Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 LITÍASES E CONCREÇÕES 1 RESUMO 2 Litíases e concreções são pedras, ditas cálculos, formadas em cavidades, 3 órgãos ocos ou condutos (vias biliares, urinárias, salivares.), podendo ser 4 classificadas de acordo com sua localidade e constituição. Esses cálculos podem 5 ser constituídos de minerais, como oxalato de cálcio, fosfato, magnésio, ácido 6 úrico entre outros. As principais litíases e concreções encontradas nos animais 7 domésticos são do tipo renal e vesicular, sendo a litíase renal encontrada em 8 todo trato urinário, e as litíases vesiculares localizada na vesícula biliar. 9 Palavras chave: Cálculos, deposição, minerais, oxalato de cálcio, trato urinário. 10 11 LITHIES AND CONCERNS 12 ABSTRACT 13 Literas and concretions are stones, said calculi, forms in cavities, hollow 14 organs or ducts (biliary, urinary, salivary), and can be classified according to their 15 locality and constitution. These calculations can be made up of minerals such as 16 calcium oxalate, phosphate, magnesium, uric acid among others. As main 17 litigations and concretions found in domestic animals are renal and vesicular type, 18 being a lithiasis found renal in any urinary tract, and as gall bladder located in the 19 gallbladder. 20 Keywords: Calculation, deposition, minerals, calcium oxalate, urinary tract. 21 22 2 REVISÃO DE LITERATURA 23 1. Histórico e etiologia das litíases e concreções 24 A denominação cálculo é originada do latim “calculus” que significa pedra de 25 cortar, podendo este receber ainda duas outras denominações, concreções que 26 deriva da palavra latina “concretione” que denota material rígido, e a litíase que 27 se origina do grego “lithos” que se refere ao termo pedra. Estes acúmulos de 28 massas podem apresentar-se de formas circulares ou ovais, podendo tem 29 consistência argilosa ou pétrea. As formações podem ocorrer em cavidades, 30 condutos ou órgãos ocos, como por exemplo: vesícula urinária, vesícula biliar 31 ducto pancreático e cavidade peritoneal. As litíases são precipitações que 32 ocorreram sucessivamente de sais orgânicos ao redor de um núcleo orgânico, ou 33 seja, são condensações de íons em determinados locais que são predisponentes 34 (VASCONCELOS, 2000). 35 De acordo com Pimenta et al. (2014), desde os primórdios da humanidade, 36 há a identificação de cálculos em múmias egípcias, e eram observados diversos 37 casos em humanos e mais tardiamente em animais devido ao consumo dos 38 mesmos eram observados em alguns a presença de formações pétreas dentro de 39 órgãos ocos, no entanto o reconhecimento da composição mineral do cálculo 40 mais antigo em humanos, data de 4.800 anos A.C. Os diagnósticos diferenciais 41 entres os tipos de concreções ocorreu pela primeira vez 500 anos a.C., mas 42 somente no século XX, entre 1977 e 1895 ocorreu uma evolução do 43 conhecimento, das técnicas de diagnósticos por imagem, métodos cirúrgicos e 44 tratamentos direcionados. 45 Segundo Domingos e Serra (2004), entre 3200 e 1200 a.C. foram encontradas 46 a primeiras referências escritas sobre litíases e a maneira de realizar o tratamento 47 3 na antiguidade pelas civilizações da Mesopotâmia. Outras diversas civilizações 48 (Pérsia, Índia e China) também haviam deixado suas formas de tratamento, mas 49 cada uma havia uma particularidade e todas elas eram de eficácia duvidosa, e 50 a fundamentação era filosófica e religiosa. Havia da idade antiga grega um 51 procedimento denominado litotomia, que não era bem aceito pela medicina 52 grega, em especial pelos médicos e filósofos da época. No entanto nesse 53 período não havia conhecimentos a respeito da localização e constituição da 54 concreção, eram realizadas observações e a partir delas, feitas as conclusões 55 cabíveis para a situação. 56 2. Minerais constituintes das litíases 57 A formação de cálculos no trato urinário sofre influência de variáveis como 58 idade, sexo, ocupação, atividade física, condições climática, étnicas, 59 geográficas e dietéticas (GLASHAN, 1994; SCHLEICHER, 2009). O cristal pode 60 dissolver-se, agregar-se, crescer ou induzir a nucleação de outros cristais, 61 formando o cálculo, serão os fatores presentes no trato urinário que irão 62 determinar qual destas variáveis predominará. As substâncias que promovem a 63 cristalização são cálcio, ácido úrico, fosfato e oxalato (TOSTES, 2001; GLASHAN, 64 1994). O oxalato de cálcio, o fosfato, a hidroxiapatita (fosfato de cálcio 65 cristalino) e a bruchita (fostafo de cálcio dihidratado) estão normalmente 66 presentes na urina e só formam cálculos renais de oxalato de cálcio se houver 67 deficiência dos inibidores endógenos da cristalização, como citrato, magnésio e 68 pirofosfato inorgânico, pH urinário persistentemente alto ou baixo, obstrução do 69 trato urinário e desidratação. O citrato urinário aumenta a solubilidade do cálcio 70 ao complexar-se com este e exerce um efeito inibitório direto na cristalização dos 71 4 sais de cálcio e ácido úrico. O magnésio também aumenta a solubilidade do 72 oxalato e fosfato de cálcio. (TOSTES, 2001; SCHLEICHER, 2009; AMARO, 2003; 73 GOMES, 2005). 74 Os mais raros tipos de cálculos são os de xantina, os de diidroxiadenina, os 75 de indinavir e os de sulfa. (NARDOZZA et al., 2010). A maioria dos cálculos renais 76 é de constituição mista (SEBBEN, 2007; GOMES, 2005; FREITAS, 2004). Sendo que o 77 mineral mais encontrado é o oxalato de cálcio, isolado ou em conjunto com o 78 fosfato, correspondendo a mais de 65% de todos os cálculos renais (SAMPAIO; 79 BIASE FILHO, 2000). 80 Os cálculos compostos de fosfato amônio-magnesiano (estruvita) são 81 relacionados à infecção urinária por germes produtores de uréase. Os cálculos 82 de ácido úrico está relacionada a pH urinário baixo, pouca ingestão de líquidos e 83 hiperuricemia, geralmente secundária a dieta rica em purinas ou a distúrbios 84 metabólicos, como gota. Os cálculos de cistina ocorrem em pacientes com 85 cistinúria. Os cálculos de sulfato de indinavir desenvolvem-se durante o 86 tratamento de pacientes portadores do vírus tipo I da imunodeficiência (HIV-1), 87 em tratamento com o inibidor de protease denominado sulfato de indinavir 88 (SAMPAIO; BIASE FILHO, 2000). Existem cálculos com outras composições menos 89 frequentes como de metabólitos de medicamentos (OSBORNE et al., 2008) ou de 90 sangue seco solidificado (WESTROPP et al., 2006). As litíases urinárias podem ser 91 caracterizadas em aspectos macroscópicos e microscópicos, através de sua 92 própria de forma, cor e consistência. Mesmo assim, um estudo de composição 93 química, por meio da sedimentoscopia, pode ser necessário para revelar a 94 natureza do cálculo (HACHUL; KHAZAAL; LORENZENTTI; CURY, 2005). 95 3. Classificações destas formações patológicas 96 5 3.1. Nomenclatura: 97 Como norma geral de nomenclatura das concreções e litíases, utiliza-se um 98 termo designativo do local de formação ou origem, acrescido do sufixo "litíase" 99 para denominar a ocorrência do problema, e do sufixo "lito" para denominar o 100 cálculo. As litíases e concreções podem ser classificadas de acordo com suas 101 localizações e formas (VASCONCELOS, 2017). 102 3.2. Localizadas no trato urinário: 103 Urolítiase: Cálculo formado no trato urinário. Urolíto: Cálculo formado nos 104 rins ou nefrólitos. Cistólito: Cálculo formado na bexiga. Ureterólito: Cálculo 105 formado no ureter. Uretrólito: Cálculo formado na uretra. 106 3.3. Localização no trato digestório: 107 Enterolitíase: Cálculo formado no trato digestivo. Enterólito: Cálculo formado 108 no intestino. 109 3.4.Outros localidades: 110 Glândulas salivares: sianolitíase ou sialólito. Vesícula Biliar: Colelitíase e calculo 111 colélito. Brônquios: Bronquiolitíase e bronquiólitos. Vasculares - formados a partir 112 de trombos (flebólitos e arteriólitos). 113 3.5. Constituição 114 Os cálculos presente na vesícula biliar, também podem ser classificados de 115 diferentes formas, quanto sua composição, como relatado por Hachiya (2017), 116 sendo estas divididas em três: 117 • Cálculo de colesterol: Composto principalmente de colesterol não 118 dissolvido, possuindo também cálcio, além de poder conter outros componentes; 119 •Cálculo de bilirrubinato de cálcio ou cálculo preto: Formado quando a 120 bile contém muita bilirrubina; 121 6 4. Mecanismo de formação 122 Os componentes de formação das litíases, ditas como cálculos, variam 123 conforme a localidade das substâncias envolvidas, dentre as mais comuns, iremos 124 explanar sobre as Litíases Renais e as Litíases Vesiculares. 125 4.1. Litíase Renal 126 O sistema urinário tem como função a eliminação de metabólitos na forma 127 líquida, porém alguns desses metabólitos são menos solúveis e podem se 128 precipitar na urina sob a forma de cristais. Caso esses cristais permaneçam retidos 129 no trato urinário, poderão se combinar com outros compostos, culminando na 130 formação dos cálculos (PAULA, 2012; OSBORNE, 1995). 131 Entre os fatores predisponentes podemos destacar, a supersaturação da 132 urina por minerais litogênicos, sendo que essa supersaturação é influenciada por 133 três fatores que são o aumento do grau de excreção urinária dos minerais, 134 redução de inibidores de cristalização na urina e o pH urinário (PAULA, 2012 apud 135 ULRICH, 2008). 136 Segundo a teoria da precipitação e cristalização, a formação do cálculo 137 depende unicamente da supersaturação da urina e independe da presença de 138 matriz ou de inibidores de cristalização. Com a precipitação desses cristais na 139 urina supersaturada, ocorre a nucleação espontânea do cristalóide. A nucleação 140 é um processo, onde os minerais em alta concentração na solução 141 supersaturada podem se precipitar e formar um núcleo cristalino. Se esse núcleo 142 permanecer no trato urinário e houver persistência da supersaturação urinária, o 143 cálculo crescerá (PAULA, 2012; OSBORNE, 1995). De acordo com a teoria da 144 nucleação da matriz, substâncias presentes na matriz são o fator determinante 145 primário da formação dos cálculos e promovem a nucleação. Acredita-se que as 146 7 mucoproteínas da matriz sejam substâncias com propriedades de agregação de 147 cristais. (PAULA, 2012; OSBORNE, 1995). 148 Na teoria da inibição da cristalização, para a formação do cálculo, o fator 149 principal é a redução de inibidores de cristalização e não é necessário um nível 150 muito elevado de supersaturação (PAULA, 2012; OSBORNE, 1995). 151 Os cálculos, depois de formados, se não eliminados do trato urinário, podem 152 sofrer dissolução de forma espontânea, cessar seu crescimento ou continuar 153 crescendo. Os urólitos ativos podem crescer com a deposição dos mesmos tipos 154 de cristais, se a urina permanecer supersaturada com essas substâncias; ou de 155 cristais diferentes, se a urina passar a ficar supersaturada com substâncias 156 diferentes; variando sua composição (PAULA, 2012 apud OSBORNE, 1995). 157 Certos cálculos tendem a ter base genética para sua ocorrência. Mudanças 158 primárias em metabolismo que levam a aumento de concentração de urina são 159 causas básicas que levam a urolitíase. A análise do genoma permitiu que alguns 160 dos genes responsáveis por essas alterações fossem identificados em certas raças 161 como Terra Nova e a Retriever do Labrador (PAULA, 2012; BANNASCH & 162 HENTHORN, 2008). 163 4.2. Litíases Vesiculares 164 Os cálculos biliares, ou litíase, correspondem a depósitos de líquidos 165 digestivos “endurecidos” que se formam na vesícula biliar. A formação dos 166 cálculos na vesícula tem como principal fator de formação uma falha na 167 manutenção do equilíbrio dos componentes da bile. A vesícula tem a 168 capacidade de absorver agua e eletrólitos concentrando a bile, por isso só 169 consegue armazenar essa quantidade. Essa concentração pode interferir na 170 solubilidade do colesterol e cálcio, que são componentes dos cálculos biliares. O 171 8 aumento da concentração de colesterol e cálcio leva ao cálculo biliar (MELO, 172 2012). 173 Fisiopatologicamente os cálculos de colesterol resultam da conjugação de 174 três fatores: Saturação da bílis por colesterol, aceleração da nucleação e 175 hipomotilidade da vesícula. Os principais componentes lipídicos da bílis são, 176 colesterol, fosfolipídeos e lecitina. A litíase vesicular por cálculos de colesterol é 177 considerada uma doença primariamente metabólica (MELO, 2012). O colesterol, 178 sendo insolúvel na água, necessita de ácidos biliares e fosfolipídeos para se 179 manter em solução (JÜNGST; KULLAK-UBLICK, 2006). 180 À medida que a concentração de colesterol aumenta, acumula-se sob a 181 forma de vesículas que se associam em vesículas multilamelares e ativam o 182 crescimento de cristais de colesterol à superfície (NOVACEK, 2006). 183 Esta saturação da bílis por colesterol é o principal mecanismo de formação 184 de cálculos (HE J, 2011). A nucleação é o passo inicial para a formação de 185 cálculos na bílis supersaturada e consiste no processo de agregação que preside 186 à génese dos cristais de colesterol. O principal fator que favorece a nucleação é 187 a mucina, uma glicoproteína que é produzida de forma crescente na vesícula, 188 quando há supersaturação da bílis (NOVACEK, 2006). 189 A absorção, pela parede da vesícula, do colesterol da bílis supersaturada, 190 leva à hipomotilidade vesicular (GRÜNHAGE; LAMMERT, 2006). Os cálculos de 191 bilirubina resultam de patologia hepato-biliar, anemia hemolítica ou eritopoiese 192 ineficaz. Os cálculos de bilirrubinato de cálcio (pigmentos castanhos) formam-se 193 mais nas vias biliares sobretudo em consequência de infeção por parasitas (MELO, 194 2012). 195 9 REFERÊNCIAS 196 Ariza, Paula Costa, Fioravanti, Maria Clorinda Soares. 2012. Epidemiologia Da 197 Urolitíase De Cães E Gatos. 41 f. Mestrado - Programa de Pós-graduação em 198 Ciência Animal, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. 199 Domingos F. & Serra A. 2004. História da litíase urinária: os primórdios da nefrologia. Revista 200 Portuguesa Nefrologia Hipertensão 18(3):143-153. 201 Donard Augusto Bendhack. 1999. Guia prático de urologia. Rio de Janeiro: 202 SbuSociedade Brasileira de Urologia. 368 p. Disponível em: 203 <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAe9kIAE/guia-pratico-urologia>. Acesso 204 em: 24 out. 2017. 205 Ferreira, R. N.; 2007. Manejo de cães com urolitíase. 32 f. Trabalho de conclusão 206 de curso (obtenção de título de especialista) – Universidade Castelo Branco. Rio 207 de Janeiro. 208 Grünhage, Frank, Lammert. 2006. Pathogenesis of gallstones: a genetic 209 perspective. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology, [s.l.], v. 20, n. 6, 210 p.997-1015. http://dx.doi.org/10.1016/j.bpg.2006.05.007. 211 Hachul, M., Khazaal, E. J., Lorenzetti, L. A., & Cury, R. B. 2015. Litíase urinária. São 212 Paulo: © Copyright Moreira Jr. 213 HACHIYA, Alisson Hideto . Litíase biliar. 2012. Disponível em: <http://pt-214 br.infomedica.wikia.com/wiki/Lit%C3%ADase_biliar>. Acesso em: 24 out. 2017. 215 10 Jüngst, Christoph, Kullak-Ublick, Gerd Achim, Jungst, Dieter. 2006. Microlithiasis and 216 sludge. Best Practice & ResearchClinical Gastroenterology, [s.l.], v. 20, n. 6, p.1053-217 1062. http://dx.doi.org/10.1016/j.bpg.2006.03.007. 218 Lima et al. 2005. Análise dos parâmetros bioquímicos e urinários de cães com 219 suspeita de afecção do sistema urinário. Revista Ciência Animal, 15(1):43-47. 220 Melo, Maria Teresa Pinheiro Teixeira. 2012. Litíase Vesicular: Fisiopatologia, 221 diagnóstico e tratamento. 30 f. Monografia (Especialização) - Curso de Medicina, 222 Universidade do Porto - Faculdade de Medicina, Porto – Portugal. 223 Novacek, Gottfried. 2006. Gender and Gallstone Disease. Wiener Medizinische 224 Wochenschrift, [s.l.], v. 156, n. 19-20, p.527-533. Springer Nature. 225 http://dx.doi.org/10.1007/s10354-006-0346-x. 226 Pimenta, Marcela Malvini. 2014. Estudo da ocorrência de litíase renal e ureteral em gatos 227 com doença renal crônica. Pesquisa Veterinária Brasileira, São Paulo, v. 6, n. 34, p.555-228 561, Semanal. 229 Ramos, Antoniela de Paula, Vitello, Rodrigo Lopes Luís, Pimentel, Luciana Cristina. 230 2012. Prevenção de litíase renal através de mudanças de hábitos de vida e 231 dietéticos. Brazilian Journal Of Health, São Paulo, v. 3, n. 2, p.22-31. 232 Sampaio, Francisco J. B., Biase Filho, Geraldo di. Litíase Renal. 2000. Guia Prático 233 De Urologia, Cap 18 pag 97-104. 234 Vasconcelos, Anilton Cesar. Calcificações Patológicas: minerais. 2000. Disponível 235 em: <http://depto.icb.ufmg.br/dpat/old/10mineral.htm>. Acesso em: 23 out. 2017. 236
Compartilhar