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Profª Katiuscia Shirota Imada VIGILÂNCIA SANITÁRIA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO DESPORTO CURSO DE NUTRIÇÃO 1 2 3 4 VIGILÂNCIA SANITÁRIA • Desde o nascimento das cidades, na idade antiga, que temos registros das preocupações com a Vigilância Sanitária; • A humanidade não conhecia ainda os processos de contaminação que espalhavam a peste, a cólera, a varíola, a febre tifóide e outras doenças que marcaram a história; • Mas, mesmo não conhecendo todo o processo de transmissão de doenças, era sabido que a água poderia ser uma via de contaminação e que os alimentos de igual maneira poderiam ser meios de propagação de doenças. Com as populações aglomerando-se em cidades, estes problemas foram crescendo e se tornando mais complexos. 5 VIGILÂNCIA SANITÁRIA • “Um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo: • 1 - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas de processo, da produção ao consumo; • 2 - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde.” – Lei nº 8.080 (Lei Orgânica da Saúde, 19 de setembro de 1990 art. 6º§ 1º). 6 VIGILÂNCIA SANITÁRIA • A Vigilância Sanitária constitui um subsetor específico da Saúde Pública e sua face mais complexa. • Conforma um campo singular de articulações complexas entre o domínio: econômico, o jurídico-político e o médico sanitário. • Como área crítica das relações entre Estado e Sociedade (Lucchesi, 1992), ao lidar com produtos, processos, serviços, trabalho e ambiente e uma grande diversidade de interesses. 7 • As primeiras ações desse campo não foram instituídas com o modo de produção capitalista, tampouco sob o domínio da Medicina; • As sociedades, sob os mais diversos modos de produção da vida social, vêm tentando exercer controle sobre os elementos essenciais à vida em coletividade e que podem gerar ameaças à saúde; • A ancestralidade dessas práticas remontam às preocupações das organizações sociais com o nocivo, noção social e historicamente definida como fundamento para a imposição de medidas de controle; VIGILÂNCIA SANITÁRIA 8 • Desde sua origem tais ações visam o controle sanitário do ambiente, dos alimentos, do exercício da medicina e farmácia e, gradativamente, de numerosos produtos, tecnologias e serviços – objetos de trocas comerciais – intrinsecamente envolvidos no complexo saúde-doença- cuidado-qualidade de vida. VIGILÂNCIA SANITÁRIA 9 HISTÓRICO • Desde a Antiguidade, antes do desenvolvimento do pensamento médico, houve, no geral, um reconhecimento social da importância dessas ações e que o enfrentamento dos problemas; • Poder Público – através do uso de leis que, ao serem estabelecidas como mecanismo disciplinador da vida em sociedade, impondo medidas de controle mesmo não existindo conhecimento elaborado do modo como esses objetos se relacionavam com as doenças. 10 • Os mais antigos códigos – o de Hamurabi, o de Manu e o Antigo Testamento – abrigam normas sobre a saúde e sanções para os casos de falta de cumprimento; • Lei Mosaica do Saneamento (Deuteronômio 23:13): “Entre os teus utensílios terás uma pá; e quando te assentares lá fora, então com ela cavarás e, virando- te, cobrirás o teu excremento;” • Os povos antigos manifestavam preocupações com a prática médica; • Preocupavam-se com o estado de conservação dos medicamentos e alimentos e também com a possibilidade de fraudes e falsificações; • Alguns exemplos são ilustrativos: achados arqueológicos demonstram que 16 séculos a.C. já existia habilidade em compor drogas, identificando-se seu amplo uso e a existência de cuidados não apenas com o emprego, mas também com a conservação e o prazo de validade. HISTÓRICO 11 • Na Índia, 300 anos antes de Cristo, foi editada uma lei proibindo a adulteração de cereais, medicamentos e até perfumes (McKray, 1980); • Em 1202, na Inglaterra, o rei John proclamou a primeira legislação sobre alimentos, proibindo a adulteração do pão com feijões e “outros ingredientes” como grãos de terra - Há relatos da realização de apreensões para a retirada de alimentos estragados do comércio, com base em lei que fixava multas para a exposição à venda de peixes deteriorados; HISTÓRICO 12 • Outras leis da época igualavam as ilicitudes – como a venda de animais doentes – a crimes passíveis de severas sanções; • Em 1248, foi decretada a inspeção sanitária prévia de animais destinados ao abate para o consumo humano (McKray, 1980). HISTÓRICO 13 • Imperador germânico Frederico II (1220-1250) - estabelecidas medidas consideradas importantes para proteger a coletividade de eventuais agravos resultantes da má prática médica, instituindo-se padrões de educação médica e exigência de exames do candidato ao exercício da Medicina pelos mestres de Salerno, na presença de representantes estatais; • Em Salerno, onde foi criada a primeira escola de Medicina do mundo ocidental, teve início a legitimação do médico pelo poder oficial. Um decreto imperial de 1224, proibiu o médico de praticar a medicina sem licença prévia e colocou as farmácias sob controle estatal, assinalando, pela primeira vez na história européia, a imposição de uma regulamentação estrita da prática médica mediante lei. HISTÓRICO 14 • As medidas de controle sanitário impostas em Salerno disseminaram-se para outros países europeus (Sigerist, 1974), considerando-se esse decreto uma das primeiras medidas efetivas de controle dos medicamentos, pois instituiu a obrigatoriedade da inspeção de rotina nos medicamentos preparados pelos boticários (Barros, 1992). HISTÓRICO 15 • Com o crescimento do comércio, práticas de controle sanitário adquiriam importância nas praças e seus mercados com base numa crença difusa de que perigosas formas de doença poderiam surgir e se disseminar rapidamente dos locais onde se vendiam alimentos, notadamente se estivessem estragados; • Há relatos de regras de limpeza e um tipo de policiamento para evitar a venda de gêneros deteriorados, com exposição em separado de alimentos suspeitos de deterioração para a venda apenas a estrangeiros - visava-se proteger o consumidor do próprio lugar. HISTÓRICO 16 • A idéia de contágio se fortaleceu na Idade Média fornecendo as bases para o isolamento de doentes e a quarentena - dando início ao desenvolvimento da Vigilância Epidemiológica e, com isto, o ramo da Vigilância Sanitária de Portos, no futuro também de aeroportos e fronteiras; • Em Veneza, o mais importante porto da Europa para a entrada das mercadorias vindas do Oriente, ocorreram as primeiras medidas para evitar a introdução da peste; HISTÓRICO 17 • A partir de 1348, teve início o desenvolvimento do sistema de quarentena em Veneza e outras cidades, instituindo-se rigorosa inspeção das embarcações e de suas cargas em épocas epidêmicas; • No final da Idade Média, todos os países da Europa dispunham de um Regulamento da Quarentena; • Para alegria dos comerciantes, que os consideram um entrave ao comércio, os Regulamentos da Quarentena eram postos em vigência praticamente apenas nos períodos epidêmicos, sendo relaxados e, até mesmo, suprimidos ao ceder das epidemias. HISTÓRICO 18 • Emmeados do século XIX, quando ocorreu a Primeira Conferência Internacional, o início de uma cooperação internacional no campo da saúde, conceito que deu lugar à legislação sanitária internacional (Fonseca, 1989). HISTÓRICO 19 • Os “hospitais” medievais, embora prestassem cuidados aos doentes pobres, não eram exatamente instituições médicas e sim de assistência espiritual e social; • A partir do século XVI, o hospital adquiriu importância como local de assistência à saúde para indivíduos de outras classes sociais, apareceram os cuidados com visitas e inspeções médicas, visando transformar suas condições sanitárias, que eram deploráveis (Foucault, 1993); • À idéia do hospital como instrumento de cura juntou-se a concepção de que deviam ser locais para o estudo e o ensino da medicina (Rosen, 1994). HISTÓRICO 20 • Na Renascença, múltiplas práticas de cura ressurgiam por toda a Europa, por diversificados praticantes precursores do que seria mais tarde conhecido por ortopedistas, quiropráticos, cirurgiões, boticários, curandeiros etc, como alternativa leiga de cuidados de saúde; • Simultânea à opção da burguesia nascente pela medicina praticada pelos médicos da nobreza, em conformidade com o contexto das alianças políticas com a aristocracia (Machado, 1984; Rosen, 1994), formavam-se as bases de uma concepção de charlatanismo que iria operar a negação de todas as outras formas de intervenção sobre a doença e sobre o saber acumulado de culturas milenares do Oriente; • Deste modo, à medida que se estabeleceu a chamada medicina científica, também se firmou o combate a todas as outras formas de cuidado, como charlatanismo, ainda que o Estado Moderno fosse incapaz de prestar assistência à saúde a toda a população. HISTÓRICO 21 • Com a instauração da nova ordem econômica e social a partir dos meados do século XVI, emergiam novas filosofias, tornando-se hegemônica a filosofia a política absolutista. O período assinalava a constituição do Estado moderno e, com ele, a especificação dos conceitos de Estado, Governo, Nação e Povo (Braga et al., 1986). • O absolutismo constituiu o primeiro sistema estatal internacional moderno, cujas monarquias introduziram o exército permanente, o sistema fiscal nacional, a codificação do direito e os princípios do mercado unificado (Anderson, 1984). HISTÓRICO 22 • Na vigência do mercantilismo, todas as nações européias manifestavam preocupações com o estado de saúde de suas populações, pois a doutrina mercantilista via a população como o recurso mais importante do Estado, porquanto o trabalho passava a ser considerado como elemento principal na geração da riqueza. • Emergiu o conceito de política nacional de saúde, sendo chamado pela primeira vez de política médica de um Estado. Com o aparecimento da noção de polícia surgiu o seu correspondente polícia médica, cuja idéia era a de criação de uma política médica pelos governos a ser efetivada pela regulação administrativa (Foucault, 1993, Rosen, 1994). HISTÓRICO 23 • A concepção mercantilista alemã de saúde pública foi sistematizada e posta em prática com a noção de polícia médica no final do século XVIII e início do seguinte, disseminando-se para além das fronteiras alemãs. • A idéia de Código Sanitário surgiu nessa época (Rosen, 1994). Assim, quando do início da sistematização das questões referentes à higiene individual e coletiva no século XVIII, ações hoje denominadas de Vigilância Sanitária, como parte do conjunto de ações da Saúde Pública, assumiam o caráter de polícia médica ou de polícia sanitária, carregando um “defeito” do seu formulador – Peter Frank – referido (Rosen, 1994) como uma “excessiva confiança na regulação legal”, uma perigosa herança para o novo mundo em expansão, gerido pela lógica do lucro e da produção, sempre ampliada, de objetos de regulação. HISTÓRICO 24 HISTÓRICO • Interessante notar que o cuidado com a vigilância implicou na atividade profissional de especialistas voltados para o estudo da água, dos alimentos que eram consumidos e para a remoção do lixo produzido por cidades cada vez mais populosas, com diferentes condições econômicas. Assim, por volta dos séculos 17 e 18 na Europa e 18 e 19 no Brasil, teve início a Vigilância Sanitária, como uma resposta a este novo problema da convivência social. • Surgiram então as regras e providências sanitárias. Por exemplo, a água para abastecer as cidades passou a ser transportada através de aquedutos, que se constituíam na tecnologia de ponta para a época. 25 AQUEDUTO DA CARIOCA 26 HISTÓRICO • O lixo produzido passou a ter um local próprio para depósito e outras providências básicas vieram compor a agenda pública, garantindo a higiene e evitando a propagação das epidemias. • As preocupações com a saúde das populações, e especialmente com as ações de Vigilância Sanitária, emergiram do poder público desde os tempos mais remotos. • Ao longo dos tempos, o governo também se desenvolvia e se tornava complexo, diversificado em suas atribuições. De quem governa uma aldeia para quem governa um Estado nos dias de hoje vai uma grande diferença. 27 • Algumas populações humanas construíram diferentes civilizações, com padrões: economia, saúde, hábitos, tecnologias e conhecimentos que podem até hoje ser verificados em detalhes. • O crescimento das cidades, como vemos ao longo dos tempos, geralmente se faz desordenadamente; isto é, não é acompanhado de um planejamento e de uma infra-estrutura adequada. • Com este crescimento, crescem também a produção do lixo, a necessidade de água, o consumo de alimentos e medicamentos, a carência de serviços - hospitais, asilos, creche e outros. HISTÓRICO 28 • Nas cidades pequenas os problemas são mais complexos, também há consumo de alimentos, remédios e produção de lixo e esgoto. • Nas cidades agrícolas também é maior o consumo de agrotóxicos, inseticidas e outros produtos perigosos para a saúde. HISTÓRICO 29 • As indústrias produzem detritos, lixo, que são jogados nos rios e podem matar os peixes, destruir os mananciais e a flora. Os trabalhadores têm seus empregos, mas são muitas vezes expostos a condições insalubres. • Logo no início da industrialização do mundo, prevaleceu o descuido com o meio ambiente e com a saúde. Sempre a produção de lucro e riqueza teve prioridade sobre a qualidade de vida dos trabalhadores. É recente a consciência de preservação do meio ambiente e a busca da saúde implica num compromisso cada vez mais urgente com isso. Desta forma, a oferta de empregos gerados pela indústria deve garantir a saúde e a qualidade de vida dos trabalhadores. HISTÓRICO 30 31 REFERÊNCIAS BRASIL, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Cartilha de Vigilância Sanitária. Cidadania e Controle Social. 2. ed. Brasília: 2002. COSTA, Ediná Alves. Vigilância Sanitária. Proteção e Defesa da Saúde. 2. ed. Aumentada. São Paula: 2004. 32
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