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e bandas como Santana, mas, no começo, não conseguia tocar nada daquilo de verdade. Então, me centrava em coisas simples como Stones e Thin Lizzy, que conseguia acompanhar. Digo que não estava somente aprendendo um instrumento, mas buscando algum tipo de identidade naquele momento. Seja uma questão musical ou outra coisa, é uma época em que você precisa fazer algumas escolhas sobre sua vida, pois está prestes a sair da escola e adentrar o mundo real. Dave, eu e nossos colegas costumávamos conversar sobre esse tipo de coisa, sonhando como seria vencer na vida com nossa banda.” A pressa de começar sua carreira musical era tanta, que Adrian saiu da escola aos 16 anos, sem ficar sequer para fazer os exames do final do curso, feitos durante os últimos cinco anos, descartando a ideia de tirar o diploma. “Saí o mais rápido que pude, pois pensei que não precisava daquilo”, ele explica. “Queria ser um astro do rock, mas acho que meus pais não sabiam qual era a minha. Agora que tenho filhos, ficaria horrorizado se um deles me dissesse isso hoje.” Então, veio uma série de trabalhos bem chatos, e, enquanto o adolescente sonhador passava o tempo esperando que sua carreira, de algum modo milagroso, decolasse, trocou várias vezes de ofício, como estagiário de soldador, aprendiz de marceneiro e leiteiro (ele costumava entregar leite com um amplificador Marshall preso às costas, tocando suas fitas favoritas às seis da matina). “Tive muitos empregos porque minha atitude era péssima”, comenta. “Havia trabalhos que acabavam com minha alma, e eu simplesmente não conseguia me animar; por isso, costumava apenas me divertir até que eles se livrassem de mim ou que eu me cansasse e saísse, o que normalmente acontecia quando havia algum show chegando.” Assim que parou de estudar, começou sua própria banda, que, originalmente, se chamava Evil Ways. Dave Murray era o guitarrista, mas, como Adrian diz, sorrindo, “ele tinha a tendência de ir e vir”. Adrian sempre quis ter sua própria banda e escrever suas canções. Apesar de ter tocado durante curtos períodos com outros grupos, sempre manteve a formação do Urchin unida. “Davey começou a responder a anúncios feitos na Melody Maker e ir a audições”, pontua Adrian. “Eu não tinha tanto interesse de me juntar a uma banda, e, eventualmente, ia a essas audições para me testar, para ver como estava meu nervosismo, e saber se seria capaz de entrar em uma sala cheia de estranhos e tocar. Na verdade, meu primeiro projeto sério foi o Iron Maiden. Antes disso, estava sempre na minha própria banda.” Desde que empunhou seu instrumento, ele abandonou a ideia de ser cantor em tempo integral. “Uma vez que peguei uma guitarra e comecei a tocar um pouquinho, já era. Eu me sinto mais confortável com uma guitarra do que sem.” Claro, tocar guitarra também queria dizer que ele comporia suas próprias canções. “Uma das primeiras coisas que escrevi foi ‘22 Acacia Avenue’, que acabou entrando no álbum Number of the Beast. Compus quando tinha 18 anos, mas trabalhei nela ao longo de alguns anos, com várias formações que tive na minha banda. Mas foi estranho como ela se tornou uma música do Maiden. Uma vez, quando o Urchin fez um show em um parque de Londres, tocamos ‘22 Acacia Avenue’, que era completamente diferente da versão que faríamos depois com o Maiden. Uma coincidência é que Steve Harris estava naquele show. Na época, eu nem sequer o conhecia, mas, quando entrei para a banda, ele se lembrou dessa música. Estávamos aprontando coisas para o Number of the Beast, e, do nada, Steve virou-se para mim e disse: ‘Que música era aquela que você fazia com o Urchin?’. Ele começou a catarolar, e era a 22... Quer dizer, já havia mudado um pouco desde então, e acho que foi ainda mais com o Maiden. Mas foi estranho como ele se lembrou da canção tantos anos depois. Isso prova que nada é desperdiçado. É provável que a gente nem tenha tocado bem naquele dia, que tenhamos até ficado mal depois do show, mas, porque decidimos nos expor e tentar mostrar nosso trabalho, alguém no público ainda se lembrava. É por isso que sempre compensa dar o seu melhor. Mesmo se tudo parecer um pequeno desastre na hora, você sempre pode tirar algum proveito disso.” O Urchin obteve um contrato com a DJM (antiga casa do Elton John) e contratou um empresário bem antes de o Maiden colocar os pés pela primeira vez nos escritórios da EMI, na Manchester Square. “Foi a chefia que criou o nome Urchin”, prossegue Adrian. “Eles tinham uma ideia para vender a nossa imagem. O negócio é que todos eram bem jovens, eu tinha só 19 anos quando fechamos o contrato.” Ao assinar com a DJM, Adrian recebeu “um dólar de Hong Kong”, como costumam dizer. “Foi um acordo bastante desonesto. Eu não sabia nada sobre o lado dos negócios, e nem queria saber. Tudo o que me importava era assinar o papel e, no minuto seguinte, ter um contrato para gravar um disco. Entende o que quero dizer? Achava que era simples assim.” A banda recebeu um adiantamento de 5 mil libras: “O dinheiro foi utilizado rapidamente para comprar um PA de 1.500 watts e um ônibus grande e sujo para nós e a ‘equipe’, que era formada por alguns colegas dedicados”. Um membro da equipe, com experiência como soldador, mobiliou o ônibus com camas e assentos customizados. “Ficou ótimo, realmente confortável. O que, de fato, era necessário, se você pretendia viver naquela coisa por semanas sem fim.” E foi o que o Urchin fez, de acordo com as estimativas de Adrian, ao cumprir uma temporada “com cem shows naquele ano”. Black leather fantasy foi o primeiro single do Urchin, um “épico motorizado”, criado com base em um antigo riff do Deep Purple e lançado em 1978. “Como não tínhamos um título, falei brincando ‘Black leather fantasy’, e pegou. A capa promocional dizia algo como ‘o ressurgimento do heavy metal’, mas, na época, ainda não havia ninguém fazendo aquilo. O single obteve boas resenhas na Sounds e na Melody Maker, mas não vendeu muito. É curioso, porque Neal Kay, da Soundhouse, costumava tocá-lo, mas o disco já tinha saído dois anos antes de ele levar para sua balada.” Adrian conta que escutou falar do Iron Maiden pela primeira vez por volta de 1977. “Devo tê-los assistido antes de o Davey entrar, mas foi só quando ele se juntou à banda que passei a reparar nela.” Porém, quando Dave voltou mais tarde para o Urchin, após sua desavença com Dennis Wilcock, “achei que os caras fossem malucos, pois até eu podia ver que o estilo de tocar do Davey se enquadrava mais no Maiden do que no Urchin, que era mais hard rock, com um pouco de groove. Curtíamos umas canções de rock mais pegajosas.” Dave tocaria no próximo (e último) single do Urchin, “She’s a roller”, que foi lançado no início de 1980, mas, àquela altura, ele já tinha deixado a banda para voltar ao Maiden. Quando recebeu um telefonema de Steve Harris pouco depois do segundo single, perguntando se também teria interesse de se juntar ao Maiden, Adrian admite que se sentiu muito tentado. “Fumei uns dois maços de cigarro pensando naquilo. Havia boas críticas sobre o Maiden nas revistas musicais e muito buchicho rolando. Acho que eles estavam prestes a fechar o contrato com a EMI, o que teria significado salários adequados e tudo isso, coisa que me teria feito muito bem. Mas acabei recusando a oferta. Tinha de ser assim. Mesmo. Nós tínhamos nosso ônibus para excursionar e um contrato. Após pensar no convite por algumas horas, telefonei para Steve e disse: ‘Obrigado pela oferta, mas vou continuar com o que estou fazendo’.” Foi uma decisão da qual, conforme admite hoje, ele se arrependeria, já que no ano seguinte o Urchin se separou, e o primeiro single do Maiden e seu álbum foram catapultados para o topo das paradas. “Lembro-me de ter trombado com Dave durante um show em algum lugar, e ele parecia bastante próspero. Não rico, mas... realizado. Estava usando roupas novas de couro e parecia bastante feliz,