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da destruição celular, que podem se espalhar pela cóclea, determinando lesão de células ciliadas o que, por sua vez, levará ao estabelecimento de disacusia sensorial, facilmente identificada no exame audiométrico (1). Os reflexos estapédicos podem se encontrar presentes, porém o que mais chama a atenção para o diagnóstico de otosclerose é o alto índice de reconhecimento de fala, por vezes incompatível com o grau de perda auditiva identificado (3). Eventualmente as enzimas liberadas podem atingir o labirinto posterior, determinando também vertigens, muito menos severas que as lesões cocleares e reversíveis, mas isto é muito mais raro. Uma terceira forma clínica é a chamada otosclerose mista, que envolve características das duas outras formas: ocorre a fixação da platina do estribo na janela oval, associada à lesão sensorial coclear decorrente da ação enzimática. Ao exame audiométrico, identifica-se disacusia mista, também com alto índice de reconhecimento de fala, e com ausência de reflexos estapédicos. TERAPÊUTICA A terapêutica poderá ser distinta para cada forma clínica de otosclerose. Nos quadros de otosclerose clínica, manifestados por disacusia condutiva, o tratamento cirúrgico pode proporcionar grande benefício auditivo (4,6). Para os pacientes que apresentam alguma contra-indicação ao tratamento cirúrgico ou que não querem se submeter a este, indica-se o uso de próteses auditivas, habitualmente com excelentes resultados. Para os pacientes com otosclerose coclear, não há nenhum benefício com qualquer tratamento cirúrgico, sendo indicado o emprego de próteses auditivas. Existem tratamentos empíricos medicamentosos que visam reduzir o tempo de reabsorção óssea, acelerando a fase otosclerótica na tentativa de redução do grau de perda auditiva sensorial que pode se estabelecer. Não existe, entretanto, qualquer comprovação científica de benefício destes tratamentos. Consideração especial deve ser dirigida aos casos de otosclerose mista. Como há um componente sensorial, existe a tendência de se indicar o emprego de próteses auditivas. Deve-se considerar, entretanto, o grau de perda determinado por cada componente. Existem casos em que o determinante principal da perda auditiva é condutivo, e o tratamento cirúrgico pode reduzir os limiares para níveis de audição social normal (via óssea em 30 dB), onde não se faz necessária a prótese auditiva para a maioria dos pacientes. Ainda que a via óssea esteja rebaixada, às vezes o tratamento cirúrgico permite a adaptação da prótese auditiva, no pós-operatório, com maior facilidade, devido à melhora nos limiares auditivos (o paciente passa a apresentar apenas o componente sensorial e não mais um agravamento devido ao componente condutivo). Obviamente existem casos de otosclerose mista em que o tratamento preferencial será a adaptação da prótese auditiva. 45 1. Hungria H. Otosclerose: tratamento cirúrgico. In: Hungria H, editor. Otorrinolaringologia. 8a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p.506-22. 2. Lopes Filho OC. Otospongiose coclear. In: Lopes Filho OC, Campos CAH. Tratado de otorrinolaringologia. São Paulo: Roca; 1994. p.794-803. 3. Lopes Filho OC. Imitância acústica: aplicações clínicas. In: Lopes Filho OC, editor. Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca; 1997. p.171-200. 4. Rocha RM. Tratamento cirúrgico da otosclerose. In: Lopes Filho OC, Campos CAH. Tratado de otorrinolaringologia. São Paulo: Roca; 1994. p.804-13. 5. Schucknecht HF. Disorders of growth, metabolism and aging. In: Schucknecht HF. Patology of the ear. Boston: Harvard University; 1974. 6. Shambaugh Jr GE, Glasscoock ME. Surgery of the ear. Philadelphia: WB Saunders; 1980. Sempre se deve considerar a queixa do paciente e suas necessidades auditivas. Certamente um músico apresentará queixas auditivas mais precoces e refinadas do que um motorista, já que as necessidades auditivas do primeiro são muito maiores. É muito provável que, com a mesma forma de apresentação da otosclerose e com o mesmo grau de perda auditiva, o primeiro sujeito necessite de uma prótese auditiva muito antes do segundo. A timpanosclerose é uma alteração do colágeno da orelha média. O aumento de fibras colágenas determina uma redução no número de células e na sua irrigação sangüínea, seguida por degeneração hialina destas fibras. As áreas de degeneração hialina podem sofrer deposição de cálcio, com formação de cartilagem e de osso (1,2). Não se conhecem os reais mecanismos patológicos da timpanosclerose. Sabe- se que quaisquer processos traumáticos e infecciosos da orelha média contribuem para sua instalação, incluindo a colocação de tubos de ventilação para tratamento da otite média secretora (3). É muito comum a associação com outras doenças da orelha média, como a supuração crônica, a otosclerose, o granuloma de colesterol e o colesteatoma. Parece que os processos inflamatórios tendem a desencadear o quadro de timpanosclerose, sendo sua extensão diretamente relacionada à duração do processo inflamatório (3-5). A timpanosclerose pode acometer diferentes estruturas, sendo mais freqüente na membrana timpânica, mas pode ser identificada também nos tendões dos músculos estapédio e tensor do tímpano, nos ligamentos dos ossículos, nas articulações incudo- maleolar e incudo-estapediana e até mesmo nas paredes da cavidade timpânica. Algumas vezes, o quadro de timpanosclerose é tão extenso que chega a envolver os ossículos, englobando-os às paredes ósseas da cavidade timpânica, formando um bloco único. Em sua grande maioria, os quadros de timpanosclerose estão confinados à membrana timpânica, em placas únicas ou múltiplas, não sendo determinantes de alterações auditivas à exceção dos quadros mais extensos, com envolvimento de grande parte da membrana (Figura 6). É muito comum a identificação de placas de timpanosclerose na membrana timpânica como achados de exames, sem outras queixas do paciente (1,3,5). Também é freqüente se observar a distribuição da timpanosclerose ao longo do trajeto migratório do tubo de ventilação após sua extrusão. Alguns quadros mais raros de timpanosclerose estão limitados ao envolvimento da cadeia ossicular, sem comprometimento da membrana timpânica, que se apresenta normal. Tal quadro pode simular otosclerose clínica, identificando- TIMPANOSCLEROSE Capítulo VIII 47 Edson Ibrahim Mitre 1. Almeida CIR. Timpanosclerose. In: Lopes Filho OC, Campos CAH. Tratado de otorrinolaringologia. São Paulo: Roca; 1994. p.776-84. 2. Gundersen T. Tympanosclerosis. Acta Otolaryngol 1965;60(6):506-14. 3. House WF, Sheehy JL. Tympanosclerosis. Arch Otolaryngol (Chic) 1960;72:308-12. 4. Joseph RB, Gordon S. Tympanosclerosis. Arch Otolaryngol (Chic) 1963;77:186-90. 5. Sheehy JL, House WF. Tympanosclerosis. Arch Otolaryngol (Chic) 1962;76:151-7. se disacusia condutiva com ausência de reflexo estapédico e alto índice de reconhecimento de fala, acabando por sugerir, erroneamente, o tratamento cirúrgico. A diferença fundamental está nos antecedentes hereditários no caso de otosclerose e na história de otites na timpanosclerose. Quando se trata da identificação eventual da timpanosclerose, sem maiores sintomas, não há tratamento a ser realizado. Quando se faz algum procedimento cirúrgico da orelha média, por outros diagnósticos, geralmente se removem as placas de timpanosclerose no mesmo tempo cirúrgico, sobretudo as da membrana timpânica. A indicação cirúrgica absoluta se faz somente nos raros casos de comprometimento extenso levando a alterações auditivas e, ainda assim, com muita cautela para não desencadear o agravamento do quadro e até mesmo invasão labiríntica com possível disacusia sensório-neural, o que, felizmente, é raro. Figura 6. Placas de timpanosclerose na membrana timpânica. TUMOR GLÔMICO Também conhecido como paraganglioma ou quimodectoma não-cromafim, o tumor glômico surge a partir do tecido glômico normal,