EIA), HBV (HBsAg, anti-HBc-total, anti-HBs), HCV (EIA). Procedimento de risco Descarte inadequado de material perfurocortante. Importância da notificação Previdenciária; Estatística; Epidemiológica; Trabalhista; Social. Profilaxia pós-exposição TDF + 3TC + DTG A duração da PEP é de 28 dias p. 20 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA O esquema preferencial de PEP deve incluir combinações de três ARV (CDC, 2016, EACS, 2015), sendo dois ITRN associados a outra classe (ITRNN, IP/r ou INI) (WHO, 2016). Impossibilidade de TDF: AZT + 3TC + DTG Impossibilidade de DTG: TDF + 3TC + ATV/r Impossibilidade de ATV/r: TDF + 3TC + DRV/r Prevenção de Tuberculose A forma pulmonar e laríngea são aquelas que apresentam importância epidemiológica na transmissão intra-hospitalar. A transmissão se dá através da inalação de partículas suspensas no ar, chegando aos alvéolos e desencadeando o processo infeccioso. A ventilação do ambiente colabora para a eliminação das partículas suspensas, bem como os ambientes ensolarados (UV). São pacientes comprovadamente de risco para a transmissão aqueles BAAR+ ou cultura positiva. A presença de uma “caverna” ao raio X orienta para uma grande possibilidade de transmissão. Orientar sobre cobrir a boca e o nariz ao tossir e ao espirrar. Orientar a não eliminar secreções no ambiente (escarrar ou assoar o nariz). Oferecer papel toalha para higiene e descarte em lixeira com tampa. O paciente sintomático deverá ser conscientizado sobre a importância do uso de máscaras cirúrgicas nos ambientes internos do ambulatório ou hospital. Quando retirar o paciente do isolamento? Quando o BAAR for negativo em 3 amostras (espontâneo ou induzido). Após 15 dias de tratamento completos tendo 3 amostras negativas para BAAR. Caso 1 das amostras seja positiva manter o isolamento por mais 1 semana. Lembrar que os pacientes que não tossem mais representam um menor risco. Como sensibilizar os pacientes para o uso de máscara? Folhetos e cartazes para explicar a necessidade deste procedimento. Todos os profissionais orientarem os pacientes da mesma forma. Não se abrir exceções por “pena”. Os próprios profissionais de saúde se conscientizarem da importância dessas medidas para os pacientes e para si. Ter sempre a mão as máscaras (N95 e cirúrgicas). TUBERCULOSE Meta da OMS: eliminar a doença como problema de saúde pública até 2050, registrar menos de 1 caso por milhão de habitantes. p. 21 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Obs: Vacina BCG (1973): diminui os casos graves em crianças. A vacina não impede 100% de ter a infecção, mas a chance de adoecer com formas menos graves é maior. 2010: introdução do etambutol. Alguns pacientes evoluem para cura sem tratamento. Introdução A tuberculose é uma doença infecciosa crônica causada pelo bacilo aeróbico Mycobacterium tuberculosis, cuja característica principal é a preferência pelo parênquima pulmonar e a transmissão de pessoa a pessoa através da inalação de partículas infectadas por este bacilo. Doença sistêmica. A forma pulmonar (cavidade) é a mais frequente e a mais contagiosa. (Pacientes com a forma miliar, não eliminam bacilos). Paciente pulmonar bacilífero não tratado pode infectar de 10 a 15 pessoas/ano. Interrupção da transmissão em 15 dias de tratamento (em regime hospitalar pede-se a baciloscopia para acompanhar – e tirar de isolamento respiratório. No ambiente ambulatorial o paciente usa máscara até o 15º dia). Agente Etiológico Bacilo de Koch corado pela técnica de Ziehl Neelsen Obs: Lembrar que essa é uma característica de diversas micobactérias e que a cultura é o melhor método para diferencia-las. Diagnóstico diferencial com Nocardia. Transmissão Os bacilos são eliminados na tosse. Partículas maiores tendem a se depositar no chão e se misturam com a poeira e as menores levitam no ar. Das que levitam, nem todas são contagiantes – apenas as que ressecam e alcançam entre 5 e 10µ (características aerodinâmicas semelhantes às dos gases). Essas alcançam os alvéolos e se implantam. Ao alcançar a periferia dos pulmões, os bacilos são fagocitados por macrófagos alveolares. p. 22 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Na ausência de imunidade específica os macrófagos, esses ficam menos hábeis para eliminar as micobactérias. Resumo: Ao alcançar o espaço alveolar os bacilos da tuberculose são fagocitados pelos macrófagos locais. Esses fagócitos são incapazes de destruir ou mesmo inativar o bacilo, que então se prolifera livremente em seu interior. Após acumular um grande número de bacilos, a célula se rompe e morre, liberando- os para infectar outros macrófagos. Nesse momento, novos fagócitos são atraídos para o local, desenvolvendo-se um pequeno foco penumonico – a imunidade específica ainda não se instalou, portanto a proliferação bacilar é alta. Os bacilos são drenados para os linfonodos hilares e mediastinais satélites, onde continuam se proliferando no interior de macrófagos e, em seguida atingem a corrente sanguínea.Sendo então semeados para diversos órgãos e sistemas nos quais começam a se proliferar. O tempo de exposição necessário para uma infecção bem sucedida é entre 100h e 200h, dependendo das características do foco transmissor e do contato, bem como de suas relações. A maioria dos pacientes infectados pelo bacilo (90%) não irá apresentar os sinais e sintomas da doença. 10% dos pacientes adoecem: 50% nos primeiros anos; 50% adoecimento tardio. Fatores de risco para adoecimento Infecção pelo HIV: risco anual de TB é de 10% (principal causa de morte). Abuso de álcool e drogas endovenosas. Infecção recente por TB MDR (resistente a pelo menos uma das drogas do esquema). Sequelas radiológicas sugestivas em indivíduo sem história prévia de tratamento. Diabetes mellitus. Formas clínicas Pulmonar: clássica. p. 23 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Extrapulmonar: pleural (2ª mais comum), ganglionar (3ª mais comum), óssea, ocular, laríngea, cutânea, mucosa. Disseminada. As estratégias para o diagnóstico devem ser direcionadas de acordo com a forma clínica. Forma Pulmonar Sintomáticos respiratórios: indivíduos com tosse há três semanas – duas semanas em populações especiais (imunossuprimidos e pessoas privadas de liberdade). Sinais e sintomas comumente associados: emagrecimento, sudorese noturna, inapetência, hemoptóicos. Radiologia de Tórax: Alterações mais encontradas são: Infiltrados e cavitações apicais; Derrame pleural; Infiltrado micronodular; Opacificação pulmonar: consolidação; Destruição pulmonar; Bronquiectasias cicatriciais p. 24 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA No paciente com HIV vemos mais o infiltrado reticulonodular difuso. Padrão radiológico de árvore em brotamento ou vidro fosco. Formas Extrapulmonar Pleural: cursa com dor pleurítica (dor respiratório dependente), febre, astenia, emagrecimento. Epiema tuberculose pleural: ocorre como consequência da ruptura de uma cavitação para o espaço pleural. Tuberculose ganglionar: adenomegalias de crescimento subagudo, indolores e assimétricas em cadeias cervical e supraclavicular. Em HIV podem comprometer várias cadeias. Quando começamos a tratar acabam fistulizando. Pode também acometer pacientes hígidos, porém menos florido. Neurotuberculose Apresentação mais grave da tuberculose; Mais comum em crianças e imunodeprimidos; Mortalidade alta de 15% a 60% com tratamento; Acometimento das meninges, parênquima cerebral e vasos cerebrais; Após tratamento observa-se fibrose e alteração no líquor. Diagnóstico Clínico: tosse, febre, emagrecimento e sudorese noturna; Radiológico; Bacteriológico: BAAR e culturas; PPD (imunológico) enduração maior que 5mm em imunossuprimido. E maior que 10mm em imunocompetente; PCR – GeneXpert: amostra de escarro, e busca de bacilo na amostra diretamente; Quantiferon (IGRA – interferon gama): substitui PPD, mas é muito caro. Anamnese e exame físico; Baciloscopia: 2 a 3 amostras; p. 25 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Prova tuberculínica; Cultura: Loweinstein – Jensen: 60 dias; Aspirado ou biopsia de sítios específicos. Tratamento R (Rifampicina) – H (Isoniazida) – Z (Pirazinamida) – E (Etambutol) p. 26 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Paciente que tem hepatopatia ou elevaram transaminases menos de 3x: mantenho esquema. Se aumentar mais de 3x com sintomas ou 5x mais com ou sem sintomas: suspende esquema. Indicação de internação Meningoencefalite tuberculosa; Intolerância aos medicamentos incontrolável no ambulatório; Estado geral que não permita o tratamento no ambulatório; Intercorrências clínicas ou cirúrgicas que demandem procedimentos hospitalares; Vulnerabilidade social. Tratamento Prolongado Presença de bacilos no quinto ou sexto mês, com melhora clínica; Escarro negativo com evolução clínico radiológica insatisfatória; Formas cavitárias com baciloscopia positiva no segundo mês; Monorresistência a R ou H; HIV/AIDS (avaliação em Centro de Referência). Reações Adversas: Maior risco de toxicidade Idade >40 anos; Etilismo; Desnutrição grave; Hepatopatia prévia; Coinfecção com HIV; Para pacientes etilistas, desnutridos, gestantes, portadores de HIV, deve-se associar piridoxina (vitamina B6) como prevenção de neuropatia periférica. p. 27 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Manejo das toxicidades Em caso de intolerância ou hepatotoxicidade tentar re-introduzir droga a droga. Caso a droga causadora do evento seja identificada, substituir apenas essa droga e manter as demais. A rifampicina e isoniazida devem ser substituidas por duas drogas: estreptomicina e etambutol. p. 28 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Controle do Tratamento Baciloscopia mensal, sendo indispensáveis as do segundo, quarto e sexto meses. Se baciloscopia positiva no final do segundo mês: solicitar perfil de sensibilidade. Pacientes com baciloscopia positiva no início do tratamento deverão ter pelo menos duas baciloscopias negativas, uma no acompanhamento e uma no final do tratamento. Controle dos contatos Contato: toda pessoa que convive com o caso índice. Todos os adultos contactantes de crianças doentes devem ser investigados. Coinfecção HIV-TBC Importância da “busca” do diagnóstico. Diagnóstico definitivo com identificação e TSA. p. 29 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Realizar BAAR e cultura em qualquer espécime clínico que esteja disponível. Em pacientes HIV+ realizar mais de 3 amostras de escarro e hemoculturas. Ficar atento para a presença de outras micobactérias. Tratamento da infecção latente da tuberculose Afastar a possibilidade de tuberculose ativa: avaliação clínica e outros exames diagnósticos. Reduz em 60 a 90% o risco de adoecimento. Tratamento da ILTB: Isoniazida, 5 a 10mg/kg de peso – dose máxima 300mg/dia pelo período de 9 a 12 meses. PARASITOSES INTESTINAIS Apresentam alta prevalência em nosso meio (as de mais alta prevalência estão relacionadas ao clima tropical e países em desenvolvimento). Relacionam-se principalmente às más condições de higiene e falta de saneamento básico. Causas frequentes de diarreia crônica, dor abdominal crônica e anemia ferropriva. Muitas vezes assintomáticas, sendo diagnosticadas ocasionalmente através da realização do EPF (do ponto de vista epidemiológico, sempre tratar). Via de transmissão Fecal – Oral (ingestão); Penetração ativa de larvas; Congênita; Sexual; Vetorial (inoculativa e contaminativa). GIARDÍASE Ciclo Evolutivo Os cistos são ingeridos, entram em contato com o suco gástrico liberando os trofozoítos, que migram ao intestino delgado, onde se encistam novamente. p. 30 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Sintomas principais: ocorrem uma a três semanas após a ingestão dos cistos: Diarreia gordurosa, geralmente antecedida de cólicas; Dor epigástrica; Enterite; Perda de peso; Irritação; Inapetência; Vômito; Flatulência. Diagnóstico: Pesquisa de cistos e/ou trofozoítos em exame direto a fresco ou após fixação em formalina 10%. A sensibilidade aumenta como exame de três amostras (60- 90%). Testes sorológicos (ELISA), pesquisa de antígenos nas fezes. EDA: coleta de fluido duodenal. Tratamento: tratar mesmo os assintomáticos Nitroimidazólicos: metronidazol (250mg 8/8h por 5 dias); tinidazol (2g em dose única), secnidazol (2g em dose única). Furazolidona: 100mg de 6/6h por 7 dias; Paramomicina: 500mg 8/8h por dez dias; Benzoimidazólicos: albendazol e mebendazol (eficácia reduzida); Nitazoxanida:7,5mg/kg 12/12h por três dias (cara); Gestantes: paramomicina ou postergar o tratamento (drogas teratogênicas). AMEBÍASE Agente etiológico: Entamoeba histolytica. Protozoário – a mais importante ameba presente no intestino humano. Pode manifestar-se como doença aguda ou crônica. Distribui-se em todo o mundo, com maior incidência em países em desenvolvimento. Mais frequente em imigrantes recentes e populações institucionalizadas. Está intimamente associada a más condições de higiene, sendo transmitida diretamente de pessoa a pessoa ou através de alimentos contaminados. Manifestações clínicas: Infecção assintomática. Amebíase intestinal invasiva, com disenteria, colite, apendicite, megacólon tóxico e amebomas. p. 31 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Amebíase extra-intestinal: abscesso hepático, peritonite, abscesso pulmonar, lesões cutâneas e genitais. Ciclo clínico Após a ingestão de cistos, eles ultrapassam a barreira gástrica e transformam-se em trofozoítos na luz intestinal, que passam a se multiplicar. (Forma de transmissão: ingestão de cisto). Amebíase intestinal invasiva Amebíase intestinal não disentérica: alternância de diarreia e constipação, flatulência, dor hipogástrica em cólica, perda de peso e anorexia. Colite amebiana aguda: início súbito de dor abdominal tipo cólica, de forte intensidade, febre, náuseas, cefaleia, tenesmo. A pesquisa de sangue oculto nas fezes é sempre positiva. Colite fulminante pode ocorrer em desnutridos, gestantes e usuários de corticoides. Megacólon tóxico: ocorre em menos de 0,5% dos casos, geralmente associado ao uso de corticoide. Amebíase pleuropulmonar: é a complicação mais comum do abscesso hepático. Pode haver formação de fístula hepatobrônquica com eliminação de secreção rica em parasitas. Amebíase extra-intestinal Abscesso hepático: decorrente da invasão do fígado através do sistema porta. Tríade clássica: febre, dor em hipocôndrio direito e leucocitose. A doença pode durar semanas a meses, com elevação de fosfatase alcalina, GGT, porém em menos de 50% dos casos há elevação das transaminases. O EPF mostra o parasita em 10 a 20% dos casos, sendo a cultura e pesquisa de antígenos mais sensíveis (por isso muitas vezes vale o tratamento empírico). O US de abdome estabelece o diagnóstico em 90% dos casos, quando é realizada a punção aspirativa da lesão guiada pelo US. Trofozoítos aderem à mucosa colônica, provocam citólise e formação de úlceras Diagnóstico laboratorial Identificação de cistos e trofozoítos nas fezes: amostras frescas coradas com tricloro, Lugol, azul de metileno, concentrado de fezes frescas coradas com iodo ou tricloro. p. 32 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Detecção de antígenos nas fezes. PCR. Cultura de fezes. Recomenda-se coleta de fezes em três amostras em dias alternados para melhorar a sensibilidade do método. Neste caso, elas devem ser fixadas em MIF (70-90%). ASCARIDÍASE Uma das mais importantes parasitoses intestinais. Helmintíase mais frequente no Brasil. Os ovos do Ascaris lumbricóides são resistentes a temperaturas baixas e elevadas. Ciclo Evolutivo Os ovos são deglutidos e chegam até o intestino, onde eclodem e liberam larvas. Estas atravessam a parede intestinal, caem na corrente sanguínea, chegam ao sistema porta-intra-hepático, veia cava inferior e atingem o coração direito. Nos pulmões, as larvas rompem a parede alveolar, são expectoradas e deglutidas para novamente atingirem a luz intestinal onde se transformam em vermes adultos. Sinais e sintomas (maioria assintomático) Dor abdominal; Eosinofilia (15 a 40%); Irritabilidade; Alternância de diarreia e constipação; p. 33 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Reações alérgicas (asma); Síndrome de Loeffler (pneumonite por larvas); Febre, tosse (estertores); Anemia e emagrecimento; Visualização dos parasitos nas fezes ou eliminação pela boca, nariz ou ouvidos. Diagnóstico Relato de visualização direta do parasito; Hemograma: Eosinofilia / anemia hipocrômica e microcítica; Radiografia de tórax: infiltrado intersticial nos casos com sintomas pulmonares; Radiografia de abdome: sinais de obstrução, como distensão de alças e níveis hidroaéreos; Exame parasitológico de fezes (EPF): o Métodos de sedimentação: Hoffman (Lutz); o Identificação dos ovos pelo método a fresco. Tratamento Mebendazol: 100mg de 12 em 12 horas por três dias; Albendazol: 400mg em dose única; Levamisol: 150mg em dose única (pode ser utilizado em grávidas); Nitazoxanida:7,5mg/kg (500mg) 12/12h por três dias. Em casos de obstrução: manter dieta suspensa, passar SNG, administrar óleo mineral e piperazina (100mg/Kg) para paralisar a musculatura do verme e ajudar na dissolução do bolo e eliminação. ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA As cercárias penetram na pele ou em mucosas e se transformam em esquistossômulos, que, realizam o ciclo pulmonar e chegam ao fígado no sistema porta intra- hepático. Os vermes adultos migram para a veia porta e veias mesentéricas de onde atingem a luz intestinal. Esquistossomose aguda: dermatite cercariana, diarreia, febre, dor abdominal, aumento discreto de fígado e baço, sintomas respiratórios. Esquistossomose crônica: Forma intestinal; p. 34 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Forma hepatointestinal; Forma hepatoesplênica (forma mais grave); Forma cardiopulmonar; Forma neurológica; Forma renal (paciente pode evoluir para insuficiência renal dialítica). Forma hepatoesplênica: secundária à hipertensão portal associada à formação de granulomas ao redor dos ovos no espaço peri-portal, levando à hipertensão portal e suas complicações: varizes esofageanas, HDA, hiperesplenismo com anemia e plaquetopenia. p. 35 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Diagnóstico EPF (método de sedimentação: Hoffman-HPJ(Hoffman, Pons e Janer), ou método quantitativo: Kato-Katz; Na forma aguda, os ovos começam a ser eliminados aproximadamente na sexta semana após a infecção; Na forma crônica, a sensibilidade do EPF é menor e pode ser necessária a biópsia retal; Intradermorreação: utiliza antígenos de vermes adultos ou cercárias. Não distingue a infecção atual da infecção prévia; Reações sorológicas: ELISA, HA, não distinguem a infecção atual da prévia; Biópsia hepática; Exames de imagem: US de abdome, RNM. Tratamento Praziquantel 50-mg/Kg – dose única; p. 36 GABRIELA CARVALHO ABREU CLÍNICA MÉDICA II - IZABELA Tratamento cirúrgico: indicada nos casos de anemia grave refratária. Outros a discutir: plaquetopenia, baços volumosos, episódios repetidos de HDA, varizes de grosso calibre, gastropatia da hipertensão porta. A análise dos casos e indicação cirúrgica deve ser individualizada e feita em centros de referência. ESTRONGILOIDÍASECiclo clínico: A larva filariforme penetra na pele íntegra, migra por via hematogênica aos pulmões, atinge a árvore brônquica e é deglutida. A larva amadurece na luz intestinal. Os ovos geram a larva rabditóide que é eliminada no solo nas fezes e se transforma em larva filarióide infectante. Às vezes, a larva rabditóide pode amadurecer no intestino e por auto-infestação penetra na pele peri-anal e completa o ciclo. Manifestações clínicas Desconforto epigástrico, diarreia crônica,síndrome de má-absorção, duodenite; Manifestações pulmonares; Reações cutâneas no local de penetração das larvas; exantema maculopapular ou urticariforme; Síndrome de hiperinfecção: disseminação das larvas filariformes através dos pulmões, fígado, coração, rins, SNC, glândulas endócrinas. Pode ocorrer bacteriemia por germes gram-negativos carreados pelas larvas. A mortalidade pode atingir 85%; A infecção pelo HTLV é um importante fator de risco para a hiperinfecção (supressão da produção de IgE). Diagnóstico EPF (técnica de concentração Baerman-Morais); Aspiração de fluido duodenal, lavado broncoalveolar, líquido pleural e peritoneal nas formas disseminadas; Técnicas sorológicas: HAI, ELISA. Tratamento Infecção não complicada: Ivermectina 200 mcg/Kg/dia dose única ou por dois dias; Tiabendazol 50mg/Kg/dia, VO, 12/12 por dois dias. Infecção disseminada: Ivermectina 200 mcg/Kg/dia por dois dias; Tiabendazol 50mg/Kg/dia, VO, 12/12 por cinco a sete dias.
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