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* Hemostasia e Coagulação Prof. Dr. José Edson Paz da Silva Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas Centro de Ciências da Saúde Universidade Federal de Santa Maria * É o conjunto de condições orgânicas que contribui na manutenção sangüínea. O equilíbrio depende de 3 setores: Vascular, Plaquetário e Plasmático * I - VASOS SANGÜÍNEOS E HEMOSTASIA 1. Função: em condições normais permitem que o sangue circule livremente. O endotélio é uma superfície inerte ao sangue, entretanto, em determinadas ocasiões os vasos expõem substâncias que iniciam o processo de coagulação. Na coagulação os vaso têm as seguintes funções: a) Vasoconstrição: diminuindo a luz dos vasos. b) Exposição do colágeno: a exposição do material abaixo do endotélio vascular determina a aderência das plaquetas ao tecido lesado. c) Ativação dos pró-coagulantes: o colágeno exposto também ativa os pró-coagulantes circulantes. d) Remoção dos trombos: produzem fatores fibrinolíticos que fazem a remoção de trombos. * 2. Distúrbios vasculares: Eles podem ser evidenciados por: a) Petéquias: são manchas hemorrágicas na pele e mucosas, variam de 1 a 3 mm e resultam de hemorragias capilares. Aparecem principalmente nas extremidades inferiores e áreas de alta pressão venosa. b) Equimoses: são manchas hemorrágicas maiores, com cor vermelha, púrpura, amarela, verde ou castanha. A cor depende da idade da lesão. c) Púrpura: refere-se a um estado hemorrágico com petéquias e equimoses na pele e/ou mucosas. Petéquias e equimoses ocorrem geralmente devido à distúrbios vasculares e/ou plaquetários. Existem púrpuras causadas só por distúrbios vasculares e púrpuras causadas só por distúrbios plaquetários, porém o mais comum é que seja o resultado da associação dos 2 sistemas. * Petéquias em antebraço esquerdo, semelhantes a picadas de mosquito (T.M. P.P. Castiñeiras, Luciana G. F. Pedro ; Fernando S. V. Martins) Foto: Luciana G. F. Pedro, 2004. * Equimose (causada por lagarta) * * Classificação: existem várias causas de púrpura. As mais comuns são: Púrpura simples; distúrbio moderado (petéquias e equimoses) freqüente no sexo feminino. Púrpura de estase: ocorre nas pernas de indivíduos idosos e é devido ao extravasamento de sangue dos capilares após períodos prolongados em pé. Púrpura senil e púrpura por esteróides: ocorrem devido a anormalidades do tecido conjuntivo vascular. Púrpura alérgica: deve-se à vasculite presente nas arteríolas devido a respostas imunológicas à agentes estranhos. Ocorre mais freqüentemente em crianças após infecções, picadas de insetos e ingestão de drogas. * Púrpura do esforço (gestante) * Púrpuras ... Púrpura infecciosa: em algumas infecções bacterianas, as toxinas causam lesão direta do endotélio vascular. Púrpura trombocitopênica idiopática (PTI): mais recentemente admite-se que a maioria das TPI sejam púrpuras trombocitopênicas imunológicas, pois ocorre o desenvolvimento de auto-anticorpos (anticorpos anti-plaquetas), sem doenças adjacentes. * Púrpura trombocitopênica Idiopática (PTI) * Púrpuras ... Púrpura trombocitopênica trombótica: é uma doença aguda, às vezes fatal e de etiologia desconhecida. Ocorre geralmente homólise, icterícia e insuficiência cardíaca. * Púrpura trombocitopênica trombótica * II - PLAQUETAS E DOENÇAS PLAQUETÁRIAS 1. Generalidades: Não são células porque não possuem núcleo, mas os seus componentes citoplasmáticos permitem um metabolismo ativo. Contém em seus grânulos citoplasmáticos numerosas substâncias, como: catecolaminas, fatores de coagulaçào, cálcio, glicogênio, lipídeos e proteínas. Entre as proteínas predomina a TROMBOASTENINA. O número normal de plaquetas varia de 150.000/mm3 a 450.000/mm3 e a sua sobrevida varia de 7 a 10 dias. Quando o número de plaquetas está aumentado diz-se trombocitemia ou trombocitose e quando está diminuído trombocitopenia. * 2. Funções: a) Adesividade: permite a adesão ao colágeno exposto nos vasos. Nestas situações perdem a forma de disco e formam pseudópodes. Também aderem à outras superfícies estranhas. b) Agregação: permite a aderência entre si mesmas. É uma função importante “in vivo” logo após as lesões vasculares, ajudando a formarem o tampão plaquetário. c) Liberação dos grânulos: a liberação dos grânulos é induzida pelo ADP, serotonina, trombina, colágeno ou outros materiais. Ocorre em fases: Fase I: ocorre em 10 segundos. É o esvaziamento dos corpos densos. Fase II: ocorre de 40 a 60 segundos. É a descarga dos grânulos alfa. Obs.: a aspirina inibe a síntese de tromboxano, que é uma prostaglandina que incrementa a liberação de ADP. Com a diminuição da liberação de ADP ocorre uma inibição da agregação plaquetária. * Liberação de ADP * d) Formação da fibrina: as membranas plaquetárias liberam um fosfolípide chamado Fator Plaquetário (FP-3), que ativa outros pró-coagulantes do sistema plasmático. e) Retração do coágulo: a retração do coágulo se deve a presença da tromboastenina (actomiosina) que é uma proteína contráctil. Ela faz com que o coágulo diminua de volume, expulsando o soro. f) Formação do tampão hemostático: ele ocorre na seguinte seqüência: Lesão vascular exposição do sub-endotélio (colágeno) aderência plaquetária liberação de ADP agregação plaquetária tampão plaquetário (dentro e fora dos vasos) liberação de FP-3 ativação dos pró-coagulantes formação do coágulo liberação da actomiosina contração do tampão. * Lesão Vascular * Avaliação laboratorial Vasos: Prova do Laço Tempo de Sangria Plaquetas: Tempo de Sangria Retração do Coágulo Agregação plaquetária * Fatores da Coagulação I - Fibrinogênio II - Protrombina III - Tromboplastina tecidual (ou fator tecidual) IV - Cálcio V - Proacelerina (ou fator lábil) VI - Não existe (foi chamado ativador da Protrombina) VII - Proconvertina (ou fator estável) VIII - Fator anti-hemofílico A IX - Fator anti-hemofilico B (ou Fator de Christmas) X - Fator Stuart-Prower XI - Antecedente de tromboplastina do plasma XII - Fator Hageman XIII - Fator e estabilização da fibrina * Cinética dos Fatores da Coagulação Com exceção do Fator VIII, o qual é sintetizado pelas células endoteliais, e do Cálcio, todos os outros fatores são sintetizados pelo fígado. Os Fatores II, VII, IX e X requerem Vitamina K para que sejam sintetizados pelo fígado. * Fisiologia da coagulação * Fisiologia da coagulação * Fisiologia da coagulação * Fisiologia da coagulação * Fisiologia da coagulação * Mecanismos de controle da coagulação Para que não ocorra a formação contínua de coágulos e mesmo para limitar o tamanho dos coágulos formados, existem os inibidores dos pró-coagulantes, que são: a) Anti-Trombina III: neutraliza a ação dos fatores IX a, X a, XI a, da Trombina e da Plasmina. b) Anti-Tripsina: inibe o Fator XIa, a Trombina e a Plasmina. c) Inibidor C1: inibe os Fatores XII a, XIa e a calicreína plasmática. * Sistema Fibrinolítico Tal como a formação do coágulo, também a sua destruição é importante no processo de reparação da lesão. * Sistema fibrinolítico A fibrinólise é mediada pelo activador tecidual do plasminogénio o qual se liga à fibrina ativando a plasmina. A plasmina por sua vez degrada a fibrina podendo ser inactivada pela alfa-2-antiplasmina e pela alfa-2-macroglobulina. * Sistema Fibrinolítico É o mais importante mecanismo de controle da coagulação. É o conjunto de reações que determina a atividade da Plasmina. Possui 4 componentes: a) Pró-ativador do plasminogênio: é na realidade um substrato para o Fator XIIa, que o transforma em ativador do plasminogênio. b) Ativadores do Plasminogênio: é um grupo heterogênio de proteínas que reagem com o Plasminogênio para formar a Plasmina. c) Plasminogênio: é uma proteína que se encontra circulando no plasma. Ele é sintetizado no fígado, na medula óssea e nos rins. Sua síntese é bastante rápida, pois pode passar de zero (0,0) a valores normais em 24 horas. Seu nível é baixo nos recém-nascidos e nos cirróticos graves. d) Plasmina: é uma enzima proteolítica que hidrolisa a fibrina em produtos de degradação da fibrina (PDF). Ela também hidrolisa os fatores V e VIII. * Controle do Sistema Fibrinolítico A fibrinólise é primariamente bloqueada pelo inibidor do ativador do plasminogênio produzido pelo endotélio (PAI-1) e na gestante, pela placenta (PAI-2). * Outros Processos de Controle da Coagulação Tal como em outros processo biológicos, o sistema de coagulação é regulado por vários mecanismos inibidores que têm por objetivo limitar a a resposta à alterações da parede vascular na ausência de lesão tecidual, extensão das várias reações bioquímicas e a possível disseminação do processo. * Outros Processos de Controle da Coagulação Nesse processo se destacam: 1) O sistema da proteína C / proteína S e a antitrombina III. A proteína C é activada na superfície endotelial, enquanto a trombina se liga à trombomodulina (receptor específico para a trombina), transformando a enzima prócoagulante (factor II) num potente activador da proteína C. A proteína C activada, na presença de fosfolípidos da membrana, cálcio e de um cofactor não enzimático (proteína S), inativa os factores activados, Va e VIIIa, inibindo a coagulação. * Outros Processos de Controle da Coagulação 2) Outro mecanismo fundamental na regulação da hemostase é a inibição de serino-proteases (fatores activados II, X, IX, XI, XII e calicreína), pela antitrombina III. Obs.: Lembrar que a HEPARINA, quando utilizada em terapêutica, vai interferir com a estrutura bioquímica da antitrombina III, aumentando assim a sua actividade inibitória sobre a hemostase (ação anticoagulante). * Outros Processos de Controle da Coagulação 3) As prostaglandinas também desempenham uma função importante na fisiologia da hemostase. Os fosfolípidos das membranas das plaquetas e das células endoteliais são convertidos em ácido araquidónico pela enzima fosfolipase A2, que é ativada pela trombina e pelo colagénio. O ácido araquidônico é convertido em prostaglandinas intermédias pela ciclo-oxigenase (COX). Nas plaquetas esses endoperóxidos cíclicos são convertidos em tromboxano A2 (TxA2), um vasoconstritor, e dos mais potentes agregantes plaquetários descritos. Nas células endoteliais esses mesmos produtos têm um destino diferente sendo convertidos em prostaciclina (PGI2), um potente antiagregante plaquetário e vasodilatador. * Distúrbios da Coagulação 95 % dos distúrbios da coagulação estão ligados aos fatores VIII, IX e von Willebrand. * Distúrbios da Coagulação Distúrbios hereditários Hemofilia A: ocorre em mais ou menos 1:10.000 habitantes e resulta da síntese anormal do Fator VIII. Esta proteína é formada por 2 sub-unidades: I - Antígeno do fator VIII (Fração pesada) II - Fator pró-coagulante (Fração leve) O antígeno Fator VIII (Fração Pesada) está normal, porém o Fator VIII pró-coagulante está muito baixo ou inexistente. A razão entre os dois Fatores diferencia Hemofilia A da Doença de von Willebrand. Em 8% dos pacientes com Hemofilia A, há o desenvolvimento de anticorpos anti-Fator VIII. Nestes casos o Tempo de Tromboplastina Parcial (TTP) continuará aumentado após a terapêutica. Hemofilia B (Doença de Christmas ou deficiência de Fator IX): é também uma doença hereditária recessiva ligada ao sexo. Ocorre 1:80.000 habitantes e as manifestações clínicas são idênticas as encontradas na Hemofilia A, mas a causa é a alteração na molécula do Fator IX. Doença de von Willebrand * Distúrbios da Coagulação Doença de von Willebrand: é a mais comum das doenças hereditárias da coagulação, é uma associação mista de deficiência de agregação plaquetária com deficiência de um componente do setor plasmático (fator VIII). Na doença de von Willebrand falta o antígeno do fator VIII, também chamado “fator de von Willebrand”. * Distúrbios adquiridos Deficiência de Vitamina K: determina a diminuição dos Fatores K-dependentes. As causas podem ser: a)Fornecimento inadequado de Vitamina K: as fontes são as folhas verdes, a caseína e as bactérias intestinais. Pacientes em antibioticoterapia prolongada podem apresentar diminuição de Vitamina K pela esterilização do trato intestinal. Os recém-nascidos prematuros podem sangrar facilmente devido à imaturidade hepática associada à diminuição de Vitamina K. Daí ser rotina os recém-nascidos receberem 1 mg de Vitamina K. b)Absorção deficiente de Vitamina K: como ela é lipossolúvel, todas as doenças que impedem a absorção de gorduras interferem na absorção da vitamina K, tais como a icterícia obstrutiva (sais biliares não chegam aos intestinos) ou anormalidades das paredes intestinais que produzem osteatorréia. c)Anticoagulantes cumarínicos: são inibidores da Vitamina K. * Distúrbios adquiridos Doenças Hepáticas: como todos os Fatores, exceto o VIII e o íon cálcio, são produzidos pelo fígado, todas as alterações hepáticas interferem na coagulação. A amplitude da coagulopatia depende da extensão das lesões hepáticas. A fibrinólise pode também estar aumentada pela falta da retirada dos Fatores Ativadores do Plasminogênio pelo fígado. O T. P. (Tempo de Protrombina) também pode auxiliar no diagnóstico do paciente ictérico: ao administrar Vitamina K se o T. P. voltar ao normal dentro de 24 horas a icterícia deve ser obstrutiva, porém se não voltar é provável que haja lesão hepática. Coagulação intra-vascular disseminada (CIV): é uma síndrome hemorrágica que ocorre após a ativação não controlada dos pró-coagulantes e das enzimas fibrinolíticas. A fibrina se deposita nos vasos causando necrose tecidual. Os pró-coagulantes e plaquetas são consumidos pela coagulação. A Plasmina aumentada digere fibrinogênio e coágulos, liberando PDF. * Inibição patológica da coagulação Pode ocorrer quando além dos inibidores naturais da coagulação (anti-Trombina III, Inibidor C1 anti-Tripsina e Macroglobulina) aparecem inibidores adquiridos, como: Inibidores do Fator VIII: são anticorpos Ig G desenvolvidos após as transfusões com Fator VIII. Inibidores do Fator IX: o mesmo que ocorre com o Fator VIII. Inibidores do Lupus: 10 a 50% dos pacientes desenvolvem algum tipo desses inibidores. Outros tipos de anticorpos: podem ocorrer com especificidade ao Fibrinogênio, Fatores X, XI, XII e XIII em doenças adjacentes como LES, Colagenoses pouco definidas, processos infecciosos e doenças malignas. * Controle laboratorial da terapêutica com anticoagulante HEPARINA: exerce poderosa ação anticoagulante, pois interfere em vários mecanismos da coagulação sangüínea, como: a) Impede a ação da Trombina sobre o Fibrinogênio. b) Impede a ativação dos Fatores V e VIII. c) Impede a ativação do Fator Plaquetário 3. d) Impede que o Fator XIa ative o Fator IX. e) Inibe a agregação plaquetária. A heparina possui vida média de 90 minutos, com variação entre 30 e 360 minutos, daí a necessidade de um controle rigoroso. Ela é removida da circulação pelo fígado e depurada pelos rins. A terapêutica com heparina deve aumentar o Tempo de Coagulação entre 1,5 a 3 vezes o tempo do controle. A avaliação pelo Tempo de Coagulação é impraticável, pela demora da realização. Na verdade não há um teste perfeito para o controle da heparinoterapia. * Provas laboratoriais Os tempos de Protrombina (TP), e Tromboplastina Parcial (TTP) estão aumentados, podendo o TTP chegar ao infinito. Quando o efeito da heparina se esgota, o TP volta ao normal por primeiro. * Os derivados cumarínicos Atuam nas células hepáticas comprometendo a função da Vitamina K na síntese dos Fatores, II, VII, IX e X. O mecanismo dessa ação, porém, não está claro. Os níveis caem na ordem de suas meia-vidas, cuja ordem é a seguinte: VII IX X II. O controle é tradicionalmente feito através do Tempo de Protrombina (TP) 60 horas após o início do tratamento. * Tempo de Protrombina (TP): Interpretação: Valores de referência: de 70 à 100% de ATIVIDADE. A zona terapêutica preconizada para pacientes sob tratamento anti-vitamina K, o INR está na faixa entre 2,0 e 3,0 Na prevenção de recorrência de embolismo: INR = 3,0 a 4,5 Atualmente, com a maior utilização de aparelhos semi-automáticos, difundiu-se a utilização do INR. Este índice partiu de uma iniciativa da OMS, em 1982, que desenvolveu um sistema para padronização internacional do tempo de protrombina, utilizando uma tromboplastina padrão. É uma relação linear entre o logarítmo da relação do tempo de protrombina (R = TP paciente/TP normal) e a tromboplastina utilizada, obtendo-se um resultado semelhante ao encontrado caso fosse realizado com a tromboplastina referência da OMS. INR = Risi Onde R = TP do paciente/ TP do padrão O índice de sensibilidade internacional (ISI) deve ser fornecido pelo fabricante, pois representa o valor da correlação.
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