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QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI HIDROCARBONETOS 1- Nomenclatura A nomenclatura dos hidrocarbonetos, assim como os de todos os compostos orgânicos, está baseada na utilização de prefixos, infixos e sufixos. O prefixo indica o número de carbonos existente na cadeia: 1 C - MET 5 C - PENT 9 C - NON 2 C - ET 6 C - HEX 10 C - DEC 3 C - PROP 7 C - HEPT 11 C - UNDEC 4 C- BUT 8 C - OCT 12 C - DODEC O infixo está relacionado com a saturação do composto e, o sufixo, designa a subfunção do hidrocarboneto (alcano, alceno, alcadieno, alcino, alcenino, etc.). • A cadeia não contém insaturações - prefixo + ANO • A cadeia contém uma dupla ligação - prefixo + ENO • A cadeia contém uma tripla ligação - prefixo + INO • A cadeia contém uma ou duas duplas ligações - prefixo + ADIENO • A cadeia contém uma dupla e uma tripla ligação - prefixo + ENINO 2- Radicais livres Imagine uma ligação covalente entre carbono e hidrogênio; se houver uma ruptura homolítica dessa ligação, tem-se a formação de um radical livre: 1 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Os radicais são nomeados usando-se o prefixo do número de carbonos seguido do sufixo IL(a) ou IL (o). A seguir são representados os principais radicais livres derivados dos hidrocarbonetos. 3- A cadeia principal Um hidrocarboneto é nomeado de acordo com sua cadeia principal; a escolha da cadeia principal segue, em ordem de prioridade, as seguintes exigências: • Deve conter o maior número de insaturações • Deve ter a maior seqüência de carbonos possível • Deve apresentar o maior número de radicais e os menos complexos possíveis Os átomos de carbono restantes são considerados como radicais. A numeração da cadeia começa preferencialmente da extremidade mais próxima a insaturação, se houver; caso contrário inicia-se da extremidade mais próxima do carbono que contém mais radicais, dando preferência aos menos complexos. Veja o exemplo a seguir - a cadeia principal está em vermelho e os radicais em azul. 2 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI É fundamental localizar a insaturação na cadeia, numerando-a no final do nome. Veja que no exemplo acima, a dupla ligação está na quarta posição. Os radicais são colocados em ordem de complexidade ou em ordem alfabética, no caso de igual complexidade. Se o composto tiver cadeia fechada e esta contiver maior número de carbonos que a maior ramificação dá-se preferência a ela como principal e as ramificações são consideradas radicais; daí acrescenta-se o termo ciclo antes do prefixo. 4- Subfunções Os hidrocarbonetos são divididos em várias classes ou subfunções, baseadas na saturação ou insaturação do composto, o que lhes confere propriedades físico-químicas muito diferentes. As principais classes de hidrocarbonetos são: alcanos, alcenos, dienos, alcinos, alicíclicos e aromáticos. ALCANOS ou PARAFINAS 1- Nomenclatura e exemplos Nomenclatura oficial IUPAC: prefixo + ano 3 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Alguns exemplos importantes: OBS: é comum também a denominação n-alcano para os alcanos com cadeias normais, para diferenciá-los dos isômeros de cadeia ramificada. Ex: n-propano. 2- Conformações moleculares Os alcanos são hidrocarbonetos saturados, ou seja, todos os seus carbonos realizam quatro ligações simples. A hibridação nesse caso é sp3, o que lhes confere uma geometria tetraédrica. Veja a seguir duas conformações espaciais para a molécula de etano. Trata-se de duas posições completamente opostas entre si. No entanto, entre essas duas posições existe uma infinidade de outras posições possíveis. Essas posições são chamadas de conformações. Mas qual seria então a verdadeira conformação do etano? A resposta é: todas elas. A ligação sigma que une dois átomos de carbono tem simetria cilíndrica - a sobreposição de orbitais e a energia da ligação, portanto, deve ser a mesma em todas as disposições possíveis. Se os vários arranjos possíveis não diferem entre si quanto aos valores correspondentes de energia, a molécula não ficará restrita a uma única conformação entre eles, mas poderá mudar livremente de um arranjo para outro. Dado que a passagem de uma conformação para outra se faz por meio da rotação da ligação sigma carbono-carbono; diz-se que existe uma rotação livre à volta da ligação simples carbono-carbono. Certas propriedades físicas indicam que a conformação eclíptica, no caso do etano, aumenta a energia do sistema em 3 kcal/mol, devido a repulsões que surge entre os pares de elétrons que mantêm os hidrogênios em posição. Essa repulsão é chamada de interação não-dirigida, e desestabiliza o sistema. A maioria das moléculas do etano, portanto, deve existir na conformação interpolada, que é mais estável. Contudo, a barreira de 3 kcal/mol não pode ser considerada alta. 4 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Mesmo à temperatura ambiente, a fração de choques entre as moléculas é bastante elevada, ocorrendo com energia suficiente para promover a passagem de uma conformação em outra. A interconversão de uma estrutura em outra é tão rápida que não se pode separá-las. Em temperaturas muito baixas, porém, a energia dos choques entre as moléculas é baixa. Isso explica o fato de se ter conseguido separar dois isômeros do composto CHBr2CHBr2 em que há considerável aglomeração atômica. 3- Algumas fontes naturais e aplicações dos alcanos O metano, o mais simples dos alcanos, e outros alcanos com poucos átomos de carbono constituem a parte principal dos gases presentes nos terrenos petrolíferos e em locais pantanosos, local de existência de muita matéria orgânica em decomposição, ou nas minas de sais de potássio, onde se notam com freqüência, formações de gases ricos em metano. Outra fonte natural de alcanos é o petróleo, geralmente formado por uma mistura de hidrocarbonetos nos quais os átomos de carbono variam de 1 a 40. Também em algumas essências vegetais verifica-se a presença de alcanos, em especial o heptano normal. Outros alcanos, de elevada massa molecular, encontram-se em pequenas porcentagens na cera de abelha, principalmente o heptacosano (C27H56) e o hentriacotano (C31H64). 4- Propriedades físicas Por serem compostos completamente apolares, as forças que mantêm unidas as moléculas dos alcanos (forças de Van der Waals) são muitas fracas e de curto raio de ação - atuam apenas entre partes de moléculas vizinhas que estejam em contato, ou seja, entre as superfícies das moléculas. Deve-se esperar, portanto, que quanto maior for a molécula, e conseqüentemente a área superficial, maiores serão as forças intermoleculares. Assim, algumas propriedades físicas, como o ponto de fusão (PF) e o ponto de ebulição (PE) crescem à medida que aumenta o número de carbonos na cadeia dos alcanos. À temperatura ambiente os n-alcanos com até 4 carbonos são gasosos; de 5 a 16 carbonos são líquidos e acima de 17 são sólidos. Os alcanos isômeros apresentam diferenças no PE e PF. Por exemplo, o butano tem PE = 0,8o C e o isobutano tem PE = -11,7o C. Pode-se generalizar que, para alcanos isômeros, aquele que tiver maior número de ramificações terá menor ponto de ebulição. Imagina-se que, pela inserção de cadeias laterais, a molécula tende a aproximar-se da forma esférica; isso produz um decréscimo da área superficial relativa e, conseqüentemente, enfraquecimento das forças intermoleculares, as quais podem, assim, ser vencidas a temperaturas mais baixas. Quanto à solubilidade, os alcanos, sendo moléculas apolares, dissolvem-se apenas em solventes apolares como benzeno e em outros alcanos líquidos (gasolina, querosene etc). A densidade dos alcanos aumenta inicialmente com o peso molecular, mas tende depoispara um limite de cerca de 0,778, sendo todos, portanto, menos densos que a água. 5- Métodos de obtenção 5 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Os alcanos mais baixos, desde o metano até o n-pentano, podem ser obtidos em estado puro, pela destilação fracionada do petróleo e do gás natural. As frações separadas do petróleo, no entanto, são constituídas de misturas complexas de vários hidrocarbonetos com diferentes números de átomos de carbono e, sob a forma de diversos isômeros. Os demais alcanos têm de ser preparados em laboratório. O uso que se dá a cada uma das frações depende essencialmente da respectiva volatilidade ou viscosidade dos compostos. Fração Temperatura deebulição Número de átomos de carbono Gás abaixo de 20o C 1 a 4 Éter de petróleo 20 - 60o C 5 a 6 Nafta leve (Ligroína) 60 - 100o C 6 a 7 Gasolina natural 40 - 205o C 5 a 10 e cicloalcanos Petróleo de iluminação 175 - 325o C 12 a 18 e aromáticos Gasóleo acima de 275o C 12 ou mais Óleo de lubrificação líquidos não voláteis cadeias longas ligadas a ciclos Asfalto ou coque do petróleo sólidos não voláteis estruturas policíclicas 6- Propriedades químicas Os alcanos são compostos naturalmente pouco reativos. Para fazer reagir um alcano é preciso fornecer grande quantidade de energia, pois sua estrutura é muito estável e muito difícil de ser quebrada. Só uma partícula extremamente reativa, como um átomo ou um radical livre, consegue atacar a molécula do alcano. As reações geralmente se dão pela subtração de hidrogênios do alcano, rompendo homoliticamente a ligação. Forma-se então um radical livre, que continua a seqüência da reação. A molécula do alcano, no entanto, possui diversos átomos de hidrogênio, e o produto, que efetivamente se forma, depende de qual desses hidrogênios é removido. 7- Principais reações dos alcanos a - Craqueamento ou Pirólise Os alcanos, quando convenientemente aquecidos, sofrem ruptura homolítica na cadeia, simétrica ou não, resultando outros alcanos e alcenos de cadeias menores. Essa reação é muito usada para se obter gasolina (mistura de octanos) a partir de querosene e óleo diesel (alcanos com mais de 16 carbonos). O alcano passa através de uma câmara aquecida a cerca de 400 a 600o C, na presença de um catalisador, normalmente uma mistura de óxidos metálicos suportadas numa zeólita. Essas reações também produzem certa quantidade de hidrogênio. 6 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI b - Halogenação A halogenação de um alcano se dá por substituição de um átomo de hidrogênio por um halogênio, resultando em um haleto de alquila. Por exemplo, na cloração do metano e do etano os produtos são, respectivamente, cloro metano e cloro etano. Para alcanos com mais de dois átomos de carbonos existe mais de uma possibilidade para o halogênio se posicionar sendo, o produto da reação, uma mistura de isômeros de posição. Entretanto, as quantidades dos isômeros formados diferem na mistura. Esta reação ocorre via radicais livres. Tem-se como exemplo a bromação do propano. As quantidades de 1- bromo propano e 2- bromo propano obtidas dependem das velocidades relativas a que os radicais n-propil e isopropil se formam. Se os radicais isopropil se formarem mais rapidamente será também o 2- bromo propano o que se formará mais rapidamente e o que constitui, portanto, a maior parte dos produtos da reação. Deve-se então comparar as velocidades relativas em que os hidrogênios primários e secundários são subtraídos do propano. Para se calcular a porcentagem de cada um dos produtos deve-se usar a seguinte regra: Velocidades relativas de subtração do hidrogênio: 7 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI H primário = 1,0 H secundário = 3,8 H terciário = 5,0 O propano tem seis hidrogênios primários e dois hidrogênios secundários, portanto: para H primário: 6 x 1,0 = 6,0 para H secundário: 2 x 3,8 = 7,6 total: 6,0 + 7,6 = 13,6 O valor 13,6 corresponde a 100% das velocidades relativas; logo, por regra de três simples, tem-se que 7,6 (H primário) corresponde a aproximadamente 55,9% e que 6,0 (H secundário) corresponde a 44,1%. Essas porcentagens são as quantidades relativas dos radicais n-propil e isopropil formados e, conseqüentemente, também dos produtos formados. Percebe-se então que o radical substituído no carbono secundário, isto é, o radical isopropil, forma-se mais rapidamente que o n-propil, o que leva a uma maior rapidez na formação do 2-bromo propano. Essa regra tem boa aplicação para a monohalogenação dos alcanos e os resultados são geralmente porcentagens não muito discrepantes entre si, pois na maioria dos alcanos o número de hidrogênios menos reativos é maior, quer dizer, a menor reatividade está compensada por um fator de probabilidade de ataque mais alto e disto resulta que se obtenham quantidades apreciáveis de todos os isômeros. c - Nitração Os alcanos podem ser nitrados utilizando-se ácido nítrico concentrado em condições enérgicas (aproximadamente a 400o C), produzindo nitro-compostos. Conforme pode ser visto no esquema a seguir. d - Sulfonação Os alcanos podem ser sulfonados utilizando-se ácido sulfúrico concentrado em altas temperaturas, produzindo ácidos sulfônicos. De acordo com o esquema a seguir. 8 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI ALCENOS (OLEFINAS) 1- Nomenclatura e exemplos Nomenclatura oficial IUPAC: prefixo + eno + posição da dupla ligação Alguns exemplos importantes: 2- Dupla ligação A principal característica de um alceno é, sem dúvida, a dupla ligação. Toda ligação dupla é formada a partir de uma ligação sigma e uma ligação pi. A hibridação do carbono ligado pela dupla ligação é do tipo sp2, o que lhe confere uma estrutura geométrica trigonal plana. A energia contida numa ligação dupla carbono-carbono está em torno de 100 kcal (sigma = 60; pi = 40), evidentemente, mais forte que uma ligação simples. O fato de os carbonos estarem mais fortemente ligados entre si faz com que o comprimento da ligação seja menor. 3- Isomeria geométrica 9 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI a - Isomeria geométrica cis-trans A-B Analise as duas estruturas a seguir. Se os carbonos estivessem ligados por uma ligação simples, poder-se-ia interconverter uma estrutura na outra simplesmente girando a ligação carbono-carbono. Portanto, as duas estruturas seriam apenas conformações espaciais diferentes para uma mesma molécula. No entanto, ao contrário de uma ligação simples, a dupla ligação não permite ser girada entre os átomos ligados, pois a rotação impediria a sobreposição de orbitais p e destruiria a ligação pi. Conclui-se então que as estruturas apresentadas são moléculas diferentes. Esse fenômeno é chamado isomeria geométrica A-B, e ocorre quando existe uma dupla ligação, sendo que nos carbonos estão ligados dois pares iguais de grupos diferentes, como o exemplo acima. As duas estruturas são isômeros geométricos, e recebem nomes ligeiramente diferentes: a estrutura I é chamada Cis 1,2- dicloro eteno e a estrutura II é chamada Trans 1,2- dicloro eteno. O prefixo cis indica que os grupos iguais estão do mesmo lado no plano que corta a dupla ligação. O prefixo trans indica que os grupos iguais estão em lados opostos no plano que corta a dupla ligação. Os isômeros geométricos diferem entre si em relação a algumas propriedades químicas, especialmente quanto à velocidade das reações, mas diferem principalmente nas propriedades físicas, tais como PF e PE, índices de refração, solubilidade, densidade etc. b - Isomeria geométrica cis-trans E-Z Um tipo especial de isomeria geométrica - a isomeria geométrica E-Z - ocorre quando os carbonos unidos por ligaçõesduplas são ligados a dois grupos diferentes, podendo ser os quatro grupos diferentes um dos outros. Nesse caso a referência é o número atômico (Z) dos grupos ligados aos carbonos. Veja o exemplo a seguir. No isômero cis, os grupos de maior número atômico (em vermelho) estão do mesmo lado do plano da dupla ligação e no isômero trans, estão em lados opostos. 10 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI 4- Propriedades físicas Os alcenos apresentam essencialmente as mesmas propriedades físicas dos alcanos: são insolúveis em água e solúveis em solventes apolares, são menos densos que a água e os pontos de ebulição aumentam segundo o número de carbonos na cadeia e dependem da maior ou menor ramificação que nela exista. Também o número de ramificações existente nos alcenos pode conferir-lhe estabilidade: quanto maior o número de grupos alquila ligados aos carbonos da dupla ligação, mais estável será o alceno. Os alcanos são completamente apolares; no entanto, alguns alcenos podem ser fracamente polares, como, por exemplo, o H3C – CH = CH2. A ligação que une o grupo alquila ao carbono da dupla ligação tem uma pequena polaridade, cuja orientação se acredita ser do grupo alquila para o carbono da dupla. Por efeito indutivo + I, o grupo alquila pode ceder elétrons para o carbono parcialmente polarizado da dupla ligação. Visto não existir outro grupamento capaz de gerar um efeito indutivo equivalente em sentido oposto, cria-se na molécula um certo momento de dipolo. Os alcenos que apresentam o fenômeno da isomeria geométrica podem apresentar diferenças em seus pequenos momentos de dipolo: os isômeros trans geralmente apresentam momento de dipolo ligeiramente inferior que os isômeros cis. Isso porque os isômeros trans possuem grupos iguais em posições opostas, gerando, portanto, efeitos indutivos equivalentes que se anulam, o que não ocorre com os isômeros cis. 5- Métodos de obtenção Os alcenos mais simples, até cinco átomos de carbono, podem ser obtidos em forma pura, na indústria do petróleo. Os demais são produzidos em laboratório. 6- Principais métodos de obtenção dos alcenos a - Craqueamento de alcanos Os alcanos, quando convenientemente aquecidos, sofrem ruptura homolítica na cadeia, simétrica ou não, originando outros alcanos e alcenos de cadeias menores. Essa reação é muito usada para obter gasolina (mistura de octanos) a partir de querosene e óleo diesel (alcanos com mais de 16 carbonos). O alcano passa através de uma câmara aquecida, cerca de 400 a 600o C, utilizando geralmente um catalisador formado por óxidos metálicos. Essas reações também produzem certa quantidade de hidrogênio. 11 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI b - Hidrogenação de alcinos Os alcinos podem ser hidrogenados em presença de um catalisador. Este atua diminuindo a energia de ativação necessária para que a reação ocorra. Os reagentes são adsorvidos na sua superfície, rompendo as ligações pi e enfraquecendo as ligações sigma, o que facilita a reação. O paládio, a platina e o níquel podem servir como catalisadores da hidrogenação. Veja no exemplo a seguir, que devido à adição do hidrogênio ocorre como se fosse um "encaixe", no mesmo lado, o alceno formado terá sempre a configuração cis. c - Desidratação intermolecular de álcoois Os álcoois podem ser desidratados com ácido sulfúrico concentrado a quente ou na presença de Al2O3 (alumina). O produto formado dependerá basicamente da temperatura em que a reação for realizada. A cerca de 180oC o produto principal é de eliminação - um alceno. Trata-se de uma desidratação intramolecular. d - Desalidrificação de haletos 12 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Tratando os haletos com uma solução alcoólica aquecida de uma base inorgânica (KOH, por exemplo) é possível transformá-los em alcenos. É importante notar que, no caso de haletos com mais de três carbonos, podem se formar produtos diferentes, em quantidades variadas. No exemplo a seguir, o 2-bromo butano dá origem a uma mistura de dois alcenos isômeros. e - Desalogenação de haletos vicinais com zinco Os dihaletos vicinais, quando tratados com zinco metálico, podem ser desalogenados, originando alcenos. Veja o exemplo a seguir: f - Reação de aldeídos ou cetonas com ilídio Os aldeídos e cetonas, quando reagem com ilídios (compostos especiais de fósforo pentavalente: H2C = PR3), produzem alcenos. O ilídio mais comumente usado, por sua grande reatividade, é o metileno-trifenil-fósforo. Veja o exemplo a seguir. 13 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI 7- Propriedades químicas Os alcenos sofrem principalmente reações de adição. Estes hidrocarbonetos caracterizam-se por possuírem uma dupla ligação entre carbonos, constituída de uma ligação sigma, forte, e uma ligação pi, fraca. É de se esperar, portanto, que as reações consistam na ruptura da ligação mais fraca. Tal previsão é confirmada experimentalmente: a química dos alcenos é basicamente a ruptura da ligação pi, fraca, e a formação de duas ligações sigma, fortes, na mesma molécula. Logo, são reações de adição. Os elétrons da ligação pi contribuem menos que os elétrons da ligação sigma para manter os núcleos dos átomos unidos. Conseqüentemente, os próprios elétrons pi são menos fortemente atraídos pelos núcleos e, portanto, mais disponíveis, particularmente para um reagente deficiente de elétrons, ou seja, um eletrófilo. Veja a seguir o que ocorre com a insaturação, devido ao efeito da ressonância: Como a estrutura é um híbrido que comporta tanto uma carga positiva quanto uma carga negativa, existem duas possibilidades: a adição nucleofílica e a adição eletrofílica. Verifica-se experimentalmente que, talvez devido à alta mobilidade dos elétrons pi, a quase totalidade das reações dos alcenos é iniciada por um ataque desses elétrons a um eletrófilo. Portanto, as adições eletrofílicas são típicas dos alcenos. 14 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI 8- Principais reações dos alcenos a - Halidrificação O HCl, o HBr e o HI transformam os alcenos nos correspondentes haletos de alquila. A reação consiste em fazer passar o haleto de hidrogênio, gasoso e anidro, diretamente através do alceno. Alcenos com mais de dois carbonos poderiam dar origem a mais de um produto. No entanto, na grande maioria dos casos, apenas um deles se forma, ou existe um que se forma em maior quantidade em relação ao outro. A orientação da adição nos alcenos depende da estabilidade do carbocátion. Veja o exemplo a seguir: Como se percebe, o carbocátion que se forma é secundário, e não primário. Entretanto, a orientação da adição do HBr, em especial, depende exclusivamente da presença ou ausência de peróxidos. Se a reação for feita em ausência de peróxidos orgânicos, a orientação da adição segue a regra de estabilidade dos carbocátions. Caso seja feita em presença de peróxidos, a orientação da adição se dá exatamente de modo oposto, ou seja, o H se liga ao carbono secundário e o Br no carbono primário. Isso porque a reação nestas condições não se dá por meio iônico, e sim via radicais livres. O peróxido utilizado, freqüentemente derivado de ácidos carboxílicos, inicia a reação por radical livre, e não há formação do carbocátion. 15 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI O motivo pelo qual o radical formado é secundário e não primário é o mesmo da estabilidade dos carbocátions: o efeito indutivo + I causado pelos grupamentos alquila para compensar e deficiência eletrônica no carbono. b - Formação de haloidrina (reação com H2O + Cl2) Na adição de cloro ou bromo, em presença de água, podem formar-se compostos que possuem um halogênio e um grupo hidroxila em carbonos vicinais. Estes compostos denominam-se vulgarmente de haloidrinas.Por escolha conveniente das condições da reação pode-se obtê-las como principais produtos. Veja o exemplo a seguir. c - Halogenação O cloro e o bromo transformam facilmente os alcenos em dihaletos vicinais, dissolvidos normalmente em um solvente inerte, como o tetracloreto de carbono. O iodo, em geral, não reage. A adição prossegue rapidamente, à temperatura ambiente ou inferior, constituindo a melhor maneira de se obter di-haletos vicinais. Sabemos que a molécula de um halogênio qualquer é apolar, ou seja, não há diferença de eletronegatividade entre os átomos na molécula. Sabemos também que a adição em alcenos se dá pelo ataque dos elétrons pi a um eletrófilo. Neste caso, não há um eletrófilo com carga real. No entanto, as moléculas do halogênio criam um dipolo induzido pelo forte campo elétrico gerado pelas nuvens pi das moléculas do alceno que se encontram no meio recional. A densa nuvem eletrônica da dupla ligação tende a repelir a nuvem eletrônica do halogênio, fazendo com que o átomo de halogênio que estiver mais próximo da dupla seja relativamente mais positivo e o mais afastado relativamente negativo. 16 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI d - Hidratação Em meio ácido, os alcenos reagem com a água formando álcoois. Veja a seguir. e - Reação com H2SO4 Os alcenos podem reagir com ácido sulfúrico concentrado a quente, originando sulfatos ácidos. f - Reação com perácidos 17 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Pode-se tratar alcenos com perácido orgânico, resultando um processo chamado de epoxidação, isto é, formação de um epóxido. O epóxido formado pode ser tratado posteriormente hidratado em meio ácido ou básico, produzindo um glicol (diálcool vicinal): g - Hidrogenação Freqüentemente utiliza-se a hidrogenação de alcenos para a produção de alcanos, isto é, quebra-se a dupla ligação, originando-se duas ligações simples. A adição de hidrogênio aos alcenos pode servir também como método de análise, para se determinar, por exemplo, o número de duplas ligações existentes no composto, através da verificação da quantidade de hidrogênio consumido na reação. A quantidade de calor liberado na hidrogenação de 1 mol de um composto insaturado chama-se calor de hidrogenação. Essa quantidade de calor em quase todos os alcenos gira em torno de 31 kcal por cada ligação dupla no composto. Os calores de hidrogenação podem também informar sobre as estabilidades relativas dos compostos insaturados. 18 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Geralmente, quanto menor o calor liberado na hidrogenação, maior a estabilidade do composto. Por exemplo, o 2-buteno-cis libera 28,6 kcal/mol enquanto o isômero trans libera 27,6 kcal/mol. Isso significa que o isômero trans do 2-buteno é mais estável do que o cis. Também se verificou que, quanto maior for o número de grupos alquila ligado aos carbonos entre os quais existe a dupla ligação, mais estável será o alceno. Sendo a reação de hidrogenação exotérmica, ela não ocorre, no entanto, e mesmo a alta temperatura, se não estiver presente um catalisador. Este atua diminuindo a energia de ativação necessária para que a reação ocorra. Os reagentes são adsorvidos na sua superfície, rompendo as ligações pi e enfraquecendo as ligações sigma, o que facilita a reação. O paládio, a platina e o níquel podem servir como catalisadores da hidrogenação. h - Oxidação por KMnO4 Os alcenos podem ser oxidados com permanganato de potássio em solução aquosa de duas maneiras: brandamente ou energicamente. As reações de oxidação e redução geralmente não apresentam um mecanismo bem explicado. Oxidação branda (Reação de Bayer): o permanganato em meio neutro ou levemente alcalino é oxidante brandamente, pois não chega a romper a dupla ligação, mas reage introduzindo oxigênios na cadeia. O permanganato é uma solução de coloração violeta intensa e quando ele passa para MnO2 precipita o óxido na cor marrom escuro. O resultado da oxidação branda de um alceno com KMnO4 é um diálcool vicinal (glicol). Como exemplo, veja a oxidação do propeno, a seguir. Oxidação enérgica: em meio ácido o permanganato é oxidante bastante enérgico e leva à ruptura da dupla ligação, quebrando o alceno em moléculas menores. Os produtos formados na reação dependem do tipo de carbono da dupla ligação. Carbonos primários originam CO2 e H2O; carbonos secundários originam ácidos carboxílicos e, carbonos terciários originam cetonas. Veja, no primeiro exemplo, a oxidação do buteno-2. 19 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Deve ser notado que o carbono da dupla ligação na molécula inicial era secundário; daí a formação de ácidos carboxílicos. O segundo exemplo é a oxidação do metil-propeno. Como os carbonos da dupla ligação são terciários e primários, formam-se, respectivamente cetona e CO2 + H2O: i - Ozonólise Os alcenos, reagindo com o ozônio em meio aquoso, produzem aldeídos e/ou cetonas. Trata-se de uma reação que destrói completamente a dupla ligação, quebrando a molécula do alceno em moléculas menores. O ozônio é um oxidante bastante enérgico e entra em reação de adição com o alceno, formando o ozonídeo ou ozoneto, um produto intermediário instável, que então se decompõe nos produtos finais por hidrólise. Na prática, faz-se borbulha o gás ozônio numa solução do alceno em solvente inerte, como o tetracloreto de carbono. Por evaporação do solvente, em seguida, obtém-se o ozonídeo, que tem a forma de um óleo viscoso. Por ser muito instável e explosivo, não se pode purificar esse ozonídeo, e faz-se reagir diretamente com a água, geralmente em presença de um agente redutor. A função desse agente redutor, geralmente zinco em limalha, consiste em impedir a formação do peróxido de hidrogênio, que se aparecesse, reagiria com aldeídos e cetonas. O zinco captura um oxigênio, formando o óxido de zinco (ZnO). Veja o exemplo da ozonólise do metil propeno. 20 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI DIENOS 1- Nomenclatura e exemplos Nomenclatura oficial IUPAC: prefixo + adieno + posição das duplas ligações Alguns exemplos importantes: 2- Classificação dos dienos Conforme a posição das duplas ligações, os dienos dividem-se em três grupos: • De duplas acumuladas ou alênicos • De duplas conjugadas ou eritrênicos • De duplas isoladas 3- Propriedades físicas 21 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI São as mesmas dos alcenos. 4- Métodos de obtenção a - Eliminação em dihaletos vicinais Os dialetos vicinais, quando tratados com hidróxidos, produzem dienos conjugados. b - Eliminação em dióis Os diálcoois em meio ácido e a temperaturas elevadas podem produzir dienos. 22 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI 5- Propriedades químicas As propriedades químicas dos dienos dependem das posições em que se encontram as ligações duplas. Ligações duplas isoladas ou acumuladas exercem pouco efeito uma sobre a outra, e, por isso, cada uma delas reage como se fosse um alceno simples. Excetuando o consumo de maior quantidade de reagente, as propriedades químicas dos dienos não conjugados são idênticas às dos alcenos. Os dienos conjugados, porém, diferem dos alcenos simples em três aspectos: são mais estáveis, são mais reativos e apresentam adição 1,4. Quando se compara os calores de hidrogenação de um dieno com duplas ligações isoladas ou acumuladas com um dieno com duplas ligações conjugadas, e ambos com o mesmo número de carbonos, verifica-se que os dienos conjugados liberam menos energia. Isso significa que ele contêm menos energia, ou seja, são mais estáveis. Por exemplo, o pentadieno -1,4 (duplas isoladas) tem calor de hidrogenação = 61 kcal/mol e o pentadieno -1,3 (conjugado), 54 kcal/mol. Portanto, este último, com menor calor dehidrogenação, é mais estável que o primeiro. As duplas ligações em dienos isolados e acumulados assumem posições fixas, ou seja, a ressonância existente não deslocaliza a ligação pi. Estes dienos se comportam, então como alcenos simples, pois não há possibilidade de deslocalizar a ligação pi. O contrário ocorre com os dienos conjugados: nesse caso há uma deslocalização de elétrons, mudando a posição da ligação pi. Isso lhes confere algumas propriedades químicas diferentes. Veja a seguir um esquema do movimento dos elétrons pi no butadieno-1,2, gerando formas canônicas da estrutura. 23 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Num dieno conjugado, os orbitais p (que fazem a ligação pi) dos carbonos vizinhos estão a uma mesma distância uns dos outros, devida à ressonância, que faz com que as ligações carbono- carbono tenham o mesmo comprimento. As nuvens eletrônicas podem então assumir um aspecto contínuo, como mostrado a seguir. 6- Principais reações dos dienos a - Halidrificação de dienos conjugados (adição 1,4) A ressonância dos dienos conjugados deslocaliza a nuvem pi e produz formas canônicas do composto, tornando possíveis mais duas posições para os reagentes adicionados à posição 1,2 e à posição 1,4. Por este motivo, os produtos de uma reação desse tipo são chamados produto de adição 1,2 e produto de adição 1,4. Veja a seguir a reação entre o butadieno-1,3 e o HBr 24 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI As quantidades relativas de cada um dos produtos formados dependem da temperatura em que a reação é efetuada. Quando se realiza a baixas temperaturas (-80oC) obtém-se uma mistura de 20% do produto 1,4 e 80% do produto 1,2. Se ela for realizada em temperaturas mais elevadas (40oC), obtém-se uma mistura de composição inversa: 20% do produto 1,2 e 80% do produto 1,4. A temperaturas intermediárias obtém-se uma mistura cuja composição se situa entre as duas indicadas. Outra observação importante é a de que qualquer um dos compostos separadamente se transforma na mistura dos dois isômeros, por aquecimento, indicando que ela resulta do equilíbrio entre os dois compostos. b - Hidratação de dienos acumulados (adição de H2O) Os dienos que possuem duplas acumuladas reagem com água, produzindo cetonas. Veja um exemplo de reação, envolvendo o 1,2-butadieno. 25 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI ALCINOS 1- Nomenclatura e exemplos Nomenclatura oficial IUPAC: prefixo + ino + posição da tripla ligação Alguns exemplos importantes: 2- A ligação tripla A ligação tripla constitui a característica principal dos alcinos, e os carbonos ligados dessa forma possuem hibridação sp, que origina uma geometria linear. A ligação tripla é formada por uma ligação sigma e duas ligações pi ortogonais, assumindo a forma de um “tubo”. A sua energia total é de 123 kcal. Mais forte, portanto, que a ligação dupla (100 kcal) e a ligação simples (83 kcal). Por estarem mais fortemente unidos, a distância da ligação entre os núcleos dos átomos de carbono é menor. A inexistência de isômeros geométricos do acetileno (HC ≡ CH) serve para confirmar a estrutura da ligação tripla. 3- Propriedades físicas Os alcinos são compostos de baixa polaridade e apresentam essencialmente as mesmas propriedades físicas dos alcanos e dos alcenos: são insolúveis em água e solúveis em solventes 26 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI apolares, são menos densos que a água e seus pontos de ebulição aumentam igualmente ao aumento do número de carbonos na cadeia, e dependem da maior ou menor ramificação que nela exista. 4- Métodos de obtenção Não são muito importantes as reações que produzem alcinos, porém, vale a pena destacar a desalogenação de dihaletos vicinais. Veja Alcenos, item 6.a. 5- Propriedades químicas O carbono, quando em tripla ligação, comporta-se como se fosse um elemento mais eletronegativo do que o carbono que participa apenas de ligações ou duplas. Assim, o hidrogênio ligado ao carbono da tripla ligação adquire um caráter ácido. Assim, a presença ou não do hidrogênio no carbono da tripla ligação faz com que os alcinos tenham propriedades químicas diferentes. Os alcinos que possuem o hidrogênio terminal são chamados alcinos verdadeiros, e os que não o possuem são chamados alcinos falsos. Veja a seguir. (alcino verdadeiro) H3C – C ≡ C - H + Na → H3C - C ≡ C - Na + 1/2 H2 (alcino falso) H3C - C ≡ C - CH3 + Na → não reage Os alcinos sofrem típicas reações de adição eletrofílica, da mesma forma que os alcenos, e pela mesma razão: a reatividade dos elétrons pi. O alcino de maior importância industrial é precisamente o membro mais simples da família - o acetileno (etino), obtido pela reação entre a água e o carbeto de cálcio (CaC2). H2O + CaC2 → HC ≡ CH + CaO O consumo anual de acetileno e muito grande, seu maior uso é em maçaricos de corte e solda oxiacetileno. É comercializado em cilindros pressurizados, dissolvido em acetona. O acetileno é um material de partida em várias sínteses industriais de importantes compostos orgânicos. OBS: O carbeto de cálcio (conhecido também como carbureto) pode ser obtido pela reação entre o óxido de cálcio (CaO) e o carvão de pedra (coque), em temperaturas próximas à 2000oC em fornos elétricos. a - Halidrificação 27 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Quando reagidos com HX, os alcinos produzem haletos e, se existir excesso de HX pode-se obter dihaletos germinados. Veja o exemplo da reação entre acetileno e HBr. b - Halogenação Quando reagidos com halogênios, os alcinos produzem dihaletos. Caso exista halogênio em excesso, poder-se obter um derivado tetrahalogenado. Veja o exemplo a seguir. c - Hidratação 28 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI O mecanismo da adição de água nos alcinos ocorre de maneira análoga à hidratação dos alcenos, porém, o produto - um enol - tautomeriza-se na forma cetônica ou aldeídica, dependendo da estrutura da cadeia carbônica. Veja o exemplo da hidratação do acetileno. d - Trimerização do acetileno Aquecendo-se o acetileno e fazendo-o passar por tubos de ferro a temperaturas elevadas obtém-se o benzeno. Esse processo foi usado industrialmente no passado para obtenção de benzeno; atualmente o benzeno é extraído do alcatrão da hulha ou do petróleo, processos muito mais baratos. e - Hidrogenação Os alcinos podem ser hidrogenados em presença de um catalisador originando alcenos. Os reagentes são adsorvidos na sua superfície, rompendo as ligações pi e enfraquecendo as ligações sigma, o que facilita a reação. O paládio, a platina e o níquel podem servir como catalisadores da hidrogenação. Veja que, como a adição do hidrogênio ocorre como se fosse um "encaixe", no mesmo lado, o alceno formado terá sempre a configuração cis: 29 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI f - Adição nucleofílica de HCN A reação de um alcino com HCN é um caso de adição nucleofílica. Inicialmente, o HCN se ioniza e fornece íons CN- (agente nucleófilo), que irão iniciar a reação. Veja a seguir. g - Oxidação por KMnO4 Oxidação branda: nessa reação, a tripla ligação não chega a se romper e, aos carbonos, são adicionados oxigênios. Os produtos dependem dos tipos de carbono iniciais. Geralmente resulta um aldeído ou uma função mista, como no exemplo a seguir, um cetoaldeído. Oxidação enérgica: a oxidação enérgica dos alcinos com permanganato segue uma reação semelhante à oxidação energética dos alcenos. Carbonos primários originam CO2 e H2O, carbonos secundários originam ácidos carboxílicos e, carbonos terciários originam cetonas. HIDROCARBONETOS ALICÍCLICOS 1- Nomenclaturae exemplos Nomenclatura oficial IUPAC: ciclo + prefixo + sufixo + o 30 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Alguns exemplos importantes: 2- Teoria das tensões de Bayer De modo geral, quando um átomo de carbono se encontra ligado a quatro outros átomos de carbono, o ângulo entre duas ligações quaisquer é de 109o5' (geometria tetraédrica). Segundo Adolf Von Bayer (final do século IXX), em alguns ciclanos, um dos ângulos de ligação, em cada átomo de carbono, não possui o valor normal do ângulo tetraédrico, pois estas ligações são forçadas a se comprimir, de modo a fechar o ciclo. Assim, o ciclopropano é um triângulo equilátero, com ângulos de 60o, e o ciclobutano é um quadrado, com ângulos de 90o. Devido ao fator de o valor do ângulo de ligação entre os carbonos no ciclo diferir do valor normal tetraédrico, existe nessas moléculas uma certa tensão, resultando em instabilidade em comparação com as moléculas cujos ângulos de ligação são tetraédricos. A tensão em um ciclo pode ser calculada pela fórmula (109o5' - α) / 2, onde α é o ângulo entre dois carbonos do ciclo, supondo uma cadeia coplanar. Assim, pela equação, o ciclopropano tem uma tensão de 24o75', o ciclobutano de 9o75' e o ciclopentano de 0o75' (desprezível). O ciclopentano, por ter uma tensão desprezível, possui uma grande estabilidade, preferindo reações de substituição, como nos alcanos, enquanto o ciclopropano e o ciclobutano, com tensões elevadas, sofrem facilmente ruptura na cadeia, dando reações de adição, como nos alcenos. E o que ocorre no ciclohexano? Este teria um ângulo coplanar de 120o, o que causaria uma tensão em sentido oposto em relação aos casos citados anteriormente, ou seja, de acordo com a fórmula, a tensão para o ciclohexano seria de -5o25’, que seria uma tensão de distensão (sinal negativo). Por isso, o ciclohexano deveria ser muito instável. Porém, ele é mais estável que o ciclopentano e praticamente só origina reação de substituição. Neste caso a teoria de Bayer não se aplica, porque os átomos de carbono nas cadeias cíclicas com mais de cinco átomos de carbonos não são coplanares, e mantêm o ângulo tetraédrico (109o5'), sem originar tensão. No caso do ciclohexano, os carbonos, mantendo o ângulo tetraédrico, podem assumir duas conformações espaciais, que foram denominadas barco e cadeira (por fazerem lembrar esses objetos). No entanto, a estrutura em forma de cadeira é a mais estável delas; não pela tensão angular, já que ambas têm o mesmo ângulo de ligação (109o 5'), mas pelo fato de a conformação barco apresentar interações não-dirigidas entre os átomos de hidrogênio. 31 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI 3- As ligações no ciclohexano Observando um modelo molecular do ciclohexano pode-se perceber que as ligações dos átomos de carbono possuem duas direções possíveis: axial e equatorial. No esquema a seguir, as ligações axiais (vermelho) estão dispostas perpendicularmente ao plano do anel (note que não se trata de um plano perfeito) e, as ligações equatoriais (azul) encontram-se paralela ao plano do anel; note que as ligações axiais e equatoriais são alternadas. Veja o esquema a seguir. Um ligante que se encontre em posição axial é menos favorecido do que na posição equatorial. Isso porque as maiores aglomerações eletrônicas, que geram as interações não-dirigidas, ocorrem entre dois ligantes que se localizam em posições axiais, devido à menor distância entre eles. Na posição equatorial, os dois ligantes estão a uma distância máxima entre si e, portanto, essa é a posição mais favorecida. Isso pode ser visto facilmente num modelo molecular tridimensional. 4- Isomeria geométrica As cadeias fechadas apresentam isomeria geométrica cis-trans, pois existe a impossibilidade de rotação livre das ligações. Veja a seguir duas estruturas cíclicas cuja disposição espacial para os seus ligantes possibilitam a isomeria cis-trans: configuração cis configuração trans As estruturas não são iguais, visto que a energia necessária para romper as ligações e converter uma estrutura na outra é muito elevada. Pode-se, então, isolar os dois isômeros. 5- Propriedades físicas 32 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI As propriedades físicas dos hidrocarbonetos alicíclicos assemelham-se às dos hidrocarbonetos correspondentes de cadeia aberta, embora os pontos de fusão e ebulição e as densidades destes compostos sejam ligeiramente mais altos. Por serem compostos apolares, se dissolvem apenas em solventes apolares ou fracamente polares. 6- Métodos de obtenção Em certas regiões (em especial, na Califórnia), o petróleo é rico em cicloalcanos, entre eles o ciclo- hexano, o metil ciclo-hexano, o ciclo-pentano e o 1,2 - dimetil ciclo-pentano. Estes compostos são excelentes combustíveis, com elevado número de octanos. Os demais alicíclicos são preparados em laboratório. a - Eliminação por nucleófilo em haletos cíclicos Tratando um haleto cíclico com uma base pode-se obter um hidrocarboneto alicíclico. b - Desalogenação de dihaletos não-vicinais com zinco Os dihaletos não-vicinais podem ser tratados com zinco metálico, obtendo-se hidrocarbonetos alicíclicos. c - Eliminação com sódio metálico em haletos cíclicos Com sódio metálico, os haletos cíclicos podem produzir hidrocarbonetos alicíclicos binucleados. 33 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI d - Desidroxilação de álcoois cíclicos Os álcoois cíclicos podem produzir hidrocarbonetos alicíclicos, se tratados em meio ácido. 7- Propriedades químicas a - Halidrificação Os cicloalcenos podem reagir com HX, da mesma forma como os alcenos, produzindo haletos. 34 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI b - Halogenação Os cicloalcenos podem reagir com halogênios, da mesma forma como os alcenos, produzindo dihaletos vicinais. c - Formação de haloidrinas Os cicloalcenos podem reagir com halogênios em solução aquosa, da mesma forma como os alcenos, produzindo haloidrinas. 35 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI d - Hidratação Os cicloalcenos podem ser hidratados em meio ácido, da mesma forma como os alcenos, produzindo álcoois. e - Abertura do ciclopropano Os alicíclicos pequenos sofrem reações de abertura do anel, devido à existência das tensões de Bayer. Estes compostos reagem com certas substâncias, dando origem a compostos de cadeia aberta, que conferem maior estabilidade à molécula. Especialmente o ciclopropano, cujas tensões internas são muito fortes, reage com várias substâncias. Veja o esquema a seguir. 36 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS 1- Nomenclatura e exemplos A nomenclatura dos hidrocarbonetos não segue uma norma fixa e vários destes compostos possuem nomes próprios. No entanto, a maioria deles é nomeado de acordo com os mesmos termos usados nas demais nomenclaturas: radicais, prefixos, infixos e sufixos. A maioria destes compostos tem como cadeia principal o anel benzênico. Alguns exemplos importantes: 37 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI 2- Estrutura e estabilidade do benzeno O mais comum dos compostos aromáticos é o benzeno. Sua estrutura, apresentada a seguir com as possíveis representações, é um anel com seis átomos de carbono e três duplas ligações conjugadas. Essa estrutura é plana, pois só existem carbonos sp2 (geometria trigonal plana), e o ângulo de ligação entre eles é de 120o. Além disso, as ligações entre os carbonos no anel aromático têm o mesmo tamanho, sendo intermediárias entre uma ligação simples e uma ligação dupla. A representação do anel aromático com um círculo no meio indica a ocorrência do fenômeno da ressonância, isto é, os elétronssão deslocalizados. No anel isto ocorre provavelmente pela ação das ligações sigma, que, por estarem muito comprimidas, forçam as ligações pi a se deslocarem ciclicamente pelo anel, permitindo uma maior distensão destas ligações. Por ser um anel de duplas ligações conjugadas, as nuvens pi no benzeno assumem um aspecto contínuo. Essa estrutura foi proposta em 1865 pelo químico alemão Friedrich August Kekulé e até hoje é aceita pelos químicos de todo o mundo. Chegou-se a essa estrutura a partir de vários experimentos, dentre os quais obteve-se três isômeros de um mesmo produto, quando se substituiu dois dos hidrogênios do anel benzênico. A estrutura de Kekulé, portanto, explica satisfatoriamente os fatos verificados. Veja a seguir os isômeros obtidos na substituição de dois hidrogênios por dois átomos de bromo. Os calores de hidrogenação e combustão do benzeno são mais baixos do que seria de esperar. Calor de hidrogenação é a quantidade de calor que se liberta quando se hidrogena um mol de um 38 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI composto insaturado. Na maioria dos casos observa-se o valor de 28-30 kcal/mol para cada ligação dupla do composto. Veja a seguir exemplos de calores de hidrogenação de alguns compostos. Note que a ruptura da dupla ligação no ciclohexeno forneceu 28,6 kcal/mol. No ciclohexadieno o valor obtido foi bem próximo do esperado, ou seja, 2 x -28,6. Deveria-se supor então, que no benzeno seria liberado uma quantidade de calor equivalente a três duplas ligações, ou seja, 85,8 kcal/mol. Mas não é o que se verifica na prática. O benzeno fornece 49,8 kcal/mol, isto é, um valor muito menor. Esse fato indica que o benzeno deve possuir menos energia interna, sendo, por isso, mais estável. Os compostos insaturados geralmente sofrem reações de adição, nas quais a dupla ligação se rompe e duas ligações sigma são formadas. Já o benzeno e outros anéis aromáticos dão preferência às reações de substituição eletrofílica, nas quais dois ligantes são substituídos por outros e a o sistema aromático de duplas ligações permanece intacto. Isso confirma a excepcional estabilidade do benzeno. 3- Aromaticidade Para que um composto seja classificado como aromático, deve seguir rigorosamente três regras: Deve ter estrutura cíclica e plana e deve ter 4n + 2 elétrons pi, onde n é obrigatoriamente um número inteiro. Portanto, no anel aromático não pode existir carbonos sp3 (exceto como radicais), que têm geometria tetraédrica. Veja alguns exemplos a seguir. 39 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI As estruturas 1 e 4 não são aromáticas porque possuem carbono sp3 no anel, portanto, o ciclo não é plano. A estrutura 3, apesar de ter somente carbonos de geometria trigonal, tem um número de elétrons pi que não condiz com a fórmula 4n + 2, já que o valor de n deve ser um número inteiro. As estruturas 2 e 5 são aromáticas, pois respeitam as três regras (lembre-se que um carbocátion tem geometria trigonal plana, pois sustenta somente três ligações). OBS: Vale lembrar que não só os anéis homocíclios possuem caráter aromático. Muitos compostos heterocíclicos também apresentam propriedades aromáticas. 4- Propriedades físicas Como compostos de baixa polaridade, os compostos aromáticos apresentam basicamente as mesmas características dos demais hidrocarbonetos. Os pontos de fusão dos compostos aromáticos são relativamente mais elevados que os equivalentes alicíclicos, devido ao fato de as moléculas aromáticas serem planas, o que permite uma melhor interação intermolecular. Em um dialquil- benzeno, os isômeros apresentam pontos de fusão diferentes. Verifica-se experimentalmente que os pontos de fusão dos derivados crescem na seguinte ordem: orto < meta < para. Esse fato constitui um caso particular do efeito da simetria molecular sobre as forças cristalinas. Quanto mais elevada for a simetria de um composto, tanto melhor será a ordenação segundo uma rede cristalina e por isso tanto mais alto será o ponto de fusão e mais baixa será a solubilidade. Veja, por exemplo, os pontos de fusão dos isômeros do xileno (dimetil-benzeno). Orto-xileno: -25o C Meta-xileno: -48o C Para-xileno: 13o C 5- Métodos de obtenção O alcatrão da hulha é a melhor fonte natural de compostos aromáticos. A hulha é uma variedade do carvão mineral, e pode ser destilada em retortas especiais (fornos) , produzindo três frações: • Fração gasosa - gás de iluminação (mistura de H2, CH4, CO e outros) • Fração líquida - águas amoniacais e alcatrão da hulha • Fração sólida - carvão coque (praticamente carbono puro) O alcatrão da hulha é a parte mais densa e contém grande número de compostos aromáticos: • Óleos leves (até 160oC) - benzeno, tolueno, xileno etc. 40 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI • Óleos médios (160 - 230oC) - fenol, piridina, naftaleno etc. • Óleos pesados (230 - 270oC) - cresóis, naftóis, anilina etc. • Óleos de antraceno (270 - 360oC) - antraceno, fenantreno, Uma reação laboratorial interessante é a trimerização do acetileno em alta pressão, que produz o benzeno. Outro método eficaz é a alquilação de Friedel-Crafts, que produz hidrocarbonetos aromáticos complexos a partir de outros mais simples. 6- Propriedades químicas Os hidrocarbonetos aromáticos participam preferencialmente de reações de substituição eletrofílica. a - Nitração O benzeno pode reagir com ácido nítrico, em presença de ácido sulfúrico que, sendo um ácido mais forte que o HNO3, faz com que este se comporte como base de Lewis, recebendo um próton do H2SO4. Trata-se, portanto, de um equilíbrio ácido-base. b - Sulfonação O benzeno pode ser sulfonado com ácido sulfúrico fumegante - uma solução de SO3 em H2SO4 - em que o próprio SO3 será o agente eletrófilo: 41 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI c - Halogenação O benzeno e outros compostos aromáticos podem ser halogenados, em presença de AlCl3 ou FeCl3 (ácidos de Lewis). À primeira vista, poderia se imaginar que a reação se iniciasse como na halogenação de um alceno ou de um cicloalcano: devido à alta reatividade da ligação pi, esta receberia o halogênio simplesmente pela existência das cargas formais na molécula desse halogênio (dipolos induzidos). No entanto, como já visto, os anéis aromáticos, por serem estruturas ressonantes, possuem menor reatividade que alcenos e ciclenos. Por isso é necessário "potencializar" essa carga formal do halogênio. Para isso, usa-se, por exemplo, o AlCl3, que é um ácido de Lewis, e age recebendo um par de elétrons de um dos átomos do halogênio. Veja o exemplo da cloração do benzeno a seguir. Quando um anel aromático que possui um radical alquila (cadeia lateral) é halogenado, pode-se conseguir dois produtos diferentes, dependendo das condições em que a reação é realizada. Por exemplo, na cloração do tolueno, se a reação for efetuada na presença de um ácido de Lewis, no escuro e a frio, a substituição ocorrerá no anel. No entanto, se a reação for efetuada em temperaturas elevadas e em presença de luz, a substituição ocorrerá na cadeia lateral. O mecanismo nesse caso não é iônico, mas via radicais livres. Veja os exemplos a seguir. 42 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI A reação I se inicia com a ruptura homolítica do halogênio. Logo, é uma reação via radicais livres semelhante àquelas que ocorrem com os alcanos. Daí a preferência pela cadeia lateral (grupo alquila). Na prática, é necessário manter a luz, pois podem ocorrer associações entre os átomos de cloro, regenerando o Cl2. A reação II ocorre na presença de ácido de Lewis, que quebra heteroliticamente o halogênio, ou seja, formam-se íons. A reação é iônica e a orientação da entrada do eletrófilo será dada pelogrupo que estiver presente no anel. d - Acilação de Friedel-Crafts Reagindo-se haletos de ácido com benzeno, em presença de AlCl3 ou FeCl3 (ácidos de Lewis), obtém-se cetonas. O eletrófilo formado recebe o nome deíon acetoxônio. Veja o exemplo a seguir. e - Alquilação de Friedel-Crafts 43 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI Reagindo-se haletos de alquila com benzeno, em presença de AlCl3 ou FeCl3 (ácidos de Lewis), obtém-se outro hidrocarboneto aromático. O eletrófilo é o carbocátion que se forma. Veja o exemplo a seguir. Uma grande limitação na alquilação de Friedel-Crafts está no fato de que alguns carbocátions, ao serem formados após a reação entre o haleto e o ácido de Lewis, sofrem um rearranjo instantâneo, alterando o radical que se pretendia adicionar ao anel. Esse íon sofre rearranjo sempre que, por transposição vicinal de um hidrogênio ou de um grupo alquila, for possível formar um carbocátion mais estável. Veja o exemplo a seguir. f - Oxidação do cumeno Esse é um dos métodos mais importantes e eficazes, utilizado inclusive industrialmente, para a obtenção do fenol e da acetona. Trata-se da oxidação do isopropil-benzenol (cumeno). 44 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI 7- Orientação da segunda substituição no benzeno O benzeno pode sofrer mais de uma substituição. A primeira substituição ocorre normalmente, com a entrada do eletrófilo no lugar de qualquer um dos hidrogênios do anel, já que são equivalentes. No entanto, uma segunda substituição dependerá do radical já existente, que então irá orientar a entrada do próximo grupo no anel. Um segundo radical pode entrar em duas posições: meta ou orto/para, dependendo da natureza do radical existente no anel. A explicação para esse fato está relacionada com o maior ou menor número de estruturas de ressonância possíveis para determinada posição. Deve ser lembrado que quanto maior o número de estruturas ressonantes, mais estável é a estrutura. Ativadores ou Orto-Para Dirigentes: são estruturas que “empurram” elétrons para o anel. Pode-se dividir os grupos ativadores em três subgrupos, de acordo com a reatividade que eles dão ao anel: • Fortemente ativadores: NH2, NHR, NR2, OH • Moderadamente ativadores: OR, NHCOR • Fracamente ativadores: radical fenila, radicais alquilo e halogênios Esses grupos geralmente apresentam somente ligações simples. Veja no exemplo a seguir, as possíveis estruturas de ressonância para o hidróxi-benzeno (fenol): 45 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI O núcleo benzeno é susceptível a ataques eletrofílicos, portanto, quanto maior a densidade eletrônica no átomo, mais facilmente ele será atacado pelo agente eletrófilo. Os carbonos que apresentam maior densidade eletrônica estão nas posições orto e para. Logo, a entrada de um eletrófilo se dará facilmente nestas posições. Ora, se o primeiro radical (OH) aumenta a densidade eletrônica do anel, ele é um grupo ativador e, portanto, aumenta a reatividade do composto. Desativadores ou Meta Dirigentes: atraem para si elétrons do anel. Ex: NO2, NH3+, NR3+, SO3H, COOH, COOR, CHO, COR, CN, etc. Estes grupos geralmente apresentam ligações duplas, triplas ou coordenadas. Os grupos desativadores orientam a segunda substituição preferencialmente na posição meta. Veja a seguir as possíveis estruturas de ressonância para o nitro-benzeno. Note que as posições orto e para possuem baixa densidade eletrônica, pois se apresentam constantemente destituídos de elétrons. Logo, o composto sofrerá facilmente ataques eletrófilos na posição meta. Ora, se o primeiro radical (NO2) diminui a densidade eletrônica do anel, ele é um grupo desativador, e diminui a reatividade do composto. CARBENOS Recentemente, um grande volume de pesquisa foi dedicada à investigação de um grupo especial de compostos em que o carbono forma somente duas ligações, ou seja, não se encontra no estado híbrido. Estes compostos neutros de carbono divalente são chamados carbenos. A maioria dos carbenos são compostos muito instáveis, com uma existência fugaz, ou seja, logo que se formam, usualmente reagem com outras moléculas. As reações dos carbenos são interessantes, pois exige, em muitos casos, grande grau de estereoespecificidade. 46 QUÍMICA ORGÂNICA – HIDROCARBONETOS PROF. HUMBERTO POLLI O carbeno mais simples é o metileno (CH2), que pode ser preparado pela decomposição térmica ou fotólise do diazometano (CH2N2), um gás amarelo e muito venenoso. CH2N2 → CH2 + N2 As reações dos carbenos são também de grande utilidade nas sínteses preparativas de compostos que têm anéis com três membros. CH2 + CH2=CH2 → C3H6 (ciclopropano) 47
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