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Ambientes Costeiros

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ECOSSISTEMAS COSTEIROS 
	A Zona Costeira Brasileira 
	Mangue 
	Dunas 
	Restingas 
	Costões Rochosos
	Recursos Pesqueiros da Costa Brasileira
O Brasil apresenta uma extensa área costeira. O mar representa uma importante fonte de alimento, emprego e energia. Sendo assim, as questões relacionadas aos oceanos assumem importância fundamental para o povo brasileiro. Os recursos estão diretamente associados com a sustentabilidade exploratória dos recursos pesqueiros através da pesca artesanal, do turismo e através das comunidades tradicionais da orla marítima – folclore, tradições, estilo de vida. Entretanto, a vulnerabilidade desse patrimônio sócio-ambiental está ameaçada pela falta de planejamento na ocupação e nas ações das atividades humanas na zona costeira. 
Na Costa Brasileira ocorrem diversos tipos de hábitats, formando uma enorme diversidade de ecossistemas. Além das praias arenosas amplamente utilizadas pelo turismo, destacam-se inúmeros estuários e lagoas costeiras, praias lodosas, sistemas lagunares margeados por manguezais e marismas, costões e fundos rochosos, recifes de coral, bancos de algas calcáreas, plataformas arenosas, arrecifes de arenito paralelos à linha de praias e falésias, dunas e cordões arenosos, restingas, ilhas costeiras e ilhas oceânicas. 
A grande riqueza genética dos ecossistemas marinhos brasileiros representa imenso potencial pesqueiro, biotecnológico, mineral e energético. Estes recursos não devem ser desperdiçados através da degradação ambiental e da exploração excessiva a ponto de comprometer a sustentabilidade a médio e a longo prazo. Atualmente várias unidades de conservação foram estabelecidas no litoral e ajudam na preservação da biodiversidade marinha. 
 
A ZONA COSTEIRA BRASILEIRA 
Ecossistemas 
A Zona Econômica Ecológica (ZEE) do Brasil ocupa cerca de 3,5 milhões de quilômetros quadrados. A ZEE corresponde a 41% de área emersa do país, com seus 8.500 km de litoral, abrangendo diferentes ecossistemas e abrigando 70% da população brasileira. 
Nossa costa é banhada por águas quentes que ocupam grande parte das bordas tropicais e subtropicais do Atlântico Sul Ocidental, onde a variação espacial e temporal dos fatores ambientais são distintos. Entre o Cabo Orange na Foz do Rio Oiapoque e o Arroio Chuí, ocorrem diversos tipos de hábitats, formando uma enorme diversidade de ecossistemas costeiros. Além das praias arenosas amplamente utilizadas pelo turismo costeiro, destacam-se inúmeros estuários e lagoas costeiras, praias lodosas, sistemas lagunares margeados por manguezais e marismas, costões e fundos rochosos, recifes de coral, bancos de algas calcáreas, plataformas arenosas, arrecifes de arenito paralelos à linha de praias e falésias, dunas e cordões arenosos, ilhas costeiras e ilhas oceânicas. 
A Região Norte (AP, PA, MA) é dominada pela Corrente Norte do Brasil e pela pluma estuarina do Rio Amazonas. A elevada carga de material particulado em suspensão, oriundo da Bacia Amazônica e dos sistemas estuarinos do Maranhão para o mar adjacente, origina fundos ricos em matéria orgânica. Esse tipo de hábitat oferece boas condições de alimento para peixes de fundo e camarões explorados pela pesca industrial e artesanal. 
As características físico-químicas e geomorfológicas da costa do Amapá e o setor ocidental da costa do Pará são determinadas pelo Delta do Amazonas. Esta região é denominada Golfão Marajoara. Ali se encontram centenas de ilhas margeadas por manguezais exuberantes e marismas ainda bem preservados, oferecendo recursos vivos inestimáveis e pouco explorados pela pesca artesanal. Mais da metade dos manguezais brasileiros concentram-se nesta região. A baixa densidade demográfica desta região restringe a ocupação da linha da costa que sofre apenas um impacto localizado da exploração pesqueira e do impacto urbano e industrial nas áreas metropolitanas. 
Os hábitats marinhos da região Nordeste (PI, CE, RN, PE, SE, AL) são típicos de áreas tropicais e caracterizam-se pela grande diversidade biológica. Na área existe abundância de recifes de coral e de algas calcáreas, e na costa predominam praias arenosas interrompidas por falésias, arrecifes de arenito e pequenos sistemas estuarino-lagunares margeados por manguezais. O maior impacto ambiental é causado pela ocupação urbana, pelo turismo, sobrepesca, obras portuárias, mineração e ocupação de áreas de manguezais para a carcinocultura. 
A Região Costeira Central (BA, ES) assemelha-se à Região Costeira do Nordeste, porém com maiores flutuações climáticas. Na parte sul desta região, ocorre a ressurgência das águas mais profundas (ressurgência de Cabo Frio) e a temperatura na parte próxima à costa pode baixar até 16ºC. Este evento natural torna esta região extremamente produtiva, sendo área de concentração de indústrias pesqueiras. 
A Plataforma Continental estende-se desde 10 km próximo a Salvador, até cerca de 190 km ao sul da Bahia, devido à ocorrência dos Bancos de Abrolhos onde predominam fundos de algas calcáreas e de recifes de coral. Na área mais próxima da costa, predominam praias arenosas, estuários e baías margeadas por manguezais. Nesta região a pesca artesanal e o turismo são as atividades econômicas mais importantes. 
A Região Sul (RJ, SP, PR, SC, RS), na faixa subtropical da costa brasileira, localiza-se entre o litoral norte do Rio de Janeiro e o litoral do Rio Grande do Sul. A diversidade de hábitats marinhos que ocorrem nesta região estão sujeitos a uma grande variabilidade sazonal das condições climáticas e da hidrografia da plataforma. Esta fração do litoral brasileiro é influenciada pela confluência da Corrente do Brasil com a Corrente das Malvinas e pela drenagem continental do Rio da Prata, da Lagoa dos Patos e do Complexo Estuarino Paranaguá-Cananéia. O assoalho marinho da plataforma continental é predominantemente arenoso, com focos areno-lodosos e algumas formações rochosas. 
Costões rochosos, praias arenosas, restingas, manguezais, baías e lagoas costeiras são ambientes comuns junto à linha de costa. A maior praia do mundo (Praia do Cassino) tem cerca de 200 km de extensão entre a saída da Lagoa dos Patos e o Chuí. Todos estes ecossistemas são importantes do ponto de vista ecológico e sócio-econômico (pesca, turismo e transporte). Várias unidades de conservação foram estabelecidas neste litoral e ajudam na preservação da biodiversidade marinha. 
Há três tipos de linhas na costa brasileira. A maioria delas resulta do afogamento da costa, sendo, portanto, prolongamentos dos tipos de relevos litorâneos, de suas geologias e demais condicionantes tectônicas que determinam os ecossistemas. 
a) Ilhas que apresentam-se como cristas emersas das porções afogadas da serra do mar: as centenas que se encontram ao longo do litoral. 
b) Ilhas sedimentares de baixa altitude: encontra-se no litoral paulista, por exemplo, a ilha Comprida que é, na realidade, um longo segmento de restinga isolado pelo mar. 
c) Um terceiro tipo é constituído pelas ilhas oceânicas, resultantes de fenômenos de vulcanismo que soergueram do fundo atlântico, como Fernando de Noronha e o Atol das Rocas, que são, por isso mesmo, completamente desvinculadas do relevo continental brasileiro. 
ECOSSISTEMAS
Nas ilhas ocorrem ecossistemas, como restingas, mangues, costões rochosos, dunas, lagunas, brejos, Floresta Atlântica, muito embora com certas particularizações nos componentes bióticos motivadas pelo isolamento que pode funcionar como barreira geográfica no mecanismo da especificação e na distribuição das espécies. 
Neste aspecto de isolamento, são as ilhas oceânicas onde podemos encontrar endemismo. Na ilha de Trindade, por exemplo, ocorrem a samambaia-gigante – Cyathea copeland e algumas aves, como a pardela - Pterodroma arminjonina e o tesourão - Fregata ariel trindatis. 
Entre a região de Laguna, em Santa Catarina, e o Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul, esse trecho é constituído por planícies arenosas que isolam grandes brejos e lagunas intercomunicantescom a denominação de banhados. 
Há grandes lagunas como a dos Patos e a Mirim e outras de pequeno tamanho, muitas das quais se comunicam com o mar por canais estreitos e rasos. Uma característica marcante é a ausência de manguezais, que tem seu último local de ocorrência na foz do rio Araranguá, em Laguna, Santa Catarina. Esse trecho é caracterizado pela ocorrência de banhados, importantes áreas úmidas litorâneas que abrigam uma rica avifauna, com várias espécies endêmicas. 
MANGUE (localização e caracterização)
O Brasil tem uma das maiores extensões de manguezais do mundo. Estes ocorrem ao longo do litoral Sudeste-Sul brasileiro, margeando estuários, lagunas e enseadas, desde o Cabo Orange no Amapá até o Município de Laguna, em Santa Catarina. Os mangues abrangem uma superfície total de mais de 10.000 km², a grande maioria na Costa Norte. O Estado de São Paulo tem mais de 240 km² de manguezal. 
O mangue é um ecossistema particular, que se estabelece nas regiões tropicais de todo o globo. Origina-se a partir do encontro das águas doce e salgada, formando a água salobra. Este ambiente apresenta água com salinidade variável, sendo exclusivo das regiões costeiras. 
No Brasil, os mangues são protegidos por legislação federal, devido à importância que representam para o ambiente marinho. São fundamentais para a procriação e o crescimento dos filhotes de vários animais, como rota migratória de aves e alimentação de peixes. Além disso, colaboram para o enriquecimento das águas marinhas com sais nutrientes e matéria orgânica. 
No passado, a extensão dos manguezais brasileiros era muito maior: muitos portos, indústrias, loteamentos e rodovias costeiras foram desenvolvidos em áreas de manguezal, ocorrendo uma degradação do seu estado natural. 
É uma pena que tão importante ecossistema sofra intensa exploração pelo homem, que retira mariscos, ostras e peixes em quantidades elevadas. Derrubam-se árvores para a extração do ranino, da casca e para fazer carvão. O mangue é alvo da especulação imobiliária, que aterra suas áreas para a construção de casas, marinas e indústrias. Suas águas são alvo de esgotos domésticos e industriais. 
Os manguezais fornecem uma rica alimentação proteica para a população litorânea brasileira: a pesca artesanal de peixes, camarões, caranguejos e moluscos, que são para os moradores do litoral a principal fonte de subsistência. 
O manguezal foi sempre considerado um ambiente pouco atrativo e menosprezado, embora sua importância econômica e social seja muito grande. No passado, estas manifestações de aversão eram justificadas, pois a presença do mangue estava intimamente associada à febre amarela e à malária. Embora estas enfermidades já tenham sido controladas, a atitude negativa em relação a este ecossistema perdura em expressões populares em que a palavra mangue, infelizmente, adquiriu o sentido de desordem, sujeira ou local suspeito. A destruição gratuita, a poluição doméstica e química das águas, derramamentos de petróleo e aterros mal planejados são os grandes inimigos do manguezal. 
Nos manguezais, as condições físicas e químicas existentes são muito variáveis, o que limita os seres vivos que ali habitam e freqüentam. Os solos são formados a partir do depósito de siltes (mineral encontrado em alguns tipos de solos), areia e material coloidal trazidos pelos rios, ou seja, um material de origem mineral ou orgânica que se transforma quando encontra a água salgada. 
Estes solos são muito moles e ricos em matéria orgânica em decomposição. Em decorrência, são pobres em oxigênio, que é totalmente retirado por bactérias que o utilizam para decompor a materia orgânica. Como o oxigênio está sempre em falta nos solos do mangue, as bactérias se utilizam também do enxofre para processar a decomposição. 
O fator mais importante e limitante na distribuição dos manguezais é a temperatura. Um fato interessante de se observar é a altura das árvores. Na região Norte, elas podem alcançar até trinta metros. Na região Sul, dificilmente ultrapassam um metro. Quanto mais próximas do Equador, maiores. As plantas se propagam a partir das plantas filhas, chamadas de propágulos, que se desenvolvem ligadas à planta mãe. Esses propágulos soltam-se e se dispersam pela água, até atingirem um local favorável ao seu desenvolvimento. As plantas típicas do mangue se originaram na região do Oceano Índico e se espalharam a partir daí para todos os manguezais do mundo. 
Fauna 
Os manguezais são conhecidos como berçários, porque existe uma série de animais que se reproduzem nestes locais. Ali, os filhotes também são criados. Os camarões se reproduzem no mar, na região da plataforma continental. Suas larvas migram para as regiões dos manguezais, onde se alimentam e crescem antes de retornarem ao mar. Uma grande variedade de peixes costuma entrar no mangue para se reproduzir e se alimentar, como os robalos e as tainhas. Muitas aves utilizam esse ambiente para procriar. Podem ser espécies que habitam os mangues ou aves migratórias, que usam os manguezais para se alimentar e descansar. São guarás, colhereiros, garças, socós e martins-pescadores. 
Ao contrário de outras florestas, os manguezais não são muito ricos em espécies, porém se destacam pela grande abundância das populações que neles vivem. Por isso, podem ser considerados um dos mais produtivos ambientes naturais do Brasil. 
Devido à riqueza de matéria orgânica disponível, uma grande variedade de seres vegetais e animais irão utilizá-la: centenas de diferentes tipos de minúsculos seres, denominados plâncton. A fração vegetal do plâncton, denominada fitoplâncton, retira os sais nutrientes da água e, através da fotossíntese, cresce e se multiplica. Agora, a porção animal do plâncton, o zoo-plâncton, alimenta-se das microalgas do fitoplâncton e de matéria orgânica em suspensão. Larvas de camarões, caranguejos e siris filtram a água e retiram microalgas e matéria orgânica. Pequenos peixes filtradores, como a manjuba, também se alimentam desse rico caldo orgânico. A partir das microalgas, se estabelece uma complexa teia alimentar. 
Quanto à fauna, destacam-se as várias espécies de caranguejos, formando enormes populações nos fundos lodosos. Nos troncos submersos, vários animais filtradores, tais como as ostras, alimentam-se de partículas suspensas na água. Os caranguejos em sua maioria são ativos na maré baixa, enquanto os moluscos alimentam-se durante a maré alta. Uma grande variedade de peixes penetra nos manguezais na maré alta. Muitos dos peixes que constituem o estoque pesqueiro das águas costeiras dependem das fontes alimentares do manguezal, pelo menos na fase jovem. Diversas espécies de aves comedoras de peixes e de invertebrados marinhos nidificam nas árvores do manguezal. Alimentam-se especialmente na maré baixa, quando os fundos lodosos estão expostos. 
 Flora 
Possui vegetação típica, que apresenta uma série de adaptações às condições existentes nos manguezais. Esta vegetação é tão especializada que se pode verificar a ocorrência de determinadas espécies de plantas nos manguezais de todo o mundo, como é o caso da Rizhophora mangle, conhecida vulgarmente no Brasil como mangue vermelho. 
VALORAÇÃO E PROBLEMAS NOS MANGUEZAIS 
De acordo com Schaeffer-Novelli, os manguezais se desenvolvem em regiões costeiras protegidas banhadas pelas marés, e suas maiores estruturas são observadas em áreas onde o relevo topográfico é suave e ocorrem grandes amplitudes de maré. São encontrados em latitudes entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio (zonas tropicais e subtropicais), tanto nas Américas como na África, Ásia e Oceania. 
No Brasil, os mangues são protegidos por legislação federal, devido à importância que representam para o ambiente marinho. São fundamentais para a procriação e o crescimento dos filhotes de vários animais, como rota migratória de aves e alimentação de peixes. Além disso, colaboram para o enriquecimento das águas marinhas com sais nutrientes e matéria orgânica. 
Os manguezais possuemelevada produtividade biológica, pois neste ecossistema encontram-se representantes do elo da cadeia alimentar. As folhas que caem das árvores se misturam com o sedimento e os excrementos dos animais, vertebrados e invertebrados, formando compostos orgânicos de vital importância paras as bactérias, fungos e protozoários. Os próximos níveis da cadeia alimentar são constituídos por integrantes do plâncton, dos bentos e do necton, como crustáceos, moluscos, peixes, aves e até pelo homem, no topo da pirâmide. 
Os manguezais estão entre os principais responsáveis pela manutenção de boa parte das atividades pesqueiras das regiões tropicais. Servem de refúgio natural para a reprodução e desenvolvimento (berçário), assim como local para alimentação e proteção para crustáceos, moluscos e peixes de valor comercial. Além destas funções, os manguezais ainda contribuem para a sobrevivência de aves, répteis e mamíferos, muitos deles integrando as listas de espécies ameaçadas ou em risco de extinção. 
Devido à grande importância econômica dos manguezais, estes ambientes são degradados diariamente pela ação e ocupação do homem. Essa ocupação desordenada deve-se principalmente ao fato desses locais apresentarem condições favoráveis à instalação de empreendimentos os quais normalmente visam atender interesses particulares. 
Entre as condições favoráveis, destaca-se, segundo Schaeffer-Novelli (1995): 
1 - Oferta quase ilimitada de água, insumo importante para indústria, como a siderúrgica, a petroquímica e as centrais nucleares.
2 - Possibilidade de fácil despejo de rejeitos sanitários, industriais, agrícolas e/ou de mineração. 
3 - Proximidade de portos, que facilitam a importação de matéria prima para a transformação e a exportação de produtos, diminuindo custos de carga e transporte. 
4 - Pressão do mercado imobiliário. 
5 - Construção de marinas. 
A áreas de manguezais, devido as várias atividades, sofrem grandes impactos, causados pelas populações caboclas que vivem no litoral, que desenvolvem atividades como a pesca e a coleta de siris, caranguejos e sururus, contribuindo significativamente para o sustento destas populações. Estas comunidades litorâneas também costumam se alimentar de aves costeiras (inclusive aves ameaçadas de extinção), primatas, assim como de alguns répteis tais como lagartos e tartarugas, e de seus respectivos ovos. 
A flora também tem sido explorada: as árvores do manguezal são utilizadas para obtenção de madeira para construção de barcos, casas, cercados, armadilhas de pesca, além de servirem para produção de combustível na forma de carvão. 
Segundo Rodrigues Teixeira, além da exploração da fauna e da flora , o solo do manguezal também é explorado: a argila é utilizada por olarias para produção de telhas e tijolos de cerâmica. Essa retirada de sedimentos argilosos poderá no futuro comprometer a estrutura do fundo dos canais afetando também a fauna associada a este sedimento. 
O processo de exploração do turismo tem como conseqüência a expansão imobiliária em áreas de manguezal. Estes empreendimentos podem no entanto levar ao aterro dos manguezais assim como a extinção da fauna e da flora de maneira irreversível. 
Com a grande degradação e vital importância que os manguezais apresentam, é de extrema urgência que haja uma legislação mais rígida em relação a exploração dos recursos naturais visando técnicas sustentáveis. No nível federal estão incluídos no artigo 2 do Código Florestal e no Decreto Federal 750/1993 de tombamento da Floresta Atlântica, como ecossistema associado. Em alguns casos são considerados como preservação permanente com isso havendo uma maior conservação deste ecossistema. 
Existem também inúmeros projetos de recuperação de manguezais que antes serviam como entulho de lixo ou até mesmo aqueles que sofreram aterro por empreendimentos imobiliários. Há também programas de conservação de fauna e flora que geram fluxos de energias que subisidiam a cadeia alimentar e dão suporte aos recursos pesqueiros, assim sendo de extrema importância para a manutenção destes ecossistemas. 
O Ibama executa o projeto "Dinâmica Ambiental do Sistema Coralíno de Abrolhos", que visa identificar as fontes de impacto sobre os ambientes costeiros (manguezais e matas de restinga) e sobre o sistema coralíno de Abrolhos a fim de minimizar esses impactos e definir porções representativas destes ambientes para a preservação em unidades de conservação. 
Assim como o Ibama várias outras instituições, universidades e afins, realizam projetos de ecologia/biologia e recuperação dos manguezais, muitos deste projetos são realizados por acadêmicos de graduação, mestrado e/ou doutorado. 
DUNAS (localização e caracterização)  
Dunas são pequenas elevações de areia formadas pelos ventos que vêm do mar. Os ventos carregam a areia fina até que as dunas venham a ser estabilizadas por vegetação pioneira. 
As dunas costeiras formaram-se durante os últimos 5.000 anos pela interação entre o mar, o vento, a areia e a vegetação. As correntes marítimas litorâneas transportam grandes quantidades de areia. Parte destes grãos são depositados nas praias pelas marés altas. A areia acumulada é transportada pelos ventos dominantes para áreas mais elevadas da praia. 
Esse complexo ecossistema estende-se por 600 km no litoral gaúcho, desde o Arroio Chuí, ao sul, até o Rio Mampituba, ao norte, formando o maior sistema de praias arenosas do mundo. As dunas servem de barreira natural à invasão da água do mar e da areia em áreas interiores e balneários. Também protegem o lençol de água doce, evitando a entrada de água do mar. 
Fauna 
A fauna é um pouco escassa neste ambiente, devido a altas taxas de salinidade, baixas taxas de umidade, instabilidade térmica; sendo assim, poucos animais são adaptados a este hábitat. Um exemplar típico é tuco-tuco, que é um pequeno roedor que habita galerias escavadas nas areias. Caules e raízes da vegetação nativa compõem sua alimentação. 
Alguns animais vivem em tocas, como o Ocypode. Ainda podemos encontrar bactérias e larvas de insetos, como a odonata - Libélula.
Flora 
Nas dunas há uma vegetação nativa, composta principalmente por gramíneas e plantas rateiras que desempenham importante papel na formação e fixação das dunas. 
São plantas adaptadas às condições ambientais, com extremas quantidades de salinidade, e ao atrito dos grãos e movimentos de areia. 
A medida que a vegetação pioneira cresce, as dunas ganham volume e altura. Com o passar do tempo, outras plantas colonizam o local, mantendo o equilíbrio ecológico e a estabilidade do cordão de dunas litorâneas. Podemos encontrar uma grande quantidade de espécies pioneiras, como o cipó-de-flores, entre outras. 
RESTINGA (localização e caracterização)
É o conjunto de dunas e areais distribuídos ao longo do litoral brasileiro e por várias partes do mundo. Geralmente é revestida de vegetação baixa, criando variações climáticas, o que confere grande diversidade ambiental e biológica. Na restinga, o solo não constitui a principal fonte de nutrientes, mas é sobretudo a vegetação o suporte vital desse ecossistema. 
A restinga preservada facilita o controle, em zonas urbanas costeiras, de espécies com potencial para pragas como cupins, formigas, escorpiões e baratas. A preservação do solo arenoso é importante pois é altamente poroso; a água da chuva infiltra com facilidade, o que reduz os riscos de enchentes e os custos de obras de drenagens. Outra importância da restinga é a medicinal, pois que guarda importantes informações, ainda desconhecidas da maioria do público. Tem, ainda, importância ornamental e paisagística, encontrada nas orquídeas e bromélias. 
Na questão alimentícia, encontraremos o caju, a mangaba, a pitanga, entre outras espécies comestíveis. 
Caso esta vegetação seja destruída, o solo sofrerá intensa erosão pelo vento, o que ocasionará a formação de dunas móveis, causando riscos para o ambiente costeiro como para a população. 
Fauna 
Caranguejomaria-farinha, besourinho-da-praia, viúva-negra, gavião-de-coleira, gafanhoto-grande, barata-do-coqueiro, sabiá-da-praia, coruja-buraqueira, tié-sangue, perereca, jaracussu-do-brejo, todos estes são alguns dos habitantes da restinga. 
Flora 
Algumas espécies características ocorrem na restinga como: sumaré, orquídeas, aperta-goela, açucena, bromélia, cactos, coroa-de-frade, aroeirinha, jurema, caixeta, taboa, sepetiba, canela, pitanga, figueira, angelim, entre outras espécies. 
COSTÕES ROCHOSOS
Características 
É um ambiente litorâneo formado por rochas, situado no limite entre o oceano e o continente. Pode ser considerado um ecossistema, do qual faz parte uma grande diversidade de seres marinhos. O costão rochoso sofre influência das marés, dos embates das ondas e dos raios solares, obrigando as formas de vida a se adaptar a essas condições peculiares. 
Neste rico ecossistema convivem em harmonia comunidades de algas e inúmeros animais marinhos, que se fixam fortemente às rochas, bem como moluscos, crustáceos, peixes, tartarugas e outros animais que passam ali parte importante de suas vidas. 
O batimento constante das ondas, especialmente em ressacas, obriga muitos animais a se fixarem firmemente sobre as pedras ou a encontrar abrigo entre elas, como a lagosta. Na região mais profunda, onde o batimento é menos intenso, convivem animais adaptados ao fundo, como o peixe morcego e o peixe pedra. 
Os hábitats costeiros bentônicos estão entre os ambientes marinhos mais produtivos do planeta. Dentre os ecossistemas presentes na região entre-marés e hábitats da zona costeira, os costões rochosos são considerados um dos mais importantes por conter uma alta riqueza de espécies de grande importância ecológica e econômica, tais como mexilhões, ostras, crustáceos e uma variedade de peixes. 
Por receber grande quantidade de nutrientes proveniente dos sistemas terrestres, estes ecossistemas apresentam uma grande biomassa e produção primária de microfitobentos e de macroalgas. Como conseqüência, os costões rochosos são locais de alimentação, crescimento e reprodução de um grande número de espécies. 
A grande variedade de organismos e o fácil acesso tornaram os costões rochosos uns dos mais populares e bem estudados ecossistemas marinhos. A grande diversidade de espécies presentes nos costões rochosos fazem com que, neste ambiente, ocorram fortes interações biológicas, como consequência da limitação de substrato ao longo de um gradiente existente entre o hábitat terrestre e o marinho. 
Com base nas unidades físico-ambientais sugeridas pelas coordenações regionais podemos identificar as seguintes unidades que possuem costões rochosos significativos. Não estão aqui considerados os recifes de arenitos e as formações rochosas esporádicas comuns na costa nordeste. 
Pinhal (RS) até a divisa RS/ SC 
Divisa RS/ SC até a divisa Laguna/ Jaquaruna (SC) 
Divisa Laguna/ Jaquaruna (SC) até Ponta da Faísca ou da Gamboa (SC) 
Ponta da Faísca ou da Gamboa até Ponta dos Ganchos (divisa Govenardor Celso Ramos/ Tijuca (SC) 
Ponta dos Ganchos até Barra do Sul (SC) 
Barra do Sul (SC) limite do Estado do Paraná/ Santa Catarina 
Limite do Estado do Paraná até Pontal do Sul (PR) 
Pontal do Sul (PR) até Peruíbe, limite com Juréia (SP) 
Peruíbe, limite com Juréia até leste da Praia da Boracéia (SP) 
Leste da Praia da Boracéia até Ponta oeste da Restinga de Marambaia (RJ) 
Ponta oeste da Restinga de Marambaia até Cabo Frio (RJ) 
Cabo Frio até Delta do Rio Paraíba do Sul (RJ) 
Delta do Rio Paraíba do Sul até Margem esquerda do Rio Piraquê (ES) 
Margem direita do Rio Piraquê até Limite do Estado do Espírito Santo / Bahia 
  
RECURSOS PESQUEIROS DA COSTA BRASILEIRA
O mar representa uma importante fonte de alimento, emprego, energia e divisas para as nações com aberturas ao mar. Sendo assim, as questões relacionadas aos oceanos assumem importância fundamental para o povo brasileiro. Nos vários ambientes da costa brasileira povoa uma grande diversidade de organismos marinhos representando importantes recursos econômicos e naturais. 
Muitos destes recursos são ainda desconhecidos e podem representar reservas econômicas de grande importância na economia futura do Brasil. Estrategicamente, o mar brasileiro é uma opção de desenvolvimento sócio-econômico para o País nos próximos anos. Por esta razão, os Ministérios da Ciência e tecnologia, do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, da Marinha e da Agricultura e Abastecimento desenvolveram planos setoriais específicos para os assuntos do mar brasileiro. 
A grande riqueza genética dos ecossistemas marinhos brasileiros representa imenso potencial pesqueiro, biotecnológico, mineral e energético. Estes recursos devem ser considerados patrimônio natural e econômico do nosso País e não devem ser desperdiçados através da degradação ambiental e exploração excessiva a ponto de comprometer a sustentabilidade a médio e a longo prazo. Também de grande importância são os recursos humanos e culturais que se desenvolveram ao longo da costa. Estes recursos estão diretamente associados com a sustentabilidade exploratória dos recursos pesqueiros através da pesca artesanal e do turismo costeiro através das comunidades tradicionais da orla marítima – folclore, tradições, estilo de vida. Entretanto, a vulnerabilidade desse patrimônio sócio-ambiental está ameaçada pela falta de planejamento na ocupação e nas ações das atividades humanas na zona costeira. 
Quando se pensa em recursos do mar, imediatamente se associam tais pensamentos com os produtos da pesca, tais como peixes, camarões, lagostas..., ou com os recursos de lazer como praias, mergulho, náutica; porém, as riquezas marinhas utilizáveis pelo homem são muito maiores. 
Cerca de 71% da superfície da terra é coberta pelo mar e vários grupos animais são predominantemente ou exclusivamente marinhos. Portanto, o potencial genético marinho é inestimável e ainda inexplorado. As empresas de biotecnologia descobrem a cada ano vários elementos com potencial de uso industrial provenientes de organismos marinhos. Estes elementos podem ser utilizados na fabricação de tintas, filmes fotográficos, antibióticos, cervejas, xampus, moldes dentários, na lavoura e na ração animal, entre muitos outros. Além disso, a exploração de petróleo e de recursos minerais, a construção naval e a portuária, a pesca em áreas oceânicas, a maricultura e os serviços associados são importantes atividades geradoras de emprego, de serviços, de tecnologia e de produtos, relevantes à economia nacional.    
CARCINICULTURA E OS MANGUEZAIS 
 Carcinicultura é uma atividade tradicional que visa a criação racional de camarões em cativeiro. Nos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina esta atividade tem um maior potencial devido à grande quantidade de áreas propícias.
A carcinicultura é uma boa alternativa de investimentos da atividade no mercado interno e externo. Aliada às condições ambientais favoráveis, os mercados nacional e principalmente internacional, marcadas por uma grande demanda potencial do produto, garantem a viabilidade econômica da produção de camarões em larga escala nestas Regiões.
A criação de camarões em cativeiro, visando a exportação representa mais uma opção de investimento e de diversificação da atividade industrial para estas regiões. A atividade possibilita trabalho para pescadores nativos e geração de novos empregos, além da difusão de divisas para os municípios da região, que garantem a exportação para países europeus, Japão e Estados Unidos. 
Os criatórios funcionam também como importantes inibidores da poluição das águas, pois o sistema de aeração artificial utilizado é avançado. Por conseqüência, a água utilizada no processo do criatório, por exemplo, é devolvida ao ambiente natural igual ou de melhor qualidade.
Do ponto de vista científico, deve-se evitar a concentração de fazendas de criação de camarões. É necessário que se cuide da qualidade da água e que haja monitoramentoconstante dos criatórios. Tais cuidados visam evitar a poluição dos mangues e de outros recursos hídricos.
Atualmente a carcinicultura busca uma tecnologia sustentável, tanto para não prejudicar as crias e não gerar efluentes prejudiciais ao meio. Com esta atividade os pescadores se mantém ocupados e além disso gera renda, principalmente em locais com altos índices de desemprego. 
Em Aracati - Cumbe a carcinicultura tem sido uma grande experiência, pois além de gerar renda, respeita o meio ambiente em 40 hectares destinados à esta atividade. Os criadores reúnem-se na Associação Brasileira de Cultivadores de Camarão. No Ceará, a entidade tem uma câmara técnica em funcionamento. A associação internacional dos carcinicultores busca a aqüicultura que respeite o ecossistema 
Nos manguezais quando a vegetação apresenta-se alta e magra é indicativo de poluição. Entretanto, as atividades que mais poluem os mangues são a especulação imobiliária, a agricultura, o turismo e a produção de carvão. De acordo com a pesquisadora Yara Schaeffer Noveli do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, a carcinicultura está em 16° lugar entre as atividades que depredam mangues. Dos 18 milhões de mangues do mundo, 5% são ocupados pela carcinicultura, conforme dados do Fundo Mundial da Natureza (AC). 
CURSO DE ECOSSISTEMAS E POLÍTICAS PÚBLICAS
PARTE II. TIPOS DE ECOSSISTEMAS
Muitas das espécies costeiras, quando estão prontas para procriar, emigram a mar aberto onde há condições uniformes de salinidade e temperatura. As fases juvenis geralmente retrocedem e crescem em estuários (desembocadura de rios no mar, onde há alimento em abundância por causa das correntes). Veja Figura II.1. 
Para fazer a Figura 10.5 apropriada para o ecossistema costeiro, a caixa de águas profundas deve ser substituída pela fauna e flora do fundo do mar (também denominada bentos). Eles recebem uma chuva de coliformes fecais, células de plantas e outras matérias orgânicas da superfície, que são filtrados da água ou consumidos diretamente do fundo arenoso. As ações desses animais e dos microorganismos (que ajudam ao consumo do alimento orgânico) liberam nutrientes inorgânicos que os redemoinhos devolvem ao fitoplâncton da superfície. 
Algumas vezes, comenta-se que se as pessoas administrassem o mar com mais eficiência, este poderia produzir muito mais alimentos. Isto é exagero, a maioria dos oceanos tem muito poucos nutrientes e suas redes alimentares (N.T. teias tróficas) são dispersas. 
Uma grande fertilidade se encontra em zonas de ressurgência nas plataformas continentais. Ali, os consumidores de resíduos, no fundo, são o começo de diversas cadeias alimentares. A maioria dos produtos marinhos de comércio mundial - peixes, caranguejos, lagostas e mariscos - são obtidos na plataforma continental. Essas áreas possuem alto movimento pesqueiro. 
A quantidade de peixes marinhos pescados ao redor do mundo mostrou um aumento pronunciado na colheita de 1900 a 1970, depois da qual o crescimento foi mais lento (Figura 10.8). Dispositivos de pesca mecânicos e navios de beneficiamento pesqueiro trazem tanto peixe, que o número de algumas espécies tem sido severamente diminuído. Houve incremento de custos de combustíveis para barcos e menos áreas que não foram sobrepescadas. 
Figura 10.8 Crescimento da pesca no mundo, 1950-1982.
Todo sistema renovável que abastece energia, necessita de retroalimentação para reciclagem e controle para sobreviver. Como vemos na Figura 10.9, os homens tem retirado produtos do oceano, mas não repuseram nada ao sistema, salvo os nutrientes nas águas servidas. De qualquer maneira, ainda com uma melhor administração, o oceano não pode resolver os problemas alimentícios de nosso mundo superpopulado. 
Figura 10.9 Produtos pesqueiros sem retroalimentação.
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10.3 RECIFES DE CORAL. 
Ao longo da costa, e no fundo das águas pouco profundas e temperadas (acima de 20ºC), onde as ondas e correntes são fortes, desenvolvem-se os ecossistemas de recifes de coral. Uma alta diversidade de plantas e animais constroem plataformas de pedra calcária com seus esqueletos. A maioria dos recifes de coral são colônias de medusas que formam esqueletos de pedra calcária debaixo de seus corpos. Algas calcárias vermelhas e verdes também formam esqueletos que contribuem à formação dos recifes. 
Figura 10.10 Recife de coral. 
Os corais conseguem a maioria de seu alimento e energia, para formação do esqueleto, através da fotossíntese de algas simbióticas chamadas zooxanthellae, que vivem em seus tecidos. Também capturam pequenos organismos com suas células urticantes. 
Os nutrientes produzidos pelo metabolismo desses alimentos são utilizados pelas zooxanthellae. A alta densidade populacional nos recifes requer fortes correntes e/ou a ação das ondas para abastecer o oxigênio para respiração, nutrientes para o crescimento, carbonatos para os esqueletos e outros alimentos. 
Algumas das características dos ecossistemas de recifes de coral se dão nas Figuras 10.10 e 10.11. Sua principal característica, a alta diversidade de coloração de seus animais e plantas, é difícil de expressar no papel. Há muitas relações simbióticas entre os organismos. Como em outros sistemas com alta diversidade, há muitos tipos de organismos, mas pequenas populações de cada tipo. 
Figura 10.11 Ecossistemas de recifes de coral. M.O. partículas de matéria orgânica na água.
Os vários corais, mariscos, esponjas e algas se fixam uns aos outros para formar complexas superestruturas porosas, nas quais vivem outros animais. 
Quando os corais morrem, os esqueletos de pedra calcária são logo invadidos por algas não simbióticas de vida livre. A estrutura do recife é uma fonte rica de alimento para vários consumidores, como por exemplo o peixe papagaio, que utiliza o coral vivo e morto como fonte de alimento. Os pepinos do mar digerem fragmentos de recifes. Partículas de matéria orgânica (resíduos) na areia calcária, entre os corais, são consumidos por crustáceos e pequenos peixes. São comuns os grandes carnívoros, como as "moréias" que vivem nos recifes, e barracudas e pequenos tubarões que vivem em suas margens. 
As espécies comestíveis dos recifes de coral são vulneráveis à pesca, porque há muitos tipos de organismos, mas suas populações são pequenas e são facilmente sobrepescadas. Muitas espécies estão desprotegidas, porque os recifes são rasos e a água clara; por exemplo, a lagosta espinhosa tem sido pescada em excesso por mergulhadores e pescadores com redes. A manutenção da população de lagostas depende de soltar grande número de larvas na água para que sejam dispersas por várias milhas. Quando as populações de lagostas se tornam escassas em áreas muito extensas, o número de larvas pode estar abaixo do mínimo necessário para manter as populações desta área. Parece necessário estabelecer acordos internacionais para que a produtividade da pesca não decaia excessivamente e a indústria pesqueira continue viável. 
Apesar das temperaturas e regimes de iluminação variarem pouco durante o ano, há ciclos periódicos de reprodução e vida; algumas vezes se apresentam picos de consumo e crescimento. Por exemplo, uma explosão populacional de um tipo de estrela do mar gigante e carnívora, Acanthaster, pode consumir corais, deixando atrás de si um recife deserto de cabeças brancas de coral. 
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10.4 CAMPOS DE ALGAS MARINHAS. 
Ao longo da costa rochosa pouco profunda, onde as águas são frias e as ondas são favoráveis, como no litoral da Califórnia, desenvolvem-se ecossistemas de algas. Trata-se de uma alga gigante e marrom fixadas no fundo, tem folhas carnudas e largas que alcançam a superfície e que possuem bolsas cheias de gás que as mantém na superfície. A produção fotossintética é grande. Veja as Figuras 10.12 e 10.13. Existem muitos animais típicos do ecossistema de algas, tais como o "peixe alga", madrepérolas e lontras marinhas. Os ouriços do mar tendem a cortar as algas livres, fazendo necessário umnovo crescimento. Quando o "peixe alga" é pescado em excesso, os ouriços aumentam em número e as algas se reduzem. Essas pescas excessivas causam oscilações no sistema. 
Figura 10.12 Ecossistemas de algas.
Figura 10.13 Ecossistemas de algas.
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10.5 ECOSSISTEMAS DE INCRUSTAÇÕES SOBRE ROCHAS EM ENTRE-MARÉS. 
Onde as rochas ou outras superfícies duras encontram-se entre a alta e baixa maré (zona de entre- maré), desenvolve-se um ecossistema especial com organismos fixos e que podem viver por algumas horas tanto dentro como fora da água. As plantas são de igual maneira resistentes ao ressecamento, são algas fixas de cor vermelha e marrom. A maioria dos animais possuem esqueletos protetores, tais como crustáceos, ostras e mexilhões. A comunidade de organismos se adapta para utilizar os nutrientes e partículas de alimentos que são arrastados pela maré e rompimento de ondas. Também fazem parte do sistema os peixes predadores, que ingressam a comunidade quando a maré está alta. 
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10.6 PRAIAS. 
Os ecossistemas de praias são importantes como atração turística e como um lugar onde a energia das ondas é utilizada. As praias se formam quando há um abastecimento de areia e energia de ondas regulares que conservam a praia organizada e limpa. Muita da areia que forma parte das praias, foi trazida pela corrente marinha através de milhões de anos. Essa corrente é gerada na zona de rompimento das ondas que vem a partir da praia de forma angular. As ondas enviam sua energia em correntes ao longo da praia levando areia na direção em que essas ondas rompem. Veja as Figuras 10.14 e 10.15 
A praia é um fantástico filtro. Cada rompimento de onda esparrama água através da areia e quando a água retorna, está filtrada; a praia é algo semelhante ao filtro de areia usado em redes de tratamento de água. O espaço entre grãos contem animais minúsculos e microorganismos que consomem matéria orgânica e retornam nutrientes à água. 
Figura 10.14 Zonas em uma praia típica.
Reprinted with permission from Environment and Society in Florida - (Cat#SL0802)
Copyright CRC Press, Boca Raton, Florida - 1997.
Figura 10.15 Sistema das praias. M.O.= matéria orgânica.
Com a maré alta, os lixos e resíduos flutuantes se reúnem em direção às linhas de arraste da corrente. Esses resíduos incluem sargaços, outras plantas marinhas, troncos, galhos (que foram parar ao mar através dos rios), e todos os tipos de lixo humano. Minúsculos crustáceos incrustados vivem nessas linhas de arraste. 
As ondas mantém a forma da praia de acordo com a intensidade de sua força. Fortes ondas que rompem fazem que a areia da praia seja grossa, pois a areia fina é arrastada com a água. 
Neste século houve um aumento geral do nível mundial do mar, aproximadamente 30 cm. Algumas estruturas construídas ao nível do mar tem sido ameaçadas pelo movimento marinho. Para deter a areia foram construídas paredes de rochas, com o objetivo de eliminar o fluxo normal de nova areia pela corrente, que causa mais erosão na praia. 
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10.7 ECOSSISTEMAS DE DUNAS DE AREIA. 
Em direção à costa, a partir das praias, em áreas sem distúrbios, se encontram as dunas de areia. São grandes colinas de areia construídas por areia da praia carregada pelo vento. A sucessão das dunas de areia segue os mesmos passos descritos anteriormente. Plantas pioneiras, tais como ervas e aveia do mar, crescem primeiro. Suas sementes são facilmente transportadas por pássaros e pequenos animais. Essas ervas altas sustentam a areia arrastada pelo vento, suas longas raízes fibrosas alcançam a água do subsolo (água de chuva que penetra através dos poros da areia). 
A água fresca recolhida nas dunas é suficiente para sustentar pequenas comunidades de pessoas. Devido ao fato de a água fresca ser menos densa que a água salgada, a primeira flutua sobre a outra mantendo-se separadas. Para cada pé de água fresca nas dunas sobre o nível do mar, há 40 pés dela abaixo do nível do mar. Quando uma grande quantidade água fresca é retirada, a água salgada pode fluir pelos lados ou por baixo. Isto se chama intrusão de água salgada, ou cunha salina. Este procedimento empobrece as dunas como abastecedoras de água doce. 
Onde as dunas não tem sido alteradas por muitos anos, desenvolve-se uma floresta marítima. A espuma das tempestades marinhas tende a matar as folhas. Mas a floresta desenvolve uma espessa cobertura superior que protege as folhas interiores da espuma salgada. Essa vegetação faz com que a costa marinha seja estável, segura à vinda de tempestades. 
Se a vegetação é retirada e as dunas são destruídas, a areia começa a mover-se com o vento e se torna instável, eliminando a proteção contra a invasão do mar quando sucedem grandes tempestades. As dunas e praias devem ser capazes de ajustar-se às marés e tempestades, e conservar sua capacidade de se reformar para manter o sistema saudável; além disso a zona da praia deve ser ampla, livre de pavimentação e de tipos exóticos de vegetação. As casas deveriam ser construídas sobre plataformas, assim a areia poderia se locomover entre elas. Já que as plantas das dunas não são muito resistentes a veículos, os buggies deveriam ser proibidos. A vegetação natural dá um ambiente bonito e um bom habitat para muitos animais. 
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10.8 PERGUNTAS E ATIVIDADES PARA O CAPÍTULO 10. 
Defina os seguintes termos: 
ecossistema oceânico 
plataforma continental 
recifes de coral 
praias 
dunas de areia 
corrente do golfo 
campo de algas 
Dê três razões pelas quais um oceano é um ecossistema valioso. 
Descreva três exemplos da diversidade em um recife de coral. 
Em várias áreas, as praias são de grande valor recreativo. Elas são de importância vital para a terra. Descreva como as praias protegem o terreno. 
Explique como a areia forma parte importante da praia. 
Descreva um modelo do ecossistema oceânico usando os símbolos de energia. 
Descreva porque e como a força Coriolis afeta os oceanos do mundo. 
Descreva a sucessão de um sistema de dunas.
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PARTE II. TIPOS DE ECOSSISTEMAS 
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CAPÍTULO 11. ESTUÁRIOS
OBJETIVOS: 
1. Nomear as plantas e animais representativos encontrados nos estuários.
2. Fazer uma lista das características de um sistema de estuário.
3. Desenhar o diagrama de energia de um estuário.
4. Descrever como se forma um recife de ostras.
5. Comparar um recife natural de ostras com um recife comercial.
6. Desenhar um diagrama de energia de um ecossistema de recife natural de ostras.
7. Desenhar um diagrama de energia de um típico sistema de cultivo de ostras.
8. Comparar diversidade versus produtividade nas planícies de algas de fundo. 
Um estuário é uma área ao longo da costa, onde um rio se junta ao mar. Os estuários estão sempre rodeados de terras úmidas: marismas ou terrenos alagadiços com pastos halo- tolerantes ou pântanos com árvores de raízes aéreas que permanecem fora da água a maior parte do tempo. O estuário é rico em energia e nutrientes, possui um grande número de plantas e animais. Esta riqueza se deve em parte às correntes de água doce e água salgada. 
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11.1 TÍPICO SISTEMA ESTUÁRIO. 
As fontes de energia externa de um sistema de estuário são: a água doce dos rios e a água salgada do oceano que vem com a maré. O estuário recebe energia cinética (movimento) da água; a maré entra, se mistura com a água do rio, e vai embora. As ondas formadas pelo vento ajudam na mistura de água doce com água salgada, e assim à energia cinética do estuário. A energia cinética aumenta a produtividade do estuário por causa da circulação de nutrientes, comida, plâncton e larvas. 
Os estuários tem uma "explosão" de produtividade na primavera e uma alta taxa de crescimento no verão. As espécies de ostras e caranguejos comerciais são principalmente de estuários. Muitos tipos de camarões comercialmente importantes, em suas etapas adultas vivem e procriam próximos aos estuários, e entram nestes quando são larvas.O sável (peixe marinho da família dos clupeídeos) procria na nascente dos riachos e enquanto é jovem passa pelo estuário em seu caminho ao mar, crescendo rapidamente no tempo que passa por ali. Devido à grande quantidade de larvas de espécies marinhas que crescem nos estuários, são considerados usualmente como uma "maternidade"/ berçário. Muitos invertebrados vivem no lodo das marismas. A marisma oferece excelente proteção para as larvas e os pequenos peixes que vão e vêm com as marés. 
A Figura 11.1 é o diagrama de energia de um estuário, nele se mostra o papel da energia cinética. As células de fitoplâncton se mantêm suspendidas pelo movimento. O movimento ajuda na fotossíntese das plantas trazendo nutrientes, como dióxido de carbono (CO2 ), nitrogênio (N), e fósforo (P). Assim, a energia cinética ajuda ao processo de reciclagem. A agitação também mantém as partículas de matéria orgânica em suspensão e em movimento, de forma que os animais do fundo podem capturá-las e se alimentar delas atuando como filtros naturais. 
Figura 11.1 Diagrama de energia de um estuário. M, microorganismos; N, nitrogênio; P, fósforo; Dejetos: matéria orgânica morta e micróbios; bentos, animais do fundo: certo tipo de ostras, caranguejos de rio, e minhocas. Combustíveis.
A maré e o rio também trazem ao ecossistema nutrientes, dióxido de carbono, dejetos, zooplâncton, peixes, ovos e larvas de vários animais. A proliferação de mais espécies é relacionada à  maneira  que o ecossistema desenvolve maior complexidade. 
Os pequenos animais do tamanho de uma cabeça de alfinete, que estão suspendidos na água, constituem o zooplâncton; presente na água durante a noite, tende a se esconder nas partes baixas e escuras do ecossistema durante o dia. O zooplâncton come fitoplâncton e matéria orgânica em suspensão, servindo por sua vez de alimento a pequenos peixes. Principalmente peixes do grupo do arenque, incluindo sardinhas, anchovas, sáveis, etc, comem o zooplâncton e também, em menor proporção, fitoplâncton. 
Outro ramo da rede alimentar se encontra no fundo. Cai matéria orgânica do plâncton, e especialmente do bolo fecal do trato digestivo dos animais, também de plantas mortas do fundo. Os microorganismos consomem esta matéria orgânica. Os rios trazem no sedimento que arrastam, areia e barro que formarão o lodo no qual muitas das comunidades ecológicas do fundo (bentos) vivem. A mistura de matéria orgânica e de microorganismos que a decompõem se denomina dejetos. Os dejetos são uma rica fonte de alimento para outros organismos do fundo. 
Os grandes carnívoros (caranguejos, camarões e peixes), são capturados e vendidos pelos pescadores. Como exemplos de peixes do fundo podemos citar o linguado e o bacalhau pequeno. 
O papel do governo é controlar a pesca por regulamentos e permissões. Estas regras determinam quando ela está permitida. 
Muitas espécies de pássaros fazem parte do ecossistema do estuário, voando para dentro e para fora dele. As gaivotas se alimentam de animais que vivem no lodo do estuário e da praia durante a maré baixa. Aves, como a garça, se alimentam nos pântanos, e os pássaros mergulhadores, como pelicanos e cormoranes, se alimentam na água. 
Alguns organismos do estuário estão especialmente adaptados para resistir às constantes variações de salinidade. Devem sobreviver a níveis de salinidade de 0 ppt (partes por mil) na água doce a 36 ppt na água tropical dos oceanos. Como a energia deve ser usada principalmente para a adaptação às variações de salinidade, se dá menos importância à produção de biodiversidade, existem menos espécies nos estuários que nos rios ou no mar aberto. No entanto, por causa da alta fertilidade, existe uma maior produção das espécies presentes. 
À direita da Figura 11.1 está representada a pesca. Os barcos recebem divisas da economia, combustíveis e bens e serviços para sua manutenção. São também utilizados recursos humanos nos processos de pesca. O dinheiro é parte deste sistema ecológico-econômico, ingressa pela venda do pescado e é empregado na compra de combustível, bens e serviços. 
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11.2 RECIFES DE OSTRAS. 
As ostras se fixam umas às outras, construindo montes de conchas. Quando as ostras do fundo morrem, as larvas se fixam às conchas velhas, aumentando o tamanho do recife. Com a construção dos montículos, as ostras têm um melhor acesso às correntes que trazem comida e levam os resíduos. As indústrias que coletam ostras ajudam a manter o tamanho do recife colocando novamente as conchas vazias. Este é um exemplo de retroalimentação de um sistema natural realizado por uma parte da indústria pesqueira. 
A Figura 11.2 mostra como as marés e os rios causam correntes e trazem nutrientes inorgânicos e matéria orgânica. A interação das correntes e da matéria orgânica produz um fluxo de comida para as ostras adultas. As ostras adultas fazem o recife de conchas onde as larvas que crescem se fixam e se fazem adultas. A população de ostras se mantém baixa devido à predação natural, enfermidades e colheitas. O drill é um caracol que perfura a concha das ostras comendo a parte interna. O drill aumenta de número quando a salinidade do recife é moderadamente constante; quando o fluxo de água doce causa grandes variações de salinidade, a população diminui. 
Figura 11.2 Ecossistema de um recife de ostras. L, larvas; C, taladros carnívoros; E, enfermidades; M, microorganismos; Mat Org., matéria orgânica.
Os recifes de ostras de estuários comerciais têm uma alta produtividade. A diversidade e competitividade se mantêm baixas devido à constante flutuação da salinidade. Outro habitat comercial está na zona de entremarés, onde a exposição alternada ao ar mantém outras espécies à margem. Todavia, os recifes de ostras na zona de entremaré não podem alimentar-se através da filtração da água quando a maré está baixa, isto impede que estes tipos de recife cresçam tão rápido quanto os recifes de estuário em águas profundas. 
As ostras também vivem e crescem em plataformas de perfuração e próximos a recifes, mas a diversidade de espécies é alta e a produção é pouco comercial. 
Um novo método de cultivo consiste em colocar uma balsa com uma estante por baixo, onde as ostras crescem. 
Alguns recifes de ostras se contaminam com bactérias e vírus que foram filtrados da água contaminada do estuário. Estas ostras podem ser úteis porque abastecem ao estuário de larvas e se limparão novamente se as colocar em águas não contaminadas. 
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11.3 PLANÍCIE DE ALGAS. 
Os estuários rasos, de um ou dois metros de profundidade, recebem luz suficiente para produzir um denso leito de plantas de fundo, chamado planície de algas. Estas podem ser espécies de água doce, na zona superior; outras espécies em zonas de baixa salinidade; e espécies halo-tolerantes adaptadas a zonas de alta salinidade. Em algumas baías onde o índice pluviométrico é baixo, a salinidade pode alcançar valores maiores à media da água do mar, que é de 3,5%. Poucas espécies estão adaptadas a salinidades de 4,5% e 5,0%, mas sua produtividade pode ser muito alta. 
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11.4 PERGUNTAS E ATIVIDADES PARA O CAPÍTULO 11. 
Defina os seguintes termos: 
estuário 
maternidade 
invertebrados escavadores 
filtro-alimentação 
sedimento 
salinidade 
partes por mil 
fertilidade 
recife 
zona de entre maré 
dejetos 
Dê exemplos de tipos de plantas e animais encontrados no estuário. 
Discuta as características físicas do estuário. 
Desenhe um diagrama de energia de um ecossistema de estuário. 
Como se forma um recife de ostras? 
Dê duas razões para a alta produtividade das planícies de algas. 
Poluição Marinha
A poluição, como sabemos, tem o seu campo de ação diversificado, envolvendo os diversos ecossistemas que, por definição, possuem dois componentes: o ambiente povoado pelos seres vivos e o conjunto de seres que povoam esse ambiente. O agentes poluidores, em visão ampla, são comuns aos diferentes ecossistemas. Entretanto, academicamente, podemosalinhar aqueles que mais influem no ambiente marinho:
- Dejetos orgânicos e lixo doméstico;
-Resíduos de subprodutos não aproveitáveis da indústria e elementos de outras origens como metais pesados e objetos sólidos;
-Pesticidas, herbecidas, inseticidas e detergentes;
-Substâncias radioativas;
-Ação térmica; 
-Petróleo e derivados. 
Todos os poluentes acima, produzem danos aos ecossistemas e ao próprio homem, porém em termos de poluição marinha, os resíduos industriais e o petróleo e seus derivados apresentam, em análise válida para a atual conjuntura, os maiores malefícios. Como o desenvolvimento das ações de neutralização, das técnicas e do próprio proceder do homem, é possível que o quadro varie, devendo haver por conseguinte, um permanente controle pelos que dominam tal tipo de tecnologia e, assim, passam a ser responsáveis diante do mundo por essa tarefa gigantesca.
Não resta dúvida de que o petróleo e seus derivados representam uma das mais sérias formas de poluições do ambiente marinho. A própria poluição pelo petróleo é formadora de metais pesados como o níquel, o cobalto, o manganês e o vanádio, ao lado do que os hidrocarbonetos possam produzir de mal. Não apenas os imensos navios petroleiros que cruzam os oceanos, mas também os demais meios flutuantes no transporte das riquezas são responsáveis por essa poluição. Embora dependendo de uma série de circunstâncias como da quantidade do despejo, da circulação de correntes na região, da própria estação do ano e da reação com outros poluentes, é nociva a presença desses hidrocarbonetos e derivados como o benzeno, tolueno, fenol, etc. 
Mas a atividade industrial intensa tem lançado um grande número de metais pesados no oceanos, fazendo parte dos resíduos das mais significativas indústrias. São descarregados através dos efluentes das indústrias química, farmacêutica, através de resíduos de mineração, de indústrias de papel e de cosméticos e de portos onde são laborados os minérios a granel. O canal do porto de Santos(SP) é um exemplo vivo desta assertiva.
Continuação sobre poluição, enfocando a carcinicultura
Legislação para maricultura é débil
Quando o assunto é a maricultura brasileira, deve-se considerar as características oceanográficas regionais. No estado de Santa Catarina, a maricultura tem encontrado terreno fértil. Cerca de 90% da produção nacional de moluscos se concentra no estado. Além de apresentar condições climáticas e ambientais favoráveis e um litoral bastante recortado, com baías abrigadas, a pesquisa universitária e a extensão universitárias foram importantes no processo de crescimento dessa atividade. Os municípios de Palhoça, Florianópolis, Governador Celso Ramos, Bombinhas, Penha e São Francisco do Sul são responsáveis pelos maiores índices de produção do estado. Nenhum dos produtores desses municípios, no entanto, têm suas atividades devidamente legalizada.
As condições favoráveis de temperatura das águas e baías abrigadas também fazem com que o estado se destaque na produção de ostras do pacífico (Crassostrea gigas) e mexilhões (Perna perna). Para estes, os imensos bancos naturais de sementes espalhadas por toda a costa rochosa do litoral catarinense são fatores favoráveis.
A produção de mexilhões teve um significativo aumento na década de 90, passando de 500 toneladas em 1991 para 11.364 toneladas em 2000. A queda na produção do ano seguinte envolve dois fatores. O primeiro representa a dificuldade dos produtores na extração de sementes nos bancos naturais. O outro fator indica que só houve assentamento de sementes nos coletores manufaturados. No caso das ostras, nesse mesmo período, o aumento foi de 48 mil dúzias/ano em 91 para 762 mil dúzias/ano em 2000. 
	Evolução na produção de mexilhões cultivados em Santa Catarina (toneladas)
	
	Fonte: Epagri
Do ponto de vista dos maricultores, o patamar no qual se encontra a produção catarinense e a riqueza gerada não podem ser negligenciados. Uri Mafra Machado, presidente da Federação das Associações de Maricultores de Santa Catarina (Famasc), explica que o número de famílias envolvidas na atividade e o volume de capital gerado deveriam chamar mais atenção do poder público. "É uma atividade recente e carece de muita regulamentação. Até o momento temos apresentado algumas propostas, alguns projetos e programas ao governo que gostaríamos de implementar, mas o governo tem tido dificuldades em avançar. Não temos um malacocultor (produtor de moluscos marinhos) legalizado no estado de Santa Catarina, nem no Brasil", diz. 
Assim, como as demais atividades usuárias de recursos naturais, a maricultura precisa de normas, critérios e instrumentos legais que balizem suas atividades. No entanto, embora o Brasil conte com alguns documentos legais no setor, esse conjunto ainda se mostra inadequado, inacabado e ineficiente, denotando que há muito trabalho a ser feito. "Em uma discussão, em novembro de 2002, entre o Ibama, técnicos e produtores do sudeste e do sul do país, foi elaborado um documento e encaminhado para o presidente do Ibama para que se baixasse uma portaria que tratasse do problema do licenciamento ambiental. A Federação Nacional [da categoria] está trabalhando através de um projeto que foi aprovado juntamente com o Ministério de Desenvolvimento Agrário no final de 2002. O projeto refere-se a demarcação e mapeamento de áreas na lâmina d'água. Estamos encaminhando ao Ministério pedidos de reconhecimento dessas áreas, através da liberação de registros", explica Machado.
Impactos ambientais são positivos
Para Francisco Manoel de Oliveira Neto, coordenador do Programa de Desenvolvimento de Cultivo de Moluscos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), os impactos ambientais da malacocultura têm sido positivos, pois vem despertando a consciência ecológica dos pescadores.
Além de a malacocultura ser uma atividade geradora de renda e emprego nas comunidades pesqueiras, apresenta-se como fixadora das populações tradicionais, minimizadora da pesca predatória, favorecendo o retorno de espécies de peixes aos locais de cultivo. "Um fator positivo da atividade é a recuperação dos estoques pesqueiros e a formação e/ou recuperação da biodiversidade. Espécies que deixaram de existir nos ecossistemas costeiros reapareceram, como, por exemplo, os polvos, garoupas, badejos e outras. A questão da poluição não incomodava os produtores, que antes só praticavam atividades extrativistas, hoje passou a incomodar, já que próximo à comunidade dos pescadores fica a zona de cultivo e cerca de 85% dos maricultores são pescadores artesanais. Se o esgoto é jogado diretamente no mar, eles brigam", explica. Diferente da piscicultura marinha, a alimentação das ostras e mexilhões é feita naturalmente, não sendo lançado nenhum tipo de alimento no mar.
O mesmo não acontece com a carcinicultura. Iracema Nascimento, coordenadora de Pesquisa da Faculdade de Tecnologia e Ciências e pesquisadora do CNPq pela Universidade Federal da Bahia-UFBA, explica que a oferta de alimento aos camarões nos tanques de cultivo é fator de aumento do material em suspensão, o que pode gerar déficit de oxigênio em determinadas circunstâncias, impossibilitando a filtração para os animais que utilizam esse mecanismo de alimentação. Sobre isso, Oliveira Neto defende-se dizendo que, no caso da malacocultura as áreas que constituem os parques aquicolas ocupam um percentual minimo dos ecossistemas. Segundo ele, as áreas são devidamente delimitadas, sinalizadas e com planos de manejo. "Nos quinze anos da existência do cultivo, a atividade não apresentou resultado negativo nenhum", finaliza.
A maricultura, como ramo específico da aqüicultura (atividade que consiste na produção, em cativeiro, de organismos com habitat predominantemente aquático), trata da produção, em cativeiro, de organismos marinhos. Dos 27,8 milhões de toneladas de recursos aquáticos produzidos anualmente pela aqüicultura mundial, 47% vem da água salgada, outros 47% da água doce e o restante,6%, da água salobra. Relatórios da Organização das Nações Unidas para Alimento e Agricultura (FAO), estimam em 120 milhões de toneladas a produção mundial de organismos marinhos, sendo 77% capturados e 23% cultivados. Isso mostra que, apesar dos avanços tecnológicos das ciências oceanográficas - a partir da década de 50 - e da aplicação dos princípios básicos de funcionamento dos ecossistemas marinhos na Oceanografia Pesqueira, a maricultura ainda é muito menor em relação a pesca e ao extrativismo dos bancos naturais. Atualmente, a maricultura é um dos setores que mais cresce dentro do cenário global de produção de alimentos, sendo vista como alternativa para atender a demanda comercial e a preservação dos estoques naturais. Seu crescimento vem apresentando uma taxa média de 10,6% ao ano, desde 1990. 
A totalização anual da produção aquícola brasileira é 115.398 toneladas. Os estados de Santa Catarina, com 22.650 toneladas, o equivalente a 20% da produção, e Rio Grande do Sul, com 17.448 toneladas e 15,1% da produção, atribuem à região um visível domínio na produção aquícola nacional. Apesar do clima menos favorável - mais frio-, os três estados sulistas representam 49,1% da produção nacional. Os outros estados que mais produzem são São Paulo e Bahia (ver tabela 1).
	TABELA 1 - Produção aquícola nos diferentes Estados brasileiros.
	Estado 
Produção (t) 
Participação (%)
SC 
22.650 
19,6
RS 
17.448 
15,1
PR 
16.537 
14,3
SP 
15.830 
13,7
BA 
8.070 
7,0
CE 
7.257 
6,3
RJ 
4.500 
3,9
RN 
4.304 
3,7
	(Fonte: Aqüicultura no Brasil, bases para um desenvolvimento sustentável, alterado).
Uma atividade que se destaca na maricultura brasileira é a carcinicultura. "O termo é empregado genericamente para referir-se ao cultivo de crustáceos, sejam camarões, lagostas, caranguejos ou crustáceos microscópicos. Entretanto, seu uso é mais comumente associado ao cultivo de camarões, atualmente concentrado na espécie exótica, não nativa do Brasil - Litopenaeus vannamei", explica Willian Severi, professor do Departamento de Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Entre 1996 e 2000 o cultivo de camarão cresceu em áreas de viveiro, de produção total e de produtividade. A área de cultivo teve um acréscimo de 95% nos últimos cinco anos. A produção total teve o extraordinário aumento de 768%, isso representa o grau de tecnificação a que foi submetido o cultivo de camarão (ver tabela 2).
	TABELA 2 - Evolução da carcinicultura brasileira (1995 -2000)
	Itens/Anos 
1996 
1997 
1998 
1999 
2000
Área de viveiros em ha 
3.200 
3.548 
4.320 
5.200 
6.250
Produção em Ton. 
2.880 
3.600 
7.250 
15.000 
25.000
Produtividade em kg/ha/ano 
900 
1.015 
1.680 
2.885 
4.000
	(Fonte: ABCC. Plataforma Tecnológica do Camarão Marinho Cultivado).
A produtividade nacional de 4.000 kg/ha/ano, registrada no ano 2000, mostra a eficiência tecnológica na produção do camarão marinho cultivado, colocando o Brasil entre os primeiros países produtores do mundo, em rendimento. Cerca de 95% da área cultivada de camarão marinho está no nordeste e 97% da produção nacional. O Rio Grande do Norte é o estado que mais produz. De um total de 380 fazendas, 149 se concentram no estado, abrangendo uma área de 1.750 ha. Outro estado que se destaca na carcinicultura é a Bahia, com um total de 38 fazendas que estão distribuídas em 1.510 ha de área. Na Bahia há predominância dos grandes produtores.
Carcinicultura: Solução ou Problema?
Iracema Nascimento, da UFBA, preocupa-se com as consequências ambientais. "O uso excessivo das áreas com monocultivo de camarões pode gerar problemas ambientais, que justificam buscas de alternativas de locações dos empreendimentos de carcinicultura. O lançamento de efluentes pelas fazendas de camarão pode exceder a capacidade assimilativa do corpo receptor, resultando em comprometimento da qualidade da água para uso na própria fazenda".
O problema dos efluentes também merece atenção entre os pesquisadores pernambucanos. William Severi, explica que, atualmente, o Departamento de Pesca da UFRPE desenvolve projetos voltados à minimização do impacto de efluentes de carcinicultura sobre a qualidade da água dos estuários. Esses projetos envolvem o cultivo consorciado de ostras com biofiltro, o manejo de água em viveiros e o dimensionamento dos níveis de nutrientes em cultivos com renovação controlada de água e troca-zero.
Os manguezais, locais próximos de onde se cultiva o camarão devido à presença de água salobra, são áreas protegidas em que a quantidade de silte e argila ultrapassa a quantidade de areia nos sedimentos. Com a introdução de alimentos nos tanques de cultivo, as quantidades de materiais em suspensão, que ultrapassa teores de 50mg/L em sólidos filtráveis, são aumentados, de modo que, pela própria dinâmica da atividade, pode-se atingir valores críticos para organismos filtradores, gerando a impossibilidade de filtração para animais como as ostras, por exemplo. Procurando reduzir os impactos ambientais, as fazendas são obrigadas a construir extensos canais que propiciem a sedimentação de parte do material siltoso ou argiloso, antes de sua introdução nos viveiros. "Além disso, torna-se obrigatória a construção de lagoas de estabilização para os efluentes das fazendas; do contrário, o aumento do material em suspensão (decorrente da oferta de alimento não de todo utilizado) liberado para o corpo receptor, no final de cada ciclo de produção, poderá ocasionar sérios problemas para os organismos do ecossistema, representando uma intervenção nociva ao ambiente", explica Nascimento. Apesar dos impactos causados pelo acúmulo de matéria orgânica, Nascimento explica que os problemas da carcinicultura baiana não são ainda de maior gravidade, "em estados vizinhos, devido à maior expansão da atividade, sobretudo através de pequenos empreendimentos onde o controle ambiental é precário, os impactos sócio-econômicos são maiores, envolvendo riscos como a redução da área produtiva da atividade tradicional de mariscagem e pesca; alteração do padrão social tradicional; redução dos estoques pesqueiros; privatização de áreas de uso público com indisponibilização de bens comuns; e riscos à saúde por uso de substâncias químicas". 
A carcinicultura, como qualquer outra atividade humana que visa a produção de bens de consumo, transforma recursos naturais e produz restos. "Ela é um problema quando destrói ou impacta manguezais, com conseqüentes problemas ambientais e sociais, já que populações de baixa renda podem ser privadas de seu sustento. O cultivo semi-intensivo de camarões marinhos no Brasil vem tendo paulatino avanço tecnológico, em termos de desenho e manejo das fazendas", explica Nascimento. Por outro lado, os parâmetros de geração de empregos da carcinicultura (0.7 empregos/ha) e os de renda e geração de divisas são mais altos que os de outras atividades agrícolas e/ou industriais.
Desde que se busquem alternativas de localização no sentido de serem respeitados os dispositivos de leis que estabelecem a preservação dos manguezais, e que se atendam aos demais critérios de sustentabilidade estabelecidos pelo Conama em recente resolução, a atividade poderá ser considerada eco-compatível. "A dúvida (e risco) é se teremos condições de chegar a este patamar antes da destruição de nossa costa", questiona Nascimento. Para Severi, num modelo desenvolvimentista, de lucro a qualquer custo - sobretudo ambiental-, sem dúvida a carcinicultura é um grande e grave problema. Na ótica do modelo sustentável, se não é uma solução, é indubitavelmente uma alternativa altamente justificável para o desenvolvimento econômico e, por que não, da manutenção da integridade ecológica dos ambientes explorados, na medida em que um dos pilares de sua sustentabilidade é a própria manutenção do equilíbrio do ecossistema. Utopia? Severiacha que não. Para ele é apenas uma mudança de paradigma de desenvolvimento.

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