Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ISBN # Page# XICBB'2005 ALONGAMENTO ESTÁTICO: EFEITO SOBRE A EXTENSIBILIDADE DOS MÚSCULOS ISQUIOTIBIAIS E RETENÇÃO APÓS SEIS SEMANAS. Gustavo N. T. Ferreira1, Rafaella A. Fonseca1, Cristiano Q. Guimarães2, Geraldo F. de S. Moraes2 e Luci F. Teixeira-Salmela2. 1FASEH / Curso de Fisioterapia, Vespasiano – MG; 2UFMG / Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Belo Horizonte – MG. Abstract: The aim of this study was to investigate the impact of a program of static stretching on flexibility of the hamstrings and retention. Ten subjects (twenty legs) with shortened hamstrings, operationally defined as a knee angle of less than 150° of knee extension with the hip held in 90° of flexion, took part in the study. Measures of flexibility were obtained before and immediately after the intervention and reassessed six weeks after the cessation of the intervention (retention). The intervention program consisted of 30 sessions of static stretching, performed bilaterally five times a week for six weeks. The impact of the intervention was investigated using repeated measures ANOVA that revealed that gains in flexibility obtained with the intervention were maintained on the follow-up (p= 0,183). These findings indicated that the intervention resulted in gains in measures of flexibility and suggest that these gains could be perpetuated by functional demands. Key-words: flexibility, stretch, muscular performance, hamstrings. Introdução O hábito de realizar alongamentos antes da prática de atividades físicas é comum nos esportes, sejam eles realizados por atletas de competição ou amadores [1]. Atletas, treinadores, técnicos e fisioterapeutas recomendam o alongamento para prevenção de lesões e aumento do desempenho físico [1]. Nos últimos anos, tem sido dada uma grande ênfase ao estudo de diversas técnicas de promoção do alongamento muscular [2-9]. Isso se deve à relação existente entre a flexibilidade alcançada com a realização de programas de alongamento e a prevenção de lesões [10], redução do gasto energético na marcha, decréscimo do dolorimento muscular e melhora do desempenho atlético [5,11-13]. Apesar do grande número de estudos sobre o assunto, não existe consenso sobre qual a melhor forma de se alcançar mudanças na flexibilidade [12]. A flexibilidade muscular apresenta componentes neurofisiológicos e mecânicos, o que torna difícil a sua compreensão [14,15]. Taylor et al. [16], em um estudo pioneiro sobre as propriedades viscoelásticas do músculo, encontraram que o conjunto músculo-tendão responde viscoelasticamente à cargas tênseis, ou seja, ao ser alongado e mantido em um comprimento constante, o estresse ou força, naquele comprimento, gradualmente declina. Este declínio, chamado relaxamento ao estresse, demonstra que o conjunto músculo-tendão se adapta ao alongamento aumentando o seu comprimento, fato que não pode ser rapidamente revertido [16]. Clinicamente, isto implica que o músculo irá permitir uma maior amplitude de movimento articular [16]. Desde então, inúmeros pesquisadores têm tentado estabelecer o tempo e o número de repetições ideais para os programas de alongamento[2,3,16,17]. Bandy et al. [2] encontraram que o alongamento estático para os isquiotibiais, realizado uma vez ao dia, durante 30 segundos, cinco vezes por semana, durante seis semanas, produziu efeitos positivos sobre a flexibilidade. Apesar do tema alongamento ter sido amplamente abordado pela comunidade cientifica nas últimas décadas, poucos estudos se ativeram à retenção dos ganhos produzidos por intervenções visando a modificação da flexibilidade. Willy et al. [18] encontraram pouca retenção dos ganhos de flexibilidade quatro semanas após os voluntários do estudo terem cessado as atividades de alongamento. Achados similares foram descritos por Möller et al. [19], que utilizaram um programa de alongamento por um curto período de tempo. Com base no acima descrito e na ampla vivência clínica com indivíduos que apresentam limitações consideráveis da flexibilidade dos isquiotibiais, este estudo se propôs a investigar o impacto de um programa de alongamento estático sobre a extensibilidade dos isquiotibiais e retenção após seis semanas. Materiais e Métodos O trabalho foi realizado com uma amostra de conveniência de 10 estudantes universitários voluntários, de ambos os gêneros, oriundos da Faculdade de Saúde e Ecologia Humana – FASEH – localizada em Vespasiano, Minas Gerais, Brasil. Para participar do estudo, foram considerados os seguintes critérios de inclusão: ter idade entre 18 e 39 anos e apresentar encurtamento dos músculos isquiotibiais, definido como ângulo de extensão do joelho menor ou igual a 150° estando o quadril do membro a ser testado em 90° de flexão [2,18] (180° foi considerada extensão total do joelho, e, portanto, ausência de encurtamento dos isquiotibiais). PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com ISBN # Page# XICBB'2005 Os seguintes critérios de exclusão foram aplicados: apresentar qualquer tipo de patologia ou limitação física que impedisse o bom desenvolvimento da pesquisa; ter alterações congênitas nos membros inferiores; ter sido submetido a qualquer intervenção cirúrgica nos membros inferiores; estar em tratamento fisioterapêutico para qualquer patologia nos membros inferiores; ser incapaz de realizar o protocolo de intervenção e apresentar quadro álgico incapacitante. Os voluntários foram esclarecidos previamente sobre o protocolo de investigação proposto e, aqueles interessados, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido de suas participações antes de serem incluídos no estudo, bem como o consentimento do uso de imagem, caso necessário e solicitado. Dos participantes do estudo, oito eram mulheres (80%) e dois eram homens (20%) conforme as características demográficas e antropométricas apresentadas na Tabela 1. Tabela 1: Características Demográficas e Antropométricas da Amostra. Variável Média ± SD Mínimo Máximo Idade (anos) 22,30 ± 5,48 19,00 37,00 Estatura (m) 1,64 ± 0,07 1,53 1,79 Massa corporal (kg) 59,28 ± 9,59 50,0 80,0 IMC (kg/m2) 21,93 ± 2,10 19,31 25,69 SD = desvio padrão IMC = índice de massa corporal As mensurações da flexibilidade foram feitas com um goniômetro universal (Smith & Nephew, Rolyan INC, P.O. Box 1005, Germantown, YI), tendo duas hastes de 31,5 cm de comprimento e um fulcro com precisão de medida de um grau. A quantificação da força aplicada para elevar a perna do voluntário durante a mensuração do ângulo de extensão do joelho foi feita com o auxílio do dinamômetro de mão (Microfet2, Hoggan Health Industries, Draper, UT). Para o estudo, foram utilizados os valores do pico de força alcançados na manobra de elevação da perna, estando o botão de limiar de força do aparelho na posição de “baixo limiar”. Nessa posição o aparelho detecta forças entre 3,6 a 89N (incremento a cada 0,9N) e 89 a 445N (incremento a cada 4,4N). Anterior à coleta dos dados, foi realizado o teste de confiabilidade da medida do ângulo de extensão do joelho e da dinamometria manual. As medidas de dez voluntários com idade entre 18 e 39 anos foram obtidas duas vezes, num mesmo dia, com intervalo de uma hora entre as coletas. O índice de correlação intraclasse para essas medidas variou de 0,92 a 0,96, o que foi considerado apropriado para o prosseguimento do estudo. Os indivíduos foram orientados a trajar vestimentas que possibilitassem acesso ao trocânter maior do fêmur, epicôndilo femoral lateral e maléolo lateral da fíbula. Os indivíduos foram posicionados em uma maca em decúbito dorsal, com ambos os membros inferiores estendidos. O primeiro examinador, então, posicionou o quadril e joelho direito em 90° de flexão e passivamente moveu o calcâneo direito até a posição final de extensão do joelho,definida como o ponto em que o indivíduo queixou-se de desconforto ou tensão nos músculos isquiotibiais, ou o examinador percebeu a resistência ao alongamento. Nessa posição os pontos ósseos de referência foram marcados e a perna retornada à posição inicial. Para uma maior precisão da medida goniométrica, o segundo examinador novamente realizava a extensão do joelho do membro inferior a ser avaliado enquanto o primeiro examinador riscava, com auxílio de uma régua de madeira, duas linhas unindo os pontos de referência (trocânter maior do fêmur ao epicôndilo lateral do fêmur e epicôndilo lateral do fêmur ao maléolo lateral da fíbula). Em seguida, a perna era retornada à posição inicial e o mesmo procedimento repetido na perna contralateral. Para realização da medida goniométrica, o primeiro examinador então novamente posicionou o quadril e joelho direito em 90° de flexão, estando agora o calcâneo do voluntário apoiado na placa do dinamômetro de mão. Para garantir a manutenção do ângulo de 90° de flexão na articulação do quadril durante a mensuração do ângulo de extensão do joelho, uma linha de prumo de referência foi posicionada perpendicular à maca, como demonstrado na Figura 1. Durante a aplicação da força para elevar a perna do voluntário, o primeiro examinador mantinha a orientação do suporte do dinamômetro manual paralela à linha traçada entre o epicôndilo femoral lateral e o maléolo lateral da fíbula. Uma vez que o ponto final de extensão do joelho fosse alcançado, o segundo examinador realizava a mensuração do grau de extensão do joelho com o goniômetro, sendo 180° considerada extensão total do joelho. Figura 1: Posicionamento para mensuração do ângulo de extensão do joelho. Para uma maior estabilidade dos dados, as medidas goniométricas pré, pós-intervenção e período de retenção foram coletadas sempre num mesmo horário, PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com ISBN # Page# XICBB'2005 numa mesma sala de avaliação, como forma de tentar minimizar a variabilidade das medidas decorrentes do ritmo circadiano, ou seja, variações da flexibilidade relacionadas ao horário do dia em que a coleta dos dados foi realizada [20]. Nenhum período de aquecimento foi permitido antes da coleta da amplitude de movimento do ângulo de extensão do joelho. Para garantir a confiabilidade das medidas, o primeiro examinador não teve acesso aos valores das medidas goniométricas registrados pelo segundo examinador. Todas as medidas foram realizadas três vezes, sendo a média utilizada para posterior análise. O protocolo de intervenção foi baseado na metodologia utilizada por Sullivan et al. [17]. Para alongar os isquiotibiais, cada indivíduo permaneceu em ortostatismo, com o pé esquerdo no solo e apontando para frente, sem que houvesse rotação no quadril. A perna direita foi colocada sobre uma superfície elevada, apoiando-se no calcâneo, com o joelho totalmente estendido, dedos apontando para cima, sem que houvesse rotação do quadril. A superfície era elevada o suficiente para causar uma sensação de alongamento na região posterior da coxa. Para esse intento, foram disponibilizadas aos voluntários sete superfícies com alturas variadas (27, 35, 44, 49, 67, 77 e 89 centímetros). Cada indivíduo foi instruído a inclinar-se anteriormente mantendo a coluna ereta, pelve em anteversão [17] e com os ombros retraídos até que fosse percebido um suave alongamento na região posterior da coxa. Ao atingir esta posição, o alongamento foi sustentado por 30 segundos, tempo este verificado através de um cronômetro digital. Foram repetidos quatro ciclos de alongamento com intervalo de 10 segundos, durante os quais foi permitido que a perna fosse retirada da superfície elevada. Após realizar os quatro ciclos com o membro inferior direito, o indivíduo descansou por 30 segundos e repetiu todo o procedimento com o membro inferior esquerdo. Cada sessão foi supervisionada por um terceiro examinador que utilizou uma planilha de atendimento para monitorar a freqüência dos participantes. Aqueles participantes que não realizaram a sessão de alongamento em um dia particular, no dia seguinte, realizaram duas sessões de alongamento, uma pela manhã e outra pela tarde. Qualquer indivíduo que perdesse mais de quatro sessões de alongamento seria eliminado do estudo, fato que não ocorreu. Todos os indivíduos eram estimulados diariamente pelo terceiro examinador a incrementar a altura da superfície elevada onde realizavam a intervenção de alongamento. Cada indivíduo realizou cinco sessões semanais de alongamento para os isquiotibiais, durante seis semanas. Todos os indivíduos foram novamente testados (segunda coleta) após a intervenção, seguindo os mesmos procedimentos descritos anteriormente. O intervalo de tempo entre a última sessão de alongamento e a realização da segunda coleta foi de 24 horas, para que os efeitos viscoelásticos do alongamento fossem dissipados [9,21]. Após a segunda coleta, os voluntários retornaram à sua rotina de atividades diárias, sendo mais uma vez avaliados após seis semanas quanto à medida do ângulo de extensão do joelho (retenção), seguindo os mesmos procedimentos previamente descritos. Estes voluntários não apresentaram, nesse período, incremento no tempo semanal dedicado à atividade física, nem tampouco, realizaram alongamentos. Resultados Dez voluntários, perfazendo um total de 20 pernas, que completaram o programa de intervenção foram reavaliados com relação à flexibilidade, determinada pela medida do ângulo de extensão do joelho, após seis semanas do término da intervenção. Os valores de pico de força obtidos na dinamometria manual pré-intervenção (49,93 ± 10,68N), pós- intervenção (51,22 ± 9,26N) e no período de retenção (50,82 ± 10,24N) não apresentaram diferenças estatisticamente significativas, como detectado pela ANOVA medida repetida com contrastes pré-planejados (p= 0,216 e 0,687). Estes dados indicam que não houve alteração da força aplicada nos três momentos, conforme apresentado na Tabela 2. Os valores das medidas do ângulo de extensão do joelho pré-intervenção (142,6 ± 5,9°), pós-intervenção (157,1 ± 11,2°) e no período de retenção (158,2 ± 10,5°) também estão apresentados na Tabela 2. ANOVA medida repetida com contrastes pré-planejados detectou diferenças significativas entre os valores pré e pós- intervenção (p=0,000). Entretanto, os valores obtidos no período de retenção não apresentaram diferenças significativas dos valores pós-intervenção (p=0,183), indicando que os ganhos da flexibilidade se mantiveram após seis semanas finalizada a intervenção. Tabela 2: Médias e Desvios Padrão das Medidas de Dinamometria Manual e Flexibilidade Obtidas nos Três Momentos. Variável Pré Pós Retenção Dinamometria manual (N) 49,93 ± 10,68 51,22 ± 9,26 50,82 ± 10,24 Flexibilidade (°) 142,6 ± 5,9 157,1 ± 11,2 * 158,2 ± 10,5 (*) = diferença estatisticamente significativa (p<0,05) em relação à situação pré-intervenção. Discussão Os resultados do presente estudo demonstraram que o valor obtido através da mensuração do ângulo de extensão do joelho se mostrou como um indicador sensível para detectar mudanças nas medidas de flexibilidade dos músculos isquiotibiais associadas com um programa de intervenção. Os resultados alcançados após a realização de um programa regular de alongamento foram significativamente maiores que os valores obtidos pré- PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com ISBN # Page# XICBB'2005 intervenção. Os voluntários apresentaram uma média de ganho de flexibilidade de 14,5 ± 8,7°, que corrobora com os relatos de diversos autores que aplicaram intervenções similares [2,3,5,10]. Chan et al. [3] também encontraram valores de ganho de flexibilidade similares aos aqui reportados,quando aplicaram uma intervenção de alongamento para os isquiotibiais com duração de quatro (8,9° de média de ganho) e oito semanas (11,2° de média de ganho). Seis semanas após a última sessão de alongamento (retenção), os ganhos de flexibilidade alcançados pós- intervenção mantiveram-se inalterados estatisticamente, para os 10 voluntários (20 pernas) integrantes da amostra, conforme resultados da ANOVA. Mais uma vez a quantidade de força aplicada ao se realizar a mensuração do ângulo de extensão do joelho foi controlada para que a flexibilidade refletisse o comprimento muscular, e não uma tolerância à dor/alongamento. Durante o período de retenção, todos os voluntários mantiveram seus níveis de atividade física (caso houvesse) e não realizaram quaisquer alongamentos para os isquiotibiais. Com base nos dados encontrados é possível inferir que modificações no comprimento muscular podem ser mantidas, desde que o indivíduo passe a utilizar os recém alcançados graus de mobilidade articular [22]. Alguns estudos porém não compartilham desses achados, uma vez que os ganhos de amplitude de movimento regridem tão logo a intervenção de alongamento cesse [5,18]. Entretanto, nesses estudos, apenas uma perna foi submetida à intervenção enquanto a outra permaneceu como controle [5,18]. Dessa forma, o voluntário tinha menor possibilidade de incorporar os graus de mobilidade adquiridos com a intervenção nas suas atividades de vida diária, pois apenas um dos membros beneficiava-se da mesma. Contrário a isso, no presente estudo, os flexores do joelho de ambas as pernas foram alongados, permitindo ao voluntário incorporar os eventuais ganhos de mobilidade na realização de suas atividades cotidianas. Tal fato pode explicar a discrepância dos achados desse estudo em relação aos resultados descritos na literatura, e mostra a necessidade de realizar outros estudos que investiguem melhor os fatores relacionados à manutenção desses ganhos. Segundo a literatura, ganhos de flexibilidade muscular podem estar associados a uma maior tolerância do indivíduo ao alongamento [6,7,23], às propriedades viscoelásticas da unidade músculo-tendão [16,24] e ao aumento do número de sarcômeros em série na fibra muscular [3,4,11,25,26]. De acordo com Mueller e Maluf [22], mudanças nos níveis do estresse físico causam uma resposta adaptativa previsível em todo tecido biológico. Limiares específicos definem os níveis superiores e inferiores de estresse para cada resposta tecidual característica [22]. Ao se aplicar uma força tênsil no tecido muscular (alongamento), na verdade, está-se aplicando um nível de estresse controlado ao indivíduo, com o intuito de restaurar sua amplitude de movimento articular fisiológica [3,5,10,11,27-29]. Para Taylor et al.[16] e Gajdosik [11], os ganhos imediatos de flexibilidade estariam relacionados às propriedades viscoelásticas da unidade músculo-tendão. Entretanto, Mueller e Maluf [22] defendem que a aplicação regular de forças de estresse induzem o tecido a uma adaptação positiva no sentido de prevenir lesões. Alguns estudos confirmam essa hipótese por encontrarem aumento do número de sarcômeros em série em músculos que foram submetidos a um estresse de alongamento contínuo [4,27,30,31]. Embora o número de sarcômeros não tenha sido uma variável investigada neste estudo, existem evidências de que um músculo submetido ao alongamento pelo período de quatro semanas tem o seu número de sarcômeros em série aumentado [27]. Fridén et al. [31] também encontraram uma associação entre o comprimento muscular e o número de sarcômeros decorrente de uma cirurgia de transferência de tendão em coelhos, após um período de três semanas. Alguns fatores podem afetar as medidas de flexibilidade [9,20] e, dessa forma, precisam ser considerados. Um desses fatores é a quantidade de força aplicada ao se realizar a mensuração do ângulo de extensão do joelho, variável que no presente estudo foi controlada. A análise estatística da quantidade de força aplicada na dinamometria manual pré e pós-intervenção demonstrou que uma mesma força foi aplicada ao calcâneo do voluntário durante a mensuração do ângulo de extensão do joelho. Desta forma, os resultados obtidos de ganho de flexibilidade parecem não estar associados à mudança na tolerância do indivíduo à dor/alongamento. Um outro fator que pode afetar a consistência dos dados de flexibilidade consiste no período do dia em que as coletas são realizadas [20]. Para evitar diferenças nas medidas decorrentes de variações do ritmo circadiano, todas as coletas foram realizadas no mesmo horário em todos os momentos da intervenção, com diferença de no máximo uma hora. Além disso, todas as coletas ocorreram um dia após a realização da última sessão de alongamentos, de forma a dissipar os efeitos viscoelásticos do alongamento [9,21]. Os voluntários também foram monitorados quanto a freqüência que realizavam atividades físicas. Nenhuma modificação dessa freqüência ocorreu no transcorrer desse estudo. Considerando que a intervenção aplicada nesse estudo foi realizada por um longo período de tempo (seis semanas perfazendo 30 sessões de alongamento) e que fatores que poderiam influenciar os resultados foram controlados, é possível que o estímulo tenha sido grande o suficiente para induzir a sarcomerogênese, conforme já demonstrado em estudos com animais [27]. Portanto, é possível que a sarcomerogênese possa explicar a maior flexibilidade dos isquiotibiais encontrada após a intervenção e no período de retenção. Com base no acima descrito, é possível inferir que os resultados do presente estudo suportam a hipótese de que um programa de alongamento de longa duração PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com ISBN # Page# XICBB'2005 aliado à demanda funcional do indivíduo pode induzir a adaptações no comprimento muscular, resultantes das modificações no número de sarcômeros em série, fato este já confirmado em experimento com animais [11]. Conclusão Os resultados do presente estudo demonstraram que a flexibilidade dos músculos isquiotibiais, quantificada através da mensuração goniométrica do ângulo de extensão do joelho, pode ser modificada por um programa regular de alongamento estático com duração de seis semanas. Depois de transcorrido o período de retenção (seis semanas) foi observado uma manutenção dos ganhos de flexibilidade. Isto sugere que os ganhos alcançados com um programa de alongamento podem ser perpetuados, caso o indivíduo passe a exercê-los nas suas atividades cotidianas. O presente estudo possibilitou, portanto, demonstrar que a flexibilidade muscular pode ser modificada e perpetuada, caso os indivíduos passem a utilizar a amplitude de movimento adicional obtida através de um programa de alongamento estático. Referências [1] THACKER SB, GILCHRIST J, STROUP DF, KIMSEY CD, JR. "The impact of stretching on sports injury risk: a systematic review of the literature", Med Sci Sports Exerc. 36(3):371-378, 2004. [2] BANDY WD, IRION JM, BRIGGLER M. "The effect of time and frequency of static stretching on flexibility of the hamstrings muscles", Phys Ther. 77(10):1090-1096, 1997. [3] CHAN SP, HONG Y, ROBINSON PD. "Flexibility and passive resistance of the hamstrings of young adults using two different static stretching protocols", Scand J Med Sci Sports. 11:81-86, 2001. [4] DE-DEYNE PG. "Application of passive stretch and its implications for muscle fibers", Phys Ther. 81(2): 819-827, 2001. [5] FELAND JB, MYRER JW, SCHULTHIES SS, FELLINGHAM GW, MEASOM GW. "The effect of duration of stretching of the hamstring muscle group for increasing range of motion in people aged 65 years or older", Phys Ther. 81(5):1110-1117, 2001. [6] HALBERTSMA JPK, GÖEKEN LNH. "Stretching exercises: effect on passive extensibility and stiffness in shorthamstrings of healthy subjects", Arch Phys Med Rehabil. 75: 976-981, 1994. [7] HALBERTSMA JPK, MULDER I, GÖEKEN LNH, EISMA WH. "Repeated passive stretching: acute effect on the passive muscle moment and extensibility of short hamstrings", Arch Phys Med Rehabil. 80: 407-414, 1999. [8] KUBO K, KANEHISA H, FUKUNAGA T. "Effect of stretching training on the viscoelastic properties of human tendon structures in vivo". J Appl Physiol. 92: 595-601, 2002. [9] MAGNUSSON SP, SIMONSEN EB, AAGAARD P, KJAER M. "Biomechanical responses to repeated stretches in human hamstring muscle in vivo", Am J Sports Med. 24(5):622-628, 1996. [10]HARTIG DE, HENDERSON JM. "Increasing hamstring flexibility decreases lower extremity overuse injuries in military basic trainees", Am J Sports Med. 27(2):173-176, 1999. [11]GAJDOSIK RL. "Passive extensibility of skeletal muscle: review of the literature with clinical implications", Clin Biomech. 16: 87-101, 2001. [12]GLEIN GW, MCHUGH MP. "Flexibility and its effects on sports injury and performance", Sports Med. 24(5):289-299, 1997. [13]WORRELL TW, SMITH TL, WINEGARDNER J. "Effects of hamstring stretching on hamstring muscle performance", J Orthop Sports Phys Ther. 20(3):154-159, 1994. [14]KOMI PV. "Stretch-shortening cycle: a powerful model to study normal and fatigued muscle", J Biomech. 33:1197-1206, 2000. [15]McHUGH MP, MAGNUSSON SP, GLEIN GW, NICHOLAS JA. "Viscoelastic stress relaxation in human skeletal muscle", Med Sci Sports Exerc. 24(12):1375-1382, 1992. [16]TAYLOR DC, DALTON JD, SEABER AV, GARRET WE. "Viscoelastic properties of muscle- tendon units. The biomechanical effects of stretching", Am J Sports Med. 18(3):300-309, 1990. [17]SULLIVAN MK, DeJULIA JJ, WORRELL TW. "Effect of pelvic position and stretching method on hamstring muscle flexibility", Med Sci Sports Exerc. 24(12):1383-1389, 1992. [18]WILLY RW, KYLE BA, MOORE SA, CHLEBOUN GS. "Effect of cessation and resumption of static hamstring muscle stretching on joint range of motion", J Orthop Sports Phys Ther. 31(3):138-144, 2001. [19]MÖLLER M, EKSTRAND J, ÖBERG B, GILLQUIST J. "Duration of stretching effect on PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com ISBN # Page# XICBB'2005 range of motion in lower extremities", Arch Phys Med Rehabil. 66:171-173, 1985. [20]ALTER MJ. "Fatores especiais na flexibilidade", in ALTER MJ, (Ed): Ciência da flexibilidade, Porto Alegre: Artes Médicas Sul, pp. 141-159, 1999. [21]MAGNUSSON SP, AAGARD P, SIMONSEN E, BOJSEN-MOLLER F. "A biomechanical evaluation of cyclic and static stretch in human skeletal muscle", Int J Sports Med. 19(5):310-316, 1998. [22]MUELLER MJ, MALUF KS. "Tissue adaptation to physical stress: a proposed "Physical Stress Theory" to guide physical therapist practice, education, and research", Phys Ther. 82(4):383-403, 2002. [23]HALBERTSMA JPK, Van BOLHUIS AI, GÖEKEN LNH. "Sport stretching: effect on passive muscle stiffness of short hamstrings", Arch Phys Med Rehabil. 77: 688-692, 1996. [24]TAYLOR DC, BROOKS DE, RYAN JB. "Viscoelastic characteristics of muscle: passive stretching versus muscular contractions", Med Sci Sports Exerc. 29(12):1619-1624, 1997. [25]HUTTON RS. "Neuromuscular basis of stretching exercises". in KOMI PV. (Ed): Strength and power in sport. Oxford: Blackwell Scientific Publications, pp. 29-38, 1992. [26]YANG H, ALNAQEEB M, SIMPSON H, GOLDSPINK G. "Changes in muscle fibre type, muscle mass and IGF-I gene expression in rabbit skeletal muscle subjected to stretch,, J.Anat. 190 ( Pt 4):613-622, 1997. [27]CAIOZZO VJ, UTKAN A, CHOU R, KHALAFI A, CHANDRA H, BAKER M et al. "Effects of distraction on muscle length: mechanisms involved in sarcomerogenesis", Clin Orthop. (403 Suppl):S133-S145, 2002. [28]De DEYNE PG. "Formation of sarcomeres in developing myotubes: role of mechanical stretch and contractile activation", Am J Physiol Cell Physiol. 279(6):C1801-C1811, 2000. [29]LARDNER R. "Stretching and flexibility: its importance in rehabilitation", J Bodywork Mov Ther. 10:254-263, 2001. [30]GOLDSPINK G, WILLIAMS P, SIMPSON H. "Gene expression in response to muscle stretch", Clin Orthop. (403 Suppl):S146-S152, 2002. [31]FRIDEN J, PONTEN E, LIEBER RL. "Effect of muscle tension during tendon transfer on sarcomerogenesis in a rabbit model", J Hand Surg [Am]. 25(1):138-143, 2000. e-mail dos autores: fisiotasca@ig.com.br fisiorafaella@ig.com.br PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
Compartilhar