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APOSTILA LEI DE FALÊNCIAS ATUALIZADA EM AGOSTO 2006

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FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE OURINHOS
DIREITO DE EMPRESA III
MANUAL DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL, EXTRAJUDICIAL E DE FALÊNCIA DO EMPRESÁRIO E DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA
LUIZ ANTONIO RAMALHO ZANOTI
ÍNDICE
5INTRODUÇÃO.	�
91. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO FALIMENTAR	�
122. DIREITO FALIMENTAR BRASILEIRO	�
153. DIREITO FALIMENTAR COMPARADO	�
164. DIRETRIZES BÁSICAS DO NOVO DIREITO FALIMENTAR BRASILEIRO	�
175. INÍCIO DE VIGÊNCIA DA NOVA LEI DE FALÊNCIAS	�
176. QUEM ESTÁ SUJEITO À NOVA LEI DE FALÊNCIA	�
197. PRINCÍPIOS DO REGIME DE INSOLVÊNCIA DO AGENTE ECONÔMICO	�
197.1.	Princípio da viabilidade econômica da empresa	�
207.2. Princípio da relevância do interesse dos credores	�
217.3. Princípio da publicidade dos procedimentos	�
217.4. Princípio da par conditio creditorum	�
217.5. Princípio da maximização dos ativos	�
227.6. Princípio da preservação da empresa	�
8. TRANSIÇÃO ENTRE A ‘LEI DE FALÊNCIA E CONCORDATA’ E A ‘LEI DE 
 RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS’	23�
249. QUEM ESTÁ EXCLUÍDO DA NOVA LEI DE FALÊNCIAS	�
2610. RECUPERAÇÃO DE EMPRESA INDIVIDUAL	�
2611. SOCIEDADES NÃO-PERSONIFICADAS	�
2612. EMPRESÁRIO DE FATO	�
2713. SÓCIOS DE RESPONSABILIDADE ILIMITADA	�
2714. IMPEDIDOS DE EXERCER A EMPRESA	�
2715. INCAPAZES DE EXERCER A EMPRESA	�
2716. MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE	�
2817. FORO E JUÍZO	�
2818. RECLAMAÇÕES TRABALHISTAS	�
2919. UNIÃO	�
2920. CRÉDITO TRIBUTÁRIOS	�
3021. AÇÕES ANTERIORES AO PROCESSO DE INSOLVÊNCIA	�
3122. CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS NA FALÊNCIA	�
3223. RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E O FIM DA CONCORDATA	�
3423.1.	Recuperação judicial	�
3623.1.1.	 Estrutura procedimental do processo de recuperação judicial	�
3823.1.2. Recuperação Judicial - Média e Grande Empresa	�
23.1.3. Tipos de créditos que poderão ser englobados na ‘Recuperação 
 Judicial’	40�
4123.1.4. Plano de recuperação	�
4223.1.4.1.	Aspectos práticos do plano de recuperação judicial	�
23.1.4.2.	Aprovação do Plano de recuperação – Assembleia de 
 Credores.	45�
23.1.5. Recuperação judicial da microempresa e empresa de pequeno 
 porte	48�
4823.1.5.1. Apresentação do plano especial	�
4923.1.5.2. Procedimento para a aprovação do plano especial	�
5023.1.6. Verificação e habilitação dos créditos	�
5223.2. Recuperação Extrajudicial	�
5523.2.1. Procedimento	�
5623.2.2. Créditos não-sujeitos à recuperação extrajudicial:	�
5623.3 Administração dos bens	�
5723.3.1. Substituição administrativa	�
5723.4. Meios de recuperação empresarial no caso de crise econômica	�
5823.5. Meios de recuperação empresarial no caso de crise financeira	�
6124. ADMINISTRADOR JUDICIAL	�
6225. COMITÊ DE CREDORES	�
6426. TRANSFORMAÇÃO DA RECUPERAÇÃO EM FALÊNCIA	�
6527. CUMPRIMENTO DA RECUPERAÇÃO	�
6528. FALÊNCIA	�
6528.1. Noção	�
6728.2. Insolvência	�
6828.3. Decretação	�
6828.4. Falência ex officio	�
6828.5. Pluralidade de credores	�
6828.6. Presunção de falência por impontualidade	�
7028.7. Protesto	�
7028.8. Depósito elisivo	�
7128.9. Negócio simulado ou alienação do ativo	�
7128.10. Quem pode requerer a falência	�
7128.11. Sucessão tributária	�
7228.12. Classificação dos créditos.	�
7828.13. Credor privilegiado	�
7828.14. Fazenda Pública	�
7828.15. Coobrigados	�
7828.16. Prazos judiciais	�
7928.17. Realização do ativo	�
8029. PROCEDIMENTO	�
8029.1. Despacho liminar	�
8029.2. Citação	�
8129.3. Alternativas do devedor citado	�
8229.4. Suspensão do processo	�
8329.5. Parecer do Ministério Público	�
8329.6. Procurador com poderes especiais	�
8329.7. Desistência do pedido	�
8429.8. Recursos	�
8429.9. Efeitos da decretação da falência	�
8429.10. Exigibilidade antecipada dos créditos	�
8529.11. Efeitos da falência quanto ao devedor	�
8529.12. Direitos do devedor	�
8530. AÇÕES REVOCATÓRIAS	�
8730.1. Atos com a matriz durante o termo legal	�
8830.2. Atos praticados no biênio anterior à falência	�
8830.3. Inscrições	�
8830.4. Venda ou transferência do estabelecimento	�
8830.5. Efeito restituitório	�
8830.6. Iniciativa par se promover a revogação	�
8931. ADMINISTRAÇÃO DA FALÊNCIA	�
9032. INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO	�
9033. ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES	�
9234. ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA	�
9235. EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES	�
9336. CRIMES FALIMENTARES	�
9336.1. Conceito	�
9436.2. Natureza Jurídica	�
9536.3. Das penas em abstrato	�
9536.4. Vigência da lei e abolitio criminis	�
9636.5. Condição objetiva de punibilidade	�
9836.6. A prescrição penal e os novos crimes falimentares	�
9936.7. Falência fraudulenta	�
10036.7.1. Causas de aumento de pena	�
10136.7.2. Causa de diminuição ou substituição de pena	�
10336.8. Violação de sigilo empresarial	�
10536.9. Indução a erro	�
10636.10. Favorecimento de credores	�
10636.11. Desvio, ocultação ou apropriação de bens	�
10836.12. Aquisição, recebimento ou uso ilegal de bens	�
10936.13. Habilitação ilegal de crédito	�
11036.14. Exercício ilegal da atividade	�
11136.15. Violação de impedimento	�
11236.16. Omissão dos documentos contábeis obrigatórios	�
11336.17. Da persecução penal dos novos crimes falimentares	�
11437. PRINCIPAIS MUDANÇAS ACOLHIDAS NA LEGISLAÇÃO FALIMENTAR	�
11938. BIBLIOGRAFIA	�
11938.1. Básica	�
11938.2. Bibliografia Recomendada	�
12638.3 Bibliografia eletrônica	�
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INTRODUÇÃO
Após doze anos de tramitação na Câmara dos Deputados, o Presidente da República sancionou a Lei n. 11.101, de 09-02-2005, que regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, e a Lei Complementar n. 118, que altera dispositivos do Código Tributário Nacional, adaptando suas disposições à nova Lei de Falências. 
A nova Lei de Falências abre a possibilidade de reestruturação às empresas, economicamente viáveis, que passem por dificuldades momentâneas, mantendo os empregos e os pagamentos aos credores. 
Ela visa a dar ao País um texto moderno e consentâneo com a nova realidade por que atravessa o mundo moderno, bem diferente daquele universo em que a antiga lei (Decreto-Lei n. 7.661, de 21/06/45) foi concebida.
O Congresso Nacional se empenhou para que o projeto se transformasse na lei que, sem dúvida, poderá dar novo impulso à economia e fortalecerá aquelas empresas que, debilitadas e sem nenhuma chance de reabilitação, alquebradas por fatores exógenos e econômicos, poderão doravante reverter a situação negativa de seus negócios, com saldo positivo não só para os credores, mas também como fonte de manutenção dos empregos e da fonte produtora. Preserva, deste modo, a empresa, com sua função social.
A nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas, diferentemente da antiga, de 1.945, visa a propiciar, ao longo dos seus 217 artigos, meios e providências para a manutenção no mercado de companhias em crise.
A Lei n. 10.101, de 09/02/2005, personaliza a empresa, apartando-a da figura do empresário. 
O objetivo é, a despeito dos fatores negativos, manter viva a unidade produtiva, permitindo a continuidade dos empregos e o exercício de sua imprescindível função econômico-social na comunidade onde atua. 
Para tanto, foram criadas as figuras da recuperação judicial, que substitui a antiga concordata, e a extrajudicial, que permite um amplo acordo amigável, embora vinculativo, entre os credores e o devedor em dificuldades.
Na nova lei, ocorrendo a falência, afasta-se o empresário e procura-se, o mais rapidamente possível, dar continuidade à empresa, pela sua venda a terceiros, ou mediante sua adjudicação pelos próprios credores, ou por sua compra por parte de seus empregados, ou ainda o seu arrendamento. 
Há uma série de providências nessa nova legislação falimentar que permitem, portanto, que mesmo ocorrendo a falência, não se percam as unidades produtivas. Essa personificação, na esteira do famosoconceito da empresa em si (unternehmen an sich) do direito alemão, é a razão principal do novo regime legal da falência entre nós.
O novo instrumento legal é auspicioso, se comparado ao antigo, que na prática, pela sua manipulação, protegia o devedor da concordata. O mesmo ocorria no processo falimentar, cuja delonga provocava o desinteresse dos credores financeiros e comerciais, em face da iníqua ordem de preferência dos créditos “trabalhistas” dos próprios administradores da falida e os de natureza tributária.
A nova lei estimula a participação dos credores na recuperação judicial e na falência. São agora criados instrumentos de efetiva intervenção dos interessados, por meio da assembleia geral e do comitê, com poderes para decidir, por maioria, sobre os créditos das diversas classes, diminuindo, desta forma, a intervenção do juiz no curso do processo.
Não obstante essas inovações, muitas críticas têm ocorrido, em face das diversas emendas que surgiram a partir de 2.000/2.001, no projeto original de 1.993, e que privilegiaram não somente os empréstimos, como também os contratos bancários, sobretudo no regime de recuperação judicial. 
As críticas chegaram a tal ponto que se apelidou o novo diploma de “Lei Febraban”, para assim dizer que tais emendas fizeram com que ela não mais estivesse voltada à recuperação das empresas em crise, mas à salvação do capital financeiro aí aplicado. Na verdade, os créditos bancários na falência apenas têm privilégio até o valor das respectivas garantias, e o saldo cai na vala comum dos quirografários. (CARVALHOSA: 2005, p. A3)
Contudo, entendemos que há necessidade de se criar juizados especiais ou tribunais de falência, a exemplo de outros países, em número suficiente, para desemperrar de vez o congestionamento da justiça falimentar e a comum. 
Os juizados de pequenas causas são o modelo gritante de que há remédio para tudo. Não bastam leis renovadoras, é preciso que se aumente o número de juízes, dando-se-lhes remuneração condigna, com a respectiva reestruturação do sistema cartorário, para que realmente este Poder possa desempenhar o ofício constitucional que lhe cabe. Basta a vontade política para se resolverem as mais intrincadas questões. 
 Um dos grandes méritos apontados da nova legislação falimentar é a prioridade dada à manutenção da empresa e dos seus recursos produtivos. 
Ao acabar com a concordata e criar as figuras da recuperação judicial e extrajudicial, a nova lei aumenta a abrangência e a flexibilidade nos processos de recuperação de empresas, mediante o desenho de alternativas para o enfrentamento das dificuldades econômicas e financeiras da empresa devedora.
Importante expor que segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Gestão e Turnaround (IBGT), se a nova Lei de Falências já tivesse sido aprovada, 90% das empresas que fecharam as portas no ano de 2002, em São Paulo, teriam chances reais de sobrevivência. 
A Lei de Falências foi amplamente reformulada, transformando-se na nova Legislação de Recuperação Judicial, a Falência e a Recuperação Extrajudicial do Empresário e da Sociedade Empresária. 
No relatório do PLC n. 71/2003 ficou claro que a nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas seria norteada pelos seguintes princípios:
Preservação da empresa;
Separação dos conceitos de empresa e de empresário;
Retirada do mercado de sociedades ou empresários não recuperáveis;
Proteção aos trabalhadores;
Redução do custo do crédito no Brasil;
Celeridade e eficiência dos processos judiciais;
Segurança jurídica;
Participação ativa dos credores;
Maximização do valor dos ativos do falido;
Desburocratização da recuperação de microempresas e empresas de pequeno porte;
Rigor na punição de crimes relacionados à falência e à recuperação judicial.
O princípio da preservação da empresa nada mais é de que uma locução nova do princípio da livre iniciativa e na valoração do trabalho humano, contidos no Art. 170, da Constituição Federal, que por sua própria natureza exige que haja uma veiculação mais próxima da aplicabilidade prática para preceitos tão fundamentais para o desenvolvimento da nação, haja vista a inquestionabilidade da importância da empresa tanto para preservação da economia como da própria sociedade moderna, evidenciando-se que, no aspecto econômico, é a empresa a responsável primeira pela manutenção do ciclo econômico para produção e circulação de riquezas e renda dentro do sistema econômico da uma nação. (TROVÃO: 2005, p. 2)
Fala-se, assim, do surgimento de um Direito Concursal cuja repercussão reverbera efeitos no Direito Falimentar, exigindo-se dele uma revisitação de seus próprios pressupostos com a adoção de uma perspectiva revolucionária, que não mais se condiz com a perspectiva anterior de dar solução ao empreendimento com a única e exclusiva finalidade de liquidar ativos para satisfazer passivos, obedecida uma ordem espartana de preferências que em nada contribuiria para a manutenção do empreendimento, ou até mesmo a mera e singela tentativa de sua recuperação. 
E é no sentido acima alinhavado que observamos as considerações de PAES DE ALMEIDA, na exata forma que a seguir transcrevemos: Podemos afirmar que a reorganização econômica da empresa auxilia na melhor observação de sua função social porque atinge o interesse público existente na continuação da atividade funcional da empresa. (PAES DE ALMEIDA:.2005,.p.10)
Inobstante ao exposto, cabe ainda destacar que o pressuposto de recuperação da empresa não surgiu como uma inovação eloquente emanada de doutrinas ainda sujeitas ao juízo crítico dos exegetas e doutrinadores, mas sim, como uma premência de ordem doutrinária e jurisprudencial internacional, desvelada por muitos estudiosos do tema e acolhidas por igual número de interessados. 
Desta forma, o princípio de preservação da empresa atinge, ao mesmo tempo, interesses diversos que se promanam de ordens independentes do corpo econômico, social e jurídico de uma nação. Atinge o interesse social configurado pela necessidade de preservação de um negócio fruto do "affectio societatis" entre empreendedores que, de comum acordo e por comunidade de interesses, somam seus esforços com vistas a assumir riscos, obter lucros, mas, antes de tudo, contribuir para a manutenção e conservação de um ciclo econômico mais harmonioso e convergente nos interesses da coletividade. 
Atinge também o interesse econômico celebrado como corolário de verdade racional do sistema capitalista mundial, onde livre iniciativa e livre concorrência não são inimigos capitais, mas, sim, pressupostos que se somam, se congregam para obtenção de satisfação plena das necessidades ilimitadas do ser humano frente a recursos cada vez mais escassos, privilegiando a auto-sustentabilidade sistêmica da economia e, em decorrência disso, a sobrevivência da própria humanidade. 
Atinge ainda o interesse público, posto que a recuperação de empresas admite a conservação de empregos, postos de trabalho que, se perdidos se tornam irrecuperáveis, dada à própria natureza do empreendimento, além do que otimiza recursos disponíveis induzindo ao apuro tecnológico e aperfeiçoamento dos meios de produção, tudo em consonância com o pressuposto da livre-iniciativa como baluarte inderrogável da própria existência da sociedade bem como da nação soberanamente tomada.
A ideia do Decreto-Lei nº 7.661/45, antiga Lei de Falências e Concordatas, era, em tese, retirar do mercado uma empresa nociva à economia, seja por sua má-administração, seja pela inviabilidade de seu negócio. 
Na prática, a antiga lei era utilizada para a cobrança de dívidas, a satisfação do credor e, diga-se, nem para isto ela servia. 
No entanto, com o advento das décadas posteriores à de 40, o incremento da atividade industrial, a globalização econômica e o aumento populacional e, de conseguinte, do desemprego, fome e miséria em escala mundial, o Brasil, na contramão dos países estrangeiros, necessitava de uma leique facilitasse a continuidade da empresa, e não seu desaparecimento. (SABINO: 2005, p. 1)
O correr das décadas escancarou a necessidade de preservação da instituição empresarial. Notava-se que a empresa exercia, como exerce, papel fundamental na sociedade moderna: geração de empregos, criação de divisas, movimentação da economia, exportação de produtos, entre outros itens de suma importância. Uma empresa em funcionamento fomenta ocupação, alimentação, crescimento econômico. 
Não poderia mais se permitir que o único meio de recuperação empresarial previsto era a concordata, boa para quem tinha estoque e grande passivo quirografário, ruinosa para prestadores de serviços e demais pessoas jurídicas. 
Urgia, destarte, um novo código que fosse capaz de regulamentar a recuperação empresarial e dar, ao empresário, meios de salvar a sociedade em estado de insolvência. 
É este o cenário em que surge a nova Lei de Falência e Recuperação Empresarial, a Lei nº 11.101/2005.
A nova lei, sob o ponto de vista abstrato, logrou êxito ao privilegiar a recuperação da empresa em detrimento da satisfação do credor. 
Antigamente, por exemplo, um credor que possuísse uma duplicata de qualquer valor que não fosse paga no vencimento, poderia requerer a falência do comerciante. Esta previsão fazia, na prática, com que o credor fosse a juízo pedir a falência da empresa para receber seu crédito. 
Hoje em dia, a chamada "falência por impontualidade" pode ser requerida apenas por quem tenha título de crédito de, no mínimo, 40 salários mínimos. 
É um inegável avanço.
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO FALIMENTAR 
A palavra ‘falência’ vem do latim: fallere (faltar). Utilizava-se, como sinônimo de falência, a expressão ‘quebra’, haja vista que a banca dos devedores era quebrada pelos credores. 
Usava-se, ainda, a expressão ‘bancarrota’ para definir a situação relativa à falência, sendo que tal palavra deriva da expressão italiana banco rotto, que significa banco quebrado, pois era costumeiro, na Idade Média, se quebrar o banco em que negociava o comerciante em praça pública.
No Direito Romano, a obrigação era essencialmente pessoal, isto é, na falta de cumprimento, o devedor respondia com o seu próprio corpo, e não com o patrimônio. Não se exigia a intervenção do Estado; todo problema era resolvido pelas próprias mãos dos credores. 
A fase mais primitiva do Direito Romano foi o direito quiritário, época essa, que a pessoa do devedor era adjudicada ao credor e reduzida a cárcere privado. 
Sob esse aspecto, temos o parecer de Amador Paes de Almeida: O direito quiritário (período mais primitivo do Direito Romano) admitia-se a adjudicação do devedor insolvente que, por sessenta dias, permanecia em estado de servidão para com o credor. Não solvido o débito, podia vendê-lo como escravo no estrangeiro, e até mesmo matá-lo.
A partir da Lei das XII Tábuas se delinearam a execução singular e a execução coletiva, sendo essa fase de grande contribuição do direito romano ao nosso instituto. A propósito, no n.9, da Tábua Terceira, estava estabelecido: Se são muitos os credores, é permitido, depois do terceiro dia de feira, dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os credores, não importando cortar mais ou menos; se os credores preferirem, poderão vender o devedor a um estrangeiro, além do Tibre (BEZERRA FILHO: 2005, p. 31).
Ainda no campo da execução pessoal, formou-se entre os romanos o contrato denominado nexum, mediante o qual o devedor poderia evitar o início da execução contra ele, obrigando-se a prestar serviços como escravo ao credor, até a satisfação de toda a dívida. (BEZERRA FILHO: 2005, p. 31-32).
No ano de 428 a.C. surgiu a Lex Poetelia Papiria, onde os bens do devedor e não mais o seu corpo passa a constituir garantia dos credores. 
Nelson Abrão destaca dois importantes efeitos da Lex Poetelia Papiria. Em suas palavras: A missio in possessio nem foi precedida pela Lex Poetelia Papiria, do ano 428 ou 441 de Roma, com dois importantes efeitos: suprimiu do processo de execução a vindita corpórea consubstanciada na manus injectio e deu maior conotação pública ao procedimento, acrescentando a ingerência do magistrado. 
A Lex Poetelia Papiria, imprimindo um abrandamento sensível nos meios de execução das dívidas do devedor insolvente, porquanto a execução não mais poderia recair obre a pessoa do devedor, mas apenas sobre o seu patrimônio. 
Essa modificação no sistema de execução coletiva das dívidas, inspirou o legislador medieval a criar o instituto da moratória e da concordata preventiva da falência, que por sua vez, perduraram também por muitos séculos, chegando aos nossos dias. 
A moratória e a concordata preventiva da falência fizeram surgir uma situação inusitada no processo de insolvência, pois não mais se buscava apenas a satisfação dos credores, mas a composição entre devedor e seus credores.
Depois a Lei Aebutia (643), que fez substituir o processo das legis actiones, pelo processo formular, o pretor Rutilio Roffo, à vista da bonorum sectio, instituiu a missio in bona ou missio possessionem, que consistia no desapossamento dos bens do devedor, a pedido do credor e por ordem do magistrado. 
Perdia, então, o devedor, a administração de seus bens, que passavam ao curator, nomeado pelo magistrado. 
O credor dava, então, publicidade à missio (bonurum prescriptio), para que os outros credores pudessem vir a concorrer, dentro de trinta dias. 
Se passado esse prazo o devedor não solvesse seus compromissos, o curator alienava, (bonurum venditio) ao melhor ofertante (bonurum emptor), o patrimônio do devedor, que o sucedia a título universal e respondendo, consequentemente, pelas obrigações assumidas pelo devedor, pagando proporcionalmente, caso o ativo fosse insuficiente para a satisfação completa de todos, e obedecendo a mais perfeita igualdade. 
Se o devedor preferisse, podia usar da cessio bonurum, isto é, fazer cessão de seus bens ao credor, que podia vendê-los separadamente por intermédio do curador (bonurum distractio), a fim de pagar, em rateio, aos demais credores. 
No ano de 737, foi criada a cessio bonorum, pela Lex Julia, na qual alguns autores consideram o embrião da falência. Escreve, sobre esse aspecto, Waldemar Ferreira: Não poucos romanistas divisam, na Lex Julia, o assento do moderno Direito Falimentar, por ter editado os dois princípios fundamentais - o direito dos credores de disporem de todos os bens do devedor e da par condictio creditorum. Com a cessio bonorum, o credor passa a tomar iniciativa da execução em seu benefício e também dos demais credores, surgindo, assim, o conceito de massa falida.
A Idade Média teve como base o Direito Romano e o Direito Canônico, formando seu direito comum. Nessa fase, o processo de execução se aperfeiçoa em decorrência do crescimento da autoridade estatal, que procurou coibir os abusos de caráter privado. Mas, isso não fez abolir a repressão penal, sendo esse traço característico do instituto falimentar daquela época. 
Depois de instaurada a falência os credores instituíam, através de assembleias, um administrador para os bens do falido, sendo dado prazo de um ano para saldar suas dívidas. Caso não fizesse certos estatutos, excluíam-no de todo e qualquer benefício; outros o privavam do direito de cidadania, lembrando também que se estendia toda a consequência dessa dívida aos seus filhos e herdeiros [vi].
Nos tempos modernos tivemos um marco importante que foi a criação do Código Napoleônico. 
Pode-se notar, também, que nova mentalidade começou a influenciar o direito falimentar, devido às ideias individualistas e utilitaristas sobre a economia liberal. Napoleão, criador do código vigente, demonstrou, através deste, que não compreendia as distinções que havia entre os falidos; achava que o falido deveria ser julgado independente de sua culpa ou dolo, pois a falência poderia ser usada para criar fortuna, sem fazer perder a honra.No entanto, tomou medidas para impedir que isso acontecesse, criando a pena de detenção com efeitos de correção. 
Foi relevante nesse período, a distinção feita entre os devedores honestos e os desonestos, facultando aos que estavam de boa-fé os benefícios da moratória, com o aperfeiçoamento da concordata. 
Com o passar do tempo, foram surgindo novas leis como a de 28 de maio de 1838, a de 4 de março de 1889, a de 22 de maio de 1955 e a de julho de 1967, estabelecendo à falência um caráter econômico-social, até chegar nos dias atuais em que ela é reconhecida como uma instituição social. 
O Código comercial francês, de 1807, na elaboração do qual Napoleão Bonaparte teve preponderante atuação, conquanto impondo severas restrições ao falido, constitui-se em inegável evolução do instituto, restrito na legislação francesa, ao devedor comerciante. 
Gradativamente abrandam-se os rigores da legislação, assumindo a falência um caráter econômico-social, refletindo no seu bojo as profundas alterações por que se passaria o Direito Comercial e que culminaria com a modificação do próprio conceito de empresa, vista hoje como uma instituição social.
2. DIREITO FALIMENTAR BRASILEIRO 
O Brasil, como colônia de Portugal, naturalmente teve a aplicação do direito consubstanciado nas Ordenações do Reino. 
A primeira ordenação foi a Afonsina, promulgada em 1.446, a qual estava em pleno vigor quando da descoberta do Brasil. 
Mais tarde esta foi revista por D. Manoel, passando a ser chamada de Ordenações Manoelinas, onde predominavam os princípios do Direito Romano, reproduzindo, através da falência, o direito estatutário italiano, o qual submetia o devedor a rigor excessivo. 
Sobre esse momento, Rubens Requião descreve: As Ordenações Afonsinas, revistas por ordem Del Rei D. Manuel, em 1521, passando a se denominar Ordenações Manoelinas, regulavam também o concurso de credores, que ocorria quando o patrimônio do devedor não bastava para solver todos os seus débitos. Prevalecia, entretanto, ainda o princípio do primeiro exequente, dada à influência do antigo direito visigótico.
No ano de 1603, surgiram as Ordenações Filipinas, que abrangiam a Espanha e Portugal, submetido ao Reino de Castela, e que tiveram maior influência no Brasil, devido o florescimento da Colônia e de suas atividades mercantis. 
Nessa fase, sendo o devedor condenado por sentença que transitasse em julgado, eram, automaticamente, executados e penhorados os seus bens. Caso não achassem os bens, o devedor seria recolhido a cárcere privado, até que pagasse, exceto se efetuasse a cessão de seus bens. 
No entanto, o primeiro diploma que cuidou de matéria falimentar foi a Lei de 08/03/1595, promulgada por Filipe II, que veio a influenciar as Ordenações Filipinas, promulgadas oito anos depois, em 1.603. Em 1.756, o Marquês de Pombal outorgou o Alvará de 13 de dezembro, tratando do processo de falência. Depois de 07/09/1822, com a proclamação da independência do Brasil, continuaram vigendo as leis portuguesas, como sempre ocorre em qualquer ruptura institucional.
Amador Paes de Almeida escreve que eram impostas penas ao devedor-culposo que variavam do degredo, até a pena de morte. 
Mas, para os credores que não agiram com culpa, era dado tratamento diferente. Em suas palavras: E os que caírem em pobreza sem culpa suas, por receberem grandes perdas no mar, ou na terra em seus tratos e comércios lícitos, não constando de algum dolo, ou malícia, não incorrerão em pena alguma. E neste caso serão os autos remetidos ao Prior Cônsules do Consulado, que os procurará concertar e compor com seus credores, conforme a seu regimento.
A lei de falências recebida de Portugal só passou a vigorar no Brasil após a Proclamação da República, conforme imposto pela Lei de 30/10/1823, através de notória observância do Alvará expedido em 18/08/1769, o qual aplicava a lei das nações civilizadas, como também do Código Napoleônico, de 1.807. 
No dia 25/06/1850, período designado imperial, foi promulgado o Código Comercial Brasileiro. Dedicou a sua terceira parte às "quebras" (Arts. 797 a 913), inaugurando, assim, a primeira fase histórica desse instituto do direito brasileiro, e que se estenderia até o advento do regime republicano. 
José Cândido Sampaio de Lacerda descreveu sobre essa época, destacando os principais aspectos: Em 1.850, promulgado o Código Comercial, dedicou a sua terceira parte à falência, intitulando-a "Das Quebras", tendo o Decreto nº 738, de 1.850, estabelecido o processo para as falências (Arts. 102 a 187). 
Com a publicação do Código Comercial, de 1.850, inaugura-se a primeira fase histórica do instituto do direito brasileiro, fase essa que se estenderia até o advento do regime republicano. Nesse período, o que caracteriza a falência é a cessação de pagamentos (Art. 797). Alegava-se, contra o sistema do Código Comercial, ser lento, complicado, dispendioso, prejudicando, há um tempo, credores e devedor. 
Além disso, dava maior importância à apuração da responsabilidade comercial da falência, pois só com a ultimação do processo da quebra e qualificação da falência é que iniciava a liquidação da massa. 
Por outro lado, à aceitação da concordata dependendo da maioria de credores em número e que representassem pelo menos dois terços dos créditos sujeitos aos efeitos da concordata (Art. 847) constituía obstáculos à obtenção desse favor [x].
O período republicano teve seu início marcado pela proclamação da República. 
Com esse advento, surgiu à preocupação moralizante com o governo que se instalara, a reelaboração da legislação sobre a falência. 
Sendo assim, o Governo Provisório optou por revogar, inteiramente, as disposições sobre falências do Código Comercial, pelo Decreto nº 917, de 24/10/1.890. 
Essa nova lei trouxe as esperanças de conter a fraude, sendo considerada um marco para o andamento em matéria de falência, caracterizando-se pelo estado de falência por atos ou fatos previstos na lei e na impontualidade do pagamento da obrigação mercantil líquida e certa, tendo instituído como meios preventivos à moratória, a cessão de bens, o acordo extrajudicial e a concordata preventiva. 
Mas, mesmo fazendo algumas mudanças importantes para o sistema, esse decreto não ficou isento de críticas, sendo reformado pela Lei nº 859, de 16/08/1.902, regulamentada pelo Decreto nº 4.855, de 02/06/1.903. 
Promulgou-se, então, a Lei n. 2.024, de 17/12/1.908. Essa nova lei baseou-se no projeto do comercialista J. X. Carvalho de Mendonça, apresentando suas características, conforme relata Nelson Abrão: Apresentou como características essenciais: a impontualidade como caracterizadora da falência; a enumeração das obrigações cujo inadimplemento denota a falência; alinhou os chamados atos falimentares, a exemplo do Direito Inglês; suprimiu a concordata amigável, admitida só a judicial; conceituou os crimes falimentares e estabeleceu que o procedimento penal correria em autos apartados e, a partir do recebimento da denúncia (àquela época pronúncia) perante o juiz criminal; determinou a escolha de um até três síndicos, conforme o valor da massa, dentre.os.maiores.credores.
Em 21 de outubro de 1.943, novo anteprojeto é apresentado, agora elaborado por uma comissão composta pelo Ministro da Justiça Alexandre Marcondes Filho, que se transformou na lei vigente até 2.004, isto é, no Decreto-Lei nº 7.661, de 21/06/1945. 
Esse novo decreto teve como novidade a extinção da figura do liquidatário e, também, o fato de que, a concessão da concordata preventiva não ficava mais à mercê dos credores. 
Instaurou-se, também, a marcha paralela do processo falimentar com o processo criminal. Nas hipóteses de crime falimentar, trazia, no entanto, um tratamento severo ou tolerante ao falido, na esfera civil. O Decreto-Lei nº 7.661 sofreu, posteriormente, muitas alterações, principalmente no que concerne às concordatas e à classificação.dos.créditos.e.recursos.cabíveis.Sem atacar diretamente a norma falimentar, destaca-se a diversidade político-econômica daqueles tempos para os nossos dias: Nos distantes dias de 1945, quando foi decretada a Lei de Falências, o Brasil praticamente não conhecia inflação, inexistia a correção monetária e a base do crédito do comércio em geral era mantida pelos fornecedores, a rede bancária não formava os grandes conglomerados que existem atualmente, a incipiente noção de empresa não correspondia à que se afirma nos dias correntes, a carga tributária era muitíssimo inferior à de agora . (SANT’ ANNA: 1986, p. 64)
Uma legislação concursal deve promover tanto a liquidação eficiente de empresas inviáveis, como a reorganização das empresas viáveis de forma clara e razoável.
A atividade empresarial é a força motora do Estado, já que este não tem condições de tutelar toda cadeia social, provendo as condições mínimas de sobrevivência do povo.
A iniciativa privada, em especial as empresas, contribui de forma concreta para minimizar as desigualdades, geram riquezas e divisas para o Estado, promovendo, assim, os preceitos constitucionais já mencionados. A economia e, consequentemente, o desenvolvimento do País, gravitam em torno da empresa.
O Estado tem o dever ético de ofertar condições para a sobrevivência das empresas, e não massacrá-las.
3. DIREITO FALIMENTAR COMPARADO 
Era imperiosa necessidade de se repensar o Direito Falimentar Brasileiro, proclamada não apenas por estudiosos brasileiros, mas sentida por juristas de todos os países do Ocidente, o que provocou uma ampla discussão sobre o conceito, a estrutura e a função de antigos e novos institutos e suscitou um movimento revisionista na Alemanha, Áustria, Espanha, Estados Unidos da América, França, Inglaterra, Itália e Portugal. 
Fundamentalmente, os EUA cuidaram de reorganizar a empresa, permitindo ao devedor manter todos os poderes de gestão e representação da empresa. 
Nos EUA, as cortes federais têm a jurisdição exclusiva para o julgamento de "bankruptcy", que em sentido mais amplo corresponderia a nosso instituto de falências e concordatas. 
A legislação pertinente é encontrada no Título 11, do "United States Code". A lei americana prevê cinco tipos diferentes de proteção ao devedor, dependendo se o objetivo será de reorganizar as dívidas pessoais, da empresa (sendo diferente no caso de produtor rural), ou de entidade pública ou, se tratar de simples liquidação dos bens e das dívidas, no caso dos ativos não permitirem a recuperação do devedor.
No mesmo sentido, a Alemanha experimentou a Lei do Acordo, de 1935; a Espanha reconhece situações distintas entre a empresa que não paga, por dificuldades financeiras de momento, contornáveis, e a que simplesmente deixa de pagar. 
A França, na vanguarda, tem em vista a salvaguarda da empresa, a manutenção das atividades empresariais e o emprego. 
Roger Houin, enriquece o relatório elaborado por uma comissão de juristas franceses, com um memorável comunicado, com reflexos não só no direito comercial francês, mas também no direito comparado, pois defende a permanência da empresa dentro da falência, já que ela interessa não apenas aos assalariados, mas também aos sócios, especialmente aos acionistas e à própria economia do país. 
O Código dos Processos Especiais de Recuperação da Empresa e de Falência de Portugal, constituiu um momento importante na regulamentação legal dos problemas do saneamento e falência de empresas que se encontrem insolventes ou em situação econômica difícil. 
Eliminou a distinção, nesta sede, entre insolvência de comerciantes e não-comerciantes, retirando do Código de Processo Civil a regulamentação processual e substantiva da falência, e conjugando num mesmo diploma, de forma inovadora, essa matéria com a da recuperação da empresa, a par de outras inovações de menor alcance, obtiveram-se ,com aquele diploma, significativos avanços tanto do ponto de vista do aperfeiçoamento técnico-jurídico como da bondade das soluções respeitantes à insolvência de empresas e consumidores.
4. DIRETRIZES BÁSICAS DO NOVO DIREITO FALIMENTAR BRASILEIRO
A nova Lei de Falências abrirá a possibilidade de reestruturação às empresas economicamente viáveis que passem por dificuldades momentâneas, mantendo os empregos e os pagamentos aos credores. 
Um dos grandes méritos apontados da nova legislação falimentar é a prioridade dada à manutenção da empresa e dos seus recursos produtivos. 
Ao acabar com a concordata e criar as figuras da recuperação judicial e extrajudicial, a nova lei aumenta a abrangência e a flexibilidade nos processos de recuperação de empresas, mediante o desenho de alternativas para o enfrentamento das dificuldades econômicas e financeiras da empresa devedora.
O Procurador de Justiça no Estado do Rio de Janeiro, Dr. Jorge Lobo, expôs, de forma magnífica, que se as dificuldades das empresas fossem sempre as mesmas, as soluções não seriam difíceis, pois diagnosticadas as causas, bastava combatê-las com remédios jurídicos específicos, constituindo-se em erro crasso considerar a impontualidade ou a cessação de pagamentos ou a insolvência as causas das crises das empresas, pois estas não são mais do que efeitos de causas mais variadas e complexas, porquanto as verdadeiras causas das crises das empresas são de várias ordens, podendo-se classificá-las, grosso modo, em: 
causas externas: aperto da liquidez dos bancos; redução de tarifas alfandegárias; liberação das importações; mudanças nas políticas cambial, fiscal e creditícia; criação de impostos extraordinários; surgimento de novos produtos; queda da cotação dos produtos agrícolas nos mercados internacionais; retração do mercado consumidor; altas taxas de juros; inadimplemento dos devedores;
causas internas ou imputáveis às próprias empresas ou aos empresários: sucessão do controlador; capital insuficiente; avaliação incorreta das possibilidades de mercado; desfalque pela diretoria; operações de alto risco; falta de profissionalização da administração e mão-de-obra não-qualificada; baixa produtividade; excesso de imobilização e de estoques; obsolescência dos equipamentos; 
causas acidentais: bloqueio de papel moeda no Bacen; maxidesvalorização da nacional; situação econômica anormal da região, do País ou do mercado consumidor estrangeiro; conflitos sociais. 
E concluiu que: diante de tão diferentes causas, que atingem a empresa; os acionistas- empresários; os acionistas-rendeiros; os acionistas-especuladores; os empregados; os fornecedores; as instituições financeiras; os consumidores; o crédito público; o Poder Público e a coletividade como um todo, qual a solução prevista no Decreto-Lei nº. 7.661/45 para evitar a derrocada da empresa em crise? Apenas a concordata preventiva, solução que, se em 1945 era a única cogitável, atualmente deixa muito a desejar, pois em desacordo com a finalidade precípua do moderno Direito Concursal. 
5. INÍCIO DE VIGÊNCIA DA NOVA LEI DE FALÊNCIAS
A nova Lei de Falências, promulgada no dia 09/02/2005, entrou em vigor no dia 09/06/2005 (Art. 201, da Lei n. 11.101/2005). Ou seja, o legislador previu vacatio legis de 120 dias.
Todavia, a vigência da pretérita Lei de Falências (Dec.-Lei n. 7.661/45) cessará apenas com o deslinde do último processo falimentar iniciado sob a sua égide. Ou seja, estará vigente por um período considerável, levando-se em conta a complexidade dos procedimentos, sua ampla gama recursal e a morosidade do Poder Judiciário.
Esta disposição cria uma situação curiosa, pois haverá processos que falência que terão o seu andamento pela lei anterior, se a falência já tiver sido decretada. No entanto, se o processo já estava em andamento, mas a falência vem a ser decretada após a vigência da Lei nova, o andamento será pela lei nova; tudo como dispõe o Art. 192, da LFRE.
6. QUEM ESTÁ SUJEITO À NOVA LEI DE FALÊNCIA
Trata-se de fluxos de caixa negativo, assim entendido como a entrada de recursos monetários em valores inferioresaos necessários para atenderem as obrigações exigíveis num mesmo período. 
Muito mais grave do que a crise econômica é a crise instalada pela inadequada execução financeira. Enquanto aquela pode ser mais facilmente administrada, este, quando instalada, inviabiliza totalmente o empreendimento. 
Não há como manter uma empresa cujos pagamentos de seus exigíveis não sejam realizados. Exige que medidas drásticas sejam adotadas de imediato. 
A crise financeira instala-se por desarranjos na estrutura de financiamento empresarial e não pela verificação de prejuízo ou resultado econômico negativo. 
Em muitas ocasiões verifica-se a existência de uma empresa lucrativa, mas a sua estrutura financeira não é adequada ao vulto do empreendimento. 
Em suma, a crise financeira é consequência da falta ou insuficiência de capital de giro. 
Caso típico é a decisão pelo aumento da capacidade produtiva sem que se providencie os recursos financeiros necessários para manter o funcionamento empresarial no novo patamar de produção. (JUNQUEIRA JÚNIOR, 2005, p. 2)
Nos termos do Art. 1o., da Lei de Recuperação das Empresas, podem ser pacientes de recuperação judicial, recuperação extrajudicial e falência os seguintes “devedores”: 
Sociedades empresárias;
Empresários individuais.
NOTAS:
I - A sociedade cooperativa, por força do Art. 982, do CCivil, é ‘sociedade simples’. Portanto, como não é ‘empresária’, não se sujeita ao regime jurídico da Lei de Recuperação das Empresas (Art. 2o., II). 
II -Tendo em vista que, a rigor do que dispõe o Art. 966, § único, do CCivil, quem exerce profissão intelectual (científica, literária ou artística), mesmo com o concurso de auxiliares ou colaboradores, não se sujeita à falência, nem pode postular recuperação. Excepcionalmente, ficará sob o regime da Lei de Recuperação das Empresas se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
III - Empresário individual, em caso de falência ou recuperação, responde com todo o seu patrimônio particular, à medida que a firma individual não ostenta personalidade jurídica independente de seu titular. Em caso de falecimento do empresário individual, a herança responde pela solução dos débitos do falecido. Se por um lado o morto não pode ser declarado falido, por outro, não podem os credores ficar ao relento, em decorrência de sua morte. Desta forma, nada obsta que os herdeiros e/ou cônjuge supérstite postulem a recuperação do espólio referente ao empreendimento viável. Decretada a falência do espólio, o processo de inventário ficará sobrestado, incumbindo ao inventariante a representação deste junto à massa falida.
IV - De acordo com o Art. 971, do CCivil, o empresário, cuja atividade rural constitua sua profissão principal, pode requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis e, por isso, está sujeito à falência. O mesmo ocorre com a sociedade cujo objeto é empresa rural.
V - As ‘sociedades simples’ estão excluídas da Lei de Recuperação de Empresas, tendo em vista que não se reconhece o seu caráter econômico, pois não exercem atividade econômica organizada com fim lucrativo (não são agências econômicas).
VI - As ‘Sociedades em Nome Coletivo’ (Art. 1.039, do CCivil) estão sujeitas à falência, e a sua quebra implica também na liquidação de seus sócios, eis que estes são ilimitadamente responsáveis. Tais sócios estão sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos que a falência produz em relação à sociedade (Art. 190, da LRE).
7. PRINCÍPIOS DO REGIME DE INSOLVÊNCIA DO AGENTE ECONÔMICO
O processo de insolvência, como qualquer outro, orientado por princípios. Estes são tradutores de objetivos superiores que inspiram os procedimentos adotados pelo legislador. Daí por que é imperioso alinhar os objetivos gerais da Lei de Recuperação de Empresas, e seus instrumentos operacionais.
Objetivos gerais é expressão que encerra os princípios estruturantes do regime legal de insolvência empresarial. Cabe, ainda, esclarecer que esses princípios não devem ser considerados como compartimentos isolados e auto-suficientes. Mantêm entre si nexo de complementaridade. 
Existe, nas relações entre esses princípios, uma saudável tensão, que em última análise, deve ser entendida como equilíbrio.
7.1. Princípio da viabilidade econômica da empresa
Por mais que se ponha em relevo a importância da atividade econômica organizada no bojo de uma sociedade pluralista e de livre iniciativa, sempre é aconselhável ter em mente, também, o desserviço prestado pela empresa assolada pela insuficiência de meios de pagamento e pela desestruturação. 
Daí infere-se que há um ponto divisório, de análise obrigatória, ao se buscar em remédios para os problemas derivados da insolvência empresarial: a viabilidade do empreendimento em crise.
Nitidamente, a Lei de Recuperação das Empresas fixa uma dicotomia essencial entre as empresas economicamente viáveis e as inviáveis, de tal sorte que o mecanismo da recuperação é indicado para as primeiras, enquanto o processo e falência apresentam-se como o mais eficiente para a solução judicial da situação econômica das empresas inviáveis. 
Viáveis, é claro, são aquelas empresas que reúnem condições de observar os planos de reorganização estipulados nos Art. 47 (recuperação judicial) e 161 (recuperação extrajudicial), da Lei de Recuperação das Empresas. 
A aferição dessa viabilidade está ligada a fatores endógenos (ativo e passivo, faturamento anual, nível de endividamento, tempo de constituição e outras características da empresa) e exógenos (relevância socioeconômica da atividade).
Em outras palavras, algumas perguntas devem ser respondidas, como pressupostos de formulação do diagnóstico da viabilidade:
Existe um plano de recuperação?
Que critérios devem ser eleitos para a sua avaliação?
Essa avaliação autoriza a expectativa de êxito do plano?
Como custodiar sua concretização?
Qualquer plano de recuperação passa pela adoção de um dos meios estabelecidos na Lei de .Recuperação de Empresas (Art. 50) e, como tal, deve ser oferecido à consideração judicial e dos credores.
É certo que, se verificada, desde logo, a impossibilidade de cumprimento do plano proposto, o indeferimento da pretensão recuperatória é de rigor. 
A constatação posterior (no curso da recuperação) da inviabilidade implica a conversão do processo de recuperação em solução liquidatória, a teor do Art. 73, da Lei de Recuperação de Empresas.
7.2. Princípio da relevância do interesse dos credores
Qualquer regime de insolvência visa a satisfazer, equitativamente, pretensões creditícias legítimas. 
Mesmo ante a necessidade de se considerar o interesse social na manutenção ou não do empreendimento insolvente, o fato é que a solução proporcional do passivo sempre será o norte do procedimento adotado. 
A reestruturação da empresa em dificuldades é instrumental da satisfação dos credores, desde que observados níveis mínimos de paridade.
A prevalência do interesse dos credores deve ser entendida em sentido genérico, isto é, abrangente da coletividade dos detentores dos créditos, e não em razão deste ou daquele credor. 
É relativa predita supremacia porque, em algumas situações, pode ser mitigada pela importância socioeconômica da empresa insolvente, ou seja, deve ceder ao interesse superior da coletividade.
O interesse dos credores também não pode ser identificado como a realização de pronto de seus haveres. 
Certo que o processo e insolvência não pode se protrair indefinidamente, mais importante é que a satisfação célere dos créditos deve observar os parâmetros da prelação adequada e de pagamentos satisfatórios. 
Pagamentos satisfatórios são aqueles que se aproximam do ideal de integral satisfação dos mesmos créditos.
É licito afirmar que a manutenção da empresa pode ser a chave para o atendimento adequado das pretensões creditícias. 
Primazia dos credores não é noção incompatível com a correção econômico-financeirada empresa, até porque nenhum credor é movido pelo ânimo de liquidação. Em certo sentido, empresa liquidada não paga.
7.3. Princípio da publicidade dos procedimentos
Transparência é a palavra que abre as portas de um processo de insolvência eficiente e segundo a lei. 
Os procedimentos para a solução da insolvência devem ser transparentes, o que significa não somente a publicação dos atos processuais, mas também a clareza e objetividade na definição dos diversos atos que os integram. 
Evidentemente, a plena publicidade não se contenta com sua menção legal. Reclama fiscalização permanente e zelosa do órgão judiciário, do administrador da massa e do representante do Ministério Público. 
É desejável a ampla participação dos credores e dos segmentos integrantes da empresa insolvente, em todas as etapas procedimentais. 
Com isso, facilita-se a adoção de soluções que atendam à maioria dos envolvidos e ampliam-se as possibilidades de êxito das medidas eleitas.
7.4. Princípio da par conditio creditorum
A equidade é um princípio geral de Direito que, aqui se manifesta em toda a sua intensidade. 
O tratamento equitativo dos créditos é a máxima regente de todos os processos 
concursais, considerando o mérito das pretensões das pretensões antes que a celeridade na sua dedução.
Cada crédito deve observar o sítio que a lei lhe reserva na classificação geral, assegurando-se, de modo decisivo, que a índole preferencial de alguns seja efetivamente observada.
Na verdade, esta regra diz respeito à proporcionalidade na consideração dos créditos, o que implica respeitar as peculiaridades que a lei atribui a cada um.
É inegável a posição de paridade dos credores, o que não traduz, necessariamente, nivelamento.
7.5. Princípio da maximização dos ativos
Para que se cumpram as finalidades do processo de insolvência, os ativos da empresa devedora precisam ser preservados e, se possível, maximizados.
Não é rara a dissipação dos ativos pela ação de credores mais ligeiros, em prejuízo da coletividade dos credores e da observância do mérito que assiste a cada pretensão.
Sobretudo na falência, estágio em que os titulares da empresa devedora perdem sua capacidade de gestão, a fiscalização da massa de bens é atitude indispensável no sentido de salvaguardar a garantia comum dos credores e assegurar que seja, se não suficiente, ao menos apta a resolver a maior faixa possível de créditos.
Há que se deixar bem colocada a questão da preservação dos ativos na recuperação judicial da agência econômica. 
Ela deve ser meta anelada com o intuito de satisfazer à solução dos débitos e dos encargos sociais. Não se trata de tutelar os ativos capazes de resgatar a empresa, para fruição do empresário. O que deve ser recuperado é a empresa.
7.6. Princípio da preservação da empresa
Insolvente ou não, a empresa é uma unidade econômica que interage no mercado, compondo uma labiríntica teia de relações jurídicas com extraordinária repercussão social. É uma unidade de distribuição de bens e/ou serviços. É um ponto de alocação de trabalho, oferecendo empregos. É um elo na imensa corrente do mercado que, por isso, não pode desaparecer, simplesmente, sem causar sequelas.
A atividade empresarial desborda dos limites estritamente singulares para alcançar dimensão socioeconômica bem mais ampla. Afeta o mercado e a sociedade, mais que a singela conotação pessoal. 
Daí por que urge prevenir a insolvência da empresa. Basta a presunção de insolvência para justificar a busca de uma solução jurisdicional. 
O interesse de agir nos processos regidos pela Lei de Recuperação de Empresas habita na necessidade de um provimento judiciário apto a dirimir não só a crise econômico-financeira de um empresário, mas também toda sorte de relações dele decorrentes, de modo a preservar, se possível, a unidade econômica produtiva.
A conservação da atividade negocial é o ponto mais delicado do regime jurídico de insolvência. Ao contrário da concepção cirúrgica adotada na extinta Lei de Falências e Concordatas, pretende-se, com a Lei de Recuperação de Empresas, na medida do possível, priorizar a recuperação sobre a liquidação. 
Só deve ser liquidada a empresa inviável, ou seja, aquela que não comporta uma reorganização eficiente ou não justifica o desejável resgate.
É bom frisar que a preservação da empresa não significa a preservação do empresário ou dos administradores da sociedade empresária. 
Proteger a atividade produtiva implica, quase sempre, apartar os reais interesses envolvidos na empresa, dos interesses de seus mentores. 
A separação entre a sorte da empresa e a de seus titulares apresenta-se, às vezes, como o caminho mais proveitoso no sentido de uma solução justa é eficaz para a conjuntura jurídico-econômica da insolvência.
O princípio da conservação da empresa parte da constatação de que a empresa representa um valor objetivo de organização que deve ser preservado, pois toda a crise da empresa causa um prejuízo à comunidade. 
Com a crise econômica da empresa sofre o próprio devedor, sofrem os credores e sofre a sociedade. 
8. TRANSIÇÃO ENTRE A ‘LEI DE FALÊNCIA E CONCORDATA’ E A ‘LEI DE RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS’
A geração da Lei de Recuperação de Empresas não acarreta a plena e imediata revogação da Lei de Falência e Concordata. A passagem de um sistema legal para outro envolve algumas situações que merecem tratamento peculiar, no sentido de se obter um perfeito enquadramento das conjunturas e parâmetros normativos.
Em razão das profundas diferenças existentes entre o regime de insolvência da Lei de Falência e Concordata e o da Lei de Recuperação das Empresas, torna-se inafastável a imposição de critérios objetivos de distinção entre os dois, na medida em que a eventual confusão sobre as normas aplicáveis pode acarretar tumulto processual nos casos em curso. 
Aliás, é indesejável a alteração do regramento material da insolvência durante o curso processual, como decorrência das exigências superiores ligadas à segurança jurídica.
As normas do Decreto-Lei n. 7.661/45 continuam em vigor para aplicação aos processos de concordata preventiva, concordata suspensiva e falência, em curso no dia anterior ao do início da vigência da Lei de Recuperação das Empresas (Art. 192).
Quem se encontra em crise econômico-financeira não pode mais pleitear o favor legal da concordata preventiva. Contudo, o agente econômico que se encontra em regime de concordata preventiva continua observando as regras da Lei de Falências e Concordatas, se não optar pelo ingresso no sistema da recuperação judicial, ou seja, se possuir os requisitos necessários para tal. 
O § 2o., do Art. 192 declara que a existência de pedido de concordata anterior à Lei de Recuperação de Empresas não obsta o pedido de recuperação judicial pelo devedor, desde que este não tenha deixado de cumprir obrigação da concordata. 
Os créditos submetidos à concordata devem ser inscritos, por seu valor original, na recuperação judicial, abatidas as parcelas pagas pelo concordatário. 
Entretanto, essa faculdade não se aplica às microempresas e empresas de pequeno porte, quanto ao plano especial de recuperação judicial.
Nos processos de falência em andamento na data da vigência da Lei de Recuperação de Empresas, não será possível a obtenção de concordata suspensiva, simplesmente porque esta não existe mais, como alternativa legal à falência. 
Na sistemática da Lei de Recuperação das Empresas, a recuperação judicial só é cabível em caráter preventivo da falência.
De conformidade com o Art. 198, os devedores que, nos termos da legislação específica, estão proibidos de requerer concordata também não podem postular nenhuma espécie de recuperação. 
Se o juiz decretar a falência do devedor que postulou a concordata, em face da ocorrência de impedimentos, da falta de condições para a concordata ou de inexatidão documental, a falência será regidapela Lei de Recuperação de Empresas.
Da mesma forma, na concordata preventiva em curso com base na lei anterior, a convolação em falência por falta de pagamentos de parcela da concordata (Art.175, § 8o., da Lei de Falência e Concordata) determina a incidência da Lei de Recuperação de Empresas. Idem quando, negando a concordata preventiva, o juiz declarar a falência do devedor. 
Claro que nesses casos assiste ao devedor o direito de agravar de instrumento, mas este recurso não tem efeito suspensivo.
O CPC e o CPP são fontes subsidiárias da Lei de Recuperação de Empresas; o primeiro, por força do Art. 189, e o segundo com base no Art. 188, naquilo que forem compatíveis.
9. QUEM ESTÁ EXCLUÍDO DA NOVA LEI DE FALÊNCIAS
Só os agentes econômicos estão subordinados ao regime jurídico da Lei de Recuperação de Empresas. Todavia, nem todos os agentes econômicos são alcançados por esse sistema. 
O legislador brasileiro optou pelo sistema que reserva a destinação da falência e das recuperações para os agentes econômicos contemplados no universo empresarial, deixando de lado os chamados agentes econômicos civis. 
Estes são pacientes da norma geral prevista no Código de Processo Civil.
Estão excluídos da nova Lei de Falências (Art. 2º.):
Empresa pública�; (I)
Sociedade de economia mista; (II) 
Instituição financeira pública e privada�; (III)
Cooperativa de crédito; (VIII)
Consórcio; (III)
Empresa de distribuição gratuita de prêmios; (VI)
Sociedade de previdência privada; (VI)
Sociedade operadora de plano de assistência à saúde; (VII)
Sociedade seguradora; (IV)
Sociedade de capitalização; (V)
Outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.
NOTAS:
(I) Capital social exclusivamente público, constituída para exercer atividade econômica própria do Poder Público. Ex: Caixa Econômica Federal, EBCT, etc..
(II) Controle acionário majoritário da Administração Pública. Ex: Banco do Brasil, Petrobrás, etc..
(III) As instituições financeiras são regidas pela Lei n. 6.024, de 13/03/74. Estão sujeitas à intervenção e eventual liquidação extrajudicial. O Estado tem poderes de gestão e disposição da entidade financeira, e a retira do mercado em face de sua inviabilidade ou inidoneidade. A liquidação judicial é de interesse público, e por isso pode ser decretada pelo Banco Central do Brasil, acolhendo a requerimento dos administradores da instituição financeira ou os motivos justificadores da medida propostos pelo interventor.
(IV) As empresas de seguro submetem-se à liquidação compulsória. São regidas pelo Decreto-Lei n. 73/66 e pela Lei n. 10.190/02. Configurada a sua insolvência econômica-financeira, é cassada sua autorização e ingressam em regime de liquidação extrajudicial, sob a égide da SUSEP-Superintendência de Seguros Privados.
(V) As sociedades de capitalização observam ao disposto no Decreto-lei n. 261/67. Somente o liquidante está apto para requerer a sua falência.
(VI) A Lei n. 5.768/71 normatiza a atividade das empresas autorizadas a distribuir, gratuitamente, prêmios (mediante sorteio), vale-brinde ou concurso, a título de propaganda, nas mesmas condições previstas na legislação especial aplicável às entidades financeiras. Somente o liquidante poderá requerer a sua falência.
(VI) Estão sujeitas ao processo de liquidação extrajudicial contemplado na Lei Complementar n. 109/01.
(VII) As operadoras de planos de saúde, quando insolventes, são liquidadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, com base na Lei n. 9.656/98. Estas não podem ser liquidadas judicialmente.
(VIII) Toda sociedade cooperativa é ‘sociedade simples’ (§ único, do Art. 982m do CCivil)
NOTAS:- 
São consideradas sociedades impropriamente privadas as pessoas jurídicas de direito privado com a participação de dinheiro público. Estas têm tratamento terapêutico específico para a situação de desequilíbrio financeiro.
A própria necessidade de proteção ao consumidor fundamenta algumas diferenciações necessárias, como ocorre, por exemplo, com os bancos, sociedades captadoras de poupança popular, seguradoras, consórcios e empresas de planos de saúde. Seu regime jurídico é diverso das demais empresas. 
A sociedade cooperativa, por força do Art. 982, do CCivil, é ‘sociedades simples’. É um tipo de sociedade adstrita à regência da Lei n. 5.764/71 e do CCivil. Portanto, como não é ‘empresária’ (limita-se à prestação de serviços aos seus associados, sem fins lucrativos), não se sujeita ao regime jurídico da Lei de Recuperação das Empresas (Art. 2o., II). 
Tendo em vista que, a rigor do que dispõe o Art. 966, § único, do CCivil, quem exerce profissão intelectual (científica, literária ou artística), mesmo com o concurso de auxiliares ou colaboradores, não se sujeita à falência, nem pode postular recuperação. Excepcionalmente, ficará sob o regime da Lei de Recuperação das Empresas se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
10. RECUPERAÇÃO DE EMPRESA INDIVIDUAL
O regime de insolvência adotado pela Lei de Recuperação das Empresas, exceção feita ao tratamento especial da microempresa e da empresa de pequeno porte, aplica-se indistintamente, em princípio, tanto ao empresário individual quanto à sociedade empresária. 
As diferenças se mostram apenas no varejo das soluções procedimentais, sem observar um plano geral distinto. Prevalece o casuísmo.
11. SOCIEDADES NÃO-PERSONIFICADAS
Personificadas ao não, todas as sociedades empresárias integram o catálogo de potenciais destinatários da falência. Entretanto, a medida judicial de recuperação de empresarial não é facultada às sociedades não-personificadas, em virtude de sua irregularidade congênita. 
Como não observam os ditames legais do registro constitutivo, também ficam à margem do expediente recuperatório ensejado pela Lei de Recuperação de Empresas. 
Se imersas em crise econômico-financeira, incorrem em falência.
12. EMPRESÁRIO DE FATO
A falência do empresário de fato pode ser decretada somente diante de provas inequívocas do exercício profissional da atividade econômica. 
Uma das finalidades da falência é o saneamento do universo empresarial pela supressão do agente econômico inviável. Quem não atua realmente no segmento econômico não interessa para a Lei de Recuperação de Empresas.
13. SÓCIOS DE RESPONSABILIDADE ILIMITADA
A decisão que instaura a liquidação da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também a acarreta a falência destes, sujeitos que ficam aos mesmos efeitos produzidos em relação à sociedade que integram. É a projeção, no regime de insolvência empresarial, da indistinção patrimonial a que estão expostos.
A repercussão residual à liquidação não apanha apenas o sócio solidário militante; alcança também o sócio solidário no biênio posterior à retirada.
14. IMPEDIDOS DE EXERCER A EMPRESA
Os impedidos legalmente de empreender não poderão valer-se da recuperação judicial, favor este deferido apenas aos agentes econômicos regulares. 
Era, assim, também, quando vigorava o regime das concordatas, que a exemplo da recuperação, caracteriza-se como institutos de favor legal.
Vale lembrar que os impedidos de exercer atividade empresarial são aqueles que têm cargo, emprego ou função incompatíveis com a prática negocial. 
A incapacidade não decorre de sua vontade, mas de ditame legal. 
A proibição deriva de opção por outra atividade que os incompatibiliza para o desempenho da atividade econômica e sua plenitude.
15. INCAPAZES DE EXERCER A EMPRESA
O incapaz, se praticar atos empresariais, estará praticando atos nulos, precisamente porque incapaz de contratar. Por isso, uma vez que se obrigue pelo exercício empresarial legalmente vedado, deve arcar com todas as consequências inerentes aos compromissos assumidos, especialmente seu adimplemento, sob pena de falência.
Estes também não poderão obter recuperação extrajudicial, vez que tal benesse é concedida apenase tão somente para aqueles cujas atividades preencheram os ditames legais.
16. MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE
Estas têm um tratamento privilegiado, pois a Lei de Recuperação de Empresas permite que elas possam optar pelo procedimento normal, previsto no Art. 50, ou pelo regime especial, gizado nos Art. 70 a 72. 
Devem, todavia, propor plano especial, no prazo de 60 dias contados da publicação da decisão que deferir a medida.
Este plano especial consiste no parcelamento em 36 meses do passivo abrangido, em parcelas mensais, iguais e sucessivas, corrigidas monetariamente e acrescidas de juros legais. A primeira parcela deve ser paga no prazo máximo de 180 dias, contar da distribuição do pedido de recuperação judicial.
No plano especial em foco, o devedor sofre a restrição de não poder aumentar despesas, nem contratar empregados, sem autorização judicial, ouvido o administrador judicial, e se for o caso, o Comitê de Credores.
Esta modalidade não acarreta a suspensão do lapso prescricional, nem das ações e execuções por créditos nela não incluídos.
Muito embora a Lei de Recuperação de Empresas não contenha previsão legal, deduz-se que se a proposta não tiver cumprimento conforme o prometido, o juiz pode operar a convolação da recuperação em falência.
17. FORO E JUÍZO
O agente econômico, pessoa física ou jurídica, pode possuir estabelecimentos empresariais localizados em pontos diferentes, e geralmente qualquer deles pode ser considerado seu domicílio, relativo aos atos praticados em cada um.
Todavia, a Lei de Recuperação de Empresas adotou, para a decretação e o processamento da falência, o foro o local onde o devedor tem o seu principal estabelecimento (Art. 3º)�.
É que, se fosse acolhida a pluralidade domiciliar do Direito Civil, poderiam ser decretados diversos processos de insolvência do mesmo agente econômico, quantos fossem seus estabelecimentos, o que traduziria visceral contradição com a universalidade reclamada pelo concurso de credores.
Aliás, nem poderia ser diferente, porque se o patrimônio do devedor fosse seccionado em número equivalente ao de seus estabelecimentos, seria muito difícil garantir o tratamento paritário de seus credores.
18. RECLAMAÇÕES TRABALHISTAS
Tidas como representativas de créditos superprivilegiados, as reclamações refogem ao juízo da insolvência, submetidas que devem ser à Justiça do Trabalho.
O juízo universal da insolvência, estabelecido por lei ordinária, não tem o condão de se impor sobre regra de competência de índole constitucional (Art. 114, CF), referente às reclamações e execuções trabalhistas. Isto é, as ações de natureza trabalhista serão processadas perante a justiça especializada (Varas do Trabalho) até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença homologatória (§ 2º., do Art. 6º.).
Desta forma, antes da sentença homologatória o interessado/credor poderá instruir petição com documentos suficientes e requerer, diretamente ao juiz da falência, que determine a reserva. 
Esta orientação vale para todo e qualquer crédito, cujo montante ainda não tenha sido definido, como é o caso, por exemplo, de uma indenização por danos causados pela empresa falida, valor que somente será definido depois do trânsito em julgado da sentença a ser prolatada na ação civil em andamento.
Se ocorrer de, na falência, dar-se início ao pagamento dos credores, antes de solucionada a questão da Justiça Trabalhista, Justiça Cível, etc., os pagamentos são normalmente feitos, reservando-se porém aquele valor pedido, no caso dos exemplos, pelo empregado ou pelo prejudicado civilmente. 
Ulteriormente, os valores reservados e porventura não-utilizados para pagamentos dessas reservas (no caso de excesso de reservas), serão objeto de rateio suplementar entre os credores remanescentes.
O Art. 6o., § 2o., da Lei de Recuperação das Empresas, assevera que as ações trabalhistas prosseguirão em face do administrador judicial. 
Sob pena de nulidade do processo, o administrador judicial deve ser intimado, pois é um representante da massa falida. 
O devedor, o Comitê e o representante do Ministério Público podem ser assistentes.
Em virtude de obstáculo competencial, a habilitação do crédito trabalhista exige apuração prévia perante a Justiça do Trabalho, para se avaliar de sua certeza e liquidez, ou seja, se existe quanto importa. 
Trata-se de fase antecedente e obrigatória da habilitação de tal crédito. 
19. UNIÃO
Outra exceção pertine às ações em que a União, suas autarquias empresas públicas forem autoras, rés, oponentes, assistentes. Neste caso, cabe à Justiça Federal participar a massa recuperanda, a teor do Art. 109, I, CF, pois a regra jurisdicional superior se sobrepõe ao princípio ordinário do juízo universal do concurso de credores.
20. CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS
Nos termos do Art. 187, do CTN, os créditos tributários não estão sujeitos à execução concursal. 
O juízo de quebra não os atrai, já que ostentam foro privilegiado, nos termos do Art. 578, § único, do CPC.
Nos termos do Art. 6o., § 7o., da LFRE, as execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento do processo concursal, mesmo no caso da recuperação judicial. A única exceção diz respeito ao caso de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica, o qual suspende a exigibilidade do crédito tributário (Art. 151, VI). Prosseguem, pois, normalmente. Contudo, mister se faz ressaltar, é verdade, que o Fisco poderá prosseguir com a execução e levar o bem à hasta pública, porém deverá encaminhar todo o produto da venda para a massa, para pagamento preferencial dos credores que, na ordem legal, estão adiante do próprio Fisco.
Com isso, afasta-se aqui, parcialmente, o chamado princípio da universalidade do juízo falimentar, princípio da força atrativa da falência, processo ao qual devem acorrer todos os credores do devedor, porém apenas com relação à recuperação, não se aplicando este artigo aos processos da falência.
Esses créditos independem de habilitação, na forma do Art. 187, do CTN, e do Art. 29, da Lei n. 6.830/80. Esses créditos fiscais e previdenciários devem ser apenas comunicados ao juízo da falência, para pagamento na ordem que a lei estabelece.
21. AÇÕES ANTERIORES AO PROCESSO DE INSOLVÊNCIA
A última exceção diz respeito às ações iniciadas antes da falência ou da recuperação. 
Regra geral, serão ordenadas as suspensões das ações ou execuções individuais dos credores sobre direitos e interesses relativos ao ativo do devedor, inclusive as dos credores particulares dos sócios solidários da sociedade insolvente, desde que seja declarada a recuperação judicial ou a falência, até o seu encerramento (Art. 6º.).
O que se suspende é a ação ou execução em andamento contra a pessoa jurídica do devedor, relativa à dívida sujeita aos efeitos da falência. Mesmo nestes casos, a ação ou execução continua normalmente contra eventuais coobrigados. 
Imagine-se, por exemplo, uma execução de nota promissória emitida pelo empresário ora devedor e avalizada por terceiras pessoas: neste caso, a execução prossegue contra esses avalistas.
 
Suspensa as execuções, os credores deverão todos comparecer à falência, habilitando seus créditos, habilitação na qual poder-se-á decidir aqueles aspectos que eventualmente seriam discutidos em tais ações ou execuções individuais. 
Se o valor ainda não estiver definido, dependendo de sentença, deverá ser peticionado no sentido de estimar o valor a ser reservado, o que será examinado pelo juiz, que poderá , se for o caso, reduzir o valor da reserva.
22. CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS NA FALÊNCIA
Ante a diversidade dos créditos habilitados e tendo em mira assegurar seu tratamento proporcional, o legislador elaborou uma ordem de preferências, no processo falitário. 
Cuida-se, de fato, de imposiçãodecorrente do princípio par conditio creditorum, que permeia todo o processo de falência. A luz que o clarifica é a da proporcionalidade. Equidade é sinônimo de proporção.
As preferências que devem ser acatadas na classificação dos créditos são todas de atriz legal. 
Não havendo título legal à preferência, terão os credores iguais direitos sobre os bens do devedor comum. Já quando concorrerem aos mesmos bens, por título igual, dois ou mais credores da mesma classe, especialmente privilegiados, haverá entre eles rateio, proporcional ao valor dos respectivos créditos, se o produto não bastar para o pagamento integral de todos.
A Lei de Recuperação das Empresas fixa uma classificação prioritária de créditos, desde os dotados de privilégios, no ápice, até os de natureza quirografária, na base: 
o crédito social; 
depois o crédito público; 
depois o crédito garantido; 
o crédito comum.
Ressalvados os créditos derivados de relações de trabalho, limitados a 150 salários mínimos por credor e os acidentários, a classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:
Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
Créditos tributários;
Créditos com privilégio especial;
Créditos com privilégio geral;
Créditos quirografários;
Multas contratuais e penas pecuniárias;
Créditos subordinados.
NOTA: 
I - Os créditos extraconcursais a que nos referimos anteriormente serão pagos com precedência sobre os créditos concursais aqui enumerados;
II – Os depósitos do FGTS são exigíveis prioritariamente na falência, posto que obrigações derivadas da legislação do trabalho.
III – Pela classificação do Art. 83, o crédito trabalhista ocupa o primeiro lugar na ordem de preferência, após o pagamento dos créditos extraconcursais e, ainda assim, antes destes são pagas as restituições em dinheiro. Portanto, é ilusória a aparente primazia dos créditos trabalhistas. Não se trata de o trabalhador receber o total do crédito, mas, isto sim, aquilo que não ultrapassar a 150 salários mínimos, já que o restante é crédito quirografário, ou seja, destituído de privilégio.
IV - O Art. 151, da Lei de Recuperação das Empresas estabelece que os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial, vencidos nos 3 meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 salários mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa.
V - Créditos trabalhistas, cedidos a terceiros, serão considerados quirografários, isto é, sem preferência, a teor do § 4o., do Art. 83.
VI – A primazia dos créditos com garantia real (depois dos créditos sociais) sobre os créditos tributários, tem em mira contribuir para a ampliação do acesso ao crédito e à diminuição do seu custo. Créditos com garantia real são o hipotecário, o pignoratício e o anticrético. Os créditos por debêntures põem ter garantia real.
VII – Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, a coisa dada em garantia fica sujeita, por vínculo real, ao cumprimento da obrigação.
VIII – A expressão ‘créditos tributários’ compreende também os previdenciários, parafiscais e contribuições, independentemente de sua natureza e tempo de constituição. 
IX – Têm privilégio especial os créditos cujos titulares possuem direito de retenção sobre a coisa dada em garantia. Portanto, privilégio é uma atribuição legal que se incorpora ao crédito, na falência ou na recuperação e em virtude delas. (Art. 964, CCivil) 
X – Créditos subordinados são aqueles estipulados por lei ou acordados contratualmente, os dos administradores da empresa sem vínculo empregatício, controladores, diretores e sócios.
X – Os demais créditos são comuns ou quirografários. Também são conhecidos como créditos ordinários, e definem-se por exclusão: não são nem privilegiados, nem subordinados. São os representados por documentos assinados pelo devedor, sem nenhuma garantia ou prioridade especial. São os não-privilegiados. 
23. RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E O FIM DA CONCORDATA
Recuperar significa readquirir, reconquistar, reaver, recobrar, restaurar. 
A Lei de Recuperação das Empresas optou pela denominação recuperação empresarial precisamente para designar o restabelecimento da normalidade da atividade econômica.
A exemplo da concordata, consiste em procedimento preventivo, porque tem a intenção de evitar a situação de falência. E, para evitá-la, o legislador introduziu no sistema jurídico as recuperações judicial e extrajudicial. Estas duas espécies de recuperação têm por finalidade não o mero prolongamento de dívidas, mas a remoção das causas da crise econômico-financeira da empresa, para que possa resolver satisfatoriamente seus débitos, sem que isso implique sua desaparição.
Numa visão superficial, as recuperações não se limitam ao desenvolvimento singelo de um expediente para repactuação de dívidas. Envolvem, necessariamente, um diagnóstico de situação financeira e administrativa da empresa. 
É certo que as recuperações não deixam de perseguir a apuração do passivo e seu pagamento. Fundam-se na viabilidade da empresa e na salvaguarda de seus elementos constitutivos, bem como de sua relevância socioeconômica para a comunidade.
A Lei de Recuperação das Empresas optou por regime alternativo preventivo da falência: o procedimento judicial e o procedimento negocial. Em outras palavras, a concordata foi substituída pela recuperação judicial, enquanto, paralelamente, foi restaurada a chamada ‘concordata branca’ ou ‘concordata amigável’, isto é, a recuperação extrajudicial.
O novo diploma legal dá ênfase especial para a recuperação judicial e extrajudicial das empresas. Assim, as empresas em dificuldade de liquidez, poderão fazer um projeto de recuperação, sem solução de continuidade de suas atividades, e sem comprometimento das características, prazo e valores dos créditos constituídos.
A recuperação das empresas substitui a concordata, que era uma prerrogativa dada aos devedores comerciantes, em dificuldades, para recuperarem a empresa, e sua concessão dependia do atendimento de determinados requisitos e pressupostos. 
A concordata dava um fôlego aos comerciantes, para pagarem suas dívidas, em condições privilegiadas, no prazo de até 2 anos.
O comerciante decidia unilateralmente sobre o pedido e a forma de pagamento, e sujeitava todos os credores quirografários, independentemente de sua concordância. 
O que invariavelmente ocorria, é que a concordata privilegiava um determinado comerciante, e em contrapartida, levava seus credores ao regime falimentar, notadamente as empresas de pequeno porte, ou as que centralizavam suas operações comerciais em poucos clientes.
Estima-se que entre 70 a 80% das empresas em regime de concordata acabavam indo à falência, em razão da debilidade financeira, ou ainda empurradas pelas crises econômicas cíclicas que ocorreram no Brasil, ou por problemas internos, ou pelas crises mundiais e seus reflexos, determinados pelos efeitos da globalização da economia.
Não podemos ainda deixar de observar, para não cair na vala da ingenuidade, que muitos comerciantes, movidos por má-fé, se aproveitavam dos efeitos do chamado "favor legal", como era conhecida a concordata, e acabavam desviando recursos, mudando de ramo, constituindo novas empresas, desmantelando as estruturas das 
empresas em dificuldades, levando-as à falência, com prejuízos significativos aos credores, ao fisco, e principalmente aos ex-funcionários, com reflexos negativos para toda sociedade.
23.1.	Recuperação judicial
A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores, e dos interesses dos credores, promovendo assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica (Art. 47).
Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido,

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