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explica sobre a inexistência do fato, segundo o autor, “é a hipótese das mais seguras para a absolvição, pois a prova colhida está a demonstrar não ter ocorrido o fato sobre o qual se baseia a imputação feita pela acusação”. Após analisarmos esses fatores não temos dúvida sobre o caso e, torno a repetir, em momento algum que Capitu foi pega cometendo o adultério, desta forma, não podemos condenar uma cidadã apenas por boatos ou loucuras por conta de ciúmes, pois a falta de provas é visível, para isso, devemos entender o que seria prova, segundo Rodrigo Vaz Silva (2015, s. p.) o “termo prova origina-se do latim - probatio -, que significa ensaio, verificação, inspeção, exame, argumento, razão aprovação ou confirmação. Dele deriva o verbo provar - probare -, significando ensaiar, verificar, examinar”. Após este conceito vemos que Bentinho não tem prova alguma contra Capitu, a falta de materialidade neste caso é gigante e dessa forma não podemos punir alguém por simples boatos e lorotas, porém, Bentinho mantêm sua desconfiança quando diz “uma cousa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me” (ASSIS, 2015, p. 303), porém, são coisas de sua imaginação. 37 Consta ressaltar que Bentinho além de um ciúme possessivo, poderia ele estar sofrendo de esquizofrenia, doença psicótica que causa alucinações, delírios e mudanças comportamentais, em uma conversa com José Dias, diz ele “uma fada invisível desceu ali, e me disse em voz igualmente macia e cálida: ‘Tu serás feliz, Bentinho; tu vais ser feliz’”. (ASSIS, 2015, p. 216), e completa perguntando ao amigo “você ouviu?”, o amigo questiona, “ouviu o quê?”, “ouviu uma voz que dizia que eu serei feliz?” (Idem). Dessa forma como podemos levar em consideração a acusação de um sujeito que, com tal doença, conforme determinado pelo Art. 3º do Código Civil, torna-se incapaz, assim sendo, não podemos nem aceitar tal denúncia. Art. 3º - São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. É de conhecimento geral que Capitu não teve sequer a chance de se defender, pois se mudou para a Suíça: “pegamos em nós e fomos para a Europa, não passear, nem ver nada, novo nem velho; paramos na Suíça” (ASSIS, 2015, 292), porém a distância não poderia ser empecilho para sua defesa, no entanto o destino fora mais trágico, Capitu faleceu. Trajava à moderna naturalmente, e as maneiras eram diferentes, mas o aspecto geral reproduzia a pessoa morta. Era o próprio, o exato, o verdadeiro Escobar. Era o meu comborço; era o filho de seu pai. Vestia de luto pela mãe; eu também estava de preto. Sentamo-nos (ASSIS, 2015, 297). Bentinho a enchia de acusações e só falava inverdades sob sua pessoa, e que sua raiva contra Capitu o fez lhe desejar a morte, quando diz “o último ato mostrou-me que não eu, mas Capitu devia morrer“ (ASSIS, 2015, p. 281), assim, em momento algum conseguiu ter a chance de defender seu direito amplamente segurado pela nossa Constituição Federal: Art. 5. Inciso LV: Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (BRASIL, 1988). 38 A vitima usa como suposta prova a forma como Capitu se portou no enterro de seu provável amante Escobar, “Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas” (ASSIS, 2015, p. 263), fato esse que não pode ser levado adiante por respeito juízo. Pois Capitu era amiga de Escobar, portanto sentiu a morte de seu amigo, nesse momento Capitu assume a posição para consolar sua amiga Sancha, “Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral” (Idem), dando seus ombros a ela e tentando acalmá-la, vale lembrar a proximidade que os casais tinham, Capitu olhava para o defunto com olhar de preocupação pensando em como sua querida amiga iria criar o filho deixado por Escobar, “quando tornou, trazia os olhos vermelhos; disse- nos que, ao mirar o filho dormindo, pensara na filhinha de Sancha, e na aflição da viúva” (Ibidem, p. 270). Dessa forma, não podemos sequer apontar vestígios de adultério no fato em questão, pois nada mais habitual sofrer pela morte de um amigo querido e demostrar preocupação com o futuro de sua estimada amiga. A vítima contesta ainda que Ezequiel filho do suposto amante de Capitu tinha sua feição, “aproximei-me de Ezequiel, achei que Capitu tinha razão; eram os olhos de Escobar” (Assis, 2015, p. 274), da mesma forma que “nem só os olhos, mas as restantes feições, a cara, o corpo, a pessoa inteira, iam-se apurando com o tempo” (Ibidem, p. 276). Porém, tal afirmação não deve sequer ser apurada, pois sabemos que uma mãe nem por brincadeira iria dissimular e fingir que tal filho veio de outro pai, se não seu esposo. Muito pelo contrário, Capitu nunca sequer tocou no assunto de que determinada criança fosse filho de Escobar, mais uma falta de materialidade a esta acusação. Da mesma forma, poderíamos colocar em questão a filiação de Ezequiel, seria ele filho de Capitu e Bentinho? Já que não temos provas sobre o período gestacional de Capitu, sendo Bento um homem apaixonado e com desejos enormes por um filho, não seria injúria que ele dissesse sobre sua felicidade em ver a gestação e as transformações físicas e mentais que se ocorre, em nenhum momento Bento narra esta passagem. Assim, podemos afirmar que Ezequiel pode ser um filho adotivo, “Ezequiel, quando começou o capítulo anterior, não era ainda gerado; quando acabou era cristão e católico” (Ibidem, p. 235). Após analisarmos todas as acusações sob Capitu, não nos resta dúvida em apelar pela inocência da mesma, pois além de vários direitos feridos, falta o 39 essencial para uma condenação que é a prova material, prova esta que não se tem, como explanado, essas acusações não passam de uma loucura imaginaria de Bentinho por conta de um ciúme possessivo, que se contradizia e não sabia a veracidade dos fatos, cabe a vitima o ônus da prova, já que partiu dele acusações tão dantescas como esta. Não resta outra coisa se não pedir a absolvição de Capitu frente as acusações, pois somente com sua absolvição mostraremos que a Justiça é viva no meio social, manteremos os laços da moralidade entrelaçados. LEI Nº 11.106/2005 No ordenamento jurídico têm-se as chamadas fontes do direito que são jurisprudência, leis, decretos e costumes, e é esse o foco da referida lei que também é chamada de “Lei dos Bons Costumes”, para entendermos mais sobre tal caso devemos analisar e saber o que seriam os bons costumes. Costumes seriam as regras impostas pela sociedade de acordo com a vivência prática no meio social e que após essa prática tal convicção acaba se tornando obrigatória. Para Assis e Kümpel (2011, p. 20) os “costumes, crenças, leis e instituições aparecem então como técnicas de natureza intelectual que estão a serviço da vida social e a tornam possível”. Os autores completam dizendo que “os costumes dos povos têm significação e coerência; são sistemas lógicos perfeitamente conectados e não vestígios de uma cultura que não evoluiu” (Ibidem, p. 196).