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Trabalho Social com as Famílias_02

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AN02FREV001/REV 4.0 
 20 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 21 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 22 
 
MÓDULO II 
 
 
2 AS CONFIGURAÇÕES DA FAMÍLIA E AS TRANSFORMAÇÕES DA 
CONTEMPORANEIDADE 
 
 
A família hoje é fruto de um processo histórico e para entendê-la é preciso 
reportar aos seus antigos modelos. Por meio desta análise será possível observar a 
dinâmica das relações familiares. 
Caracterizada pelo patriarcalismo na Grécia e na Roma antiga, ela era 
subordinada ao pai de família. Fica claro nesta época a servidão em que a família 
vivia, e o poder que o pai de família detinha sobre todos, podendo inclusive decidir 
pelo direito de vida ou morte dos mesmos. Com a mentalidade dominada pela 
religiosidade acreditava-se que o estilo de vida de cada um era decorrente da 
vontade divina. 
Havia dois tipos de família: Nobre e Camponesa. A nobre era composta 
pelos senhores donos de terra, e a camponesa era composta pelos agricultores. O 
século XVIII é marcado pelo surgimento da família Nuclear: Pai, Mãe e Filhos; em 
que o pai era o provedor e a mãe a cuidadora. 
Com o crescimento do capitalismo industrial no século XIX, ocorreram 
mudanças de valores, hábitos e costumes da família nuclear. Estas mudanças se 
acentuam ainda mais no século XX, e por fim se consolidam após a I Guerra 
Mundial, quando as mulheres entram no mercado de trabalho e conquistam vários 
direitos. 
No Brasil o ingresso da mulher no mercado de trabalho, deu-se a partir da 
década de 60, quando o país apresentava um especial crescimento econômico. Na 
sociedade brasileira, predominava a família nuclear, porém em razão das mudanças 
citadas anteriormente, a mulher cada vez mais tem ocupado cargos remunerados, e 
muitas vezes elas tem sido as únicas provedoras das suas famílias. As relações 
conjugais encontram-se cada vez mais delicadas e o número de filhos passou a ser 
reduzido. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 23 
Dessa maneira, observa-se principalmente na área urbana o aparecimento 
de novos modelos de agregação familiar, ao lado da família nuclear hoje com o 
poder repartido entre os cônjuges, há também a decorrência da união de pais e 
filhos separados de outro casamento que constitui uma nova família composta por 
membros da união anterior. 
Em Roma, a concepção de família já não era mais a mesma. Para o direito, 
a família já não é mais entendida como um grupo de pessoas ligadas pelo sangue, 
ou por estarem sujeitas a uma mesma autoridade, mas era confundida com o 
patrimônio. 
Dessa forma, a noção de família tem variado através dos tempos. Nos dias 
atuais a família tem sido pensada em um sentido mais abrangente, não como 
pessoas ligadas pelo sangue, mas também por outros que convivem no mesmo lar. 
No Brasil, a família é amparada e protegida por meio de artigos da 
Constituição Federal e do Código Civil, criados com o objetivo de resguardar esta 
instituição. 
Atingido pelas transformações societárias, que provocaram alterações na 
divisão sociotécnica do trabalho, ocorreram, no Brasil, mudanças significativas nas 
relações familiares. Por meio da revolução industrial, ocorreu uma separação entre o 
trabalho e a família. 
Uma nova divisão de trabalho é estabelecida, não apenas entre homens e 
mulheres, mas também entre jovens e adultos, alterando as relações de poder 
intrafamiliar. 
A família contemporânea brasileira neste contexto é permeada por inúmeros 
desafios, e várias mazelas fazem parte do seu cotidiano, tais como a violência, o 
desemprego, a pobreza, as drogas e outras complicações. 
Percebeu-se então que em diversas áreas, a intervenção de profissionais 
junto à família é permeada por inúmeros desafios. Tratar dessa temática é 
incursionar por questões complexas e por realidades reconhecidamente em 
transformações. 
Antes do Movimento de Reconceituação, os Assistentes Sociais tinham uma 
maior atuação junto às comunidades e aos movimentos sociais, e a família foi 
trabalhada de maneira muito superficial. Depois da Reconceituação, o Serviço Social 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 24 
começa a se abrir para várias tendências (funcionalista, fenomenológica, dialética), 
sobretudo da análise crítica das correntes marxistas e socialistas. 
O Serviço Social mantém um relacionamento com a questão social desde o 
início da profissão. No Brasil, este relacionamento tem sido historicamente 
delimitado, em virtude das conjunturas políticas e socioeconômicas do país, tendo 
em vista as perspectivas teóricas e ideológicas orientadoras da intervenção 
profissional. 
O reconhecimento da importância da família no contexto da vida social está 
explícito no Artigo 226° da Constituição Federal, e se reafirma nas legislações 
específicas de Assistência Social – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), 
Estatuto do Idoso e na própria Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). 
Não só para o Serviço Social, mas para todas as profissões, o tema família 
não é desconhecido e intervém-se nesta dinâmica a todo instante. Porém, poucos 
profissionais são preparados para trabalhar as relações familiares e as mudanças 
ocorridas na estrutura familiar ao longo da história. 
Na maioria das vezes, o processo de intervenção com as famílias é 
efetivado apenas no âmbito do atendimento direto, não sendo vislumbradas outras 
possibilidades de se trabalhar com famílias. É importante que o profissional adote 
uma postura socioeducativa, de trocas numa relação horizontal, tendo em mente o 
respeito à individualidade de cada família, procurando não fazer julgamento de 
valores. 
O Assistente Social é um profissional preocupado com a acolhida, como 
diálogo, com a possibilidade de melhorar a qualidade de vida do usuário, além de 
tornar-se aquele que reforça o papel de facilitador das relações de um grupo familiar. 
Um dos grandes conflitos enfrentados pelo Assistente Social dentro do 
projeto ético-político hegemônico é trabalhar demandas, pleitos, exigências 
imediatas, a dor, o sofrimento, a falta de tudo, a eminência da morte, da perda do 
outro, enfim a falta de condições de trabalho, as condições de vida e o estilo sem 
perder a perspectiva de médio e longo prazo. 
O Assistente Social tem enfrentado muitos desafios, tanto no âmbito privado 
como no público. Há uma busca constante por intervenções que possam responder 
às demandas que lhe são apresentadas, num contexto marcado pelo sucateamento 
das políticas públicas e diante do avanço do capitalismo. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 25 
O Assistente Social por meio do seu trabalho nas diversas áreas pode 
fortalecer a luta emancipatória dos usuários, por meio de sua escolha teórico-
metodológica e eticopolítica. 
Dessa forma, para uma intervenção social crítica e propositiva o Assistente 
Social desenvolve metodologias de trabalho com famílias por meio do 
aprimoramento de conhecimentos técnicos, habilidades e saberes que expressam 
um reconhecimentosocial do trabalho profissional. 
Portanto, o aparato de instrumentos e técnicas, quando articulado a um 
referencial teórico, garante a análise e a interpretação da realidade, bem como uma 
atuação coerente e comprometida para a consecução do projeto eticopolítico da 
profissão. 
 
 
2.1 DIFERENTES OLHARES SOBRE A FAMÍLIA 
 
 
Os grupos familiares existentes em nosso cotidiano podem ser entendidos 
como frutos do processo histórico, em que os padrões, costumes e necessidades da 
sociedade, gestados ao longo do tempo, ajudaram a moldá-los, assim como os 
papéis de cada membro da família. Esta dinâmica das famílias ocorre de modo ativo 
de geração para geração, em movimentos gradativos. 
Para entender as famílias, é necessário retroceder aos modelos mais 
antigos em que se explicitavam as relações entre pais e filhos nos seus diferentes 
papéis, bem como as diversas relações entre seus componentes. 
Conforme Sarti (2005): 
 
Pensar a família como uma realidade que se constitui pelo discurso sobre si 
própria, internalizado pelos sujeitos, é uma forma de buscar uma definição 
que não se antecipe à sua própria realidade, mas que nos permita pensar 
como ela se constrói, constrói sua noção de si, supondo evidentemente que 
isto se faz em cultura, dentro, portanto, dos parâmetros coletivos do tempo 
e do espaço em que vivemos, que ordenam as relações de parentesco 
(entre irmãos, entre pais e filhos, entre marido e mulher). Sabemos que não 
há realidade humana exterior à cultura, uma vez que os seres humanos se 
constituem em cultura, portanto, simbolicamente (SARTI, 2005, p. 27). 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 26 
Na Grécia e na Roma antiga, a família era caracterizada pelo patriarcalismo, 
todas as pessoas viviam sob o teto do pai da família e eram subordinadas a ele. O 
pai tinha todo poder sobre seus dependentes, incluindo sua mulher, escravos, 
parentes e filhos, os quais lhe deviam respeito e obediência. O poder sobre os seus 
filhos, era o mesmo que tinha sobre os seus escravos, podendo-lhes conceder a 
vida ou a morte, os favores ou os rigores da lei. A justiça que o pai aplicava no 
âmbito doméstico era de sua alçada exclusiva, não restando aos que se julgassem 
prejudicados qualquer recurso. 
Este poder que o “pater familias” possuía era exercido desde o primeiro dia 
de nascimento de seu rebento, já que o pai tinha o direito de aceitar ou rejeitar o 
recém-nascido, chegando a ponto de poder vender seu próprio filho como escravo 
ou matá-lo, se julgasse oportuno. 
Observa-se a influência que o escravismo, base da vida econômica e social 
das antigas sociedades grega e romana, exerceu sobre a constituição do modelo 
familiar em que o pai era a autoridade máxima da casa, detendo em suas mãos um 
poder descomunal e sobre seus dependentes, o poder de aceitar ou rejeitar, 
conservar ou vender, preservar a vida ou determinar morte de seus filhos e 
dependentes. 
Mais tarde, já na era cristã, os poderes do “pater familias” no Império 
Romano foram limitados com a proibição da pena de morte sobre os filhos. Mesmo 
assim, neste modelo familiar da antiguidade clássica os filhos e mesmo a mulher, 
igual a todos dependentes, continuavam sendo propriedade do chefe da família e 
considerados como coisas sua, indivíduos esvaziados do sentido de humanidade 
por força das leis e dos costumes então vigentes. 
Após a invasão do Império Romano pelas tribos germânicas, no século XII, 
teve início o período denominado Idade Média apresentando mudanças 
fundamentais nas sociedades. No início deste período, as sociedades eram 
essencialmente rurais, dependentes da agricultura e com uma estratificação social 
rígida e estática. 
A mentalidade do homem medieval passou a ser regida pela sua fé religiosa, 
crendo-se que o modelo social em que viviam, era decorrente da vontade divina e/ou 
um reflexo do céu para o qual deviam preparar-se nesta vida terrena. A igreja 
 
 
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 27 
Católica tinha o domínio e o monopólio sobre as mentes de milhões de indivíduos 
dos mais diversos países. 
Nesta época, a família também experimenta tal mudança, que, de modo 
geral passou a se falar de dois tipos: a família nobre e família camponesa. 
A família nobre era formada por senhores de terras que cuidavam em 
preparar-se para a guerra e em manter a ordem em seus domínios. Valorizavam-se, 
assim, no desenvolvimento da educação de seus filhos, a ideia de hierarquia, os 
valores de obediência e lealdade a seus superiores, o preparo nas armas com o 
objetivo de, um dia, torná-los cavaleiros. 
Já a família camponesa tinha sua vida em torno da produção agrícola da 
qual participavam todos seus componentes. Os membros desta família tinham 
poucos momentos de intimidade, pois grande parte do tempo era preenchida no 
desenvolvimento de atividades, tanto para os adultos quanto para as crianças, no 
espaço da comunidade. 
Nos séculos XIII, XIV e XV, justamente a partir do período final da Idade 
Média e começo da Moderna, mais especificamente na época do Renascimento, a 
criança ganha um súbito valor para a sociedade, tida como um indivíduo 
diferenciado do adulto, com especificidades próprias. 
Conforme afirma Aries (1981, p. 123): 
 
Na Idade Média esse sentimento não existia. Quando a criança não 
precisava mais do apoio constante da mãe ou da ama, ela ingressava na 
vida adulta, isto é, passava a conviver com os adultos em suas reuniões e 
festas. Essa infância muito curta fazia com que as crianças ao completarem 
cinco ou sete anos já ingressassem no mundo dos adultos sem 
absolutamente nenhuma transição. Ela era considerada um adulto em 
pequeno tamanho, pois executava as mesmas atividades dos mais velhos. 
Era como se a criança pequena não existisse. A infância, nesta época, era 
vista como um estado de transição para a vida adulta. O indivíduo só 
passava a existir quando podia se misturar e participar da vida adulta. Não 
se dispensava um tratamento especial para as crianças, o que tornava sua 
sobrevivência difícil. Segundo Moliére, grande gênio do teatro, 
contemporâneo daquela época, a criança muito pequena, demasiado frágil 
ainda para se misturar à vida dos adultos, “não contava”, porque podia 
desaparecer. A morte de crianças era encarada com naturalidade, “perdi 
dois filhos pequenos, não sem tristeza, mais sem desespero”, afirmava 
Montaigne. Todas as crianças, a partir dos sete anos de idade, 
independente de sua condição social, eram colocadas em famílias 
estranhas para aprenderem os serviços domésticos. Os trabalhos 
domésticos não eram considerados degradantes e constituíam uma forma 
comum de educação tanto para os ricos como para os pobres. O primeiro 
sentimento que surge em relação à infância é a “paparicação”. Ele surge no 
meio familiar, na companhia das crianças pequenas. As pessoas não 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 28 
hesitam mais em admitir o prazer provocado pelas maneiras das crianças 
pequenas, o prazer que sentem em paparicá-las. Com o tempo esse 
hábito expandiu-se e não só mais entre os bem-nascidos, mas, também, já 
junto ao povo ele pôde ser observado. A criança por sua ingenuidade, 
gentileza e graça, se torna uma fonte de distração e de relaxamento para os 
adultos. 
 
Dessa forma, por meio desta valorização da infância como um período 
diferenciado da fase adulta, começa-se desenhar, ainda que palidamente, algo como 
a tradicional família nuclear – pai, mãe e filhos. Deve-se lembrar, entretanto, que 
elementos como o patriarcalismo e a tradição familiar (pai, mãe e filhos), ainda são 
muito presentes na família desta época, apesar das inúmeras modificações já em 
curso. 
No final do século XVI a criança já tem consolidada sua posição de “ser” 
diferente. Esta mudançaé relevante se levarmos em conta que em grande parte da 
Idade Média a criança era considerada como um adulto em miniatura a quem era 
requerido o desempenho de diversas obrigações diárias, similares às dos adultos. 
De acordo com Aries (1981, p. 34): 
 
A noção de criança bem educada não existia no século XVI, formou-se no 
início do século XVII através de visões reformadoras da elite de pensadores 
e moralistas que ocupavam funções eclesiásticas ou governamentais. Com 
essa preocupação a criança bem educada seria preservada das rudezas e 
da imoralidade, que se tornariam traços específicos das camadas populares 
e dos moleques. 
 
É em meados do século XVII que surge a preocupação com a educação 
formal dos filhos, principalmente no seio da burguesia, já acostumada a conviver 
numa família menor, compostas por um número limitado de componentes: os pais 
rodeados por seus filhos, residindo numa mesma casa. 
Aries (1981, p. 66) afirma que: 
 
No início do século XVII, foram multiplicadas as escolas com a finalidade de 
aproximá-las das famílias, impedindo desse modo, o afastamento dos pais-
criança. Neste século também foi criado para a criança um traje especial 
que as distinguia dos adultos. 
 
Foi no século XVIII que se completou o surgimento da família denominada 
nuclear, composta por pai, mãe e filhos. Esse modelo típico veio a se consolidar em 
fins deste século, com a multiplicação dos colégios, representando a liberação da 
mãe da obrigatoriedade de ser educadora exclusiva dos seus inúmeros filhos. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 29 
A família nuclear tem no pai o seu provedor e na mãe a fonte dos cuidados 
do lar. Nela podemos ver nitidamente a separação entre o espaço público e o 
privado, e assim pouco se envolve com as atividades e eventos do mundo externo. 
Os filhos tornaram-se o centro dos cuidados e preocupações dos pais, tornando-se 
impossível perdê-los ou substituí-los sem passar por um grande sentimento de dor. 
Apesar da consolidação da família nuclear ter ocorrido no século XVIII, foi no 
século XIX, auge do capitalismo industrial, que ela encontrou seu apogeu como 
modelo familiar dominante, principalmente devido à multiplicação da classe média 
nas sociedades europeias e das facilidades domésticas advindas da 
industrialização. Todas estas mudanças tiveram influência nos modelos familiares 
vigentes: ao lado do crescimento do modelo nuclear, demonstrando o surgimento da 
família proletária. 
Ao lado das mudanças econômicas e sociais causadas pelo crescimento do 
capitalismo industrial do século XIX, destaca-se a mudança de valores, hábitos e 
comportamentos advindos da industrialização crescente tais como: a liberdade 
individual, a autossatisfação e o consumismo materialista. Observa-se a exaltação 
do indivíduo como o portador de inúmeros desejos lícitos, os quais, a produção de 
bens em escala deveria satisfazer. 
Este indivíduo não era mais simplesmente o cidadão, súdito, nobre, plebeu 
ou burguês, mas ganhou a denominação genérica de consumidor, voraz senhor de 
inúmeras coisas. 
A família nuclear sofreu ao longo das décadas do conturbado século XX, 
mudanças significativas, notadamente em relação ao papel da mulher no seio da 
família. Isto é, após a Primeira Guerra Mundial as mulheres na Europa começaram a 
ingressar na vida profissional, conquistando direitos sociais e políticos como, por 
exemplo, o direito ao voto. 
Conforme afirma Falcão (2003, p. 80) a inserção da mulher no mercado de 
trabalho: 
 
Iniciou com as I e II Guerras Mundiais em que as mulheres tiveram que 
assumir a posição dos homens no mercado de trabalho. Com a 
consolidação do sistema capitalista no século XIX, algumas leis passaram a 
beneficiar as mulheres. Mesmo com estas conquistas algumas explorações 
continuaram a existir. Através da evolução dos tempos modernos as 
mulheres conquistaram seu espaço. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 30 
No Brasil, o ingresso das mulheres no mercado de trabalho deu-se a partir, 
principalmente, da década de 60, momento de especial crescimento econômico do 
país e de ampliação dos desejos de consumo da classe média urbana. 
Nas últimas décadas do século XX, a sociedade brasileira após anos de 
ditadura experimentou uma reforma política. Da mesma maneira, a sociedade, em 
seus vários níveis, tornou-se mais plural, e como não poderia deixar de ser, desde 
então, a família tem experimentado uma pluralidade de modelos coexistindo 
simultaneamente, no campo e na cidade. 
Em nossa sociedade brasileira, no alvorecer do século XXI, encontramos o 
predomínio da família nuclear, com novas características. Ela não é mais patrimônio 
exclusivo da burguesia, uma vez que este modelo difundiu-se entre outras camadas 
sociais. As relações dos membros da família nuclear encontram-se bastante 
alteradas, por conta de fatores externos como a instabilidade econômica dos tempos 
de globalização e o desemprego estrutural. 
Cada vez mais a mulher tem buscado ocupações remuneradas fora de casa 
como forma de prover o sustento da família. As crianças que têm seus pais 
trabalhando as duas jornadas de trabalho contam com pouco tempo de 
escolaridade, ingressando cedo no mercado de trabalho. 
As uniões conjugais encontram-se mais instáveis, o número de divórcios e 
separações judiciais tem aumentado ano a ano, o que tem causado um aumento 
significativo no número de famílias chefiadas por mulheres, e estas têm que conciliar 
a maternidade com a carreira profissional. Ao lado disso, encontra-se o número de 
filhos que passou a ser reduzido, com significativa queda da taxa de fertilidade na 
área urbana. Em outros casos, o genitor passa a assumir as tarefas domésticas e o 
cuidado com os filhos, papel antes desempenhado exclusivamente pelas mulheres. 
Conforme afirma Berquó (1989, p. 98): 
 
A desagregação dos laços matrimoniais parece caracterizar atualmente 
amplos setores tanto dos países industrializados como dos 
subdesenvolvidos e dos em desenvolvimento. Estudos realizados em 
alguns países da América Latina apontam mudanças significativas no 
sistema de reprodução humana detectáveis pela crescente queda da 
fecundidade, pelo aumento do número de divórcios, de uniões consensuais 
e de famílias monoparentais. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 31 
Dessa maneira observa-se, principalmente na área urbana, o aparecimento 
de novos modelos de agregação familiar: ao lado da família nuclear que hoje conta 
com o poder de chefia repartido entre os cônjuges, tendo em vista o trabalho fora de 
casa, houve o aumento do número de famílias chefiadas por mulheres e a 
diminuição do número de filhos. Há ainda, outro elemento: o surgimento de famílias 
em decorrência da união de pais e mães separados de outros casamentos, que 
levando os filhos tidos na antiga família, para a constituição de uma nova, já 
composta por membros da união anterior. 
 
 
2.2 FAMÍLIA BRASILEIRA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
A sociedade contemporânea há algum tempo vem sofrendo profundas 
mudanças, trazendo significativas repercussões nas relações de trabalho e de 
produção. Na era da globalização da economia, das inovações tecnológicas 
(robótica, automação, microeletrônica), tem sido preponderante a flexibilização dos 
processos de trabalho, determinando novas modalidades de produção, gestão e 
consumo da força de trabalho. 
O que se presencia no momento é uma crise estrutural do capital, que teve 
início nos anos 70 e que perdura até nossos dias. Assim, o capital, em busca de 
respostas à sua crise, deflagra um processo de reestruturação produtiva, trazendo 
profundas mudanças no mundo do trabalho. 
O Brasil é profundamente atingido pelas transformações originadas pelaglobalização dos mercados e o avanço do Neoliberalismo. Na atualidade, o país vive 
um momento de redefinição, porque os rearranjos políticos internacionais 
aprofundaram ainda mais as diferenças, por um lado a concentração da riqueza e 
por outro o empobrecimento da população, afetando principalmente o mundo do 
trabalho, apresentando altos índices de desemprego e novos modelos de 
organização e estruturação, causando a flexibilidade e a precariedade nos vínculos 
de trabalho. Reduzindo cada vez mais as responsabilidades do Estado sobre a 
seguridade social e os direitos sociais da população. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 32 
Ao se falar em família neste começo de século, evidenciam-se as mudanças 
nos padrões de relacionamentos, que se iniciam com a perda do sentido da tradição. 
Conforme afirma Sarti (2005, p. 108): 
 
Vivemos numa sociedade onde a tradição vem sendo abandonada como 
em nenhuma outra época da História. Assim, o amor, o casamento, a 
família, a sexualidade e o trabalho, antes vividos a partir de papéis 
preestabelecidos, passam a ser concebidos como parte de um projeto em 
que a individualidade conta decisivamente e adquire cada vez maior 
importância social. 
 
As transformações societárias provocaram alterações na divisão 
sociotécnica do trabalho, modificando as relações familiares. Com isso, a família 
deixou de ser uma “unidade de produção” e passou, a se constituir uma “unidade de 
consumo”. 
Conforme afirma Netto (1996, p. 46): 
 
Parece assente que conjunturas (e a palavra não se refere apenas a lapsos 
temporais de curta duração) de rápidas e intensas transformações 
societárias constituem o solo privilegiado para o processamento de 
alterações profissionais – seja o redimensionamento de profissões já 
consolidadas, seja o surgimento de novas atividades e ramos profissionais. 
 
O mundo do trabalho e o mundo familiar foram separados pela revolução 
industrial e uma das transformações mais significativas na vida familiar é a crescente 
participação feminina no mercado de trabalho. 
O fato de as mulheres brasileiras tornarem-se contribuintes e parceiras no 
orçamento doméstico, tem-lhe conferido uma nova posição na estrutura familiar e 
alterado os vínculos que as unem ao marido e aos filhos e redimensionando a 
divisão sexual do trabalho. 
Diante dessa nova estrutura familiar, partes dos trabalhos domésticos são 
distribuídos entre esposa, marido e filhos, sendo que o marido e os filhos agora 
realizam tarefas que antes eram realizadas apenas pelas mulheres. Como os 
ganhos são insatisfatórios para a manutenção da família, o adolescente tem 
ingressado cada vez mais cedo no mercado de trabalho, abandonando assim a 
escola para reforçar a renda familiar, contrariando o que preconiza o Estatuto da 
Criança e do Adolescente no seu Artigo 60: “É proibido qualquer trabalho a menores 
de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz”. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 33 
Conforme afirma Sarti (2005): 
 
Vivemos uma época como nenhuma outra, em que a mais naturalizada de 
todas as esferas sociais, a família, além de sofrer importantes abalos 
internos tem sido alvo de marcantes interferências externas. Estas 
dificultam sustentar a ideologia que associa a família à ideia de natureza, ao 
evidenciarem que os acontecimentos a ela ligados vão além de respostas 
biológicas universais às necessidades humanas, mas configuram diferentes 
respostas sociais e culturais, disponíveis a homens e mulheres em 
contextos históricos específicos (SARTI, 2005. p.21). 
 
As mudanças mais significativas referentes à família brasileira estão 
relacionadas ao impacto do desenvolvimento tecnológico da sociedade como um 
todo. As intervenções feitas por meio da tecnologia sobre a reprodução humana 
colocam em destaque o caráter natural atribuído à família e quebra a sua relação 
com a natureza, já que a ideia de como a família deveria ser constituída estava 
ancorada numa visão que a considerava uma unidade biológica constituída segundo 
as “leis da natureza”. 
São mudanças difíceis em razão das experiências vividas e simbolizadas na 
família por meio de dispositivos jurídicos, médicos, psicológicos, religiosos e 
pedagógicos, e também disciplinares existentes na sociedade. 
A família contemporânea brasileira é permeada por inúmeros desafios, 
dentre eles se destacam a violência intra e extrafamiliar, desemprego, pobreza, 
drogas e outras situações que atingem a família. As mudanças sociais ocorridas ao 
longo da segunda metade do último século redefiniram progressivamente os laços 
familiares. 
Tratar de temáticas da família contemporânea é incursionar por questões 
complexas e por realidades reconhecidamente em transformação. Percebemos 
então, que entender a constituição familiar requer uma observação atenta e um olhar 
crítico para as diversas questões que perpassam a família, a comunidade, e a 
realidade social na qual está inserida. São necessários vários aspectos para se 
compreender o objeto em questão. 
Conforme afirma Heloisa Szymanski (2002), a família tem sido vista como 
um sistema linguístico construído, no qual significado e compreensão são social e 
intersubjetivamente construídos em que a mudança é a evolução de novos 
significados por meio do diálogo. 
 
 
 
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 34 
 
O mundo familiar mostra-se numa vibrante variedade de formas de 
organização, com crenças, valores e práticas desenvolvidas na busca de 
soluções para as vicissitudes que a vida vai trazendo. Desconsiderar isso é 
ter a vã pretensão de colocar essa multiplicidade de manifestações sob a 
camisa-de-força de uma única forma de emocionar, interpretar, comunicar 
(SZYMANSKI, 2002, p. 56). 
 
Sabe-se que é necessário discutir a família como a união de um grupo social 
que pode ocorrer das mais variadas formas possíveis. É por meio destas novas 
formulações familiares que conflitos são despertados e preconceitos aflorados. Uma 
família que não atenda aos padrões estabelecidos por determinado grupo de 
pessoas, pode fazer com que este respectivo grupo tenha uma atitude de 
reprovação, ou seja, reprova-se aquilo que não é entendido. 
De acordo com Frederico Poley apud Goldani (1993, p. 72): 
 
Dado que as famílias não só respondem às transformações sociais, 
econômicas e demográficas, mas também geram, tem sido difícil para os 
estudiosos da família brasileira interpretarem as mudanças nas estruturas 
familiares no tempo. A visão dicotômica – entre o tradicional e o moderno – 
que toma em conta modelos de família elaborados com base nas classes 
dominantes (rurais) e das classes médias (urbanas) já não satisfaz. Não só 
por suas limitações como modelos interpretativos associados a uma 
concepção de família e de tipologias de famílias, mas também porque 
obscurece a realidade da maioria das famílias brasileiras que pertencem às 
chamadas camadas populares. 
 
A família brasileira em suas diversas formas está ligada às diferentes 
estruturas da sociedade. Apresenta relações diversificadas que demonstram as 
várias formas de estrutura familiar que o homem é capaz de desenvolver. 
Caracteriza-se também por divergências sociais de naturezas diversas como: 
violação dos direitos humanos, exploração e abuso, barreiras econômicas, sociais e 
culturais, que atrapalham o desenvolvimento dos seus membros. 
 
 
2.3 FAMÍLIA E O SERVIÇO SOCIAL 
 
 
Analisando a história do Serviço Social vê-se que o trabalho com famílias 
sempre foi uma preocupação do profissional. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 35 
De acordo com Silva (1987): 
 
Já Mary Richmond, em seu Diagnóstico Social, mostrava a importância de 
se considerar o cliente em suas múltiplas relações sociais, em especialcom 
sua família de origem, considerando este, ‘muitas vezes’ o único caminho 
para obter resultados completos e duradouros. Enfatizava também a 
necessidade de proceder a um estudo da família, de suas características 
básicas, de sua importância na gênese e no desenvolvimento dos 
problemas apresentados pelo cliente e das interferências do meio social 
sobre esta família caracterizada como ‘unidade integradora’. A partir dessa 
época, toda a literatura do Serviço Social reafirma a necessidade de não se 
isolar o indivíduo de seu contexto familiar (SILVA, 1987, p. 84). 
 
A família era tomada como unidade a partir das disfunções sociais 
apresentadas. A proposta de intervenção baseava-se no ajustamento social, e este 
foi o enfoque dado ao universo familiar, para ajustar a família aos princípios 
propostos pelas classes sociais dominantes e manter assim a ordem social vigente. 
Nessa perspectiva, o Estado foi fundamental, apresentando o papel de trabalhar as 
famílias, especialmente as oriundas das classes empobrecidas. 
A ação do Estado e de muitos profissionais que estavam ao seu serviço 
partia do pressuposto de que algumas famílias eram incapazes de educar as 
crianças e os adolescentes, em função de sua estrutura considerada inadequada 
para permitir o bom desenvolvimento destes. 
Até o Movimento de Reconceituação, a questão da família foi tratada de 
maneira relativa, em função da atuação junto a comunidades e movimentos sociais. 
A partir de 1965, o Serviço Social passou pelo Movimento de Reconceituação, que 
se desdobrou em várias tendências; dentre elas, sobretudo, a modernização 
(funcionalista, fenomenológica e eclética) das correntes marxistas e socialistas de 
vários matizes. 
O Serviço Social tem seu surgimento marcado pela consolidação do sistema 
capitalista no momento de sua manifestação como monopólios, momento este 
marcado pelo afloramento da “questão social”. 
Entendida aqui como afirma Iamamoto (2007): 
 
[...] conjunto das desigualdades sociais engendradas na sociedade 
capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua 
gênese no caráter coletivo da produção contraposto à apropriação privada 
da própria atividade humana – o trabalho –, das condições necessárias à 
sua realização, assim como de seus frutos. É indissociável da emergência 
do ‘trabalhador livre’, que depende da venda de sua força de trabalho como 
 
 
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 36 
meio de satisfação de suas necessidades vitais. A questão social expressa, 
portanto disparidades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, 
mediatizadas por relações de gênero, características étnico-raciais e 
formações regionais, colocando e, causa as relações entre amplos 
segmentos da sociedade cível e o poder estatal (IAMAMOTO, 2007, p.16-
17). 
 
A “questão social”, objeto do Serviço Social tem uma relação com o Serviço 
Social desde sua gênese como profissão, ela sustenta sua base de intervenção. 
Todavia, não se coloca de imediato nesta relação, pois “as conexões genéticas do 
Serviço Social profissional não se entretecem com a questão social, mas com suas 
peculiaridades no âmbito da sociedade burguesa fundada na organização 
monopólica” (NETTO, 2000, p. 18). 
Essa forma de conceber o Serviço Social é entender que o mesmo se 
constitui a partir de um momento histórico determinado, assim, a profissão é 
determinada sócio-historicamente, a mesma se constrói sustentada pela 
contradição. Seu significado social se dá, segundo Iamamoto (1992), na vinculação 
concreta que esta profissão vai ter na sociedade capitalista, ou seja, na contradição 
entre quem paga e quem demanda seus serviços. 
É importante destacar que a profissão não se dá de forma aleatória. O que 
ocorre é um reordenamento interno do capitalismo evidenciando um espaço 
concreto para institucionalização da profissão. 
Dessa forma, entende-se que esse processo constitui-se em um processo 
de ruptura, conforme analisa Netto (1992), em razão da condição de assalariamento 
que este profissional assume, tornando-se este momento fundamental para que 
posteriormente este sujeito se compreenda enquanto membro da classe 
trabalhadora. Isso provoca um avanço na construção da categoria profissional, ou 
seja, na sua trajetória histórica. 
Os assistentes sociais no final da década de 70 e início dos anos 80 
construíram aliança com as classes trabalhadoras, tentando dar à prática uma nova 
direção. Esse posicionamento permitiu perceber a família no interior da questão 
mais ampla, contraditória e complexa do conflito de classes, sujeitando o 
entendimento da realidade social a todas as determinações, condicionamentos e 
influências decorrentes do novo enfoque. 
Mas essa mudança de percepção não atingiu as políticas sociais, que 
deveriam voltar para o atendimento familiar. Essa trajetória histórica delineada a 
 
 
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 37 
partir das lutas sociais desenvolvidas em torno das questões da família, não 
favoreceu a construção de uma política específica de atenção, na época. 
Para Takashima (1994, p. 65), a família brasileira sempre foi tratada por 
meio de políticas sociais de atendimento centradas nas figuras da “maternidade e 
infância”, “menor abandonado; delinquente”, “menino de rua”, “excepcional” e 
“idoso”. Para a autora, o problema disso é que todos esses foram vistos de forma 
isolada e descontextualizada até mesmo de seus valores socioculturais. 
Embora não exista política específica de atenção à família esta se insere, 
ainda que de forma fragmentada, nas distintas políticas públicas de áreas como 
saúde, educação e habitação, por exemplo, por meio dos diferentes segmentos que 
compõem, tais como mulher, criança, adolescente e idoso. 
Estas transformações societárias vêm implicando, não só a emergência de 
novas demandas para o Serviço Social, como na necessidade premente de 
redimensionar a formação profissional a partir de procedimentos investigativos que 
tomem como objeto as mudanças do espaço ocupacional do Assistente Social. 
Esta contradição, que dá materialidade ao significado social da profissão e 
marca sua identidade profissional, é concebida como parte integrante de sua 
organização como profissão, isto é “não se revela de imediato, não se revela no 
próprio relato do fazer profissional, das dificuldades que vivenciamos 
cotidianamente” (IAMAMOTO, 1992, p. 120). Ela é compreendida e adquire sentido 
no espaço das relações sociais concretas da sociedade da qual é parte. 
Ao compreender esse movimento, pode-se dizer que a profissão avançou. 
No sentido de romper com antigas concepções da mesma, deslocadas da realidade, 
numa visão endógena do Serviço Social (IAMAMOTO, 1992) que não compreendia 
essa forma histórica de reconhecer a profissão no rol de profissões que surgem a 
partir de um determinante histórico que é a questão social. 
Conforme Netto (2000): 
 
[...] a base própria da sua profissionalidade, as políticas sociais, conformam 
um terreno de conflitos – e este é o aspecto decisivo – constituídas como 
respostas tanto às exigências da ordem monopólica como ao protagonismo 
proletário, elas se mostram como territórios de confrontos nos quais a 
atividade profissional é tensionada pelas contradições e antagonismos que 
as atravessam enquanto respostas (NETTO, 2000, p. 78). 
 
 
 
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 38 
A profissão ao defender os interesses da classe trabalhadora, ao buscar 
fundamentação teórica para compreender essa realidade contraditória onde se 
insere, passou a produzir novos conhecimentos e dar novas respostas para seu 
exercício profissional no sentido de atender às demandas postas pela questão 
social, tanto as já existentes como as novas, requerendo. 
Segundo Iamamoto(2007): 
 
[...] no seu enfrentamento, a prevalência das necessidades da coletividade 
dos trabalhadores, o chamamento à responsabilidade do Estado e a 
afirmação de políticas sociais de caráter universal, voltadas aos interesses 
das grandes maiorias, condensando um processo histórico de lutas pela 
democratização da economia, da política, da cultura na construção de uma 
esfera pública (IAMAMOTO, 2007, p. 10-11). 
 
Assim, compreender a questão social a partir das transformações societárias 
pós-setenta é, como expõe Iamamoto (2007, p. 114): 
 
Uma sociedade em que a igualdade jurídica dos cidadãos convive 
contraditoriamente, com a realização da desigualdade. Assim, dar conta da 
questão social, hoje, é decifrar as desigualdades sociais - de classes - em 
seus recortes de gênero, raça, etnia, religião, nacionalidade, meio-ambiente, 
etc. Mas decifrar, também, as formas de resistência e rebeldia com que são 
vivenciadas pelos sujeitos sociais. 
 
Essas novas expressões da questão social apresentam uma demanda por 
serviços anteriormente inexistentes e que precisam receber respostas eficientes, 
seja via ações públicas ou privadas. 
Para responder a essas demandas apresentadas pela família, exige-se um 
profissional que, nos dizeres de Iamamoto (2007, p. 49), seja: 
 
Exige-se um profissional qualificado, que reforce e amplie a sua 
competência crítica; não só executivo, mas que pensa, analisa, pesquisa e 
decifra a realidade. Alimentado por uma atitude investigativa, o exercício 
profissional cotidiano tem ampliadas as possibilidades de vislumbrar novas 
alternativas de trabalho nesse momento de profundas alterações na vida em 
sociedade. O novo perfil que se busca construir é de um profissional afinado 
com a análise dos processos sociais, tanto em suas dimensões 
macroscópicas quanto em suas manifestações quotidianas; um profissional 
criativo e inventivo, capaz de entender “o tempo presente, os homens 
presentes, a vida presente” e nela atuar, contribuindo, também para moldar 
os rumos de sua história. 
 
 
 
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 39 
O Assistente Social é um profissional solicitado para atuar em diversas 
áreas, onde se apresenta as expressões da questão social, tais como: Conselhos 
Tutelares, CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), CREAS (Centro de 
Referência da Assistência Social), Empresas, Prefeituras (Secretaria de Assistência 
Social), INSS (Instituto Nacional da Seguridade Social), Escolas, Área Judiciária, 
APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), PAINF, PSF (Programa 
Saúde da Família), CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), Unidades Hospitalares, 
dentre outras. 
Em todas essas áreas, o Assistente Social reporta grande parte da sua 
intervenção ao trabalho com famílias, pois está presente nas diferentes demandas 
apresentadas nas instituições que atendem as questões sociais. 
O Assistente Social analisa, investiga a realidade nos aspectos sociocultural 
e econômico, fundamentado no seu projeto eticopolítico, e se apropria como 
referência às técnicas participativas, em oposição às práticas que articulam as 
questões sociais. Para tanto, o desenvolvimento de uma metodologia no processo 
de trabalho com famílias é necessário, bem como a análise desta. 
 
 
2.4 SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO DE TRABALHO COM AS FAMÍLIAS 
 
 
A profissão do Assistente Social é regulamentada pela Lei nº 8.662 de 
07/06/93. Esta Lei tem o objetivo de reger os procedimentos e a natureza dos 
serviços profissionais, por meio dos quais se realizam os princípios constitucionais 
da assistência social; assim como da saúde, previdência social e demais atividades 
sociais. 
Para isso, institui a profissão de Assistente Social, de um lado exigindo-lhe 
determinados deveres e, de outro, assegurando-lhe certas competências e 
atribuições privativas em conformidade com o Código de Ética da Profissão, que 
reafirma os seus valores fundantes – a liberdade e a justiça social. O projeto 
profissional do Serviço Social, pensa a ética como um pressuposto teórico-político 
que remete para o enfrentamento das contradições postas à profissão, a partir de 
 
 
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 40 
uma visão crítica, e fundamentada teoricamente, das derivações eticopolíticas do 
agir profissional. 
O reconhecimento da importância da família no contexto da vida social está 
explicito no Artigo 226, da Constituição Federal do Brasil, quando declara que: “a 
família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”, endossando assim, o 
artigo 16, da Declaração dos Direitos Humanos, que traduz a família como sendo o 
núcleo natural e fundamental da sociedade, e com direito a proteção da sociedade e 
do Estado. No Brasil, tal reconhecimento se reafirma nas legislações específicas da 
Assistência Social – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Estatuto do Idoso 
e na própria Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), entre outras. 
 
A família é uma instituição social historicamente condicionada e 
dialeticamente articulada com a sociedade na qual está inserida. Isto 
pressupõe compreender as diferentes formas de famílias em diferentes 
espaços de tempo, em diferentes lugares, além de percebê-las como 
diferentes dentro de um mesmo espaço social e num mesmo espaço de 
tempo. Esta percepção leva a pensar as famílias sempre numa perspectiva 
de mudança, dentro da qual se descarta a ideia dos modelos cristalizados 
para se refletir as possibilidades em relação ao futuro (MIOTO, 1997, 
p.128). 
 
Sabe-se que não só para o Serviço Social, mas que em todas as profissões 
o tema “FAMÍLIA” não é desconhecido e intervém-se nesta dinâmica a todo instante. 
Porém, poucos profissionais são preparados para trabalhar as relações familiares e 
as mudanças ocorridas na estrutura familiar ao longo da história. 
Atualmente, os processos de intervenção com as famílias são pensados 
apenas no âmbito do atendimento direto. Não são vislumbradas, no universo das 
ações profissionais, outras possibilidades de se trabalhar com famílias; não são 
considerados especialmente os espaços da proposição, articulação e avaliação das 
Políticas Sociais, nem a organização e articulação de serviços como campos 
fundamentais de intervenção na área da família. 
Abordar a problemática familiar constitui-se em uma tarefa difícil e complexa, 
já que a família contemporânea pode ser vista como um desafio, que envolve 
problemas de ordem cultural, ética, econômica, política e social. 
A miséria e a falta de oportunidades de vida digna impedem as famílias de 
expressarem suas opiniões próprias e fazem com que elas sejam submissas e não 
 
 
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 41 
ocupem seus espaços de cidadãos. Gerando uma ausência de protagonismo que 
por sua vez colabora para que esta situação de exclusão se perdure por toda vida. 
Na maioria das vezes, a cultura apreendida era apenas de proibições, 
cumprimento de ordens e obediência, nunca a cidadania ou criatividade. Muitas 
vezes, ao dizer o que se pensava, retaliações e punições eram geradas, 
demonstrando a política do clientelismo, ainda presente nos dias atuais. 
A organização familiar atua como ressonância, vítima e reprodutora de todo 
esse sistema de cultura o que se reverte nas seguintes demandas: O trabalho 
infantil deixa de ser problema e passa a ser solução uma vez que os pais educam 
seus filhos com o pensamento de que “criança que não trabalha cresce vagabundo”, 
não visualizando a escola de forma necessária para o enfrentamento da vida, e a 
criança não é vista com o respectivo direito de estudar e brincar. Em decorrência 
disso, as diversas expressões da questão social colocam limites e desafios de 
intervenção para o Assistente Social, exigindo um exame atentono mundo do 
trabalho, particularmente, em instituições que lidam com o binômio saúde-doença, 
em que as contradições e mazelas de uma sociedade com elevados níveis de 
exclusão social emergem com força. 
É de extrema importância que o profissional, ao trabalhar com famílias, 
adote uma postura socioeducativa, de trocas, numa relação horizontal, tendo 
sempre em mente que a realidade social e a dinâmica familiar requerem que o 
profissional respeite a individualidade de cada família, procurando não fazer 
julgamento de valor. A dimensão técnica não autoriza a tomada de decisões ou 
escolha de condutas: isto cabe à família. 
Os conhecimentos científicos ou os valores moralistas não podem servir de 
pretexto para o julgamento das famílias, mas de base para ações socioeducativas, 
cultura da tutela e as atitudes paternalistas fortalecem a exclusão das mesmas, a 
democratização das informações, o saber ouvir, a divulgação dos critérios de 
atendimento, o esclarecimento quanto ao papel dos familiares no processo são 
atitudes necessárias e éticas. 
É necessário que o profissional utilize uma linguagem clara, criando 
atmosfera aberta e informal que permita aos usuários se sentirem à vontade para se 
colocarem, fazerem perguntas, esclarecerem dúvidas. O diálogo de discussão de 
alternativas com as famílias estará contribuindo para desenvolver mecanismos de 
 
 
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 42 
reflexão e assumindo um papel mais de ajudá-la a refletir do que pensar nela, ou 
seja, mais de questionar do que discursar. Como um mediador, é importante que o 
profissional se questione sempre sobre a sua prática, de que forma ela está sendo 
efetivada. 
O desafio está em o Assistente Social aprender a lidar com as dramáticas 
respostas que as famílias vêm apresentando e assim estabelecer processos de 
atenção, à família, que as auxiliem a enfrentar desafios e que proponham novas 
articulações visando uma condição humana melhor. 
“A prática profissional, volta-se para orientações e prestação de serviço ou 
implantação de programas que beneficiem o grupo familiar” (SILVA, 1987, p.145). A 
organização institucional trabalha com o modelo assistencial cuja preocupação 
central está na resolução de problemas do indivíduo fragilizado (por exemplo: 
criança violentada ou portadora de necessidades especiais, etc.) e não na 
perspectiva da intervenção familiar. Sabe-se que este modelo, embora tenha cada 
vez mais recursos disponíveis, tem uma leitura limitada das demandas que lhe são 
colocadas. 
Assim, muitos profissionais trabalham com as famílias no sentido de atender 
o objetivo da instituição, tentando resolver o caso do usuário. Sem contar que, 
muitas vezes, são as mesmas famílias que circulam por diferentes instituições, 
levando para elas o mesmo usuário. 
E a trajetória se repete, a instituição se preocupa em dar um atendimento 
específico não conseguindo perceber que é a família como um todo, e não apenas 
um membro dela, que necessita de atenção. 
Se o profissional tornar o usuário fragilizado como expressão de um contexto 
familiar comprometido, o eixo da atenção profissional estará alterado. Esta alteração 
se dará tanto no nível da compreensão do problema como no nível da ação 
profissional. Desenvolve-se o sentido de ajudar a família a identificar as duas 
dificuldades e realizar mudanças para que possam alterar esta situação. “Assim 
torna-se prioritário que a família perceba que a mudança de sua vida depende muito 
da sua participação em movimentos reivindicatórios organizados, em busca de 
melhores condições de vida” (MIOTO, 1997, p.125). 
Conforme Takashima (1994, p. 69): “A setorização das políticas sociais e a 
existência de canais de integração entre elas têm gerado uma inoperância em 
 
 
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 43 
relação às famílias. Dentro delas, a família é sempre vista pelo retrovisor, e não 
como foco de atenção”. 
Já para Mioto (1997): 
 
A família enquanto unidade nos remete basicamente a duas ponderações 
sobre as inter-relações entre políticas sociais e família. A primeira relaciona-
se ao fato de que, como estão organizadas, as políticas sociais não incluem 
a ideia da família como uma totalidade: ao contrário, são implementadas em 
função de indivíduos. Elas não incluem nenhuma previsão dos impactos que 
terão sobre as famílias e nas suas avaliações também não são 
considerados indicadores de análise sobre os efeitos que as políticas têm 
na vida familiar (BARROS, 1995; MIOTO 1997). 
 
Tendo em conta a fragmentação dentro da qual a família é retratada, é 
necessário esforço no sentido de articular e integrar as políticas setoriais, para que 
possam facilitar e melhorar a qualidade de vida das famílias. 
A reafirmação da importância que as políticas sociais, particularmente as 
públicas, têm no cotidiano da vida familiar. São elas que, num contexto de pobreza 
como o brasileiro, pode garantir condições objetivas de sobrevivência. Como se 
sabe, as condições externas dadas pela política econômica vigente constituem-se 
numa fonte importante do estresse familiar. Por isso, a viabilização de políticas 
assistenciais tem de ser priorizada. 
Nessa perspectiva, assinala-se a responsabilidade que os profissionais que 
trabalham diretamente com as famílias têm no direcionamento das políticas sociais. 
Ou seja, se o objetivo é ter políticas sociais integradas que atendam as reais 
necessidades das famílias usuárias do serviço social, é necessária a prática 
profissional competente, não só no sentido de atender as famílias dentro de suas 
especificidades, mas também no sentido de fazer da prática cotidiana uma prática 
de natureza investigativa. Esta poderá subsidiar a implementação e a avaliação de 
políticas e programas sociais que atendam aos ideais já propostos na formulação de 
algumas políticas sociais e que sejam adequadas à realidade. 
Além disso, tais estudos e análises poderão ser elementos importantes para 
a contraposição de propostas incongruentes com as necessidades das famílias e ou 
que firmam a autonomia delas. 
Segundo Iamamoto (2007): 
 
 
 
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 44 
Um dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é 
desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de 
trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de 
demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e 
não só executivo. [...] Requer, pois, ir além das rotinas institucionais e 
buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendências e 
possibilidades nela presentes passíveis de serem impulsionadas pelo 
profissional (IAMAMOTO, 2007, p. 20-21). 
 
A família sempre esteve inserida na área de atuação do Serviço Social, 
porém na maioria dos serviços, ela vem sendo contemplada de maneira 
fragmentada, ou seja, cada integrante da unidade familiar é visto de forma 
individualizada, descontextualizada e portador de um problema. Em vista disso, um 
dos desafios da profissão é a busca de metodologias para trabalhar a família como 
um grupo com necessidades próprias e únicas. 
Para Iamamoto (2004), a prática profissional permite a oportunidade de 
pensar em si e no seu fazer profissional. Isso requer disposição para analisar e 
refletir, de forma aberta e transparente, suas ações, seus dilemas e falsos dilemas, 
imbuídos pelo interesse em desenvolver uma ação planejada, resultante daquela 
reflexão, permitindo o enfrentamento de suas questões operativas principais. 
A intenção de desvelar as práticas ocultas do cotidiano só pode efetivar-se a 
partir da e na ação profissional. Este momento caracteriza-se pelo encontro com o 
desconhecido. Isso significa ir além do discurso parcial, fragmentado,pela simples 
reprodução do já produzido, mas descobrir algo que ainda não foi partilhado na 
construção do saber. Desse modo, a ultrapassagem da totalidade parcial para 
totalidade mais complexa no interior da prática se faz pela relação 
pensamento/realidade. 
É na própria ação cotidiana dos profissionais que se busca resgatar as 
categorias particulares, empíricas que dão movimento à sua intervenção, que antes 
parecia descontínuo, dando-lhe uma dimensão histórica. 
Assim, a categoria da mediação é apreendida como expressão concreta do 
processo de passagem que o profissional realiza na medida em que supera a leitura 
do aparente imediato para imprimir uma direção crítica ao conjunto de suas práticas 
cotidianas. 
Segundo Gomes (1999, p. 64), “a família é um grupo de pessoas com 
características distintas formando um sistema social, baseado numa proposta de 
 
 
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 45 
ligação efetiva duradoura, estabelecendo relação de cuidado dentro de um processo 
histórico de vida”. 
O Assistente Social auxilia e estimula a família a adquirir o controle da 
situação, por meio da busca das suas próprias demandas e desafios em cada etapa 
do processo. Assim, a família pode se tornar mais bem adaptada e competente para 
cuidar do doente e conseguir administrar a situação, que toda a família vivencia, 
com um sofrimento menos intenso. 
É importante ressaltar, que o Assistente Social, enquanto partícipe da 
divisão social e técnica do trabalho, é um profissional especializado que está 
inserido no mercado de trabalho para realizar a prestação de serviços sociais, 
principalmente, por meio das políticas implementadas pelo Estado. 
Trabalhar com as famílias é uma fonte de preocupação para os profissionais 
que militam nesta área, dada a complexidade do tema que envolve vários aspectos, 
dentre os quais estão as diferentes configurações familiares, as relações que esta 
estabelece com outras esferas da sociedade, como o Estado, Sociedade Civil e 
Mercado, e também os processos familiares. 
Já no âmbito do Serviço Social, os processos de atenção às famílias fazem 
parte da história da profissão. Os assistentes sociais são profissionais que têm a 
família como objeto de intervenção durante toda sua trajetória histórica. 
Ainda hoje as ações dos assistentes sociais, são movidas por lógicas 
arcaicas e enraizadas culturalmente, e não pela lógica da racionalidade dada pelo 
arcabouço teórico-metodológico da profissão pós-reconceituação. Por isso, o 
exercício profissional com famílias ainda é pautado nos padrões de normatividade e 
estabilidade. Como assinala Mioto (2004, p. 66): 
 
Na perspectiva da análise do discurso dos assistentes sociais no cotidiano 
profissional, Guimarães (1996) observou a existência de quatro construções 
discursivas. A primeira, denominada de pré-construída, refere-se ao 
discurso pautado na suposição do senso comum. A segunda, que é a linha 
de pensamento umbilicado, caracteriza-se pela permanência de um 
pensamento pré-estabelecido do início ao final da intervenção. A terceira, 
que a autora chamou de kit-discurso, considera que o assistente social 
realiza a sua prática a partir dos dois procedimentos anteriores, tornando a 
intervenção um ato altamente mecânico. Finalmente, a quarta construção 
discursiva se caracteriza pela dicotomia entre ação e fala. Ao discursarem 
sobre suas respectivas práticas, os assistentes sociais apresentam tal 
distância entre ação e fala que muitas vezes se apresentam como 
contraditórias, sem que geralmente as contradições sejam percebidas. Esse 
tipo de análise demonstra a fragilidade do processo de intervenção. 
 
 
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 46 
 
Estas reflexões fortalecem as discussões efetuadas a partir das análises 
sobre a construção sócio-histórica do Serviço Social na divisão sociotécnica do 
trabalho no qual o assistente social aparece como o profissional da coerção e do 
consenso. 
Para Mioto (2004, p. 45): 
 
O desafio da superação dessa situação, considerando a urgência de 
consolidação do projeto ético-político da profissão, que só poderá acontecer 
através de uma prática profissional crítica e altamente qualificada em áreas 
de intervenção profissional consolidadas historicamente e da expansão do 
mercado de trabalho para os assistentes sociais. Além disso, não pode ser 
esquecido o projeto de formação profissional que, através das diretrizes 
curriculares, coloca como um de seus eixos os fundamentos do trabalho 
profissional. 
 
Mioto (2004, p. 48) ainda afirma que: 
 
É justamente este desafio que nos conduz a recolocar algumas questões 
que acreditamos estarem contribuindo para a perpetuação do 
conservadorismo nas intervenções com famílias, numa tentativa de resgatar 
da própria ação profissional os elementos necessários para sua 
reconstrução. Como afirma Guerra (2000), é necessário resgatar a 
dimensão emancipatória da instrumentalidade do exercício profissional, pois 
é através dela que a profissão poderá superar o seu caráter eminentemente 
operativo e manipulatório dado pela condição histórica do surgimento da 
profissão. 
 
A transformação dos processos de intervenção com famílias implica mais do 
que a crítica feita pelos profissionais sobre a realidade, mas a consciência que a 
solução das demandas não está nos limites dos serviços. A contradição entre 
conhecimento e ação, pode estar relacionada às formas de capacitação profissional 
para intervenção com famílias. 
Quando as famílias procuram projetos ou atendimentos, já têm os seus 
processos relacionais comprometidos. Partindo desta demanda, os profissionais têm 
que incluir ações direcionadas à formulação e implementação de políticas sociais 
que ofereçam o mínimo de condições para a sobrevivência do grupo familiar. 
Conforme Mioto (2000): 
 
Os serviços também desenvolvem suas ações sob a lógica da incapacidade 
e da falência das famílias em seus papéis sociais, atendendo às situações 
limites e às solicitações mais emergentes trazidas pelas mesmas, ao invés 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
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de atuar no sentido de prevenir os conflitos e as crises. Essa forma de 
atendimento é fruto do contexto político-econômico vigente, no qual as 
políticas públicas sociais são pontuais e visam, prioritariamente, à resolução 
do problema aparente, e não das questões que o motivaram (MIOTO, 2000, 
p. 43). 
 
As características desse reordenamento das políticas sociais negam os 
princípios do direito à saúde, esses contrapõem com a veemência ao Projeto Ético 
Político Profissional do Serviço Social, de defesa da Democracia e dos Direitos das 
Políticas Sociais transmutam a lógica do direito, na “lógica do favor”, do bem de 
consumo ou simplesmente na exclusão propriamente dita. 
Como afirma Iamamoto (1999) e Netto (1996), diante dos desafios é 
imprescindível que o profissional do Serviço Social tenha competência teórica e 
crítica, coragem cívica e intelectual. Tendo essa convicção os profissionais do 
Serviço Social, apresentaram uma prática autêntica e plena de cidadania, perante os 
usuários. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO II

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