Buscar

títulos de crédito teoria geral

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

A TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO NO CÓDIGO 
CIVIL : perfeita conceituação de título de crédito : 
conceito construído à luz dos atributos clássicos 
LUIZ ANTONIO GUERRA 
Professor do Centro Universitário de Brasília – UNICEUB. 
 Advogado especialista em Direito Comercial-Empresarial. 
Consultor Jurídico de Companhias nacionais e multinacionais. 
 
1. Introdução 
O legislador brasileiro inseriu, equivocadamente, a Teoria 
Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil/2002. 
A nosso sentir, o legislador incluiu, indevidamente, no Código 
Civil, parte do conteúdo da matéria mercantil, especificamente o Direito 
de Empresa e a Teoria Geral dos Títulos de Crédito, sem a mínima 
justificativa pedagógica e científica. Agindo assim causou prejuízo ao 
progresso e à evolução do Direito Empresarial. 
Com todo o respeito à Comissão Revisora e Elaboradora do 
Código Civil, o Brasil, cometeu enorme equívoco ao copiar o modelo do 
Código Civil italiano, de 1942. O Código Italiano foi aprovado sem a 
anuência do grande comercialista, Cesare Vivante - então o maior 
defensor da unificação das obrigações civis e mercantis na Itália e toda a 
Europa Central -, que instado a elaborar o código daquele país, recusou-
se, por não mais acreditar na viabilidade da unificação. 
Vivante convenceu-se do equívoco e declarou, em 1919, 
publicamente, que os ramos do Direito Privado, àquela época, já haviam 
se consolidado e não mais seria possível a sua unificação num único corpo 
legislativo. 
O legislador nacional deixou de fora do Código Civil todos os 
demais institutos mercantis, os quais continuarão a ser regidos pelo 
combalido Código Comercial e pela legislação extravagante. Embora a 
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
ciência mercantil tenha sofrido prejuízo estrutural, com a chegada do 
Código Civil, em 2002, é certo que o Direito Comercial manteve a sua 
autonomia legislativa, acadêmica e substantiva. 
Comparando os dois principais sistemas jurídicos sul-
americanos, representados por Argentina e Brasil, diferentemente, na 
Argentina, o Código de Comércio, de 1889, embora tenha sofrido 
substanciais alterações ao longo de sua vigência, os nativos das terras de 
Dalmácio Velez Sarsfield não cogitaram de inserir matéria mercantil no 
Código Civil, mesmo tenha sido a Argentina, pioneira nos territórios das 
Américas, a adotar o regime da unificação das obrigações. 
Lá, Dalmácio Velez Sarsfield, rigorosamente, ao utilizar-se, por 
empréstimo, do Projeto e Esboço de Teixeira de Freitas, de 1855/89, 
limitou-se a utilizar apenas as idéias da unificação das obrigações, 
garantindo, no entanto, plena autonomia legislativa aos dois ramos do 
Direito Privado. 
Na Argentina, o Código de Comércio regula os aspectos gerais 
– a teoria geral dos títulos, enquanto que todos os títulos em espécie, a 
exemplo das letras de cambio y pagares estão em legislação especial, 
como apontam os arts. 589 a 738, no Título 10: De los títulos cambiários: 
letra de cambio y factura de crédito. Os demais institutos estão no Código 
de Comércio ou na legislação extravagante, como ocorre com a Ley de 
Concursos e Quiebras – Ley 24.552. 
O Brasil, por opção, embora equivocada, quis ser diferente. 
Seguiu, após 26 anos de tramitação de projeto de Código Civil no 
Congresso, o questionável modelo italiano. Em outras palavras, inseriu 
parte do conteúdo de matéria comercial no Código Civil. A suposta 
novidade apresenta-se pífia, porquanto, a um só tempo, não unificou o 
Direito Privado, tampouco retirou a autonomia substancial, acadêmica e 
formal ou legislativa do Direito Comercial. A reforma como ocorrida não se 
2
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
justificou, tecnicamente; ao revés, trouxe complicação didática ao estudo 
e ensino do Direito Empresarial. 
Em substância, a reforma é ruim, pois manteve tipos 
societários absolutamente em desuso, a exemplo, das sociedades em 
nome coletivo, em comandita simples e comandita por ações. Manteve, 
sem melhores aperfeiçoamentos, a criticada sociedade em conta de 
participação e, ainda, burocratizou, sem necessidade, a sociedade 
limitada, emprestando-lhe tratamento formal, sem qualquer diferenciação 
entre os empreendedores, submetendo todos os agentes, 
independentemente do porte, ao mesmo tratamento formal e burocrático. 
Em relação à Teoria Geral dos Títulos de Crédito nada de novo 
acrescentou, salvo a perfeita definição de título de créditos, com apoio no 
conceito formulado por César Vivante. 
Sabe-se que a aprovação Código Civil deu-se por acordos de 
lideranças no Congresso Nacional, tudo por conta do então interesse 
político de sua aprovação; daí as críticas. Dormitou por longos anos no 
Congresso e, depois, no apagar das luzes, foi aprovado, em regime de 
urgência, quando a grande parte dos institutos mercantis não mais 
condizia com a realidade empresarial. 
Prova disso é que tramitava, à época da aprovação do Código 
Civil, no Ministério da Justiça, Anteprojeto de Lei visando a Reforma da 
então Sociedade de Responsabilidade Limitada. O referido anteprojeto 
tinha por finalidade atualizar o regime jurídico da principal sociedade – a 
Sociedade de Responsabilidade Limitada. 
O Anteprojeto visava a reforma do Decreto 3.708/19, de modo 
que pudesse expressar a expectativa do mercado empresarial, com a 
inclusão no Direito Societário Brasileiro, de novidades fundamentais ao 
3
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
desenvolvimento econômico do País1, como se vê da Exposição de 
Motivos: 
II – As sociedades de responsabilidade limitada não foram, 
no Brasil, produto quer de necessidade premente do 
comércio e da indústria, quer de amadurecidos estudos, daí 
porque, conforme enfatizado pelo Professor Egberto Lacerda 
Teixeira, nasceu imperfeita. Falta ao Decreto 3.708, de 
1919, a penetração doutrinária indispensável à exata 
configuração do novo instituto. Aparecendo no cenário 
jurídico, como adendo aos dispositivos do Código Comercial 
de 1850, disciplinadores das sociedades mercantis já 
existentes, as sociedades por quotas viram-se privadas de 
estruturação própria, autônoma, como era de desejar-se. A 
insuficiência do texto legal tem dado margem a impulsos 
interpretativos contraditórios. Ora, prevalecem as 
interpretações demasiadamente rígidas dos que subordinam 
a vida e o desenvolvimento das sociedades por quotas ao 
padrão estreito das sociedades solidárias ou em nome 
coletivo, ora, ao contrário, no intuito de libertá-las do jugo 
personalista das sociedades solidárias, juristas e tribunais, 
esquecidos do particularismo da nova instituição, 
acorrentam-se ao império de regras e soluções próprias ao 
regime do anonimato (Das Sociedades por Quotas de 
Responsabilidade Limitada, São Paulo, 1956, p. 8 e 9). 
Porque “nasceu imperfeita”, sob a égide de uma concepção 
excessivamente individualista e liberal, e, sobretudo, por 
força da extraordinária evolução experimentada pela 
economia nacional e internacional nos últimos oitenta anos, 
impõe-se, como urgente e necessária, uma profunda 
reformulação no tratamento legal do instituto, inspirada na 
doutrina pátria e alienígena, no profícuo labor da 
jurisprudência nacional e nas inovações das mais modernas 
legislações estrangeiras, inclusive para criar, no Direito 
positivo brasileiro, atendendo a exigências de ordem prática, 
a empresa individualde responsabilidade limitada. III – para 
sistematizar a disciplina da matéria, o Anteprojeto alicerça-
se em três postulados. O primeiro traduz um fato social, 
econômico e histórico indiscutível: a sociedade de 
responsabilidade limitada é a forma típica, quiçá a única 
atualmente, da empresa de pequeno e médio porte, 
constituída e explorada por poucos sócios, as mais das vezes 
4
 
1 http://www.mj.gov.br/sal/ltda.htm - Secretaria de Assuntos Legislativos. “Anteprojeto 
de Lei de Sociedades de Responsabilidade Limitada. EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS I – A 
Comissão, nomeada pelo Exmo. Sr. Ministro da Justiça pela Portaria n 145, de 
30.03.1999, cujas atribuições foram ampliadas pela Portaria 492, de 15.09.1999, 
elaborou o presente Anteprojeto de Lei de Sociedades de Responsabilidade Limitada, sob 
a presidência do Professor Arnoldo Wald, sendo relator o Professor Jorge Lobo e 
membros o Ministro Cesar Asfor Rocha e os Professores Alfredo Lamy Filho, Egberto 
Lacerda Teixeira e Waldírio Bulgarelli (..).” 
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
com vínculos familiares ou afetivos, com absoluto 
predomínio de um ou de alguns deles, quer nas assembléias 
gerais, ostentando a qualidade de sócio controlador, quer na 
gestão dos negócios sociais, ao exercer as funções de 
administrador, o que levou os comercialistas a ela se 
referirem como sendo, muitas das vezes, uma sociedade 
intuitu personae, em que predomina a affectio societatis, ou 
uma sociedade de pessoas e capitais. O segundo decorre da 
natureza jurídica do ato constitutivo da sociedade de 
responsabilidade limitada, do seu caráter intuitu personae e 
da affectio societatis que une os sócios: a regulamentação 
legal deve ser flexível, facultando-se às partes disciplinar as 
relações “interna corporis” de acordo com o princípio da 
autonomia da vontade e adequar as normas contratuais às 
suas necessidades e conveniências específicas, sem, todavia, 
prescindir de um mínimo de formalismo, com o escopo de 
criar um regime jurídico-legal suficientemente abrangente 
que possa prevenir ou por termo a dúvidas e controvérsias, 
sobretudo quanto, v.g., aos direitos e deveres dos sócios e 
aos deveres e responsabilidades dos controlador e dos 
administradores, reforçando, destarte, a tutela dos direitos 
dos minoritários e dos credores da sociedade. O terceiro é 
conseqüência lógica do primeiro postulado: a sociedade de 
responsabilidade limitada é uma sociedade fechada, em que, 
v.g., (a) a cessão e transferência de quotas é, normalmente, 
restringida, inclusive na sucessão “causa mortis” ou quando 
possa vir a resultar de processo de execução forçada, (b) a 
circulação das quotas se aperfeiçoa mediante cessão de 
direitos através de alteração contratual e (c) as deliberações 
das assembléias gerais e as demonstrações financeiras não 
são publicadas, o que, de novo, exige que se regule e se 
intensifique, de maneira eficaz, a tutela dos minoritários, em 
particular o direito de recesso, e se criem óbices ao arbítrio 
da maioria, em especial quanto à possibilidade de exclusão 
de sócio, que só é admissível quando fundada em violação 
de dever legal. IV – O Anteprojeto está dividido em onze 
capítulos, tratando primeiro da “constituição da sociedade de 
responsabilidade limitada” na seguinte ordem: a) a forma e 
os requisitos preliminares de constituição; b) a finalidade e 
as características da sociedade; c) as cláusulas essenciais e 
facultativas do contrato social; e d) o arquivamento e o 
registro do ato constitutivo e demais alterações. O capítulo 
primeiro deixa, desde logo, evidência: 1º) o caráter 
contratual da sociedade e a possibilidade de criação da 
empresa individual; e 2º) a flexibilidade do regime legal, ao 
possibilitar aos sócios a utilização de cláusulas facultativas, 
entre as quais podem incluir-se, entre outras, previsões por 
mútuo consenso sobre: a) caução, penhora, usufruto, 
fideicomisso e alienação fiduciária em garantia de quotas; b) 
direitos especiais de veto e de voto; c) prestações 
suplementares e acessórias; d) exclusão de sócio; e e) 
solução por arbitragem dos conflitos e interesses entre a 
5
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
sociedade e os sócios ou entre estes. O capítulo segundo 
refere-se aos sócios, definindo: a) a obrigação de realizar o 
valor das quotas subscritas ou adquiridas; b) a constituição 
em mora e as suas conseqüências; c) os deveres e 
responsabilidades do sócio controlador; e d) os direitos, 
deveres e responsabilidades dos sócios. O capítulo segundo 
deixa, ainda, patente que: 1º) o sócio responde, 
individualmente, pelo valor das quotas subscritas ou 
adquiridas e, solidariamente, pela integralização do capital 
social; 2º) o sócio é obrigado a realizar, no modo e prazo 
estabelecidos no contrato social, o valor das quotas 
subscritas ou adquiridas, sob pena de sofrer processo de 
execução forçada ou ser excluído da sociedade; 3º) o sócio 
controlador deve exercer o poder de controle e o direito de 
voto no interesse da sociedade; e 4º) os sócios têm direitos, 
mas, por igual, deveres perante a sociedade, os demais 
sócios e terceiros. O capítulo segundo fixa regras para 
formação e preservação do capital social, inspirado nos 
princípios da realidade e intangibilidade, tornando sócios e 
administradores solidária e ilimitadamente responsáveis pela 
exata avaliação dos bens conferidos ao capital social. O 
capítulo quarto regula as quotas, possibilitando, se os sócios 
desejarem, a instituição de quotas preferenciais, que a 
prática demonstrou ser útil em determinadas situações, 
sobretudo as decorrentes de joint venture, tratando, ainda, 
das seguintes matérias: a) a cessão e transferência para a 
sociedade, os demais sócios e terceiros; b) a 
responsabilidade solidária do cedente; e c) a penhora de 
quotas. Os capítulos quinto, sétimo e oitavo estabelecem 
regras sobre a assembléia geral, o conselho fiscal, o acordo 
de quotistas e a dissolução, liquidação e extinção da 
sociedade, deixando evidenciado o caráter subsidiário da Lei 
das Sociedades por Ações. O capítulo sexto, ao cuidar do 
modo de administrar a sociedade: 1º) faculta a gestão e a 
representação a um ou mais administradores, pessoa física 
ou jurídica, nacional ou estrangeira; 2º) institui o dever de 
diligência, para nortear o exercício das funções do 
administrador; 3º) prevê que, no silêncio do contrato social, 
a sociedade só se obriga pelos atos regulares de gestão 
praticados pelo administrador; 4º) deixa evidenciado que, 
arquivado e registrado o contrato social, as limitações e 
restrições às atribuições e poderes dos administradores 
aplicam-se erga omnes, ressalvados os direitos de terceiros 
de boa-fé; e 5º) explicita as hipóteses de responsabilidade 
civil do administrador. O capítulo nono cria a empresa 
individual de responsabilidade limitada, dispondo sobre: a) a 
sua constituição originária ou derivada, conforme seja 
constituída por ato do sócio único ou decorra de 
transformação da sociedade de responsabilidade limitada em 
individual, em virtude da redução do número de sócios a 
apenas um; b) a forma e os efeitos da publicidade do ato 
constitutivo; c) a designação da sociedade e a imperiosa 
6
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
necessidade de ficar evidenciada a sua condição de 
unipessoal; d) a formação do capital social e os limites de 
responsabilidade do sócio único; e e) o cuidado que deve ter 
o sócio único de registrarum livro próprio as decisões 
sociais, sob pena de desconsideração da personalidade 
jurídica. O capítulo décimo elenca as disposições gerais. 
Novidade no Direito Societário Brasileiro viria com a 
constituição da empresa individual de responsabilidade limitada, com o 
destacamento de parcela do patrimônio do sócio único, como apontava o 
abortado art. 44: 
O sócio único, ao constituir a empresa individual, destacará 
de seu patrimônio bens para a formação do capital social, 
destinando-os à consecução do objeto social. § 2º. 
Integralizado o capital social, somente responderá o 
patrimônio da empresa individual pelas obrigações e dívidas 
sociais. 
Esclareça-se que jamais ocorreu, com a chegada do Código 
Civil de 2002, a unificação do Direito Privado. Equivoca-se quem pensa 
assim. Ocorreu apenas a unificação das obrigações e foi incluído parte do 
conteúdo mercantil no mencionado diploma legal. É por isso que 
criticamos o Código Civil, porque bastaria unificar as obrigações, sem, 
contudo, avançar para incluir matéria empresarial. 
No que tange especificamente à teoria geral dos títulos de 
crédito, a sua inclusão no Código Civil também não foi acertada. O mundo 
globalizado e o surgimento da informática vêm exigindo novas relações 
jurídicas e a partir delas novos conceitos e princípios são e serão formados 
e consolidados nos próximos anos, nesta primeira parte do novo século e 
milênio, com transações on line. 
Porém, nem tudo merece críticas! O ponto principal de 
destaque e elogio é o conceito de título de crédito adotado pelo Código 
Civil, no art. 887, após 152 anos de indefinição no Direito Cambiário 
Brasileiro (Código Comercial Brasileiro – Lei 556, de 25/06/1850). 
7
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
Com precisão técnica, o Código Civil, no art. 887, adotou o 
conceito de Cesare Vivante, ao afirmar que: “O título de crédito, 
documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele 
contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.” 
É óbvio que os estudiosos da Ciência Jurídica são contrários às 
definições e conceituações. Todavia, didaticamente, a conceituação de 
título de crédito, no art. 887, apresenta-se importante, do ponto de vista 
científico-didático, porquanto o instituto foi estudado no Brasil há 152 
anos, sem conceituação legal. 
A natureza jurídica do instituto, firmada através dos atributos 
clássicos, foi a responsável pela conceituação. Assim, embora repudiando 
as definições legais, somos obrigados a reconhecer que a conceituação de 
título de crédito, lançada no art. 887 do CC, apresenta-se cientificamente 
perfeita, o que é raro. A definição, no entanto, é formulada à luz das 
características, contemplando, sem exceção, os princípios norteadores, o 
que está a merecer aplausos. 
Feliz conceituação adotada pelo legislador, posto que 
presentes, sem exceção, todas as três principais características dos títulos 
de crédito, as quais distinguem esse documento de qualquer outro. 
Os atributos clássicos da cartularidade ou incorporação, 
autonomia das obrigações cambiárias e a literalidade estão 
mantidos no conceito de título de crédito. Tais princípios são 
responsáveis pela estrutura do instituto e foram fielmente adotados. 
2. Da Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil 
Como dito acima, no Brasil, a Teoria Geral dos Títulos de 
Crédito somente agora é inserida, verdadeiramente, em um código, no 
Código Civil. 
8
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
Portugal, nossa pátria-mãe, fez aportar no Brasil as idéias do 
Direito Europeu, principalmente sob a influência do Código Napoleônico, 
de 1807, trazendo-nos os títulos de crédito, cuja origem remonta à Idade 
Media, na Itália. 
No Brasil, de lá para cá, o Direito Cambiário deu os primeiros 
passos graças à legislação do Reino, o que possibilitou, mais tarde, em 
1850, no segundo período do Império, a chegada do Código Comercial. 
A história do Direito Cambiário Brasileiro tem origem no 
Código Comercial Imperial, de 1850, nos artigos 354 a 427, no Título XVI 
- Das Letras, Notas Promissórias e Créditos Mercantis. A parte primeira, 
que cuidava dos títulos, foi expressamente revogada pelo Decreto n° 
2044, de 31/12/1908. 
Posteriormente, o Brasil, em 1930, aprovou a Lei Uniforme 
sobre Letras de Câmbio e Notas Promissórias. Porém, somente em 1966 o 
Brasil ratificou o referido tratado internacional, incorporando ao seu 
ordenamento jurídico a Lei Uniforme de Genebra sobre Letras de Câmbio 
e Notas Promissórias. A partir de janeiro daquele ano é que passamos a 
ter legislação internacional uniformizadora. 
O Código Comercial, a Lei Cambiária e a Lei Uniforme de 
Genebra foram os diplomas responsáveis pela criação da Teoria Geral dos 
Títulos de Crédito, no Brasil. 
Interessante registrar que a teoria geral foi criada sob a 
inspiração da letra de câmbio, porque, além de ser cambial por 
excelência, foi e continua sendo o título de maior complexidade e 
expressão internacional. 
O Direito Cambiário, hoje, no Brasil, está distribuído em 
legislação esparsa, sendo certo que cada título possui sua lei de regência. 
Os títulos apresentam características e requisitos de validade específicos; 
9
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
daí a necessidade de consultar a legislação extravagante para a correta 
identificação de sua natureza jurídica. 
O Título VIII, do Livro I, da Parte Especial do Código 
Civil/2002, inserido no Direito das Obrigações, obedecendo o critério de 
unificação das obrigações, passou a regular o instituto dos Títulos de 
Crédito, isto é, a Teoria Geral dos Títulos de Crédito. 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito, no Código Civil, são 
preceitos amplos, aplicáveis subsidiariamente, porquanto os títulos, dadas 
as suas características peculiares, variáveis conforme a sua natureza 
jurídica, possuem legislação especial, como afirmou Fiúza: 
As normas relativas aos títulos de crédito constantes do 
novo Código Civil são regras gerais que estabelecem a 
disciplina da matéria, não revogando as diversas leis e 
convenções internacionais adotadas pelo Brasil que regulam 
esse assunto. A legislação brasileira anterior ao Código Civil 
de 2002 sobre títulos de crédito é específica para cada tipo 
de título. O novo Código Civil, nesta parte, também é 
inovador por conter normas gerais que definem os títulos de 
crédito e enunciam suas características básicas.2 
Aqui o Código Civil merece críticas. Ora, evidentemente, se o 
legislador fez inserir a Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil é 
porque a finalidade era emprestar normas gerais ao instituto, servindo de 
base ao seu estudo. 
Sucede que, no caso particular dos Títulos de Crédito, se, 
reconhecidamente, a matéria é especializada e que cada título tem 
natureza específica, com requisitos próprios e legislação especial, por 
óbvio que restará inaplicável ou pouco aplicável a Teoria Geral dos Títulos 
de Crédito, salvo a sua utilização subsidiária. 
10
 
Forçoso é concluir que o legislador cochilou ao lançar a 
matéria no Código Civil. A letra da lei é natimorta, porque somente na 
omissão de lei especial é que o intérprete de utilizará da Teoria Geral, 
 
2 FIÚZA, Ricardo. Novo Código Civil Brasileiro.A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
como aponta o Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-
se os títulos de crédito pelo disposto neste Código. 
3. O Perfeito Conceito de Título de Crédito – Artigo 887 do 
Código Civil 
O art. 887 do Código Civil definiu O título de crédito, 
documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele 
contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. 
Reputamos tal conceito como de grande importância para o 
estudo do Direito Cambiário Brasileiro. O art. 887 é feliz na conceituação, 
porquanto conseguiu reunir, sem exceção, todos os atributos clássicos dos 
títulos de crédito, o que garantiu excelência na definição do instituto. 
Infere-se que no art. 887 estão presentes todas as 
características essenciais ou atributos clássicos dos títulos de crédito. Os 
traços especiais distinguem os títulos de crédito de todos e quaisquer 
outros títulos ou papéis, residindo no próprio conceito a natureza jurídica 
do instituto. 
São atributos clássicos e, portanto, comuns a todos e 
quaisquer títulos de crédito: cartularidade ou incorporação, literalidade, 
autonomia das obrigações cambiárias, formalismo e legalidade. 
Tais atributos ou características estão presentes em todos os 
títulos de crédito, independentemente de sua classificação. 
Os atributos da incorporação, literalidade e autonomia são 
reconhecidamente clássicos por toda a doutrina comercialista, no Brasil e 
no exterior. 
O art. 887 reuniu as referidas características quando afirma 
que título de crédito é documento necessário ao exercício do direito. Aqui 
indica o atributo da cartularidade ou incorporação, isto é, o direito de 
crédito incorpora-se no documento, na cártula; não há direito de crédito, 
11
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
em sede de Direito Cambiário, se o crédito não estiver materializado ou 
incorporado no documento - que é o próprio título ou cártula. 
Com o título, o credor poderá exercer o seu direito de crédito, 
daí por que o legislador indicou o exercício do direito literal. Aqui reside o 
atributo da literalidade, ou seja, vale tudo aquilo que estiver lançado ou 
grafado no título; é a exata dimensão da obrigação cartular através do 
conteúdo indicado no título; nem mais e nem menos, mas exatamente 
aquilo que estiver lançado no corpo do título de crédito, o que garante a 
validade do título mesmo se posteriormente completado ou preenchido 
pelo portador, como previsto e autorizado pela Lei Cambiária Nacional e 
Lei Uniforme de Genebra. 
O direito contido no título é autônomo. Por isso é que o 
preceito legal dispõe que o crédito nele, título, contido é autônomo. Tal 
previsão garantiu a plena autonomia da obrigação cambiária, isto é3, os 
participantes da cadeia cambiária não podem se opor ao pagamento da 
obrigação ao credor, alegando direito pessoal ou exceções pessoais ao 
portador do título ou a outro coobrigado, salvo a ocorrência de má-fé, 
vício de forma da cártula ou, ainda, prescrição da ação cambiária;4 é a 
12
 
3 Lei Cambiária Nacional – Decreto 2.044, de 31.12.1908: 
Art. 3º. Esses requisitos são considerados lançados ao tempo da emissão da letra. A 
prova em contrário será admitida no caso de má-fé do portador. 
Art. 4º. Presume-se mandato ao portador para inserir a data e o lugar do saque, na letra 
que não os contiver. 
Art. 39. O possuidor é considerado legítimo proprietário da letra ao portador e da letra 
endossada em branco. 
Lei Uniforme de Genebra – Decreto 57.663, de 24.01.1966: 
Art. 10 – Se uma letra incompleta no momento de ser passada tiver sido completada 
contrariamente aos acordos realizados, não pode a inobservância desses acordos ser 
motivo de oposição ao portador, salvo se este tiver adquirido a letra de má-fé ou, 
adquirindo-a, tenha cometido uma falta grave. 
4 Lei Cambiária Nacional – Decreto 2.044, de 31.12.1908: 
Art. 2º Não será letra de câmbio o escrito a que faltar qualquer dos requisitos acima 
enumerados. 
Art. 3º Esses requisitos são considerados lançados ao temo da emissão da letra. A prova 
em contrário será admitida no caso de má-fé do portador. 
Art.52. A ação cambial, contra o sacador, aceitante e respectivos avalistas, prescreve em 
5 (cinco) anos. 
Art. 54, § 4º Não será nota promissória o escrito ao qual faltar qualquer dos requisitos 
acima enumerados. Os requisitos essenciais são considerados lançados ao tempo da 
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
consagração aos princípios da vinculação e solidariedade e da 
inoponibilidade das exceções pessoais. 
Com efeito, o título somente produz efeito quando preencha os 
requisitos da lei. Aqui o legislador, em boa hora, reforçou os atributos do 
formalismo e legalidade ou tipicidade. 
O primeiro - formalismo, o título para surtir efeito como tal, 
obrigatoriamente, deve preencher os requisitos de validade, requisitos 
esses previstos na lei de regência de cada título, os quais emprestam 
natureza jurídica à cártula; a ausência dos requisitos implica 
descaracterização da qualidade de título de crédito, passando o 
documento a ser qualquer outro papel, menos título de crédito. 
13
 
emissão da nota promissória. No caso de má-fé do portador, será admitida prova em 
contrário. 
Lei Uniforme de Genebra – Decreto 57.663, de 24.01.1966: 
Art. 2º - O escrito a que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não 
produzirá efeito como letra, salvo nos casos determinados nas alíneas seguintes: 
A letra em que se não indique a época do pagamento entende-se pagável à vista. 
Na falta de indicação especial, o lugar designado ao lado do nome do sacado considera-
se como sendo o lugar do pagamento, e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do 
sacado. 
A letra sem indicação do lugar onde foi passada considera-se como tendo-o sido no lugar 
designado, ao lado do nome do sacador. 
Art. 70 – Todas as ações contra o aceitante relativas a letras prescrevem em 3 (três) 
anos a contar do seu vencimento. 
As ações ao portador contra os endossantes e contra o sacador prescrevem num ano, a 
contar da data do protesto feito em tempo útil, ou da data do vencimento, se se trata de 
letra que contenha cláusula “sem despesas”. 
As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem em 6 
(seis) meses a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele próprio 
foi acionado. 
Art. 71 – A interrupção da prescrição só produz efeito em relação à pessoa para quem a 
interrupção foi feita. 
Art. 76 – O título em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não 
produzirá efeito como nota promissória, salvo nos casos determinados das alíneas 
seguintes: 
A nota promissória em que se não indique a época do pagamento será considerada à 
vista. 
Na falta de indicação especial, o lugar onde o título foi passado considera-se como sendo 
o lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do subscritor da nota 
promissória. 
A nota promissória que não contenha indicação do lugar onde foi passada considera-se 
como tendo-o sido no lugar designado ao lado do nome do subscritor. 
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito: conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
Já o segundo – legalidade ou tipicidade - diz respeito ao 
surgimento e à criação, não material, mas jurídica/legislativa dos títulos 
de crédito; os títulos são emitidos por vontade das partes, porém, a rigor, 
a criação decorre de lei; os títulos de crédito são criados por lei e assim os 
requisitos de validade, essenciais ou não, estão previstos na lei de 
regência; a ausência dos requisitos essenciais, ao tempo da cobrança, 
permite ao devedor opor-se ao pagamento, por vício de forma, salvo se 
houver oportuno preenchimento. 
Outros atributos dos títulos de crédito, a exemplo da abstração 
e da independência, não são aplicáveis a todos os títulos, por conta da 
respectiva natureza jurídica da cártula. 
O atributo da abstração diz respeito a origem da cártula - faz 
surgir títulos causais e acausais, conforme a sua vinculação ou não à 
causa de dever, ao negócio subjacente, a relação jurídica material anterior 
à emissão do título. O atributo da abstração, no desdobramento do título 
acausal, revela-se como o grau maior da autonomia das obrigações 
cambiárias, porquanto o título é emitido sem qualquer vinculação à causa 
que lhe deu origem. 
O atributo da abstração é da essência dos títulos acausais. Por 
ele não se vincula o título à sua causa material, antecedente à criação ou 
emissão. Contudo, o atributo da abstração sofre decotamento quando se 
está diante de título causal. Nesta hipótese, investiga-se a causa material 
antecedente é o título somente poderá ser emitido e exigido se houver 
comprovada causa de dever. 
Já a independência desdobra-se em títulos dependentes e 
independentes de outro documento que lhe complete. A idéia da 
dependência reside no fato de que, para alguns títulos, exige-se prévia 
existência de outro documento que o complemente, de modo que possa 
garantir validade e eficácia à cártula. 
14
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
Com o atributo da independência, o título somente terá 
validade e eficácia se restar completado por outro documento. A 
independência é atributo específico e de rara aplicabilidade no Direito 
Cambiário, porquanto poucos são os títulos que dependem de outro 
documento para o seu aperfeiçoamento. 
Tendo em vista a utilização relativa ou restrita da abstração e 
da independência, o legislador deixou de incluir tais atributos no conceito 
contemplado no art. 887 do Código Civil. O legislador prestigiou somente 
os atributos clássicos, isto é, aqueles aplicáveis a todo e qualquer título de 
crédito. 
A omissão justifica-se plenamente. Sendo o art. 887 de 
comando genérico, conceitual, jamais poderia o legislador contemplar 
atributos especiais, de utilização restrita, eis que, como dito, os atributos 
da abstração e da independência não são aplicáveis a todos os títulos de 
crédito. 
O conceito previsto no art. 887, embora sem correspondência 
anterior no ordenamento jurídico nacional, em verdade, é a incorporação 
da definição dada pelo ilustre professor italiano Cesare Vivante, aliás, 
responsável por influenciar os ordenamentos jurídicos europeus, no 
campo dos títulos de crédito. 
Já o art. 888, complementando a idéia sobre o conceito de 
título de crédito, aponta que A omissão de qualquer requisito legal, que 
tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a 
invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem. 
O conteúdo do artigo revela-se inovador. Não há registro de 
tal tratamento na legislação esparsa que cuida dos títulos de crédito. 
Assim, é certo que a inviabilidade do documento como título garante ao 
portador o direito de reaver o seu crédito na via ordinária, com ampla 
discussão acerca do negócio jurídico que deu origem a emissão do título. 
15
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
Como já mencionado nos articulados anteriores, quando 
cuidamos dos comentários ao art. 887, dissemos que o atributo clássico 
do formalismo exige que o título apresente requisitos essenciais e não 
essenciais de validade, de forma, como previsto na legislação de regência 
de cada um dos títulos, respeitando-se a natureza jurídica. 
Assim, cada título, não por livre vontade ou manifestação das 
partes, mas por determinação legal, obrigatoriamente, deve apresentar-se 
com os requisitos de validade, com os requisitos extrínsecos. 
A ausência dos requisitos essenciais implica descaracterização 
do documento como título de crédito, passando a cártula a ter a natureza 
de qualquer outro documento, menos letra, como afirma textualmente a 
Lei Cambiária Nacional ao tratar dos requisitos de validade da letra de 
câmbio e da nota promissória. 
A igual modo, a Lei Uniforme de Genebra, cuidando 
respectivamente da letra de câmbio e da nota promissória, também, 
expressamente, nega validade ao título em que faltar os requisitos 
essenciais.5
A Lei Uniforme de Genebra faz menção aos requisitos de 
validade essenciais, daí as exceções contempladas salvo nos casos 
determinados nas alíneas seguintes. As alíneas seguintes dizem respeito 
aos requisitos não essenciais. 
Já o art. 888 do CC/2002 definitivamente consagrou o melhor 
entendimento no sentido de que a falta de requisito de validade prejudica 
o título, retirando-lhe a característica da executividade, não sendo mais 
possível a sua cobrança, via processo de execução. A inovação contida no 
art. 888 reside no fato de que a ausência de requisitos, embora invalide o 
título de crédito, não implica invalidade do negócio jurídico que lhe deu 
origem. 
16
 
5 Cf. nota de rodapé n. 142. 
 
 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito no Código Civil : perfeita conceituação de título de 
crédito : conceito construído à luz dos atributos clássicos 
 
Até a chegada do CC/2002 o assunto encontrava-se sem 
disciplinamento, posto que a previsão era específica quanto à invalidação 
da cártula, como título de crédito, porém silenciava-se no que tange ao 
negócio jurídico decorrente da relação material subjacente. 
Feliz a redação do art. 888 porque garantiu o atributo do 
formalismo. Emprestou segurança a relação jurídica entabulada entre as 
partes. Na hipótese de ausência de requisitos essenciais, de forma, de 
validade do título de crédito, nada impede que as partes resolvam a 
relação jurídica material, na via própria, através do processo de 
conhecimento, nos ritos ordinário ou sumário. 
O título que não preencher os requisitos de validade não se 
revestirá de executividade. Nesse caso, o portador do título, através do 
processo de execução, terá de provar a sua condição de credor. Esta via 
abre ao suposto devedor o direito de discutir amplamente a relação 
jurídica obrigacional, antes cambiária, agora comum. Tem-se, assim, em 
favor do suposto devedor a garantia constitucional do devido processo 
legal, com o contraditório e a ampla defesa, com os recursos dela 
decorrentes. 
4. Conclusão 
A Teoria Geral dos Títulos de Crédito inserida no Código Civil 
contempla normas de caráter geral, aplicáveis apenas supletiva e 
subsidiariamente, quando for omissa a lei de regência do título de crédito. 
Na omissão ou lacuna da lei especial, de regência do título em 
espécie, autorizado estará o intérprete a utilizar-se das normas gerais 
previstas na Teoria Geral dos Títulos de Crédito. 
Do estudo realizado, resta evidente que a única inovação e 
contribuição efetivapara o aperfeiçoamento do Direito Cambiário, no 
Código Civil, no estudo da Teoria Geral, é a perfeita conceituação de título 
de crédito no art. 88. 
17

Outros materiais