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Hits Brasil Fernando carneiro de Campos

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Fernando Carneiro de Campos 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 3 
 
Hits Brasil: 
Sucessos 
“estrangeiros” 
Made In Brazil. 
 
 
 
 
 
 
Fernando Carneiro de Campos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fernando Carneiro de Campos 
 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha Catalográfica. 
_________________________________________ 
Campos, Fernando Carneiro de 
 Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil. 
São Paulo - Agbook/Clube de Autores, 
2012. 
 356 Pgs. 
 
1. Música brasileira. 2. Biografia de músicos. 
I. Título. 
 CDD 780.92 
_________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
Foto da capa: Top Sounds: "Chetto", Pedro Ulhoa e Silvio Camba 
Jr. Gentilmente cedida por Marcos Ficarelli. 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 5 
Índice 
 
01 - Agradecimentos 7 
02 - Apresentação 9 
03 - Movimento Hits Brasil 13 
 
Parte 1: Sucesso nos clubes 
 
04 - As Domingueiras: Ponto de encontro da juventude 21 
05 - Top Sounds: Os Reis da Rua Augusta 29 
06 - Loupha: Uma lenda do rock 35 
07 - Tuca e Norival: Dois pioneiros da pesada 45 
08 - Wattt 69: Um sucesso duradouro 53 
09 - Código 90: Era psicodélica e Kompha: Os Reis dos clubes 61 
10 - Sunday: Os reis das baladas românticas 69 
11 - Memphis: A toca dos feras 83 
12 - Lee Jackson: O sucesso que quebrou fronteiras 97 
13 - The Buttons: O conjunto do Professor Pardal 107 
14 - Blow Up: Sucesso da Baixada Santista 115 
15 - Pholhas: O sucesso da Zona Leste 123 
16 - Plataforma 7 e Pap’s: O sucesso custa caro 131 
 
Álbum de Fotos 139 
Fernando Carneiro de Campos 
 6 
Parte 2: Sucesso na mídia 
 
17 - Toninho Paladino e Cayon Gadia 169 
18 - Cesare Benvenuti: Se non è vero è ben trovato 175 
19 - Steve MacLean: Mais do que um cantor romântico 183 
20 - Terry winter: O desbravador 193 
21 - Dave Maclean: Uma voz suave 201 
22 - Paul Bryan: Lindas descrições do que não pode ver 207 
23 - Ligh Reflections: Uma carreira meteórica 213 
24 - Os Carbonos: Os “Reis do Cover” 221 
25 - Feelings: Sucesso Mundial 227 
26 - Pete Dunaway: Apadrinhando talentos 235 
27 - Malcolm Forest: Last but not least 243 
28 - Patrick Dimon: Um estrangeiro de verdade 251 
29 - Harmony Cats: Gatinhas afinadas conquistam o público 259 
30 - A vida que segue: Fontana Rosa, Victoria Pub 
e outras casas noturnas 269 
31 - Bibliografia 277 
32 - Entrevistas 281 
33- Discografia 283 
34 - Músicas citadas 345 
 
 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Agradeço aos meus pais e a minha família, meus amigos, a 
todos os artistas que gentilmente me concederam as emocionantes 
entrevistas a respeito de suas carreiras, e não posso me esquecer de 
muitas pessoas que sabiam a respeito desse assunto, e me 
repassaram o que sabiam. Como são muitos, prefiro dar um 
agradecimento geral a esquecer de citar algum nome. Finalmente, 
aos fãs da obra. Sem a ajuda de vocês, nada disso teria sido 
possível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fernando Carneiro de Campos 
 8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Contato com o autor: 
astronut@ibest.com.br 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 9 
Apresentação. 
 
 
Muitas pessoas me perguntam onde realmente eu tentei 
chegar. Pois bem, vou ser sincero. Este foi um projeto que veio do 
coração. Deparei-me com o assunto anos atrás em um programa 
"Vídeo Show", a respeito de artistas que cantavam em inglês, com 
pseudônimos estrangeiros. Apaixonei-me pelo tema na mesma 
hora. Alguns anos depois, cursando a Faculdade de História da 
USP, me deparei de novo com o tema, em uma serie de 
reportagens da revista "Veja". Uma velha paixão que voltou. Ao 
folhear essas antigas edições da "Veja", pensei comigo mesmo que 
daria um belo livro. O tema é cativante. 
 
Logo após minha formatura, apresentei o tema para a pós. Por 
recomendação de colegas, escolhi um professor que atua na área 
de musica, em história da cultura. Meu tema não foi aceito. 
 
Para tentar novamente, decidi sondar muito bem o terreno 
onde iria pôr os pés. Fui um bocado inocente da primeira vez. Mas 
levar adiante este projeto não foi fácil. E me foi cobrado tentar de 
novo a pós. Me perguntaram qual tema gostaria de desenvolver, e 
falei da minha velha paixão. Mas desta vez também não deu certo. 
 
Ao comentar com amigos com idade acima dos trinta anos 
sobre meu trabalho, eles ficaram muito emocionados com as 
recordações que essas musicas lhes traziam, e contataram que na 
época, ficavam pasmos ao descobrirem que os cantores das 
músicas internacionais de que tanto gostavam, eram na verdade 
brasileiros. Pelo jeito era difícil de acreditar. 
 
Lembro-me dos bailinhos que meus vizinhos faziam ao som 
dessas canções. Dá saudade duma época em que as pessoas eram 
Fernando Carneiro de Campos 
 10 
mais românticas. Uma época que não pude desfrutar direito, por 
ainda ser criança Quando cresci um pouco para poder curtir esses 
bailinhos, esta época havia acabado. Sinto-me roubado pela vida 
ainda hoje. 
 
Ao fazer este trabalho, pretendo resgatar alguma coisa que é 
cara ao meu coração. São as lembranças felizes de um fim de 
infância, inicio de adolescência, ao som dessas musicas. É curioso 
pensar que, eu detestava as músicas brasileiras que tocavam no 
rádio. Mas, das músicas internacionais que eu tanto gostava, uma 
parte delas era na verdade de músicas ... brasileiras! 
 
Sinto que encontrei um tema forte, bonito, e muito maior do 
que imaginei a principio. Sinto que encontrei uma mina de ouro! 
Por outro lado, aquele desejo de fazer uma pesquisa pelo mais 
puro deleite se toma impossível. Assumi um compromisso muito 
sério com cada um dos artistas que entrevistei. Eu sou o primeiro 
a me interessar editorialmente pelo assunto. A dificuldade ao se 
lidar com um assunto inédito é muito grande. Pouca coisa se 
encontra em livros. É um trabalho comparável ao dos velhos 
mineiros do Colorado, que na virada do Século XX escavaram 
montanhas de rocha duríssima com o uso de simples picaretas. 
 
Entrevistei os principais artistas desse movimento, além de 
produtores e outros envolvidos. Dividi o livro em duas partes. A 
primeira delas, entre 1962 e 1976, conta a história das 
domingueiras, onde esses jovens artistas apresentavam shows de 
covers que nada deviam aos grupos musicais ingleses e 
americanos. A segunda parte começa por volta de 1970, quando as 
canções em inglês compostas por esses artistas começam a fazer 
sucesso no rádio e televisão, até aproximadamente 1981 quando as 
últimas gravações desse movimento foram veiculadas, dando lugar 
ao recém-nascido Rock Brasileiro. 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 11 
 
Trabalhei com afinco ao longo de mais de três anos e meio. 
Foi gostoso pesquisar sobre esse assunto. Toda a história foi 
montada a partir de depoimentos dos participantes. É evidente que 
memórias afetivas nem sempre são exatamente como o fato 
realmente aconteceu. Das diversas versões que me contavam sobre 
os casos ocorridos, peguei o que pareceu mais plausível. Se alguma 
coisa escapou, è per Che se non è vero è Ben trovato. Esforcei-me para 
contar a história usando uma linguagem leve e acessível, como se 
fosse para uma revista de variedades. Infelizmente, tive que cortar 
muita informação interessante porque o textoficaria truncado. 
Usei as palavras mais simples, ao alcance de todos. Afinal, para que 
usar palavras difíceis? Para provar o que? Ao leitor, espero que 
goste do resultado: Uma singela homenagem a todos os artistas 
que participaram desse movimento. 
 
Depois de encerrar os trabalhos desse volume, descobri outros 
grupos e cantores que pretendo incluir em outro volume. Parece 
que tudo isso é só o começo. 
 
Finalmente, agradeço a todos os artistas desse movimento 
pelos bons momentos que suas músicas me proporcionaram. 
 
 
 
 
Fernando Carneiro de Campos 
São Paulo, Junho de 2012. 
Fernando Carneiro de Campos 
 12 
 
 
 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 13 
Movimento Hits Brasil. 
 Podemos definir como movimento algo que tenha princípios e 
objetivos em comum. Assim, um movimento começa espontânea 
e discretamente, se desenvolve sem que ninguém se dê conta, e de 
repente a coisa vira uma bola de neve, e já faz parte duma história. 
 
 No início dos anos 60, São Paulo é uma cidade bem diferente, 
com uma qualidade de vida melhor por ser muito menor, não tão 
cheia de gente e menos violenta. São Paulo é uma cidade muito 
musical, tomada por uma febre de conjuntos de garagem que 
adoram tocar música anglo-americana. Vale o aviso de que 
conjunto é a palavra usada na época, e banda é aquilo que toca no 
coreto da praça ou na fanfarra do colégio. Pouco antes da onda 
dos Beatles houve uma onda de conjuntos de rock instrumental. 
Um número enorme de conjuntos, formados básicamente de 
guitarra solo, guitarra base, baixo e bateria, imitando seus ídolos 
The Ventures (US) e The Shadows (UK), os dois com fãs fervorosos. 
Ambos trazem uma tecnologia avançada, cativando as crianças e 
os jovens: as guitarras elétricas sólidas, com alavanca, reverberação 
e câmara de eco. Quem toca algo que soe parecido faz a festa. No 
começo dessa onda, os brasileiros com nomes em inglês Jet Blacks, 
Bells, Fenders e Jordans fazem sucesso misturando-se com os ídolos 
internacionais. 
A onda se reforça quando vem a British invasion. A febre é todo 
mundo cantar, tocar, fazer "corinho" e ter o seu próprio conjunto 
de garagem. Num um raio de 10 a 15 quarteirões temos uns 15 ou 
20 conjuntos tocando Beatles. Todo mundo participa de alguma 
forma, cantando, tocando ou apoiando o seu conjunto preferido. 
Fernando Carneiro de Campos 
 14 
Acontecem grandes concursos de conjuntos no Salão da Criança, e 
a turma mal pode esperar por eles. As primeiras edições do Salão 
da Criança foram no Parque Ibirapuera. Onde é a Praça da Paz, 
havia um grande pavilhão em formato de hangar – posteriormente 
demolido - onde se reuniam centenas de conjuntos por todo o mês 
de Outubro. Na década de 70 o Salão da Criança é transferido para 
o Parque Anhembi. 
No período de maior repressão política, a música brasileira 
sofre um êxodo de artistas perseguidos pelo regime militar. Isso 
cria um vácuo no mercado musical, que é preenchido quando as 
gravadoras descobrem um filão comercial muito interessante. 
Jovens artistas vem compondo rock em inglês, e estão interessados 
em gravar suas músicas. Alguns empresários da indústria 
fonográfica sonham em ocupar espaços no exterior com essas 
músicas, e dentre os poucos que de fato conseguem se lançar no 
mercado internacional.estão Terry Winter, Dave Maclean, Morris 
Albert, Malcolm Forest e Patrick Dimon. 
Esses empresários só não são os pioneiros porque isso já 
acontecia desde o final dos anos 50. O conjunto The Playings 
formado pelas garotas Eloá, Lurdinha e Nadir, que fazem coro 
para várias gravações é um dos pioneiros, gravando um LP que faz 
enorme sucesso, com Love Me Forever, Banana Split e Lollipop (RGE-
1957), mas ninguém se atreve a revelar que é um grupo brasileiro 
idealizado pelo produtor musical José Scatena. Outra de suas idéias 
de sucesso, Prini Lores, é lançado como imitação de Trini Lopez, 
cantando La Bamba, America e lf I Had A Hammer. Prini Lorez é na 
verdade José Gagliardi Jr., que havia sido conhecido antes como 
Galli Jr. Outras figuras inusitadas que gravam em inglês são Sérgio 
Reis gravando como Johnny Johnson, e os humoristas Paulo 
Silvino como Dixon Savanah e Moacyr Franco como Billy 
Fontana e os Rockmakers. 
Seguindo a onda, o Sr. Emílio Vitale, dono da Copacabana, cria 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 15 
o selo Cash Box para lançar os grupos Hits Brasil, disfarçando sua 
verdadeira nacionalidade, e o Sr. Enrique Lebendiger, dono da 
RGE Fermata, cria o selo Young com o mesmo objetivo. 
O movimento Hits Brasil nasce na capital paulista. São Paulo é a 
sede econômica do país, que atrai pessoas de todas as partes, 
sempre com uma visão cosmopolita do mundo, e é fácil encontrar 
músicos interessados em gravar músicas em inglês. Por outro lado 
São Paulo nunca perdeu a raiz da cultura paulista, na qual temos, a 
partir do final do século XIX um canto nostálgico, arrastado e 
melancólico, influenciado pelos imigrantes italianos. 
Os Hits Brasil misturam a influência lírica italiana com a balada 
americana. Fica uma música diferente, carimbada como Made In 
USA, porém mais romântica, com características brasileiras, como 
a emotividade e um romantismo que não chega a ser piegas, e que 
agradam por serem mais românticas e mais melosas. Um 
romântico mais leve, ligado à palavra saudade, muito própria do 
Brasil. Quando isso parece vir de fora, embrulhada numa 
embalagem de produto internacional e o carimbo de qualidade 
Made in USA, que vem enaltecendo esse valor cultural próprio da 
alma brasileira, isso cala fundo na alma. Enquanto tudo isso parece 
vir de fora, com os ingredientes apreciados pelo brasileiro, tais 
como nostalgia, emoção, amor e beleza melódica, o cantábile das 
árias italianas, infiltrado na música e na mentalidade brasileira, 
somado a um nome estrangeiro, une o útil ao agradável. O povo 
pensa que são mesmo músicas estrangeiras. Na hora em que entra 
o Made in Brazil, e se descobre que trata-se na verdade de música 
brasileira, quebra-se a magia, sente-se a dor de uma perda e tudo 
isso se desvaloriza. Desde o início os cantores que cantam em 
inglês são obrigados a fazer isso em surdina para que o público 
não saiba que são brasileiros, pois o preconceito em relação a eles 
é enorme. Cada vez que se descobre que um desses cantores é 
brasileiro começa imediatamente a desvalorizá-lo, passando a notar 
Fernando Carneiro de Campos 
 16 
umas coisinhas estranhas numa gravação que antes parecia 
perfeita. 
O Estúdio Reunidos é o local onde gravaram a maior parte dos 
Hits Brasil. Trata-se de um estúdio de ponta, o melhor e o mais 
importante estúdio do Brasil, onde todos os grandes músicos 
fizeram gravações que se tornaram clássicos. Esse é o estúdio que 
mais gerou grandes sucessos. Situado no edifício da Fundação 
Cásper Libero, na Avenida Paulista 900, 4° andar. Como o prédio 
da fundação Cásper Líbero é o famoso edifício Gazeta, o Estúdio 
Reunidos também é conhecido como Estúdio Gazeta. Ali temos três 
salas de gravação, duas grandes, e outra um pouco menor. Um dos 
estúdios é de 16 canais, um de 8 canais, e o outro de 4 canais. Há 
quem diga que os melhores estúdios do Brasil são tão bons quanto 
os estúdios do exterior. No caso do Reunidos, isso pode ser 
verdade. Temos lá um gravador Studer, dotado de um mecanismo 
fabuloso, de qualidade impar, raridade mesmo na Europa e nos 
Estados Unidos. A mesa de mixagem tem todos os canais com 
circuitos de válvula completíssimos. Cada canal é um máster-pre 
da Fischer, com todas conexões elétricas. Então não tinha by-pass 
eletrônico. Assim, depende muito do músico, das condições do 
estúdio, e do capricho pela obra. 
Marcos “Vermelho” Ficarelli diz ter mostrado no exterior 
algumas gravações que havia produzido. O pessoal da Vogue,a 
melhor gravadora da França, se impressiona com a qualidade da 
gravação feita no Brasil. Em visita aos melhores estúdios de Nova 
York, ele constata que seus equipamentos não são melhores que os 
nossos. A única coisa é que eles capricham ao máximo. Como o 
americano dispõe de grandes orçamentos, investe mais em mão de 
obra. 
Prova, Vice & Versa, Sonima eram outros estúdios que fazem 
gravações em inglês. José Scatena fez o estúdio Prova após vender 
seu grande estúdio situado na Rua Dona Veridiana, pertinho da 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 17 
Santa Casa, vendido alternadamente à Philips e a RCA. Renaldo 
Maziero, Milton Rodrigues, Ariovaldo “Índio” dos Santos, José 
Martins, Eli Bontempo e Luiz Roberto eram os técnicos mais 
solicitados. Todos passaram pelo Reunidos. 
Os Hits Brasil são criados por gente que conhece bem o 
mercado de música jovem, e trabalha bem essa idéia, inclusive 
lançando as músicas em trilhas de novelas. A novela existe em 
todo o mundo, mas igual à brasileira não existe em nenhum outro 
lugar. As novelas mexicanas têm só uma música de abertura e 
encerramento. Já a novela brasileira tem uma trilha sonora digna 
de um filme de Hollywood, com duas dúzias de temas colocados 
de forma fluente. Essa rica trilha sonora melhora a qualidade da 
novela, e ajuda a promoção dessas músicas, num casamento 
perfeito. 
Temos no mundo inteiro exemplos de conjuntos e cantores que 
gravaram em inglês, sem sofrerem preconceitos em seus paises de 
origem. O belga Wallace Collection fez sucesso num inglês capenga 
com Daydream. O holandês Shocking Blue com Venus. A Suécia 
reverencia o Abba. Da Espanha temos Los Bravos, com Black Is 
Black, e Tony Ronald com Help, Get Me Some Help. Finalmente, 
temos a sul-africana Mirian Makeba, que canta Pata Pata, parte em 
inglês, parte numa língua africana. 
Os garotos que amavam os Beatles e os Rolling Stones canalizaram 
a influencia da música americana para seu trabalho. Influenciados 
por artistas ingleses de rock romântico e pelos Bee Gees, esses 
artistas gravam em inglês por puro prazer, e sem querer a coisa vai 
surgindo. Quem procurar uma motivação não musical vai perder 
seu tempo. 
Algumas pessoas reclamam indignadas por esses artistas 
cantarem em inglês. Mas não se trata de nenhuma mentira, pois 
são músicas compostas pelos próprios integrantes dos conjuntos 
Fernando Carneiro de Campos 
 18 
que dominam o idioma, e é algo que eles realmente sentem e 
gostam de fazer. 
O interessante é que quando o movimento toma corpo, surgem 
muitos cantores que não falam inglês. Esse pessoal pega a letra e 
leva para o estúdio alguém que fale inglês, e vão ensaiando palavra 
por palavra. 
Quando isso vira moda, todas as gravadoras vão lançando o 
mesmo tipo de coisa, e de repente toda gravadora tem dois ou três 
desses cantores. Assim, o movimento Hits Brasil vai declinado, e 
termina de vez ao surgimento da onda Discotheque. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 19 
 
 
 
 
 
 
Parte 1: 
Sucesso nos clubes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fernando Carneiro de Campos 
 20 
 
 
 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 21 
As domingueiras: 
Ponto de encontro da juventude. 
Nessa época não há grandes opções de lazer para os jovens, e 
em geral é raro sair nos sábados à noite. Só se sai mesmo quando 
tem bailinho na casa de um amigo. Nessas festinhas sempre tem 
alguém bancando o Disc Jockey, que vai tocando uma pilha de 
compactos simples, e a turma dança iluminada por luz 
estroboscópica e luz negra. Essa é uma época ingênua, e o lado 
bom disso é que não rolam drogas. Acredite se quiser, mas o pior 
que pode acontecer é alguém tomar um porre de Cuba-libre e sair 
carregado pelos amigos depois de ter esvaziado as entranhas no 
vaso sanitário. A encrenca com os pais ao chegar em casa é 
terrível. Ai se for uma menina que tome um porre. Dentre as 
poucas opções de lazer para os jovens temos o Rick’s Store, do 
empresário Ricardo Amaral, defronte ao Shopping Center 
Iguatemi, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, com uma lanchonete 
da frente, e um centro de compras nos fundos. Nessa mesma 
avenida, defronte ao Esporte Clube Pinheiros temos a lanchonete Hot 
Place. Na esquina da Avenida 9 de Julho com a Rua São Gabriel 
temos a lanchonete Tuttys. Também existe a rede Chico Hambúrguer. 
A loja situada na esquina da Rua Bernardino de Campos com a 
Avenida Paulista é o ponto de encontro dos músicos que tocam 
no Círculo Militar. Temos também a loja da Avenida Dr. Arnaldo, 
e lojas nas regiões do Aeroporto e do Ibirapuera. 
O crescimento dos clubes produz a domingueira. Domingo é o 
dia em que a turma toda se encontra, e mesmo quem viaja quer 
voltar mais cedo para não perder o grande acontecimento da 
Fernando Carneiro de Campos 
 22 
semana, e passar uma semana sem ter sabido das novidades 
musicais e das fofocas entre a turma. As domingueiras 
desempenham um papel relevante na vida dos jovens entre o fim 
dos anos 60 e o começo dos anos 70. São um ambiente gostoso, 
saudável e sem maldade, e não se quer nada mais do que ouvir 
música, dançar e paquerar. Brigas são muito raras. 
Nessa época de ingenuidade, os valores são bem diferentes, e a 
juventude tem uma face diferente. O sexo é algo longe da 
realidade, e quando muito, alguém consegue dar um beijo na 
menina, saindo da festa como um herói, pela façanha de dar um 
malho na mina. Malho é mais ou menos o que depois é chamado de 
ficar. As garotas têm uma expressão suave e um olhar sonhador. 
Apesar de muito sensuais, por conta dos vestidos curtinhos com 
cinturas bem marcadas ou minissaias, acompanhadas de botas de 
cano alto, a maioria absoluta das garotas é virgem, porque casar 
virgem é um valor muito forte nas famílias. As garotas adoram dar 
um malho, mas não passa disto. O lado divertido é que todas se 
mostram verdadeiras anjinhas, todas certinhas perto dos familiares, 
mas na saída do baile vão com seus namorados para lugares 
afastados para malhar no escurinho. Sabe com é, o fruto proibido 
é sempre mais gostoso. 
A onda começa em agosto de 1965, quando instalam um 
aparelho de televisão no mezanino do salão principal do Esporte 
Clube Pinheiros para a garotada assistir o programa Jovem Guarda nas 
tardes de domingo. O primeiro conjunto que surge sob influência 
da Jovem Guarda é o Rubber Souls, com Renato Motta na guitarra 
solo, Ricardo Contins na guitarra base e vocal, Carlos Guida no 
baixo, Jorge Roberto Pagura na bateria e vocal e Arquimedes no 
pandeiro e vocal. Logo depois vão surgindo outros conjuntos para 
dividir o espaço. O Loupha deixa todo mundo de queixo caído com 
o seu estilo peculiar e o Colt 45 também faz sucesso. Essas festas 
são chamadas de mingaus dançantes, mas se tornam muito mais 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 23 
do que isso. Não podemos nos esquecer dos Mustangs, que tocam 
nas domingueiras do Clube Paulistano. 
Grande sucesso no Esporte Clube Pinheiros, a moda se espalha 
por toda a grande São Paulo, e qualquer clube passa a promover 
suas domingueiras. Na zona leste, temos domingueiras nos clubes 
Juventus, Corinthians e Vila Formosa. Na região dos Jardins, no 
Esporte Clube Pinheiros, Paulistano e Hebraica. Também é citado o 
Clube Athlético Ypiranga, Paulistano, Harmonia, Vila Mariana, Ypê, 
Banespa, Transatlântico, Sociedade Esportiva Palmeiras, Espéria, Sírio-
Libanês, Alto de Pinheiros, e Clube de Regatas Tietê. Nos clubes do 
litoral, como o Caiçara, Clube XV e Jardim do Atlântico, as 
domingueiras são frequentadas principalmente por paulistanos 
passando o feriado na praia. 
Os conjuntos das domingueiras tornam-se os ídolos da 
juventude. A maioria dosartistas de sucesso dos Hits Brasil começa 
a carreira por conta dos disc-jóqueis das rádios que assistem os 
shows para conhecerem as novidades, e às vezes lançam essas 
músicas nas versões cover gravadas por algum dos conjuntos. Para 
formar seu repertório, os conjuntos garimpam músicas que 
normalmente demorariam a chegar ao país. Por exemplo, não se 
encontram discos do Deep Purple ou do Led Zeppelin em qualquer 
loja. Para comprar uma raridade dessas, só se mandar importar. 
Todo bom conjunto tem amizade com pilotos ou comissários de 
bordo, que trazem os discos do exterior. O integrante do conjunto 
que tem dinheiro compra os discos para que a turma tire as 
músicas no ensaio. Por conta do sucesso dessas músicas nas rádios 
as gravadoras começam a atualizar os lançamentos. 
A onda Beat está no auge, e por conta da grande influência do 
rock britânico só se canta em inglês nas domingueiras. Cantar em 
inglês é o charme, e um conjunto que se atrevesse a cantar em 
português levaria uma vaia, pois isso seria cafona. Nesse universo 
musical, os conjuntos de destaque são os que tocam de modo fiel 
Fernando Carneiro de Campos 
 24 
ao original, e cada um tem seu próprio estilo. Alguns conjuntos 
fazem sucesso com as músicas da parada, e as copiam o mais 
rápido que podem, enquanto outros conjuntos evitam tocar 
músicas muito em evidência, preferindo músicas exclusivas de seu 
repertório. 
Existe certa rivalidade, cada um tentando superar o outro, 
competindo entre si para ver quem tira as músicas mais legais. 
Todo mundo sabe qual grupo é especialista no repertório de tal 
conjunto estrangeiro. Nenhum grupo invade a área do outro, e se 
dois ou três conjuntos tocam no mesmo baile, e mais de um toca a 
mesma música, eles combinam quem vai toca-la. Os conjuntos 
mais destacados no auge das domingueiras são Sunday, Watt 69, 
Kompha, Memphis e Lee Jackson, mas existem muitos conjuntos 
também famosos, fazendo sucesso em clubes dos bairros. Os 
Pholhas e o Phobus são destaque na zona leste. Os Buttons e o Zappa 
são o destaque no ABC. O Blow Up é o sucesso da baixada santista. 
Os frequentadores também citam os conjuntos: Super Som T.A, 
Porão 99, Pap’s, Plataforma 7, Painel de Controle, Tarântula, Edinho Show 
e Appa Show, um conjunto formado por Nisseis. 
Com o fim dos mingaus dançantes do Esporte Clube Pinheiros, no 
segundo semestre de 1971, as domingueiras do Círculo Militar 
tornam-se o sonho dos conjuntos de garagem. O conjunto que 
consegue tocar no Círculo Militar está feito na vida. Equivale a um 
grupo americano fazer um show no Madison Square Garden. 
Freqüentadas por uma moçada bonita e de excelente nível, entre 
16 aos 24 anos de idade, somente sócios do clube ou seus 
convidados. 
As primeiras domingueiras do Círculo Militar são numa salinha 
do fundo do clube no final de 1967, tocando músicas dos Beatles, 
Rolling Stones e Animals na vitrola. Esses bailinhos fazem sucesso, e 
os filhos dos sócios começam a convidar seus amigos. O negócio 
cresce, o baile vai para uma pequena parte do salão principal 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 25 
limitada por tapumes, e no lugar da vitrola temos um conjunto que 
toca das 15 às 18 horas. O primeiro conjunto que se apresenta é o 
Amebha, formado por Cláudio “Italiano” Condé nos vocais, Luiz 
Carlos Maluly na guitarra, Eduardo “Dudu” Nogueira de Abreu na 
guitarra base, Milton Brando Filho no baixo e Eduardo Antonio 
“Dadão” Licco na bateria. Outros conjuntos de sucesso são o 
Código 90 e Os Maníacos. Mais tarde, temos o Watt 69, o Plataforma 7 
e o Som Beat. Com o passar do tempo o tapume vai recuando até 
sumir. Em seu auge, mais de três mil jovens se reúnem a cada 
domingo no salão de festas, tonando-se a maior e mais famosa 
domingueira de São Paulo, que passa para o horário das sete até às 
onze da noite, ideal para a garotada conseguir acordar no dia 
seguinte para ir para a escola. 
Todo domingo temos dois conjuntos. Um deles no palco, e o 
outro numa plataforma do lado oposto do salão, apelidada de 
Palquinho. Cada conjunto monta sua aparelhagem em seu palco. O 
show começa com as portas ainda fechadas, e o pessoal do clube 
abre as portas ao som das primeiras notas da primeira música. É 
uma loucura com todas as meninas correndo para largar as bolsas 
em cima das mesas para dançar antes que a primeira música se 
acabe. É praxe os conjuntos tocarem uma seleção de meia dúzia de 
lentas, dar um intervalo, depois tocar seleções de rápidas para a 
turma se esbaldar e depois descansar. 
Nesses palcos vemos os melhores equipamentos usados no 
exterior ao longo dos anos 70. Os instrumentos importados são o 
que difere os conjuntos que tocam no circuito de clubes dos que 
morrem nas garagens. Só se frequenta esse circuito com 
equipamento de boa qualidade, e um instrumento importado é o 
passaporte para tentar entrar no mundo das domingueiras. Boa 
parte dos integrantes dos conjuntos pertence a famílias bem de 
vida. Sempre tem alguém um pouco mais abonado em cada grupo, 
mas nem todos são ricos como muitos pensam. São jovens de alta 
Fernando Carneiro de Campos 
 26 
classe média, de alto poder aquisitivo, mas longe de serem 
milionários. Para quem não é tão abonado, o jeito é recorrer aos 
similares nacionais, mas a nossa indústria de instrumentos musicais 
é incipiente e a diferença de qualidade entre instrumentos 
nacionais e importados é enorme. Esses primeiros instrumentos 
nacionais são bem mais baratos, com uma guitarra da Giannini, 
Phelpa, Alex ou Snake custando um oitavo do preço de uma Fender 
ou Gibson. Em matéria de equipamentos de som, temos Giannini, 
CS Sound, Phelpa e Palmer, e as baterias das marcas Pinguim e Gope. 
O grande sucesso das domingueiras faz o Círculo Militar lançar 
um programa para um público um pouco mais velho: a boate 
Bubuca, começando às 11 horas da noite de sábado e indo até às 3 
horas da madrugada do domingo. A Bubuca é bem menos lotada 
do que a domingueira, umas mil pessoas em média, contra a média 
de três mil pessoas das domingueiras. É proibido para menores de 
18 anos. O cenário é bem interessante: em frente ao palco temos 
gaiolas ocupadas por dançarinas de palco tipo “Chacretes”, e no 
telão atrás passa o filme do show do domingo anterior. Na Bubuca 
também são dois conjuntos tocando no sábado, e lá se testam os 
novos conjuntos. Se aprovados pelo público, passam a tocar na 
domingueira. 
O Sr. Alfredo Santos, diretor social do Círculo Militar é o ídolo 
dos jovens artistas. Encarregado de contratar os conjuntos, define 
quem toca ou não por lá. Por trás de sua formalidade militar existe 
um ser humano fantástico. Um amigo adorado por todos os 
rapazes, que sempre resolve todos os problemas que surgem para 
eles. “Seu” Alfredo tem as suas excentricidades. Ele não deixa que 
eles levem suas namoradas, pois acha que os artistas não poderiam 
namorar e os obriga a deixarem suas namoradas em casa. Às vezes 
alguns deles desobedecem à ordem e levam a namorada escondida. 
O “Seu” Alfredo adora aparecer um pouco, e no final dos shows 
ele sobe ao palco, apita, pega um pandeiro ou um chocalho de 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 27 
alguém, e todo empolgado toca a última música junto com o 
conjunto. Ao final da música ele anuncia que a noite está 
terminando, dá boa noite e agradece a todos. 
Situado perto do Parque Ibirapuera, o Círculo Militar fica em 
frente ao quartel do exército. Certa ocasião um motorista passa 
com uma Kombi cheia de crianças, e em meio à confusão não vê 
quando o soldado manda que ele pare. Como a perua segue em 
frente ignorando seu comando, sem hesitar o soldado dispara um 
tiro certeiro que mata o motorista instantaneamente. Talvez isso 
tenha ocorrido por conta do atentado a bomba que matou o 
Sargento Mário Kozel Filho, e eles estivessem em alertamaximo. 
O Brasil vive um período de repressão e a geração que vive os 
anos duros do regime militar é politicamente alienada, com poucos 
jovens politizados. Os jovens são proibidos por seus pais de se 
envolver com assuntos de conteúdo político, por ser muito 
perigoso e pode dar encrenca. Existem os politicamente engajados 
nas guerrilhas de esquerda, lutando na selva, ou metidos com 
movimentos urbanos, bem longe das domingueiras. Por outro lado 
existe tranquilidade para sair às ruas. Para quem começa a paquerar 
e a se apaixonar, ouvindo músicas que falam de romance e de 
amor, o mundo parece tranquilo e cheio de paz e amor. Poucos 
sabem que isso é obtido a custo de uma forte repressão. Só quem 
passa no vestibular e entra na faculdade descobre que não vive 
num regime democrático, e que é perigoso dar gritos de rebeldia. 
Mas chega o dia em que o Círculo Militar perde seu apelo, e a 
ultima domingueira acontece em setembro de 1974. Por volta de 
1976 as domingueiras dos outros clubes também vão se acabando, 
e os últimos conjuntos vão se dissolvendo. O golpe final vem com 
a onda Discotheque, que acaba com a música ao vivo em São Paulo 
por alguns anos. 
Fernando Carneiro de Campos 
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Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
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Top Sounds: 
Os Reis da Rua Augusta. 
Marcos “Vermelho” Ficarelli é um personagem importante na 
história dos Hits Brasil. Líder de alguns conjuntos importantes, 
cantor, compositor, e precursor de muitas coisas do rock 
paulistano, é um roqueiro que nunca se voltou para o lado 
comercial. Por ser uma fonte de inspiração entre os participarantes 
do movimento, é incluído nesse trabalho por sugestão de alguns de 
seus principais integrantes. A origem do seu apelido é por ele ser 
ruivo, não refletindo a sua posição política. 
No início ele é chamado de “Chetto”, e é um garoto com dons 
musicais que aprende a tocar violão no início da época da bossa-
nova, e tem a sorte de conhecer seus grandes artistas. Aos doze 
anos de idade já sabe lidar com dissonâncias. Inventa de montar 
um conjunto, compra uma guitarra semi-acústica Giannini Les Paul, 
seu primo Antônio “Pandinha” Gianfratti compra uma bateria 
Caramuru, e eles convidam mais dois colegas do colégio Dante 
Alighieri para montar o conjunto os Delayers. 
Dois conjuntos de rock instrumental fazem sucesso: The Fenders 
e The Jet Blacks. Os integrantes do conjunto The Fenders fabricam 
suas próprias guitarras a partir de desenhos e fotografias da Fender, 
e tocam todo o repertório do conjunto The Ventures. Orlando 
“Landinho” Landi, o baixista dos Fenders dá umas aulas de música 
para os garotos, e logo o conjunto está tocando. A guitarra é algo 
tão inovador que atrai muita gente que quer ver como é uma delas 
e ouvir como é o seu som. Os garotos tocam músicas dos Ventures, 
e o sucesso vem com poucas apresentações. Aos treze anos de 
Fernando Carneiro de Campos 
 30 
idade, “Chetto” e “Pandinha” já tocam nos hotéis de Poços de 
Caldas, Serra Negra e Campos do Jordão, mas o pai dos colegas 
não permite que eles os acompanhem. Quando surgem os Shadows, 
“Chetto” se apaixona pelo conjunto, tocando suas músicas feito 
um alucinado com sua guitarra que ele mesmo construiu. 
Em 1962 surgem conjuntos formados por garotos ricos, que 
podem se dar ao luxo de comprar guitarras, amplificadores e 
aparelhagens importadas. Um deles é o Silver Strings, que chama 
“Pandinha” para tocar com eles, e “Chetto” dá uma breve parada. 
No ano seguinte, o Silver Strings participa do show de Miguel 
Vaccaro Neto no Teatro Record, situado na Rua da Consolação, 
pouco acima do cemitério. Os Silver Strings são excelentes, e 
vencem o concurso com certa facilidade. 
Nasce um conjunto quase todo formado por alunos do colégio 
Dante Alighieri, todos eles ótimos músicos. O Top Sounds é o 
primeiro grande conjunto jovem de São Paulo, e torna-se um 
símbolo da juventude da Rua Augusta do começo dos anos 60. 
Nessa época “Chetto” faz um trio de Jazz com Carlo Lovatelli e 
“Pandinha”. Em uma festa eles tocam junto com o Les Copains. 
Logo depois dessa festa, o guitarrista Fred Mazuchelli sai do 
conjunto e Silvio Camba convida “Chetto” para entrar em seu 
lugar. Um pequeno parêntesis: mais tarde, Fred Mazuchelli foi 
várias vezes Secretário da Fazenda do Estado de São Paulo. 
“Chetto” batiza o novo grupo de Top Sounds, que em sua primeira 
fase toca rock instrumental, com “Chetto” e Silvio Camba 
revezando-se na guitarra solo, Pedro Paulo Ulhôa no baixo, e 
Antônio “Totó” Labatte na bateria. 
“Chetto” tem quinze anos de idade ao gravar pela primeira vez. 
Na Galeria Califórnia, situada na Rua Barão de Itapetininga N° 
255, no centro de São Paulo, fica o velho estúdio Magisom, com 
apenas uma mesa de gravação em mono, onde o Top Sounds grava 
o primeiro LP de rock instrumental feito por adolescentes, Twist 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 31 
Hully Gully And Surf With Top Sounds (Albatroz-1963), produzido 
pelo maestro Natal. 
Em 1964, Silvio Camba e Pedro Ulhôa entram na faculdade, 
priorizam seus estudos, e são substituídos por Aldo Crotti e Mario 
“Meloso” Amaral. Durante uma apresentação no Esporte Clube 
Banespa descobrem na platéia um rapazinho de apenas treze anos 
de idade que canta muito bem, e sabe de cor todas as letras do 
Elvis Presley, Trini Lopez, Dion e outros conjuntos que estão 
surgindo. Assim Pedro Luiz Autran Ribeiro ingressa no conjunto, 
e se apresenta em público pela primeira vez cantando Twist And 
Shout (Beatles). Com a formação Pedrinho Autran nos vocais, 
“Chetto” na guitarra solo, Mario “Meloso” na guitarra base, Aldo 
Crotti no baixo e Antônio “Totó” Labatte na bateria. Estão 
nascendo os Beatles, Rolling Stones, Searchers e Beach Boys, e o Top 
Sounds é o primeiro conjunto que larga o rock instrumental, 
cantando músicas de Paul Anka, Ricky Nelson, Trini Lopez, Dion 
e por aí afora. O Top Sounds faz sucesso na Rua Augusta, nos 
Jardins e nos clubes mais importantes. 
A Rua Augusta é uma rua badalada aonde todo mundo vem 
passear, e que não fica devendo nada para a Swinging London. Ela é 
o ambiente dos grandes músicos da noite paulistana, e as grandes 
personalidades da época desfilam por lá. Juca Chaves anda a pé 
com o violão nas costas. Jô Soares e Otelo Zeloni fazem sucesso 
com A Família Trapo, programa humorístico da TV Record. Jô 
desfila para cima e para baixo montado em sua Harley Davidson, e 
Zeloni desfila a bordo de um lindo Alfa Romeo Giulietta Spider 
1957. Outro frequentador é o playboy milionário Baby Pignatari, 
que viaja a bordo de um clássico Lockheed Electra II particular, 
dotado de avionics ainda melhores que os da frota da Varig. 
A Galeria Ouro Fino é a primeira grande galeria inaugurada na 
Rua Augusta. Miguel Vaccaro Neto monta sua loja de discos Pap’s 
Pops logo na entrada e cria um esquema para os Top Sounds tocarem 
Fernando Carneiro de Campos 
 32 
à noite, fazendo um tipo de vaquinha entre lojistas. A loja de 
camisas do Gastão dá uma camisa para cada um, o restaurante dá 
um jantar pra cada um, o barbeiro Celso corta o cabelo de todos 
eles, e assim por diante. Os Top Sounds tocam frequentemente na 
galeria Ouro Fino, e adoram o tratamento recebido a cada vez que 
lá se apresentam. É só seus fãs saberem que os Top Sounds vão 
tocar à noite, e eles vem em peso para assistir suas apresentações 
ao ar livre. 
Apesar de que muita gente ignora que se paga cachê aos 
músicos, eles até ganham um dinheirinho. Mas muita gente se 
queixa: O que é que é isso? Eu não sabia que tinha que pagar para uns 
molequinhos de catorze anos. 
O Top Sounds toca na festa comemorativa dos 80 anos do jornal 
Diário Popular, fundado em 1884. Jerry Adriani chega para 
“Chetto”, pedindo se ele acompanharia um cantor inicianteque 
veio do Rio de Janeiro e assim eles acompanham o simpaticíssimo 
Erasmo Carlos na primeira vez que ele vem a São Paulo. 
Louis Lachèze, um rapaz franco-anglo-argentino, entra por 
acaso para cantar junto com Pedrinho. Os Top Sounds são 
contratados para tocar na festa de aniversário de uma colega do 
colégio Dante Alighieri. A dona da festa pede para tocar Mr. 
Tamborine Man (The Byrds), que acaba de sair. “Chetto” topa toca-la, 
mas o único que sabe a letra é Louis, que topa se arriscar. Na 
primeira tentativa, a atravessada é total e ficam de sorriso amarelo. 
Na segunda tentativa, entra todo mundo junto e afinado. O 
pessoal se anima e vai pedindo mais, e Louis canta uma música em 
italiano junto com Pedrinho. No dia seguinte vem o convite para 
ensaiar na casa do Mário. 
O Top Sounds toca Satisfaction (Rolling Stones) por várias vezes 
seguidas numa festa, apenas dois dias após o lançamento na 
Inglaterra (1966). No final da festa “Totó” anuncia sua saída do 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 33 
conjunto para servir o Exército, na Polícia do Exército em Brasília. 
Meses depois ele morre em um desastre de automóvel em frente 
ao Esporte Clube Pinheiros durante uma visita a São Paulo. Totó foi 
um ídolo, e sua morte foi sentida por todos. É difícil substituir um 
ídolo, mas Sergio “Meloso”, irmão de Mário “Meloso” faz bonito 
na fase final do conjunto. 
O Top Sounds toca tanto em festas de ricos quanto em gigs nas 
férias de verão. Os rapazes sempre passam as férias no Radio Hotel, 
em Serra Negra, tocando todas as noites à beira da piscina. O Top 
Sounds tem dois cantores excelentes. Pedrinho, um dos melhores 
cantores românticos, canta Nico Fidenco como poucos. O 
conjunto é eclético, e toca qualquer coisa que se peça, desde 
marchinhas carnavalescas, samba, música romântica em português, 
até rock ou balada em inglês. Eles mandam ver a qualquer música 
que pedem. 
“Chetto” curte rock desde criança, quando saiu o primeiro 
disco do Elvis Presley no Brasil, com a música Tutti-Frutti. Seu pai 
tem um equipamento Hi-Fi da marca Fisher, com o primeiro 
gravador de fita, o Voice Of Music e gigantescas caixas Stentorian. 
Quando os amigos da família voltam da Europa trazendo discos 
importados, os trazem para que ele grave para ter em seu acervo. 
Os rapazes usam e abusam desse gravador para tirar letras. 
Todos eles prestam vestibulares. “Chetto” entra no curso de 
economia da Universidade Mackenzie, tornando-se colega de uns 
rapazes que estão a fim de formar um conjunto, e tem todas as 
condições para monta-lo. Após uma discussão entre o pessoal do 
Top Sounds, “Vermelho” sai do conjunto para formar o Loupha com 
eles. Tempos depois, o Top Sounds se dissolve, ainda em 1966. 
 
 
 
Fernando Carneiro de Campos 
 34 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
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Loupha: 
Uma lenda do rock. 
 
 
 
Os rapazes do Loupha chegam no horário em que sempre 
começa a arrumação dos palcos no Esporte Clube Pinheiros, mas têm 
uma surpresa desagradável, pois o pessoal do Colt 45 chegou mais 
cedo do que de costume e açambarcou todo o equipamento de 
palco. Juntaram os dois tablados de palco em um só e 
monopolizaram todo o resto do equipamento. Fica com um palco 
com tudo o que há de melhor, como gerador de fumaça, luz 
estroboscópica e luz negra, e não sobra nada para a apresentação 
do Loupha. 
Mas eles conseguem virar o jogo com sua criatividade. Alguns 
de seus amigos sabem onde guardaram a passarela de um recente 
desfile de moda, trazendo-a para o salão de festas. A passarela é 
mais alta e mais estreita que um palco comum, obrigando eles a se 
alinharem em fila indiana, com as caixas acústicas montadas 
embaixo dela. Prendem-se varas nas extremidades, passando os 
fios feito um varal e dependuraram roupas nos fios. 
O primeiro show foi do Colt 45, com o palco atulhado com o 
estado da arte em equipamento. Sem dúvida eles são bons 
músicos, e tudo foi feito para ser bonito, mas por conta do 
exagero seu show perde parte do impacto visual. Com o Loupha 
ocorre o oposto. “Vermelho” sabe fazer um palco legal e 
apresenta o varal deliberadamente feio. Fora o impacto criado com 
suas roupas xadrezas, suas guitarras Baldwin-Burns e o repertório 
mais pesado dentre todos os conjuntos. O resultado é fora de 
série. Os rapazes do Colt 45 admiram muito o Loupha, mas dessa 
vez eles ficam muito desgostosos. 
Fernando Carneiro de Campos 
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O Loupha é um grupo diferenciado, com um belo desempenho 
em palco, sendo um dos conjuntos mais famosos e produtivos. 
Marcos Ficarelli, conhecido como “Vermelho” tem uma presença 
forte, com pinta de roqueiro inglês. Sua criatividade torna o Loupha 
uma lenda do Rock. 
 
Quando todo mundo quer ter seu próprio conjunto, Carlos 
Eusébio Mattoso começa a aprender violão aos catorze anos de 
idade, e resolve montar um conjunto com o amigo Erminio Reis, 
vizinho do mesmo prédio em que mora, que também toca violão. 
Os dois juntam-se com Carlão, outro amigo do prédio, que com o 
tempo se desanima e acaba substituído por Victor Malzone, um 
garoto que toca um teclado Solovox. Os três procuram por alguém 
que esteja realmente a fim de fazer o conjunto, e convocam outro 
amigo. Esse amigo é Artur, que toca violão clássico, e que tem 
umas amigas inglesas que tem discos dos novos conjuntos ingleses. 
Os primeiros ensaios são na casa do Victor. O problema é que a 
cada ensaio que Artur vem, ele falta três, e logo é expulso pelo 
resto do grupo. Os remanescentes começam a compor algumas 
músicas, ainda sem técnica e sem graça. Victor e Erminio cursam o 
científico do colégio Mackenzie, e Mattoso estuda no curso de 
contabilidade, no outro lado do campus. Certo dia os dois chegam 
para Mattoso sugerindo convidar um colega que toca e canta para 
entrar no conjunto. Esse colega é “Vermelho”, recém-saído do Top 
Sounds após uma discussão entre os integrantes do conjunto. Os 
rapazes batizam o novo conjunto de Loupha, um grito de guerra 
criado pelo bloco de carnaval deles em Ilhabela. 
O grupo é bem estruturado, pois o pai do Victor manda 
construir um estúdio em cima da garagem, e providencia tudo o 
que é necessário: instrumentos, amplificadores e bateria, das 
marcas Giannini e Phelpa. O Loupha teve o melhor equipamento 
disponível enquanto durou o conjunto. 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 37 
“Vermelho” tem muito a oferecer ao grupo, em termos 
musicais. Victor começa a ter aulas de contrabaixo, Erminio 
arranja um professor de bateria, e começam ensaiando as 
músicas que mais gostam. Logo de inicio dá para sentir que vai 
dar certo, com “Vermelho” solando guitarra, tocando teclados e 
cantando. Mattoso na guitarra base, Victor Malzone no 
contrabaixo e Erminio na bateria. A garra dos rapazes é incrível, 
e com três meses de ensaios puxados, estréia o Loupha, e o 
sucesso vem rápido, ao tocar em festas e quermesses de colégios 
famosos, como o Sacre-Coeur e o Assumpção. 
 “Vermelho” havia feito um curso de harmonia no 
conservatório de Wilson Cúria, um grande professor de música e 
guru do Jazz, junto com dez dos mais importantes jovens músicos 
do momento. “Vermelho” é o único roqueiro, e todo o resto do 
pessoal toca Jazz ou Bossa-Nova. O jazz em voga é leve e 
sofisticado, como o Modern Jazz Quarter, ou Oscar Peterson, com 
piano suave, bateria e baixo. 
Temos um choque cultural porque Loupha, uma palavra que 
nada significa em português, é um tremendo palavrão em polonês. 
Digamos que a palavra em português rima com baralho. O pessoal 
do Consulado da Polônia, se ofende com o nome, vem tomar 
satisfações, e acaba convidando o conjunto para tocar num grande 
show de jazz patrocinado por eles.O Loupha nasce tocando rock 
dos Kinks, do The Who e dos Yardbirds, um rock pesado que 
ninguém conhece ainda. O rock mais pesado que se conhece até 
então por essas bandas é o rock dos Beatles. Os Yardbirds, não são 
tão refinados. e You Really Got Me (Kinks) é um som furioso. Esse 
repertório impressiona o pessoal do conservatório, que nunca 
tinha visto alguém tocar guitarra tão rápido e distorçido, bem mais 
animado que o Jazz. A garotada adora tudo isso e no fim do show 
todos cumprimentam os rapazes do Loupha. Assim eles garantem 
duas dúzias de shows pela frente. O pessoal de jazz sai de lá 
Fernando Carneiro de Campos 
 38 
entusiasmado, contando a todo mundo sobre o som incrível que 
ouviram no Consulado da Polônia. 
O Loupha acerta para tocar no Mingau do Esporte Clube Pinheiros 
pela primeira vez e se torna presença obrigatória. Tocar no Esporte 
Clube Pinheiros é um bom um cartão de visita, e como todo mundo 
ali gostou do grupo, chovem convites para tocar em festas. O 
Loupha, torna-se sucesso entre a garotada. Ele chega a tocar no 
Clube Paulistano, mas não agrada muito por lá, onde reina o 
conjunto Os Mustangs. Nesse clube não se aceita um rock tão 
pesado, cantando e berrando daquele jeito. 
Nessas férias começa a tradição das temporadas em Ilhabela. 
Quando o Loupha chega, os jovens de Ilhabela se reúnem todas as 
noites em festas parecidas com as vistas nos filmes de praia de 
Frank Avalon e Anette Funicello, ou nos clipes dos Beach Boys. 
A TV Record anuncia em agosto de 1966 o maior festival de 
conjuntos e cantores jovens que já houve no Brasil, o Festival 
Nacional da Jovem Guarda. Erminio e Mattoso resolvem concorrer, 
mas “Vermelho” e Victor não querem saber, pois acham o 
concurso cafona e reclamam: Imagina que eu vou tocar lá na Record! 
Mas Mattoso os inscreve na marra logo no primeiro dia. Nenhum 
outro conjunto dentre os seus conhecidos havia se inscrito. O 
Loupha faz o teste para a primeira eliminatória, começa a tocar e os 
organizadores mandam parar. Notando que os rapazes tocam bem, 
eles perguntam se dá para acompanhar os cantores que vem fazer 
teste. Os rapazes topam na hora, e daí em diante, o sujeito pede 
alguma coisa e eles saem acompanhando. Corre o boato que o 
festival está genial, e de apenas cem inscritos, de repente já são 
cinco mil. Vem gente do Brasil inteiro, a coisa vira uma loucura e 
todos os conhecidos do conjunto se inscrevem para tocar. Dentre 
os participantes está Arnaldo Batista (Os Mutantes) ainda criança. 
Assim, o Loupha passa na primeira fase apresentando You Really 
Got Me. 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
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Para fazer um show de rock, o negócio é chegar ao palco 
botando pra quebrar. Não se entra sério e comportado, pois assim 
não é rock. Mas tampouco se deve agredir demais a ponto de ser 
um trabalho sujo. Quando alguém sobe num palco, as pessoas 
devem notar que o sujeito se produziu só de olhar para ele. Ciente 
que parte do sucesso passa pelo apelo visual, o conjunto propõe 
criar um visual de impacto para aparecer na televisão, inventando 
algo que nem mesmo na Inglaterra ainda tem: a roupa adoidada. 
Lá todo mundo ainda se veste alinhado, com aqueles maravilhosos 
terninhos. Os rapazes tem uma assinatura da revista italiana 
Giovanni, a única revista do mundo dedicada ao público beat. Lá 
aparece em algumas paginas alguém com uma calça enfeitada. Vale 
lembrar que isso é só um ensaio da revista, mas não tem à venda 
em lugar nenhum, nem mesmo na Itália, a terra das roupas legais. 
Os rapazes adoram o que vêem e mandam fazer calças xadrezas de 
todas as cores, mas único tecido xadrez disponível no mercado se 
encontra na loja de lonas Moreno, fabricante de tecidos para 
cadeiras de praia, situada na Rua Augusta. Isso mesmo! As calças 
foram feitas de lona de praia! Não é o máximo? Para completar, 
Adriano faz sapatos da cor vinho com franjas caídas no Spinelli, 
camisas de gola bem alta. O Loupha fica famoso lançando esas 
roupas adoidadas no festival. 
Para aumentar as chances de vencer o concurso, investem em 
instrumentos de qualidade. Victor compra um contrabaixo Fender 
Jazz Bass. “Vermelho” dá aulas de guitarra para um rapaz 
americano, e troca um de seus amplificadores Giannini Tremendão 
por uma guitarra Fender Mustang azul-calcinha. O Loupha ganha a 
fase paulista, passa pela fase nacional, e ganha o festival com I 
Can't Let Go (Hollies). Em segundo lugar ficam os paulistanos The 
Beatcousins, e em terceiro o grupo gaúcho The Cleans. 
Dentre os três cantores e três conjuntos ganhadores do prêmio 
do Encontro Nacional da Jovem Guardam, o Loupha é o único conjunto 
Fernando Carneiro de Campos 
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que segue em frente, e nenhum dos cantores segue carreira. O 
Loupha ganha um contrato na Odeon e outro para participar de 
programas na televisão, gravando alguns programas com o Ronnie 
Von. Também inaugura os estúdios da TV Bandeirantes e outros 
três grandes estúdios. Os rapazes também fazem o comercial de 
um perfume. Infelizmente todos os registros são perdidos nos 
incêndios causados por atentados terroristas que incendeiam as 
instalações da TV Bandeirantes. 
O prêmio de dez milhões de Cruzeiros, equivalente a quatro mil 
Dólares (atualmente uns cinqüenta mil Dólares), dá para comprar 
o melhor equipamento disponível nos Estados Unidos. Victor, 
Erminio e Mattoso viajam para Nova York em janeiro de 1967. 
“Vermelho” não vai porque ficou de segunda época. Chegam no 
sábado, e no domingo já saem para comprar os instrumentos, 
encontrando quase tudo o que precisam em uma só loja. 
Compram equipamentos de segunda mão que foram do Loving 
Spoonful e dos Young Rascals, e guitarras Burns-Baldwin, chiques 
como um Rolls-Royce. Mattoso saindo sozinho uma manhã, e 
descobre um ginásio chamado Panther. Ele chega de manhã e só 
vai embora à noite, após se divertir a valer assistindo catorze 
horas seguidas de shows, dentre os quais do conjunto Sam the Sham 
& The Pharaos. Victor e Erminio se esbaldaram nos melhores 
restaurantes, mas ficam revoltados ao saberem o que perderam. 
Os rapazes voltam dos Estados Unidos com os melhores 
instrumentos que há. Mattoso traz o primeiro amplificador 
transistorizado a entrar no país. Nessas férias de verão o conjunto 
comemora seu sucesso em Ilhabela, dando novamente uma de 
Beach Boys. “Vermelho” começa a tocar órgão e guitarra ao mesmo 
tempo, sua marca registrada, fazendo uma bela dupla com 
Mattoso. Victor Malzone é um excelente baixista e o Hermínio é 
um baterista adorado por todos, por ser uma figurinha incrível. 
O Loupha toca em vários bares, como o Barra-Limpa, no bairro 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 41 
de Pinheiros, perto do shopping Iguatemi. Começam a ter acesso 
fácil para tocar em tudo quanto é lugar que se possa imaginar: em 
clubes, quermesses, casas de família, escolas e por aí afora. 
Certa noite o conjunto ensaia no estúdio. Chega um senhor de 
táxi, pára o táxi na frente da casa do Victor, e vêm conversar com 
os rapazes. Ele quer contratar um monte de gente para tocar na 
festa de quinze anos de sua filha, e vem contratar o Loupha. 
Mattoso muito esperto se vira para os amigos cochichando: "Bom! 
Se ele mora lá na Cantareira, e veio de lá até aqui de táxi, e ainda ficou com 
o táxi esperando aqui para conversar com a gente, então ele tem dinheiro e 
podemos cobrar caro! Cobra aí 500 cruzeiros!" Foi melhor cachê de sua 
história, pois no Esporte clube Pinheiros eles ganham 130 cruzeiros 
por espetáculo. 
A garota fazendo quinze anos é a futura atriz Kate Hansen. 
Para essa festa haviam convidado o Sérgio Reis e a Silvinha, dentre 
outros artistas. Chega Sérgio Reis, perguntando qual é o conjunto 
que vai acompanha-lo. Mattoso responde que não sabe, não tem 
ninguém ali. Sergio sai aflito procurando os músicos. Daí a poucochega a Silvinha perguntando quem é o conjunto que vai 
acompanha-la. Todos eles respondem em coro: "Somos nós! Somos 
nós que vamos te acompanhar!". 
Numa festa no bairro do Morumbi um cantor se apresentando 
como o padrinho do conjunto é rechaçado por Mattoso: “É 
padrinho, mas você nunca fez nada por nós!” Quando se começa a ficar 
famoso todo mundo quer ser seu amigo. Mas eles haviam feito 
sucesso trabalhando duro. 
Sempre que trazem novas músicas o pessoal fica admirado. De 
onde que veio isso, e de quem que é? Além dos Hollies, Animals, 
Beach Boys, Dave Clark 5, e do rock pesado, o Loupha é o primeiro 
grupo a tocar Rock italiano. O que fica famoso nessa época é a 
música romântica italiana, mas o rock italiano também é legal. 
Fernando Carneiro de Campos 
 42 
O Loupha tem uma imensa coleção de discos. O conjunto é 
querido pelo público, e quando surge um artista novo seus fãs 
mostram as novidades. Alguém mostra o disco de um cara novo 
que a tia trouxe da França, e de repente esse sujeito é o Jimmy 
Hendrix. Ainda por cima todos os conjuntos assistem seus shows 
para conhecem músicas ainda não lançadas. 
Os rapazes fazem amizade com Caetano Veloso, iniciando a 
carreira de cantor, que precisa de um conjunto de rock para tocar 
guitarra numa música a ser lançada no festival da Record. Ensaia 
Alegria, Alegria com a eles umas três vezes, mas não dá certo, e 
Caetano chama o conjunto Beat Boys, formado por argentinos, 
para acompanha-lo no festival, e no final da história, eles quase são 
linchados pelos estudantes esquerdistas no teatro Tuca, da 
Pontíficia Universidade Católica (PUC-SP). Gilberto Gil também 
visita o estúdio no início da carreira. Gil também precisa de um 
conjunto para tocar no festival, e é acompanhado pelos Mutantes. 
O Loupha é divertido, inovador, sempre interessado em 
participar da agitação da noite e bagunçar muito. Formado por 
quatro rapazes diferentes, vestidos fora do padrão vigente e 
tocando músicas diferentes. O Loupha faz história por sua Joie de 
vivre, fazendo ou não as coisas sem se preocupar com expectativas 
alheias. Eles têm todo um esquema de produção montado em 
termos de figurinos, comportamento, música, e disposição para 
fazer montes de doideiras sabendo que o público espera isso deles. 
A irreverência, sua marca registrada, por vezes deixa os outros 
chocados. Apesar de sua curta carreira, é importante notar que os 
três anos de vida do Loupha são intensos, cheios de histórias. Isso 
faz a diferença. Nem importa ganhar dinheiro ou não, mas o 
prazer de fazer o que acha legal. De qualquer forma, eles ganham 
bem com suas apresentações. 
Mas certa hora, isso tudo começa a ruir. Mattoso se cansa 
achando que as músicas que toca já são mera repetição. Com a 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 43 
saída do Mattoso (1968) entra em seu lugar o guitarrista Luis 
Carlos Maluly, amigo de “Vermelho”. Entra também o vocalista 
Raymond Mattar, colega de “Vermelho” na Faculdade de 
Economia do Mackenzie. Ray tem uma voz linda e poderosa, e o 
Loupha segue com essa formação. 
 “Vermelho” está desanimado, e o antigo pessoal do Top Sounds 
havia se juntado com outros amigos do colégio Dante Alighieri, e 
o convidam para tocar com eles em um show. Junta-se a velha 
turma formando o conjunto Código 90. 
Acontece a junção do Sounds Five com o Loupha e o nome 
deste ultimo prevalece. Assim temos: Ray Mattar nos vocais, 
Ivan Nuns Borges na guitarra solo, José Luiz “Zeca” Masseran 
Tadeo na guitarra base, Victor Malzone no baixo, e Alberto 
Nicolli na bateria, tocando um repertório magnífico. Esta 
formação dura até 1969, quando o conjunto se dissolve. 
O Loupha ressurge em 2001 com Marcos “Vermelho” Ficarelli 
no vocal principal, guitarra solo e teclados. Carlos Eusébio 
Matttoso na guitarra base, Sérgio “Tom” Vernarecchia no 
contrabaixo, Milton Levy Jorge (ex-Maníacos) na bateria, e Audrey 
Wolf nos backing vocais. Em 2004 “Tom” deixa o conjunto, e é 
substituído por Edgar Romanelli, um antigo colega do 
“Vermelho” no colégio Dante Alighieri. 
Mattoso parou de tocar quando saiu do Loupha original , mas 
guardou suas guitarras. Começou tocando com sua velha Gianinni 
SuperSonic, que ainda fuciona bem. Já a guitarra Baldwin VibraSlim é 
uma linda obra de arte, mas a falta de uso a deixou temperamental, 
e raramente é usada. “Vermelho” não tem mais sua Baldwin, mas 
jura que sua Fernder Stratocaster Custom preta, com braço Maple, foi 
comprada do Eric Clapton. 
O Loupha toca as velhas canções dos Hollies, Searchers, Beach Boys, 
Fernando Carneiro de Campos 
 44 
Dave Clarck 5, Beatles, Rolling Stones e alguns rocks italianos que 
fazem parte de sua história, e ainda se dá ao luxo de tocar algumas 
músicas de Frank Sinatra e algumas canções da época da Jovem 
Guarda que jamais seriam admitidas em sua formação original. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 45 
Tuca e Norival: 
Dois pioneiros da pesada. 
Desde pequeno Norival Ricardo D’Angelo adora ouvir Elvis 
Presley e sonha tocar guitarra. Um colega de classe do Liceu 
Pasteur acha que ele, por ser um exímio batucador de livros, tem 
jeito para tocar bateria, e convida-o para ver o ensaio do conjunto 
de rock instrumental os Alamos, vizinhos da mesma rua em que 
mora Norival. Nesse sábado todo mundo está triste porque o 
baterista não consegue pegar as músicas. Ele já havia ido embora, 
mas a bateria continua montada. O colega de classe diz que 
Norival sabe tocar bateria. Norival jura que não sabe, mas seu 
amigo insiste que tente. O pessoal pede para Norival escolher uma 
música. Como ele não tem idéia do que tocar, os Alamos escolhem 
uma música qualquer, que Norival acompanha muito bem. 
Quando lhe perguntam há quanto tempo ele toca, ficam surpresos 
de ser mesmo a primeira vez que ele toca bateria. Não parece, mas 
não é fácil tocar bateria. É preciso ótima coordenação motora e 
senso de ritmo. Norival é convidado a tocar no festival de música 
do Liceu Pasteur, realizado nessa mesma quarta-feira no teatro 
João Caetano. Nesse festival também se apresenta Rita Lee e as 
Teenagers Singers. Depois desse festival Norival sente-se no limiar de 
um mundo novo. O garoto de 14 anos de idade, fanático torcedor 
do Santos F.C. , nos anos de ouro do Rei Pelé, começa a ter toda 
sua atenção voltada para a bateria. Norival compra uma bateria 
Gope, e sofre com o preconceito de seus pais: Mas como é que você 
pode fazer uma coisa dessas? Tocar rock'n'roll na bateria! 
Fernando Carneiro de Campos 
 46 
Em setembro do ano seguinte (1965), o programa Jovem Guarda, 
Comandado por Roberto, Erasmo, e Wanderléa, começa com a 
corda toda. Os Álamos vão até o Teatro Record no dia da estréia 
para tentar tocar. Ficam plantados na porta, e o produtor lhes 
permite que entrem. Os Álamos fazem um teste, acompanhado por 
todo o elenco do programa. 
Os Álamos tornam-se amigos dos Beatniks, sempre presentes no 
programa. Marcio Morgado nos vocais, Cláudio Morgado na 
guitarra, Carlos “Bogô” Bogossian na guitarra base, Lídio 
Benvenuti, (Nenê dos Incríveis) no baixo, Régis nos teclados e 
Nino na bateria. Os Beatniks acabam gostando muito de Norival, e 
quando sai o Nino (1967), ele é convidado a se juntar ao grupo. Os 
Beatniks são o único conjunto da Jovem Guarda que canta em inglês, 
tocando sucessos dos Beatles e dos Rolling Stones. Eles são 
apresentados como o mais perfeito Liverpool Sound do Brasil, e é 
provável ter sido o primeiro conjunto a tocar Sactisfaction, She Loves 
You, e I Wanna Hold Your Hand num programa da TV brasileira. 
O programa Jovem Guarda sai do ar após três anos de sucesso, e 
os Beatniks tornam-se um dos pioneiros do Círculo Militar. Eles 
tocam músicas do Cream e de Jimmy Hendrix, um som pesado que 
o públicodas domingueiras não gosta muito. A iluminação de 
palco dos Beatniks é linda, diferente e inovadora, que Antonio 
Peticov faz com bolhas de óleo na água projetadas sobre a tela. Ao 
longo da carreira, os Beatniks gravam três compactos, com músicas 
como Gloria (The Doors), Fire (Jimi Hendrix) e Era Um Rapaz Que 
Como Eu Amava Os Beatles e Os Rolling Stones. 
Norival compra sua primeira bateria importada de um baterista 
brasileiro que havia morado muitos anos na Suécia. O preço é 
bom, e juntando suas economias com uma soma dada por seus 
pais, realiza o seu sonho de ter uma Rogers. Na primeira vez que a 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
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monta no Círculo Militar, o pessoal olha admirado: ela é idêntica à 
bateria do Spencer Davis Group. 
Surge arrasando nas domingueiras um fantástico quarteto 
pauleira: o Som Beat. Eles são músicos da noite, que às vezes tocam 
em lugares barra-pesada. Aroldo e Fafá tiram um som incrível de 
suas guitarras Hoffner. José Aroldo Binda nos vocais e guitarra solo, 
Vicente “Fafá” Ferrer Juan na guitarra base, canta um pouco e 
também toca bongô. . José Carlos “Carlinhos” Pereira canta muito 
bem e toca um baixo Phelpa. O Som Beat toca muita coisa do The 
Who e do Donovan, e apesar de só terem equipamentos Giannini, 
impressionam pela raça. Lourenço Portela, o primeiro baterista do 
grupo, é substituído por Dartagnan Navajas, um showman que 
toca igualzinho ao Keith Moon (The Who). Quando faz sua estréia 
no Círculo Militar, Norival prova ser um substituto à altura, 
detonando a bateria e fazendo todas as quebradinhas de John 
Bohan (Led Zeppelin). Ao longo de sua carreira, o Som Beat grava 
um único compacto (RCA-1967) com My Generation (The Who) e 
Sou Tímido Assim, versão em português de Listen People (Herman's 
Hermits). 
Os integrantes do Som Beat são gente mais humilde, e sofrem 
nas guerras de bastidores. Mas são tão bons que o povo os adora, 
e não dá para excluí-los sem mais nem menos. O empresário do 
conjunto é o radialista Carlos Alberto “Sossego” Lopes, famoso 
por vender e fazer manutenção em equipamentos, e dar assessoria 
para todos os conjuntos. Como assiste todas as domingueiras, e 
term contato com gente de todos os conjuntos que tocam no 
Círculo Militar, ele sabe de tudo o que acontece nos bastidores. 
Certo dia, “Sossego” chega cedo e descobre que todos os falantes 
das caixas acústicas deles queimaram. Um dos rapazes do conjunto 
rival vem tirar satisfações, e é posto para correr. Boatos dizem que 
esse garoto pagou o pato, pois o sabotador o convenceu a tirar 
Fernando Carneiro de Campos 
 48 
satisfação e ficou olhando de longe. “Sossego” volta para sua 
fábrica, enche o carro de alto-falantes, e troca o último falante 
minutos antes de começar o show. 
Nos Beatniks Norival conhece um brilhante guitarrista. Carlos 
Eduardo “Tuca” Aun começa a tocar ainda adolescente, quando 
funda Os Mooners (1964), com o pianista e amigo de infância 
Maurício Camargo Brito. Mais tarde o nome é traduzido para 
Lunáticos. A força de conjunto provém de uma novidade, o som de 
reverber. Os Jet Blacks e The Jordans usam reverber no estúdio, mas 
não ao vivo. Tuca descobre que o segredo é simples: basta passar o 
som por uma mola, e do outro lado fica uma cápsula de toca-
discos. Ele compra uma mola de órgão Hammond do próprio 
fabricante, e manda um técnico adapta-la para sua guitarra. Muita 
gente se impressiona ao ouvir os Mooners tocando esse som ao 
vivo. Logo eles ficam famosos, sendo convidados a tocar como 
conjunto de fundo no programa Na Onda do Rock, apresentado por 
Atílio Riccó e pela adolescente Débora Duarte nas tardes de sexta-
feira (TV Tupi-1965). 
Os Lunáticos acompanham Albert Pavão entre 1965 e 1966, 
com Tuca na guitarra solo, Maurício Camargo Brito na guitarra 
base e piano, Armindo “Mindão” Ferreira de Castro no baixo e 
Tony, depois Romualdo “Adias” Calcagnetia na bateria. 
O guitarrista inglês David Charles Odams e sua esposa 
americana Jocelyn Ann Odams vêm morar no Brasil, trazendo na 
bagagem uma guitarra Fender Stratocaster e um amplificador com 
câmara de eco de fita, idênticos aos dos Shadows, por sinal seus 
amigos. Tuca entra no conjunto Os Galaxies, montado pelo casal, e 
pelos brasileiros Alcindo Maciel e José Carlos de Aquino. Esse 
conjunto destaca-se em muitas festas de imprensa, e grava um 
Long Play. 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 49 
Tuca ingressa nos Beatniks quando sai Carlos Bogossian. Entre 
os anos de 1967 e 1968, os Beatniks entram na fase psicodélica, de 
Rock pesado, tocando The Doors e Jimi Hendrix, fazendo sucesso 
no circuito underground paulistano. Dentre algumas festas 
famosas, Os Beatniks tocam na inauguração do Poster Shop do 
Toninho Peticov. 
Tuca começa a fazer cursinho em 1968, tentando ingressar na 
faculdade de medicina ou de odontologia. Ao final do cursinho, 
seu colega Jorge Pagura o chama para tocar com Os Baobás, um 
dos grupos mais importantes dos anos 60. 
Os Baobás é um conjunto de muito sucesso surgido em 1965, 
tocando em vários programas de televisão. Originalmente 
chamados de Rubber Souls, trocam de nome a pedido de Ronnie 
Von para se apresentarem no programa O Mundo do Pequeno Príncipe 
(TV Record), onde tocam por um bom tempo. Baobá é uma 
árvore africana, citada no livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de 
Saint-Exupéry, por sinal o livro favorito de todas as candidatas a 
Miss Brasil. A primeira formação é Renato Motta na guitarra solo, 
Ricardo Contins na guitarra base e vocal, Carlos Guida no baixo, 
Jorge Roberto Pagura na bateria e vocal e Arquimedes no pandeiro 
e vocal. Os Baobás tiveram seis formações diferentes ao longo de 
quatro anos de vida, e teve o guitarrista Carlos Bogossian e o 
baixista Arnolpho “Liminha” Lima (Mutantes) entre seus 
integrantes. Mais adiante, Liminha é substituído por Tico Terpins 
(Joelho de Porco). 
Os Baobás gravam vários discos pela Mocambo. O primeiro 
compacto sai com as músicas Bye Bye My Baby e Pintada de Preto 
(1966), versão em português de Paint It Black (Rolling Stones). O 
compacto seguinte, gravado no mesmo ano os torna famosos com 
o sucesso Happy Together (Turtles). Quando a gravadora descobre 
Fernando Carneiro de Campos 
 50 
que sua música faz sucesso no rádio, lança o original e traz o 
sucesso para si. Então os Baobás seguem em frente, gravando 
outros compactos. Don't Bring Me Down e When Love Comes Knocking 
(At Your Door) (Monkees) (1967), Light My Fire (The Doors) e Tonight 
(1967), com “Googa” (Ex-Beatcousins) nos vocais e “Liminha” no 
contrabaixo. 
No último compacto temos The Dock Of The Bay (Otis Reding) 
e Spooky (1968) A gravação final é o LP Baobás (1968), com Ray 
Mattar nos vocais, Tuca na guitarra, Nescau no contrabaixo, 
Cláudio Callia nos teclados e Pagura na bateria, reúnindo as 
gravações de Light My Fire e The dock Of The Bay com gravações 
inéditas, como Nights In White Satin (Moody Blues) e Undecided Man 
(Paul Revere & The Raiders). Outro marco na carreira dos Baobás é 
ganhar o segundo lugar no 1° Festival Universitário da TV Tupi, 
apresentando a canção O Tigre. 
Marco Antonio “Nescau” Fernandes Cardoso é o protagonista 
da primeira propaganda de TV do achocolatado NESCAU, onde 
aparece acompanhado de uma menina de cada lado, batendo em 
uma latinha de NESCAU como se fosse um tambor, e cantando o 
jingle: Nescau tem gosto de festa, dá vontade de brincar. Como o 
comercial passa na TV muitas vezes por dia, mesmo quem não 
sabe o seu nome o identifica pela propaganda. Um colega de 
escola muito gozador começa a chamá-lo de Nescau. O apelido 
pega, e se dissemina quando “Nescau” começa a tocar. 
Os Baobás acompanham Caetano Veloso durante seis meses. No 
Festival da Record de 1968, Caetano canta Alegria, Alegria, e ganha 
o festival. Gilberto Gil, acompanhado pelosMutantes, apresenta 
Domingo no Parque. Tempos depois Caetano e Gil são deportados 
por problemas políticos, acusados injustamente por um famoso 
radialista de terem desrespeitado a bandeira nacional em uma 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
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apresentação na televisão. Coincidindo com a época em que 
ambos foram deportados, à bordo de um vôo retornando de 
Belém do Pará, o empresário Guilherme Araújo anuncia que está 
negociando uma tournée dos Baobás na Europa. Mas essa tournée 
prejudicaria os estudos de todos os rapazes. Devido aos 
compromissos com os estudos universitários, os rapazes resolvem 
desmanchar o conjunto. 
O único jeito que Tuca acha para se obrigar a estudar para valer 
é vendendo a sua guitarra Fender 63, um gesto que se arrepende, 
porque essas guitarras se tornam valiosas poucos anos mais tarde. 
Mas com esse sacrifício Tuca entra na faculdade de odontologia da 
USP. Por seu turno, Jorge Pagura entra na faculdade de medicina, 
tornando-se um famoso neurocirurgião depois de formado. Tuca 
pára de tocar por uns tempos, mas sofre uma recaída com o 
convite de Marinho Murano para tocar no Código 90, no lugar de 
“Vermelho” que saíra do conjunto. 
Os Baobás volta a se apresentar em 2001, com Renato Motta na 
guitarra solo, Ricardo Contins na guitarra base, Newton Barros Jr 
no baixo, Cláudio Callia nos teclados e Jorge Pagura na bateria. 
Fernando Carneiro de Campos 
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Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
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Watt 69: 
Um sucesso duradouro. 
O pessoal do Watt 69 está reunido, acompanhado de suas 
namoradas e amigas. Acontece uma tempestade cerebral quando 
uma das meninas dá uma idéia interessante, que grupo topa na 
hora: Que tal fantasiar os rapazes de mendigos? As moças se divertem 
pra valer pondo em ação seus talentos artísticos, fazendo uns trajes 
esfarrapados com uma aparência de embrulhar o estômago, de tão 
encardidos que aparentam. Antes de começar o show, os rapazes 
são maquiados para parecerem encardidos, mas capricham muito 
no perfume. Em contraste, o cantor está impecavelmente vestido, 
de cartola e smoking. Esse show, ocorrido em 1971 no Círculo 
Militar é um marco na carreira do conjunto. 
 
Em 1965, Mário Cerveira Filho monta um conjunto de garagem 
com seu irmão e uns amigos da vizinhança. Antônio Carlos 
“Totaio” Gomes Cardim Cerveira (irmão) na guitarra solo, Sergio 
Brisa Fróes, na guitarra base, Edmundo Fantozzi, no baixo, e 
Paulo Eduardo Sartorelli nos vocais. O conjunto recebe o nome 
Us (Nós). Mário compra uma bateria com o bumbo enorme, e 
acaba escondido atrás dele. Algum tempo depois, ao ver Mário 
tocar em shows no Colégio Mackenzie, Lídio Benvenuti (Nenê dos 
Incríveis), um colega de classe integrante dos Beatniks sugere a Mário 
que monte um conjunto de verdade. 
Em sua casa situada na Avenida Cidade Jardim, bem em frente 
ao edifício Dacon, Mário recebe uma noite a visita de dois rapazes 
Fernando Carneiro de Campos 
 54 
que atendem ao seu chamado: o guitarrista Sylvio Caruso e Márcio 
Correa da Silva. 
Os ensaios são na casa do Sylvio, localizada numa travessa da 
Avenida Indianópolis. A vizinhança vem em peso, não só para ver 
os ensaios do Watt 69, mas principalmente os ensaios de um 
cantor de muito sucesso que aluga parte da casa de Sylvio: ele é 
Eduardo Araújo, que faz um sucesso arrasador com O Bom. 
Estamos no final de 1965. Os rapazes vão tirando várias 
músicas de sucesso, especialmente canções dos Beatles, e ao longo 
do ensaio vão jogando conversa fora, até que de repente se dão 
conta que beberam toda uma garrafa de uísque Vat 69 sem 
perceber. Mário olha pasmo para a garrafa caída no chão, e tem a 
idéia de fazer um trocadilho entre o Vat do uísque e o Watt de 
unidade de energia elétrica. Assim o grupo é batizado como Watt’s 
69, e mais tarde o nome é simplificado para Watt 69 eliminando o 
apóstrofo. 
Ninguém do conjunto tem tanto dinheiro que possa comprar 
instrumentos importados, sendo obrigados a se virar com guitarras 
Giannini e aparelhagem nacional. O dono da Gope faz para Mário a 
primeira bateria preta fabricada por sua firma. Mário adora cantar, 
mas ainda não temos no Brasil o pedestal articulado, conhecido 
como girafa. Por fazer questão de cantar, ele pinta um cabo de 
vassoura de preto, faz uma rosca para atarraxa-lo em um 
bujãozinho de gás de 5 Kg, e gruda o microfone no topo da haste 
com fita isolante. O pedestal fica entre os pedais do bumbo e do 
chimbal, e quem vê de longe não nota que isso é um bujão de gás. 
O Watt 69 faz seus primeiros shows na boate Saloon, na Rua 
Augusta, com a formação de Clodinho na guitarrista solo, Sylvio 
no contrabaixo, Márcio Correa da Silva, vocal e guitarra base, e 
Mário na baterista. Quando Clodinho sai do conjunto, Carlos 
Alberto da Silva passa para a guitarra solo, e o Watt 69 passa a 
Hits Brasil: Sucessos “estrangeiros” Made In Brazil 
 55 
contar com teclados com a entrada de Ignácio. Por essa época 
Mário não tem nem 16 anos de idade, e para entrar usa o 
documento de identidade de um amigo, porque o dono da boate 
jamais permitiria um menor de idade tocar na noite. Volta e meia 
ele tem de se esconder no banheiro durante as batidas policiais, só 
podendo começar o show depois que a polícia vai embora. O 
conjunto toca nessa boate quase todos os fins de semana por 
quase dois anos, inclusive no dia de Natal e no reveillon. O Watt 
69 deixa de tocar na boate Saloon faltando meio ano para Mário 
chegar à maioridade. 
O sonho do Watt 69 é tocar nas domingueiras. Mário adora 
assistir os shows do Colt 45 no Clube Pinheiros. Por ocasião da saída 
de Márcio e Ignácio, Mário conversa com Dudu França no final de 
um show, e pergunta se ele conhece algum contrabaixista que 
queira tocar com o Watt. Dudu indica Zacharias José “Zeca” da 
Conceição, ex-integrante do Colt 45. Zeca entra como 
contrabaixista e Sylvio assume a guitarra base. Lazlo “Lotcy” 
Boglar Júnior entra nos teclados e Roberto “Bob” Rosa é o novo 
vocalista. 
O ponto forte desse grupo é a parte vocal. O pessoal do Watt 
69 investe muito em equipamentos, ganhando mais no prazer de 
tocar nos ensaios e no palco, do que dinheiro em si. Mário e Sylvio 
capricham nos shows, e vestem-se com roupas feitas sob medida 
por um alfaiate, e a marca registrada do grupo é vestirem calças 
vermelhas de todos os tipos: lisas, listradas ou xadrezas. 
Em 1967 o Watt 69 convida o vocalista Jorge Adamo para 
participar de uma nova fase do conjunto, que enfrenta certa 
dificuldade para entrar no Círculo Militar. Mas quando essa barreira 
é vencida, ele se torna muito popular perante um público que 
adora dançar ao som da parada musical, e logo deslancha nas 
domingueiras dos melhores clubes. Também passam a fazer shows 
em várias cidades do interior, chegando a tocar no Rio de Janeiro, 
Fernando Carneiro de Campos 
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e o mais gostoso de tudo, fazendo shows em transatlânticos. A 
primeira formação famosa nas domingueiras é Jorge “Bidu” 
Adamo nos vocais, Marcos “Vermelho” Ficarelli na guitarra solo, 
Sylvio na guitarra base, Rafael Tartaglio no contrabaixo, Lazlo 
“Lotcy” Boglar nos teclados e Mário na bateria. 
Marcos “Vermelho” Ficarelli entra em uma fase em que o 
conjunto enfrenta algumas dificuldades, sendo importante alguém 
que chame a atenção, mudando várias características do conjunto. 
Por pouco não muda até o nome do conjunto, por conta de 
comentários maldosos insinuando que o nome Watt 69 está fora 
de moda. Plataforma 7, Colt 45 e Código 90 já não existem mais, e o 
Watt 69 será o próximo a sumir do mapa. O Watt 69 faz um golpe 
publicitário, pegando emprestada uma boneca da Mafalda trazida 
da Argentina por uma amiga. A boneca é engraçada a ponto de 
fazer chorar de tanto rir, e fica dependurada por semanas a fio 
num lugar bem

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