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Processos criativos Alessandra Jungblut Introdução O processo criativo passa por etapas fundamentais para atingir os objetivos. Atualmente, nossa sociedade incentiva as novas ideias e está abrindo espaço para a valorização do profissio- nal criativo. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • interpretar os significados processuais criativos e aplicabilidades em áreas da vida pes- soal e profissional; • reconhecer áreas de abrangência e dificuldades para conservar a criatividade no âmbito do trabalho. 1 Senso crítico, neutralidade e objetividade na utilização da criatividade Os seres humanos são dotados da capacidade de interpretar o mundo por meio de suas experiências. Um aspecto de nossa vida intelectual é o senso crítico, “(...) um esforço para superar as primeiras impressões, o óbvio, o imediato, o visivelmente aparente, indo às raízes da realidade” (LIBANIO, 2006). É uma forma de liberdade e autonomia, terreno perfeito para que a criatividade se desenvolva. Ao entrarmos em contato com a realidade, temos a capacidade de interpretá-la, refletir sobre ela e fornecer respostas originais e importantes para nossa evolução. Sem o senso crítico, o homem seria simples expectador do mundo, sem questionar ou compartilhar pontos de vista e descober- tas e incapaz de julgar as próprias ideias. Figura 1 – “O Pensador”, de Rodin Fonte: NeydtStock/Shutterstock.com O processo criativo acontece em etapas interdependentes. Inicialmente, surgem os devaneios, o pensamento é ilimitado e as ideias fluem livremente, sem interferência – embora sejam influencia- das por experiências individuais, contexto cultural, conhecimento prévio e uma série de fatores. Na fase intermediária podemos fazer associações com conceitos existentes. Finalmente, as ideias são testadas e organizadas objetivamente visando um resultado satisfatório (DI NIZO, 2009). A fase inicial do processo criativo, momento em que surgem as ideias, é considerada a mais espontânea. Para Ostrower (2011), a espontaneidade não é independente de influências, mas implica em coerência consigo mesmo. A independência de influências tem relação com o termo neutralidade, característica defendida pelo método científico como essencial, apesar de sua apli- cação ser questionável (OLIVEIRA, 2008). Manter a neutralidade implica em desfazer-se de valores e julgamentos, o que não ocorre no processo criativo, mesmo em sua fase espontânea. FIQUE ATENTO! Criar implica em conhecimento, estudo, informação e pensamento independente (senso crítico). Mas envolve também a capacidade de deixar as ideias fluírem es- pontaneamente. A análise e o julgamento são as etapas finais. 2 A utilização da criatividade na sociedade (condicionamento mental) Segundo Lubart (2007), um dos primeiros modelos que descrevem o processo criativo foi desenvolvido por Wallas no início do século XX e compreende quatro etapas: Figura 2 – Etapas do processo criativo 1. Preparação 4.Verificação 3.Iluminação 2.Incubação Coleta de informação Análise inicial Trabalho consciente Descanso Jogo associativo inconsciente Esquecimento dos detalhes Experiência “Eureka” Emergência de ideias Exame crítico da ideia Conclusão dos detalhes Fonte: adaptado de LUBART, 2007. • Preparação – o indivíduo define o problema e busca o máximo de informações. É um trabalho consciente de aquisição de conhecimento; • Incubação – o indivíduo não pensa no problema e pode se concentrar em outras atividades ou simplesmente relaxar. Ocorre em nível inconsciente, no qual, o cérebro, faz associações de ideias; • Iluminação – quando surge uma ideia interessante, ela se torna consciente por meio de um insight; • Verificação – avaliação e desenvolvimento da ideia. Comunicar os resultados também é importante, segundo Alencar (2009). Uma ideia pode resolver um problema individual, porém torna-se socialmente relevante quando é compartilhada. Mesmo assim, nem sempre a sociedade é receptiva a novas descobertas, e por vezes, demora-se algum tempo até uma obra ser reconhecida. EXEMPLO Van Gogh produziu milhares de obras de arte em vida, porém jamais vendeu um único quadro. O reconhecimento de sua genialidade artística viria somente após sua morte (hoje um quadro de Van Gogh é valioso). Assim, a criatividade depende não apenas do indivíduo, mas, principalmente, de condições sociais e culturais: acesso livre a experiências culturais variadas, espaço para expressão e padrões menos rígidos para encorajar a criação. SAIBA MAIS! O filme “A Sociedade dos Poetas Mortos” mostra a história de um professor com métodos pouco ortodoxos e seus alunos. Ostrower (2011. p.102) aponta a questão do estilo como importante para caracterizar uma sociedade. “O estilo não se refere só a uma determinada terminologia. Abrange a maneira de pensar, de imaginar, de sonhar, de sentir, de se comover, abrange a maneira de agir e reagir (...). O estilo é forma de cultura”. Isso explica o porquê de determinadas ideias serem aceitas ou não em certo período ou local. Porém, o homem também age na sociedade e suas criações influenciam da mesma forma que são influenciadas. Na perspectiva comportamental, as respostas do ambiente a um determinado comporta- mento podem reforçá-lo ou suprimi-lo. Sobre o condicionamento operante, teoria desenvolvida por Skinner, Goodwin (2010) explica que o comportamento é modelado por suas consequências: se forem positivas, há maior chance de o comportamento ser repetido; se forem negativas, é provável que não se repita. Assim, comportamentos criativos em ambientes favoráveis são reforçados e motivam a sua continuidade. 3 Áreas de atuação ocupadas pelo profissional criativo (bloqueios emocionais) Hoje, a criatividade é uma característica extremamente valorizada. Em relação aos espaços ocupados pelo profissional criativo, Reis (2012) apresenta o conceito de cidades criativas. É na cidade que se desenvolvem as relações sociais, a cultura local, hábitos, atitudes e outras peculiari- dades. Pessoas criativas que estão interligadas formam cidades criativas. De acordo com o autor, quanto mais criativo for o ambiente da cidade, mais o talento de cada habitante e profissional será estimulado. E o aproveitamento do talento humano é essencial para o fomento da economia. Florida (2002 apud Reis, 2012) afirma que existe nas cidades uma classe de trabalhadores criativos que atuam com base no conhecimento. São cientistas, músicos, engenheiros, designers, advogados, profissionais de saúde, entre outros. A diferença está no objetivo do trabalho: há profis- sionais pagos para realizar tarefas predeterminadas e outros, cujo objetivo é criar. A criatividade pode ser utilizada em todos os setores, mas há circunstâncias, nas quais ela passa a ser um requisito. Essa exigência pode gerar o que chamamos de “bloqueios de criatividade”. Dell’Isola (2012) apresenta alguns padrões de pensamento que podem bloquear a expressão criativa: acreditar que há sempre uma resposta certa ao invés de gerar o máximo possível de ideias; usar regras no pro- cesso de geração de ideias; rejeitar ideias ambíguas (o indivíduo evita o pensamento divergente e pode bloquear sua criatividade); o medo de errar ou parecer tolo; e a crença de que não é capaz. Outro obstáculo é citado por Nicolau (2014): o julgamento. As críticas são importantes no processo de criação, para diferenciarmos se, o que produzimos, é bom ou ruim, porém, seu excesso pode ser prejudicial. A maioria das invenções é fruto de tentativas e erros, protótipos e ideias excêntricas. Figura 3 – O giroscópio, de Da Vinci Fonte: Mar.k/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! Um ambiente pode oferecer condições adequadas para estimular a criatividade, mas cabe ao indivíduo confiar em seu potencial, manter-se motivado e não termedo de errar. 4 A criatividade e o mercado de trabalho Com o crescimento das tecnologias, a criatividade surge como fator competitivo e diferencia- dor. A economia tem seu fomento em grande parte por empresas que valorizam a criatividade para gerar riqueza. E as pessoas são os atores principais desse mercado, ou seja, o capital intelectual e criativo responsável por produzir bens e serviços, que vão diferenciar essas empresas no mercado e gerar um retorno financeiro positivo. SAIBA MAIS! O relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) sobre a Economia Criativa analisa as políticas e aponta direções possíveis para o desenvolvimento criativo mundial. Acesse em: <http://unctad.org/ pt/docs/ditctab20103_pt.pdf>. Segundo Reis (2012), a abertura de mercados facilitou a circulação de bens e serviços cria- tivos no mundo. Porém, há a tendência de serem oferecidos produtos ou serviços semelhan- tes. Então, surge a valorização da criatividade como forma de diferenciação e competitividade. Além disso, há a necessidade de produzir, fazer parte de um contexto global e manter a cultura local, oferecendo algo único e atrativo. EXEMPLO O artesanato desenvolvido por uma pequena comunidade no interior do Brasil pode ser exportado, gerar riqueza e garantir o desenvolvimento daquela região. Figura 4 – Indústrias criativas Indústrias criativas Artes cênicas Música ao vivo, teatro, dança, ópera, circo, fantoches, etc. Audiovisuais Filme, televisão, rádio, demais radiodifusões. Novas mídias Software, videogames, conteúdo digital criativo.Serviços criativos Arquitetura publicidade, P&D criativo, cultural recreativo. Design Interiores, gráfico, moda joalheria, brinquedos. Editoras e mídia impressa Livros, imprensa e outras publicações. Artes visuais Pinturas, esculturas, fotografia e antiguidades. Locais culturais Sítios arqueológicos, museus, bibliotecas, exposições, etc. Expressões culturais tradicionais Artesanato, festivais e comemorações. Patrimônio Cultural Arte Mídia Criações Funcionais Fonte: adaptado de NAÇÕES UNIDAS, 2010. Segundo Peixoto e Ferreira (2011), temos a necessidade de ter mais profissionais criativos, que estejam adequados às novas tendências. As organizações ainda possuem pessoas que exe- cutam muito e criam pouco. A nova geração tem grande potencial criativo, faz atividades simultâ- neas, mas precisa ser estimulada a ter foco para adaptar-se ao crescente mercado. FIQUE ATENTO! O desenvolvimento da criatividade hoje é essencial, o ambiente é propício e a ne- cessidade de manter o foco na produção de novas ideias/produtos/serviços é im- portante para obter sucesso. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • identificar o senso crítico, a neutralidade e a objetividade na utilização da criatividade; • conhecer as etapas do processo criativo; • compreender a relação entre a criatividade e o mercado de trabalho; • aprender o conceito de cidades criativas. Referências NAÇÕES UNIDAS. Conferência das Nações Unidas sobre comércio e desenvolvimento - (UNCTAD). Relatório de economia criativa 2010: economia criativa uma, opção de desenvolvimento. 2010. Disponível em: <http://unctad.org/pt/docs/ditctab20103_pt.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2017. DELL’ ISOLA, Alberto. Mentes brilhantes. São Paulo: Universo dos Livros, 2012. DI NIZO, Renata. Foco e criatividade: fazer mais com menos. São Paulo: Summus, 2009. GOODWIN, C. James. História da psicologia moderna. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 2010. LIBANIO, João Batista. Introdução à vida intelectual. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006. NICOLAU, Marcos. Introdução à criatividade. 2. ed. João Pessoa: Ideia, 2014. OLIVEIRA, Marcos Barbosa de. Neutralidade da ciência, desencantamento do mundo e controle da natureza. Sci. stud., [online], v. 6, n. 1, p. 97-116, 2008. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 28. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. PEIXOTO, Clea Jatahy; FERREIRA, Larissa Torres. Criatividade e mercado de trabalho. FTDR: Revista Científica da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro, p. 47-8, nº 1, jul/dez 2011. REIS, Ana Carla Fonseca. Cidades criativas: da teoria à prática. São Paulo: Sesi Editora, 2012.
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