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ISBN # Page# XICBB'2005 CONFIABILIDADE DE DUAS DIFERENTES INTENSIDADES DE ALONGAMENTO NO TESTE DE EXTENSÃO DO JOELHO MODIFICADO Juliana Castro Bergamini, Elder Lopes Bhering, Elisa Couto Gomes, Hans-Joachim Menzel, Mauro Heleno Chagas UFMG / Laboratório de Biomecânica – CENESP, Belo Horizonte - MG Abstract: The purpose of this study was to test the reliability of two different stretching loads measures using the modified knee extention test (TEJ-m). Fifteen male subjects participated in this study. The test was performed on two different days, with 48 hours apart. Both legs were stretching passively using submaximal and maximal load. The coefficient of correlation for the submaximal load was r=0.69, which reflects a moderate relationship. For the maximal load the coefficient of correlation was considered to be a high relationship (r=0.89). No significant difference was found when comparing the average scores of the maximal load between the first session (67,55 o ±10,95) and the second (68,97 o ±12,01) (p=0,28) and comparing the average scores of the submaximal load measures between the first session (37,73°±12,16) and the second (38,41°±12,42) (p=0,70). Therefore the stretching measures for maximal and submaximal loads on the hamstring muscles are statistically reliable. Key words: range of motion, maximal load, submaximal load, reliability. Introdução A importância da capacidade de flexibilidade pode ser evidenciada por sua presença em programas de treinamento físico [1] com objetivo de otimização do rendimento esportivo [2, 3, 4], reabilitação [5, 6] e de atividades que promovam melhora da qualidade de vida [7]. Entretanto informações sobre o efeito dos diferentes componentes da carga de treinamento (duração, volume, intensidade, frequência e densidade) na capacidade flexibilidade ainda são escassas. Entre esses componentes, a duração do estímulo de alongamento tem sido o tema mais frequentemente investigado pelos autores. Recomendações sobre uma duração do alongamento adequada para promover alterações significativas na amplitude de movimento (ADM) variam de 15 a 120 segundos [8, 9, 10, 11, 12]. No que diz respeito à intensidade do estímulo de alongamento, sua interação com os demais componentes e seu efeito na melhora da ADM, o déficit de trabalhos científicos é ainda maior. Marschall [13] comparou o efeito do treinamento da flexibilidade analisando duas diferentes intensidades de alongamento, máxima e submáxima. A intensidade máxima de alongamento foi definida como a maior ADM articular que um indivíduo era capaz de realizar e manter por um curto período de tempo. A intensidade submáxima foi considerada a ADM necessária para que o indivíduo percebesse o primeiro sinal de alongamento da musculatura. Entretanto esse autor indica que a subjetividade e a imprecisão das medidas de cada uma dessas intensidades de alongamento podem dificultar sua utilização. Um dos testes de flexibilidade mais conhecido e utilizado é o teste de extensão do joelho (TEJ), proposto inicialmente por Gajdosik e Lusin [14], que permite avaliar a flexibilidade da musculatura isquiotibial, manifestada de forma ativa ou passiva. Esse tem sido utilizado em diversos estudos [11, 15, 16, 17] apesar das limitações relacionadas à falta de padronização. Netto et al. [18] modificaram o TEJ, visando aumentar as possibilidades de padronização na execução e no posicionamento do indivíduo. Embora seja esperado que a intensidade do estímulo influencie a adaptação desejada no treinamento da flexibilidade [13], essa importância ainda não está claramente definida, como é o caso de outras capacidades físicas, como a força muscular [19, 20, 21]. Sendo assim, estudos futuros envolvendo o treinamento da capacidade flexibilidade, são necessários para a busca de informações relevantes sobre a influência do componente intensidade, tornando-se indispensável a determinação da confiabilidade das medidas relacionadas as diferentes intensidades de alongamento. O presente estudo tem como objetivo investigar a confiabilidade da mensuração de duas diferentes intensidades de alongamento (máxima e submáxima) no teste de extensão do joelho modificado (TEJ-m). Materiais e Métodos Participaram voluntariamente da pesquisa, 15 estudantes do curso de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais, do sexo masculino, com média de idade de 23,1 anos (± 2,3), massa corporal de 74,7 kg (± 12,0) e estatura de 175,9 cm (± 6,6). Foram incluídos na pesquisa, os indivíduos que não apresentaram patologias em membros inferiores ou coluna lombar e demonstraram encurtamento dos músculos isquiotibiais, definido como ângulo de extensão de joelho menor ou igual a 80° partindo da posição inicial pré-estabelecida (quadril e joelho flexionados a 90°). Os voluntários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. O TEJ-m, proposto por Netto et al. [18], foi utilizado na avaliação da ADM articular. O instrumento responsável pela execução do TEJ-m consta de uma ISBN # Page# XICBB'2005 maca que contém um rolo central para manter a flexão de 90° do quadril no membro inferior avaliado, quatro fixadores para o tronco e uma cinta com velcro para fixar o membro inferior não testado (Fig. 1). Figura 1: Visão frontal do instrumento do TEJ-m Legenda: a. fixadores do quadril; b. rolo central; c. fixadores dos ombros Iniciava-se o teste posicionando o voluntário em decúbito dorsal sobre a maca, e fixando o membro inferior a ser testado a 90° de flexão do quadril. Essa angulação na articulação era padronizada através de um esquadro, alinhando verticalmente o epicôndilo lateral e o trocânter maior do fêmur. O rolo central que impede a flexão do quadril acima de 90° era ajustado de forma que o contato com o membro avaliado sempre ocorresse na parte distal anterior da coxa, acima da patela. Em seguida os fixadores do ombro e do quadril foram ajustados firmemente restringindo o deslocamento horizontal do sujeito na maca. Uma cinta de velcro foi fixada na parte distal da coxa do membro inferior não testado, mantendo-o estendido e assim evitando uma possível compensação que favorecesse o movimento de flexão do joelho e retroversão da pelve. Para estabelecer a angulação de 90º de flexão no joelho, posição onde o flexômetro estaria marcando o ponto 0°, utilizou-se um goniômetro universal. Este instrumento era posicionado de forma que o braço fixo seguia o alinhamento vertical do trocânter maior ao epicôndilo lateral do fêmur e o braço móvel seguia o alinhamento horizontal do maléolo lateral ao epicôndilo lateral do fêmur. Após o posicionamento do voluntário, um flexômetro da marca Leighton (Modelo 01146) colocado na região do tornozelo, distante 5 cm do maléolo, foi utilizado para a mensuração, em graus, da ADM na articulação do joelho. A execução do teste realizada pelo avaliador 1 iniciava-se através de uma extensão passiva do joelho lenta e progressiva partindo da posição inicial. A execução do movimento era finalizada quando pelo menos um dos critérios de interrupção para cada intensidade de alongamento, previamente esclarecidos aos voluntários, fosse alcançado. Ao atingir a posição final para cada ADM, o avaliador 2, posicionado de frente para o flexômetro, realizava a leitura dos graus atingidos. O avaliador 1 não tinha acesso aos valores registrados. A ADM relacionada à intensidade submáxima de alongamento foi definida como o momento em que o voluntário percebesse o início do alongamento dos músculos da parte posterior da coxa, ou seja, a primeira sensação que a musculatura isquiotibial estivesse sendo alongada. A ADM relacionada à intensidademáxima de alongamento foi considerada como a máxima tolerância ao exercício de alongamento, ou seja, a máxima ADM que o avaliado pudesse suportar. Previamente à execução do TEJ-m, realizou-se uma leitura padronizada das definições de cada intensidade de alongamento para cada voluntário. O teste poderia ser interrompido pelo próprio indivíduo, pronunciando- se verbalmente ou caso o avaliador 1 percebesse um grande aumento da resistência ao alongamento pelo membro testado. Durante as sessões de teste cada membro inferior foi avaliado separadamente, sendo executadas três medidas. A primeira delas serviu apenas como familiarização do teste. Não houve intervalo entre uma medida e outra, apenas o tempo necessário para retornar à posição inicial e recomeçar a próxima. Um único intervalo, de aproximadamente 10 segundos, foi realizado entre a mensuração das intensidades submáxima e a máxima. As mensurações iniciavam-se sempre pelo membro inferior direito e pela ADM referente à intensidade submáxima. O posicionamento de todos os fixadores foi anotado para repeti-los com precisão na segunda sessão de teste. As sessões de teste ocorreram em dias diferentes com intervalo de 48 horas. Visando uma maior estabilidade dos dados a avaliação de cada indivíduo ocorreu no mesmo horário e na mesma sala. O procedimento foi igual para as duas sessões e executado pelos mesmos avaliadores. Para a análise da confiabilidade das medidas em cada sessão, ou seja, intrasessão utilizou-se o coeficiente de correlação intraclasse (CCI). A confiabilidade das medidas realizadas em dias diferentes (intersessão) foi verificada através de dois procedimentos: a) CCI e b) comparação das médias obtidas na 1ª e 2ª sessão, utilizando o teste-t de Student para amostras pareadas. O nível de significância estabelecido para este estudo foi de p < 0,05. Resultados A tabela 1 mostra os resultados da análise da confiabilidade intrasessões, utilizando o CCI. Tabela 1: CCI das medidas da intensidade submáxima e máxima para a condição intrasessões na primeira e na segunda sessão do teste Intensidade de alongamento 1ª sessão 2ª sessão Submáxima 0.97* 0.97* Máxima 0.94* 0.94* * p < 0,05 aaa a b c ISBN # Page# XICBB'2005 A análise descritiva dos valores encontrados para as duas intensidades, nas duas sessões de teste, está apresentada na tabela 2. Não foi observada diferença significativa entre os valores médios de ADM articular para a intensidade submáxima (p=0,70) e máxima (p=0,28) na comparação intersessões. O CCI intersessões, para cada intensidade de alongamento, pode ser observado na tabela 3. Tabela 2: Médias e desvios-padrão das intensidades submáxima e máxima para cada sessão de coleta. Intensidade 1ª sessão 2ª sessão Submáxima 37,73o (± 12,16) 38,41o (± 12,42) Máxima 67,55o (± 10,95) 68,97o (± 12,01) Tabela 3: CCI das medidas da intensidade submáxima e máxima para a condição intersessão. Intensidade CCI Submáxima 0.69* Máxima 0.89* * p ≤ 0,05 Discussão Analisando os coeficientes de correlação na condição intrasessão para os valores submáximo e máximo, pode-se verificar que eles apresentam uma alta correlação. De acordo com Fernandes [22] uma correlação excelente é obtida se o coeficiente de correlação estiver entre 0.90 e 1.00, e os valores encontrados no presente estudo situam-se dentro desta faixa, demonstrando um excelente nível de correlação para ambas as intensidades de alongamento mensuradas em um mesmo dia. Analisando o CCI para a condição intersessão (1ª e 2ª sessão), a correlação de r=0.69 apresentada pela intensidade submáxima é classificada como regular e a correlação de r=0.89 da intensidade máxima é classificada como boa [22]. Assim, a intensidade máxima de alongamento realizada no TEJ-m, de acordo com a análise de CCI, pode ser considerada confiável. Por sua vez, a confiabilidade da medida submáxima pode ser considerada apenas moderada. Para verificar a estabilidade das medidas de diferentes intensidades foi realizada uma comparação entre as médias, usando o Teste-t pareado de Student. Na ausência da diferença significativa entre as médias dos valores em cada sessão, as medidas são consideradas semelhantes, mesmo após um intervalo de tempo (48 hs para o estudo). Através dessa análise verificou-se que as médias submáximas e máximas intersessões são consideradas semelhantes, pois não foram encontradas diferenças estatísticas significativas. Sendo assim, em uma análise intersessões, a intensidade máxima pode ser considerada uma medida de alongamento confiável através de dois procedimentos estatísticos distintos. Por outro lado, a intensidade submáxima mostra-se uma medida de alongamento inconsistente, pois o nível de correlação verificado foi regular, embora as médias não tenham sido significativamente diferentes quando comparadas através do teste-t pareado. Algumas considerações podem ser levantadas para explicar o baixo nível de confiabilidade encontrado para a intensidade submáxima quando analisada através do CCI. Embora houvesse uma preocupação em padronizar e esclarecer as definições para as duas intensidades, não pode ser descartada a possibilidade de ter ocorrido uma variação da interpretação e percepção de alguns voluntários nas diferentes sessões. A subjetividade das medidas para cada intensidade poderia dificultar sua utilização [13]. Apesar das sessões terem sido realizadas nos mesmos horários e solicitado aos voluntários manter as mesmas condições que apresentaram na primeira sessão, não foi possível controlar objetivamente as atividades realizadas pelos mesmos previamente às coletas. Caso algum indivíduo não cumprisse essa determinação, poderia ser esperada interferência nos dados obtidos, causada pelas alterações tanto na sensação de alongamento muscular [23] quanto na viscosidade músculo-tendínea [24]. Conclusão O presente estudo demonstrou que a mensuração da intensidade máxima de alongamento utilizando o TEJ-m em sessões diferentes e também em uma mesma sessão, é confiável. A confiabilidade das medidas da intensidade submáxima em uma mesma sessão pode ser considerada excelente, entretanto mostrou-se inconsistente quando avaliada em sessões diferentes. Referências [1]CHAGAS, MH. "Teoria do Treinamento de Flexibilidade: (não só) para o goleiro de handebol", In: GRECO, P. J. (org.) Caderno do Goleiro de Handebol, Belo Horizonte: 10, pp.113-136, 2002. [2]HARDY L, JONES D. “Dynamic Flexibility and Proprioceptive Neuromuscular Facilitation”, Res. Quart. for Exer. and Sport. 57(2): 150-153, 1986. [3]ROSENBAUM D, HENNIG EM. “The influence of stretching and warm-up exercises on Achilles tendon reflex activity”, Journal of Sports Sciences.13:481- 490,1995. [4]HENDRICK A. “Dynamic Flexibility Training”, National Strength and Conditioning Association.22(5):33-38, 2000. ISBN # Page# XICBB'2005 [5] COOK JL, KHAN KM, PURDAM C. “Achilles tendinopathy”, Manual Therapy.7(3):121-130, 2002. 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