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PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO

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Prévia do material em texto

Psicologia Aplicada 
ao Direito
Expediente
Curso de Direito – Coletânea de Exercícios
Coordenação Nacional do Curso de Direito da Universidade Estácio de Sá
Coordenação do Projeto
Núcleo de Qualificação e Apoio Didático-Pedagógico
Presidente: Professor Sérgio Cavalieri Filho
Coordenação Pedagógica
Prof.ª Tereza Moura
Prof. Marcelo Machado Lima
Organização da Coletânea
Professores da disciplina, sob a coordenação da Prof.ª Stella Luiza Moura Aranha Carneiro
Caro Aluno
A Metodologia do Caso Concreto aplicada em nosso Cur-
so de Direito é centrada na articulação entre teoria e prática, 
com vistas a desenvolver o raciocínio jurídico. Ela abarca o es-
tudo interdisciplinar dos vários ramos do Direito, permitindo 
o exercício constante da pesquisa, a análise de conceitos, bem 
como a discussão de suas aplicações.
O objetivo é preparar os alunos para a busca de resoluções 
criativas a partir do conhecimento acumulado, com a susten-
tação por meio de argumentos coerentes e consistentes. Desta 
forma, acreditamos ser possível tornar as aulas mais interativas 
e, conseqüentemente, melhorar a qualidade do ensino ofere-
cido.
Na formação dos futuros profissionais, entendemos que 
não é papel do Curso de Direito da Universidade Estácio de Sá 
tão-somente oferecer conteúdos de bom nível. A excelência do 
curso será atingida no momento em que possamos formar pro-
fissionais autônomos, críticos e reflexivos.
Para alcançarmos esse propósito, apresentamos a Cole-
tânea de Exercícios, instrumento fundamental da Metodologia 
do Caso Concreto. Ela contempla a solução de uma série de ca-
sos práticos a serem desenvolvidos pelo aluno, com auxílio do 
professor.
Como regra primeira, é necessário que o aluno adquira o 
costume de estudar previamente o conteúdo que será ministrado 
pelo professor em sala de aula. Desta forma, terá subsídios para 
enfrentar e solucionar cada caso proposto. O mais importante 
não é encontrar a solução correta, mas pesquisar de maneira dis-
ciplinada, de forma a adquirir conhecimento sobre o tema.
A tentativa de solucionar os casos em momento anterior 
à aula expositiva aumenta consideravelmente a capacidade de 
compreensão do discente.
Este, a partir de um pré-entendimento acerca do tema abor-
dado, terá melhores condições de não só consolidar seus conheci-
mentos, mas também dialogar de forma coerente e madura com o 
professor, criando um ambiente acadêmico mais rico e exitoso.
Além desse, há outros motivos para a adoção desta Cole-
tânea. Um segundo a ser ressaltado é o de que o método estimula 
o desenvolvimento da capacidade investigativa do aluno, incen-
tivando-o à pesquisa e, conseqüentemente, proporcionando-lhe 
maior grau de independência intelectual.
Há, ainda, um terceiro motivo a ser mencionado. As 
constantes mudanças no mundo do conhecimento – e, por con-
seqüência, no universo jurídico – exigem do profissional do Di-
reito, no exercício de suas atividades, enfrentar situações nas 
quais os seus conhecimentos teóricos acumulados não serão, 
per si, suficientes para a resolução das questões práticas a ele 
confiadas.
Neste sentido, e tendo como referência o seu futuro pro-
fissional, consideramos imprescindível que, desde cedo, desen-
volva hábitos que aumentem sua potencialidade intelectual e 
emocional para se relacionar com essa realidade. E isto é propor-
cionado pela Metodologia do Estudo de Casos.
No que se refere à concepção formal do presente mate-
rial, esclarecemos que o conteúdo programático da disciplina a 
ser ministrada durante o período foi subdividido em 15 partes, 
sendo que a cada uma delas chamaremos “Semana”. Na primeira 
semana de aula, por exemplo, o professor ministrará o conteúdo 
condizente com a Semana nº 1; na segunda, com a Semana nº 
2, e, assim, sucessivamente.
O período letivo semestral do nosso curso possui 22 se-
manas. O fato de termos dividido o programa da disciplina em 
15 partes não foi por acaso. Levou-se em consideração não so-
mente as aulas que são destinadas à aplicação das avaliações ou 
os eventuais feriados, mas, principalmente, as necessidades pe-
dagógicas de cada professor.
 Isto porque o nosso projeto pedagógico reconhece a im-
portância de destinar um tempo extra a ser utilizado pelo profes-
sor – e a seu critério – nas situações na qual este perceba a neces-
sidade de enfatizar de forma mais intensa uma determinada parte 
do programa, seja por sua complexidade, seja por ter observado 
na turma um nível insuficiente de compreensão.
 Hoje, após a implantação da metodologia em todo o cur-
so no Estado do Rio de Janeiro, por intermédio das Coletâneas 
de Exercícios, é possível observar o resultado positivo deste tra-
balho, que agora chega a outras localidades do Brasil. Recente 
convênio firmado entre as Instituições que figuram nas páginas 
iniciais deste caderno, permitiu a colaboração dos respectivos 
docentes na feitura deste material disponibilizado aos alunos.
A certeza que nos acompanha é a de que não apenas tor-
namos as aulas mais interativas e dialógicas, como se mostra 
mais nítida a interseção entre os campos da teoria e da prática 
no Direito.
 Por todas essas razões, o desempenho e os resultados 
obtidos pelo aluno nesta disciplina estão intimamente relacio-
nados ao esforço despendido por ele na realização das tarefas so-
licitadas, em conformidade com as orientações do professor. A 
aquisição do hábito do estudo perene e perseverante não apenas 
o levará a obter alta performance no decorrer do seu curso, como 
também potencializará suas habilidades e competências para um 
aprendizado mais denso e profundo pelo resto de sua vida.
 Lembre-se: na vida acadêmica, não há milagres; há es-
tudo com perseverança e determinação. Bom trabalho.
Coordenação Geral do Curso de Direito 
Procedimentos para Utilização das 
Coletâneas de Exercícios
1. O aluno deverá desenvolver pesquisa prévia sobre os 
temas objeto de estudo de cada semana, envolvendo a legisla-
ção, a doutrina e a jurisprudência, e apresentar soluções, por 
meio da resolução dos casos, preparando-se para debates em 
sala de aula.
 
2. Antes do início de cada aula, o aluno depositará sobre 
a mesa do professor o material relativo aos casos pesquisados e 
pré-resolvidos, para que o docente rubrique e devolva no início 
da própria aula.
 
3. Após a discussão e solução dos casos em sala de aula, 
com o professor, o aluno deverá aperfeiçoar o seu trabalho, uti-
lizando, necessariamente, citações de doutrina e/ou jurisprudên-
cia pertinentes aos casos.
 
4. A entrega tempestiva dos trabalhos será obrigatória, 
para efeito de lançamento dos graus respectivos (zero a dois), 
independentemente do comparecimento do aluno às provas.
 
5. Até o dia da AV1 e da AV2, respectivamente, o alu-
no deverá entregar o conteúdo do trabalho relativo às aulas já 
ministradas, anexando os originais rubricados pelo professor, 
bem como o aperfeiçoamento dos mesmos, organizado de forma 
cronológica, em pasta ou envelope, devidamente identificados, 
para atribuição de pontuação (zero a dois), que será somada à 
que for atribuída à AV1 e à AV2 (zero a oito).
 
 6. A pontuação relativa à Coletânea de Exercícios na 
AV3 (zero a dois) será a média aritmética entre os graus atri-
buídos aos exercícios apresentados até a AV1 e a AV2 (zero a 
dois).
 
 7. As AV1, AV2 e AV3 valerão até oito pontos e con-
terão, no mínimo, três questões baseadas nos casos constantes 
da Coletânea de Exercícios.
Coordenação Geral do Curso de Direito
Procedimentos para Utilização das Coletâneas de Exercícios
Semana 1
Psicologia científica e senso comum.
Objetos de estudo da Psicologia. Fenômenos psicológicos.
 
Semana 2
A Psicologia enquanto Ciência e suas interfaces com o Direito.
A Psicologia, o Judiciário e a busca do ideal de Justiça – Primórdiosda 
Psicologia aplicada ao Direito.
 
Semana 3
Lei Jurídica X Lei Simbólica.
Leis organizadoras da vida em sociedade.
Transgressão e Lei simbólica.
 
Semana 4
O Indivíduo.
Personalidade: formação e desenvolvimento.
 
Semana 5
Representações sociais de gênero. Relações afetivas. 
 
Semana 6
A Família.
Estudo psicossocial da família. Tipos de famílias.
 
Semana 7
A Sociedade. 
Organizações. Instituições. Grupos. Tipos de grupo.
Análise do poder nas Instituições.
 
Sumário
10
Semana 8
Influências sociais.
Preconceitos. Estereótipos. Discriminação.
 
Semana 9
Exclusão social
Noção de exclusão social. Pressupostos psicossociais de exclusão so-
cial.
 
Semana 10
Comportamento.
Comportamento anti-social e violência.
Semana 11
As práticas Psi e suas aplicações no contexto jurídico.
Área Cível.
Semana 12
As práticas Psi e suas aplicações no contexto jurídico
Infância, Juventude e Idoso.
Semana 13
Infância e Juventude.
Semana 14
As práticas Psi e suas aplicações no contexto jurídico.
Área Criminal.
Sistema Penitenciário.
Semana 15
O processo de avaliação psicológica no Judiciário.
Sumário
11
BÁSICA
GONÇALVES, H.S. ; BRANDÃO, E. P. (Orgs.). Psicologia Jurídica no Brasil. Rio 
de Janeiro: NAU, 2004.
TRINDADE, J. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito. 2ª ed. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2007.
ZIMERMAN, D; COLTRO, A . C. M. (Orgs.). Aspectos psicológicos na Prática Jurí-
dica. 2ª ed. Campinas: Millennium, 2008.
COMPLEMENTAR
BOCK, A. M.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. de L. T. Psicologias: uma introdução 
ao estudo da Psicologia. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
BRITO, L. M. T. de (Org.). Temas de Psicologia Jurídica. Rio de Janeiro: Relume 
Dumará, 1999.
CRUZ, R. M.; MACIEL, S. K.; RAMIREZ, D. C. O trabalho do psicólogo no campo 
jurídico. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L.; JABLONSKI, B. Psicologia Social. 18ª ed. 
Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
SHINE, S. (Org.). Avaliação psicológica e a lei: adoção, vitimização, separação conjugal, 
dano psíquico e outros temas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
Bibliografia
Psicologia Aplicada ao Direito
13
Semana 1
Introdução ao estudo da Psicologia: Psicologia científica e senso comum.
Objetos de estudo da Psicologia. Fenômenos psicológicos.
TEXTO 1
Ciência e Psicologia: bases epistemológicas
Por: Adelmo Senra Gomes1
Há muito em epistemologia2 vem-se tentando uma definição adequada de 
“Ciência”. Destacaremos, entrementes, algumas das principais características 
da ciência: 1ª. A coerência: “[...] ou seja, a ciência não pode ser contraditória, 
pois, como expressão das relações causais da natureza, a possibilidade de cau-
sas contraditórias simplesmente destruiria a possibilidade de existência do ob-
jeto. Não ser contraditório significa respeitar o princípio da contradição. Esse 
princípio foi formulado primeiro por Aristóteles de diversas maneiras: “Nada 
pode ao mesmo tempo ser e não ser”, “é necessário que toda asserção seja afir-
mativa ou negativa.”(VIEGAS, 2007, p. 55 – negritos meus); 2ª. A consistên-
cia: “[...] enquanto não for refutada, pressupõe-se que a assertiva científica não 
esteja limitada no tempo, presente, passado ou futuro. Aliás, essa é a função 
pragmática básica da ciência: a capacidade de prever. Sem essa capacidade a 
ciência torna-se inútil, pois não mais poderia servir como orientação para o ser 
humano” (p. 56 – negritos meus); e, 3ª. A generalidade: “A afirmação cientí-
fica deve se referir a todos os casos aos quais se aplica ou, segundo a formulação 
clássica, não há ciência do indivíduo – [...]. Eis por que, embora possam ser 
vantajosamente utilizados como teste de métodos de abordagem de um objeto, 
os chamados ‘estudos de caso’ precisam comprovar a possibilidade de genera-
lização para serem tidos como científicos, ou seja, que possam ser aplicados a 
quaisquer outros casos análogos. Quando se fala em ciências particulares, o ad-
jetivo aplica-se ao objeto da ciência, não ao caso particular do objeto. O objeto 
pode ser particular, mas o conhecimento deve ser geral.” (p. 56)
Ainda segundo VIEGAS (2007), são quatro os tipos do conhecimento: 
ideológico (ou senso comum3), religioso, filosófico e científico. Analise o 
quadro na página seguinte:
1 Psicólogo, professor da UNESA do curso de Direito.
2 Epistemologia (ou, filosofia do conhecimento) é a parte da filosofia que analisa a natureza, as 
formas e as bases metodológicas do conhecimento humano, notadamente o da Ciência.
3 O parêntese é meu.
Coletânea de Exercícios
14
ELEMENTO
DISCRIMINANTE
CONHECIMENTO
IDEOLÓGICO RELIGIOSO FILOSÓFICO CIENTÍFICO
Fonte de conhecimento Não racional Inspiracional Racional Contingencial
Atitude mental básica Justificação Aceitação Reflexão Dúvida
Método de investigação Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático
Tipo de apreciação Valorativa Valorativa Valorativa Factual 
(realístico)
Posição diante do erro Infalível Infalível Infalível Falível
Nível de exatidão Inexato Exato Exato Quase exato
Teste de consistência Não verificável Não verificável Não verificável Verificável
Fonte: VIEGAS, 2007, p. 36
A ciência utiliza os métodos indutivo, dedutivo e hipotético-dedutivo 
para construir suas proposições que nada mais são do que afirmações gerais 
do tipo: 1) Indução: “Se um grande número de As foi observado sob uma 
ampla variedade de condições, e se todos esses As observados possuíam sem 
exceção a propriedade B, então todos os As têm a propriedade B.” (CHAL-
MERS, 1993, p. 27). 2) Dedução: Todos os As têm a propriedade B. O objeto 
considerado é um A. Logo, ele também deve ter a propriedade B. 3) Hipoté-
tico-dedutivo: Todos os As possuem a propriedade B (proposição universal 
apriorística). Neste caso, há que se tentar falsear esta proposição buscando-se 
na experiência (ou seja, nos fatos) um A que não tenha a propriedade B. Caso 
isso ocorra, a proposição terá sido falseada. “O sucesso em testes sucessivos 
marca a qualidade da teoria, o que não quer dizer que ela seja verdadeira, mas 
apenas melhor que as concorrentes” (ASSIS apud VIEGAS, 1999, p. 129).
Por fim, as ciências poderiam ser classificadas em função das caracterís-
ticas e da natureza de seus objetos. Neste sentido, então, propomos a seguinte 
distinção (BUNGE, 1989 apud VIEGAS, 2007, p. 58): ciências formais (seus 
objetos seriam abstrações e seu método, a lógica dedutiva – por exemplo, a 
Lógica e a Matemática) e ciências factuais (seus objetos pertenceriam ao 
campo físico, ou seja, seriam fatos possíveis de serem observados e experi-
mentados.). Às ciências factuais, proponho, indo além da classificação de 
Bunge, as seguintes subdivisões: naturais (aquelas voltadas ao estudo dos 
fenômenos da natureza: por exemplo, a química, a física, a biologia etc.) e 
sociais (aquelas voltadas ao estudo dos fenômenos sociais: por exemplo, a 
sociologia, a antropologia, a economia etc.).
Psicologia: origens e objetos
A história da psicologia enquanto ciência inicia-se em 1879, quando 
na Universidade de Leipzig, Alemanha, o médico, filósofo e psicólogo ale-
Psicologia Aplicada ao Direito
15
mão, Wilhelm Wundt, funda o primeiro grande laboratório de pesquisa em 
psicologia. Antes de Wundt a psicologia era tida, simplesmente, como um 
ramo da filosofia.
Em sentido lato, a psicologia teria por objetos de pesquisa o “comporta-
mento” e os “processos mentais” de todos os seres vivos (DAVIDOFF, 2001; 
MORRIS; MAISTO, 2004; MYERS, 1999). Define-se por comportamento 
toda forma de “[...] resposta ou atividade observável realizada por um ser vi-
vo” (WEITEN, 2002, p. 520). Por seu turno, processos mentais aludiriam às 
“[...] experiências subjetivas que inferimos através do comportamento4 – sen-
sações, percepções, sonhos, pensamentos, crenças,sentimentos” (MYERS, 
1999, p. 2).
“Ciências Psicológicas”
A partir de uma reflexão epistemológica mais precisa, verifica-se que a 
Psicologia possuiria, de fato, diferentes objetos de pesquisa e, por conta disto, 
diferentes métodos e técnicas de pesquisa. Nas palavras de Japiassu: “Por isso, 
talvez fosse preferível falarmos, em vez de “Psicologia”, em “Ciências Psicoló-
gicas.” (1983, pp. 24-6). Por exemplo, no que concerne aos processos mentais, 
podemos citar os mecanismos da percepção e sua influência sobre o comporta-
mento humano (objeto da escola gestáltica5); em relação ao comportamento 
anormal e suas injunções inconscientes, as pesquisas da escola psicanalítica.6 
No que pese o comportamento e suas relações com os estímulos ambientais, 
os experimentos da escola behaviorista7, e assim sucessivamente.
Por fim, recentemente na história da Psicologia no Brasil instituciona-
lizou-se, a partir das possibilidades (e, concretamente, das demandas) inter-
disciplinares8 entre o Direito, o Judiciário brasileiro e a Psicologia, um novo 
4 Essas inferências de processos mentais a partir da observação do comportamento são chamadas 
de constructos (ou construções) psicológicas.
5 A escola gestáltica da psicologia surgiu na Alemanha no início do século passado, tendo focali-
zado suas pesquisas nos processos perceptivos da mente e suas influências no comportamento.
6 A escola psicanalítica surgiu em Viena no final do século XIX e início do século XX, com Sig-
mund Freud. O objetivo inicial de Freud era o de desenvolver um método de tratamento para os ca-
sos de neurose. Porém, com o avanço das observações clínicas, a psicanálise tornou-se um comple-
xo conhecimento sobre as estruturas mentais e suas dinâmicas, notadamente as do inconsciente.
7 A escola behaviorista (do inglês behavior = comportamento) surgiu no início do século XX, 
nos EUA, com John Watson. Seu objeto é o comportamento observável. O behaviorismo pri-
mou pela cientificidade de suas pesquisas em relação ao comportamento, utilizando, por exem-
plo, a experimentação como sua principal técnica de pesquisa.
8 Interdisciplinaridade: Segundo Japiassu (1976, p. 75), é “a colaboração entre as diversas dis-
ciplinas ou entre os setores heterogêneos de uma mesma ciência [que] conduz a interações pro-
priamente ditas, isto é, a uma certa reciprocidade nos intercâmbios, de tal forma que, no final do 
processo interativo, cada disciplina saia enriquecida.”
Coletânea de Exercícios
16
e vasto campo de pesquisa; uma nova prática para o psicólogo: a “Psicologia 
Jurídica”. Seu objeto (que, a nosso ver, carece ser precisado) localiza-se nas 
relações e interações entre o indivíduo, o Direito e o Judiciário. Na busca pe-
lo ideal de Justiça e pela promoção dos direitos humanos, o psicólogo surge, 
portanto, como um ator importante, contribuindo, a partir do seu saber e da 
sua prática, para a afirmação da dignidade humana.
QUESTÃO 1
Hans Kelsen em seu livro Teoria pura do Direito propõe uma distinção 
entre Direito e Ciências Jurídicas. Pesquise, pois, como Kelsen estabelece 
tal diferenciação.
QUESTÃO 2
A partir da jurisprudência pátria ou em outros documentos jurídicos, 
exemplos da participação do psicólogo contribuindo no processo jurídico.
TEXTO 2
Psicologia científi ca e psicologia do senso comum
Todos nós usamos o que poderia ser chamado de psicologia de senso co-
mum em nosso cotidiano. Observamos e tentamos explicar o nosso próprio 
comportamento e o dos outros. Tentamos predizer quem fará o quê, quando 
e de que maneira. E muitas vezes sustentamos opiniões sobre como adquirir 
controle sobre a vida (Ex: o melhor método para criar filhos, fazer amigos, 
impressionar as pessoas e dominar a cólera). Entretanto, uma psicologia cons-
truída a partir de observações casuais tem algumas fraquezas críticas.
O tipo de psicologia do senso comum que se adquire informalmente 
leva a um corpo de conhecimentos inexatos por diversas razões. O senso 
comum não proporciona diretrizes sadias para a avaliação de questões com-
plexas. As pessoas geralmente confiam muito na intuição, na lembrança de 
experiências pessoais diversas ou nas palavras de alguma autoridade (como 
um professor, um amigo, uma celebridade da TV).
A ciência proporciona diretrizes lógicas para avaliar a evidência e téc-
nicas bem raciocinadas para verificar seus princípios. Em consequência, os 
psicólogos geralmente confiam no método científico para as informações sobre 
o comportamento e os processos mentais. Perseguem objetivos científicos, tais 
Psicologia Aplicada ao Direito
17
como a descrição e a explicação. Usam procedimentos científicos, inclusive 
observação e experimentação sistemática, para reunir dados que podem ser 
observados publicamente. Tentam obedecer aos princípios científicos. Esfor-
çam-se, por exemplo, por escudar seu trabalho contra suas distorções pessoais 
e conservar-se de espírito aberto.
Ainda assim, os cientistas do comportamento não estão de acordo 
quanto aos pressupostos fundamentais relacionados aos objetivos, ao objeto 
primeiro e aos métodos ideais. Como outras ciências, a psicologia está longe 
de ser completa. Existem muitos fenômenos importantes que não são ainda 
compreendidos. As pessoa não devem esperar uma abordagem única do ob-
jeto da psicologia ou respostas para todos os seus problemas.
Disponível em http://culturapsi.vilabol.uol.com.br/notaextra.htm
QUESTÃO 1
A partir da argumentação do autor , faça um paralelo com a situação do 
Direito, dentro deste mesmo enfoque. Não deixe de exemplificar sua resposta 
com alguma forma de ordenamento jurídico.
“As pessoas não devem esperar uma abordagem única do objeto da psi-
cologia ou respostas para todos os seus problemas.”
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS:
ALENCAR, J. R.; NASCIMENTO, C. L. F.; FACCI, K. M.; BAQUEANO, L. A. 
“A apropriação da Psicologia numa concepção popular”. Disponível em http://cul-
turapsi.vilabol.uol.com.br/notaextra.htm
BOCK, Ana. “A inserção da Psicologia na Sociedade Brasileira”. Disponível em 
http://www.pol.org.br/publicaoes/materia.cfm?Id=34&Materia=61
CHALMERS, A.F. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.
VIEGAS, W. Fundamentos lógicos da metodologia científica. Brasília (DF): Editora 
UnB, 2007.
Coletânea de Exercícios
18
Semana 2
A Psicologia como Ciência e suas interfaces com o Direito.
A Psicologia, o Judiciário e a busca do ideal de justiça.
TEXTO 1
A inserção da Psicologia na Sociedade Brasileira
Ana Bock
Tenho, em várias oportunidades, realizado palestras sobre o compro-
misso social da Psicologia e sua inserção na sociedade brasileira. Tenho 
apresentado um pequeno histórico das idéias psicológicas no Brasil (a partir 
dos trabalhos de Marina Massimi e Mitsuko Antunes) para criticar o com-
promisso que a Psicologia vem mantendo com os interesses das elites brasi-
leiras. A Psicologia esteve a serviço do controle, da higienização moral da 
sociedade e da diferenciação e categorização. Sempre procurando respon-
der à demanda das elites de controlar a mão-de-obra indígena; de limpar 
a sociedade dos males morais e de colocar o homem certo no lugar certo. 
Mas sabemos que, já há alguns anos, a Psicologia vem buscando construir 
uma nova relação com a sociedade brasileira. Vem buscando um novo com-
promisso social; um compromisso com os interesses da maioria da população 
e com a melhoria da qualidade de vida em nossa sociedade tão desigual!
A história que percorremos, o avanço de teorias críticas, a ampliação da 
categoria dos psicólogos que deixa de ser uma categoria composta somente 
pela elite brasileira, o aumento dos psicólogos disputando o pequeno mer-
cado de trabalho que temos (somos 122 mil profissionais com condições de 
atuar), o apego que temos à nossa profissão, a busca do autoconhecimento, 
o individualismo característico de nossa sociedade, enfim,vários são os fa-
tores que nos empurraram para uma posição mais próxima dos interesses da 
maioria da sociedade. Queremos trabalhar em Psicologia e queremos, para 
isto, que ela esteja ao alcance de todos que dela necessitam.
E agora é a hora!
Penso que, hoje, com a eleição do Governo Lula e toda a disposição 
e valorização do discurso da mudança, nós, psicólogos, devemos aproveitar 
para mostrar à sociedade brasileira nossa contribuição profissional.
Os psicólogos têm, ao longo dos anos, construído uma profissão que tem 
tido pouca visibilidade social. Poucos sabem o que faz um psicólogo. Ain-
da somos vistos como profissionais para quem é doido ou tem cabeça fraca. 
Somos vistos como psicoterapeutas trabalhando com um paciente deitado 
Psicologia Aplicada ao Direito
19
no divã. No entanto, os psicólogos estão nos mais diversos locais e institui-
ções, fazendo atividades diversas, com finalidades diversas. Temos várias 
áreas profissionais reconhecidas que estão nos currículos de formação, como 
possibilidade de estágio e de aprendizado. Temos resolução regulamentando 
especialidades; temos entidades representando as várias áreas que aglutinam 
os psicólogos que se identificam com determinadas práticas. Mas toda esta 
riqueza profissional não tem tido visibilidade. Temos psicólogos atuando com 
populações que tradicionalmente não tinham acesso a nossos serviços; psicó-
logos utilizando técnicas inovadoras, experimentando a aplicação de novos 
saberes. Enfim, temos diversificado nossa profissão e nossa ciência, sem que 
este processo corresponda a uma ampliação de nossa inserção social.
Dar visibilidade à profissão, essa deve ser nossa meta. Devemos apro-
veitar a vontade de mudança que hoje a sociedade brasileira apresenta para 
propor um projeto ousado que nos coloque atuando na sociedade, contribuin-
do com a mudança e garantindo uma nova inserção social para a Psicologia 
e um novo compromisso com a sociedade brasileira.
Quem sabe um Banco Social de Serviços em Psicologia? Por um novo 
compromisso com a sociedade brasileira; pela ampliação da inserção social 
da Psicologia.
Disponível em http://www.pol.org.br/publicaoes/materia.cfm?Id=34&Materia=61
QUESTÃO 1
Para a autora: “A Psicologia esteve a serviço do controle, da higieniza-
ção moral da sociedade e da diferenciação e categorização. Sempre procuran-
do responder à demanda das elites de controlar a mão-de-obra indígena; de 
limpar a sociedade dos males morais e de colocar o homem certo no lugar cer-
to. Mas sabemos que, já há alguns anos, a Psicologia vem buscando construir 
uma nova relação com a sociedade brasileira. Vem buscando um novo com-
promisso social; um compromisso com os interesses da maioria da população 
e com a melhoria da qualidade de vida em nossa sociedade tão desigual!”
Partindo destes dois momentos da Psicologia, correlacione-os com o 
trabalho realizado junto ao Direito, nestes momentos.
TEXTO 2
“A instituição judiciária é sempre um lugar de trabalho com o sofrimen-
to. Sofrimento que advém do mal-estar inerente à cultura e que encontra ali 
uma forma particular de se expressar e de demandar auxílio. Lugar no qual 
Coletânea de Exercícios
20
se propõe a existência de um ideal de Justiça. A Justiça é uma das mais legí-
timas e mais impossíveis demandas do ser falante. Deve-se frisar: dizer que 
ela é impossível não significa que é totalmente irrealizável. Significa que a 
Justiça deve permanecer no horizonte ético mas que sua expressão nas deci-
sões judiciais sempre parece subjetivamente incompleta. O dano pelo qual 
sofremos e do qual nos queixamos nos parece sempre estar além de qualquer 
reparação. Afinal, o que pode recuperar nossa perda? É a Lei: o que foi per-
dido é irrecuperável, resta construir novas possibilidades e para isto muitas 
vezes contamos com a lei. Por isso a relação com a lei é sempre conflitiva. Ela 
nos parece ao mesmo tempo o que nos cerceia a realização do desejo e o que a 
possibilita ao regular a relação com o outro” (MIRANDA JR, 1998).
QUESTÃO 1
Como podemos entender a afirmação de que o que a Justiça expressa 
nas “decisões judiciais sempre parece subjetivamente incompleta”?
QUESTÃO 2
Pesquisar na mídia (impressa e/ou televisiva) situações em que é possí-
vel ilustrar o pedido de “reparação subjetiva” dirigida ao Poder Judiciário.
JUSTIÇA RESTAURATIVA
Mudança de foco
Na Justiça Restaurativa a questão central, em vez de versar sobre cul-
pados, é sobre quem foi prejudicado pela infração.
Ao contrário da Justiça Tradicional, que se ocupa predominantemente 
da violação da norma de conduta em si, a Justiça Restaurativa ocupa-se das 
conseqüências e danos produzidos pela infração.
A Justiça Restaurativa valoriza a autonomia dos sujeitos e o diálogo en-
tre eles, criando espaços protegidos para a auto-expressão e o protagonismo 
de cada um dos envolvidos e interessados – transgressor, vítima, familiares, 
comunidades.
Partindo daí, fortalece e motiva as pessoas para a construção de estra-
tégias para restaurar os laços de relacionamento e confiabilidade social rom-
pidos pela infração.
Enfatiza o reconhecimento e a reparação das conseqüências, humani-
zando e trazendo para o campo da afetividade relações atingidas pela infra-
Psicologia Aplicada ao Direito
21
ção, de forma a gerar maior coesão social na resolução do problema e maior 
compromisso na responsabilização do infrator e no seu projeto de ajustar 
socialmente seus comportamentos futuros.
Ressignifi cação de papéis
Como na Justiça Restaurativa o foco muda do culpado para as conseqüên-
cias da infração, embora o ambiente de respeito para com a dignidade – capaci-
dade e autonomia – do infrator, é a vítima quem assume um papel de destaque.
Além disso, objetiva-se sempre a participação da comunidade.
Procura-se mobilizar o máximo de pessoas que se mostrem relacionadas 
às partes envolvidas no conflito ou que possam contribuir na sua solução, 
abrindo espaço à participação tanto de familiares, amigos ou pessoas próxi-
mas do infrator ou da vítima como de representantes da comunidade atingida 
direta ou indiretamente pelas conseqüências da infração.
Valores Restaurativos.
A ética restaurativa é uma ética de inclusão e de responsabilidade so-
cial, e promove o conceito de responsabilidade ativa, essencial à aprendiza-
gem da democracia participativa, ao fortalecer indivíduos e comunidades 
para que assumam o papel de pacificar seus próprios conflitos e interromper 
as cadeias de reverberação da violência.
http://www.justica21.org.br/interno.php?ativo=JR&sub_ativo=JR
QUESTÃO 1
Estabeleça um paralelo entre a Justiça Tradicional e a Justiça Restau-
rativa.
QUESTÃO 2
Pesquise, utilizando os recursos da Internet, locais onde já está sendo 
utilizada a Justiça Restaurativa. Quais os resultados apresentados?
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
ALTOÉ, S. “Atualidade da Psicologia Jurídica”. Revista de Pesquisadores da Psicolo-
gia no Brasil (UFRJ, UFMG, UFJF, UFF, UERJ, UNIRIO). Juiz de Fora, Ano 1, Nº 
2, julho-dezembro 2001.
Coletânea de Exercícios
22
BALBINO, Vivina do C. Rios. “Violações dos direitos humanos no Brasil e pro-
postas de mudanças na formação e prática do psicólogo”. Psicol. Am. Lat. [online]. 
set. 2007, nº 11 [citado 20 Junho 2008], p. 0-0. Disponível na World Wide Web: 
<http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2007
000300016&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1870-350X.
BONFIM, E. “Psicologia Jurídica: Atividades e requisitos para a formação profissio-
nal”. In: Conselho Federal de Psicologia (Org.). Psicólogo brasileiro. São Paulo: Casa 
do Psicólogo / CFP, 1994, pp. 235-243.
BRANCHER, L. N. “Justiça Restaurativa: a cultura de paz na prática da Justiça”. Dispo-
nível em: http://jij.tj.rs.gov.br/jij_site/docs/JUST_RESTAUR/VIS%C3O+GERAL+JR_
0.HTM
MIRANDA JR, H.C. “Psicologia e Justiça”.Psicologia: ciência e profissão. 1998, ano 
18, nº 1, pp. 28-37.
Semana 3
Lei Jurídica X Lei Simbólica.
Leis organizadoras da vida em sociedade.Transgressão e Lei simbólica.
TEXTO 1
Lei, transgressões, famílias e instituições: elementos para uma reflexão 
sistêmica
Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke
Nas famílias de delinqüentes há, muitas vezes, uma total alienação diante 
das leis vigentes. Independentemente da classe social, nessas famílias, ou em 
alguns de seus membros, a lei maior não é considerada nem respeitada e, mui-
tas vezes, até desprezada. As leis para uns pertencem aos livros e para outros, à 
classe social ligada ao poder. Perrone (1989) nos assinalou que o processo de 
interiorização da lei passa pela etapa de sua aceitação em benefício próprio, 
incluindo aos poucos o respeito do outro como ser diferente de si mesmo, até 
atingir o reconhecimento do outro na etapa final de aceitação da lei.
Na primeira etapa, a lei seria percebida por meio do medo reverencial. 
Dentro do nosso contexto cultural, observa-se como se torna importante, 
nesse nível, a figura do juiz, do magistrado, do advogado, do delegado, do 
padre etc. Mas, geralmente, a reverência é ligada ao temor, muito mais do 
que uma compreensão realmente do que é a lei e para que ela é feita. É perso-
nalizada nas figuras de pessoas que representam a lei e observa-se nas formas 
Psicologia Aplicada ao Direito
23
com as quais as famílias fazem referências àqueles que representam a figura do 
“doutor” – no Brasil, todo advogado, delegado é “doutor”, e nas falas é muito 
freqüente “o doutor disse...”, “toma cuidado, porque o doutor falou...”, “o dou-
tor pode prender”, entre outras. A percepção da função que é atribuída a essas 
pessoas é muito importante, pois indicam que a lei não foi internalizada. Ela 
o é somente por intermédio desses personagens.
A segunda etapa para a interiorização seria a “lei para a proteção de si 
mesmo”. Observamos na linguagem familiar, muitas vezes, outra forma de 
abordar a questão. Se alguém cometeu uma infração, dizem: “Vamos chamar 
depressa o advogado, porque ele vai protegê-lo.” A lei passa a ser percebida como 
a serviço da proteção de si mesmo. É o início da passagem para a etapa da lei 
na função de proteção dos seus membros.
A terceira etapa é a da interiorização da “Lei propriamente dita. Levaria 
em consideração a etapa anterior, da proteção de si mesmo e a do respeito do 
outro, ou seja, do outro enquanto diferente de si mesmo, o reconhecimento 
do outro, ou seja, o reconhecimento de direitos e deveres iguais.
BUCHER-MALUSCHKE, Júlia Sursis Nobre Ferro. “Lei, transgressões, famílias e 
instituições: elementos para uma reflexão sistêmica”. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 
v. 23, nº esp., 2007.
QUESTÃO 1
“As leis para uns pertencem aos livros e para outros, à classe social ligada 
ao poder.” De acordo com a autora, como poderia ser explicada esta situação?
QUESTÃO 2
Para a autora, como ocorre o processo de internalização da lei? Qual o 
papel da família nesse processo?
TEXTO 2
Clientes especiais
Por: Maria Rita Kehl
Rapazes que espancaram doméstica, no Rio, são obedientes às leis ditadas por uma 
sociedade que endeusa a falta de limites.
Antes de mais nada, como já se notou, existe o viés social.
Coletânea de Exercícios
24
De um lado existem “jovens” que ocasionalmente cometem atos delin-
qüentes. É o caso de Júlio, Leonardo e seus colegas, espancadores da Barra. Ins-
piram-nos cuidado semelhante ao que dispensamos aos nossos filhos. Tenta-
mos compreender: o que aconteceu? (Psicólogos são chamados a justificar.)
E existem os outros, os que já são bandidos antes de chegar (quando 
chegam) diante do juiz.
A execução sumária confirma, a posteriori, o veredicto que a imprensa 
divulga sem questionar: A polícia matou 18 “suspeitos” em confrontos com 
supostos “bandidos”... Ninguém persegue o resultado das investigações sobre 
as tantas chacinas que caem no esquecimento.
O que distingue uns dos outros é o número do CEP: na Barra, nos Jar-
dins, no Plano Piloto vivem os jovens.
Os outros, adultos anônimos desde os 14, vêm de bairros que não figu-
ram no mapa: “Periferia é periferia em qualquer lugar.”
Qualquer delegado de bom senso percebe na hora a diferença. Se a cor 
da pele confirmar o veredicto, melhor. A sociedade, representada pelo Dr. 
Ludovico Ramalho, pai de Rubens Arruda, se tranqüiliza: as travessuras dos 
“jovens”, adultos infantilizados das classes A e B, não ameaçam a segurança 
da gente de bem.
Espancaram uma doméstica, mas pensavam que fosse prostituta. Ah, 
bom.
Nos bairros onde vivem os jovens não há solidariedade com os chaci-
nados das favelas, com os executados a esmo em Queimados, com os meni-
nos abatidos na praça do Jaraguá, em SP. Os movimentos “pela paz” nunca 
se manifestam por eles.
Ninguém de fora
Mas, quanto mais o Brasil maltrata seus pobres, quanto mais a polícia 
sai impune dos excessos cometidos contra os anônimos cujas famílias não 
protestam por temor de represálias, quanto mais o país confia na lógica do 
“nós cá, eles lá”, mais o gozo da violência se dissemina entre todas as clas-
ses sociais.
Para pacificar o país, seria preciso redesenhar o mapa do respeito e da 
civilidade de modo a não deixar ninguém de fora.
Uma sociedade que assiste sem se chocar, ou sem se mobilizar, ao exter-
mínio dos pobres — bandidos ou não — está autorizando o uso da violência 
como modo de resolução de conflitos, à margem da lei.
Tomemos o ato de delinqüência cometido pelos meninos “de família” 
da Barra, no Rio. Que a culpa seja dos pais, vá lá. As declarações do pai de 
Psicologia Aplicada ao Direito
25
Rubens Arruda são reveladoras. Não que ele não transmita valores a seu fi-
lho.
Mas serão valores relacionados à vida pública? Não terá o Dr. Ludovico 
educado seu filho para “levar vantagem em tudo”? Esse pai não admite que o 
filho seja punido pelo crime que cometeu.
Há aqueles que não admitem que a escola reprove o jovem que tirou 
notas baixas, os que ameaçam o síndico do condomínio que mandou baixar 
o som depois das 22h etc.
Olham o mundo pela ótica dos direitos do consumidor: se eu pago, eu 
compro. Entendem seus direitos (mas nunca seus deveres) pela lógica da vida 
privada, como fizeram as elites portuguesas desde a colonização.
Quem disse que os jovens não lhes obedecem? Obedecem direitinho. 
Param em fila dupla, jogam lixo nas ruas, humilham os empregados — igual-
zinho a seus pais.
Vez por outra, quando os pais precisam impor alguma interdição, já não 
se sentem capazes. O que nos coloca a pergunta: que valores, que represen-
tações, no imaginário social, sustentam o exercício necessário da autoridade 
paterna? Em nome de que um pai ou uma mãe, hoje, se sentem autorizados a 
coibir ou mesmo punir seus filhos?
A autoridade não é um atributo individual das figuras paternas. A au-
toridade dos pais — e da escola, que também anda em apuros (quem viu Pro 
Dia Nascer Feliz, de João Jardim?) — deriva de uma lei simbólica que inter-
dita os excessos de gozo.
Uma lei que deve valer para todos. O pai que “tem moral” com seus 
filhos é aquele que também se submete à mesma lei, traduzida em regras de 
civilidade, de respeito e da chamada boa educação.
Cliente especial
Mas em nome de que, no imaginário social, a lei simbólica se transmi-
te? Já não falamos em “Deus, pátria e família”, significantes desmoralizados 
em nome dos quais muitos abusos foram cometidos, sobretudo no período de 
1964 a 1980 [regime militar].
No lugar deles, no entanto, que outros valores ligados à vida pública 
foram inventados pela sociedade brasileira? Em nome de que um pai que diz 
“não pode” responde à inevitável pergunta: “Não posso por quê?”
Ocorre que a palavra de ordem que organiza nossa sociedade dita de 
consumo (onde todos são chamados, maspoucos os escolhidos) é: você pode. 
Você merece. Não há limites para você, cliente especial.
Coletânea de Exercícios
26
Que o apelo ao narcisismo mais infantil vise a mobilizar apenas a vonta-
de de comprar objetos não impede que narcisismo e infantilidade governem 
a atitude de cada um diante de seus semelhantes — principalmente quando 
o tal semelhante faz obstáculo ao imperativo do gozo.
O que queriam os rapazes que espancaram Sirlei Dias de Carvalho Pin-
to? Um celular usado? Um trocado para comprar mais um papel? Descontar 
a insegurança sexual? “No limits”, diz um anúncio de tênis. Ou de cigarro, 
tanto faz. E os meninos obedecem. No fundo, são rapazes muito obedientes. 
Se a ordem é passar dos limites, pode contar com eles.
Disponível em
www.diap.org.br
QUESTÃO 1
Como a autora contextualiza a questão da transmissão da lei simbólica 
nos dias atuais?
QUESTÃO 2
De acordo com Kehl, significantes desmoralizados na nossa sociedade 
atual. A partir desta idéia, segundo o texto, o que estaria sendo valorizado? 
De que forma o nosso ordenamento jurídico está tratando esta situação?
TEXTO 3
Loucura e inimputabilidade: conseqüências clínicas da inimputabilidade 
sobre o sujeito psicótico.
Ana Heloisa Senra Cheib
A especificidade das relações do Direito com a loucura vem sendo ques-
tionada há aproximadamente dois séculos. Respaldado pela ciência psiquiátri-
ca, o Direito fez erguer-se a figura da inimputabilidade, buscando cumprir certa 
conciliação entre os ideais humanitários da modernidade e de sua função social, 
de garantir a paz e a segurança de uma universalidade que a ele se submete.
Testemunha disso seria Pierre Riviére, que matou a mãe, a irmã e o ir-
mão em 1835, e que nos foi apresentado e extensamente trabalhado por M. 
Foucault e sua equipe. Seu caso gerou inúmeras discussões entre aqueles que 
defendiam a pena máxima aplicável aos autores de crimes hediondos e entre 
Psicologia Aplicada ao Direito
27
aqueles que reconheciam sua insanidade no momento da prática de seu ato 
monstruoso. Em meio a elas, a palavra de Pierre inscreveu-se em um memo-
rial que descrevia em detalhes as circunstâncias e as razões que o levaram a 
cometer os homicídios.
Curiosamente, as evidências acolhidas para a sustentação da pena de 
morte pela forca aproximam-se daquelas recolhidas para a defesa de sua alie-
nação mental, cabendo ao rei a intervenção que culminou com a comutação 
da pena de morte em prisão perpétua, uma vez considerada sua alienação 
mental. Pouco tempo depois de ser preso, contudo, Riviére suicidou-se por 
enforcamento. Tomando a lei ao pé da letra, esse sujeito desvelou uma única 
forma com que ela pôde se inscrever para ele. Já nesse momento, encontra-
mos elementos que favorecerão interrogar o lugar do singular no universal, 
buscando apreender em que medida a função do Direito de fazer dos indiví-
duos, sujeitos, poderá se cumprir.
Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., III, 3, 2000. pp. 38-45
QUESTÃO 1
Levando em consideração o texto acima, qual o lugar do singular para 
o Direito?
QUESTÃO 2
Cite em nosso ordenamento jurídico situações que favorecem a singu-
laridade dos sujeitos.
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
BUCHER-MALUSCHKE, Júlia Sursis Nobre Ferro. “Lei, transgressões, famílias e 
instituições: elementos para uma reflexão sistêmica”. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, 
v. 23, nº esp., 2007.
CHEIB, Ana Heloisa Senra. “Loucura e inimputabilidade: Conseqüências 
clínicas da inimputabilidade sobre o sujeito psicótico”. Rev. Latinoam. Psi-
copat. Fund., III, 3, 2000. pp. 38-45.
SEQUEIRA, V. “A encruzilhada da lei”. Disponível em http://www.estadosgerais.
org/encontro/a_encruzilhada-da_lei.shtml
Coletânea de Exercícios
28
Semana 4
O Indivíduo.
Personalidade: formação e desenvolvimento.
TEXTO 1
Personalidade
Personalidade é um termo que apresenta muitas variações de significa-
do. Em geral representa uma noção de unidade integrativa do ser humano, 
pressupondo uma idéia de totalidade. No senso comum é usada para se referir 
à capacidade de rápidas tomadas de decisão, para se referir a uma característi-
ca marcante da pessoa, como timidez ou extroversão por exemplo, ou ainda 
para se referir a alguém importante ou ilustre: “uma personalidade”. A per-
sonalidade atribuída a uma pessoa pode definir, para o senso comum, se esta 
pessoa é boa ou má. A psicologia evita este juízo de valor. A personalidade 
seria um conjunto de características que diferenciam os indivíduos. Estes atri-
butos seriam permanentes e dizem respeito à constituição, temperamento, 
inteligência, caráter, um jeito específico de se comportar. Para as teorias que 
utilizam o conceito de personalidade, ela significa a “organização dinâmica 
dos aspectos cognitivos, afetivos, fisiológicos e morfológicos do indivíduo”. 
Fala-se também em personalidade básica, que seriam as atitudes, tendên-
cias, valores e sentimentos dos membros de uma sociedade. A personalidade 
pressupõe a possibilidade de um indivíduo se diferenciar, ser original e ter 
particularidades. Através desta idéia pode-se predizer o que a pessoa fará em 
determinada situação, pode-se ter idéia de como ela reagiria. Nem todas as 
teorias trabalham com este conceito porque ele tem uma noção implícita de 
estrutura, de estabilidade e portanto de características que não mudam. No 
entanto, a personalidade é fruto de uma organização progressiva do ser huma-
no e não apenas entendida como um fenômeno em si. Ela evolui de acordo 
com a organização interna do indivíduo.
Disponível em
http://coladaweb.com.psicologia/personalidade.htm
QUESTÃO 1
Estabeleça um paralelo entre a noção de personalidade, segundo o tex-
to, e esta mesma noção de acordo com o ordenamento jurídico. Quais são as 
semelhanças e as diferenças?
Psicologia Aplicada ao Direito
29
TEXTO 2
A relação entre Transtorno de Personalidade e os atos delituosos dos 
internos do Sistema Penal do Estado do Pará
Ana Paula Cavallare Ferreira
Jamylle Hanna Mansur
Como pode ser observado diariamente nas reportagens, o índice de vio-
lência é cada vez mais alarmante. Guerras, homicídios, estupros, atentados, 
espancamentos são alguns exemplos do que presenciamos em nosso dia-a-
dia quando lemos ou assistimos ao noticiário. “A violência assusta mesmo os 
mais experientes legistas, policiais e membros de organismos de defesa dos 
direitos humanos” (CALDEIRA, 2002, p. 45).
De acordo com tais relatos, são colocadas questões tais como: “qual o 
estado mental das pessoas que cometem atos delituosos, principalmente os 
ditos hediondos?”; “será que a punição, discriminação e encarceramento são 
as melhores alternativas de reabilitação para essas pessoas?”, “quais os trans-
tornos de personalidade dos indivíduos internados no sistema penal?”
Feldman (1977) afi rmou que os crimes cometidos por doentes mentais 
têm características próprias. Pessoas perturbadas podem cometer um delito 
com menos habilidade; planejá-los com menos cuidado, ou escolher obje-
tivos mais difíceis do que as pessoas estáveis, falhas essas que aumentam o 
risco de ser descoberto.
Vemos todos os dias nos jornais algo exposto sobre a criminalidade; no 
entanto, quase não observamos a ênfase no transtorno mental que pode es-
tar por trás de tal acontecimento. Por outro lado, observa-se que a sociedade 
como um todo fica desamparada. Não sabe como agir em uma situação de 
violência relacionada que envolva uma pessoa com transtorno mental; fato 
que está cada vez mais presente em nosso cotidiano.
De acordo com Kaplan (1997), o termo “personalidade” pode ser de-
finido como a totalidade dos traços emocionais e comportamentais que ca-
racterizam o indivíduo na vida cotidiana que, sob condições normais, é rela-
tivamente estável e previsível. Um transtorno da personalidade representa 
uma variação desses traços de caráter que vai alémda faixa encontrada na 
maioria dos indivíduos.
De acordo com tal afirmação, pode-se dizer que existem diversos trans-
tornos de personalidade e cada um tem sua característica própria e uma for-
ma específica de intervenção. Quando existem casos de transtornos em uma 
penitenciária, nem sempre é efetuado o diagnóstico da doença, e os efeitos 
da prisão acabam por piorar a situação do doente.
Coletânea de Exercícios
30
QUESTÃO 1
“Vemos todos os dias nos jornais algo exposto sobre a criminalidade; no 
entanto, quase não observamos a ênfase no transtorno mental que pode estar 
por trás de tal acontecimento.” De acordo com esta afirmativa, busque no 
ordenamento jurídico pátrio artigos que não confirmam esta posição.
TEXTO 3
CICLO VITAL
Maria Elizabeth Mori
Vera Lucia Decnop Coelho
O estudo sistemático do processo de envelhecimento é um dos prin-
cipais eventos científicos do século XX, principalmente a partir dos anos 
1950, apesar de o tema fazer parte de textos eruditos e obras literárias desde a 
Antigüidade. As experiências de envelhecimento populacional, com novas 
informações a respeito do processo vital, têm contribuído para uma maior 
atenção dos pesquisadores a todas as etapas da vida adulta, e não somente aos 
períodos da infância e da adolescência. Dessa forma, ampliam-se os espaços 
de estudo. Do âmbito familiar e escolar para os contextos “do ambiente do 
trabalho, dos meios político e comunitário, a esfera do lazer, dos hospitais, dos 
asilos e instituições para pacientes terminais” (NERI, 1995, p. 10).
Segundo Neri (1995) e Staude (1983), as contribuições pioneiras da 
Psicologia para essa nova perspectiva do desenvolvimento foram estabele-
cidas por Stanley Hall (em 1922), H. L. Hollingworth (1927), Charlotte 
Buhler (1933), Carl Jung (1931), Pressey e colaboradores (1939), Robert 
Havinghurst (1948) e Erik Erikson (1950). Estas contribuições foram fun-
damentais para a elaboração de uma compreensão do desenvolvimento hu-
mano que se estende ao longo da vida. Apesar de considerarem que cada 
vida tem um caráter único, estes autores concluíram que o desenvolvimento 
adulto segue princípios comuns, com uma seqüência previsível e padronizada 
de etapas. Para Eizirik, Kapczinski e Bassols (2001), o conhecimento destas 
fases – estrutura dos padrões “normais” e conflitos psíquicos socialmente 
esperados – tem auxiliado na compreensão da saúde do indivíduo e de seus 
transtornos emocionais.
Estudos recentes focalizam o desenvolvimento vital segundo o entre-
cruzamento de aspectos de natureza biológica, psicológica e sociocultural, 
que determinam a heterogeneidade entre os seres humanos. Segundo Neri 
Psicologia Aplicada ao Direito
31
(2001), a perspectiva de “Curso de Vida” considera que as trajetórias pesso-
ais e de grupos, que convivem num determinado momento histórico, podem 
ser diferentes pela exposição a eventos específicos provocadores de estresse 
traumático. As pessoas localizam-se em estratos etários e sociais demarcado-
res de comportamentos e desempenho de papéis. No Brasil, apesar da com-
preensão de que a categoria idade é um conceito socialmente construído e 
de que a contemporaneidade tem como paradigma o prolongamento da ju-
ventude, a idade “tem significado a redução de oportunidades de acesso aos 
já escassos bens sociais” (NERI, 2001, p. 18). Assim, as trajetórias individuais 
de desenvolvimento não estão isoladas; ao contrário, são compartilhadas por 
experiências socioculturais de seus pares.
Disponível em http:
//www.revispsi.uerj.br/v3n2/artigos/
Artigo%204%20-%20V3N2.pdf
QUESTÃO 1
No Brasil, apesar da compreensão de que a categoria idade é um con-
ceito socialmente construído e de que a contemporaneidade tem como para-
digma o prolongamento da juventude, a idade “tem significado a redução de 
oportunidades de acesso aos já escassos bens sociais” (NERI, 2001a, p. 18).
A partir desta afirmação, pesquise no ordenamento jurídico confirmações e 
não-confirmações desta situação de redução descrita.
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Angela Maria de Oliveira; CUNHA, Gleicimar Gonçalves. “Repre-
sentações Sociais do Desenvolvimento Humano”. Disponível em http://www.scielo.
br/pdf/prc/v16n1/16806.pdf
CENTRO DE ESTUDOS EM NEUROCIÊNCIAS, PSICOLOGIA E SEXUALI-
DADE. “Desenvolvimento socioemocional segundo Erikson”. Disponível em http://
psicosex.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=23&Itemid=31
FERREIRA, Ana Paula Cavallare; MANSUR, Jamylle Hanna. “A relação entre 
Transtorno de Personalidade e os atos delituosos dos internos do Sistema Penal do 
Estado do Pará”. Disponível em http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/monogra-
fias/Transtorno_Personalidade_Delitos_Internos_Sistema_Penal.pdf
Coletânea de Exercícios
32
Semana 5
Representações sociais de gênero. Relações afetivas.
TEXTO 1
Bem-Feito! Quem Manda Ser Mulher?
Maria Berenice Dias
Desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
Vice-Presidente Nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família 
– IBDFAM.
A Constituição Federal reconhece a família como a base da sociedade, 
assegurando-lhe especial proteção. Faz expressa referência ao casamento, à 
união estável e às famílias formadas por só um dos pais e seus filhos. A le-
gislação infraconstitucional, de forma exaustiva, regulamenta o casamento, 
concede tratamento discriminatório à união estável, mas esqueceu de regu-
lamentar as unidades monoparentais. Esta injustificável omissão, no entan-
to, não autoriza que se tenham estas famílias como inexistentes. Nem essas e 
nem outras. Basta dar uma mirada na sociedade dos dias de hoje para concluir 
que a família é mesmo plural. E, ao final, a doutrina teve que se render e aca-
bou reconhecendo que as entidades familiares vão além do rol constituciona-
lizado. Há toda uma nova construção do conceito de família, dando ênfase à 
solidariedade familiar e ao compromisso ético dos vínculos de afeto.
A visão excessivamente sacralizada da família tenta identificar a mo-
nogamia como um princípio, quando se trata de mero elemento estruturante 
da sociedade ocidental de origem judaico-cristã. Até bem pouco tempo só 
era reconhecida a família constituída pelos “sagrados” laços do matrimônio. 
Daí o repúdio às uniões extramatrimoniais. Rotuladas de “sociedade de fato”, 
eram alijadas do direito das famílias.
A tentativa de perpetuar a família fez o casamento indissolúvel e, mes-
mo depois do divórcio, ainda o Estado resiste em dissolvê-lo. Impõe prazos 
e tenta punir culpados. O interesse na preservação da família matrimoniali-
zada é tão grande que até 2005 o adultério era crime. A bigamia ainda é. O 
Estado se imiscui de tal maneira na intimidade do casal que impõe o dever de 
fidelidade (Cód. Civil, art. 1.566, I). Considera o adultério como justa cau-
sa para a separação (Cód. Civil, art. 1.573, I), e o reconhecimento da culpa 
do infiel faz com que ele perca o nome de casado (Cód. Civil, art. 1.578). 
Alimentos só recebe o quanto baste para sobreviver (Cód. Civil, art. 1.704, 
parágrafo único).
Psicologia Aplicada ao Direito
33
A lei tenta de todas as formas obrigar a manutenção de um único vín-
culo familiar, mas a sociedade sempre tolerou a infidelidade masculina. Os 
homens são os grandes privilegiados, pois nunca foram responsabilizados por 
suas travessuras sexuais. Tanto é assim que durante muito tempo os “filhos 
adulterinos” não podiam ser reconhecidos. As uniões extramatrimoniais até 
há pouco não geravam quaisquer ônus ou encargos. E ter “outra” é motivo de 
orgulho e da inveja dos amigos.
Em contrapartida, as mulheres sempre foram punidas. A infidelidade fe-
minina autorizava o homem a “lavar a honra da família”, o que livrou muitos 
maridos traídos da cadeia. Como os “filhos ilegítimos” não tinham direito à 
identidade, eram só “filhos da mãe”, assumindo ela a responsabilidadeexclusiva 
pela sua criação e manutenção. Também a resistência em abrigar o concubinato 
no âmbito do direito das famílias gerou legiões de mulheres famintas, pois não 
lhes era assegurado nem alimentos e nem direitos sucessórios. Como sociedades 
de fato, dividiam-se lucros e não os frutos de uma sociedade de afeto.
Esta mania de punir a mulher como forma de assegurar ao homem o li-
vre exercício da sexualidade ainda persiste. De maneira simplista os vínculos 
familiares que se constituem de modo concomitante ao casamento são con-
denados à invisibilidade. Contam com a conivência do Judiciário. Com isso, 
as uniões paralelas – uma façanha exclusivamente masculina – continuam 
sendo incentivadas. Os nomes são vários: concubinato adulterino, impuro, 
impróprio, espúrio, de má-fé, e até concubinagem. Mas a conseqüência é uma 
só: a punição da mulher. A ela é atribuída a responsabilidade pelo adultério 
masculino. Tanto que somente na hipótese de ela alegar que desconhecia a 
condição de casado do companheiro é que tem chance de receber parte do 
que conseguir provar que ajudou a amealhar. Caso confesse que sabia que 
o homem não lhe era fiel, é impiedosamente condenada a nada receber. O 
fundamento: não infringir o dogma da monoga mia.
Assim, tanto a lei como a justiça continuam cúmplices do homem. 
Bem-feito! Quem manda ser mulher?
QUESTÃO 1
Pesquise no nosso ordenamento jurídico civil, de 1916, artigos que pre-
conizavam questões de gênero, em relação à opressão feminina.
QUESTÃO 2
Quanto à sexualidade, o texto da Desembargadora Maria Berenice afir-
ma que a mulher ainda é responsabilizada pelo adultério masculino. Pesquise 
na nossa jurisprudência alguma decisão que comprove esta afirmação.
Coletânea de Exercícios
34
TEXTO 2
Violência e gênero – A construção da mulher como vítima e seus refl exos 
no Poder Judiciário: a lei Maria da Penha como um caso exemplar
Alessandra de Andrade Rinaldi
Nos campos socioantropológico e histórico brasileiros, desde o surgi-
mento das investigações sobre relações entre gênero9 e Direito, houve a ten-
dência em abordar a mulher como vítima. Isso se deve, em parte, ao fato de 
essa perspectiva de investigação científica ter surgido fortemente vinculada 
ao movimento feminista, a partir do qual se desenvolve a problemática da 
violência contra mulher.
No Brasil da década de 1960, algumas mulheres brasileiras manifesta-
ram preocupação em relação à opressão feminina, mas é somente na década 
de 1970 que surgem os primeiros grupos feministas. Entre os anos de 1975 e 
1979 – considerado o período da primeira fase do movimento – são discutidas 
as liberdades democráticas.
(...)
O “crime passional” foi interpretado e tornado uma problemática obri-
gatória para os campos socioantropológicos e históricos nas produções inte-
lectuais de cunho feminista a partir das décadas de 1970 e 1980.(...) Muitos 
dos trabalhos que discutiam violência e gênero, como os apresentados an-
teriormente, tendiam a ver as mulheres como um “não-sujeito” (Gregori, 
1992). Fortemente influenciados pelo movimento feminista, representavam 
a mulher como um ser passivo e vitimizado.
(...)
Por fim, em 2002, foi criado o Protocolo Facultativo à Convenção 
sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher 
(CEDAW), assinado também no mesmo ano pelo Governo brasileiro, que 
reconhece a competência do Comitê para a Eliminação de todas as Formas 
de Discriminação contra a Mulher para receber e considerar comunicações 
sobre violação dos direitos da mulher, ultrapassando as fronteiras nacionais. 
9 “A categoria de gênero tem merecido um grande investimento nas discussões da chamada 
antropologia da mulher ou do ‘gênero’. O termo convencionalizado significa a dimensão dos 
atributos culturais alocados a cada um dos sexos em contraste com a dimensão anátomo-fisio-
lógica dos seres humanos. A expressão assinala o que vem sendo cunhado como perspectiva 
construtivista em oposição a uma postura essencialista, que poderia ser imputada, por exemplo, 
ao termo papéis sexuais. O conceito destaca o favorecimento da dimensão de escolha cultural, 
pretendendo descartar alusões a um atavismo biológico para explicar as feições que o masculino 
e o feminino assumem em múltiplas culturas” (Heilborn, 1982:13).
Psicologia Aplicada ao Direito
35
Esse mecanismo firmado pelo Brasil tinha por objetivo a fiscalização e ado-
ção de medidas contra Estados que fossem condescendentes com situações 
de discriminação e violência contra a mulher.
(...)
O Brasil, no entanto, apareceu no rol desses Estados com um caso que 
ganhou repercussão internacional. Foi o de Maria da Penha Maia Fernandes 
que, ao ser denunciado, mostrou o país como um lugar de tolerância em re-
lação à violência doméstica. Maria da Penha, no ano de 1983, foi vítima de 
uma tentativa de homicídio praticada por seu ex-marido, que disparou tiros 
de arma de fogo contra a mesma enquanto dormia. Em função do fato ocor-
rido, a vítima teve paraplegia nos membros inferiores.
(Obra no PRELO: RINALDI, Alesssandra. Professora do Mestrado e Doutorado de Direito 
da UNESA)
QUESTÃO 1
O Brasil é um local de tolerância da violência doméstica? Justifique 
sua resposta.
QUESTÃO 2
Faça um pesquisa sobre a História da Mulher no Brasil, contendo os 
seguintes itens:
Quando a mulher começou a votar? 
Quais suas participações no cenário das decisões políticas?
QUESTÃO 3
Busque na doutrina posicionamentos acerca do crime passional.
QUESTÃO 4
Segundo Gregori, estudos marcados pela ideologia feminista, ao incor-
porar a existência de limites muito precisos entre o masculino e o feminino, 
deixavam de “entender que padrões distintos de comportamentos instituídos 
para homens e mulheres são atualizados nas relações interpessoais que são 
vividas como únicas” ( RINALDI, Alessandra. In: “Violência e gênero – A 
construção da mulher como vítima e seus reflexos no Poder Judiciário: a lei 
Maria da Penha como um caso exemplar).
A partir do trecho do texto acima, leis punitivas conseguem pôr fim à 
violência doméstica?
Coletânea de Exercícios
36
TEXTO 3
União homoafetiva. Advogada terá de pagar pensão para ex-companheira
por Débora Pinho
Uma advogada está obrigada a pagar pensão alimentícia de dois salários 
mínimos para a ex-companheira, que é dona de casa. A liminar que impõe a 
obrigação foi concedida pela juíza Olinda de Quadros Altomare Castrillon, 
de Tangará da Serra, interior de Mato Grosso. A pensão provisória deve ser 
paga todo dia 10 de cada mês. A audiência de conciliação está marcada para 
o dia 16 de janeiro de 2008.
A dona de casa alegou que viveu durante sete anos com a advogada e 
fazia os trabalhos domésticos. Argumentou, ainda, que era mantida por ela e 
dividiam a mesma casa na cidade de Juína (MT). Em maio de 2007, segundo 
a dona de casa, a advogada terminou o relacionamento e pediu para ela ir 
embora. Por isso, foi à Justiça pedir pensão alimentícia.
“Embora a Carta Magna não tenha contemplado expressamente a união 
homoafetiva como relação familiar, conduz com tranqüilidade a esta conclu-
são, especialmente quando considerados os princípios basilares da dignida-
de humana, da igualdade substancial, da não-discriminação (inclusive por 
opção sexual) e do pluralismo familiar, consagrando diferentes modelos de 
entidade familiar”, afi rmou a juíza, que também concedeu assistência judici-
ária gratuita para a autora da ação.
A advogada tem um prazo de 15 dias para contestação, que começará a 
contar a partir da audiência de conciliação, se não houver acordo.
QUESTÃO 1
Pesquise em nossa Jurisprudência pátria decisões que contemplem a 
questão da opção sexual ligada às relações afetivas.
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS:
BAUMAN, Z. O amor líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar Editor, 2004.PINHO, Débora. União homoafetiva. Advogada terá de pagar pensão para ex-compa-
nheira. Disponível em http://www.netlegis.com.br/indexRJ.jsp?arquivo=/detalhes-
Noticia.jsp&cod=34586
RINALDI, Alessandra de Andrade. Violência e gênero – A construção da mulher como 
vítima e seus reflexos no Poder Judiciário: a lei Maria da Penha como um caso exemplar. 
Obra no PRELO.
Psicologia Aplicada ao Direito
37
Semana 6
A Família.
Estudo psicossocial da família. Tipos de famílias.
TEXTO 1
“Acontece nos dias 04 e 11 de agosto, de 9h às 17h, no Ministério 
Público do Rio de Janeiro, o I Seminário Estadual Pró-Convivência Fa-
miliar e Comunitária: Acolhimento em Guarda Subsidiada. Promovido 
pelo MP/RJ, pelo 4° Centro de Apoio Operacional das Promotorias de 
Justiça e pelo Centro de Estudos Jurídicos, em parceria com a Associação 
Brasileira Terra dos Homens – ABTH; o seminário abordará as diretrizes 
para a implantação de programas de guarda substituta, alternativas para 
a prática do abrigamento, como o acolhimento familiar, e as normas in-
ternacionais.
O Programa de Guarda Subsidiada valoriza o direito à convivência 
familiar e prevê o tendimento especializado às famílias de origem, para 
que a criança ou adolescente possa ser reintegrado. A idéia é cuidar da 
família e não retirar a criança desta. Se o afastamento for necessário, em 
vez de abrigá-la em instituições, o programa prevê seu acolhimento por 
outras famílias, previamente cadastradas e capacitadas para substituir 
temporariamente a família de origem. Este programa está previsto no Pla-
no Nacional de Promoção, Defesa e Garantia da Convivência Familiar 
e Comunitária, que está em fase final de elaboração pelo Governo fede-
ral e será debatido no seminário em palestra do presidente do Conselho 
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), José 
Fernando da Silva.”
A família merece destaque, por sua reconhecida relevância social, não 
apenas em nosso ordenamento jurídico, mas também nas políticas públicas 
desenvolvidas, como podemos perceber a partir do texto selecionado.
QUESTÃO 1
Que importantes funções tem a família para justificar essa ênfase que 
lhe é dada por todo o sistema?
QUESTÃO 2
Existe, de acordo com a ciência, uma estrutura ideal para que a família 
desempenhe melhor essas funções?
Coletânea de Exercícios
38
QUESTÃO 3
É possível haver uma sociedade estável e duradoura com famílias es-
truturadas de forma diferente das que temos hoje? Exemplifique sua resposta 
pesquisando na jurisprudência pátria algumas decisões fundamentadas em 
outras formas de família.
TEXTO 2
Violência doméstica e as uniões homoafetivas
Maria Berenice Dias
Agora é lei.
Está afirmado em lei federal que as uniões homoafetivas constituem 
entidade familiar.
No momento em que é afirmado que está sob o abrigo da lei a mulher, 
sem se distinguir sua orientação sexual, alcançam-se tanto lésbicas como 
travestis, transexuais e transgêneros que mantêm relação íntima de afeto em 
ambiente familiar ou de convívio. Em todos esses relacionamentos, as situa-
ções de violência contra o gênero feminino justificam especial proteção. 
No entanto, a lei não se limita a coibir e a prevenir a violência domés-
tica contra a mulher independentemente de sua identidade sexual. Seu al-
cance tem extensão muito maior. Como a proteção é assegurada a fatos que 
ocorrem no ambiente doméstico, isso quer dizer que as uniões de pessoas do 
mesmo sexo são entidade familiar. Violência doméstica, como diz o próprio 
nome, é violência que acontece no seio de uma família.
Diante da expressão legal, é imperioso reconhecer que as uniões ho-
moafetivas constituem uma unidade doméstica, não importando o sexo dos 
parceiros. Quer as uniões formadas por um homem e uma mulher, quer as for-
madas por duas mulheres, quer as formadas por um homem e uma pessoa com 
distinta identidade de gênero, todas configuram entidade familiar. Ainda que 
a lei tenha por finalidade proteger a mulher, fato é que ampliou o conceito 
de família, independentemente do sexo dos parceiros. Se também família é a 
união entre duas mulheres, igualmente é família a união entre dois homens. 
Basta invocar o princípio da igualdade.
No momento em que as uniões de pessoas do mesmo sexo estão sob a 
tutela da lei que visa a combater a violência doméstica, isso significa, inques-
tionavelmente, que são reconhecidas como uma família, estando sob a égide 
do Direito de Família. Não mais podem ser reconhecidas como sociedades de 
Psicologia Aplicada ao Direito
39
fato, sob pena de se estar negando vigência à lei federal. Conseqüentemente, 
as demandas não devem continuar tramitando nas varas cíveis, impondo-se sua 
distribuição às varas de família. Diante da definição de entidade familiar, não 
mais se justifica que o amor entre iguais seja banido do âmbito da proteção jurí-
dica, visto que suas desavenças são reconhecidas como violência doméstica.
Maria Berenice Dias é Desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Gran-
de do Sul.
QUESTÃO 1
Diferencie violência doméstica de violência intrafamiliar.
QUESTÃO 2
Busque no ordenamento jurídico a justificativa para a afirmação da De-
sembargadora Maria Berenice, no que tange ao direito no relacionamento 
homoafetivo de ser também julgado como violência doméstica.
QUESTÕES OBJETIVAS
Marque a alternativa correta, corrigindo as que estiverem erradas:
a) É amplamente notório e perceptível que famílias estruturadas de forma 
diversa da configuração-padrão tradicional (pai-mãe-prole) não conseguem 
desempenhar suas funções da maneira adequada e socialmente esperada.
b) A família tem pouca influência na formação e no desenvolvimento da 
personalidade das crianças, tendo em vista que elas já trazem em si, desde o 
nascimento, o gérmen de tudo aquilo que serão quando adultas.
c) Ao educar, proteger e orientar os filhos, a família está desempenhando 
também uma função social de continuação da espécie humana e preparação 
de novos cidadãos para darem prosseguimento à vida social.
d) A família é sempre o lugar de proteção e abrigo que esperamos que seja, 
onde seus membros encontram-se livres de qualquer tipo de violência e agres-
são, podendo se mostrar como realmente são.
e) Família tem como função dar ao indivíduo afeto, carinho e amor. Limites, 
disciplina e regras de comportamento e convívio são coisas que as pessoas 
aprendem apenas na escola.
Coletânea de Exercícios
40
Em casos de separação conjugal, a disputa de guarda pode expressar 
problemas relativos à conjugalidade extinta. Analise as assertivas abaixo e 
assinale a incorreta. Justifique sua resposta.
a) O convívio com ambos os genitores é direito da criança e seu bem-
estar é ponto prevalente na decisão judicial.
b) A guarda alternada caracteriza-se pela criança ficar períodos de 
tempo iguais com cada um dos genitores, alternadamente.
c) A guarda conjunta caracteriza-se pelo compartilhamento das res-
ponsabilidades para com a criança, por ambos os genitores.
d) Ficar sob a guarda da mãe, com visitação ao pai, quinzenalmente, nos 
finais de semana, é o que melhor atende aos interesses da criança.
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
ARNOLD, Clarice Paim; STEIN, Thais Silveira. “Questões jurídicas no âmbito 
familiar: uma construção interdisciplinar”. Disponível em : http://www.tj.rs.gov.
br/institu/c_estudos/doutrina/Questoes_Juridicas_ambito_familiar.doc
DIAS, M. B. “Violência doméstica e uniões homoafetivas”. Disponível em http://
www.mundojuridico.adv.br/cgi-bin/upload/texto1019.rtf
FACHIN, Luiz Edson. “Família hoje. BARRETO”,Vicente (Org.). A nova família: 
problemas e perspectivas. Rio de Janeiro: Renovar, 1997.
Semana 7
A Sociedade. 
Organizações. Instituições. Grupos. Tipos de grupos.
Análise do poder nas Instituições.
TEXTO 1 
O homem e o seu pertencer a um grupo
Maria LeonorCunha Gayotto
CONCEITUAÇÃO DE GRUPO
O ser humano é gregário por natureza e somente existe, ou subsiste, em 
função de seus inter-relacionamentos grupais. Sempre, desde o nascimento, o in-
Psicologia Aplicada ao Direito
41
divíduo participa de diferentes grupos, uma constante dialética entre a busca de 
sua identidade individual e a necessidade de uma identidade grupal e social.
Um conjunto de pessoas constitui um grupo, um conjunto de grupos 
constitui uma comunidade e um conjunto interativo das comunidades con-
figura uma sociedade.
A importância do conhecimento e a utilização da psicologia grupal decorre 
justamente do fato de que todo indivíduo passa a maior parte do tempo de sua vi-
da convivendo e interagindo com distintos grupos. Assim, desde o primeiro gru-
po natural que existe em todas as culturas – a família nuclear, onde o bebê convi-
ve com os pais, avós, irmãos, babá etc., e, a seguir, passando por creches, escolas 
maternais e bancos escolares, além de inúmeros grupos de formação espontânea 
e os costumeiros cursinhos paralelos, a criança estabelece vínculos diversificados. 
Tais grupamentos vão se renovando na vida adulta, com a constituição de novas 
famílias e de grupos associativos, profissionais, esportivos, sociais etc.
A essência de todo e qualquer indivíduo consiste no fato de ele ser porta-
dor de um conjunto de sistemas: desejos, identificações, valores, capacidades, 
mecanismos defensivos e, sobretudo, necessidades básicas, como a da depen-
dência e a de ser reconhecido pelos outros, com os quais ele é compelido a con-
viver. Assim, como o mundo interior e o exterior são a continuidade um do 
outro, da mesma forma o individual e o social não existem separadamente, pelo 
contrário, eles se diluem, interpenetram, completam e confundem entre si.
Com base nessas premissas, é legítimo afirmar que todo indivíduo é um 
grupo (na medida em que, no seu mundo interno, um grupo de personagens 
introjetados, como os pais, irmãos etc., convivem e interagem entre si). Da 
mesma maneira como todo grupo pode comportar-se como uma individualidade 
(inclusive podendo adquirir a uniformidade de uma caracterológica especí-
fica e típica, o que nos leva muitas vezes a referir determinado grupo como 
sendo “um grupo obsessivo”, ou “atuador” etc.).
É muito vaga e imprecisa a definição do termo “grupo”, porquanto ele pode 
designar conceituações muito dispersas num amplo leque de acepções. Assim, a 
palavra “grupo” tanto define, concretamente, um conjunto de três pessoas ( para 
muitos autores, uma relação bipessoal já configura um grupo) como também po-
de conceituar uma família, uma turma ou gangue de formação espontânea; uma 
composição artificial de grupos como, por exemplo, o de uma classe de aula ou 
a de um grupo terapêutico; uma fila de ônibus; um auditório; uma torcida num 
estádio; uma multidão reunida num comício etc. Da mesma forma, a conceitu-
ação de grupo pode se estender até o nível de uma abstração, como seria o caso 
de um conjunto de pessoas que, compondo uma audiência, esteja sintonizado 
num mesmo programa de televisão; ou pode abranger uma nação, unificada no 
simbolismo de um hino ou de uma bandeira, e assim por diante.
Coletânea de Exercícios
42
Existem, portanto, grupos de todos os tipos, e uma primeira subdivisão 
que se faz necessária é a que diferencia os grandes grupos (pertencem à área 
da macro-sociologia) dos pequenos grupos (micropsicologia). No entanto, 
vale adiantar que, em linhas gerais, os microgrupos – como é o caso de um 
grupo terapêutico – costumam reproduzir, em miniatura, as características 
socioeconômico-políticas e a dinâmica psicológica dos grandes grupos.
Disponível em artebagaco.vilabol.uol.com.br/bazar/teatro/grupo.htm
QUESTÃO 1
Segundo a autora, “um conjunto de pessoas constitui um grupo, um 
conjunto de grupos constitui uma comunidade e um conjunto interativo das 
comunidades configura uma sociedade”. Busque em nosso ordenamento ju-
rídico artigos que contemplem essas definições.
TEXTO 2
“Nossa civilização repousa, falando de modo geral, sobre a supressão 
dos instintos. Cada indivíduo renuncia a uma parte dos seus atributos: a uma 
parcela do seu sentimento de onipotênica ou ainda das inclinações vingati-
vas ou agressivas de sua personalidade. Dessas contribuições resulta o acervo 
cultural comum de bens materiais e ideais” (Sigmund Freud, 1908).
Considere as teorias e reflexões desenvolvidas acerca das contribuições da 
psicologia para a compreensão dos fenômenos de grupo em nossa sociedade e res-
ponda (V) Verdadeiro ou (F) Falso às questões abaixo. Justifique suas respostas.
QUESTÃO 1
Sentimentos de onipotência individual podem ser fatores causadores 
de desagregação numa sociedade.
( ) Verdadeira ( ) Falsa
Justificativa
QUESTÃO 2
As leis jurídicas não têm efeito sobre a renúncia de inclinações vinga-
tivas ou agressivas das pessoas num grupo social.
( ) Verdadeira ( ) Falsa
Justifique.
Psicologia Aplicada ao Direito
43
QUESTÃO 3
O acervo comum de bens materiais e ideais compõem, em última ins-
tância, os valores de uma sociedade.
( ) Verdadeira ( ) Falsa
Justifique.
QUESTÃO 4
Os líderes numa sociedade são pessoas com personalidade autoritária, e 
por isto exercem influência sobre as pessoas de modo geral.
( ) Verdadeira ( ) Falsa
Justifique.
QUESTÃO 5
Uma manifestação pública ou uma rebelião são exemplos de formação 
de grupos.
( ) Verdadeira ( ) Falsa
Justifique.
TEXTO 3
AS UNIVERSIDADES E AS PRISÕES
André Macedo de Oliveira
A imprensa noticia constantemente a crise em que vive o sistema pe-
nitenciário nacional. De fato, a situação está caótica. O jurista Evandro 
Lins e Silva revela: “A prisão é realmente monstruosa, e eu tenho verdadei-
ra alergia à cadeia. A política criminal de hoje dominante no pensamento 
científico dos estudiosos do direito penal é: prisão só em último caso. Só 
deve haver segregação de quem é perigoso. O cidadão não sendo perigoso, 
vamos encontrar uma maneira de permitir que ele volte à sociedade. (...) 
Na realidade, quem está desejando punir demais, no fundo, no fundo, es-
tá querendo fazer o mal, se equipara um pouco ao próprio delinqüente” (O 
salão dos passos perdidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Ed. FGV, 1997, pp. 
214-224). A prisão para Michel Foucault sempre esteve ligada a um proje-
Coletânea de Exercícios
44
to de transformação dos homens. Os textos, os programas, as declarações 
de intenção existem para nos mostrar que a prisão deveria ser um espaço de 
desenvolvimento como a escola ou de tratamento como o hospital. Consta-
ta-se que desde 1820 a prisão, longe de transformar os criminosos em seres 
humanos dignos, serve apenas para fabricar novos criminosos ou para em-
purrá-los ainda mais fundo na criminalidade (Cf. Microfísica do poder. Rio de 
Janeiro: Edições Graal, 1979, pp. 131-133). Entretanto, não existe reabili-
tação de um indivíduo que infringiu a lei sem a participação ativa da socie-
dade nesse processo. Incluir o cidadão significa promover a transparência 
no sistema carcerário. Não se trata de eximir o Estado de seu dever, mas de 
abrir um canal mais sólido no sentido de sensibilizar a sociedade, contan-
do, inclusive, com a efetiva participação do Poder Judiciário e do Ministé-
rio Público, conforme expressamente comanda a Lei de Execução Penal.
A reforma do sistema penitenciário precisa chegar à universidade e às es-
colas de Direito. As rápidas transformações do mundo contemporâ-
neo destinam à universidade o exercício de superar as desigualdades so-
ciais e regionais através de suas atividades de ensino, pesquisa e exten-
são. A universidade tem um papel fundamental na formação da socieda-
de enquanto prepara os cidadãos do futuro.

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