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Filosofia do direito np1

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1 
 
 
FILOSOFIA 
Professor Fernando Henrique Cavalcante de Oliveira 
 
Prezado Aluno 
 
Esta disciplina destina-se, mais especificamente, à formação acadêmica do aluno de 
Direito, na medida em que se ocupa de questões relativas a importantes reflexões que 
ocuparam pensadores desde a Grécia Antiga. 
O fim precípuo deste recorte teórico é o de promover um melhor e mais aguçado 
entendimento de aspectos essenciais à sua formação jurídica, na medida em que abarca 
questões próprios do Direito na ótico de grandes pensadores em diferentes períodos da 
história de humanidade. 
Promover conhecimento de questões fundamentais à formação do aluno de Direito, 
permitindo-lhe uma formaçãoo mais sólida e possibilitando uma melhor entendimento 
de outras áreas do Direito. 
Este conteúdo constitui-se de oito módulos. 
 A avaliação de B1 contemplará os conteúdos e exercícios dos modulos I, II, III 
e IV. 
 A Avaliação de B2 contemplará os conteúdos e exercícios dos módulos V, VI, 
VII e VIII. 
 As avalições de Prova Substitutiva e Exame, por outro lado, envolverão os 
conteúdos e exercícios do módulo I ao módulo VIII. 
 
 
StatusHabilitadoConteúdo 
 
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 
 B1 
1. A PALAVRA FILOSOFIA[1] 
A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se 
de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer 
dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. 
Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) 
a invenção da palavra filosofia. Segundo Pitágoras, a sabedoria plena e completa 
pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. 
2 
 
 
2. A FILOSOFIA É GREGA 
A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático 
da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, 
da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente 
grego. Através da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os 
princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, 
técnica, arte. 
Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que outros povos, tão antigos 
quanto os gregos, como os chineses, os hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os 
hebreus, os africanos ou os índios da América não possuam sabedoria, pois possuíam e 
possuem. Também não quer dizer que esses povos não tivessem desenvolvido o 
pensamento e as formas de conhecimento da Natureza e dos seres humanos, pois 
desenvolveram e desenvolvem. 
A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a 
realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer 
perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, 
os acontecimentos e as coisas da natureza, os acontecimentos e as ações humanas 
podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se 
a si mesma. 
 
3. O SIMBOLISMO DA SABEDORIA[2] 
Em muitas línguas, a coruja é a ave que simboliza a sabedoria. Isso se deve ao fato de 
que, na tradição grega, a coruja foi vista como a ave de Athena (Minerva, para os 
romanos), ou seja, como símbolo da racionalidade e da sabedoria, como a representação 
da atitude desperta, que procura, que age sob o fluxo lunar, e que não dorme quando se 
trata da busca do conhecimento. 
Associada à capacidade de enxergar mesmo nas trevas, seus grandes olhos voltados para 
a compreensão, para a observação, são suficientemente significativos para traduzirem a 
ideia de que a busca da sabedoria pressupõe um olhar atento para a compreensão do 
mundo (CHEVALIER, 2005 apud BITTAR & ALMEIDA, 2008, p. 1,2). 
Em sua obra: “Curso de Filosofia do Direito”, Bittar & Almeida (2008) chama a nossa 
atenção para o fato de que “uma longa experiência que seja não refletida, mas 
mecanicamente vivida, não é sinônimo de sabedoria adquirida. A sabedoria realmente 
evoca experiência e capacidade de absorção reflexiva da experiência mundana, esta 
predisposição de voltar-se para o processo de convívio com o espanto diante do 
mundo”. 
Os especialistas referem-se a construções de mosteiros e de fortalezas no período 
medieval como uma outra metáfora para explicar a questão da sabedoria. Os mosteiros 
construídos em regiões mais altas, as fortalezas num alto penhasco. Em ambos os casos, 
observam-se consideráveis distâncias da vida urbana, de onde se pode ter ampla visão 
do todo. Os mosteiros, lugares de reclusão, de ligação com o divino, propiciam aos 
monges a condição de serem mediadores entre o mundo humano e o divino. A 
capacidade de os monges orientarem resulta da sua condição de ver muito além do que 
os homens conseguem ver. Já das fortalezas no exercício de seu papel defensivo contra 
os inimigos de uma sociedade vulnerável a toda sorte de ataques e embates, os 
3 
 
sentinelas podem ter ampla visão de tudo para propor o aviso estratégico ou de propor o 
ataque sobre o perigo iminente do invasor. 
Para os autores, a visão de um filósofo não é a de um especialista, mas a de um 
conhecedor das diversas perspectivas em que se inscreve a vivência mundana e suas 
questões, em geral, seus grandes dilemas. Sua visão não é a visão local, a do cientista, 
mas a visão geral, abrangente. O filósofo observa diversos aspectos de questões 
abrangentes, suas observações se dão de modo integral e holístico. Suas questões são 
enigmáticas para a condição humana. O filósofo lida com questões aporéticas [dúbias, 
paradoxais], (Que é ser? Qual é a natureza humana? Qual o sentido da vida? Qual a 
melhor forma de governo? Como se pode definir justiça?). Assim, busca um lugar 
privilegiado para observação. Distancia-se para compreender, ora para contemplar tal 
qual o monge, ora para ter a certeza da mais clara estratégia defensiva, como o guerreiro 
(BITTAR & ALMEIDA, 2008). 
Nas palavras dos autores, “ao usar o pensamento como força de compreensão, acaba por 
agir sobre o mundo, e isto porque, ao utilizar o ferramental da razão, se posta como 
sentinela e defensor da garantia de que a razão será conservada na vida social como um 
distintivo fundamental da condição humana. (...) A filosofia exerce uma verdadeira 
vigília dirigida a si mesma e ao mundo circundante, dedicada a cumprir uma tarefa de 
fundamental importância para a existência humana” (BITTAR & ALMEIDA 2008, 
p.4). 
 
4. PARA QUE FILOSOFIA?[3] 
4.1 A ATITUDE FILOSÓFICA 
Ao tomar distância da vida cotidiana e de si mesmo, indagando sobre as crenças e os 
sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência, o homem estaria 
interrogando a si mesmo, desejando conhecer o porquê de suas crenças e sentimentos. 
Essa atitude recebe o nome de atitude filosófica. 
ATITUDE FILOSÓFICA = APRECIAÇÃO DISTANCIADA DO OBJETO DE 
REFLEXÃO. 
 
4.2 A ATITUDE CRÍTICA 
A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não ao senso 
comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias da experiência cotidiana, 
ao que “todo mundo diz e pensa”, ao estabelecido. 
A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o 
que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós 
mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma 
interrogação sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? 
Como é? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica. 
A face negativa e a face positiva da atitudefilosófica constituem o que chamamos de 
atitude crítica e pensamento crítico. 
ATITUDE CRÍTICA = PRIMEIRO NEGAR O PRÉ-ESTABELECIDO (1° PASSO) 
PARA PODER PROVOCAR, INDAGAR (2° PASSO). 
4 
 
A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, 
portanto, começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber; por isso, o 
patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a primeira e fundamental verdade 
filosófica é dizer: “Sei que nada sei”. Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego 
Platão, a Filosofia começa com a admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo 
Aristóteles, acreditava que a Filosofia começa com o espanto. 
Admiração e espanto significam: tomamos distância do nosso mundo costumeiro, 
através de nosso pensamento, olhando-o como se nunca o tivéssemos visto antes, como 
se não tivéssemos tido família, amigos, professores, livros e outros meios de 
comunicação que nos tivessem dito o que o mundo é; como se estivéssemos acabando 
de nascer para o mundo e para nós mesmos e precisássemos perguntar o que é, por que é 
e como é o mundo, e precisássemos perguntar também o que somos, por que somos e 
como somos. 
 
5. PARA QUE FILOSOFIA? 
Todas as pretensões das ciências pressupõem que elas acreditem na existência da 
verdade, de procedimentos corretos para bem usar o pensamento, na tecnologia como 
aplicação prática de teorias, na racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser 
corrigidos e aperfeiçoados. 
Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos, relação entre teoria 
e prática, correção e acúmulo de saberes: tudo isso não é ciência, são questões 
filosóficas. O cientista parte delas como questões já respondidas, mas é a Filosofia 
quem as formula e busca respostas para elas. 
 
5.1. ATITUDE FILOSÓFICA: INDAGAR 
Características da atitude filosófica que independem do conteúdo investigado: 
- perguntar o que a coisa, ou o valor, ou a ideia, é. A Filosofia pergunta qual é a 
realidade ou natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importa qual; 
- perguntar como a coisa, a ideia ou o valor, é. A Filosofia indaga qual é a estrutura e 
quais são as relações que constituem uma coisa, uma ideia ou um valor; 
- perguntar por que a coisa, a ideia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia pergunta 
pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma ideia, de um valor. 
As perguntas da Filosofia se dirigem ao próprio pensamento: o que é pensar, como é 
pensar, por que há o pensar? Por ser uma volta que o pensamento realiza sobre si 
mesmo, a Filosofia se realiza como reflexão. 
 
6. A REFLEXÃO FILOSÓFICA 
A Filosofia torna-se, então, o pensamento interrogando-se a si mesmo. 
Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si 
mesmo. 
5 
 
A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si 
mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio 
pensamento. 
A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos de perguntas ou 
questões: 
 
1. Quais os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que pensamos, dizermos o 
que dizemos, fazermos o que fazemos? 
2. Qual é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos? 
3. Qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos? 
Crenças cotidianas são ou não um saber verdadeiro, um conhecimento? 
A atitude filosófica inicia-se com perguntas sobre a essência, a significação ou 
a estrutura e aorigem de todas as coisas. 
A reflexão filosófica indaga, dirige-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da 
reflexão. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas 
para conhecer e agir. 
 
7. FILOSOFIA: UM PENSAMENTO SISTEMÁTICO 
A Filosofia, cada vez mais, ocupa-se com as condições e os princípios do conhecimento 
que pretenda ser racional e verdadeiro; com a origem, a forma e o conteúdo dos valores 
éticos, políticos, artísticos e culturais; com a compreensão das causas e das formas da 
ilusão e do preconceito no plano individual e coletivo; com as transformações históricas 
dos conceitos, das ideias e dos valores. 
A Filosofia volta-se também para o estudo da consciência em suas várias modalidades: 
percepção, imaginação, memória, linguagem, inteligência, experiência, reflexão, 
comportamento, vontade, desejo e paixões; procurando descrever as formas e os 
conteúdos dessas modalidades de relação entre o ser humano e o mundo, do ser humano 
consigo mesmo e com os outros. 
A Filosofia visa ao estudo e à interpretação de ideias ou significações gerais como: 
realidade, mundo, natureza, cultura, história, subjetividade, objetividade, diferença, 
repetição, semelhança, conflito, contradição, mudança etc. 
Em outras palavras, a Filosofia se interessa por aquele instante em que a realidade 
natural (o mundo das coisas) e a histórica (o mundo dos homens) tornam-se estranhas, 
espantosas, incompreensíveis e enigmáticas, quando o senso comum já não sabe o que 
pensar e dizer e as ciências e as artes ainda não sabem o que pensar e dizer. 
Essa descrição da atividade filosófica capta a Filosofia como análise (das condições da 
ciência, da religião, da arte, da moral), como reflexão (isto é, volta da consciência para 
si mesma para conhecer-se como capacidade para o conhecimento, o sentimento e a 
ação) e como crítica (das ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias 
e práticas científicas, políticas e artísticas), estando essas três atividades (análise, 
reflexão e crítica) orientadas para elaboração filosófica de significações gerais sobre a 
6 
 
realidade e os seres humanos. Além de análise, reflexão e crítica, a Filosofia é a busca 
do fundamento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas, indagando o que 
são, qual sua permanência e qual a necessidade interna que as transforma em outras. O 
que é o ser e o aparecer-desaparecer dos seres? 
A Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e os conceitos 
científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica sobre as origens e as formas das 
crenças religiosas. Não é arte: é uma interpretação crítica dos conteúdos, das formas, 
das significações das obras de arte e do trabalho artístico. Não é sociologia nem 
psicologia, mas a interpretação e a avaliação crítica de conceitos e métodos da 
sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpretação, compreensão e reflexão 
sobre a origem, a natureza e as formas do poder. Não é história, mas interpretação do 
sentido dos acontecimentos inseridos no tempo e compreensão do que seja o próprio 
tempo. Conhecimento do conhecimento e da ação humana, conhecimento da 
transformação temporal dos princípios do saber e do agir, conhecimento da mudança 
das formas do real ou dos seres; a Filosofia sabe que está na História e que possui uma 
história. 
 
8. A UTILIDADE DA FILOSOFIA 
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar 
guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar 
compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o 
sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada 
um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações 
numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos 
dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são 
capazes. 
 
9. A ORIGEM DA FILOSOFIA 
A Filosofia surgiu quando alguns pensadores gregos se deram conta de que a verdade 
do mundo e dos humanos não era secreta e misteriosa,que precisasse ser revelada por 
divindades a alguns escolhidos, mas, ao contrário, podia ser conhecida por todos por 
meio de operações mentais de raciocínio, que são as mesmas em todos os seres 
humanos. Descobriram que a linguagem respeita exigências do pensamento, o que, por 
esse mesmo motivo, os conhecimentos verdadeiros podem ser transmitidos e ensinados 
a todos. 
 
10. TRAÇOS DA ATIVIDADE FILOSÓFICA NO SEU NASCIMENTO 
1. Tendência à racionalidade: os gregos foram os primeiros a definir o ser humano 
como animal racional, a considerar que o pensamento e a linguagem definem a razão, 
que o homem é um ser dotado de razão e que a racionalidade é um traço distintivo em 
relação a todos os outros seres. 
2. Recusa de explicações pré-estabelecidas: cada fato exige uma explicação racional 
como resultado de investigação. 
7 
 
3. Tendência à argumentação e ao debate: nenhuma solução pode ser aceita em que 
tenha sido demonstrada, isto é, provada racionalmente em conformidade com princípios 
e regras do pensamento verdadeiro. 
4. Capacidade de generalização: mostrar que uma explicação tem validade para 
muitas outras coisas diferentes ou muitos fatos diversos, porque sob a aparência da 
diversidade e variação, pode-se descobrir semelhanças e identidades. A capacidade 
racional chama-se síntese (palavra grega que significa reunião, fusão de várias coisas 
numa união íntima para formar um todo). 
5. Capacidade de diferenciação: mostrar que fatos ou coisas que parecem iguais ou 
semelhantes, na verdade, são diferentes quando examinados pela razão. A capacidade 
racional de compreender diferenças em coisas nas quais parece haver identidade e 
semelhança, chama-seanálise (palavra grega que significa ação de desligar, separar, 
resolução de um todo em suas partes). 
Com a Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios 
fundamentais do que chamamos de razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica 
e arte. 
 
11. OS PERÍODOS DA FILOSOFIA GREGA[4] 
A história da Grécia costuma ser dividida pelos historiadores em quatro grandes fases 
ou épocas: 
1. A da Grécia homérica, correspondente aos 400 anos narrados pelo poeta Homero, 
em seus dois grandes poemas, Ilíada e Odisseia; 
2. A da Grécia arcaica ou dos sete sábios, do século VII ao século V a.C., quando os 
gregos criam cidades como Atenas, Esparta, Tebas, Megara, Samos etc., com 
predominância da economia urbana, baseada no artesanato e no comércio; 
3. A da Grécia clássica, nos séculos V e IV a.C., quando a democracia se desenvolve, a 
vida intelectual e artística entra no apogeu e Atenas domina a Grécia com seu império 
comercial e militar; 
4. E, finalmente, a da época helenística, a partir do final do século IV a.C., quando a 
Grécia passa para o poderio do império de Alexandre da Macedônia e, depois, para as 
mãos do Império Romano, terminando a história de sua existência independente. 
Os períodos da Filosofia não correspondem exatamente a essas épocas, já que ela não 
existe na Grécia homérica e só aparece nos meados da Grécia arcaica. Entretanto, o 
apogeu da Filosofia acontece durante o apogeu da cultura e da sociedade grega; 
portanto, durante a Grécia clássica. 
 
12. PERÍODOS DA FILOSOFIA GREGA 
1. Período pré-socrático ou cosmológico, do final do século VII ao final o século V 
a.C., - a origem do mundo e as causas das transformações na natureza. 
2. Período socrático ou antropológico, do final do século V e todo o século IV a.C., - 
a ética, a política e as técnicas (em grego, ântropos = homem, período antropológico). 
3. Período sistemático, do final do século IV ao final do século III a.C., - busca reunir e 
sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a cosmologia e a antropologia; busca 
8 
 
mostrar o objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do pensamento e de suas 
demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os critérios da verdade e 
da ciência. 
4. Período helenístico ou greco-romano, do final do século III a.C. até o século VI 
d.C. Esse período alcança Roma e o pensamento dos primeiros padres da Igreja. A 
Filosofia se ocupa, sobretudo, com as questões da ética, do conhecimento humano e das 
relações entre o homem e a natureza e de ambos com Deus. 
 
12 - FILOSOFIA GREGA 
Pode-se perceber que os dois primeiros períodos da Filosofia grega têm como referência 
o filósofo Sócrates de Atenas, de onde vem a divisão em Filosofia pré-socrática e 
socrática. 
 
13. PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO OU COSMOLÓGICO 
 
13. 1. Principais filósofos pré-socráticos: 
1. Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e 
Heráclito de Éfeso; 
2. Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento; 
3. Escola Eleata: Parmênides de Eleia e Zenão de Eleia; 
4. Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, 
Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera. 
 
13.2. Características da cosmologia: 
1. Busca explicação racional e sistemática sobre a origem, a ordem e a transformação da 
natureza, da qual os seres humanos fazem parte, de modo que, ao explicar a natureza, a 
Filosofia explique a origem e as mudanças dos seres humanos. 
2. Nega que o mundo tenha surgido do nada, como acredita a religião judaico-cristã, 
segundo a qual Deus cria o mundo do nada. Por isso diz: “Nada vem do nada e nada 
volta ao nada”. Isso significa: 
a) que o mundo, ou a natureza, é eterno; 
b) que no mundo, ou na natureza, tudo se transforma em outra coisa sem jamais 
desaparecer, embora a forma particular que uma coisa possua desapareça com ela, mas 
não sua matéria. 
3. Afirma que o fundo eterno, perene, imortal, de onde tudo nasce e para onde tudo 
volta é invisível para os olhos do corpo e visível somente para o olho do espírito, isto é, 
para o pensamento. 
4. Entende que o fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para 
onde tudo retorna é o elemento primordial da natureza e chama-se physis (em 
grego, physis = fazer surgir, fazer brotar, fazer nascer, produzir). A physis é a natureza 
eterna e em perene transformação. 
9 
 
5. Considera que, embora a physis (o elemento primordial eterno) seja imperecível, ela 
dá origem a todos os seres infinitamente variados e diferentes do mundo, seres que, ao 
contrário do princípio gerador, são perecíveis ou mortais. 
6. Afirma que todos os seres, além de serem gerados e de serem mortais, são seres em 
contínua transformação, mudando de qualidade (por exemplo, o branco amarelece, 
acinzenta, enegrece; o novo envelhece, o quente esfria, o dia se torna noite, a primavera 
cede lugar ao verão, o saudável adoece, a criança cresce etc.) e mudando de quantidade 
(o pequeno cresce e fica grande, o longe fica perto, um rio aumenta de volume na cheia 
e diminui na seca etc.). Portanto, o mundo está em mudança contínua, sem por isso 
perder sua forma, sua ordem e sua estabilidade. 
A mudança - nascer, morrer, mudar de qualidade ou de quantidade - chama-se 
movimento e o mundo está em movimento permanente. 
O movimento do mundo chama-se devir (vir a ser, transformar-se, tornar-se, 
metamorfosear-se) e segue leis rigorosas que o pensamento conhece, que mostram que 
toda mudança é passagem de um estado ao seu contrário: dia-noite, claro-escuro, cheio-
vazio, um-muitos etc., e também no sentido inverso, noite-dia. O devir é, portanto, a 
passagem contínua de uma coisa ao seu estado contrário. Uma passagem que não é 
caótica. Obedece a leis determinadas pela physis ou pelo princípio fundamental do 
mundo. 
 
14. O princípio eterno e imutável da origem da natureza e de suas transformações: 
Tales dizia que o princípioera a água ou o úmido; 
Anaximandro considerava que era o ilimitado sem qualidades definidas; 
Anaxímenes, que era o ar ou o frio; 
Heráclito afirmou que era o fogo; 
Leucipo e Demócrito disseram que eram os átomos. E assim por diante. 
 
 
 
 
 
 
[1]Texto adaptado da obra Convite à Filosofia, Unidade 1, A Filosofia, Capítulo 1 Origem da Filosofia da autoria de Marilena 
Chauí, Editora Ática, São Paulo, 2000. 
[2] Texto adaptado da obra Curso de Filosofia do Direito, 6ª Ed. da autoria de Eduardo C.B. Bittar & Guilherme Assis de Almeida, 
Ed. Atlas, São Paulo, 2008. 
[3]Texto adaptado da obra Convite à Filosofia, Unidade 1, A Filosofia, Capítulo 1 
Origem da Filosofia da autoria de Marilena Chauí, Editora Ática, São Paulo, 2000. 
[4]Texto adaptado da obra Convite à Filosofia, Unidade 1, A Filosofia, Capítulo 3 
Campos de investigação da Filosofia da autoria de Marilena Chauí, Editora Ática, São Paulo, 2000. 
 
HabilitadoConteúdo 
MÓDULO I = TEXTO 2 
MITO[1] 
1. O QUE É MITO 
10 
 
Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, 
dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, 
da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do 
poder etc.). 
A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do 
verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do 
verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito é um 
discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a 
narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, 
portanto, na autoridade e na confiabilidade da pessoa do narrador. Essa autoridade vem 
do fato de que ele ou testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu a 
narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados. 
Quem narra o mito? O poeta-rapsodo*. Quem é ele? Por que tem autoridade? Acredita-
se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados 
e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa 
transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra - o mito - é sagrada porque vem de uma revelação 
divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável. 
- É o nome dado a um artista popular ou cantor que, na antiga Grécia, ia de cidade em 
cidade recitando poemas. 
 
2. O MITO NARRA A ORIGEM DO MUNDO E DE TUDO O QUE 
NELE EXISTE? 
2.1 Maneiras principais: 
a. Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo o que existe decorre de 
relações sexuais entre forças divinas pessoais. Essas relações geram os demais deuses: 
os titãs (seres semi-humanos e semidivinos), os heróis (filhos de um deus com uma 
humana ou de uma deusa com um humano), os humanos, os metais, as plantas, os 
animais, as qualidades, como quente-frio, seco-úmido, claro-escuro, bom-mau, justo-
injusto, belo-feio, certo-errado etc. 
A narração da origem é, assim, uma genealogia, isto é, narrativa da geração dos seres, 
das coisas, das qualidades, por outros seres, que são seus pais ou antepassados. 
Tomemos um exemplo da narrativa mítica: 
b. Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram convidados, menos a deusa 
Penúria, sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu os 
restos e dormiu com o deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa relação sexual, nasceu 
Eros (ou Cupido), que, como sua mãe, está sempre faminto, sedento e miserável, mas, 
como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer e se fazer amado. Por isso, quando 
Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém se apaixona e logo se sente faminto e 
sedento de amor, inventa astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e 
semimorto, ora rico e cheio de vida. 
c. Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma 
coisa no mundo. Nesse caso, o mito narra ou uma guerra entre as forças divinas, ou uma 
aliança entre elas para provocar alguma coisa no mundo dos homens. 
11 
 
O poeta Homero, na Ilíada, que narra a guerra de Troia, explica por que, em certas 
batalhas, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses 
estavam divididos, alguns a favor de um lado e outros a favor do outro. A cada vez, o 
rei dos deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliava-se com um grupo e fazia um 
dos lados - ou os troianos ou os gregos - vencer uma batalha. 
A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre as deusas. Elas apareceram em sonho 
para o príncipe troiano Paris, oferecendo a ele seus dons e ele escolheu a deusa do amor, 
Afrodite. As outras deusas, enciumadas, fizeram-no raptar a grega Helena, mulher do 
general grego Menelau, e isso deu início à guerra entre os humanos. 
d. Encontrando as recompensas ou os castigos que os deuses dão a quem os desobedece 
ou a quem os obedece. 
Como o mito narra, por exemplo, o uso do fogo pelos homens? Para os homens, o fogo 
é essencial, pois com ele se diferenciam dos animais, porque tanto passam a cozinhar os 
alimentos, a iluminar caminhos na noite, a se aquecer no inverno, quanto podem 
fabricar instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra. 
Um titã, Prometeu, mais amigo dos homens do que dos deuses, roubou uma centelha de 
fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado num 
rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os homens 
também foram castigados (cf. A caixa de Pandora). 
Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e 
relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos 
homens. Como os mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que 
são cosmogonias e teogonias. 
A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar, fazer 
nascer e crescer) e do substantivo genos (nascimento, gênese, descendência, gênero, 
espécie). Gonia, portanto, quer dizer: geração, nascimento a partir da concepção sexual 
e do parto. Cosmos, como já vimos, quer dizer mundo ordenado e organizado. Assim, 
a cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de 
forças geradoras (pai e mãe) divinas. 
Teogonia é uma palavra composta de gonia e theós, que em grego significa: as coisas 
divinas, os seres divinos, os deuses. A teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos 
deuses, a partir de seus pais e antepassados. 
A Filosofia, ao nascer, é, como já dissemos, uma cosmologia, uma explicação racional 
sobre a origem do mundo e sobre as causas de transformações e repetições das coisas; 
para isso, ela nasce de uma transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical 
com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia e a teogonia? 
Respostas dadas: 
A primeira delas foi dada no fim do século XIX e começo do século XX, quando 
reinava um grande otimismo sobre os poderes científicos e capacidades técnicas do 
homem. Dizia-se, então, que a Filosofia nasceu por uma ruptura radical com os mitos, 
sendo a primeira explicação científica da realidade produzida pelo Ocidente. 
A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudos dos 
antropólogos e dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização 
social e cultural das sociedades e como os mitos estão profundamente entranhados nos 
modos de pensar e sentir de uma sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como 
12 
 
qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a Filosofia nasceu, vagarosa e 
gradualmente, do interior dos próprios mitos, como uma racionalização deles. 
Atualmente, consideram-seas duas respostas exageradas e afirma-se que a Filosofia, 
percebendo as contradições e as limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando 
as narrativas míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação inteiramente 
nova e diferente. 
 
3. DIFERENÇAS ENTRE FILOSOFIA E MITO 
a. O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, 
longínquo e fabuloso; voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como 
existe no presente. 
A Filosofia, ao contrário, preocupa-se em explicar como e por que, no passado, no 
presente e no futuro (isto é, na totalidade do tempo), as coisas são como são. 
b. O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças 
divinas sobrenaturais e personalizadas. 
A Filosofia, ao contrário, explica a produção natural das coisas por elementos e causas 
naturais e impessoais. 
O mito falava em Urano, Ponto e Gaia; a Filosofia fala em céu, mar e terra. O mito 
narra a origem dos seres celestes (os astros), terrestres (plantas, animais, homens) e 
marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. 
A Filosofia explica o surgimento desses seres por composição, combinação e separação 
dos quatro elementos - úmido, seco, quente e frio, ou água, terra, fogo e ar. 
c. O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não 
só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a 
confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. 
A Filosofia, ao contrário, não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis, 
mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da 
explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os 
seres humanos. 
 
4. CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA 
FILOSOFIA 
Resolvido esse problema, temos ainda um último a solucionar: o que tornou possível o 
surgimento da Filosofia na Grécia no final do século VII e no início do século VI a.C.? 
Quais as condições materiais, isto é, econômicas, sociais, políticas e históricas que 
permitiram o surgimento da Filosofia? 
Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da Filosofia 
na Grécia: 
4.1. As viagens marítimas, que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os 
mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros 
seres humanos e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e 
seres fabulosos não possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens 
13 
 
produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a 
exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer; 
4.2. A invenção do calendário, que é uma forma de calcular o tempo segundo as 
estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com 
isso, uma capacidade de abstração nova ou uma percepção do tempo como algo natural 
e não como um poder divino incompreensível; 
4.3 A invenção da moeda, que permitiu uma forma de troca que não se realiza através 
das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca 
abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, 
revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização; 
4.4 O surgimento da vida urbana, com predomínio do comércio e do artesanato, 
dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e troca, e diminuindo o prestígio das 
famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram 
criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava 
encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia 
de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias), fez com que se 
procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos 
conhecimentos, favorecendo um ambiente em que a Filosofia poderia surgir; 
4.5. A invenção da escrita alfabética, que, como a do calendário e a da moeda, revela 
o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita 
alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas - como os hieróglifos dos 
egípcios ou os ideogramas dos chineses - supõe que não se represente uma imagem da 
coisa que está sendo dita, mas a ideia dela, o que dela se pensa e se transcreve; 
4.6. A invenção da política, que introduz três aspectos novos e decisivos para o 
nascimento da Filosofia: 
1. A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide 
por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas. O 
aspecto legislado e regulado da cidade - da polis - servirá de modelo para a Filosofia 
propor o aspecto legislado, regulado e ordenado do mundo como um mundo racional. 
2. O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de 
discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Neste, um poeta-vidente, que 
recebia das deusas ligadas à memória (a deusa Mnemosyne, mãe das Musas, que 
guiavam o poeta) uma iluminação misteriosa ou uma revelação sobrenatural, dizia aos 
homens quais eram as decisões dos deuses que eles deveriam obedecer. 
Com a polis, isto é, a cidade política, surge a palavra como direito de cada cidadão de 
emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma 
decisão proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político como a palavra 
humana compartilhada, como diálogo, discussão e deliberação humana, isto é, como 
decisão racional e exposição dos motivos ou das razões para fazer ou não fazer alguma 
coisa. 
A política, valorizando o humano, o pensamento, a discussão, a persuasão e a decisão 
racional, valorizou o pensamento racional e criou condições para que surgisse o 
discurso ou a palavra filosófica. 
3. A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados 
por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, 
ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos. A ideia de um 
14 
 
pensamento que todos podem compreender e discutir, que todos podem comunicar e 
transmitir, é fundamental para a Filosofia. 
 
5. O MITO DA CAVERNA 
O Mito da Caverna narrado por Platão no livro VII do Republica é, talvez, uma das 
mais poderosas metáforas imaginadas pela filosofia, em qualquer tempo, para descrever 
a situação geral em que se encontra a humanidade. Para o filósofo, todos nós estamos 
condenados a ver sombras a nossa frente e tomá-las como verdadeiras. Essa poderosa 
crítica à condição dos homens, escrita há quase 2500 anos, inspirou e ainda inspira 
inúmeras reflexões pelos tempos afora. 
Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro, cuja entrada 
permite a passagem da luz exterior. Desde seu nascimento, geração após geração, seres 
humanos ali vivem acorrentados, sem poder mover a cabeça para a entrada, nem 
locomover-se, forçados a olhar apenas a parede do fundo, e sem nunca terem visto o 
mundo exterior nem a luz do sol. Acima do muro, uma réstia de luz exterior ilumina o 
espaço habitado pelos prisioneiros, fazendo com que as coisas que se passam no mundo 
exterior sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Por trás do 
muro, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras de homens, 
mulheres, animais cujas sombras são projetadas na parede da caverna. Os prisioneiros 
julgam que essas sombras são as próprias coisas externas e que os artefatos projetados 
são os seres vivos que se movem e falam.Um dos prisioneiros, tomado pela 
curiosidade, decide fugir da caverna. Fabrica um instrumento com o qual quebra os 
grilhões e escala o muro. Sai da caverna, e no primeiro instante fica totalmente cego 
pela luminosidade do sol, com a qual seus olhos não estão acostumados; pouco a pouco, 
habitua-se à luz e começa ver o mundo. Encanta-se, deslumbra-se, tem a felicidade de, 
finalmente, ver as próprias coisas, descobrindo que, em sua prisão, vira apenas sombras. 
Deseja ficar longe da caverna e só voltará a ela se for obrigado, para contar o que viu e 
libertar os demais. Assim como a subida foi penosa, porque o caminho era íngreme e a 
luz ofuscante, também o retorno será penoso, pois será preciso habituar-se novamente às 
trevas, o que é muito mais difícil do que habituar-se à luz. De volta à caverna, o 
prisioneiro será desajeitado, não saberá mover-se nem falar de modo compreensível 
para os outros, não será acreditado por eles e correrá o risco de ser morto pelos que 
jamais abandonarão a caverna. 
 
5.1.Interpretação 
A caverna, diz Platão, é o mundo sensível onde vivemos. A réstia de luz que projeta 
as sombras na parede é um reflexo da luz verdadeira (as ideias) sobre o mundo sensível. 
Somos os prisioneiros. As sombras são as coisas sensíveis que tomamos pelas 
verdadeiras. Os grilhões são nossos dogmas, preconceitos, nossa confiança em nossos 
sentidos e opiniões. O instrumento que quebra os grilhões e faz a escalada do muro é a 
dialética. O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo. A luz que ele vê é a luz plena do 
ser, isto é, o bem, que ilumina o mundo inteligível como o sol ilumina o mundo 
sensível. O retorno à caverna é o diálogo filosófico. Os anos despendidos na criação do 
instrumento para sair da caverna são o esforço da alma, descrito na Carta Sétima, para 
produzir a "faísca" do conhecimento verdadeiro pela "fricção" dos modos de 
conhecimento. Conhecer é um ato de libertação e iluminação. 
15 
 
O Mito da Caverna apresenta a dialética como movimento ascendente de 
libertação do nosso olhar que nos libera da cegueira para vermos a luz das ideias. 
Mas descreve também o retorno do prisioneiro para ensinar aos que permaneceram na 
caverna como sair dela. Há, assim, dois movimentos: o de ascensão (a dialética 
ascendente), que vai da imagem à crença ou opinião, desta para a matemática e desta 
para a intuição intelectual e à ciência; e o de descensão (a dialética descendente), que 
consiste em praticar com outros o trabalho para subir até a essência e a ideia. Aquele 
que contemplou as ideias no mundo inteligível desce aos que ainda não as 
contemplaram para ensinar-lhes o caminho. Por isso, desde Mênon, Platão dissera que 
não é possível ensinar o que são as coisas, mas apenas ensinar a procurá-las. 
Os olhos foram feitos para ver; a alma, para conhecer. Os primeiros estão destinados à 
luz solar; a segunda, à fulguração da ideia. A dialética é a técnica liberadora dos olhos 
do espírito. 
O relato da subida e da descida expõe como dupla violência necessária: a ascensão 
é difícil, dolorosa, quase insuportável; o retorno à caverna, uma imposição terrível 
à alma libertada, agora forçada a abandonar a luz e a felicidade. A dialética, como 
toda a técnica, é uma atividade exercida contra uma passividade, um esforço para 
concretizar seu fim forçando um ser a realizar sua própria natureza. No mito, a dialética 
faz a alma ver sua própria essência - conhecer - vendo as essências (ideia) - o objeto do 
conhecimento -, descobrindo seu parentesco com elas. A violência é libertadora porque 
desliga a alma do corpo, forçando-a a abandonar o sensível pelo inteligível. 
O Mito da Caverna nos ensina algo mais, afirma o filósofo alemão Martin Heidegger, 
num ensaio intitulado "A doutrina de Platão sobre a verdade", que interpreta o mito 
como exposição platônica do conceito da verdade. Desse ensaio, destacamos alguns 
aspectos: 
A ideia do Bem, correspondente ao sol, não só ilumina todas as outras, isto é, torna 
todas as outras visíveis para o olho do espírito, mas é também a ideia suprema, tanto 
porque é a visibilidade plena porque é a causa da visibilidade de todo o mundo 
inteligível. A filosofia, conhecimento da verdade, é conhecimento da ideia do bem, 
princípio incondicionado de todas as essências. Assim como o sol permite aos olhos ver, 
assim o bem permite à alma conhecer. A luz é a meditação entre aquele que conhece e o 
aquilo que se conhece. 
 
6. A CAIXA DE PANDORA 
É um mito grego que narra a chegada da primeira mulher à Terra e, com ela, a origem 
de todas as tragédias humanas. Essa história é apresentada na obra Os Trabalhos e os 
Dias, do poeta grego Hesíodo, que viveu no século VIII a.C. 
Prometeu, deus cujo nome em grego significa "aquele que vê o futuro", doou aos 
homens o fogo e os ensinou as técnicas para acendê-lo e mantê-lo. Zeus, o soberano dos 
deuses, enfureceu-se com esse ato, porque o segredo do fogo deveria ser mantido entre 
os deuses. Por isso, ordena a Hefesto, deus do fogo e das habilidades técnicas, que 
criasse uma mulher que fosse perfeita e que a apresentasse à assembleia dos deuses. 
Atena, a deusa da sabedoria e da guerra, vestiu essa mulher com uma roupa 
branquíssima e adornou-lhe a cabeça com uma guirlanda de flores, montada sobre uma 
coroa de ouro. Hefesto a conduziu pessoalmente aos deuses e todos ficaram admirados; 
cada um lhe deu um dom particular. Atena lhe ensinou as artes que convêm ao seu sexo, 
como a arte de tecer. Afrodite lhe deu o encanto, que despertaria o desejo dos homens. 
16 
 
As Cárites, deusas da beleza, e a deusa da persuasão ornaram seu pescoço com colares 
de ouro. Hermes, o mensageiro dos deuses, concedeu-lhe a capacidade de falar, 
juntamente com a arte de seduzir os corações por meio de discursos insinuantes. Depois 
que todos os deuses lhe deram seus presentes, ela recebeu o nome de Pandora, que em 
grego quer dizer "todos os dons". 
Finalmente, Zeus lhe entregou uma caixa bem fechada e ordenou que ela a levasse 
como presente a Prometeu. Entretanto, ele e Pandora não quiseram receber a caixa e 
recomendou a seu irmão, Epimeteu, que também não aceitasse nada vindo de Zeus. 
Epimeteu, cujo nome significa "aquele que reflete tarde demais", ficou encantado com a 
beleza de Pandora e a tomou como esposa. 
Pandora, não resisitindo à curiosidade, abriu a caixa e de lá escaparam todos os males 
que, a partir de então, assolam a humanidade e que tornam miserável a existência dos 
homens. Ao fechá-la, amedrontada diante do que via, deixou aprisionada na caixa a 
Esperança, uma criatura alada que estava prestes a voar que é a única forma por meio da 
qual os homens podem suportar todo mal que se abateu sobre eles. 
 
6.1. Interpretação 
Esse mito, como muitos outros, tem versões diferentes. Numa delas, por exemplo, a 
Esperança chega a escapar da caixa, e é graças a ela que os homens conseguem 
enfrentar todos os males e não desistem de viver. Além disso, nessa outra narrativa, o 
presente de Hermes não é a capacidade de seduzir, mas sim a falsidade. Fala-se, ainda, 
que não era uma caixa o que Pandora levava, mas um vaso. Essas variações, aliás, 
mostram como os mitos sofriam modificações à medida que eram narrados. 
Na Grécia antiga, em suma, é importante ressaltar essa "familiaridade" das pessoas com 
os deuses. Os mitos formavam, para os gregos daquele tempo, um sistema complexo, 
que explicava praticamente todos os elementos de sua cultura. Eles estavam organizados 
num conjunto coerente, lógico; em termos amplos, era uma maneira de ver o mundo, de 
explicá-lo e compreendê-lo. 
O conteúdo relata-nos o modo como os gregos compreendiam a natureza feminina, 
acentuando sua beleza, sensualidade e poderde destruição para o homem, diz Fernando 
Segolin, professor de Literatura da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São 
Paulo. 
A importância de compreendermos tal metáfora reside, essencialmente, na condição de 
entendermos que a memória que constrói a imagem da mulher é pautada por fato que 
culminam em uma imagem complexa, na medida em que ela parece catalisar a culpa 
pelos males da humanidade. Se pensarmos na versão do Pecado Original, como trata a 
Bíblia Sagrada, teremos uma outra construção da imagem da mulher que lhe confere 
características negativas. 
A curiosidade, o poder de sedução e a beleza da mulher formam uma imagem de pouca 
confiança e a apresentam ao mundo dentro de uma complexa dualidade – desejada e 
temida pelos males que poderá causar. 
Uma leitura sob a ótica da ideologia que perpassa o texto permite-nos compreender que 
a fúria de Zeus pode ser atribuída ao fato de que ao poder dominante sempre interessa a 
alienação dos dominados, pois o conhecimento leva o homem a enxergar a realidade e, 
diante desta, de questionar suas incoerências. Logo, o homem, dotado de conhecimento, 
torna-se crítico e, desse modo, indesejável ao poder dominante. 
17 
 
Sob a mesma perspectiva, podemos dizer que, sendo o homem – dominante – em 
função da memória que o define como um ser dotado de força e coragem, a imagem da 
mulher – dominada – em função da memória que a define frágil e dependente do 
homem – uma vez descrita por ele, não poderia ser constituída de elementos capazes de 
desfazer a relação de dominação entre ambos. 
 
 
 
[1]Texto adaptado da obra Convite à Filosofia, Unidade 1, A Filosofia, Capítulo 1 Origem da Filosofia 
da autoria de Marilena Chauí, Editora Ática, São Paulo, 2000. 
StatusHabilitadoConteúdo 
MÓDULO I - TEXTO 3 
 
A RAZÃO[1] 
1. OS VÁRIOS SENTIDOS DA PALAVRA RAZÃO 
A Filosofia se realiza como conhecimento racional da realidade natural e cultural, das 
coisas e dos seres humanos. Dissemos que ela confia na razão e que, hoje, ela também 
desconfia da razão. Até agora, não dissemos o que é a razão, apesar de ser ela tão antiga 
quanto a Filosofia. 
Por identificar razão e certeza, a Filosofia afirma que a verdade é racional; por 
identificar razão e lucidez (não ficar ou não estar louco), a Filosofia chama nossa razão 
de luz e luz natural; por identificar razão e motivo, por considerar que sempre agimos e 
falamos movidos por motivos, a Filosofia afirma que somos seres racionais e que nossa 
vontade é racional; por identificar razão e causa e por julgar que a realidade opera de 
acordo com relações causais, a Filosofia afirma que a realidade é racional. 
Para muitos filósofos, a razão não é apenas a capacidade moral e intelectual dos seres 
humanos, mas também uma propriedade ou qualidade primordial das próprias coisas, 
existindo na própria realidade. Para esses filósofos, nossa razão pode conhecer a 
realidade (natureza, sociedade, história) porque ela é racional em si mesma. 
Fala-se, portanto, em razão objetiva (a realidade é racional em si mesma) e em razão 
subjetiva(a razão é uma capacidade intelectual e moral dos seres humanos). 
A razão objetiva é a afirmação de que o objeto do conhecimento ou a realidade é 
racional. 
Na razão objetiva, considera-se que a própria natureza e o mundo obedecem a uma 
lógica, a uma racionalidade. A razão humana faria parte dessa racionalidade extrínseca e 
tentaria se incorporar e ajustar junto a ela. 
Se a razão for objetiva, considera-se que o homem percebe uma ordem do mundo com a 
razão, mas essa ordem existe no próprio mundo, tendo sido engendrada por uma 
inteligência ou sendo inerente ao funcionamento da máquina do mundo. 
A razão subjetiva é a afirmação de que o sujeito do conhecimento e da 
ação é racional. 
A razão subjetiva não identifica uma racionalidade na natureza, mas que o sujeito do 
conhecimento, ou seja, aquele que se propõe conhecer usando suas faculdades mentais, 
que é racional. O homem é racional e usa a razão para discernir um mundo e uma 
natureza que muitas vezes não são racionais, pelo menos não essencialmente. 
18 
 
Para muitos filósofos, a Filosofia é o momento do encontro, do acordo e da harmonia 
entre as duas razões ou racionalidades. 
 
2. ORIGEM DA PALAVRA RAZÃO 
Na cultura da chamada sociedade ocidental, a palavra razão origina-se de duas fontes: a 
palavra latina ratio e a palavra grega logos. Ambas significam: contar, reunir, medir, 
juntar, separar, calcular. 
Por isso, logos, ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente, com medida e 
proporção, com clareza e de modo compreensível para outros. 
Assim, na origem: 
Razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e claramente, para 
pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é uma maneira de organizar a realidade 
pela qual esta se torna compreensível. É também a confiança de que podemos ordenar e 
organizar as coisas porque são organizáveis, ordenáveis, compreensíveis nelas mesmas 
e por elas mesmas, isto é, as próprias coisas são racionais. 
Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra razão fez com que ela fosse 
considerada oposta a quatro outras atitudes mentais: 
1. ao conhecimento ilusório, isto é, ao conhecimento da mera aparência das coisas que 
não alcança a realidade ou a verdade delas. Para a razão, a ilusão provém de nossos 
costumes, preconceitos, aceitação imediata das coisas tais como aparecem e tais como 
parecem ser. As ilusões criam as opiniões que variam de pessoa para pessoa e de 
sociedade para sociedade. A razão se opõe à mera opinião; 
2. às emoções, aos sentimentos, às paixões, que são cegas, caóticas, desordenadas, 
contrárias umas às outras, ora dizendo “sim” a alguma coisa, ora dizendo “não” a essa 
mesma coisa, como se não soubéssemos o que queremos e o que as coisas são. A razão 
é vista como atividade ou ação (intelectual e da vontade) oposta à paixão ou à 
passividade emocional; 
3. à crença religiosa, pois, nesta, a verdade nos é dada pela fé numa revelação divina, 
não dependendo do trabalho de conhecimento realizado pela nossa inteligência ou pelo 
nosso intelecto. A razão é oposta à revelação e por isso os filósofos cristãos 
distinguem a luz natural - a razão - da luz sobrenatural - a revelação; 
4. ao êxtase místico, no qual o espírito mergulha nas profundezas do divino e participa 
dele, sem qualquer intervenção do intelecto ou da inteligência, nem da vontade. Pelo 
contrário, exige um estado de abandono, de rompimento com a atividade intelectual e 
com a vontade, um rompimento com o estado consciente, para entregar-se à fruição do 
abismo infinito. A razão ou consciência se opõe à inconsciência do êxtase. 
 
3. OS PRINCÍPIOS RACIONAIS 
 
Desde seu começo, a Filosofia considerou que a razão opera seguindo certos princípios 
que ela própria estabelece e que estão em concordância com a própria realidade, mesmo 
quando os empregamos sem conhecê-los explicitamente. Ou seja, o conhecimento 
racional obedece a certas regras ou leis fundamentais que respeitamos até mesmo 
19 
 
quando não conhecemos diretamente quais são e o que são. Nós as respeitamos porque 
somos seres racionais e porque são princípios que garantem que a realidade é racional. 
São eles: 
Princípio da identidade: uma coisa, seja ela qual for, só pode ser conhecida e pensada 
se for percebida e conservada com sua identidade; 
Princípio da não contradição: (também conhecido como princípio da contradição) é 
impossível que a árvore que está diante de mim seja e não seja uma mangueira; que o 
cachorrinho de dona Filomena seja e não seja branco; 
Princípio do terceiro excluído: define a decisão de um dilema - “ou isto ou aquilo” - e 
exige que apenasuma das alternativas seja verdadeira. Mesmo quando temos, por 
exemplo, um teste de múltipla escolha, escolhemos, na verdade, apenas entre duas 
opções - “ou está certo ou está errado” - e não há terceira possibilidade ou terceira 
alternativa; 
Princípio da razão suficiente ou princípio da causalidade: afirma que tudo o que 
existe e tudo o que acontece tem uma razão (causa ou motivo) para existir ou para 
acontecer e que tal razão (causa ou motivo) pode ser conhecida pela nossa razão. 
Ex.: A morte é um efeito necessário e universal; a guerra é a causa necessária e 
universal da morte de pessoas. Os dois fatos podem ou não acontecer. Mas, se uma 
guerra acontecer, terá necessariamente como efeito mortes. 
 
4. CARACTERÍSTICAS DOS PRINCÍPIOS DA RAZÃO: 
- não possuem um conteúdo determinado: são formas: indicam como as coisas 
devem ser e como devemos pensar, mas não nos dizem quais coisas são, nem quais os 
conteúdos que devemos ou vamos pensar; 
- possuem validade universal: onde houver razão (nos seres humanos e nas coisas, nos 
fatos e nos acontecimentos), em todo o tempo e em todo lugar, tais princípios são 
verdadeiros e empregados por todos (os humanos) e obedecidos por todos (coisas, fatos, 
acontecimentos); 
- são necessários: indispensáveis para o pensamento e a vontade, indispensáveis para as 
coisas, os fatos e os acontecimentos. Indicam que algo é assim e não pode ser de outra 
maneira.Necessário significa: é impossível que não seja dessa maneira e que 
pudesse ser de outra. 
A antropologia mostrou como outras culturas podem oferecer uma concepção muito 
diferente da qual estamos acostumados a ter sobre o pensamento e a realidade. Isso não 
significa, como imaginaram durante séculos os colonizadores, que tais culturas ou 
sociedades sejam irracionais ou pré-racionais, mas que possuem uma outra ideia do 
conhecimento e outros critérios para a explicação da realidade. 
Como a palavra razão é europeia e ocidental, parece difícil falarmos numa outra razão, 
que seria própria de outros povos e culturas. No entanto, o que os estudos 
antropológicos mostraram é que precisamos reconhecer a “nossa razão” e a 
“razão deles”, que se trata de uma outra razão e não da mesma razão em diferentes 
graus de uma única evolução. 
 
5. PROBLEMAS QUE ABALARAM A RAZÃO NO SÉCULO XX: 
20 
 
A noção de ideologia introduzida por Marx, um não filósofo, e o conceito de 
inconsciente, trazido por Freud, também não filósofo. 
A noção de ideologia veio mostrar que as teorias e os sistemas filosóficos ou 
científicos, aparentemente rigorosos e verdadeiros, escondiam a realidade social, 
econômica e política, e que a razão, em lugar de ser a busca e o conhecimento da 
verdade, poderia ser um poderoso instrumento de dissimulação da realidade, a serviço 
da exploração e da dominação dos homens sobre seus semelhantes. 
A razão seria um instrumento da falsificação da realidade e de produção de 
ilusões pelas quais uma parte do gênero humano se deixa oprimir pela outra. 
A noção de inconsciente, por sua vez, revelou que a razão é muito menos poderosa do 
que a Filosofia imaginava, pois nossa consciência é, em grande parte, dirigida e 
controlada por forças profundas e desconhecidas que permanecem inconscientes e 
jamais se tornarão plenamente conscientes e racionais. 
A razão e a loucura fazem parte de nossa estrutura mental e de nossas vidas e, 
muitas vezes, como no fenômeno do nazismo, a razão é louca e destrutiva. 
Fatos como esses levaram o filósofo francês Merleau-Ponty a dizer que a Filosofia 
contemporânea deveria encontrar uma nova ideia da razão, uma razão alargada, na 
qual pudessem entrar os princípios da racionalidade definidos por outras culturas e 
encontrados pelas descobertas científicas. 
Isso é duplamente necessário e importante porque se revela uma luta contra o 
colonialismo e o etnocentrismo – uma contravisão de que a “nossa” razão e a “nossa” 
cultura são superiores e melhores do que as dos outros povos. Além do mais, a razão 
estaria destinada ao fracasso se não fosse capaz de oferecer para si mesma novos 
princípios exigidos pelo seu próprio trabalho racional de conhecimento. 
 
6. O SENSO COMUM[2] 
O Sol é menor do que a Terra - certezas como essa formam o senso comum de nossa 
sociedade, transmitido de geração em geração e, muitas vezes, transformando-se em 
crença religiosa, em doutrina inquestionável. Contudo, a astronomia demonstra que o 
sol é, muitas vezes, maior do que a Terra e, desde Copérnico, sabe-se que é a Terra que 
se move em torno dele. 
Há significativa diferença entre nossas certezas cotidianas e o conhecimento científico. 
 
- Características do senso comum 
Nossos saberes cotidianos estão atrelados a características que lhes são próprias: 
a) São subjetivos, isto é, exprimem sentimentos e opiniões individuais e de grupos, 
variando, portanto; 
b) São qualitativos, isto é, as coisas são julgadas por nós a partir das qualidades que 
entendemos que tenham, tais como doces ou azedas; 
c) São heterogêneos, isto é, referem-se a fatos que julgamos diferentes, porque os 
percebemos como diversos entre si; 
d) São individualizadores por serem qualitativos e heterogêneos, isto é, cada coisa ou 
cada fato nos aparece como um indivíduo ou como um ser autônomo: a seda é macia; 
e) São generalizadores, pois tendem a reunir, numa só opinião ou ideia, coisas e fatos 
julgados semelhantes: falamos dos animais, das plantas, dos sees humanos etc.; 
21 
 
f) Em decorrência das generalizações, tendem a estabelecer relações de causa e efeito 
entre as coisas ou entre os fatos: “onde há fumaça, há fogo”; “dize-me com quem andas 
e te direi quem és”; “ingerir sal quando se tem tontura é bom para a pressão” etc.; 
g) Não se surpreendem com a regularidade, constância, repetição e diferença das coisas; 
mas, ao contrário, a admiração e o espanto se dirigem para o que é imaginado como 
único, extraordinário ou miraculoso; 
h) Pelo mesmo motivo e não por compreenderem o que seja investigação científica, 
tendem a identificá-la com a magia, considerando que ambas lidam com o misterioso, o 
oculto, o incompreensível; 
Essa mesma identificação entre ciência e magia aparece na televisão brasileira, como 
no programa o Fantástico, como o nome indica, mostra aos telespectadores resultados 
científicos como se fossem espantosos obra de magia, assim como exibem magos 
ocultistas como se fossem cientistas. 
i) Costumam projetar nas coisas ou no mundo sentimentos de angústia e de medo diante 
do desconhecido. Durante a Idade Média, as pessoas viam o demônio em toda a parte e, 
hoje, enxergam discos voadores no espaço; 
Nossas certezas cotidianas e o senso comum de nossa sociedade ou de nosso grupo 
social cristalizam-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar toda a 
realidade que nos cerca e todos os acontecimentos por serem subjetivos, 
generalizadores, expressões de sentimentos de medo e angústia, e de incompreensão 
quanto ao trabalho científico. 
 
 
- A ATITUDE CIENTÍFICA 
A ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, de nossa adesão imediata às 
coisas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso, onde vemos coisas, 
fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obstáculos, aparências que 
precisam ser explicadas e, em certos casos, afastadas. 
O conhecimento científico opõe-se ponto por ponto às características do senso comum: 
a) é objetivo: procura as estruturas universais e necessárias das coisas investigadas; 
b) é quantitativo: busca medidas, padrões, critérios de comparação e avaliação para 
coisas que parecem ser diferentes. Ex.: as diferenças de intensidade dos sons, pelo 
comprimento das ondas sonoras; 
c) é homogêneo:busca as leis gerais de funcionamento dos fenômenos, que são as 
mesmas para fatos que nos parecem diferentes. Por exemplo, a lei universal da 
gravitação demonstra que a queda de uma pedra e a flutuação de uma pluma obedecem 
à mesma lei de atração e repulsão no interior do campo gravitacional; 
d) é generalizador: reúne individualidades, percebidas como diferentes, sob as mesmas 
leis, os mesmos padrões ou critérios de medida, mostrando que possuem a mesma 
estrutura. Ex.: a química mostra que a enorme variedade de corpos se reduz a um 
número limitado de corpos simples que se combinam de maneiras variadas, de modo 
que o número de elementos é infinitamente menor do que a variedade empírica dos 
compostos; 
e) são diferenciadores, pois não reúnem nem generalizam por semelhanças aparentes, 
mas distinguem os que parecem iguais, desde que obedeçam a estruturas diferentes. A 
palavra queijo parece ser a mesma coisa que a palavra inglesa cheese e a palavra 
francesa fromage, quando, na realidade, são muito diferentes, porque se referem a 
estruturas diferentes; 
f) só estabelecem relações causais depois de investigar a natureza ou estrutura do fato 
estudado e suas relações com outros semelhantes ou diferentes. Ex.: um corpo não cai 
22 
 
porque é pesado. O peso de um corpo depende do campo gravitacional onde se encontra 
– Ex.: nas naves espaciais, onde a gravidade é igual a zero, todos os corpos flutuam, 
independentemente do peso ou do tamanho; 
g) surpreende-se com a regularidade, a constância, a frequência, a repetição e a 
diferença das coisas e procura mostrar que o maravilhoso, o extraordinário ou o 
“milagroso” é um caso particular do que é regular, normal, frequente. Procura, assim, 
apresentar explicações racionais, claras, simples e verdadeiras para os fatos, opondo-se 
ao espetacular, ao mágico e ao fantástico; 
h) distingue-se da magia, pois esta admite uma participação ou simpatia secreta entre 
coisas diferentes, que agem umas sobre as outras por meio de qualidades ocultas e 
considera o psiquismo humano - uma força capaz de ligar-se a psiquismos superiores 
(planetários, astrais, angélicos, demoníacos) para provocar efeitos inesperados nas 
coisas e nas pessoas. 
A atitude científica, ao contrário, opera um desencantamento ou desenfeitiçamento do 
mundo, mostrando que nele não agem forças secretas, mas causas e relações racionais 
que podem ser conhecidas e que tais conhecimentos podem ser transmitidos a todos; 
i) afirma que, pelo conhecimento, o homem pode libertar-se do medo e das superstições, 
deixando de projetá-los no mundo e nos outros; 
j) procura renovar-se e modificar-se continuamente, evitando a transformação das 
teorias em doutrinas, e destas em preconceitos sociais. 
O fato científico resulta de um trabalho paciente e lento de investigação e de pesquisa 
racional, aberto a mudanças, não sendo nem um mistério incompreensível nem uma 
doutrina geral sobre o mundo; 
Os fatos ou objetos científicos não são dados empíricos espontâneos de nossa 
experiência cotidiana, mas são construídos pelo trabalho da investigação científica. 
k) separar os elementos subjetivos e objetivos de um fenômeno; 
l) construir o fenômeno como um objeto do conhecimento, controlável, verificável, 
interpretável e capaz de ser retificado e corrigido por novas elaborações; 
m) demonstrar e provar os resultados obtidos durante a investigação, graças ao rigor das 
relações definidas entre os fatos estudados; a demonstração deve ser feita não só para 
verificar a validade dos resultados obtidos, mas também para prever racionalmente 
novos fatos como efeitos dos já estudados; 
n) relacionar com outros fatos um fato isolado, integrando-o numa explicação racional 
unificada, pois somente essa integração transforma o fenômeno em objeto científico, 
isto é, em fato explicado por uma teoria; 
o) formular uma teoria geral sobre o conjunto dos fenômenos observados e dos fatos 
investigados, isto é, formular um conjunto sistemático de conceitos que expliquem e 
interpretem as causas e os efeitos, as relações de dependência, identidade e diferença 
entre todos os objetos que constituem o campo investigado. 
 
 
- PR- REQUISITOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE UMA CIÊNCIA/ EXIGÊNCIAS 
DA PRÓPRIA CIÊNCIA. 
Delimitar ou definir os fatos a investigar, separando-os de outros semelhantes ou 
diferentes;estabelecer os procedimentos metodológicos para observação, 
experimentação e verificação dos fatos; construir instrumentos técnicos e condições de 
laboratório específicas para a pesquisa;elaborar um conjunto sistemático de conceitos 
que formem a teoria geral dos fenômenos estudados, que controlem e guiem o 
andamento da pesquisa, além de ampliá-la com novas investigações, e permitam a 
previsão de fatos novos a partir dos já conhecidos: 
23 
 
 
- COMO A CIÊNCIA DISTINGUE-SE DO SENSO COMUM? 
O senso comum é uma opinião baseada em hábitos, preconceitos, tradições 
cristalizadas. 
A ciência baseia-se em pesquisas, investigações metódicas e sistemáticas e na exigência 
de que as teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a realidade. A 
ciência é conhecimento que resulta de um trabalho racional. 
 
 
- O QUE É UMA TEORIA CIENTÍFICA? 
 
É um sistema ordenado e coerente de proposições ou enunciados baseados em um 
pequeno número de princípios, cuja finalidade é descrever, explicar e prever do modo 
mais completo possível um conjunto de fenômenos, oferecendo suas leis necessárias. A 
teoria científica permite que uma multiplicidade empírica de fatos aparentemente muito 
diferentes sejam compreendidos como semelhantes e submetidos às mesmas leis; e, 
vice-versa, permite compreender por que fatos aparentemente semelhantes são 
diferentes e submetidos a leis diferentes. 
 
 
 
[1]Texto adaptado da obra Convite à Filosofia, Unidade 2, A Razão, Capítulo 1- A razão da autoria de 
Marilena Chauí, Editora Ática, São Paulo, 2000. 
[2]Texto adaptado da obra: Convite à Filosofia, Unidade 7, As ciências, Capítulo 1- A atitude científica, 
da autoria de Marilena Chauí, Ed. Ática, São Paulo, 2000. 
StatusHabilitadoConteúdo 
MÓDULO II – TEXTO 1 
1. PERÍODO SOCRÁTICO OU ANTROPOLÓGICO[1] 
Com o desenvolvimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes militares, 
Atenas tornou-se o centro da vida social, política e cultural da Grécia, vivendo seu 
período de esplendor, conhecido como o Século de Péricles. 
É a época de maior florescimento da democracia. A democracia grega possuía, entre 
outras, duas características de grande importância para o futuro da Filosofia: 
 A igualdade de todos os homens adultos perante as leis e o direito de todos de 
participar diretamente do governo da cidade, da polis. Como consequência, a 
democracia sendo direta e não por eleição de representantes. 
 A garantia de todos na participação do governo e aos que dele participavam, o 
direito de exprimir, discutir e defender em público suas opiniões sobre as 
decisões que a cidade deveria tomar. 
 
Surge a figura política do cidadão. 
 
Nota: Estavam excluídos da cidadania o que os gregos chamavam de dependentes: 
mulheres, escravos, crianças e velhos. Também estavam excluídos os estrangeiros. 
24 
 
Para conseguir adesão nas assembleias, o cidadão precisava saber falar e ser capaz de 
persuadir. Com isso, uma mudança profunda vai ocorrer na educação grega. 
Quando as famílias aristocráticas, senhoras das terras dominavam o poder, tudo lhes 
pertencia. Valendo-se dos dois grandes poetas gregos, Homero e Hesíodo, criaram um 
padrão de educação, próprio dos aristocratas que afirmava que o homem ideal ou 
perfeito era o guerreiro belo e bom.Belo: seu corpo era formado pela ginástica,pela 
dança e pelos jogos de guerra, imitando os heróis da guerra de Troia (Aquiles, Heitor, 
Ájax, Ulisses). Bom: seu espírito era formado escutando Homero e Hesíodo, 
aprendendo as virtudes admiradas pelos deuses e praticadas pelos heróis, a principal 
delas sendo a coragem diante da morte, na guerra. A virtude era a Arete (excelência e 
superioridade), própria dos melhores, os aristoi. 
Quando, porém, a democracia se instala e o poder vai sendo retirado dos aristocratas, 
esse ideal educativo ou pedagógico também vai sendo substituído por outro. O ideal da 
educação do Século de Péricles é a formação do cidadão. A Arete é a virtude cívica. 
O cidadão mais aparece e mais exerce sua cidadania, quando opina, discute, delibera e 
vota nas assembleias. 
Assim, a nova educação estabelece como padrão ideal: a formação do bom orador, isto 
é, aquele que saiba falar em público e persuadir os outros na política. 
 
2. OS SOFISTAS 
 
Os sofistas - primeiros filósofos do período socrático - adotavam essa educação, 
substituindo a educação antiga dos poetas. Os sofistas mais importantes foram: 
Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini e Isócrates de Atenas. 
A palavra sofista deriva do grego sophistés, com o sentido original de habilidade 
específica em algum setor, ou homem que detém um determinado saber (do 
grego sóphos, «saber, sabedoria»). 
A partir do século V a.C. surgiram os professores itinerantes de gramática, eloquência e 
retórica, que ofereciam seus conhecimentos para educar os jovens na prática do debate 
público. A educação tradicional era insuficiente para preparar o cidadão para a 
discussão política. Era preciso o domínio da linguagem e de flexibilidade e agudeza 
dialética para derrotar os adversários. 
Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica, afirmando ser possível 
ensinar aos jovens tal arte para que fossem bons cidadãos. Diziam que os ensinamentos 
dos filósofos cosmologistas estavam repletos de erros e contradições e que não tinham 
utilidade para a vida dapolis. 
Que arte era essa? A arte da persuasão. Os sofistas ensinavam técnicas de persuasão 
para os jovens, que aprendiam a defender a posição ou opinião A, depois a posição ou 
opinião contrária,não A, de modo que, numa assembleia, soubessem ter fortes 
argumentos a favor ou contra uma opinião e ganhassem a discussão. 
O êxito desses tutores foi extraordinário. Passaram a ser então designados de sofistas, 
sábios capazes de elaborar discursos fascinantes, com intenso poder de persuasão. Por 
outro lado, foram recebidos com hostilidade e desconfiança pelos partidários do antigo 
regime aristocrático e conservador. 
Pensadores como Sócrates, Platão, Xenofonte e Aristóteles passaram a atacar 
sistematicamente os sofistas. O termo que antes era um elogio adquire um sentido 
25 
 
pejorativo: argumento sofístico ou sofisma é o mesmo que falso argumento ou 
argumento intencionalmente falacioso. 
Na peça As Nuvens, Aristófanes diz que o sofista possui a habilidade de pronunciar um 
discurso justo e um discurso injusto sobre o mesmo tema. No caso de um homicídio, por 
exemplo, o sofista poderia argumentar com igual brilhantismo como advogado de 
defesa e como promotor de acusação. 
Outro discípulo de Sócrates e contemporâneo de Platão, Xenofonte escreve nos Ditos e 
Feitos Memoráveis de Sócrates, que os sofistas eram comerciantes da sabedoria, e como 
tais comparáveis à venalidade da prostituição. 
E Aristóteles, na obra Argumentos Sofísticos, acusa os sofistas de "traficantes de uma 
sabedoria aparente, não real". (Arg. Sof., I, 165a). Como se não bastasse, ainda o 
mesmo Platão em diálogos como Ménon e Crátilo, dirige aos sofistas as mesmas 
denúncias de vendedores caros de uma ciência não real, mas aparente. 
Como homem de seu tempo, Sócrates, considerado o patrono da Filosofia, concordava 
com os sofistas em relação: 
- à educação antiga do guerreiro belo e bom já não atendia às exigências da sociedade 
grega; 
- aos filósofos cosmologistas, que defendiam ideias tão contrárias entre si que também 
não eram uma fonte segura para o conhecimento verdadeiro. 
 
Nota: Temos dificuldade para conhecer o pensamento dos grandes sofistas porque eles 
não deixaram textos. Restaram fragmentos apenas. Temos conhecimento do que eles 
disseram por meio de seus adversários - Platão, Xenofonte, Aristóteles. Portanto, não 
temos como saber se estes foram justos com os sofistas. Os historiadores mais recentes 
consideram os sofistas verdadeiros representantes do espírito democrático, isto é, da 
pluralidade conflituosa de opiniões e interesses, enquanto seus adversários seriam 
partidários de uma política aristocrática, na qual somente algumas opiniões e interesses 
teriam o direito para valer para o restante da sociedade. 
 
 
TEXTO 2 
 
3. SÓCRATES 
 
Nasceu em 477 ou 469 a.C., em Atenas, filho de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, 
parteira. Dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa 
alguma, não obstante sua pobreza. Desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre 
modelo irrepreensível de bom cidadão. Foi, acima de tudo, um autodidata e alcançou a 
alta cultura ateniense da época. 
O filósofo Sócrates, considerado o patrono da Filosofia, rebelou-se contra os sofistas, 
dizendo que não eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem respeito 
pela verdade, defendendo qualquer ideia, se isso fosse vantajoso. Corrompiam o 
espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valerem tanto quanto a verdade. 
Apesar de ter sido um valioso soldado, manteve-se afastado da vida pública e da política 
contemporânea, na medida em que estas não se coadunavam com a postura crítica e 
26 
 
ética que defendia. Acreditava que ao formar cidadãos sábios, honestos, 
temperados daria à pátria uma contribuição de valor singular. 
 
3.1. Proposta de Sócrates 
 
Propunha que, antes de querer conhecer a natureza e persuadir os outros, cada um 
deveria conhecer-se a si mesmo. A expressão “conhece-te a ti mesmo” que estava 
gravada no pórtico do templo de Apolo, patrono grego da sabedoria, tornou-se a divisa 
de Sócrates. 
Por fazer do autoconhecimento a condição de todos os outros conhecimentos 
verdadeiros, é que se diz que o período socrático é antropológico, isto é, voltado para o 
conhecimento do homem, particularmente de seu espírito e de sua capacidade para 
conhecer a verdade. 
O retrato que a história da Filosofia possui de Sócrates foi traçado por seu mais 
importante aluno e discípulo, o filósofo ateniense Platão. Nas obras de Platão temos o 
pensamento socrático, mas estas não nos podem dar o preciso retrato histórico do 
pensamento de Sócrates, na medida em que o retrato que o discípulo faz do mestre é 
necessariamente atravessado pela sua leitura. Ainda assim, cabe a Platão o privilégio de 
ter sido o grande historiador do pensamento de Sócrates. 
 
3.2 O retrato que Platão nos deixa de Sócrates 
 
Andava pelas ruas e praças de Atenas, pelo mercado e pela assembleia indagando a cada 
um: “Você sabe o que é isso que está dizendo?”, “Você sabe o que é isso em que 
acredita?”, “Você acha que conhece realmente aquilo em que acredita, aquilo em que 
está pensando, aquilo que está dizendo?”, “Você diz”, falava Sócrates, “que a coragem é 
importante, mas o que é a coragem? Você acredita que a justiça é importante, mas o que 
é a justiça? Você diz que ama as coisas e as pessoas belas, mas o que é a beleza? Você 
crê que seus amigos são a melhor coisa que você tem, mas o que é a amizade?” 
Sócrates fazia perguntas sobre as ideias e os valores nos quais os gregos acreditavam e 
que julgavam conhecer. Isso os deixava embaraçados, irritados e curiosos,

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