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Meio Ambiente - Sociologia - Justiça Ambiental

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA & ANTROPOLOGIA
DISCIPLINA: MEIO AMBIENTE
PROFESSOR: HORACIO ANTUNES DE SANT ANA JUNIOR
CURSO: CIÊNCIAS SOCIAIS – 2016.2
ALUNO: JEFFERSON DAYVID LIMA DE SENA ROSA; FlÁVIA PATRÍCIA DA COSTA SILVA
JUSTIÇA AMBIENTAL E SEGREGAÇÃO SOCIO-ESPACIAL NOS AGLOMERADOS URBANOS: CONFLITOS AMBIENTAIS ORIGINADOS A PARTIR DA DEFICIÊNCIA DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ESSENCIAIS POR PARTE DO PODER PÚBLICO NO BAIRRO TURIUBA, MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE RIBAMAR/MA.
Jefferson Dayvid Lima de Sena Rosa
Flávia Patrícia da Costa Silva
RESUMO
A partir de um breve trabalho de campo realizado no bairro Turiuba, localizado no município de São José de Ribamar/MA, a presente pesquisa aborda a relação entre segregação, degradação da paisagem urbanística e justiça ambiental no espaço urbano, bem como os conflitos ambientais distributivos gerados a partir da má gestão de políticas públicas ambientais, notadamente, o serviço de coleta de lixo realizado pela Administração Pública Municipal de São José de Ribamar. Utilizando como referencial principal de análise a noção de justiça ambiental, buscou-se fazer um corte epistemológico em torno da dinâmica de ocupação do solo urbano por camadas sociais menos favorecidas e os impactos ambientais da desigualdade de acesso a determinados serviços essenciais. O artigo tem o condão de demonstrar que, embora diretamente responsáveis pela degradação das paisagens tipicamente urbanas das cidades, os pobres não podem ser os únicos responsáveis pelos impactos causados, tampouco pode ser-lhes atribuído enquanto classe social, a característica de grupos humanos desprovidas de educação ambiental, pura e simplesmente. A ausência de escolhas e a exclusão a que estão submetidos os pobres levam toda a sociedade e, principalmente o poder público, ao patamar de responsável pela degradação do espaço urbano.
PALAVRAS-CHAVES: SEGREGAÇÃO URBANA; DEGRADAÇÃO
AMBIENTAL; ESPAÇO URBANO; JUSTIÇA AMBIENTAL
INTRODUCÃO
		
	Não é recente o fato de que o crescimento urbano passou a ser objeto de estudos científicos por parte de intelectuais das várias áreas do conhecimento, bem como objeto de políticas públicas executadas por agências governamentais e privadas, preocupadas em gerir toda sorte de transformações socioambientais causadas por tal crescimento, sobretudo quando ele ocorre em níveis qualitativos diferentes daqueles dos investimentos direcionados aos espaços habitacionais urbanos.
	No Brasil, o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000) aponta que mais de 81% (oitenta e um por cento) da população vive em cidades. Tal percentual é alarmante se comparado com os dados de 1940, quando apenas 32% (trinta e dois por cento) da população residia nas cidades brasileiras. O crescimento urbano no país não ocorreu simplesmente em função do crescimento vegetativo. Pelo contrário, em 60 (sessenta) anos, houve uma total inversão da concentração populacional do campo para as cidades em razão do forte fluxo migratório. Fernandes (2006) destaca que esse processo é comum a toda a América Latina, que, com 75% (setenta e cinco por cento) da população vivendo em cidades, é a região mais urbanizada do mundo.
	No bojo dessa discussão, encontra-se o problema do gerenciamento e prestação de serviços de natureza essencial para os agrupamentos urbanos, notadamente o serviço de coleta de resíduos sólidos, bem como os diferentes níveis de responsabilidade distribuídos por setores distintos da sociedade. A intensa concentração populacional nas cidades em um curto período aliada à inca­­pacidade das políticas de desenvolvimento urbano em permitir um justo acesso ao solo e à condições dignas de moradia conformam a equação da segregação sócio-espacial e da degradação ambiental que hoje se apresenta em milhares de cidades, mormente naquelas situadas em países da periferia do capitalismo.
	O intuito deste trabalho, obviamente não é se debruçar sobre a complexa rede de relações e dinâmicas na qual está inserido o contexto urbano. A intenção, portanto, é lançar um olhar sociológico, -- a partir de um recorte geográfico específico e sob a perspectiva da justiça ambiental – sobre as relações de segregação sócio-espacial enquanto produto do desenvolvimento urbano e como ela é refletida na execução de políticas públicas e no cotidiano das pessoas de um determinado espaço urbano. Nesse sentido, a constatação da deficiência na gestão de resíduos sólidos por parte do poder público, assim como a falta de investimentos na área de conscientização ambiental criam condições propícias para o surgimento de conflitos sociais cada vez mais distribuídos localmente no interior dos centros urbanos.
DESENVOLVIMENTO URBANO, SEGREGAÇÃO SOCIO-ESPACIAL E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
	O desenvolvimento das cidades e o crescimento dos espaços urbanos são características próprias do capitalismo e como tal, também possuem suas contradições próprias. Isso fica visível quando observada a forma desordenada com que são ocupados os espaços urbanos, quase sempre criando grandes bolsões de pobreza que concentram uma série de problemas sociais e administrativos relacionados principalmente ao mau funcionamento de serviços de natureza essencial, tais como saneamento básico, infra estrutura, transporte e gerenciamento de resíduos sólidos.
	A partir desse movimento constante de modificação desigual da paisagem urbanistica, observa-se que existe em andamento, um duplo movimento que muitas vezes se confunde como um só, isto é, desigualdade e segregação. Enquanto a desigualdade representa o desnível entre os mais ricos e os mais pobres no que tange à renda e ao acesso a serviços básicos (POCHMANN; AMORIN, 2003), a segregação “é um processo segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros da metrópole” (VILLAÇA, 2001, p. 142).
	Para Villaça (2001), a segregação é um processo dialético que possui dois pólos de segregados. No primeiro, estariam as classes que voluntariamente selecionam áreas da cidade para ocupar de forma concentrada. No outro extremo, encontram-se as camadas desprovidas de opção, submetidas aos espaços não desejados pelas elites urbanas.
	O autor identifica como padrão mais conhecido de segregação da metrópole brasileira o “centro versus periferia”. O centro, dotado de melhores condições de qualidade de vida, com mais infra-estrutura e serviços urbanos, públicos e privados, seria ocupado pelas classes de mais alta renda. A periferia, subequipada e longínqua, estaria identificada com ocupações predominantemente de baixa renda. Aqui, percebes-se claramente como o espaço atua enquanto mecanismo de exclusão. É evidente que esse padrão “centro versus periferia” não é absoluto. Existe periferia no centro e centro na periferia. Não é incomum, por exemplo, a existência de aglomerados irregulares de baixa renda em bairros nobres.
	A segregação sócio-espacial, em seu pólo involuntário, representa exclusão de uma série de serviços urbanos públicos e privados.
	A solução do problema da minoria rica se faz mais facilmente e, não raramente, com os investimentos pesados na reorientação dos sistemas de drenagem, construção de muros de arrimo, etc., em detrimento do investimento no saneamento das áreas ocupadas pela população pobre. Reforça-se, portanto, o grupo dos não-atendidos pelos benefícios dos investimentos urbanos (GUERRA e CUNHA, 2005, p. 28).
	Em razão da segregação sócio-espacial verificada nas cidades, e com mais veemência nas grandes metrópoles, a população mais pobre fica desprovida não somente dos serviços básicos de infraestrutura e equipamentos urbanos. Sofre também com a ausência de condições dignas de moradia, encontrando, em muitas situações, uma única alternativa: ocupar irregularmente áreas insalubres ou mesmo aglomerados habitacionais criados em locais que não dispõem de infraestrutura suficiente para absorver a demanda dos
processos de produção e consumo típicos dos centros urbanos.
	Diante dessa constatação, Guerra e Cunha (2005, p. 27) concluem que “os problemas ambientais (ecológicos e sociais) não atingem igualmente todo o espaço urbano. Atingem muito mais os espaços físicos de ocupação das classes sociais menos favorecidas do que os das classes mais elevadas”.
	Para Souza (2000, p. 115):
A mobilidade espacial, que é basicamente função do poder aquisitivo, leva a que, normalmente, os que mais ganham com uma atividade que exerce um impacto ambiental negativo sejam igualmente os que, ao menos de modo direto e a curto e médio prazos, menos sofram com os prejuízos ambientais da atividade em questão.
	No que tange à produção e gerenciamento de resíduos sólidos no ambiente urbano, não obstante existam argumentos moralistas que insinuam um certo “mau hábito” das populações que ocupam áreas periféricas e que, por conta disso, são consideradas como os principais agentes causadores dos impactos ambientais derivados do acúmulo de lixo nas vias públicas, galerias e terrenos baldios; o fato é que esse processo de acumulo ocorre em um contexto de vida caracterizado por carências materiais e precariedade de serviços públicos e privados. “As estratégias de sobrevivência dos pobres urbanos, que podem ser causas imediatas de impactos ambientais negativos, são, elas próprias, condicionadas por determinantes estruturais decorrentes da ‘lógica’ do modelo social capitalista” (SOUZA, 2000, p. 136).
	A relação sociedade-natureza deve ser analisada por um prisma de desigualdade social. Essa constatação leva Lemos (2005, p. 52) a defender que não se pode assumir uma
(…) postura condenatória e de responsabilização apenas do comportamento dos pobres, ou excluídos, e que coloque apenas sobre seus ombros o ônus da degradação ambiental, haja vista que constatações empíricas mostram que os ricos degradam mais o ambiente do que os pobres (...).
	Sem romantizar ou idealizar a população de baixa renda, é preciso reconhecer que os modelos de consumo são também por ela reproduzidos. Tal reconhecimento não exime os pobres de responsabilidade sobre a degradação do meio ambiente urbano em razão do mau gerenciamento de resíduos sólidos, por exemplo. Ocorre, contudo, que a degradação promovida pelas camadas de renda média e alta, impulsionadas por um modelo capitalista de consumo excessivo, gera também impactos negativos imediatos para a diminuição da qualidade de vida de toda a cidade, no entanto, percebe-se a existência de certo grau de privilégios quanto ao usufruto de serviços públicos básicos, no caso de coleta e gerenciamento de resíduos solidos, entre outros serviços de natureza fundamental
	Embora a segregação sócio-espacial confira privilégios às classes média e alta, os pobres da cidade possuem as mesmas necessidades humanas e anseiam por locais de moradia que lhes proporcionem maiores vantagens. Como a disputa pautada pelo critério do poder aquisitivo exclui a população menos privilegiada das áreas de ocupação privilegiadas e com maior eficiência das políticas publicas na cidade, restam-lhes os espaços ambientalmente frágeis e distantes dos ditos centros econômicos e administrativos da cidade e, por essa razão classificados como periféricos.
	Frente ao exposto, é inevitável concluir que as cidades brasileiras estão muito longe de alcançarem patamares de sustentabilidade igualmente distribuídos entre as diferentes classes que compõem o cenário urbano. Mais grave do que isso é a constatação de que o espaço urbano no Brasil é um espaço de promoção de injustiça ambiental.
BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA NOÇÃO DE JUSTIÇA AMBIENTAL
	O conceito de Justiça Ambiental, hoje apropriado por diversos cientistas sociais, surgiu a partir de lutas pelo reconhecimento e ampliação de direitos civis articuladas com reivindicações acerca da qualidade ambiental de comunidades negras dos Estados Unidos da América. Embora tenha havido, desde o final da década de 1960, tentativas de conjugação entre o movimento negro ou de trabalhadores com as questões ambientais, o marco amplamente apontado como o início do movimento pela Justiça Ambiental é o ano de 1982. No referido ano, a comunidade de Afton, no condado de Warren, estado americano da Carolina do Norte, foi palco de inúmeros protestos que levaram a mais de 500 prisões. O foco das reivindicações foi a descoberta de que aquela comunidade, constituída em sua maioria por população afro-descendente, fora construída sob um aterro químico contendo bifenil policlorado.
	Em 1991, como resultado da I Cúpula Nacional de Lideranças Ambientalistas de Povos de Cor, realizada em Washington, foi lançado o documento “17 princípios da justiça ambiental”. Durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, o documento foi amplamente divulgado de forma que o movimento pela justiça ambiental ganha eco em diversas partes do mundo.
	Para Acselad, Herculano e Pádua (2004), a justiça ambiental tem ganhado novas interpretações no Brasil, indo muito além do debate acerca da contaminação química e da questão racial.
	As gigantescas injustiças sociais brasileiras encobrem e naturalizam um conjunto de situações caracterizadas pela desigual distribuição de poder sobre a base material da vida social e do desenvolvimento.
A injustiça e a discriminação, portanto, aparecem na apropriação elitista do território e dos recursos naturais, na concentração dos benefícios usufruídos do meio ambiente e na exposição desigual da população à poluição e aos custos ambientais do desenvolvimento (ACSELRAD; HERCULANO; PÁDUA, 2004, p. 10).
	
	Muitos movimentos sociais constituídos no Brasil já traziam no bojo de suas reivindicações pautas relativas à questão ambiental, mas não havia uma organização ou teorização em torno do conceito de justiça ambiental. A partir de 2001, contudo, fruto do encontro de organizações não governamentais, sindicatos de trabalhadores, ascendente e pesquisadores universitários no I Colóquio Internacional sobre Justiça Ambiental, Trabalho e Cidadania, realizado no campus da Universidade Federal Fluminense em Niterói, foi criada a Rede Brasileira da Justiça Ambiental (RBJA). De acordo com essa rede, compreende-se por justiça ambiental:
	O conjunto de princípios e práticas que:
a - asseguram que nenhum grupo social, seja ele étnico, racial ou de classe, suporte uma parcela desproporcional das conseqüências ambientais negativas de operações econômicas, de decisões de políticas e de programas federais, estaduais, locais, assim como da ausência ou omissão de tais políticas;
b - asseguram acesso justo e eqüitativo, direto e indireto, aos recursos ambientais do país;
c - asseguram amplo acesso às informações relevantes sobre o uso dos recursos ambientais e a destinação de rejeitos e localização de fontes de riscos ambientais, bem como processos democráticos e participativos na definição de políticas, planos, programas e projetos que lhes dizem respeito;
d - favorecem a constituição de sujeitos coletivos de direitos, movimentos sociais e organizações populares para serem protagonistas na construção de modelos alternativos de desenvolvimento, que assegurem a democratização do acesso aos recursos ambientais e a sustentabilidade do seu uso. (REDE BRASILEIRA DE JUSTIÇA AMBIENTAL, 2001)
	Depreende-se que a justiça ambiental está calcada em quatro pilares básicos, que podem ser assim resumidos: 1) distribuição igualitária das conseqüências ambientais negativas decorrentes das atividades humanas; 2) equidade no acesso aos recursos naturais; 3) democracia participativa e direito à informação; 4) sustentabilidade.
	Cabe salientar, por oportuno, que tais valores não estão restritos exclusivamente ao âmbito das mobilizações sociais, encontrando paralelos importantes no ordenamento jurídico pátrio. Isso pode ser percebido ao longo do capítulo referente aos direitos fundamentais bem como no capítulo relativo ao meio ambiente, onde o art. 225 da Carta Magna
estabelece que a ele todos têm direito, reconhecendo-o como essencial para a sadia qualidade de vida das presentes e futuras gerações. Ao consagrar a solidariedade intergeracional, a Constituição não apenas impõe que sejam respeitados os direitos daqueles que ainda não nasceram, mas também solidifica o princípio da não discriminação entre a atual geração. Isso porque, seria impossível defender o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado para uma parcela da população, uma vez que tal direito apresenta-se como difuso e indivisível.
	A gestão democrática das cidades, corolário da democracia participativa, tem sido apontada como a possibilidade de efetiva participação da população nas decisões do poder público no que se refere à política urbana. Nesse sentido, a liberdade de informação, o controle social e a possibilidade de manifestação de opinião são fundamentais para sua efetivação. Do ponto de vista da justiça ambiental, a participação popular é um componente fundamental para a constituição de políticas de preservação e recuperação ambiental, bem como para o direcionamento de recursos públicos para evitar que uma parcela da população suporte conseqüências desproporcionais decorrentes da urbanização.
	A justa distribuição dos benefícios e ônus oriundos da urbanização, em geral, é entendida como sendo a possibilidade de recuperação dos investimentos do poder público de que tenha resultado a valorização de imóveis urbanos (SUNDFELD, 2006).
	Entretanto, sem abandonar essa concepção, é necessário interpretar esse princípio com um outro sentido complementar ao primeiro. A justa distribuição dos benefícios e ônus da urbanização impõe não apenas que toda a coletividade seja responsável pelo custeio das obras públicas e que colha de forma igualitária a valorização econômica decorrente dessas obras. Nem todos os benefícios revertem-se em valorização dos imóveis privados, havendo também ganhos para a qualidade de vida em função da preservação ambiental. É importante, assim, que toda a população possa ter acesso a áreas saudáveis para estabelecer seu local de moradia, realizar seu lazer ou desenvolver seu trabalho.
	A justiça ambiental, como movimento e princípio, insere-se, portanto, também na realidade jurídica brasileira, em especial no que tange à problemática urbana.
ESTUDO DE CASO: SEGREGAÇÃO SOCIO-AMBIENTAL NO BAIRRO TURIUBA, MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE RIBAMAR/MA
	A ineficiência na execução de políticas públicas ligadas a serviços básicas como educação, segurança pública, transporte e principalmente manutenção de um meio ambiente saudável, não é atribuída exclusivamente às populações pobres que habitam zonas de ocupação irregular do espaço urbano, mas também àquelas que passaram a viver em áreas legalmente projetadas com objetivo de fornecer unidades habitacionais compactas para pessoas de baixa renda, tais como programas governamentais de habitação e moradia.
	Quase sempre, esses projetos de habitação coletiva são distribuídos por áreas limítrofes em relação à sede do município e muitas vezes não atendidas pela infraestrutura urbana daquela cidade, criando um ambiente de tensão permanente responsável pelo surgimento de conflitos sociais e protestos junto aos órgãos públicos encarregados do planejamento, execução e fiscalização de políticas públicas relacionadas ao espaço urbano.
	O presente trabalho de pesquisa de campo, realizado a partir de um recorte geográfico que delimitou o Residencial Turiuba, situado no Município de São José de Ribamar, como referência para a observação e discussão de contradições e conflitos sociais inerentes ao processo de segregação sócio-ambiental e injustiça ambiental, não tem o condão de realizar uma análise profundo e detalhada de toda a dinâmica das relações que se estabelecem no espaço urbano, menos ainda fazer considerações definitivas acerca dos conflitos ambientais que lá existem. O que se propôs foi a discussão dos conceitos gerais de justiça ambiental e segregação sócio-ambiental, entre outros, a partir do que vem acontecendo no cotidiano daquela comunidade em específico.
	Como já foi mencionado, a comunidade do Residencial Turiuba, com cerca de três mil pessoas, desde que foi inaugurado pelo Governo Federal como resultado do programa Minha Casa Minha Vida, vem sofrendo com a ineficiência na prestação de serviços essenciais, por parte do poder público em quase todas as áreas (educação, saúde, transporte, lazer), tendo o assunto, inclusive, sido veiculado na imprensa maranhense por diversas vezes.
	Dentre os serviços não prestados àquela comunidade, a deficiência nas políticas ligadas ao meio ambiente, notadamente no serviço de coleta de resíduos sólidos fornecido pela prefeitura, causam um impacto profundo no cotidiano daquelas pessoas e do próprio desenvolvimento do bairro. Isso porque os processos de produção e consumo daquela localidade, independentemente da mesma estar situada em uma região de periferia, isto é, distante dos centros comerciais e administrativos do município, seguem o mesmo padrão de produção e consumo de bens materiais praticados nas cidades e por conseguinte os níveis de produção de rejeitos e resíduos sólidos também seguem o mesmo padrão das áreas centrais da cidade.
	À medida que o serviço de coleta de lixo não absorve a demanda daquele bairro, a paisagem urbana passa a sofrer transformações físicas que refletem diretamente no psicológico das pessoas que residem ou circulam pela região. O acúmulo de lixo nas avenidas, calçadas e terrenos baldios, na sua grande maioria de origem doméstica, além de proporcionar um ambiente insalubre e propício à reprodução de animais vetores de doenças, tais como insetos, cães, roedores entre outros, constitui-se em uma agressão direta à saúde pública daquela comunidade e revela um descompasso entre o que é planejado administrativamente e a demanda real daquele espaço urbano.
	Ao que parece, não é somente na paisagem urbanística e na saúde física das pessoas que os efeitos negativos do acúmulo de lixo se apresentam. Isso porque, a ralidade vivida naquele bairro passa a ser uma realidade de precariedade ou mesmo de total escassez de bens e serviços essenciais, forçando, em certa medida, os moradores a conviverem lado a lado com aquilo que já foi rejeitado e expulso de suas casas, por constituírem risco à saúde humana e do meio ambiente. Ser obrigado a viver ao lado do seu próprio rejeito, bem como das demais pessoas, de certa maneira é ser alijado de seus direitos humanos fundamentais e assumir uma posição que lhe é imposta de “indínvíduo humano desprovido de noções básicas de higiene e estética” e por conseguinte, carente de programas de educação ambiental.
	Apesar do caráter superficial desta pesquisa, ficou evidente que a parcela de responsabilidade atribuída, de modo geral, aos moradores do Residencial Turiuba, em relação à forma como vem sendo gerenciado os rejeitos daquele bairro é bem menor do que parece. Ficou evidente também que a noção de higiene e educação ambiental, tal como a conhecemos, também é compartilhada por seus moradores, mas que a omissão do poder público em absorver a demanda específica daquele bairro transforma negativamente a paisagem urbanística e impõe um modo de vida depreciativo às pessoas vivem naquele local.
	No que tange aos conflitos ambientais originados a partir dessa carência de serviço, no curto tempo em que foi realizada essa pesquisa, não foram identificadas mobilizações organizadas da comunidade em forma de protestos públicos, audiências públicas ou manifestações de sensibilização específica para os problemas locais, no entanto foi apurado que existem solicitações formais reiteradas ao órgão de fiscalização do poder público, isto é, ao Ministério Público.
	Verificou-se ainda que existem, pelo menos um Inquérito Civil Público tramitando na Promotoria de Justiça Especializada de São José de Ribamar, que trata de problemas relacionados à ausência ou ineficiência de prestação de serviços essenciais no Residencial Turiuba, entre eles, o problema
do serviço de coleta de lixo realizado pelo poder público municipal. O fato chegou ao conhecimento do Ministério Público por meio da denúncia individual de um morador que no dia 13/11/2014 registrou reclamação (código.: 001545-506/2014) no setor de atendimento ao público da Promotoria de Justiça de São José de Ribamar com o seguinte resumo:
O solicitante deseja providencia acerca da falta de iluminação, no seu bairro Turiuba AV principal próximo a caixa d'água da caema tendo em vista ter ocorrido uma tentativa de estupro e assalto, embora já tenha procurado diversos meios para resolver o problema.
	De fato, a provocação ao Órgão Ministerial partiu de um só indivíduo, porém pode perfeitamente representar o descontentamento coletivo daquela população urbana, tendo em vista fazer referência direta a direitos de natureza difusa e coletiva, que por sua vez constituem-se em objetos legítimos de intervenção do próprio Ministério Público.
	Ocorre que, a partir do registro dessa notícia foi instaurada um procedimento próprio na Promotoria de Justiça Especializada em questões ambientais, a partir do qual, entre outras providências, foi determinado que fossem realizadas uma série de diligências para produção de relatórios circunstanciados que dessem conta da veracidade e detalhamento das informações noticiadas.
	Neste ponto, importante deixar registrado que o autor deste artigo produziu pessoalmente dois dos relatórios utilizados pelo Órgão Ministerial para instruir o Inquérito Civil citado, na qualidade de servidor público investido da função de cumprimento de diligências externas do Ministério Público.
	Dito isto, verificou-se no conteúdo dos relatórios, apesar do lapso temporal que os separa, poucas mudanças de caráter mais significativo no contexto geral da situação noticiada inicialmente por um morador descontente. Igualmente, verificou-se que nas entrevistas realizados com moradores do bairro Turiuba, exite um concesso geral acerca das condições de descaso por parte do poder público a que estão submetidas as pessoas que lá residem, quanto a isso, segue um trecho do primeiro relatório de uma vistoria realizada em 14 de abril de 2015 pelo Oficial do Ministério Público Francisco de Assis C. de Andrade:
	
(…) Durante a visita, verificou-se que a praça supracitada, encontra-se abandonada em fase de construção, não sendo verificado nenhuma placa de identificação.
No local foi constatado uma quadra de esporte e outra construção parecida com um galpão, todos inacabados.
Ao redor de todo o terreno da obra, existem postes de energia elétrica para iluminação pública, porém sem instalação de lâmpadas e fios.
Nas laterais do terreno foram instaladas barracas que funcionam como bares e comércios de alimento, aparentemente sem legalização ou autorização para a mercância.
Em conversa Informal, moradores da região relataram que não existe iluminação pública no local, as barracas funcionam o dia inteiro comercializando bebidas acoolicas e alimentos, como também emitindo poluição sonora como os aparelhos de som em alto volume.
Revelaram também, os moradores daquela localidade que as dependências inacabadas do local serve para uso e consumo de entorpecentes e desocupados. (...)
	
	Vale destacar que durante este breve levantamento de informações, foi solicitado pessoalmente à Promotora de Justiça Titular da Promotoria de Justiça Especializada de São José de Ribamar, Senhora Geraulides Mendonça Castro, autorização para acessar informações contidas nos autos do Inquérito Civil Público nº 003/2016 – PJE/SJR, a qual, prontamente disponibilizou o acesso necessário para a confecção desta pesquisa científica. Dessa forma, compulsando os autos do referido procedimento, verificou-se que, até o momento foram realizadas quatro diligências determinadas pelo Mínistério Público, acerca dos problemas existentes no bairro Turiuba e noticiados por meio de denúncia individual: Ordem de Vistoria nº 009/2015, cumprida em 14/04/2015; Ordem de Vistoria nº 004/2015, cumprida em 15 e 17/04/2015; Ordem de Vistoria nº 008/2016, cumprida em 26/04/2016 e Ordem de Vistoria nº 34/2016, cumprida em 19/12/2016, sendo que as duas últimas foram realizadas pelo autor desse trabalho de pesquisa quando do exercício regular das suas funções de servidor do Ministério Público.
	Outro fato importante a ser mencionado, a partir da análise dos autos do referido procedimento ministerial é que o lapso de tempo que separa a primeira vistoria realizada e a mais recente é cerca de um ano e oito meses; e que apesar disso, as condições iniciais de precariedade do serviços públicos e da infra estrutura do bairro que deram origem à provocação do Órgão Fiscalizador, ainda perduram, tal como pode ser verificado na reprodução do relatório de vistoria mais recente, produzido pelo Executor de Mandados do Ministério Público Jefferson Dayvid Lima de Sena Rosa, em 19/12/2016:
	(…) Ao chegar ao local, passei a percorrer as ruas, travessas e avenidas constatando que existe um acúmulo significativo de lixo distribuído nas acalçadas e canteiros. Em sua maioria, o lixo espalhado pelas ruas pareceu ser de origem deméstica, uma vez que tratava-se de sacos plásticos amontoados no canto das ruas ou sem frente às residências, tal como pode ser verificado nas fotos anexas.
	Passei então a ouvir alguns moradores locais aceca da coleta de lixo no respectivo bairro, entre os quais Danilson Carlso Carvalho da Silva, residente na Rua Domingos Silva Turiuba I, Qda. 05, o qual relatou o que segue: Que a coleta de lixo no bairro sempre foi um problema por não acontecer de forma regular; Que o caminhão do lixo não entra em todas as ruas, razão pela qual os moradores acumulam seus sacos de lixo nas calçadas das esquinas; Que o caminhão de coleta passa uma vez na semana, as vezes duas e as vezes nenhuma; Que o acúmulo de lixo deixa as ruas com mal cheiro e aumenta o número de insetos e animais.
	Segundo o relato da moradora Nidaura Serbas Costa, o lixo do bairro encontra-se há mais de um mês sem ser coletado, por isso as ruas estava tão sujas. A comerciante Natáliam almeida acrescentou que, o descaso da coleta de lixo no bairro já dura três meses e o problema não é culpa da comunidade, mas sim do poder público, pois as pessoas não tem onde jogar o seu lixo, o qual acaba sendo acumulado nas ruas.
	Considerando o que foi constatado e registrado pessoalmente por este oficial de diligências do Ministério Publico, concluo que o serviço de coleta de resíduos sólidos realizados no bairro Turiuba, nesta cidade, não tem sido suficiente para absorver a demanda daquele bairro, ocasionando um acúmulo significativo de lixo doméstico e outros rejeitos dispostos ao longo das calçadas e canteiros das ruas/avenidas, os quais, com a ação da chuva e de animais constituem-se em criadouros permanentes de mosquitos e outros vetores de possíveis doenças para os pedestres e demais pessoas que residem nas proximidades. Concluo ainda, que não existe consenso quanto à regularidade do processo de coleta de lixo feito por caminhão apropriado do poder público, mas que todas as pessoas ouvidas concordam que tal serviço está aquém do mínimo necessário. (...)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Embora o presente trabalho possa ter aparentado uma visão pessimista da realidade urbana no que toca à relação entre pobreza e meio ambiente, não é essa a intenção. É importante perceber, como o faz Barbosa (2006, p. 142), que “a cidade é uma escrita de práticas socioespaciais diferenciadas e antitéticas que, em última análise, exprimem e renovam a radicalidade do conflito entre a apropriação social e a propriedade privada”. Existem conflitos manifestos e outros tantos ainda latentes no espaço urbano.
	Da mesma forma, a discussão, neste trabalho, de conceitos de natureza sociológica como justiça ambiental e segregação sócio-ambiental, a partir de uma determinada realidade urbana devidamente recortada, não esgotam as possibilidades de novos aprofundamento no que tange ao estudo das relações sócio-ambientais no espaço urbano e
seus conflitos distributivos. Porém, a partir do breve levantamento realizado neste trabalho verificou-se que a vida nas cidades é reflexo do modelo capitalista inconscientemente impregnado em cada indivíduo. Mas é também reflexo de lutas e desejos por melhores condições de vida e respeito aos direitos fundamentais.
	Ao termino deste trabalho, muitas foram as questões pendentes de uma melhor análise que se mantiveram suspensas, no entanto, acredita-se que o objetivo inicialmente estabelecido fora atingido, qual seja, estabelecer um marco teórico a fim de auxiliar a análise da relação entre segregação e degradação do meio ambiente nas cidades, bem como dos conflitos distributivos gerados a partir dessas tensões. Esse marco é o da justiça ambiental.
	É preciso, portanto, que se chegue à conclusão de que “o homem é a natureza que toma consciência de si própria e esta é uma descoberta verdadeiramente revolucionária numa sociedade que disso se esqueceu ao se colocar o projeto de dominação da natureza” (GONÇALVES, 2005, p. 9).
	Por fim, dentre outras muitas conclusões possíveis, destaco neste trabalho que a desigualdade social gerada pelo modo de vida capitalista é um fator relevante em qualquer análise que diga respeito à relação sociedade-natureza no contexto urbano. O movimento pela justiça ambiental emerge nesse contexto como um aglutinador de diversos movimentos sociais e pesquisadores que certamente deverá contribuir para a formulação de políticas públicas de desenvolvimento urbano mais justas e sustentáveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. Impactos ambientais urbanos no Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
LEMOS, José de Jesus Sousa. Mapa da exclusão social no Brasil: radiografia de um país assimetricamente pobre. Fortaleza: Banco do Nordeste S.A., 2005.
REDE BRASILEIRA DE JUSTIÇA AMBIENTAL. Manifesto de Lançamento da RBJA. 2001. Disponível em: http://www.justicaambiental.org.br/_justicaambiental/pagina.php?id=229
. Acesso em: 13.02.2017.
SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. 4ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
SILVA, José Borzacchiello da. Quando os incomodados não se retiram: uma análise dos movimentos sociais em Fortaleza. Fortaleza: Multigraf Editora, 1992.
SOUZA, Marcelo Lopes de. O desafio metropolitano: um estudo sobre a problemática sócio-espacial nas metrópoles brasileiras. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel; FAPESP; Lincoln Institute, 2001.
JEFFERSON DAYVID LIMA DE SENA ROSA
FLÁVIA PATRÍCIA DA COSTA SILVA
JUSTIÇA AMBIENTAL E SEGREGAÇÃO SOCIO-ESPACIAL NOS AGLOMERADOS URBANOS: CONFLITOS AMBIENTAIS ORIGINADOS A PARTIR DA DEFICIÊNCIA DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ESSENCIAIS POR PARTE DO PODER PÚBLICO NO BAIRRO TURIUBA, MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE RIBAMAR/MA.
Trabalho produzido durante a disciplina de Meio Ambiente, no curso de graduação em Ciências Sociais da UFMA, referente à 3ª e última nota.
Professor: Prof. Dr. Horário Antunes de Sant Ana Júnior
São Luís
2017
ANEXO I
FOTOS DO BAIRRO TURIUBA, PRODUZIDAS EM 19/12/2016, PELO SERVIDOR JEFFERSON DAYVID LIMA DE SENA ROSA, TÉCNICO MINISTERIAL – EXECUÇÃO DE MANDADOS EM CUMPRIMENTO À ORDEM DE VISTORIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO Nº 34/2016, RETIRADAS DO INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO Nº 003/2016 – PJE/SJR,
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