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Aula 2a - Análise Econômica de Projetos

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1 
 
Notas de aula para o curso de análise econômica de projetos 
Nota 2.a, desenho (estudo de mercado) 
Thiago Fonseca Morello 
fonseca.morello@ufabc.edu.br 
sala 301, Bloco Delta, SBC 
 
1 Estágio 3: desenho dos projetos 
1.1 Estudo de mercado 
[fontes: Kupfer e Hasenclever, cap.5-8, Buarque, 5.2.2 e cap.II, EC, 2.6.1] 
1.1.1 Introdução 
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) disponibiliza roteiros para 
apresentação de projetos (RAPs). Esses roteiros são formulários a serem preenchidos pelos interessados em 
obter financiamento. São guias de elaboração de projetos bastante úteis para aprender a formular projetos de 
financiamento. A linha de crédito “Financiamento de Empreendimentos” (Finem) é voltada para 
financiamentos superiores a R$20 milhões propostos por empresas privadas ou entes públicos. No RAP do 
FINEM há uma seção dedicada a estudo de mercado, em que se encontram os seguintes termos: “principais 
concorrentes”, “participação de mercado”, “barreiras à entrada de novas firmas”, “estrutura da oferta”, “grau 
de inovação tecnológica”, “diferenciação de produto”, “padrão de concorrência”, “setores 
monopolísticos/oligopolísticos”, entre outros. Todos estes termos pertencem à teoria econômica, 
especificamente à subdivisão desta teoria denominada “microeconomia”, que estuda o comportamento das 
unidades econômicas básicas, consumidores e firmas. 
Cabe destacar algumas das informações que devem ser fornecidas na seção “mercado” do RAP (no que 
segue há apenas alguns dos requisitos constantes no documento original): 
“2.1. Mercado interno 
b) Descrever as principais perspectivas do comportamento do mercado interno, indicando os 
fatores determinantes do comportamento esperado 
c) Descrever a situação atual e a evolução prevista da demanda, da oferta, da concorrência 
(informar os principais concorrentes e sua participação de mercado) e dos preços, bem como dos 
principais clientes, limitando-se ao mercado de atuação da empresa. Apresentar aspectos 
regulatórios, quando pertinente. Apresentar as principais barreiras à entrada de novas firmas nesse 
mercado. 
d) Descrever as principais tendências de mercado, incluindo as decorrentes de mudanças 
socioculturais, econômicas, ambientais e tecnológicas. (...) 
2.3 Estrutura da oferta e padrão de concorrência 
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a) Indicar os principais concorrentes e o posicionamento da empresa no setor. Apresentar os 
percentuais de participação por concorrente. Caso tenha ocorrido mudança significativa na estrutura 
da oferta, destacar a estrutura antes e depois da mudança. 
b) Indicar e justificar os principais fatores de competitividade da empresa 
c) No caso de setores monopolísticos/oligopolísticos, apresentar as principais barreiras à entrada 
de novas firmas. 
d) Comentar, entre os fatores listados a seguir, aqueles que melhor caracterizam as principais 
tendências na estrutura da oferta: 
• reestruturação com fusões e aquisições; 
• joint ventures com empresas estrangeiras; 
• acirramento da concorrência com redução de margens; 
• aumento da capacidade produtiva/ociosa; 
• aumento/redução no número de empresas; 
• aumento na oferta de produtos importados; 
b) Identificar e comentar, entre os fatores listados a seguir, aqueles que caracterizam as 
pretensões da empresa em termos mercadológicos: 
• ampliar sua linha de atuação no mercado/segmento de (produto); 
• ofertar um produto (ou nova linha de produtos) mais moderno/com maior valor agregado/com 
preços mais competitivos; 
• mudar seu mix de produtos ofertados, oferecendo produtos com (maior valor agregado, 
melhor preço, melhor qualidade). 
Boa parte do conhecimento necessário para prover as informações destacadas pode ser obtido nos cursos de 
Microeconomia I e II, Economia industrial e Economia de empresas. Focarei em apenas dois aspectos: (a) 
concentração industrial (inclui participação de mercado e padrões de concorrência) e (b) estrutura de 
mercado (ou “estrutura de oferta”, inclui padrões de concorrência e barreiras à entrada). 
1.1.2 Identificação do mercado e de ameaças concorrenciais 
Segundo McGuigan et al (2013), entende-se por “mercado relevante” um conjunto de empresas que 
interagem por meio de relações de compra e venda. Os autores dão a entender que os mercados relevantes se 
definem não apenas em função das empresas que deles participam, comprando e vendendo produtos, mas 
também em função das características dos produtos transacionados e das limitações geográficas em que tais 
transações ocorrem. Uma definição mais prática seria a de que o mercado relevante (para um projeto de 
investimento) é um conjunto de empresas que ofertam produtos similares e de potenciais consumidores de 
tais produtos. 
A identificação do mercado relevante é crucial tanto para projetos públicos como privados. Trata-se do 
primeiro passo para identificar as forças que podem favorecer ou desfavorecer o êxito do projeto de 
investimento. De fato, no caso de projetos privados, uma medida do êxito é a lucratividade alcançada após a 
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execução do projeto. Segundo Michael Porter (apud Mcguigan et al., 2013), um dos principais autores de 
teoria da administração, há cinco principais ameaças à lucratividade de uma empresa. Adaptando a 
nomenclatura às finalidades deste curso, as cinco ameaças são: (i) a existência de produtos substitutos, (ii) a 
entrada de novas empresas concorrentes no mercado, (ii) o poder de determinação de preço dos 
compradores, (iii) o poder de determinação de preço dos concorrentes, (iv) a intensidade da competição. 
Mcguigan et al (2010) acrescentam uma sexta ameaça, o surgimento de uma tecnologia devastadora, que 
torne a atividade da empresa pouco ou nada atrativa para os consumidores (ex., o compartilhamento de 
trilhas de áudio teve impacto devastador na indústria fonográfica). Cada uma das seis forças do modelo 
conceitual de Porter (figura abaixo) será explicada a seguir. 
Por hora o mais importante a reter é a concepção inerente ao modelo de que uma empresa privada, para 
assegurar um nível de lucratividade satisfatório, deve lutar, continuamente, contra seis tipos de ameaças 
impostas pelos concorrentes. O êxito de um projeto privado, portanto, depende do êxito das estratégias que a 
empresa utiliza como instrumentos nessa luta. Essa concepção esclarece por que o BNDES, ao analisar um 
pedido de financiamento, requer uma análise da estrutura do mercado: trata-se de saber quais são as ameaças 
ao êxito do projeto que está financiando, o que determina diretamente a capacidade do tomador para quitar o 
débito e também o impacto do projeto em termos de desenvolvimento. 
Figura 1 Modelo conceitual de Porter, as cinco ameaças (ou forças) com a adição da ameaça de 
surgimento de uma tecnologia devastadora (figura extraída de Mcguigan et al., 2013). 
 
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1.1.3 Concentração industrial [Kupfer e Hasenclever, cap.5] 
Concentração industrial diz respeito ao grau em que se manifesta um “comportamento dominante” em um 
dado mercado (Resende e Boff, 2013 in Kupfer e Hasenclever, cap.5). Ou seja, quanto maior é a proporção 
da quantidade do bem transacionado no mercado que é ofertada por uma ou poucas empresas, maior é a 
concentração industrial. A proporção da quantidade ofertada ou vendida por cada empresa é o mesmo que se 
entende por “participação de mercado” (market share), ainda que essa participação também possa ser 
medida em termos de valor monetário da produção. Se o mercado, ou melhor, o conjunto de oportunidades 
de venda, ou demanda, fosse uma torta, afatia abocanhada por cada empresa seria a participação de 
mercado. 
Com base na análise das “fatias” de mercado, é possível construir medidas do grau em que o mercado está 
“concentrado”. Por exemplo, se há 100 empresas, uma delas com 99% do valor das vendas, tem-se um grau 
de concentração consideravelmente maior do que aquele de um mercado com 100 empresas, cada uma com 
fatias de 1%. Na prática, porém, esses casos extremos são pouco frequentes, e por isso é preciso ter critérios 
mais precisos para medir a concentração. Daí as medidas de concentração industrial, as quais tomam por 
base as fatias das empresas. 
Um índice bastante comum é a razão de concentração de k-ésima ordem, representado por CR(k). A letra 
“k” representa as k maiores empresas do mercado, por exemplo, 4 maiores ou 8 maiores, como é mais 
comum. Formalmente: 
ܥܴ(݇) = ෍ ݏ௜௞
௜ୀଵ
 
Ou seja, trata-se de somar as fatias das k maiores empresas. 
O CR(k) não permite saber como as k-maiores empresas se diferenciam em função de suas fatias. Por 
exemplo, CR(4) seria de 90% tanto com a primeira maior empresa possuindo uma fatia de 89%, como com 
as quatro maiores possuindo fatias de 90%/4 = 22.5%. E esses dois casos podem ser completamente 
diferentes no que diz respeito ao padrão de concorrência. Essa característica crucial da estrutura de um 
mercado também pode ser estudada com base nos índices de concentração. 
De fato, quanto maior a concentração, menor o grau de concorrência. Há dois níveis extremos de 
concentração, cada um representando um tipo específico de padrão de concorrência da perspectiva do lado 
da oferta. O monopólio representa o grau máximo de concentração (do lado da oferta), em que há apenas 
uma empresa ofertando no mercado. Já a concorrência perfeita representa o grau mínimo de concentração, 
em que a quantidade ofertada por cada empresa é pequena o bastante para ser desprezível. Talvez o aspecto 
mais importante quanto ao padrão de concorrência é o nível de poder de mercado a ele associado, i.e., o 
poder de definir o preço. Um monopolista dispõe plenamente deste poder. Na concorrência perfeita, 
nenhuma das empresas dispõe deste poder. 
É intuitivo que o grau de poder de mercado difira de modo relevante caso a primeira maior empresa detenha 
uma fatia de 90% ou de 22.5%. Daí a necessidade de outros indicadores de concentração. O de Herfindahl-
Hirschman, HH, leva em conta todas as N empresas do mercado: 
ܪܪ = ෍ ݏ௜ଶே
௜ୀଵ
= ෍ ݏ௜ݏ௜ே
௜ୀଵ
 
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Em que a segunda forma de apresentação indica que se trata de uma média ponderada das fatias em que o 
fator de ponderação é a própria fatia. Dá-se, pois “peso maior às empresas (...) maiores (Resende e Boff, 
2013)”. A Federal Trade Commission dos EUA e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) 
do Brasil usam o HH para a política antitruste, i.e., para realizar intervenções controladoras do poder de 
mercado. Essa defesa do HH se justifica no fato de que ele apresenta propriedades desejáveis e compatíveis 
com a teoria econômica1. A principal propriedade é a de que mercados com maior HH apresentam maior 
grau de poder de mercado. 
Para ilustrar a aplicabilidade dos índices, cabe tomar os resultados obtidos por Barbosa (2015)2 referentes ao 
setor bancário brasileiro. Uma particularidade em relação ao setor bancário está no produto ou bem 
transacionado que, no caso, é um conjunto de serviços financeiros. Também por isso o autor usou múltiplas 
medidas de fatia de mercado, entre elas, ativos totais, depósitos totais e patrimônio líquido. A mais 
diretamente relacionada com oferta de serviços é a variável “depósitos totais”, e por isso apenas ela será 
considerada. 
 
Nota: tabela extraída de Barbosa(2015). 
Os índices de razão de concentração para os 4, 8 e 16 maiores bancos estão indicados respectivamente por 
CR4, CR8 e CR16, já o HH está indicado por “H”. É notório o aumento da concentração com base em todos 
os quatro índices. Isso está de acordo com o constatado pelo autor. Ele afirma que as causas do aumento 
concentração foram “fusões e aquisições” (p.ex., Itaú e Unibanco, Santander e ABN Amro Bank, Banco do 
Brasil e Nossa Caixa, etc.), “crise internacional (gerou crise de liquidez, suscitando reações com fusões e 
aquisições), medidas governamentais de reestruturação do setor e pelo aumento da competitividade via 
diferenciação de produtos e serviços”. Como o HH é positivamente correlacionado com o grau de poder de 
mercado, pode-se afirmar que o poder de mercado aumentou no setor bancário brasileiro de 2004 a 2014. 
De fato, a prática de fusões e aquisições é instrumento de competição, i.e., de ampliação de poder de 
mercado. Trata-se de algo que pode ser uma ameaça potencial à rentabilidade de um projeto de 
investimento. Um projeto de expansão da rede de atendimento de um banco privado, por exemplo, tende a 
ter rentabilidade consideravelmente distinta comparando-se o cenário em que os principais concorrentes se 
fundem com aquele em que isso não ocorre (vale lembrar da fusão Itaú-Unibanco de 2008). Daí porque o 
 
1 Ver detalhes em Resende e Boff, 2013. 
2 http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/130294 
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BNDES requer informações sobre concentração de mercado atual e futura dos requisitantes de recurso do 
Finem. 
O índice HH é utilizado como parâmetro pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), 
órgão do governo federal, para monitorar o nível de concorrência nos mercados e também para aprovar ou 
não fusões e aquisições. A seguir há os níveis críticos do HHI que o CADE associa a padrões de 
concorrência (segundo o guia publicado pelo órgão em 2016)3. Notar que o CADE denomina o índice por 
“HHI”. 
“Compreende-se que os mercados são: 
1. Mercados não concentrados: com HHI abaixo de 1.500 pontos 
2. Mercados moderadamente concentrados: com HHI entre 1.500 e 2.500 pontos; 
3. Mercados altamente concentrados: com HHI acima de 2500 [pontos] 
Ademais, compreendem-se as seguintes definições: 
1. Pequena alteração na concentração: operações que resultem em variações de HHI inferiores a 100 
pontos (ΔHHI < 100) provavelmente não geram efeitos competitivos adversos e, portanto, 
usualmente não requerem análise mais detalhada; 
2. Concentrações que geram preocupações em mercados não concentrados: se o mercado, após o AC [ato 
de concentração econômica, p.ex., uma operação de fusão], permanecer com HHI inferior a 1.500 
pontos, a operação não deve gerar efeitos negativos, não requerendo, usualmente, análise mais 
detalhada; 
3. Concentrações que geram preocupações em mercados moderadamente concentrados: operações que 
resultem em mercados com HHI entre 1.500 e 2.500 pontos e envolvam variação do índice superior a 
100 pontos (ΔHHI > 100) têm potencial de gerar preocupações concorrenciais, tornando recomendável 
uma análise mais detalhada; 
4. Concentrações que geram preocupações em mercados altamente concentrados: operações que resultem 
em mercados com HHI acima de 2.500 pontos, e envolvam variação do índice entre 100 e 200 pontos 
(100 ≤ ΔHHI ≤ 200) têm potencial de gerar preocupações concorrenciais, sugerindo uma análise mais 
detalhada. Operações que resultem em mercados com HHI acima de 2.500 pontos, e envolvam variação 
do índice acima de 200 pontos (ΔHHI > 200) presumivelmente geram aumento de poder de mercado. 
Essa presunção poderá ser refutada por evidências persuasivas em sentido contrário.” 
[no que segue, há exceções ao uso da “regra do HHI”] 
Infelizmente, nem sempre é possível obter dados precisos para calcular os índicesde concentração. Por 
exemplo, em muitos mercados ou setores de atividade, empresas privadas de consultoria monopolizam tais 
dados, oferecendo-os por preços às vezes altos. Uma prática comum em artigos científicos é utilizar 
informações agregadas na escala de sub-setores do setor de atividade alvo, como as gratuitamente 
disponibilizadas pela Pesquisa Industrial Anual do IBGE. Caso seja considerada uma definição de sub-
setores pouco agregada, i.e., muito próxima do produto que define o mercado, é possível ter uma visão mais 
precisa do nível de agregação do mercado. Para isso, os interessados devem consultar as definições setoriais 
de Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE)4. 
O grau de concentração industrial é relacionado com o grau de rivalidade, este podendo ser entendido como 
a agressividade com que as empresas tentam aumentar sua participação de mercado, reduzindo, para isso a 
participação das demais. Mcguigan et al (2013) argumentam que, no mercado de cereais matinais, que está 
em 85% nas mãos de 4 empresas, a agressividade é maior do que no mercado de refrigerantes de Cola, 72% 
nas mãos de Coca-cola e Pepsi5. E isso pois, quanto maior é o número de empresas, menor a influência de 
 
3 Disponível em: http://www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/publicacoes-institucionais/guias_do_Cade/guia-para-analise-de-
atos-de-concentracao-horizontal.pdf 
4 http://cnae.ibge.gov.br/busca-online-cnae.html?view=estrutura 
5 http://www.nasdaq.com/article/coke-vs-pepsi-by-the-numbers-cm337909 
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uma delas sobre as demais. O impacto de uma guerra de preços, uma das formas mais agressivas de buscar o 
aumento de participação de mercado, seria devastador caso praticado em um duopólio, e por isso o incentivo 
para praticar um conluio tácito, evitando a guerra de preços, é maior no mercado de refrigerantes de Cola do 
que no mercado de cereais matinais. 
1.1.4 Estrutura de mercado 
O curso de Organização Industrial fornece subsídios à análise da estrutura de mercado. Uma primeira 
segmentação diz respeito ao padrão de concorrência prevalecente, como segue. 
 Concorrência perfeita: inúmeros compradores e vendedores, todos eles tomadores de preço, 
 Concorrência monopolística: há múltiplos nichos de mercado definidos em função de 
diferenciações qualitativas do bem ou serviço; 
 Monopólio ou oligopólio: apenas um ofertante ou um pequeno grupo de ofertantes, 
respectivamente; 
 Monopsônio ou oligopsônio: apenas um demandante ou um pequeno grupo de demandantes, 
respectivamente; 
A análise de organização industrial permite aprofundar o entendimento da estrutura de mercado indo além 
dessa primeira classificação. Um aspecto crucial é o referente aos meios pelos quais a competição entre os 
concorrentes ocorre e as estratégias por eles empregadas para competir. Conforme visto para o caso do setor 
bancário, fusões e aquisições inesperadas podem fazer com que uma expectativa de rentabilidade de um 
projeto de expansão não se realize. 
Na concorrência monopolística as empresas procuram diferenciar seu produto junto aos consumidores para 
aumentar seu poder de mercado. Isso faz sentido, pois quanto maior for o número de empresas produzindo 
um produto equivalente, menor é o poder de mercado de cada uma delas. E isso pois produtos equivalentes 
são substitutos perfeitos da perspectiva dos consumidores, ou seja, uma unidade deles, não importa que 
empresa o produza, satisfaz igualmente o consumidor. Este é outro conceito importante de microeconomia 
que informa que, se uma das produtoras de produtos equivalentes aumentar o preço, por menor que seja o 
aumento, a quantidade por ela vendida cai para praticamente zero. E isso pois não há razão, da perspectiva 
do consumidor, para pagar mais caro por um produto para o qual há ampla oferta de equivalentes. Daí por 
que diferenciação de produtos está na lista dos fatores de competitividade de uma empresa no RAP Finem 
do BNDES. Ao diferenciar o produto adicionando alguma característica peculiar – como é o caso dos 
celulares e-phone da Apple ® - a empresa reduz o grau em que o mesmo pode ser substituído, tornando-se 
monopolista dentro de um segmento (nicho) de mercado definido pela peculiaridade de seu produto. O que a 
permite determinar o preço de venda, e portanto, realizar um maior faturamento6. Conforme Losekann e 
Gutierrez (2013), há diversos atributos em que os produtos podem diferir, “especificações técnicas, 
desempenho ou confiabilidade; durabilidade; ergonomia e design; estética ; custo de utilização do produto; 
imagem e marca; for mas de comercialização; assistência técnica e suporte ao usuário; financiamento aos 
usuários.” 
Os padrões concorrenciais em que há poder de mercado relevante, especialmente o monopólio e o 
oligopólio, apenas podem se perpetuar se houver fatores que atuem para desestimular a entrada de novas 
empresas no mercado. Fatores de tal natureza são denominados “barreiras à entrada” (Kupfer, 2013, cap.7 in 
Kupfer e Hasenclever, 2013). De fato, quanto maior o poder de mercado, maior é o lucro das empresas, e 
isso atrai novas empresas ou grupos detentores de capital, incentivando-os a abandonarem mercados 
concorrenciais, que rendem menor lucro para se estabelecerem em mercados em que gozariam de poder para 
fazer o preço. Porém, essa mudança não é vantajosa na presença de barreiras à entrada. Há diversas razões 
para a existência dessas barreiras. 
 
6 Para mais detalhes, ler Losekann e Gutierrez, cap.6 de in Kupfer e Hasenclever (2013). 
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Em geral as barreiras de entrada assumem a forma de vantagens de custo detidas pelas empresas que já 
operam no mercado. Essas empresas conseguem a operar a custos menores do que empresas interessadas em 
entrar no mercado. Isso pode ser por conta, por exemplo, do controle de fatores de produção, i.e., controle de 
fornecedores ou de fontes de matéria-prima, de fontes de crédito, de mão-de-obra qualificada, de 
conhecimento acumulado na realização da atividade, da detenção de patentes, etc (vide Kupfer, 2013, 7.5.1). 
Uma segunda razão é a de que, por razões tecnológicas, apenas é possível obter lucro positivo produzindo 
uma quantidade muito grande, grande o bastante para atender boa parte da demanda dos consumidores 
(Kupfer, 2013, 7.5.2)7. Isso quer dizer que a tecnologia disponível está sujeita a economias de escala. A 
entrada derrubaria o preço, fazendo com que todas as empresas operantes, inclusive a entrante, tenham lucro 
zero. Outra barreira é a necessidade de realizar um investimento muito grande para passar a operar no 
mercado. Por exemplo, uma empresa do setor de mídia televisiva precisa possuir antenas e estações de 
transmissões, que representam um investimento de grande porte. O próprio setor de saneamento básico e 
eletricidade são exemplos. Para finalizar, a diferenciação de produto, ao cativar consumidores, acaba sendo 
uma barreira à entrada, pois novas empresas teriam de “roubar” fiéis compradores de suas concorrentes. 
Enfim, a barreira à entrada é uma proteção ao lucro das empresas que já operam no mercado, e portanto, é 
fator de êxito a projetos de investimento destas empresas. A expectativa de erosão de tais barreiros, é, pois, 
fator de risco, e daí porque o BNDES requer uma análise crítica da perpetuação das barreiras ao conceder 
financiamentos. 
1.1.5 Inovação 
Uma fonte de ameaça à rentabilidade do projeto é o surgimento de uma tecnologia substituta (inovação 
devastadora), como no exemplo dado por Buarque (p.51),em que calculadoras eletrônicas surgiram no 
mercado substituindo as calculadoras eletromecânicas. Outros exemplos são comuns no cotidiano, como o 
acesso à informação via internet reduzindo a demanda por materiais impressos tais como jornais, revistas e 
catálogos de preços. Os projetos públicos também devem levar em conta novas tecnologias. Por exemplo, a 
ampliação do acesso a celulares com conexão de internet permite a descentralização da prestação de serviços 
de saúde com a ampliação do papel das clínicas públicas locais (Iwaya et al., 20128). É claro que um projeto 
de inovação é, quem o executar, um fator de aumento de rentabilidade, desde que tal inovação aumente a 
competitividade da empresa (algo que também deve ser demonstrado para obter crédito do Finem). 
1.1.6 Sumário 
Em suma, o êxito de um projeto de investimento privado depende da competitividade da empresa executora, 
i.e., da capacidade desta empresa para enfrentar e vencer as ameaças impostas pelas empresas concorrentes. 
Isso também vale para projetos públicos voltados à expansão da oferta de produtos e serviços que também 
são oferecidos pela iniciativa privada, como é o caso da educação e do transporte (considerando o caso 
brasileiro). A análise de um projeto, pois, deve averiguar a competitividade da entidade executora, bem 
como verificar se o projeto contribui para essa competitividade. O estudo da estrutura de mercado é crucial 
neste sentido e há pelo menos quatro atributos da estrutura a serem considerados, (i) o grau de concentração 
do mercado, um indicador de poder de mercado, (ii) o grau de diferenciação de produto, (iii) a existência de 
barreiras à entrada e (iv) a probabilidade de uma inovação devastadora. 
 
 
7 A condição exata, do ponto de vista da microeconomia, é a de que a escala mínima eficiente de produção (quantidade que 
minimiza o custo total médio) seja praticamente igual à quantidade demanda pelo conjunto de consumidores para um preço 
equivalente ao custo total médio mínimo (sendo este o preço de longo prazo no mercado). Ver Varian, cap.24. 
8 Iwaya, Leonardo H., et al. "Mobile health in emerging countries: A survey of research initiatives in Brazil." International 
journal of medical informatics 82.5 (2013): 283-298. 
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