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Alongamento seis semanas

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XICBB'2005
ALONGAMENTO ESTÁTICO: EFEITO SOBRE A EXTENSIBILIDADE
DOS MÚSCULOS ISQUIOTIBIAIS E RETENÇÃO APÓS SEIS SEMANAS.
Gustavo N. T. Ferreira1, Rafaella A. Fonseca1, Cristiano Q. Guimarães2, Geraldo F. de S. Moraes2 e
Luci F. Teixeira-Salmela2.
1FASEH / Curso de Fisioterapia, Vespasiano – MG; 2UFMG / Escola de Educação Física,
Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Belo Horizonte – MG.
Abstract: The aim of this study was to investigate the
impact of a program of static stretching on flexibility of
the hamstrings and retention. Ten subjects (twenty legs)
with shortened hamstrings, operationally defined as a
knee angle of less than 150° of knee extension with the
hip held in 90° of flexion, took part in the study.
Measures of flexibility were obtained before and
immediately after the intervention and reassessed six
weeks after the cessation of the intervention (retention).
The intervention program consisted of 30 sessions of
static stretching, performed bilaterally five times a week
for six weeks. The impact of the intervention was
investigated using repeated measures ANOVA that
revealed that gains in flexibility obtained with the
intervention were maintained on the follow-up (p=
0,183). These findings indicated that the intervention
resulted in gains in measures of flexibility and suggest
that these gains could be perpetuated by functional
demands.
Key-words: flexibility, stretch, muscular performance,
hamstrings.
Introdução
O hábito de realizar alongamentos antes da prática
de atividades físicas é comum nos esportes, sejam eles
realizados por atletas de competição ou amadores [1].
Atletas, treinadores, técnicos e fisioterapeutas
recomendam o alongamento para prevenção de lesões e
aumento do desempenho físico [1].
Nos últimos anos, tem sido dada uma grande ênfase
ao estudo de diversas técnicas de promoção do
alongamento muscular [2-9]. Isso se deve à relação
existente entre a flexibilidade alcançada com a
realização de programas de alongamento e a prevenção
de lesões [10], redução do gasto energético na marcha,
decréscimo do dolorimento muscular e melhora do
desempenho atlético [5,11-13]. Apesar do grande
número de estudos sobre o assunto, não existe consenso
sobre qual a melhor forma de se alcançar mudanças na
flexibilidade [12].
A flexibilidade muscular apresenta componentes
neurofisiológicos e mecânicos, o que torna difícil a sua
compreensão [14,15]. Taylor et al. [16], em um estudo
pioneiro sobre as propriedades viscoelásticas do
músculo, encontraram que o conjunto músculo-tendão
responde viscoelasticamente à cargas tênseis, ou seja, ao
ser alongado e mantido em um comprimento constante,
o estresse ou força, naquele comprimento, gradualmente
declina. Este declínio, chamado relaxamento ao
estresse, demonstra que o conjunto músculo-tendão se
adapta ao alongamento aumentando o seu comprimento,
fato que não pode ser rapidamente revertido [16].
Clinicamente, isto implica que o músculo irá permitir
uma maior amplitude de movimento articular [16].
Desde então, inúmeros pesquisadores têm tentado
estabelecer o tempo e o número de repetições ideais
para os programas de alongamento[2,3,16,17]. Bandy et
al. [2] encontraram que o alongamento estático para os
isquiotibiais, realizado uma vez ao dia, durante 30
segundos, cinco vezes por semana, durante seis
semanas, produziu efeitos positivos sobre a
flexibilidade.
Apesar do tema alongamento ter sido amplamente
abordado pela comunidade cientifica nas últimas
décadas, poucos estudos se ativeram à retenção dos
ganhos produzidos por intervenções visando a
modificação da flexibilidade. Willy et al. [18]
encontraram pouca retenção dos ganhos de flexibilidade
quatro semanas após os voluntários do estudo terem
cessado as atividades de alongamento. Achados
similares foram descritos por Möller et al. [19], que
utilizaram um programa de alongamento por um curto
período de tempo.
Com base no acima descrito e na ampla vivência
clínica com indivíduos que apresentam limitações
consideráveis da flexibilidade dos isquiotibiais, este
estudo se propôs a investigar o impacto de um programa
de alongamento estático sobre a extensibilidade dos
isquiotibiais e retenção após seis semanas.
Materiais e Métodos
O trabalho foi realizado com uma amostra de
conveniência de 10 estudantes universitários
voluntários, de ambos os gêneros, oriundos da
Faculdade de Saúde e Ecologia Humana – FASEH –
localizada em Vespasiano, Minas Gerais, Brasil.
Para participar do estudo, foram considerados os
seguintes critérios de inclusão: ter idade entre 18 e 39
anos e apresentar encurtamento dos músculos
isquiotibiais, definido como ângulo de extensão do
joelho menor ou igual a 150° estando o quadril do
membro a ser testado em 90° de flexão [2,18] (180° foi
considerada extensão total do joelho, e, portanto,
ausência de encurtamento dos isquiotibiais).
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XICBB'2005
Os seguintes critérios de exclusão foram aplicados:
apresentar qualquer tipo de patologia ou limitação física
que impedisse o bom desenvolvimento da pesquisa; ter
alterações congênitas nos membros inferiores; ter sido
submetido a qualquer intervenção cirúrgica nos
membros inferiores; estar em tratamento
fisioterapêutico para qualquer patologia nos membros
inferiores; ser incapaz de realizar o protocolo de
intervenção e apresentar quadro álgico incapacitante.
Os voluntários foram esclarecidos previamente sobre
o protocolo de investigação proposto e, aqueles
interessados, assinaram um termo de consentimento
livre e esclarecido de suas participações antes de serem
incluídos no estudo, bem como o consentimento do uso
de imagem, caso necessário e solicitado.
Dos participantes do estudo, oito eram mulheres
(80%) e dois eram homens (20%) conforme as
características demográficas e antropométricas
apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1: Características Demográficas e
Antropométricas da Amostra.
Variável Média ± SD Mínimo Máximo
Idade (anos) 22,30 ± 5,48 19,00 37,00
Estatura (m) 1,64 ± 0,07 1,53 1,79
Massa corporal (kg) 59,28 ± 9,59 50,0 80,0
IMC (kg/m2) 21,93 ± 2,10 19,31 25,69
SD = desvio padrão
IMC = índice de massa corporal
As mensurações da flexibilidade foram feitas com
um goniômetro universal (Smith & Nephew, Rolyan
INC, P.O. Box 1005, Germantown, YI), tendo duas
hastes de 31,5 cm de comprimento e um fulcro com
precisão de medida de um grau.
A quantificação da força aplicada para elevar a
perna do voluntário durante a mensuração do ângulo de
extensão do joelho foi feita com o auxílio do
dinamômetro de mão (Microfet2, Hoggan Health
Industries, Draper, UT). Para o estudo, foram utilizados
os valores do pico de força alcançados na manobra de
elevação da perna, estando o botão de limiar de força do
aparelho na posição de “baixo limiar”. Nessa posição o
aparelho detecta forças entre 3,6 a 89N (incremento a
cada 0,9N) e 89 a 445N (incremento a cada 4,4N).
Anterior à coleta dos dados, foi realizado o teste de
confiabilidade da medida do ângulo de extensão do
joelho e da dinamometria manual. As medidas de dez
voluntários com idade entre 18 e 39 anos foram obtidas
duas vezes, num mesmo dia, com intervalo de uma hora
entre as coletas. O índice de correlação intraclasse para
essas medidas variou de 0,92 a 0,96, o que foi
considerado apropriado para o prosseguimento do
estudo.
Os indivíduos foram orientados a trajar vestimentas
que possibilitassem acesso ao trocânter maior do fêmur,
epicôndilo femoral lateral e maléolo lateral da fíbula. Os
indivíduos foram posicionados em uma maca em
decúbito dorsal, com ambos os membros inferiores
estendidos. O primeiro examinador, então, posicionou o
quadril e joelho direito em 90° de flexão e passivamente
moveu o calcâneo direito até a posição final de extensão
do joelho,definida como o ponto em que o indivíduo
queixou-se de desconforto ou tensão nos músculos
isquiotibiais, ou o examinador percebeu a resistência ao
alongamento. Nessa posição os pontos ósseos de
referência foram marcados e a perna retornada à posição
inicial.
Para uma maior precisão da medida goniométrica, o
segundo examinador novamente realizava a extensão do
joelho do membro inferior a ser avaliado enquanto o
primeiro examinador riscava, com auxílio de uma régua
de madeira, duas linhas unindo os pontos de referência
(trocânter maior do fêmur ao epicôndilo lateral do fêmur
e epicôndilo lateral do fêmur ao maléolo lateral da
fíbula). Em seguida, a perna era retornada à posição
inicial e o mesmo procedimento repetido na perna
contralateral.
Para realização da medida goniométrica, o primeiro
examinador então novamente posicionou o quadril e
joelho direito em 90° de flexão, estando agora o
calcâneo do voluntário apoiado na placa do
dinamômetro de mão. Para garantir a manutenção do
ângulo de 90° de flexão na articulação do quadril
durante a mensuração do ângulo de extensão do joelho,
uma linha de prumo de referência foi posicionada
perpendicular à maca, como demonstrado na Figura 1.
Durante a aplicação da força para elevar a perna do
voluntário, o primeiro examinador mantinha a
orientação do suporte do dinamômetro manual paralela
à linha traçada entre o epicôndilo femoral lateral e o
maléolo lateral da fíbula. Uma vez que o ponto final de
extensão do joelho fosse alcançado, o segundo
examinador realizava a mensuração do grau de extensão
do joelho com o goniômetro, sendo 180° considerada
extensão total do joelho.
Figura 1: Posicionamento para mensuração do
ângulo de extensão do joelho.
Para uma maior estabilidade dos dados, as medidas
goniométricas pré, pós-intervenção e período de
retenção foram coletadas sempre num mesmo horário,
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numa mesma sala de avaliação, como forma de tentar
minimizar a variabilidade das medidas decorrentes do
ritmo circadiano, ou seja, variações da flexibilidade
relacionadas ao horário do dia em que a coleta dos
dados foi realizada [20]. Nenhum período de
aquecimento foi permitido antes da coleta da amplitude
de movimento do ângulo de extensão do joelho.
Para garantir a confiabilidade das medidas, o
primeiro examinador não teve acesso aos valores das
medidas goniométricas registrados pelo segundo
examinador. Todas as medidas foram realizadas três
vezes, sendo a média utilizada para posterior análise.
O protocolo de intervenção foi baseado na
metodologia utilizada por Sullivan et al. [17]. Para
alongar os isquiotibiais, cada indivíduo permaneceu em
ortostatismo, com o pé esquerdo no solo e apontando
para frente, sem que houvesse rotação no quadril. A
perna direita foi colocada sobre uma superfície elevada,
apoiando-se no calcâneo, com o joelho totalmente
estendido, dedos apontando para cima, sem que
houvesse rotação do quadril. A superfície era elevada o
suficiente para causar uma sensação de alongamento na
região posterior da coxa. Para esse intento, foram
disponibilizadas aos voluntários sete superfícies com
alturas variadas (27, 35, 44, 49, 67, 77 e 89
centímetros). Cada indivíduo foi instruído a inclinar-se
anteriormente mantendo a coluna ereta, pelve em
anteversão [17] e com os ombros retraídos até que fosse
percebido um suave alongamento na região posterior da
coxa. Ao atingir esta posição, o alongamento foi
sustentado por 30 segundos, tempo este verificado
através de um cronômetro digital. Foram repetidos
quatro ciclos de alongamento com intervalo de 10
segundos, durante os quais foi permitido que a perna
fosse retirada da superfície elevada. Após realizar os
quatro ciclos com o membro inferior direito, o indivíduo
descansou por 30 segundos e repetiu todo o
procedimento com o membro inferior esquerdo.
Cada sessão foi supervisionada por um terceiro
examinador que utilizou uma planilha de atendimento
para monitorar a freqüência dos participantes. Aqueles
participantes que não realizaram a sessão de
alongamento em um dia particular, no dia seguinte,
realizaram duas sessões de alongamento, uma pela
manhã e outra pela tarde. Qualquer indivíduo que
perdesse mais de quatro sessões de alongamento seria
eliminado do estudo, fato que não ocorreu. Todos os
indivíduos eram estimulados diariamente pelo terceiro
examinador a incrementar a altura da superfície elevada
onde realizavam a intervenção de alongamento.
Cada indivíduo realizou cinco sessões semanais de
alongamento para os isquiotibiais, durante seis semanas.
Todos os indivíduos foram novamente testados
(segunda coleta) após a intervenção, seguindo os
mesmos procedimentos descritos anteriormente. O
intervalo de tempo entre a última sessão de alongamento
e a realização da segunda coleta foi de 24 horas, para
que os efeitos viscoelásticos do alongamento fossem
dissipados [9,21].
Após a segunda coleta, os voluntários retornaram à
sua rotina de atividades diárias, sendo mais uma vez
avaliados após seis semanas quanto à medida do ângulo
de extensão do joelho (retenção), seguindo os mesmos
procedimentos previamente descritos. Estes voluntários
não apresentaram, nesse período, incremento no tempo
semanal dedicado à atividade física, nem tampouco,
realizaram alongamentos.
Resultados
Dez voluntários, perfazendo um total de 20 pernas,
que completaram o programa de intervenção foram
reavaliados com relação à flexibilidade, determinada
pela medida do ângulo de extensão do joelho, após seis
semanas do término da intervenção.
Os valores de pico de força obtidos na dinamometria
manual pré-intervenção (49,93 ± 10,68N), pós-
intervenção (51,22 ± 9,26N) e no período de retenção
(50,82 ± 10,24N) não apresentaram diferenças
estatisticamente significativas, como detectado pela
ANOVA medida repetida com contrastes pré-planejados
(p= 0,216 e 0,687). Estes dados indicam que não houve
alteração da força aplicada nos três momentos,
conforme apresentado na Tabela 2.
Os valores das medidas do ângulo de extensão do
joelho pré-intervenção (142,6 ± 5,9°), pós-intervenção
(157,1 ± 11,2°) e no período de retenção (158,2 ± 10,5°)
também estão apresentados na Tabela 2. ANOVA
medida repetida com contrastes pré-planejados detectou
diferenças significativas entre os valores pré e pós-
intervenção (p=0,000). Entretanto, os valores obtidos no
período de retenção não apresentaram diferenças
significativas dos valores pós-intervenção (p=0,183),
indicando que os ganhos da flexibilidade se mantiveram
após seis semanas finalizada a intervenção.
Tabela 2: Médias e Desvios Padrão das Medidas de
Dinamometria Manual e Flexibilidade Obtidas nos
Três Momentos.
Variável Pré Pós Retenção
Dinamometria
manual (N) 49,93 ± 10,68 51,22 ± 9,26 50,82 ± 10,24
Flexibilidade (°) 142,6 ± 5,9 157,1 ± 11,2 * 158,2 ± 10,5
(*) = diferença estatisticamente significativa (p<0,05) em relação à
situação pré-intervenção.
Discussão
Os resultados do presente estudo demonstraram que
o valor obtido através da mensuração do ângulo de
extensão do joelho se mostrou como um indicador
sensível para detectar mudanças nas medidas de
flexibilidade dos músculos isquiotibiais associadas com
um programa de intervenção.
Os resultados alcançados após a realização de um
programa regular de alongamento foram
significativamente maiores que os valores obtidos pré-
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XICBB'2005
intervenção. Os voluntários apresentaram uma média de
ganho de flexibilidade de 14,5 ± 8,7°, que corrobora
com os relatos de diversos autores que aplicaram
intervenções similares [2,3,5,10]. Chan et al. [3]
também encontraram valores de ganho de flexibilidade
similares aos aqui reportados,quando aplicaram uma
intervenção de alongamento para os isquiotibiais com
duração de quatro (8,9° de média de ganho) e oito
semanas (11,2° de média de ganho).
Seis semanas após a última sessão de alongamento
(retenção), os ganhos de flexibilidade alcançados pós-
intervenção mantiveram-se inalterados estatisticamente,
para os 10 voluntários (20 pernas) integrantes da
amostra, conforme resultados da ANOVA. Mais uma
vez a quantidade de força aplicada ao se realizar a
mensuração do ângulo de extensão do joelho foi
controlada para que a flexibilidade refletisse o
comprimento muscular, e não uma tolerância à
dor/alongamento.
Durante o período de retenção, todos os voluntários
mantiveram seus níveis de atividade física (caso
houvesse) e não realizaram quaisquer alongamentos
para os isquiotibiais. Com base nos dados encontrados é
possível inferir que modificações no comprimento
muscular podem ser mantidas, desde que o indivíduo
passe a utilizar os recém alcançados graus de
mobilidade articular [22].
Alguns estudos porém não compartilham desses
achados, uma vez que os ganhos de amplitude de
movimento regridem tão logo a intervenção de
alongamento cesse [5,18]. Entretanto, nesses estudos,
apenas uma perna foi submetida à intervenção enquanto
a outra permaneceu como controle [5,18]. Dessa forma,
o voluntário tinha menor possibilidade de incorporar os
graus de mobilidade adquiridos com a intervenção nas
suas atividades de vida diária, pois apenas um dos
membros beneficiava-se da mesma. Contrário a isso, no
presente estudo, os flexores do joelho de ambas as
pernas foram alongados, permitindo ao voluntário
incorporar os eventuais ganhos de mobilidade na
realização de suas atividades cotidianas. Tal fato pode
explicar a discrepância dos achados desse estudo em
relação aos resultados descritos na literatura, e mostra a
necessidade de realizar outros estudos que investiguem
melhor os fatores relacionados à manutenção desses
ganhos.
Segundo a literatura, ganhos de flexibilidade
muscular podem estar associados a uma maior
tolerância do indivíduo ao alongamento [6,7,23], às
propriedades viscoelásticas da unidade músculo-tendão
[16,24] e ao aumento do número de sarcômeros em série
na fibra muscular [3,4,11,25,26].
De acordo com Mueller e Maluf [22], mudanças nos
níveis do estresse físico causam uma resposta adaptativa
previsível em todo tecido biológico. Limiares
específicos definem os níveis superiores e inferiores de
estresse para cada resposta tecidual característica [22].
Ao se aplicar uma força tênsil no tecido muscular
(alongamento), na verdade, está-se aplicando um nível
de estresse controlado ao indivíduo, com o intuito de
restaurar sua amplitude de movimento articular
fisiológica [3,5,10,11,27-29].
Para Taylor et al.[16] e Gajdosik [11], os ganhos
imediatos de flexibilidade estariam relacionados às
propriedades viscoelásticas da unidade músculo-tendão.
Entretanto, Mueller e Maluf [22] defendem que a
aplicação regular de forças de estresse induzem o tecido
a uma adaptação positiva no sentido de prevenir lesões.
Alguns estudos confirmam essa hipótese por
encontrarem aumento do número de sarcômeros em
série em músculos que foram submetidos a um estresse
de alongamento contínuo [4,27,30,31].
Embora o número de sarcômeros não tenha sido uma
variável investigada neste estudo, existem evidências de
que um músculo submetido ao alongamento pelo
período de quatro semanas tem o seu número de
sarcômeros em série aumentado [27]. Fridén et al. [31]
também encontraram uma associação entre o
comprimento muscular e o número de sarcômeros
decorrente de uma cirurgia de transferência de tendão
em coelhos, após um período de três semanas.
Alguns fatores podem afetar as medidas de
flexibilidade [9,20] e, dessa forma, precisam ser
considerados. Um desses fatores é a quantidade de força
aplicada ao se realizar a mensuração do ângulo de
extensão do joelho, variável que no presente estudo foi
controlada. A análise estatística da quantidade de força
aplicada na dinamometria manual pré e pós-intervenção
demonstrou que uma mesma força foi aplicada ao
calcâneo do voluntário durante a mensuração do ângulo
de extensão do joelho. Desta forma, os resultados
obtidos de ganho de flexibilidade parecem não estar
associados à mudança na tolerância do indivíduo à
dor/alongamento.
Um outro fator que pode afetar a consistência dos
dados de flexibilidade consiste no período do dia em
que as coletas são realizadas [20]. Para evitar diferenças
nas medidas decorrentes de variações do ritmo
circadiano, todas as coletas foram realizadas no mesmo
horário em todos os momentos da intervenção, com
diferença de no máximo uma hora. Além disso, todas as
coletas ocorreram um dia após a realização da última
sessão de alongamentos, de forma a dissipar os efeitos
viscoelásticos do alongamento [9,21]. Os voluntários
também foram monitorados quanto a freqüência que
realizavam atividades físicas. Nenhuma modificação
dessa freqüência ocorreu no transcorrer desse estudo.
Considerando que a intervenção aplicada nesse
estudo foi realizada por um longo período de tempo
(seis semanas perfazendo 30 sessões de alongamento) e
que fatores que poderiam influenciar os resultados
foram controlados, é possível que o estímulo tenha sido
grande o suficiente para induzir a sarcomerogênese,
conforme já demonstrado em estudos com animais [27].
Portanto, é possível que a sarcomerogênese possa
explicar a maior flexibilidade dos isquiotibiais
encontrada após a intervenção e no período de retenção.
Com base no acima descrito, é possível inferir que
os resultados do presente estudo suportam a hipótese de
que um programa de alongamento de longa duração
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aliado à demanda funcional do indivíduo pode induzir a
adaptações no comprimento muscular, resultantes das
modificações no número de sarcômeros em série, fato
este já confirmado em experimento com animais [11].
Conclusão
Os resultados do presente estudo demonstraram que
a flexibilidade dos músculos isquiotibiais, quantificada
através da mensuração goniométrica do ângulo de
extensão do joelho, pode ser modificada por um
programa regular de alongamento estático com duração
de seis semanas. Depois de transcorrido o período de
retenção (seis semanas) foi observado uma manutenção
dos ganhos de flexibilidade. Isto sugere que os ganhos
alcançados com um programa de alongamento podem
ser perpetuados, caso o indivíduo passe a exercê-los nas
suas atividades cotidianas. O presente estudo
possibilitou, portanto, demonstrar que a flexibilidade
muscular pode ser modificada e perpetuada, caso os
indivíduos passem a utilizar a amplitude de movimento
adicional obtida através de um programa de
alongamento estático.
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