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SEMINÁRIO I VULNERABILIDADES AMBIENTAIS Prof.ª Taíza Pinho O USO DA TERRA E A DINÂMICA HIDROLÓGICA Ana Flávia Pereira Geraldo Sena Júnior CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS 2016/2 O USO DA TERRA E A DINÂMICA HIDROLÓGICA Comportamento hidrológico e erosivo de bacias de drenagem Ana Luiza Coelho Netto & André de Souza Avelar Ana Luiza Coelho Netto Geógrafa (1973); Mestre em Ciências (1979) e Geografia Física/Geomorfologia pela UFRJ; Doutora em Ciências (1985), Geomorfologia/ Geoecologia pela Universidade Católica de Leuven-Bélgica; Pós-Doutorado em Geomorfologia (1987-1988) na Universidade da Califórnia/Berkeley-EUA; Professora Titular (desde 1998) no Departamento de Geografia do Instituto de Geociências, Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza da UFRJ, coodenadora do GEOHECO - Laboratório de Geo-Hidroecologia (pesquisas integradas em Geomorfologia, Hidrologia e Geoecologia); Professora-Colaboradora (desde 2005) junto ao Programa de Engenharia Civil/Geotecnia, COPPE/UFRJ. Possui graduação em Geologia (1992), mestrado (1996) e doutorado em Engenharia Civil (2003) pela UFRJ; Atualmente é professor Associado I da UFRJ atuando em pesquisas relacionadas a Geomorfologia, Hidrologia, Geotecnia, Meio Ambiente e Ecologia da Paisagem (Geoecologia); Possui experiência científica e de consultoria na área de Geociências e Geotecnia, com ênfase em processos geomorfológicos, atuando principalmente em bacias hidrográficas, deslizamento, diagnósticos ambientais, erosão, uso do solo e água. André de Souza Avelar Introdução No mundo, assim como no Brasil, a degradação dos biomas terrestres reflete um rastro histórico, de transformações induzidas, principalmente, pela apropriação, uso e ocupação das terras pelo Homem; Diante da exploração econômica e predatória dos recursos da natureza, pode-se considerar que grande parte dos sistemas de bacias hidrográficas encontra-se instável; Esta instabilidade resulta no aumento da vulnerabilidade do meio que habitamos, onde as ameaças e os riscos de desastres relacionados a água tendem a se intensificar; Discutiremos o papel dessas mudanças na vulnerabilidade das bacias de drenagem e das áreas receptoras, especialmente diante dos perigos e riscos de desastres relacionados aos períodos chuvosos e as ocorrências de chuvas mais intensas; Riscos acentuados aonde o adensamento populacional é maior e especialmente entre os mais pobres, pois habitam as áreas de maior risco em encostas íngremes, sujeitas a altos índices de erosão por deslizamento. Área de risco em Angra dos Reis. Fonte: Scientific American Brasil. Bacia hidrográfica Bacia hidrográfica ou bacia de drenagem de um curso d'água é a área onde, devido ao relevo e geografia, a água da chuva escorre para um rio principal e seus afluentes; A forma das terras fazem com que a água corra por riachos e rios menores para um mesmo rio principal, localizado num ponto mais baixo da paisagem. Bacia hidrográfica amazônica. Fonte: Pensamento Verde. Ciclo hidrológico A distribuição e movimentação da água no planeta podem ser expressas através do Ciclo Hidrológico; Fonte: Construindo Futuro . A distribuição espacial e temporal da água se dá através da interação de fenômenos variados relacionados com a hidrosfera, atmosfera, biosfera e litosfera; As movimentações hidrológicas através destas camadas resultam em ocorrências de água nas diferentes fases, presentes no ar, oceanos, rios, lagos, seres vivos, solos e rochas. Balanço hidrológico É a somatória das quantidades de água que entram e saem de uma certa porção do solo em um determinado intervalo de tempo; I – O = Δ S I, entradas de água O, saídas de água Δs, estocagem subterrânea Os balanços hidrológicos têm sido utilizados para estimar parâmetros climáticos e, a partir deles, estabelecer comparações entre as condições predominantes em locais diferentes; Se a mesma metodologia de cálculo do balanço hídrico for adotada para todos os locais de uma mesma região, é possível identificar os locais climaticamente favoráveis para a exploração de uma determinada cultura a partir da comparação dos resultados obtidos; Considera-se somente o movimento vertical de água dentro do volume de solo analisado; O que entra neste sistema é apenas a água da precipitação; O que sai é resultado da evapotranspiração real e da água que percola abaixo do alcance do sistema radicular das plantas que ali se encontram; Para área da bacia de drenagem consideram-se como: entradas (valores positivos): as precipitações (P); saídas (valores negativos): o conjunto formado pela evaporação (E), evapotranspiração (ET) e a vazão do canal na saída ou desembocadura (V); resultado do balanço as variações do nível da água subterrânea (ΔES), podendo ser negativo ou positivo. P – E – ET – V = ΔES Hierarquia de bacias hidrográficas e articulação da rede de canais Assim como qualquer sistema, no interior de uma bacia de drenagem e possível delimitar outras sub-bacias, que são escolhidas conforme as necessidades das análises que se pretende fazer; Representação de uma Represa e suas sub bacias. Fonte: Cibergeo.org A fim de estabelecer um ordenamento hierarquizado da rede de canais que drenam uma bacia, alguns geomorfólogos e hidrólogos propuseram critérios de hierarquização de bacias; Dentre os critérios mais utilizados destacam-se o de Horton (1933) e o de Strahler (1952); No critério de Horton cada canal assume uma ordem, sendo que esta ordem se mantém conforme o maior comprimento; Segundo os critérios de Strahler: canais que não possuem afluentes são canais de 1ª ordem; quando dois canais de mesma ordem se encontram, o canal resultante aumenta uma ordem; quando canais de ordens diferentes se encontram, o canal resultante mantem o valor de maior ordem. A Classificação segundo Horton B Classificação segundo Strahler Mudanças na paisagem Os aspectos morfológicos das bacias de drenagem, assim como suas amplitudes de relevo, conferem uma rugosidade a paisagem que combina, em sua textura superficial, com as diferentes coberturas de vegetação e de uso e ocupação das terras pelo Homem; Trata-se de um mosaico dinâmico cuja transformação e impulsionada por forcas da natureza, especialmente climática, ou induzido pelas mudanças de uso e ocupação das terras; Mudanças e transformação do modelado terrestre Sob a perspectiva do modelado dos terrenos, podemos dizer que existe uma evidente relação entre tamanho e duração da existência da maioria das formas superficiais terrestres, embora os valores não sejam precisos, pode-se perceber a ordem de magnitude destas; 5.7 figura eu ñ consegui copia-la. Tente pfvor Relação Tamanho X Duração das formas segundo Ahnert, 1998. Fonte: Livro Vulnerabilidade ambiental, cap. 5, pág. 66. Segundo Ahnert (2002) nas extremidade estão as micro-formas, como as depressões milimétricas originadas pelo impacto da gota de chuva em solo arenoso ou síltico, as quais podem ser destruídas em poucos segundos ou minutos por uma outra gota; Cessada a chuva, estas micro-depressões podem permanecer por alguns dias; No outro extremo estão as áreas cratônicas¹ continentais que existem desde as primeiras fases da história da Terra e consistem nos mais antigos componentes dos continentes; ¹Cratônico vem de “craton” que são áreas estáveis da crosta terrestre, muito antigas, como os próprios continentes, e não constituem uma forma específica, mas sim um agregado de formas com grande heterogeneidade de componentes. Mudanças e transformação sob a perspectiva humana As mudanças na paisagem também podem ser percebidas numa outra visão espacial e temporal, sob a ótica geográfica, numa perspectiva histórica e atual; O crescimento demográfico e a expansão urbana desordenados tem sido acompanhados pela alternância entre períodos de degradação florestal e medidas de recuperação e conservaçãoflorestal, associadas as políticas conservacionistas implementadas desde 1960; Porém, as relações espaciais e temporais da cidade na interface com a floresta não são tão fáceis de serem gerenciadas, especialmente quando a cidade expande e se transforma, cada vez mais rápido, numa metrópole ou megacidade; Favela do Morro Dona Marta, em Botafogo (Zona Sul do RJ). Fonte: Revista bibliográfica de Geografia e Ciências Sociais. A situação se agrava mais ainda quando esta expansão é seguida pelo crescimento demográfico e intensificação da pobreza, aliada a escassez de moradias populares e ausência de medidas reguladoras, mitigadoras ou preventivas de desastres; Nas encostas, os perigos e riscos decorrem, principalmente, do aumento da suscetibilidade a erosão, especialmente associada aos movimentos de massa (ou deslizamentos) e, nas terras baixas, as enchentes; A crescente vulnerabilidade ambiental e social das áreas de favelas, tanto nas encostas como nas planícies ou baixadas costeiras, anuncia os perigos e os riscos de desastres relacionados as chuvas intensas e especialmente nos períodos mais chuvosos; Nestas últimas, a carência de infraestrutura de saneamento básico potencializa a magnitude dos desastres. Área de encosta com construções irregulares. Fonte: Mundo Educação. Respostas hidrológicas às mudanças Para compreender as respostas hidrológicas as mudanças ambientais decorrentes dos diferentes modos de uso e ocupação das terras e necessário, primeiro, conhecer o comportamento hidrológico em ambientes representativos das diferentes regiões naturais, ou seja, conhecer o comportamento do gradiente de formações florestais a campestres. Respostas hidrológicas a degradação florestal na interface com áreas urbana Existem muitas medidas governamentais voltadas a proteção das florestas remanescentes; No entanto, comumente observa-se que uma vez aumentada a pressão econômica ou social sobre determinadas áreas, estas medidas são desobedecidas pela população, e o resultado é a retração florestal; Fonte: Google imagens. Isto certamente resulta em mudanças na dinâmica dos processos hidrológicos e erosivos, devido a difícil convivência da cidade com a floresta. Figura 5.9 Interações biota-solo-água. 1 - Floresta conservada; 2 - Floresta degradada ; 3 - Gramíneas e 4 - Solo exposto. Fonte: VULNERABILIDADE AMBIENTAL: desastres naturais ou fenômenos induzidos? Cap. 5 pág. 70 figura 5.9 Respostas hidrológicas a degradação florestal na interface com áreas rurais Historicamente, a devastação das florestas brasileiras tem sido associadas as queimadas induzidas, para “limpeza” do solo, seguindo-se a atividade agrícola e/ou pastoril; Assim como hoje vem ocorrendo nas regiões da Floresta Amazônica ou do Cerrado, a Mata Atlântica foi devastada a partir de meados do século XVIII para dar lugar as monoculturas cafeeiras; A substituição das áreas florestadas por plantios de café resultou em modificações capazes de gerar danos como: onde prevalecia a infiltração e estocagem das chuvas em encostas mais estáveis, agora, prepondera o escoamento superficial do tipo hortoniano; altas taxas de erosão; Figura 5.11 Ravinamento em beira de rua asfaltada, iniciado a partir do bueiro de drenagem, indicado pela seta o qual descarrega diretamente no solo adjacente. Foto: A.L. Coelho Netto. A substituição da cafeicultura pela pecuária extensiva no domínio das colinas do vale do Paraíba, que atravessou o século XX, trouxe novas alterações no comportamento hidrológico e erosivo das encostas; A cobertura do solo com gramíneas favoreceu a proliferação da formiga saúva e o adensamento de raízes no topo do solo aumentou a capacidade de infiltração da água; A redução da transmissão e percolação da água abaixo da camada mais enraizada permitiu a saturação do topo do solo durante as chuvas mais intensas, possibilitando a entrada do escoamento superficial através dos olheiros do sauveiro; Este aumento da infiltração de água nos solos propiciou a recarga dos aquíferos subterrâneos e, por conseguinte, favoreceu a exfiltração dos fluxos d’água subterrâneos, principalmente na porção inferior das bordas dos canais principais; Sob condições de descarga crítica nas faces de exfiltração ocorreu a erosão por excesso de poropressão e formaram-se túneis erosivos, os quais, ao atingirem certo tamanho, provocaram o colapso das bordas do canal, estas mudanças reativaram, então, a formação regressiva dos canais (tipo voçorocas); Fonte: Embrapa Com o aprofundamento destes canais e remoção dos depósitos quaternários que até então preenchiam os fundos de vales nas cabeceiras de drenagem, ocorre a exumação da água proveniente do aquífero subterrâneo através de fraturas subverticais, propiciando o aumento das taxas de erosão. Figura 5.12 Mudanças sucessivas de uso das terras e resultantes hidrológicas no domínio de colinas do rio Paraíba do Sul. I -Floresta Atlântica (8.000 anos atrás até meados do século XVIII): ambiente de infiltração e estocagem; II-Monocultura cafeeira (até o final do século XIX): ambiente de escoamento superficial hortoniano; III-Gramíneas/Pastagem + Saúvas (atual): ambiente de infiltração e recarga dos aquíferos e IV-Plantio de Eucalipto em “ilhas” circundadas por gramíneas (a partir de 2000): ambiente de infiltração e recarga desconhecida. Sugestões de prevenção e/ou remediação diante dos eventos adversos Acompanhamento das tendências hidrológicas em todo o território nacional com a análise da evolução das chuvas, dos níveis e das vazões dos rios e reservatórios, da previsão do tempo e do clima; Realização de simulações matemáticas que auxiliem na prevenção de eventos hidrológicos críticos; Intensificação da fiscalização por parte do município a fim de coibir a habitação em áreas de risco como encostas; Tentar conscientizar as pessoas de que deslizamentos tem suas chances aumentadas quando morros são escavados abrindo plataformas para instalarem as casas, uma vez que aumenta localmente a declividade e a infiltração de água no terreno. ???? (Algum outro se vc lembrar) Considerações finais O grau de desenvolvimento econômico do país está refletido na situação de comprometimento ambiental em que se encontra; Nas regiões metropolitanas, a poluição tem se acentuado ao longo dos anos, tanto ao que se refere à vertente hídrica quanto atmosférica e também na contaminação do solo, haja vista a industrialização e o crescimento populacional; O componente ecológico-chave para a manutenção do desenvolvimento é uma mudança em direção ao cuidado preventivo do meio ambiente, onde seria o principal objetivo a longo prazo na proteção ambiental. “O homem é parte da natureza e sua guerra contra a natureza é inevitavelmente uma guerra contra si mesmo... Temos pela frente um desafio como nunca a humanidade teve, de provar nossa maturidade e nosso domínio, não da natureza, mas de nós mesmos.” Rachel Carson Obrigado! Referências bibliográficas Livro VULNERABILIDADE AMBIENTAL: desastres naturais ou fenômenos induzidos? Capítulo 5 - O uso da terra e a dinâmica hidrológica. Meio ambiente <http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/meioambi.pdf> Acesso em 9/9/16 Defesa civil <http://www.defesacivil.pr.gov.br/arquivos/File/AdministracaodeDesastres.pdf> Acesso em 10/9/16
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