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Aula 8 - Análise Econômica de Projetos

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1 
 
Notas de aula para o curso de análise econômica de projetos 
Nota 8.a, análise econômica (valoração) 
Thiago Fonseca Morello 
fonseca.morello@ufabc.edu.br 
sala 301, Bloco Delta, SBC 
1 Mensurando custos e benefícios 
A última nota de aula apresentou um método para comparar múltiplos projetos em função de 
benefício e custo. Assumiu-se, pois, que são conhecidas as magnitudes dos fluxos anuais de 
custo e benefício gerados pelos projetos de investimento. Isso geralmente é verdadeiro para o 
caso de custos e benefícios referentes a impactos interiores comercializados, como, por 
exemplo, custos contábeis (desembolsos que deverão ser efetivamente realizados pelo 
executor) e receitas (recebimentos na forma de receita de vendas, tarifas, pedágios, etc). 
Porém, custos e benefícios referentes a impactos exteriores geralmente têm de ter sua 
magnitude estimada pela equipe responsável pela elaboração ou análise dos projetos. 
A análise custo-benefício requer (i) que todos os impactos causados pelo projeto sejam 
contabilizados, (ii) a métrica de contabilização seja a variação de bem-estar social causada 
pelos impactos. A questão a ser respondida nesta nota de aula diz respeito a requerimento (ii), 
sendo ela: como mensurar a variação de bem-estar social causada pelos impactos de projetos 
de investimento? 
A resposta parte da identificação de três categorias em que os impactos de um projeto podem 
ser classificados. 
1. Impactos comercializados (internos ou externos) associados a fatores, bens ou serviços... 
a. Transacionados em mercados livres perfeitos (concorrência perfeita). Neste caso, 
os preços de mercado capturam o bem-estar social marginal (BESMg) 
proporcionado pelos insumos e podem ser utilizados para mensurar a alteração do 
bem-estar social provocada pelo projeto; 
b. Transacionados em mercados imperfeitos. Neste caso, os preços de mercado não 
captam o BESMg proporcionado pelos insumos e não devem ser utilizados. Deve-
se recorrer ao cálculo dos preços-sombra; 
2. Impactos não comercializados: não há preços de mercado disponíveis. Deve-se recorrer à 
estimação da disposição a pagar (DAP) por um bem ou serviço e à estimação da 
disposição a receber compensação (DARC) para abrir mão de um bem ou serviço (ou 
para tolerar perda). Há um detalhe importante. Alguns serviços são prestados tanto pelo 
setor público como pelo setor privado (p.ex., educação e saúde). Porém, podem existir 
diferenças relevantes em termos dos atributos dos serviços ou dos grupos sociais 
atendidos, comparando-se os dois setores. Se assim for, não é possível tomar por base o 
preço praticado pelo setor privado para, com isso, valorar o serviço público. 
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2 
 
No que segue serão apresentadas metodologias para estimar o BESMg referente à última 
categoria de impacto com um breve comentário sobre a segunda categoria. 
Antes de seguir, é necessário apresentar dois esclarecimentos. As técnicas a serem discutidas 
não procuram mensurar as consequências psíquicas dos impactos, mas estritamente uma 
medida econômica de bem-estar. Dificuldades teóricas e técnicas fazem com que seja muito 
difícil, e até impossível quantificar com precisão as consequências de alguns impactos sobre 
o bem-estar humano (o qual não se restringe à dimensão econômica), e por isso, a ACB 
geralmente é desenvolvida com base em métricas monetárias (Hanley e Barbier, 2009, cap.8). 
Em segundo lugar, é preciso lembrar que a ACB não tem por objetivo contabilizar o custo 
financeiro de um projeto público, i.e., não se trata de calcular quanto custaria aos cofres 
públicos executar o projeto. Isto realmente apenas pode ser feito com base em preços de 
mercado e é o objetivo da análise financeira (EC, p.305). A ACB social é uma análise 
econômica, voltada a mensurar o impacto (agregado e líquido) do projeto sobre o bem-estar 
social. 
2 Preços-sombra 
2.1 Preço-sombra e salário-sombra 
Os preços de mercado apenas são equivalentes ao valor social de bens, serviços e fatores de 
produção quando estes são transacionados em mercados livres de imperfeições, i.e., livres da 
intervenção do governo (impostos, subsídios, tarifas, controles de preço como o salário-
mínimo ou preços administrados), livres de poder de mercado e completamente formais e 
legais. No caso do mercado de trabalho é também necessário que não exista desemprego 
relevante e persistente, que a estrutura de mercado pouco difira entre a área urbana e a rural e 
que haja grau desprezível de informalidade1. 
É claro que falhas de mercado, tais como a informação assimétrica (i.e., o fato de que os 
empregadores não observam com precisão a produtividade dos candidatos a empregados) e 
externalidades (p.ex., impactos sobre a saúde e sobre o meio-ambiente) também contribuem 
para que o preço de mercado difira do valor social. Porém, no caso de falhas, geralmente se 
recorre à estimação da disposição a pagar (DAP) e da disposição a receber compensação 
(DARC), o que é objeto da próxima seção. 
A maneira de calcular os preços “economicamente corretos”, ou “preços-sombra” e “salário-
sombra” no caso do fator trabalho, varia em função do impacto que o projeto causa sobre o 
mercado. A literatura disponível compreende uma gama de técnicas que ainda se mostram 
bastante específicas tanto no que tange aos bens ou ocupações laborais valorados, como aos 
contextos a que se aplicam. Por isso, não serão apresentadas, neste curso, técnicas de 
estimação de preços-sombra (com exceção do exemplo no box a seguir). 
Exemplo de uma técnica para o cálculo de salários-sombra, a metodologia da 
Comunidade Européia (fonte: European Comission, 2014, Anexo 4). 
 
1 EC, p.58-59. 
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3 
 
Por salário sombra entende-se o BESMg proporcionado pelo acréscimo infinitesimal da 
capacidade total de trabalho da sociedade (aumento em um homem-hora da força de 
trabalho). Este é o verdadeiro valor econômico de um homem-hora. Ocorre, que, porém, esta 
definição não se aplica literalmente a um projeto de investimento, pois este é incapaz de 
ampliar a força de trabalho (exceto, talvez, para projetos de investimento em qualificação e 
capacitação). O mais adequado é considerar que a execução de um projeto retira 
trabalhadores das atividades que antes executavam e os transfere para a atividade-fim do 
projeto ou para atividades dinamizadas pelo projeto. O primeiro caso se refere a empregos 
criados diretamente pelo projeto e o segundo caso a empregos criados indiretamente. 
Existe uma série de artigos procurando calcular o salário-sombra para regiões e contextos 
específicos. Três categorias de aplicações se distinguem nesta literatura, (i) mercados de 
trabalho agrícolas localizados em países em desenvolvimento, (ii) mercados de trabalho 
sujeitos à fluxos migratórios relevantes, (iii) mercados de trabalho em que a informalidade é 
relevante. 
Del Bo et al (2011) apresenta uma breve revisão da literatura empírica que procura estimar o 
salário-sombra. O principal entrave na aplicação destes métodos está em que eles são 
intensivos em microdados extremamente detalhados, os quais dificilmente estão ao alcance 
dos analistas de projetos públicos. Tendo isso em vista Del Bo et al (2011) propuseram um 
método simplificado que permite calcular os salários-sombra para mercados de trabalho 
regionais (p.ex., estaduais, microrregionais, etc). Trata-se de um procedimento de dois 
estágios especificamente desenhado para mensurar o impacto de um projeto público em 
termos do deslocamento de trabalhadores de uma ocupação prévia, exercida no “mercado de 
origem”, para uma nova ocupação criada (direta ou indiretamente) pelo projeto. 
A base da metodologia é a fórmula geral a seguir,a qual retorna o valor do salário-sombra 
(WS). Trata-se de nada mais do que uma média dos salários nas ocupações pré e pós-projeto, 
ponderada pelo bem-estar proporcionado por tais ocupações. 
WS = β.w1 + (1-β).w2 
Em que w1 é uma medida para o produto marginal do trabalho na atividade exercida no 
mercado de origem e w2 é o salário de mercado na atividade proporcionada (direta ou 
indiretamente) pelo projeto. É assumido que a última se dá em um mercado perfeito e, pois, 
w2 é equivalente ao salário de mercado observado. 
O parâmetro β é o fator de ponderação pelo bem-estar regional. Tal fator mensura a 
importância de que o bem-estar da região tem para a sociedade. Ele é estimado com base na 
fórmula a seguir: 
β	 = 	 ൬ ௌܻതܻ ൰ఎ 
Em que തܻ ≡ nível médio regional de renda, YS ≡ nível de renda de subsistência e η ≡ 
elasticidade do bem-estar social (regional) à renda. Esta última pode ser obtida a partir da 
4 
 
estimação da função de demanda por consumo com base em dados com atributos dos 
trabalhadores, incluindo o padrão de consumo. 
A maneira de estimar w1 varia de acordo com o estado do mercado de trabalho de origem. Há 
três possibilidades. 
(1) “razoavelmente competitivo”: neste estado o desemprego é friccional (temporário) e o 
salário capta aproximadamente o valor marginal social do trabalho. É o caso de regiões de 
alta renda, altamente urbanizadas, com relevantes fluxos imigratórios e baixa taxa de 
desemprego. Neste caso, w1 é o salário que prevalece no mercado original; 
(2) “sujeito a desemprego quase-Keynesiano”: neste estado há rigidez salarial e considerável 
nível de desemprego no curto e longo prazos. É o caso de regiões de baixa renda e com alto 
desemprego. Neste caso, w1 deve ser estimado como o menor valor para o salário que o 
trabalhador médio está disposto a receber para ser empregado no mercado de origem. I.e., o 
salário de reserva. Esta estimação pode ser feita a partir de modelos econométricos aplicados 
a conjuntos de dados que contenham atributos dos trabalhadores, incluindo níveis salariais e 
atividades exercidas (como se encontra, p.ex., na Pesquisa Nacional por Amostra de 
Domicílio, PNAD); 
(3) Mercado dual rural ou urbano, i.e., em que a informalidade ou êxodo rural são relevantes 
(e há excedente de mão-de-obra). Neste caso, w1 deve ser estimado como o salário agrícola 
médio da região. 
O procedimento de cálculo do preço sombra, pois, consiste em (i) identificar em qual das três 
categorias se enquadra o mercado de trabalho de origem dos trabalhadores e, (ii) multiplicar o 
número de trabalhadores provenientes de mercados de cada uma das categorias pelo salário-
sombra calculado para cada categoria. 
A fórmula básica também pode ser aplicada ao caso de trabalhadores que são retirados, pelo 
projeto, do desemprego e passam a exercer uma atividade formal. Basta tomar como w1 o 
valor do seguro desemprego previamente recebido ou medida similar. 
O mapa abaixo traz a caracterização de regiões europeias de acordo com o estado do mercado 
de trabalho regional. A classificação foi feita com base em quatro variáveis: (i) PIB, (ii) taxa 
de desemprego de curto prazo, (iii) taxa de desemprego de longo prazo, (iv) proporção da 
população localizada em área rural e (v) taxa de migração. Todas as variáveis são referentes à 
escala regional. 
 
5 
 
 
Legenda: FSE ≡ razoavelmente competitivo, QKU ≡ desemprego quase-keynesiano, ULD ≡ mercado urbano 
dual (informalidade), RLD ≡ mercado rural dual (êxodo). 
Fonte: CE (2014) 
Para cada uma das categorias de regiões foi empregada uma maneira de estimar o salário do 
mercado de origem. Ao final, obteve-se a tabela abaixo. 
 
Fonte: CE (2014) 
 
3 Disposição a pagar (DAP) e disposição a receber compensação (DARC): teoria 
No que diz respeito a alguns dos resultados planejados de um projeto, estes não 
necessariamente se expressam em mercadorias ou serviços transacionados em mercados. Este 
é claramente o caso de projetos públicos que visam à expansão e recuperação da malha 
rodoviária brasileira. Estes proporcionam a redução do tempo de deslocamento entre duas 
localidades e redução da exposição a menor probabilidade de sofrer um acidente 
automobilístico. O mesmo ocorre com projetos da área de saúde, como os que envolvem a 
construção de unidades de atendimento básico (primário) e de hospitais. Do que resulta 
aumento da expectativa de vida da população, evitando-se a abreviação das vidas dos 
atendidos e o prolongamento do período em que estarão acometidos por doenças e outros 
males. 
6 
 
Há também impactos não planejados, como os que se fazem abater sobre os ecossistemas 
(emissões de poluentes, efluentes e geração de resíduos) e as relações sociais que conectam 
as pessoas (p.ex., desestruturação de comunidades localizadas no trajeto mais logisticamente 
adequado para uma nova rodovia). 
Nenhum dos impactos mencionados nos parágrafos anteriores se manifesta como alterações 
de transações de mercado. Todos eles são externalidades tecnológicas2. 
Para calcular a variação de bem-estar causada por uma externalidade tecnológica3, há duas 
métricas monetárias consistentes com a teoria, quais sejam a variação compensatória (VC) e a 
variação equivalente (VE), ambas tendo sido propostas originalmente pelo economista John 
Hicks. Há semelhanças entre elas. Em primeiro lugar, o raciocínio que as justifica como 
medidas monetárias para a variação de bem-estar é o mesmo e pode ser descrito como segue. 
Há diversos elementos que determinam o bem-estar dos indivíduos. Um deles é o nível de 
renda, este sendo, por natureza, uma variável monetária. Há também determinantes não-
monetários do bem-estar como, p.ex., acesso a serviços públicos e a amenidades como um 
parque urbano. É possível, portanto, calcular variações na renda que gerem impactos sobre o 
bem-estar equivalentes, em magnitude, aos produzidos por variações nos outros 
determinantes do bem-estar. Por exemplo, um projeto público de criação de um parque 
urbano tende a causar impacto positivo sobre o bem-estar dos potenciais usuários, assim 
como transferências de renda que eles venham porventura a receber. A segunda semelhança 
inerente às métricas monetárias está em que ambas são calculadas a partir da comparação de 
dois momentos ou estados, o que antecede o impacto (antes) e o que sucede o impacto 
(depois). 
Quanto às diferenças, a principal diz respeito ao sentido em que se “viaja” no tempo para 
realizar o cálculo da variação de renda. De fato, há duas maneiras de calcular uma variação 
de renda que seja, em termos de bem-estar, equivalente a um impacto causado por um 
projeto. A mais intuitiva é partir do nível inicial de bem-estar e alterar a renda de maneira a 
atingir o nível de bem-estar que prevalece após o projeto. Porém, não há, do ponto de vista 
lógico, nada que permita excluir a priori uma segunda maneira de proceder, por menos 
intuitiva que ela seja. Trata-se de partir do bem-estar final e então alterar a renda de maneira a 
fazer prevalecer o nível de bem-estar inicial. Em ambos os casos, a variação da renda produz 
uma alteração do nível de bem-estar equivalente à induzida pelo impacto do projeto. 
A métrica denominada “variação equivalente” (VE) realiza o experimento mental mais 
intuitivo, já a métrica denominada “variação compensatória” (VC) toma por base o 
experimento mental menos intuitivo (retorno ao passado). Não é difícil perceber que ambas 
 
2 Apenas por fins de rigor conceitual, cabe afirmar que os resultados efetivamente visados pelo projeto não 
podem ser definidos adequadamente como externalidades, exatamente por serem produtos de deliberação. Mas 
esta qualificação não importa no que tange ao cálculo do valor econômico, o qual sempre deve ser feito tal como 
para o caso de "externalidades tecnológicas".3 A rigor, esta frase deveria ser reescrita como “para calcular a parcela da variação de bem-estar cuja natureza é 
essencialmente econômica”. 
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tendem a diferir pois tomam por base situações distintas: inicial, no caso da VE e final, no 
caso da VC. 
Cabe analisar com mais detalhe. Seja o vetor com os determinantes não-monetários do bem-
estar representado por Ω. Este vetor contém, por exemplo, nível educacional, expectativa de 
vida, qualidade das relações pessoais, qualidade ambiental, etc. O bem-estar individual pode 
ser denotado por U(Ω,I), em que “I” é a renda. 
O projeto altera os níveis dos determinantes não-monetários do bem-estar. Eles passam de Ω0 
para Ω1. Há, contudo, duas possibilidades. O efeito líquido do projeto sobre Ω pode ser tal 
que o aumento de componentes positivamente relacionados com o nível de bem-estar, i.e., os 
“bens não-monetários”, mais do que compensa o aumento dos componentes negativamente 
relacionados com o bem-estar, os “males não-monetários”. Ou seja, o projeto tem impacto 
liquidamente positivo sobre o bem-estar individual. Mas o projeto também pode ter impacto 
liquidamente negativo. 
Há, pois, duas possibilidades para o sentido da variação do bem-estar individual (BE), 
comparando-se o período pré-projeto (t = 0) com o período pós projeto (t= 1). As duas 
possibilidades são: ΔBE > 0 e ΔBE < 0. Considerando-se, adicionalmente, que há duas 
métricas monetárias para medir ΔBE, tem-se um total de quatro possibilidades, conforme o 
diagrama abaixo ilustra. 
Diagrama As quatro possibilidades para o cálculo da variação de bem-estar 
individual causada por um projeto público 
 
É um exercício de fixação eficaz procurar determinar qual tipo de variação na renda 
permitiria calcular a VE e VC para cada uma das duas possibilidades de variação do bem-
estar. Isso é feito no que segue. 
 
 
ΔBE
> 0 < 0
VE VC VE VC
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Caso	 1,	 ΔBE > 0, VE. Deve-se considerar que a VE é calculada a partir do experimento 
mental em que se parte da situação pré-projeto para, por meio de uma variação de renda, 
atingir o nível de bem-estar pós-projeto. Na figura abaixo, o gráfico do lado esquerdo 
representa a variação de bem-estar que efetivamente ocorre como resultado do projeto. O 
eixo horizontal registra os instantes de tempo anterior, 0, e posterior, 1, à variação. Do lado 
direito há o experimento mental em que se procura reproduzir a variação efetiva de bem-estar 
por meio de uma variação hipotética do nível de renda. Tal experimento, pois, determina a 
variação de renda que teria o mesmo impacto sobre o nível de bem-estar do que o projeto. 
Para isso, é preciso que, na situação final do experimento, seja atingido o mesmo nível de 
bem-estar que prevalece na situação pós-projeto. O retângulo assinala o nível de bem-estar de 
partida para a análise. 
 
Algebricamente, pois, U(Ω1,I) - U(Ω0,I) = U(Ω0,I+VE) - U(Ω0,I) em que VE é a variação 
equivalente da renda que produz o mesmo efeito do que o projeto. Neste caso, como o bem-
estar final é superior ao inicial, VE > 0, pois assume-se que a renda é positivamente 
relacionada com o bem-estar. Por isso, o bem-estar apenas pode ser aumentado no 
experimento se a renda do agente for aumentada. Daí VE > 0. Caso 2,	ΔBE < 0, VE. Há queda do bem-estar. Como o experimento mental que dá base à VE 
requer que se parta da condição inicial para com isso chegar à condição final, deve-se retirar 
renda do agente, i.e., VE < 0. Algebricamente, U(Ω1,I) - U(Ω0,I) = U(Ω0,I+VE) - U(Ω0,I), VE 
< 0. Pois, no caso sob exame U(Ω1,I) - U(Ω0,I) < 0 e, portanto, deve-se ter 
U(Ω0,I+VE) - U(Ω0,I) < 0. E esta última condição apenas é possível com VE < 0. 
ΔBE > 0 ΔBE > 0
BE BE
U(Ω1,I) U(Ω0,I+VE)
U(Ω0,I) U(Ω0,I)
0 1 Período 0 1 Período
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 Caso 3,	ΔBE > 0, VC. O experimento mental da VC requer que se parta da situação final, 
pós-projeto para, com base em uma variação de renda, atingir-se o nível inicial de bem-estar. 
O raciocínio quanto ao sinal da VC é contra-intuitivo pois o experimento mental é contra-
intutivo. Talvez pensar da seguinte maneira seja esclarecedor: (i) se ΔBE > 0, ao “viajar” do 
futuro para o passado há uma redução no nível de bem-estar, (ii) se ΔBE < 0, ao “viajar” do 
futuro para o passado há um aumento do nível de bem-estar. O gráfico abaixo também 
permite visualizar estas relações, desde que se tome o cuidado de notar que o instante de 
partida da análise é o final (a análise procede em uma sequência anti-cronológica). O nível de 
bem-estar de partida para a análise, destacado com um retângulo, é o nível de bem-estar final 
no tempo cronológico. 
 
Algebricamente, pois, U(Ω1,I) - U(Ω0,I) = U(Ω1,I) - U(Ω1,I+VC), em que VC é a variação 
compensatória de renda e VC < 0. Veja que se toma por base o nível final de bem-estar e, a 
partir dele, procura-se atingir o nível inicial. O que significa partir de um nível maior de bem-
estar para chegar a um nível menor. Uma redução de bem-estar apenas pode ser causada por 
uma variação de renda se tal variação for negativa (pois, mais uma vez, o bem-estar é 
positivamente relacionado com a renda). O ponto contra-intuitivo está em que se apresenta o 
ΔBE < 0 ΔBE < 0
BE BE
U(Ω0,I) U(Ω0,I)
U(Ω1,I) U(Ω0,I+VE)
0 1 Período 0 1 Período
ΔBE > 0 ΔBE > 0
BE BE
U(Ω1,I) U(Ω1,I)
U(Ω0,I) U(Ω1,I + VC)
0 1 Período 0 1 Período
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resultado do exercício hipotético em uma ordem inversa àquela que foi tomada por base para 
realizar tal exercício. E isso pois é intuitivo pensar que o futuro sucede o passado, mas, para 
calcular a VC, deve-se partir do futuro e procurar voltar para o passado. Este esclarecimento 
é secundário. O que deve ser levado em conta é: a VC é calculada como a variação de renda 
hipotética que, partindo do nível final (pós-projeto) de bem-estar, permite atingir o nível 
inicial (pré-projeto). É com base nisso que se determina o sinal (e a magnitude) da VC. Caso 4,	 ΔBE < 0, VC. Agora há aumento do bem-estar partindo-se da situação final e 
voltando-se para a inicial. O experimento deve, pois, fornecer um aumento de renda, tomando 
como base para isso o nível de bem-estar final. Isso pois sempre tem de valer a equação 
U(Ω1,I) - U(Ω0,I) = U(Ω1,I) - U(Ω1,I+VC). E, se U(Ω1,I) - U(Ω0,I) < 0, então 
U(Ω1,I) - U(Ω1,I+VC) < 0, mas esta última condição é apenas possível com VC > 0 (gráfico 
abaixo). 
 
A tabela a seguir resume os resultados a que se pôde chegar com base na análise dos quatro 
casos. 
Atributo / métrica VE VC 
Sinal ΔBE < 0 < 0 > 0 
ΔBE > 0 > 0 < 0 
Magnitude 
U(Ω1,I) = 
U(Ω0,I+VE) 
U(Ω0,I) = 
U(Ω1,I+VC) 
 
Os conceitos de VE e VC podem ser expressos de uma maneira alternativa que, ao invés de 
distingui-los em função da direção da “viagem no tempo”, toma por base o critério mais 
intuitivo que especifica se a renda do agente-objeto do experimento aumenta ou diminui. Esta 
nova maneira de distinguir VE e VC dá origem aos conceitos de (i) disposição a pagar 
(DAP), sempre identificada como uma variação de renda negativa, e disposição a receber 
uma compensação (DARC), sempre identificada com uma variação de renda positiva. De 
fato, a ACB estabelece que os benefícios devem ser medidos como a disposição a pagar 
(DAP) para “assegurar um ganho ou para evitar uma perda” e que os custos devem ser 
ΔBE < 0 ΔBE < 0
BE BE
U(Ω0,I) U(Ω1,I+VC)
U(Ω1,I) U(Ω1,I)
0 1 Período 0 1 Período
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medidoscomo a disposição a receber compensação (DARC) por “abster-se de um ganho” ou 
por tolerar uma perda (Pearce e Moran, 1994, p.17). A correspondência entre DAP e DARC, 
de um lado, e VE e VC, de outro, é dada pela tabela abaixo. Ela foi construída a partir da 
tabela anterior e da ideia de que a DAP sempre capta uma redução de renda e a DARC, um 
aumento. 
Tabela Correspondência entre DAP e DARC 
Para um impacto que: A variação equivalente capta: 
A variação compensatória 
capta: 
Aumenta o bem-estar 
(ΔBE > 0) 
A DARC pela não-realização 
do projeto (ou ação) 
DAP para assegurar a 
realização do projeto (ou 
ação) 
Reduz o bem-estar 
(ΔBE < 0) 
A DAP para evitar a 
realização do projeto (ou 
ação) 
DARC por tolerar a 
realização do projeto (ou 
ação) 
Fonte: Hanley e Barbier, tabela 2.1 
Assinala-se, pois, que a DAP e a DARC são as medidas econômicas para variações de bem-
estar decorrentes de impactos não-comercializados de projetos de investimento. 
4 Estimando DAP e DARC 
Há três maneiras de obter valores para a DAP e a DARC a partir de dados concretos. 
A primeira é o cálculo direto, geralmente não aplicável para projetos públicos. Caso a 
fonte de impacto sobre o bem-estar seja um bem privado transacionado no mercado, 
pode-se estimar o excedente Marshalliano (EM) do consumidor. Este é definido, em 
microeconomia, como a área localizada (i) abaixo da curva de demanda, (ii) acima do 
preço de mercado, (iii) à esquerda da quantidade demandada (triângulo azul na figura 
abaixo). O que é equivalente à utilidade proporcionada pela quantidade demandada 
descontada da despesa requerida para obtê-la. Willig (1976, apud Brent, cap.3 e 
Hanley e Barbier, cap.1) demonstrou que o erro cometido ao tomar o EM como proxy 
para a EV e a CV é pequeno caso a elasticidade-renda da demanda pelo bem seja 
pequena. 
Figura O excedente do consumidor (área hachurada em azul)* 
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Nota: (q*,p*) é a condição de equilíbrio, Qs(p,s,r,M) a curva de oferta de curto prazo e QD (p,p’,w) a curva de 
demanda. 
Em segundo lugar, há a abordagem da preferência declarada. Esta consiste em realizar 
experimentos de escolha em que os indivíduos sujeitos ao impacto são (i) interpelados 
quanto à DAP ou DARC ou (ii) quanto à alternativa mais preferida dentre as 
oferecidas. A abordagem (i) corresponde à técnica de valoração contingente, enquanto 
que a abordagem (ii), à técnica de modelagem de escolha (choice modelling). Ambas 
as técnicas têm sido grandemente exploradas para a valoração econômica de projetos 
com impactos ambientais. 
A terceira alternativa, a abordagem da “preferência revelada”, consiste em inferir a 
DAP e a DARC a partir de dados de transações relacionadas com a fonte de impacto, 
“revelando” as preferências que os indivíduos possuem quanto às consequências do 
impacto. Esta abordagem indireta é empregada, por exemplo, para mensurar a 
contribuição do acesso à infraestrutura (vias e meios) de transporte e a saneamento 
básico para o valor de um imóvel, o que, pois, proporciona uma medida do bem-estar 
proporcionado pelos serviços de transporte e saneamento. 
As duas últimas abordagens compreendem uma série de técnicas, sendo algumas das 
principais descritas sinteticamente no que segue. Elas podem ser utilizadas para duas 
finalidades. A primeira é a de estimar a função de demanda por um bem ou serviço 
cuja disponibilidade ou qualidade o projeto é planejado para alterar. Trata-se, pois, de 
um exercício de valoração econômica dos resultados do projeto. A segunda finalidade 
é a de estimar o valor econômico de impactos ambientais e sociais causados pelo 
projeto de maneira não planejada. 
q
p
QD(p,p’,w)
QS(p,s,r,M)
E1
q*
p*
13 
 
5 Abordagem de preferência declarada: o método de valoração contingente 
5.1 Teoria 
Em linhas gerais, a valoração contingente objetiva inferir as preferências dos indivíduos por 
bens e serviços não transacionados em mercados, o que inclui serviços prestados pelo meio 
ambiente tais como regulação climática, conservação do solo, purificação de água, etc. 
Um exercício de valoração contingente é um experimento em que uma situação hipotética de 
escolha é oferecida a indivíduos com experiência no consumo do bem/mal a ser valorado. Tal 
situação de escolha é elaborada para reproduzir o problema de escolha que dá base ao modelo 
microeconômico de comportamento do consumidor. De fato, o problema de escolha a que os 
participantes da valoração contingente são submetidos é essencialmente equivalente ao 
problema do consumidor racional da teoria microeconômica. Trata-se, sempre, de escolher, a 
partir de um orçamento limitado, entre duas alternativas que proporcionam níveis de bem-
estar individual distintos. Os exercícios de valoração contingente diferem apenas na forma de 
apresentação do problema, a qual procura expressar o problema-base com ingredientes do 
contexto relevante. 
A única diferença em relação ao problema do consumidor racional está na principal pergunta 
feita aos participantes, a de quanto estariam dispostos a pagar pela alternativa que 
proporciona maior bem-estar. E isso pois o consumidor racional é tomador de preço (sob 
concorrência perfeita) e a única pergunta que ele deve responder é a de qual alternativa 
selecionaria, dados os preços e o orçamento. 
As alternativas-objeto da escolha são também chamadas de cenários hipotéticos, pois diferem 
em função da ocorrência ou não do impacto causado pelo projeto. Por exemplo, um projeto 
de expansão da rede de transporte por ônibus do ABC poderia ser avaliado pelo público-alvo 
com base na comparação de dois cenários, em um deles a expansão não ocorre e em outro, 
ela ocorre. Neste caso, a pergunta principal é a de quanto se estaria disposto a pagar por um 
determinado aumento do número de ônibus que circulam por dia, quanto se estaria disposto a 
pagar pela criação de uma linha que cobrisse um trajeto específico, etc. 
Para obter dados para a DARC, a pergunta a ser feita é quanto à disposição a receber uma 
compensação por abrir mão da melhoria proporcionada pelo projeto. Contudo, a literatura 
científica atual tem omitido a DARC dos exercícios de valoração contingente, pois já foi 
comprovado que se trata de uma medida que tende a superestimar a variação de bem-estar. 
A valoração contingente também pode ser empregada a impactos negativos causados pelo 
projeto sobre o ambiente e a sociedade. No exemplo de expansão do transporte público por 
ônibus, dois impactos negativos possíveis seriam a emissão de poluentes e engarrafamentos. 
Neste caso, as entrevistas procurariam apurar a DAP para evitar tais impactos negativos. 
Em qualquer um dos casos, i.e., tratando-se de impactos redutores (negativos) ou ampliadores 
(positivos) do bem-estar individual, o objetivo da valoração contingente é estimar a função de 
demanda pelo resultado do projeto ou pelo componente do ambiente ou da sociedade 
negativamente impactados. Retomando mais uma vez o exemplo, trata-se de estimar a 
laranjinha
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14 
 
demanda por transporte por meio de ônibus, a demanda por ar limpo (livre de poluição) e a 
demanda por mobilidade. 
A pergunta de disposição a pagar deve vir acompanhada de outras perguntas, acerca de 
características socioeconômicas dos entrevistados e também de perguntas para aferir a 
veracidade e consistência da DAP declarada. Daí porque o experimento de valoração 
contingente é implementado a partir de questionários estruturados, compreendendo, em boa 
parte, perguntas fechadas. 
Há três características fundamentais de um experimento de valoração contingente, como 
segue. 
1. Veículo de pagamento: trata-se do destino do pagamentoou daquilo pelo que se pagaria. 
Há duas classes de possibilidades, bens públicos ou privados. 
a. A primeira compreende benefícios/malefícios compartilhados por diversos 
indivíduos como, por exemplo, poluição do ar e sonora, mudança climática, 
engarrafamentos, epidemias, etc. Neste caso, o veículo de pagamento 
recomendado é o aumento dos impostos (ou de um imposto em específico). O que 
está em consonância com um dos textos mais citados em valoração contingente, 
um relatório produzido por múltiplos especialistas em 1993, sob encomenda da 
NOAA (Arrow, 19934); 
b. A segunda compreende benefícios/malefícios apropriados individualmente e cuja 
duração tende a ser limitada no tempo. Neste caso, o veículo de pagamento deve 
ser um bem privado relacionado ao impacto a ser valorado. E a recomendação 
atual é a de que seja um bem real, que realmente seja transacionado em mercados. 
Por exemplo, para o caso de geração de poluição atmosférica, alguns veículos 
utilizados na literatura são medicamentos, dispositivos de monitoramento de crises 
de asma, internações hospitalares, etc; 
2. Forma de “elicitação”: há pelo menos três maneiras de perguntar quanto à disposição a 
pagar: 
a. Pergunta aberta: pergunta-se, diretamente, quanto, no máximo, se estaria disposto 
a pagar pelo veículo; 
b. Pergunta dicotômica: é oferecido um preço selecionado aleatoriamente dentre 
alguns preços pré-definidos, perguntando-se se haveria ou não disposição a pagá-
lo; 
c. Escala de pagamento: cartões com preços distintos são embaralhados, retirando-se 
um de cada vez e pergunta se haveria ou não disposição a pagar o valor de face; 
3. Amostragem: idealmente, a amostra de entrevistados deve ser uma amostra aleatória 
simples, segundo definição estatística do termo, da população-alvo. I.e., deve-se demarcar 
o grupo social de interesse para a valoração e então selecionar aleatoriamente aqueles que 
responderão o questionário. Isso é bastante importante para que a DAP média estimada 
seja generalizável para toda a população. 
 
4 http://www.economia.unimib.it/DATA/moduli/7_6067/materiale/noaa%20report.pdf 
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15 
 
Uma vez coletados os dados, a consistência deles para com a teoria do consumidor deve ser 
posta à prova, para isso estimando-se a função de DAP na forma abaixo: 
DAP = β0 + β1renda + β2B + XΓ + e 
Em que “renda” é a renda do indivíduo, “B” é uma medida para o aumento ou redução 
evitada de bem-estar decorrente do pagamento (o que tende a diferir entre indivíduos) e X é o 
vetor com características socioeconômicas. 
5.2 Exemplos 
Um exemplo de estudo de valoração contingente relacionados com projetos públicos de 
transporte é o produzido por Jou et al (2012). Os autores estimaram a DAP pedágio por 
distância percorrida nas estradas de Taiwan. A mudança da cobrança de pedágio do formato 
de pagamento pelo acesso à estrada para o formato de pagamento por distância percorrida é 
uma política que visa reduzir o tráfego nas proximidades das rodovias. Foi detectado que as 
viagens de curta distância eram uma das principais causas do tráfego e a maior proporção 
delas não pagava pedágio por conta das curtas distâncias compreendidas, geralmente 
inferiores às distâncias que separavam dois guichês de cobrança. Claramente, uma análise de 
custo-benefício do projeto de alteração do formato de cobrança, a qual envolve custos como a 
instalação de um sistema de cobrança eletrônico, requer a estimação da DAP pedágio por 
distância. 
Os autores consideraram múltiplos cenários, submetendo-os à avaliação dos entrevistados 
com base em um procedimento sequencial em que cada resposta levava a uma nova pergunta 
(diagrama abaixo). No primeiro passo, perguntou-se se havia disposição a pagar um pedágio 
de um DTW 1 /km, em que DTW expressa a moeda local, “dólares taiwaneses”. Caso a 
resposta fosse afirmativa, no próximo passo o valor do pedágio era aumentado para DTW 
1.25/km; uma resposta negativa levava a um pedágio de DTW 0.75 /km. No terceiro estágio 
haveria novo aumento ou redução do pedágio e assim sucessivamente até o quarto estágio. É 
interessante notar que, neste exemplo, os autores não perguntaram diretamente quanto os 
entrevistados estariam dispostos a pagar por distância percorrida, mas ofereceram valores 
pré-definidos e então perguntaram se os entrevistados os aceitavam ou não. Os autores 
estimaram um modelo econométrico em que a DAP é explicada em função de variáveis que 
captam a localização do entrevistado, as finalidades das viagens que percorre na estrada, 
idade e nível educacional (estranhamente não foi incorporada a renda). 
Notar, pois, que o veículo de pagamento é o pedágio, um serviço privado. A forma de 
“elicitação” é dicotômica com quatro repetições. Quanto à amostra, o questionário foi 
enviado por e-mail a uma amostra de 25.000 proprietários de carros de Taiwan, obtendo-se 
1.143 questionários respondidos (geralmente a taxa de resposta de pesquisa por e-mail é 
baixa). Trata-se, pois, de uma amostra aleatória simples, uma vez que a seleção dos 25.000 
contatos se deu com base na listagem do governo de proprietários de carros. 
 
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16 
 
Figura 1 Procedimento utilizado por Jou et al (2012) para inferir a DAP pedágio 
por distância em Taiwan 
 
Whittington et al (1991)5 provê um exemplo de valoração contingente relevante para os 
projetos de saneamento básico. O estudo foi realizado na cidade de Onitsha, Nigéria. Trata-se 
de estimar a DAP por água tratada, com o intuito de subsidiar uma definição adequada do 
valor da tarifa cobrada pelo órgão governamental encarregado do abastecimento. Esta é 
claramente uma questão importante no que diz respeito à viabilidade financeira de uma 
unidade pública de abastecimento hídrico. O Banco Mundial financiou a construção de um 
novo sistema de abastecimento hídrico para a cidade. Esta entidade participou de um debate 
com a estatal responsável pela operação do sistema acerca do valor da tarifa. Parte da 
população da cidade acreditava que a tarifa deveria ser zero, mas o orçamento público era 
bastante limitado. 
Procurando contribuir para o debate, o estudo estimou a DAP pela água que seria 
supostamente fornecida pelo sistema público. Foi adotado um procedimento parecido com o 
de Jou et al (2012), com duas a quatro perguntas dicotômicas repetidas, algo próximo ao que 
hoje é denominado por “escolha dicotômica duplamente delimitada” (double bounded 
dichotomous choice) 6. No primeiro estágio (ver figura abaixo), perguntou-se se o 
entrevistado gostaria de estar conectado ao sistema público e ter um medidor instalado em 
sua casa se o preço da água fosse de N$1 por galão, em que “N$” é a moeda da Nigéria, 
denominada por “Naira”. No segundo estágio, o preço seria reduzido ou aumentado de 
acordo com a resposta no primeiro estágio. Com isso, foi possível classificar os entrevistados 
em sete faixas de DAP. O principal uso da DAP estimada foi permitir calcular a proporção da 
população que utilizaria o sistema público a depender do valor da tarifa, um subsídio crucial 
para o debate referido acima. Especialmente porque as opiniões manifestadas neste 
compreendiam tanto a avaliação de que poucos cidadãos utilizariam o sistema público se 
 
5 Whittington, D., Lauria, D. T., & Mu, X. (1991). A study of water vending and willingness to pay for water in 
Onitsha, Nigeria. World development, 19(2), 179-198. 
6 Hanemann, M., Loomis, J., & Kanninen, B. (1991). Statistical efficiency of double-bounded dichotomous 
choice contingent valuation. American journal of agricultural economics, 73(4), 1255-1263. 
17 
 
fosse cobrada tarifa como a avaliação de que um número importante de cidadãos poderia 
pagar. 
 
É pertinente mencionar que em Onitsha haviauma oferta privada de água, baseada em 
caminhões-pipa e atravessadores. Havia, pois, um mercado de água. Este, porém, fornecia um 
produto de baixa qualidade e o acesso era limitado pela capacidade de pagamento dos 
cidadãos. O projeto de instalação do sistema público, portanto, alteraria a qualidade e 
disponibilidade de água, reduzindo o déficit de suprimento. 
Notar que, no estudo de Whittington, o veículo de pagamento foi a tarifa cobrada pelo serviço 
público de saneamento, um serviço privado, e a forma de “elicitação” foi dicotômica. Já a 
amostragem não está detalhada no artigo, não sendo possível saber se os 421 entrevistados 
foram selecionados aleatoriamente. 
A valoração contingente foi empregada nos estudos de demanda que integraram o projeto da 
BR 040 (Juiz de Fora-DF)7. Procurou-se inferir a DAP pedágio para percorrer trechos da 
rodovia BR 040 que seriam positivamente impactadas pelo projeto no que tange à condição 
de pavimento e velocidade de deslocamento. Em pontos de coleta de informação 
posicionados ao longo da rodovia, foram entrevistados usuários de duas categorias, 
automóveis particulares e caminhões. Para cada um deles foram oferecidas alternativas 
hipotéticas, que se diferenciaram em função de (i) condição do pavimento, (ii) preço do 
pedágio e (iii) tempo de viagem. Além das alternativas representando possibilidades que 
seriam geradas pela execução do projeto, há duas outras. A alternativa correspondendo à 
situação atual e também a possibilidade de desviar do pedágio, evitando a cobrança por meio 
de um trecho alternativo. 
Além dos atributos das alternativas, foram incorporados no modelo atributos dos 
entrevistados, entre eles, (i) local de origem da viagem (moradia ou não), (ii) frequência da 
 
7 Disponível no website da EBP, procurar em Estudos Iniciais/estudosdetrafegofinal_parte2.pdf 
1
Não Sim
0.5 2
Não Sim Não Sim
0.25 Fim 1.5 Fim
Sim Não Indeciso Sim Não Indeciso
Fim Fim Fim Fim
0.12
Sim Não Indeciso
Fim Fim Fim
Sequência de oferecimento dos lances, Whittington et al. (1991)
18 
 
viagem, (iii) renda do motorista de automóvel ou número de eixos do caminhão e tipo da 
carroceria. 
Com base nos dados coletados, foram estimados modelos econométricos explicando a 
probabilidade de optar pelo pagamento do pedágio, um subsídio crucial para estimar a 
arrecadação e, portanto, a viabilidade financeira da obra. Além disso, as DAPs estimadas 
poderiam ter sido utilizadas para mensurar, em termos monetários, o bem-estar 
proporcionado pelo projeto. 
Também na estimação da demanda pelo trecho de Mato Grosso da BR 163 foi utilizada a 
valoração contingente, contudo na forma de modelagem de escolha, i.e., oferecendo-se rotas 
alternativas aos usuários, algumas delas pedagiadas, e pedindo para que selecionassem a 
preferida8. 
Um quarto exemplo é descrito no excerto abaixo. Trata-se do estudo de Cecilia Håkansson 
(2007), em que foi quantificado o trade-off entre suprimento de eletricidade e de salmões na 
Suécia (nota de aula 9). O excerto trata de uma medida mitigatória que poderia ser 
incorporada ao projeto de expansão do aproveitamento hidrelétrico dos rios Ume e Videln. 
“A operação da usina hidrelétrica Stornorrfors tem sido associada com uma diminuição no 
número de salmão no sistema do rio superior. Usando um modelo econômico de recurso 
pesqueiro, cinco cenários para a recuperação da população de salmão foram elaborados, 
diferindo em termos do acréscimo da quantidade de salmão (...), e quanto tempo tal 
acréscimo levaria para ocorrer. Uma sondagem via correio com 1.192 suecos foi realizada, 
utilizando a valoração contingente para medir a DAP por cada um dos cenários. A autora 
avaliou como a DAP varia em função da localização do entrevistado [Sul ou Norte do País] 
considerando que os que vivem mais longe [dos dois rios impactos pela obra] teriam menor 
DAP [também se procurou verificar diferenças entre pescadores e outros profissionais]. Com 
base em um cenário em que há um aumento na população de salmão 3.000-4.000 
[indivíduos], a DAP agregada foi estimada em SEK 96-234 milhões [SEK é a moeda da 
Suécia], com uma estimativa pontual de SEK 140 milhões.” 
Neste último exemplo fica claro que a DAP mede o excedente do consumidor, trata-se, pois, 
do bem-estar proporcionado pela quantidade total extra de salmão que se tornaria disponível 
e não o bem-estar de uma unidade adicional, este último correspondendo à DAP marginal. 
 
 
8 O estudo completo pode ser encontrado no Volume 2-Estudo de Tráfego, seção 2.5, no website da EBP. 
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