Buscar

Biblioteca Pública e Informação à Comunidade_capitulo2

Prévia do material em texto

SUAIDEN, Emir. Biblioteca Pública e Informação à Comunidade. São Paulo: Global, 1995. 
 
Capítulo 2 
 
 
BIBLIOTECA PÚBLICA 
 
 
A verdadeira missão, ou o objetivo mais importante da biblioteca 
pública, tem sido muito discutida pelos especialistas da área em artigos, livros' 
e em numerosos congressos nacionais e internacionais. As seguintes 
afirmações são ditas de forma freqüente e sistemática: "o objetivo da biblioteca 
pública é melhorar a qualidade de vida da comunidade"; "a biblioteca pública é 
a base fundamental do sistema educacional e cultural"; "seu objetivo principal 
é a formação do hábito de leitura"; "sua missão é assistir os usuários através de 
um acervo compatível com as necessidades da população" etc. 
Os participantes do Curso de Extensão sobre Gestão de Biblioteca em 
Tempos de Crise, ministrado pela professora Myriam Gusmão de Martins na 
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil, entre 22 e 30 de agosto de 1985, 
definiram as bibliotecas públicas e populares como instituições essencialmente 
sociais, de caráter democrático, destinadas aos habitantes de uma localidade, 
distrito ou região. A biblioteca pública, mantida pelo governo, tem por objetivo 
primordial preservar e difundir o conhecimento, principalmente no que se 
refere à cultura local, e dentre todos os tipos de bibliotecas é a única que possui 
realmente características de uma instituição social, tanto pela amplitude de seu 
campo de ação como pela diversificação de seus usuários. É um centro de 
educação permanente para a pessoa. A biblioteca popular está destinada a uma 
comunidade local e tem objetivos semelhantes aos da biblioteca pública, mas 
difere substancialmente daquela em que o usuário que a freqüenta não tem em 
geral um nível formal de conhecimento e também porque a biblioteca pública 
há de promover atividades de lazer ou culturais que satisfaçam as necessidades 
da comunidade dentro da qual opera. 
Portanto, qualquer que seja seu objetivo, seja economicamente rica ou 
pobre, rural ou urbana, a biblioteca pública terá de ser uma só em sua 
finalidade e em sua concepção, e tanto mais democrática quanto mais estenda 
seus serviços a todos seus potenciais usuários. 
Na realidade, a biblioteca pública deve constituir-se, cada vez mais, em 
um centro convergente das aspirações comunitárias, ou seja, deve ter uma 
identificação muito grande com sua comunidade e contribuir para resolver os 
problemas que são próprios à mesma comunidade. Por exemplo, se há na 
comunidade um número razoável de mulheres que costuram para sobreviver, a 
biblioteca pública deve divulgar obras sobre corte e costura, e contribuir assim 
para melhorar suas atividades. 
As bibliotecas públicas nos paises desenvolvidos são as responsáveis, 
em grande parte, pela formação de hábitos de leitura na comunidade e a 
principal fonte de estimulo para o desenvolvimento da indústria editorial. 
Desde há tempo se reconhece pelas autoridades o valor das bibliotecas públicas 
e o dever dos governantes de oferecer esse serviço à comunidade. Nos Estados 
Unidos, desde 1917, a biblioteca pública tem assumido um papel de grande 
importância, e desde 1949, com a publicação do "Manifesto da Unesco sobre 
bibliotecas públicas", se tem despertado um grande interesse, que tem dado um 
grande impulso a vários países, com fins a que a biblioteca pública seja a que 
preste taís serviços à comunidade. Outras atividades de grande importância e 
que contribuíram para este propósito foram as desenvolvidas ao longo das 
últimas décadas pela Federação Internacional de Associações de Bibliotecários 
(FIAB). Assim mesmo, poderiamos afirmar que também tiveram um papel 
importante e influente a "Declaração Geral das Normas", aprovada em Madri 
em 1958, e as "Normas para a Construção de Bibliotecas Públicas", aprovadas 
em Varsóvia em 1959. O manifesto da Unesco foi revisado em 1972 e as 
normas da FIAB em 1973. Os novos textos aproveitaram a experiência obtida 
na preparação das normas nacionais. 
O "Manifesto da Unesco" e a "Declaração de Caracas sobre a Biblioteca 
Pública" são de grande importância para o estudo desta instituição. Segundo a 
Unesco (7) "a biblioteca pública é uma mostra da fé que tem a democracia na 
educação de todos como um processo contínuo ao longo da vida, assim como 
na atitude de todo o mundo para conhecer as conquistas da humanidade no 
campo do saber e da cultura. A biblioteca pública é o principal meio de dar a 
todo mundo livre acesso à soma dos conhecimentos e das idéias do homem às 
criações de sua imaginação. Sua missão consiste em renovar o espírito do 
homem, suprindo-o de livros para sua distração e recreio, ajudar o estudante e 
dar a conhecer a última informação técnica, científica e sociológica. A 
biblioteca pública há de estar fundada em virtude de textos legais, precisos, 
concebidos de maneira que todos os habitantes de um país possam desfrutar de 
seus serviços. É indispensável que as bibliotecas procurem uma cooperação 
entre si para que a totalidade dos recursos nacionais possa ser utilizada 
plenamente e posta a serviço de qualquer leitor. Há de estar totalmente 
financiada por orçamento público e não há de exigir aos usuários nenhum 
pagamento por serviços. Para lograr completamente seus objetivos, a biblioteca 
pública tem de ser de fácil acesso e suas portas devem estar abertas para que a 
utilizem livremente e em igualdade de condições todos os membros da 
comunidade, sem distinção de raças, cor, nacionalidade, idade, sexo, religião, 
língua, situação social e nível de instrução" . 
Em 1982, na capital da Venezuela, especialistas elaboraram a 
"Declaração de Caracas sobre a Biblioteca Pública" como fator de 
desenvolvimento e instrumento de transformação social na América Latina e 
no Caribe. Segundo a referida declaração, a biblioteca pública deve: 
a) assegurar a toda a população o livre acesso à informação em suas 
diferentes formas de apresentação. Essa informação deve ser ampla, 
atualizada e representativa do universo de pensamento e idéias do homem e a 
expressão de sua imaginação criadora, de tal forma que tanto o indivíduo 
como a comunidade possam situar-se em seu meio histórico, 
socioeconômico, político e cultural; 
b) estimular a participação ativa e efetiva da população nacional, 
incrementando o papel da biblioteca como instrumento que contribua para a 
transformação social e para a participação na vida democrática; 
c) promover o resgate, a compreensão, a difusão e defesa das culturas 
nacionais, autóctones e minoritárias, objetivando a formação da identidade 
nacional, e apoiar o conhecimento de outras culturas e o respeito por elas; 
d) promover a formação de um leitor crítico, seletivo e criativo, 
desenvolvendo ao mesmo tempo sua motivação para a leitura, sua habilidade 
para extrair dela experiências gratificantes, capacitando desse modo cada vez 
mais o indivíduo para desempenhar um papel ativo na sociedade; e) apoiar a 
educação permanente em todos os níveis formais e não formais pondo ênfase 
na erradicação do analfabetismo e nos serviços para as crianças, jovens e 
leitores necessitados socialmente e inválidos; 
f) servir como centro de informação e comunicação para a comunidade; 
g) começar e desenvolver, quando seja necessário, serviços bibliotecários 
nacionais, especialmente em paises pequenos; 
h) apoiar o desenvolvimento de uma indústria editorial nacional 
economicamente forte e culturalmente independente. 
Na "Declaração de Caracas" é fácil observar a preocupação dos 
bibliotecários latino-americanos e do Caribe pela formação do hábito de 
leitura, pelo papel importante da informação à comunidade e pela função que 
desempenha a biblioteca pública na sociedade, criandocondições para que o 
homem tenha uma participação ativa no desenvolvimento de seu país. 
Nos países desenvolvidos, a biblioteca pública é quase essencialmente 
uma instituição de prestação de serviços à comunidade, portanto, tem uma 
identificação muito grande com sua comunidade. A biblioteca, além de prestar 
serviços como o de facilitar a elaboração de pesquisa bibliográfica, difusão de 
sumários correntes e alertas, empréstimos a domicilio, consultas etc., é também 
um ponto de encontro para a comunidade debater sua participação econômica e 
política e onde se oferecem informações práticas para a população. 
Nos países em desenvolvimento, com poucas exceções, não se pode 
afirmar que a biblioteca pública tenha realmente realizado um trabalho eficaz 
em prol da comunidade. A grande prova é que a comunidade não vê, ainda 
hoje, a biblioteca pública como instituição indispensável nos planos de 
desenvolvimento de uma nação, devido principalmente à falta de vinculação 
mais adequada com a população, através do serviço de informação à 
comunidade. 
Estudando as bibliotecas e sociedade na Primeira República, Gomes (8) 
afirma que as bibliotecas brasileiras refletiam a condição de dependência pois 
elas reuniam, conservavam e difundiam de modo reflexo a cultura estrangeira 
característica das sociedades dominadas. Assim, as bibliotecas, instaladas de 
1890 a 1930, foram o resultado de obstinados esforços isolados de alguns 
elementos, bem-intencionados mas sem recursos de toda ordem, para levar 
avante a idéia transplantada de biblioteca. 
A primeira biblioteca pública fundada no Brasil foi a Biblioteca Pública 
da Bahia, inaugurada no dia 4 de agosto de 1811. As bibliotecas fundadas 
anteriormente, como as dos conventos, não eram públicas, e a Biblioteca Real 
do Rio de Janeiro já existia em Lisboa, havendo, portanto, no caso, apenas a 
transferência de sede. 
É importante salientar que a fundação da Biblioteca Pública da Bahia não 
se efetivou através de uma iniciativa governamental. Ela foi criada por 
iniciativa dos cidadãos. 
Pedro Gomes Ferrão de Castello Branco encaminhou um projeto, datado 
de 5 de fevereiro de 1811, ao Conde dos Arcos, governador da Capitania da 
Bahia, solicitando a aprovação do plano para a fundação da biblioteca. 
O projeto para o funcionamento da biblioteca, contendo as idéias de 
Castello Branco, intitulava-se: Plano para o estabelecimento de huma 
biblioteca pública na cidade de São Salvador Bahia de todos os Santos, 
oferecido à aprovação do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Conde dos 
Arcos, Governador, e Capitão General desta Capitania.(9) 
Ele solicitou ao governador apenas a aprovação do projeto, pois a 
biblioteca seria mantida através da cooperação de todos os cidadãos que 
desejassem dela fazer parte. Castello Branco concebeu a biblioteca como uma 
instituição para promover a instrução do povo. 
A idéia de Castello Branco era começar com subscritores de um plano 
coletivo de assinaturas de revistas e, com as sobras financeiras, adquirir livros 
para formar uma biblioteca. Castello Branco propôs, ainda, que, "para que 
destes elementos se possa formar com mais brevidade uma biblioteca ampla e 
capaz de preencher os fins de uma geral instrução; serão convidados os 
subscritores a entrarem para este estabelecimento com suas livrarias 
particulares ou com aquelas obras que podem dispensar do seu uso ordinário, 
as quais serão encaminhadas por doação ou por empréstimo, de que se lhe dará 
uma clareza, e far-se-á pública por meio da imprensa e uma cópia dela será 
remetida ao ilustríssimo e excelentíssimo senhor general desta Capitania com o 
nome do que a houver feito como um benfeitor do Público, Amigo da Pátria e 
zeloso dos verdadeiros interesses do Soberano”. 
Em seguida, aventa medidas para a escolha do local da biblioteca e 
recrutamento dos funcionários: "Tomar-se-há uma casa sufficiente, para os fins 
propostos, a qual deve ser dentro da cidade, em sítio agradável, bem arejado, e 
não muito próximo aos lugares mais freqüentados. Esta casa será ordenada 
com a possível decência e sempre de modo que se possa estar nela com asseio 
e satisfação. Na sala principal haverá uma grande mesa com assentos ao redor 
sobre a qual estarão as Gazetas mais recentes, pincel e tudo mais necessário 
para a escripta. Os officiaes da Casa por agora serão uniccamente hum 
bibliotecário, hum moço servente, hum porteiro e hum moço empregado em a 
trazer sempre o maior asseio. Criar-se-hão depois os mais Officiaes que os 
subscritores julguem necessários. O Bibliotecário deverá ser hum sujeito de 
muito boa conducta que saiba bem ler, escrever e contar, sendo muito para 
desejar-se que tenha conhecimento das línguas, principalmente Latim, Francês 
e Inglês. Os moços serventes deverão também saber ler, escrever e contar. O 
porteiro terá as mesmas qualidades" . 
O Conde dos Arcos aprovou o Plano e, elogiando a iniciativa do seu 
autor, deu-lhe “a Direção de todos os objetos, trabalhos intermediários até a 
perfeição daquele estabelecimento”. 
A biblioteca foi inaugurada no antigo Colégio dos Jesuítas, em 4 de 
agosto de 1811. 
Posteriormente, a 29 de setembro de 1829, foi fundada a Biblioteca 
Pública do Estado do Maranhão, cuja abertura oficial ao público se deu no dia 
3 de maio de 1831, ocupando a parte superior do Convento do Carmo, na Rua 
do Egito. 
Em 1851 foi anexada ao Liceu Maranhense, e, através da Lei n" 752, 
datada de 1 ° de junho de 1886, passou a Biblioteca Pública Provincial a ficar a 
cargo e sob a guarda do Instituto Literário Maranhense. 
De acordo com a Lei nº 991, datada de 10 de junho de 1872, foi 
confiada à Sociedade Onze de Agosto, situada no pavimento superior do 
prédio da Rua do Egito. Em 4 de abril de 1883, foi reaberta ao público na 
Igreja da Fé, retornando depois ao Convento do Carmo, em 1886. 
Depois de várias mudanças, o governador Sebastião Archer da Silva 
resolveu construir sua sede atual, cuja inauguração se deu no dia 29 de janeiro 
de 1951, localizada na Praça do Panteon. 
A Biblioteca Pública do Maranhão, posteriormente denominada 
Biblioteca Pública Benedito Leite, começou a contar com profissionais 
bibliotecários na direção, a partir de agosto de 1973. 
A seguir, e sempre através de iniciativa do governo, foram fundadas as 
seguintes bibliotecas públicas estaduais: 
Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina, em 1855; 
Biblioteca Pública do Espírito Santo, em 1855; 
Biblioteca Pública do Estado da Paraíba, em 1857; 
Biblioteca Pública do Paraná, em 1857; 
Biblioteca Pública do Estado de Alagoas, em 1865; 
Biblioteca Pública do Ceará, em 1867, atualmente denominada 
Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel; 
Biblioteca Pública do Estado do Amazonas, em 1870; 
Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, em 1871; 
Biblioteca e Arquivo Público do Pará, em 1871; 
Biblioteca Estadual do Rio de Janeiro, em 1873; 
Biblioteca Estadual do Piauí, em 1883, atualmente denominada 
Biblioteca Estadual Desembargador Cromwell Carvalho; 
Biblioteca Pública Estadual do Mato Grosso, em 1912; 
Biblioteca Municipal de São Paulo, em 1926, atualmente denominada 
Biblioteca Municipal Mário de Andrade; 
Biblioteca Pública do Amapá, em 1945; 
Biblioteca Pública do Acre, em 1948; 
Biblioteca Pública do Estado de Minas Gerais, em 1954; 
Biblioteca Pública Câmara Cascudo, do Estado do Rio Grande do Norte, 
em 1963; 
Biblioteca Pública Estadual de Goiás, em 1967; 
Biblioteca Pública Dr. José Pontes Pinto, de Rondônia, em 1969. 
 
É importante salientar que a maioria dessas bibliotecas públicas foi 
criada sem possuir sede própria e ocupou diversos locais diferentes. Muitas só 
na década de 1970 construíramum edifício apropriado ao funcionamento dos 
serviços, como a Biblioteca Pública da Bahia, que atualmente se chama 
Biblioteca Central da Bahia, a Biblioteca Pública do Espírito Santo, a 
Biblioteca Pública Epiphânio Dória, de Sergipe etc. 
Exemplo do destino andejo de nossas bibliotecas é a Biblioteca Pública 
Governador Menezes Pimentel, do Ceará, que antes da construção de sua sede 
própria, inaugurada em 1975, ocupou os seguintes locais: praça Marquês de 
Herval (1867 a 1873); rua Sena Madureira, esquina da Visconde de Sabóia 
(1904 a 1926); ex-edifício da Assembléia Legislativa, na rua Floriano Peixoto 
(1926 a 1952); rua Solon Pinheiro, nº 76 (1967 a 1970); no antigo Palácio da 
Luz, na rua Sena Madureira (1970 a 1974); e rua Tristão Gonçalves, nº 920. 
Mesmo no século XX, apenas alguns prédios de bibliotecas públicas 
foram construídos com assessoramento de bibliotecários. As Bibliotecas 
Públicas do Paraná, Pernambuco, Bahia, Municipal de São Paulo, Pará e Rio 
de Janeiro são desses raros exemplos. Inaugurada em 1926, a Biblioteca 
Pública Municipal Mário de Andrade foi um marco importante na 
biblioteconomia brasileira e um exemplo para a América Latina. Ocupando 
uma área de 15.000 m², está localizada no centro de São Paulo, sendo um 
verdadeiro monumento à cultura. 
Sua primeira diretora, Adelpha de Figueiredo, foi urna das primeiras 
bibliotecárias brasileiras, formada pela Universidade de Columbia, em Nova 
York. Rubens Borba de Moraes foi o segundo diretor (período de 1935 a 
1943), e a ele deve a Biblioteca sua reorganização, cujo plano foi dividido em 
quatro pontos: 
1. reorganização completa dos serviços técnicos; 
2. adoção de esquema de expansão bibliotecária; 
3. formação de pessoal habilitado; 
4. cooperação com outros institutos. 
O terceiro diretor (1943 a 1959) foi o escritor, crítico literário e de artes 
plásticas Sérgio Milliet. 
Segundo Edson Nery da Fonseca, "os nossos primeiros bibliotecários 
tinham de ser influenciados pela Europa, como o foram os nossos primeiros 
escritores, artistas e cientistas. A essa constante da cultura brasileira não 
escapou nem poderia escapar a biblioteconomia. Foram europeus os primeiros 
tratados e manuais de biblioteconomia lidos no Brasil. Namur, Ciro, Maire, 
Delisle, Cousin, MoreI, Petzholdt, Graesel, Laborde, Constantin e Peignot são 
nomes que encontramos freqüentemente nos relatórios e catálogos das 
bibliotecas mais antigas. E muitos bibliotecários foram à Europa como hoje 
vão aos Estados Unidos com o fim de estudar a organização e a administração 
de bibliotecas. O primeiro foi Benjamin Franklin Ramiz Galvão, cujo 
relatório, apresentado ao Ministro dos Negócios do Império, em 31 de 
dezembro de 1874, ainda hoje pode ser lido com proveito pois contém críticas 
muito justas e observações de interesse permanente. 
Em 1937, o governo criou no Brasil, com a finalidade de propiciar meios 
para a produção, o aprovisionamento de livros e a melhora dos serviços 
bibliotecários, o Instituto Nacional do Livro, passando este órgão do 
Ministério da Educação e Cultura a dar prioridade, em seu trabalho, à 
formação de bibliotecas em todo o território nacional. 
Mário de Andrade, grande intelectual brasileiro, se expressava assim em 
1939 a respeito deste assunto (10): 
"A criação de bibliotecas populares me parece uma das atividades mais 
necessárias para o desenvolvimento da cultura brasileira. Não é que essas 
bibliotecas venham a resolver qualquer dos dolorosos problemas de nossa 
cultura, como o analfabetismo, ou o da criação de professores de ensino 
secundário, por exemplo..., mas a divulgação entre o povo do hábito de ler 
bem orientado criará uma população urbana mais clara, com vontade própria, 
menos indiferente à vida nacional. Será talvez esse um passo agigantado para 
a estabilização de uma entidade racial que se encontra em extremo desprovida 
de outras forças de unificação”. 
Em 1961, o Decreto-Lei nº 51.223, de 22 de agosto, criou no Ministério 
da Educação e Cultura o Serviço Nacional de Bibliotecas. Esse órgão teria por 
finalidade: 
a) fomentar as diferentes formas de intercâmbio bibliográfico entre as bibliotecas do 
país; 
b) estimular a criação de bibliotecas públicas, e especialmente de sistemas regionais de 
bibliotecas; 
c) colaborar para a manutenção de sistemas regionais de bibliotecas; 
d) promover a criação de uma rede de informações bibliográficas que sirvam em todo 
o território nacional. 
Lamentavelmente, devido a uma série de fatores, o Serviço Nacional de 
Bibliotecas não conseguiu cumprir seus objetivos e o Decreto-Lei n° 62.239 o 
incorporou ao Instituto Nacional do Livro, passando a coordenar a política 
nacional de bibliotecas, que tinha como meta prioritária a biblioteca pública. 
Posteriormente, o Instituto Nacional do Livro adotou, entre outras, duas 
medidas de fundamental importância: 
a) firmar convênios com as Prefeituras Municipais para a manutenção de 
bibliotecas públicas, nas quais ficariam definidas as obrigações do 
Instituto Nacional do Livro, e em conseqüência também a dos 
municípios; 
b) adotar um sistema de co-edições em lugar de simples compras de livros 
para enviar às bibliotecas públicas municipais. 
Outro fator importante foi a implantação da Lei 5.692/71, que reformou o 
ensino de primeiro e segundo graus, convertendo em obrigatória a pesquisa por 
parte do estudante. Devido à impossibilidade de se manterem bibliotecas em 
todas as escolas, a biblioteca pública começou a ser vista pelas autoridades 
com uma maior importância, pois passou a servir aos estudantes e à população 
em geral, tomando-se uma instituição indispensável para a formação educativa 
e cultural da comunidade. 
Apesar dos sucessivos esforços em prol do fortalecimento das bibliotecas 
públicas, estas não alcançaram o desenvolvimento esperado. Não há 
bibliotecas públicas em muitos dos municípios e as existentes não estão de 
acordo com as normas internacionais. 
Vários fatores dificultaram o desenvolvimento das bibliotecas públicas, 
entre eles podemos citar: 
a) falta de planejamento integrado e de colaboração entre as bibliotecas, o 
que impede um melhor rendimento de recursos existentes; 
b) falta de conscientização dos governantes municipais quanto à importância 
que a biblioteca pública pode ter para o desenvolvimento socio-cultural da 
comunidade; 
c) carência de recursos financeiros; 
d) carência de recursos humanos. Do total existente de bibliotecários poucos 
trabalham em bibliotecas públicas. A grande maioria se encontra trabalhando 
nas bibliotecas do Rio de Janeiro e São Paulo. A residência do bibliotecário 
no interior do país é um problema de difícil solução, pois apesar de existirem 
diversas escolas de biblioteconomia, os bibliotecários preferem permanecer 
nas grandes cidades, onde recebem uma boa remuneração e gozam de 
melhores condições de especialização; 
e) a falta de boas livrarias nos municípios, além de impossibilitar a motivação 
espontânea da população pelo hábito de ler, dificulta sobremaneira a atuação 
dos responsáveis pelas bibliotecas locais, através das poucas opções 
oferecidas para a aquisição dos acervos e o preço excessivo que normalmente 
é cobrado. O Brasil possui cerca de 800 livrarias, 90% das quais estão 
localizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. 
Analisando a situação das 23 Bibliotecas Públicas mais importantes do 
Brasil: Porto Velho, Rio Branco, Manaus, Belém, Macapá, São Luís, Teresina, 
Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, Maceió, Aracaju, Salvador, Belo 
Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Porto 
Alegre, Cuiabá e Goiânia, chegamos às seguintes conclusões (11): 
a) algumas dessas bibliotecas não possuíam regulamentos, o que dificultava o 
conhecimentoda posição da biblioteca em relação à dependência ou 
subordinação a outros órgãos superiores no âmbito administrativo da Unidade 
Federada; 
b) a biblioteca pública, como órgão de prestação de serviços à comunidade, 
necessita manter estatísticas diárias ou, pelo menos, uma mostra mensal, 
referentes à assistência de leitores. Em algumas das bibliotecas a confecção 
destas estatísticas se vê dificultada pela escassez de dados. Em razão disso, 
não se pode saber se há um aumento de consultas, empréstimos e freqüência 
de uso e conseqüentemente, a biblioteca desconhece o grau de satisfação do 
leitor com respeito aos serviços por ela oferecidos; 
c) são poucas as bibliotecas públicas que possuem um local e mobiliário 
adequado para uma boa atenção aos leitores. É de fundamental importância 
que, sempre que seja possível, seja utilizado o planejamento bibliotecário para 
construção de locais e seleção de um mobiliário adequado; 
d) o número de bibliotecários que trabalham nas bibliotecas públicas é ainda 
muito pequeno. Segundo as normas da Federação Internacional de 
Associações de Bibliotecários, a proporção de bibliotecários com 
qualificação, em relação ao resto do pessoal, dependerá das condições 
específicas em que se desenvolve uma unidade urbana. O mínimo proposto 
para uma unidade urbana desenvolvida é de 33% do pessoal total. Os gastos 
de pessoal constituem uma proporção muito elevada no que se refere ao 
orçamento da biblioteca pública, e é importante que os salários pagos aos 
bibliotecários com qualificação sejam suficientes para atrair e remunerar 
adequadamente o pessoal capaz e com iniciativa. Deve, portanto, haver uma 
separação clara entre o trabalho dos bibliotecários e o do pessoal auxiliar, 
assim como uma administração eficiente para que o tempo dos primeiros não 
seja desperdiçado em trabalhos rotineiros e de caráter secundário. 
e) os recursos econômicos das bibliotecas públicas são insuficientes e, em 
alguns casos, ridículos. Os bibliotecários devem conscientizar a autoridades 
sobre a necessidade da biblioteca ter seus próprios recursos, recebendo 
parcela considerável dos recursos destinados à educação e cultura. Esse 
problema não será resolvido somente com grandes recursos, a não ser que 
estes sejam aplicados com um planejamento adequado e sempre tendo como 
principal objetivo uma melhor assistência aos usuários. Assim, é importante 
que o índice de freqüência de uso, consultas e empréstimos seja melhorado, já 
que a parcela da população que utiliza a biblioteca é pequena; 
f) o acervo disponível na maioria das bibliotecas públicas é ainda insuficiente 
e não reflete a produção editorial brasileira. Este fato supõe que não exista 
uma motivação da comunidade para utilizar os serviços bibliotecários, ao não 
existirem acervos adequados. E com respeito aos usuários, o acervo 
bibliográfico nas bibliotecas públicas em um país em desenvolvimento como 
o Brasil é o setor, entre os diferentes que oferece a biblioteca, mais solicitado. 
A manutenção e atualização do acervo, o descarte de obras sem interesse para 
a comunidade, e a encadernação, sempre que seja necessária, são alguns dos 
aspectos de que não se podem descuidar em uma biblioteca, para que esta 
possa cumprir sua finalidade com os leitores; 
g) ainda que não tenha sido muito comum a utilização dos serviços de 
extensão nas bibliotecas públicas com o fim de atender às comunidades 
carentes, houve nos últimos anos um grande avanço neste setor. Atualmente a 
maioria das bibliotecas públicas estaduais possui este serviço através de 
carros-bibliotecas e caixas-estantes. Esta forma de extensão é de grande 
importância para o atendimento das populações suburbanas e rurais. No 
entanto, o número de carros-bibliotecas e caixas-estantes existentes é reduzido 
para um país tão grande como o Brasil. 
Tomando como ponto de partida estas conclusões, observa-se que as 
bibliotecas públicas podem e devem dar uma parcela maior de contribuição 
para o desenvolvimento educativo e cultural das comunidades brasileiras. É 
por isso necessário contar com recursos humanos e econômicos adequados. Da 
atuação do bibliotecário em beneficio da comunidade dependerá a 
conscientização das autoridades, para que se consigam mais recursos em prol 
da biblioteca pública. Em um país com tantas prioridades como o Brasil, os 
recursos nunca serão suficientes para o desenvolvimento dos serviços 
bibliotecários. Cabe aos bibliotecários a tarefa de aplicá-los de acordo com as 
necessidades e interesses da comunidade. 
As bibliotecas públicas brasileiras, que podem ser de caráter federal, 
estatal, municipal ou particular, segundo Hipólito Escolar (12), sofrem de um 
grave defeito: não contam, em geral, com empregados profissionais, nem 
recebem com continuidade recursos econômicos, nem aumentam seus acervos 
em quantidade regular; levam ainda um grande atraso na catalogação. Têm, no 
entanto, mais pessoal que o necessário, o que dificulta seu progresso, pois seus 
salários absorvem recursos que poderiam destinar-se à compra de livros. Além 
do mais, seu trabalho rende muito pouco. De todas elas, as que funcionam 
melhor são as municipais. Destaca-se a Municipal de São Paulo (Biblioteca 
Municipal Mário de Andrade), que ocupa o primeiro posto entre as bibliotecas 
da América Latina e de Portugal desde que a organizou nos anos 30 o grande 
bibliotecário e bibliógrafo Rubens Borba de Morais, que na década seguinte foi 
diretor da Biblioteca Nacional, cujos serviços modernizou. Na seguinte década 
Borba de Morais seria diretor da Biblioteca das Nações Unidas em Nova York 
e terminou sua carreira profissional nos anos 60 como professor de História do 
Livro e das Bibliotecas na Universidade de Brasília. Um bom plantel de 
bibliotecários, não muito numeroso, mas bem preparado, pode predizer, através 
de umas ativas organizações profissionais, um melhor porvir na missão de 
promover o desenvolvimento do livro e das bibliotecas brasileiras. 
A carência de bibliotecas, em termos quantitativos e qualitativos, tem 
produzido sérios problemas, cujos reflexos se configuram na difícil situação 
financeira que atravessam diversos editores e também na falta de hábito de 
leitura em grande parte da população brasileira. A falta de hábito de leitura na 
população apresenta um elevado índice. Anos atrás o Sindicato Nacional dos 
Editores de Livros e a Câmara Brasileira do Livro levaram a cabo uma 
investigação sobre a função social do livro na realidade brasileira. Verificou-se 
em seis grandes cidades brasileiras que o aluno de segundo grau se via limitado 
a uma vida doméstica em que “á noite se assiste à televisão". O uso regular do 
livro se apresenta em uma porcentagem de 39,3% de informantes, 
manifestando-se assim mesmo um afastamento da leitura em uma população 
que se encontra a um passo da vida universitária. 
Em um grupo da Universidade de São Paulo se comprovou que apenas 
60% declarou haver lido no dia anterior à prova. E por leitura se entende uma 
revisão de um livro, jornal ou revista. A quantidade de tempo reservada à 
leitura em consonância com os indicadores apresentados revelou um resultado 
baixo em relação ao que se poderia esperar, enquanto que outras investigações 
revelaram uma média de duas a três horas diárias dedicadas à televisão. 
Richard Bamberger (13), ao analisar as razões por que em certos países 
se lê muito mais que em outros, viu que estas se revelaram nos seguintes 
fatores: 
a) a posição do livro na escala de valores do país, tal como se expressa 
através dos gastos econômicos destinados á promoção do livro; 
b) a tradição cultural; 
c) as oportunidades de leitura; 
d)o papel representado pelos livros nas escolas e no sistema educativo.A solução dos problemas detectados anteriormente pressupõe a adoção 
de técnicas de planejamento bibliotecário e de normas em nível nacional que 
uniformizem os serviços bibliotecários, a apresentação efetiva de assistência 
técnica nos diferentes níveis, tendo em vista a reorganização e melhora da 
atenção a toda a comunidade nacional, a utilização de serviços de extensão 
bibliotecária objetivando a assistência às populações suburbanas e rurais e 
como suporte às afirmações anteriores, a criação de uma infra-estrutura de 
recursos materiais e humanos. 
Assim mesmo, ao que acima se expõe, adicionam-se outras 
considerações: 
a) as bibliotecas públicas devem submeter-se a um planejamento integrado 
nos planos nacionais de educação, formando parte do planejamento social e 
econômico do país, pois não é senão nesse contexto que o planejamento 
bibliotecário pode alcançar as bases de apoio que precisa para ser eficaz; 
b) os recursos do Estado e dos municípios precisam ser melhor aproveitados, 
a fim de se evitarem desperdícios, duplicação de esforços e o desenten- 
dimento das regiões cronicamente desprovidas de infra-estrutura cultural; 
c) o Governo Federal não pode, pela magnitude do problema, deixar de atuar 
nesse setor de forma planejada e integrada; 
d) qualquer sistema de informação científica e tecnológica é um ápice de 
uma estrutura de serviços e hábitos de informação cujos representantes são 
as bibliotecas públicas; 
e) as bibliotecas públicas, como depositárias e divulgadoras de parte 
significativa da memória nacional, devem integrar-se no objetivo de 
superação do subdesenvolvimento; 
f) os interesses do Governo Federal na solução dos problemas que afetam ao 
plano de desenvolvi-mento educativo, cultural e do bem-estar do povo 
brasileiro. 
Considerando tudo isso, foi proposto ao Ministério da Educação e 
Cultura, no ano de 1976, por um grupo de bibliotecários de Brasília, formado 
por Antônio Briquet de Lemos, Edson Nery da Fonseca e Emir Suaiden, a 
implantação de um Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, com o propósito 
de incrementá-lo com os recursos necessários para a prestação de uma 
assistência técnica eficaz para as bibliotecas públicas estaduais, a fim de que 
estas viessem a desempenhar suas funções de cabeça ou centro de Sistemas 
Estaduais de Bibliotecas. 
Pretendia-se que as bibliotecas públicas brasileiras deixassem de 
funcionar isoladamente, como o vinham fazendo, estabelecendo-se um sistema 
institucionalizado de colaboração mútua que levasse a um maior rendimento 
dos recursos empregados. 
Neste sentido, a implantação do Sistema Nacional de Bibliotecas 
Públicas estava dirigida, em um primeiro momento, a: 
a) a criação de infra-estruturas de recursos humanos e materiais; 
b) a elaboração de normas de colaboração mútua entre as bibliotecas 
participantes; 
c) a organização de um serviço de extensão bibliotecária às comunidades 
carentes, de acordo com as necessidades e realidades locais. 
Considera-se que esta linha de atuação deveria criar condições 
suficientes para a efetividade do sistema, tendo em vista os objetivos definidos 
e os benefícios esperados. 
Ao órgão coordenador compete: 
a) acompanhar o sistema, nos moldes em que foi planejado, de acordo com a 
realidade nacional e com o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, 
já que os modelos existentes nos países desenvolvidos são inadequados para 
o Brasil; 
b) prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, para a organização 
das bibliotecas públicas e a implantação do sistema; 
c) definir normas técnicas e procedimentos de serviço destinados a 
bibliotecas públicas; 
d) realizar inspeções técnicas e auditorias às bibliotecas públicas que o 
solicitem ou recebam subvenções e assistência técnica; 
e) desenvolver e estimular atividades de treinamento e aperfeiçoamento dos 
recursos humanos nos diferentes níveis, com a colaboração de instituições de 
ensino; 
f) promover e apoiar outras atividades de aperfeiçoamento de recursos 
humanos, como congressos, conferências, reuniões etc; 
g) estimular e promover a edição de obras adequadas ao aperfeiçoamento de 
recursos humanos em biblioteconomia e áreas afins; 
h) publicar periodicamente o Guia de Bibliotecas Brasileiras. 
As unidades federadas devem organizar seus respectivos subsistemas de 
bibliotecas públicas, de acordo com as normas emitidas pelo órgão 
coordenador. 
No âmbito estadual e regional as atividades de aquisição de livros, 
encadernação e processamento técnico devem ser centralizadas numa 
biblioteca já existente (preferencialmente a Biblioteca Pública Estadual) ou um 
órgão criado especificamente para este fim. 
As bibliotecas públicas estaduais ou regionais, como cabeça de sistema, 
são responsáveis pelas atividades de assistência técnica às bibliotecas 
integrantes do subsistema, tais como o catálogo coletivo, classificação e 
catalogação de obras, treinamento de recursos humanos etc. 
As bibliotecas públicas existentes e as que estão por organizar-se devem 
obedecer aos princípios de cooperação, racionalização e planejamento de suas 
atividades, tendo como meta a organização do subsistema de base estadual e 
regional. 
A referida implantação criará condições para que as bibliotecas públicas 
atendam convenientemente à comunidade através de seus serviços, tais como: 
pesquisa bibliográfica, consultas, empréstimos domiciliares, além de: 
a) proporcionar aos usuários o acesso a todos os conhecimentos e idéias 
independentemente da forma e do suporte material do seu registro, de 
maneira ampla e eficiente; 
b) participar ativamente dos programas culturais da comunidade e 
proporcionar serviços de extensão bibliotecária; 
c) atender ao maior número possível de usuários na sua área de ação através 
de serviços de carros-bibliotecas, vagão-biblioteca, barcos-bibliotecas, 
caixas-estantes etc; 
d) manter sistemas eficientes de circulação interna e externa, abrangendo 
todos os tipos de materiais da biblioteca, tanto impressos como não-
impressos; 
e) proporcionar facilidades de leitura aos alunos de escolas que não 
disponham de bibliotecas; 
f) cooperar com os planos de alfabetização e educação continuada de 
adolescentes e adultos; 
g) colaborar com os sistemas de informação científica e tecnológica. 
O sistema em curso tem como objetivo geral a implantação de, pelo 
menos, uma biblioteca pública em cada município brasileiro. As metas 
especificas são: 
a) estimular a implantação de serviços bibliotecários, racionalmente 
estruturados, em todo o território nacional; 
b) promover a divulgação dos serviços oferecidos pelas bibliotecas 
brasileiras; 
c) promover a melhoria do funcionamento das bibliotecas públicas para que 
atuem como centro de ação cultural e educação permanente; 
d) manter o controle efetivo dos recursos bibliotecários existentes em nível 
municipal, estadual e federal, tendo em vista uma atuação planejada que 
conduza ao seu melhor aproveitamento; 
e) promover a extensão dos serviços bibliotecários nas zonas suburbanas e 
rurais. 
O projeto foi aprovado e sua implantação até agora tem beneficiado 13 
Unidades Federadas. No transcurso de sua existência se pode observar que o 
desenvolvimento do sistema provocou diversas melhoras nos serviços 
bibliotecários, dentre as quais devem destacar-se: 
a) as bibliotecas estaduais, incluídas no sistema, passaram a dar assistência e 
ter controle efetivo nos municípios. Novos bibliotecários foram contratados 
e treinados nos serviços. Diversos prédios estão em processo de construção 
com bibliotecários participando do projeto. Aumentou sensivelmente o 
número de usuários atendidos, inclusive se deu atenção a presidiários,enfermos etc. A biblioteca pública pouco a pouco se vai convertendo num 
centro de irradiação cultural e de programas de aproximação à leitura, como 
com a chamada Hora do Conto, além de representações teatrais, atividades 
todas elas cada vez mais estimuladas; 
b) o Instituto Nacional do Livro, como órgão coordenador, procurou seguir 
ao pé-da-letra todas as determinações do projeto. Além da transferência de 
recursos financeiros e da assistência técnica das Unidades Federadas, vêm 
dando ênfase à publicação de livros de biblioteconomia e documentação. Na 
área de recursos humanos, além de cursos de formação de auxiliares de 
bibliotecas, o Instituto Nacional do Livro assinou um convênio como 
Departamento de Biblioteconomia da Universidade Federal da Paraíba, 
assegurando recursos para um projeto de quatro tipos de investigação: 
1) a biblioteca pública como agente catalisador da comunidade; 
2) tecnologias alternativas da informação; 
3) estudos bibliográficos; 
4) formação de recursos humanos em bibliotecono- mia. 
Em 1990 o Governo Collor extinguiu o Instituto Nacional do Livro 
passando suas atividades para a Fundação Biblioteca Nacional. 
O desenvolvimento das bibliotecas públicas brasileiras é um processo a 
médio e longo prazos. Os órgãos do governo responsáveis pela política 
bibliotecária, as escolas de biblioteconomia e associações de bibliotecários, 
têm uma grande responsabilidade neste processo de desenvolvimento que se 
inicia com a conscientização por parte das autoridades de que as bibliotecas 
públicas representam uma condição indispensável para a formação educativa e 
cultural, assim como para o aperfeiçoamento da qualidade de vida e a tomada 
de decisões em todas as esferas da vida administrativa e econômica. Por isso, a 
biblioteca pública se converte cada vez mais em um dos fatores de maior peso 
no desenvolvimento e na vida independente dos povos. 
A biblioteca pública tem urna importância muito grande no 
desenvolvimento da uma indústria editorial forte e independente, não somente 
porque adquire e divulga as obras publicadas, mas principalmente porque é a 
instituição que tem as melhores condições para formar um público leitor. 
Na realidade, o livro continua sendo o instrumento principal das 
atividades bibliotecárias. Há de se destacar que a produção e o consumo do 
livro no Brasil vem aumentando sensivelmente nos últimos anos, e nos parece 
prematuro e um tanto desfocado antecipar a sorte que está reservada ao livro 
como veículo de divulgação do conhecimento e saber. Ainda que se 
multipliquem até limites não previstos os meios de comunicação de massas os 
chamados mass media, ao longo de muitas décadas a palavra impressa 
(principalmente sob forma de livro), estará destinada a desempenhar um papel 
de grande importância na elevação dos níveis de informação à comunidade, 
funcionando como agente educativo primordial ou como um fator auxiliar; 
caber-lhe-á ainda por muito tempo uma função que seria imprudente 
menosprezar. Em sincronia com o esforço para a erradicação do analfabetismo, 
todas as agências ou entidades dedicadas a missões de alcance educativo 
devem unir-se para fortalecer o mais possível a ação deste instrumento 
altamente versátil e de incomparável penetração que é o livro. Sendo assim, é 
cada vez mais importante a integração da biblioteca pública com a indústria 
editorial, pois nos países desenvolvidos a biblioteca pública é o grande 
estimulador do progresso editorial. 
Penna, Foskett e Sewell (14), estudando a função da biblioteca na 
produção de livros, destacam que: 
“A função da biblioteca na complicada rede de produção e distribuição de 
livros exige uma cuidadosa precisão e necessita ser pormenorizadamente 
descrita nos planos de desenvolvimento educativo, assim como bibliotecário e 
editorial. As seguintes propostas são geralmente aceitáveis: 
a) ser uma fonte de inspiração e informação para os escritores; 
b) colocar autores principiantes em contato com os organismos de produção 
de livros, através de sua rede de serviços; 
c) esclarecer diante dos editores e livreiros as implicações de expansão de 
seus serviços em termos de qualidade e tipos de material requeridos; 
d) prestar assistência à indústria do livro nos intercâmbios internacionais 
através do ISBN (lnternational Standard Book Number) e outros programas 
de catalogação; 
e) prestar assistência à indústria do livro na determinação das preferências de 
leitura; 
f) contribuir para a circulação de livros novos através das bibliografias 
nacionais; 
g) proporcionar instalações para as classes de alfabetização, seja na língua 
nacional ou na língua internacional aceita; 
h) estimular o pessoal da biblioteca a atuar como professor destas classes; 
i) proporcionar instalações e material bibliográfico para o laboratório de 
redação e tradução; 
j) cooperar com eventos nacionais e locais destinados a promover os livros e 
a leitura; 
k) proporcionar nas áreas que não possuam livrarias pontos-de-venda de 
livros; 
I) formar um público leitor, como meta mais importante. 
Esta lista não está necessariamente completa e requer ser ampliada e 
adaptada para atender às circunstâncias nacionais e locais. Entretanto, 
demonstra que no processo de encontrar objetivos dentro de seu próprio 
âmbito, o serviço bibliotecário pode oferecer uma contribuição valiosa para o 
desenvolvimento do livro. Na realidade, os dois campos estão inter-
relacionados e são interdependentes, e é desejável que se tenham instrumentos 
pertinentes na organização para reunir o pessoal empregado nas bibliotecas 
com aquele que trabalha no comércio de livros, tanto a nível local quanto 
nacional. " 
A formação de um público leitor é um dos principais objetivos da 
biblioteca pública. E como se forma um público leitor? Através de um acervo 
compatível com as necessidades da comunidade, por meio de pessoal 
qualificado e da comunicação direta com a comunidade. O papel do 
profissional bibliotecário, neste caso, é de grande importância na seleção dos 
livros que haverão de constituir os acervos da biblioteca e na identificação das 
necessidades de leitura da comunidade. Muitas vezes, o que se observa é que a 
comunidade não tem muita disposição para ler a literatura clássica de seu país 
e prefere os livros escritos por humoristas da televisão. Esse é um direito da 
comunidade, portanto, os bibliotecários não têm que impor um tipo de leitura; 
deve, isso sim, ser um profissional disseminador de uma política de leitura. 
Além da falta de bibliotecas públicas e de acervos adequados a indústria 
editorial brasileira encontra diversos obstáculos para se desenvolver. Existem 
poucos fabricantes de papel e celulose, o que obriga alguns editores a importar 
papel às vezes com um custo mais econômico que o nacional. O parque gráfico 
está desatualizado e a mão-de-obra é precária. A distribuição é complexa e o 
livro tem dificuldades para ser entregue no interior do país. Muitos editores 
não pagam os direitos autorais correspondentes e preferem editar os autores 
mais conhecidos. A falta de livrarias e a alta taxa de inflação complicam ainda 
mais a situação do livro no Brasil. 
Concordamos com Lucila Martinez (15) quando afirma que a leitura ao 
longo do processo histórico desempenhou um papel importante para 
intensificar a participação social dos indivíduos. Já existe uma série de 
posturas definidas em tomo desta problemática, entre as quais destacamos: 
a) uma das causas dos fracassos das reformas qualitativas da educação é a 
atenção inadequada e insuficiente que se dá aos problemas da leitura, 
situação esta que deriva da não-inclusão deste fator dentro dos planos e 
políticas de desenvolvimento do setor educativo e cultural; 
b) a eficácia das campanhas dealfabetização de massas é prejudicada pela 
falta de investigação, estudos e informação sobre a produção e distribuição 
de materiais para novos leitores, crianças e adultos, pela carência de 
mecanismos de sustentação das campanhas (o que provoca o retorno ao 
analfabetismo) e igualmente pela falta da facilidade para generalizar o 
acesso da população à produção editorial que circula em cada país; 
c) a contradição que existe na atualidade entre as quantidades de produção e 
venda de livros e o baixo número de leitores registrados pelas estatísticas, 
provocado em grande parte pela identificação indiscriminada de livro e da 
leitura como uma atividade predominantemente escolar e que, portanto, 
deixa de ser exercida quando cessa a escolaridade; 
d) não basta criar certas condições quanto à leitura; é necessário dedicar 
esforços à formação do leitor para despertar nele o interesse de ler, estimular 
sua atividade positiva e seu gosto pelos livros e facilitar o acesso a materiais 
e atividades que consolidem seus hábitos de leitura; 
e) os aspectos anteriores também explicam a dificuldade existente em alguns 
paises para obter o apoio necessário para o aumento e o desenvolvimento de 
serviços bibliotecários escolares e públicos. Muitos foram os esforços 
empreendidos nestes últimos anos. No entanto, não têm geralmente 
continuidade. Outros provêm da iniciativa privada, em lugar de vir de uma 
estratégia de governo (o que possibilitaria sua expansão nacional) ou, o que é 
pior ainda, em forma não-coordenada são desenvolvidos programas 
diferenciados por tipos de bibliotecas (de acordo com seus usuários), 
sofrendo uma perda considerável de recursos e falta de planejamento a 
médio e longo prazos. 
A bibliografia existente comprova que são os estudantes os grandes 
usuários das bibliotecas públicas. São as crianças que costumam ir às 
bibliotecas para fazer as tarefas escolares. Essas bibliotecas raramente são 
utilizadas pelos adultos. Isso é devido à falta de hábitos de leitura por parte da 
população adulta, ao que se juntam as más instalações, que não resultam nada 
atrativas, assim como a grande assistência de crianças às salas de leitura, que, 
invadindo aqueles espaços reservados aos maiores, produzem uma retração na 
população adulta. Por outra parte, a atenção que se oferece aos usuários é 
muito deficiente, devido a que os encarregados de propiciá-la não são as 
pessoas mais qualificadas. 
A falta de bibliotecas escolares e universitárias faz com que os 
estudantes busquem as bibliotecas públicas como uma grande alternativa para 
a realização de seus trabalhos escolares. 
Mas, da grande porcentagem que representam os estudantes entre os 
leitores das bibliotecas públicas, se deduzem também duas importantes 
conclusões: 
a) a parte da comunidade que resulta excluindo os estudantes, e onde se 
incluem os trabalhadores operários da construção, os industriais, donas de 
casa, comerciantes etc., tem uma participação pouco significativa relativa à 
freqüência com que utilizam a biblioteca pública ou usam os recursos que 
esta lhes oferece; 
b) a participação efetiva do estudante é muito importante na biblioteca 
pública e isto significa, quando menos, que os futuros administradores, por 
haver freqüentado a biblioteca pública, saberão valorizar melhor a função 
desta instituição no plano de desenvolvimento nacional, pois segundo 
Bamberger (16) "o direito a ler significa igualmente o direito a desenvolver 
as capacidades intelectuais e espirituais da pessoa, o direito a aprender e 
progredir”. 
Não obstante, se analisarmos a porcentagem de estudantes que não 
freqüentam a biblioteca pública, chegaríamos à conclusão de que se trata de 
uma porcentagem muito elevada. Em realidade, poucos são os países cujos 
sistemas de ensino favorecem a biblioteca, já que os próprios professores não 
foram educados para utilizá-la. 
As estatísticas comprovam que o aluno dedica muito mais horas ao lazer 
ou aos audiovisuais que à leitura. Em relação a este problema a professora 
Vera Teixeira de Aguiar (17) afirma que: 
"Ao lado do texto escrito, estão os meios de comunicação de massas, em 
um avanço crescente e progressivo, oferecendo o mundo novo da cor, do 
movimento, do som, da aventura, muito mais motivadores. E enquanto que os 
meios audiovisuais oferecem ao jovem uma enorme quantidade de materiais 
informativos e recreativos, a escola, que é a entidade de ensino sistemática, não 
desempenha um papel importante na criação do hábito de leitura, pois afasta o 
aluno do livro, ao não exigir dele mais do que comportamentos baseados na 
identificação de fatos e repetição de dados, não oferecendo situações realmente 
desafiantes, com ênfase no desenvolvimento do espírito critico e da 
criatividade, nem ensinando a pensar. Para a solução do problema é importante 
que se encontre uma estratégia que leve a criança, desde o inicio de sua 
formação, a ter experiências de contato direto com os livros, que devem ser 
manipulados, lidos, escolhidos e comentados. Para chegar a propiciar-se uma 
adequada intimidade entre o bom leitor e o livro, devem-se oferecer obras que, 
por sua trama narrativa, argumento e desenvolvimento dos personagens, assim 
como pelos problemas do mundo social que o rodeia, venham a interessar-lhe. 
É importante selecionar materiais de leitura que, por seu conteúdo e aspecto 
exterior, interessem ao leitor. Daí a necessidade de se diagnosticarem as 
tendências do público infantil e juvenil através da elaboração de pesquisa sobre 
os interesses de leitura". 
A integração com a biblioteca pública é um aspecto relevante segundo 
Pimentel (18): 
"Está evidenciado que ainda que a escola disponha de livros, recursos e 
materiais audiovisuais, estes não são suficientes. É necessário dinamizarmos e 
dar sentido especial ao trabalho educativo, convertendo o aprendizado em um 
fator cotidiano. O reconhecimento da importância das atividades bibliotecárias 
se produz pela convicção de que a personalidade não se desenvolve somente 
através do intelecto, mas também de todos os aspectos da vida mental, 
especialmente o afetivo. Mas, ainda que os alunos possam diferir na maneira 
de desenvolver sua personalidade, pondo alguns mais ênfase no aspecto 
intelectual e outros no sensório-motriz ou no emocional, o desenvolvimento da 
personalidade pode ser favorecido por aquelas práticas e por situações que 
provoquem maior vivência e proporcionem maior identificação dos alunos 
consigo mesmos. Considerando que a promoção social do indivíduo na 
comunidade e, num contexto mais amplo, a promoção da mesma comunidade, 
é diretamente uma conseqüência da educação, vale dizer que se refere à 
formação integral do homem, de modo que propicia sua participação como 
agente e beneficiário (no processo de melhora de sua qualidade de vida) no seu 
próprio ambiente. Por suas características, a biblioteca pública deverá 
assegurar o desenvolvimento de atividade de extensão de caráter permanente, 
contribuindo a proporcionar aos membros da comunidade seu aperfeiçoamento 
contínuo, possibilitando-lhes levar a cabo a transformação social sem ser 
marginalizados, representando assim um forte fator de mobilização para os 
programas pedagógicos" . 
A relação da biblioteca com a escola e a concorrência o a rivalidade 
entre a leitura e os meios de comunicação de massa têm sido muito discutidos 
nos últimos anos. Milanesi (19) estudando a diferença fundamental entre a 
biblioteca com centro de informação (e debate da problemática social), e 
escola e a televisão, chegou à seguinte conclusão: 
"Ambas, a escola e a televisão, permitem a discussão, ambas estão 
sedimentadas na vida, principalmente a televisão; apresentamrelativamente 
monolíticas em seus discursos; segue um caminho sem muitas variações, sem 
exceções. A biblioteca em contrapartida leva em si, ao contrário, a contradição 
do discursos opostos. Um leitor, depois de ler um texto com u determinado 
conteúdo, poderá imediatamente ter contato co outro que será ou pode ser a 
oposição ao precedente. Na escola isso não ocorre, devido à própria 
organização do ensino. No meios de comunicação de massa o jogo das 
contradições pode ser realizado, mas não terá alcance para o público. Nenhum 
programa de televisão comercial questionará a sociedade consumo e seus 
valores, se o fizesse seria de tal forma que intervalo de dois minutos 
restabeleceria todos os valore consumistas através dos anúncios". 
Já que os estudantes são os maiores usuários e isso é um realidade que 
deve orientar o planejamento dos serviços, biblioteca pública deve, além de 
aumentar seu grau de vincula com a escola, buscar meios, como o serviço de 
informação comunidade, para dar assistência a outros segmentos (operários de 
construção, donas de casa, aposentados etc). A utilização metodologia de 
estudo dos usuários e diagnóstico da necessidade de informação à comunidade 
são de fundamental importância para o desenvolvimento comunitário. 
Segundo afirma Murilo Bastos da Cunha (20), "nos últimos anos a 
biblioteconomia em quase todos os países está avançando de uma postura 
centrada nas técnicas e organização bibliográfica* pagina 51 
A freqüência de uso foi medida pelo número de vezes que os 
entrevistados iam à biblioteca, assim como pelo número de vezes que haviam 
telefonado para a biblioteca no ano anterior. A freqüência zero indicava a não-
utilização. A intensidade foi medida através da duração da visita à biblioteca. 
De acordo com o resultado da investigação, constatou-se que os 
usuários se diferenciavam dos não-usuários pela freqüência com que acudiam 
aos acontecimentos culturais, assim como o seu nível de hábito de leitura. No 
que se refere ao uso da biblioteca, os indivíduos foram classificados da 
seguinte maneira: 
a) não-usuários: aqueles que não queriam ser leitores ativos e tampouco 
envolver-se em programas culturais com a comunidade, nem com atividades 
de educação para adultos. A oportunidade dessas pessoas de chegarem a ser 
usuários das bibliotecas está muito longe, e em qualquer caso dependeria do 
desenvolvimento de campanhas de divulgação e programas de incentivos por 
parte da biblioteca que poderiam motivar interesse; 
b) não-usuários, mas que poderiam deixar de sê-lo, se forem considerados 
como usuários potenciais; 
c) usuários: pessoas que utilizavam a biblioteca com freqüência regular em 
suas visitas. 
Em 1983 D'Elia desenvolveu um novo modelo para demonstrar a 
satisfação dos usuários em relação aos serviços oferecidos pela biblioteca. 
Existiam assim duas aproximações de tipo geral para avaliar a satisfação dos 
ditos usuários, uma objetiva e outra subjetiva. Segundo a primeira, a biblioteca 
é o ponto de análise, enquanto que este seria o usuário se considerarmos a 
segunda aproximação. A satisfação das necessidades mediu-se pela função da 
biblioteca. 
O modelo foi provado em uma investigação do tipo domiciliar, em que 
os participantes eram todos os usuários da biblioteca. O nível de satisfação dos 
mesmos se mediu por meio de medidas diretas e indiretas. No primeiro caso, as 
perguntas foram objetivas, sendo subjetivas no segundo. Para avaliar os 
serviços consideraram-se vários elementos, como a qualidade das coleções, as 
facilidades físicas, os recursos humanos e a conveniência do horário de 
funcionamento. Quanto a medir a utilização da biblioteca, considerou-se a 
freqüência e a duração da visita, os serviços utilizados, a circulação dos 
acervos. No que diz respeito às características individuais dos usuários 
levaram-se em conta variáveis demográficas (sexo, idade e último ano de 
estudo). Concluiu-se que este tipo de avaliação só seria válido para medir um 
serviço específico desenvolvido pela biblioteca, e não para medir o serviço em 
sua totalidade. A única diferença que se observa neste modelo com relação a 
outros estudos anteriores consiste nas perguntas subjetivas, cujas respostas são 
dificilmente codificadas, e em alguns casos impossíveis de codificar. 
Baseando-se em uma pesquisa sobre usuários e não-usuários das 
bibliotecas públicas nos Estados Unidos, Madden chegou às seguintes 
conclusões: 
a) a utilização das bibliotecas está muito relacionada com outras atividades. 
Uma pessoa que realiza outras atividades, como políticas, desportivas etc. é 
provavelmente usuário da biblioteca; 
b) a mulher que não utiliza a biblioteca não participará seguramente em 
outros programas desenvolvidos por aquela. Seus interesses e atividades de 
grupo são muito limitados e a biblioteca pouco lhe oferece, pois ela não tem 
intenção de variar e ampliar suas atividades cotidianas. Muitos bibliotecários 
contradizem essa conclusão, mas mostra-se evidente que a biblioteca não 
representa o aspecto principal de vida dessas pessoas; 
c) muitos não-usuários poderiam ser conquistados através de grandes 
campanhas publicitárias, muito especialmente relacionadas com 
aperfeiçoamento doméstico e carros-bibliotecas. Muitos homens não-
usuários desenvolveram habilidades relacionadas com seu aperfeiçoamento 
doméstico e a biblioteca pública poderia tirar proveito deles. Partindo da 
base de que o não-usuário tenha mulher ou filhos que usem a biblioteca, 
alguns livros relacionados com os seus interesses poderiam resultar na 
utilização da biblioteca. Muito provavelmente uma grande porcentagem 
desse público não será alcançada e, conseqüentemente, não utilizará a 
biblioteca; 
d) os usuários assíduos da biblioteca possuem uma variedade de interesses 
tão grande que as bibliotecas teriam dificuldades para definir suas 
necessidades. Por outro lado, os usuários representam uma pequena 
porcentagem do total da população, o que representa uma dúvida a respeito 
do emprego dos recursos em materiais destinados a este grupo; 
e) os usuários moderados, de ambos os sexos, são um público que merece 
uma atenção especial. As bibliotecas podem pedir ajuda para as mulheres 
deste grupo, particularmente para as que tenham habilidades particulares, 
babás e ocupações no tempo de lazer. Os homens podem verse atraídos 
mediante o aperfeiçoamento doméstico, o esporte, e um bom departamento 
de material de serviço. O problema está em organizar uma coleção ao gosto 
de quem visite a biblioteca. 
Além dos estudos de usuários tem também interesse o treinamento e a 
educação dos mesmos. Emília Currás (23) afirma que o usuário desconfia dos 
serviços bibliotecários pelos seguintes motivos: 
a) o usuário desconfia de que possa obter todas as informações aparecidas 
relativas a sua área de especialização; 
b) o usuário desconfia de que possa compreender ou entender todas as 
informações relativas a seus temas de trabalho; 
c) o usuário desconfia de que tenha todas as informações de que necessita, 
talvez porque não conheça as fontes eficazes para consegui-las; 
d) o usuário desconfia da eficácia da informações que recebe por 
desconhecimento das possibilidades do centro que as envia; 
e) o usuário desconfia da eficácia das informações que pode receber, porque 
o bibliotecário não compreende seus problemas de trabalho; 
f) o usuário desconfia dos serviços de informação em linha porque não os 
conhece. Não conhece sua estrutura e sua composição. 
Para a solução destes problemas é necessário o treinamento dos usuários 
nos serviços oferecidos pelas bibliotecas. A participação ativa dos usuários 
permitirá alcançar um grau de confiança e satisfação cada vez maior.Como conclusão, caberia indicar que é de fundamental importância que 
a biblioteca pública tenha um comportamento seguro com relação ao estudo de 
usuários. O importante é que mantenha um nível de satisfação adequado em 
relação aos usuários reais e que, por meio da qualidade de serviços, transforme 
os usuários potenciais em usuários reais e como ponto fundamental estude os 
não-usuários, de modo que estes possam, no futuro, converter-se em assíduos 
da biblioteca pública. 
No Brasil a porcentagem de não-usuários é bastante superior à de 
usuários. Geralmente, os não-usuários vivem em comunidades carentes dos 
centros urbanos e se defrontam não só com a falta de bibliotecas públicas, mas 
também com os problemas econômicos, culturais e educacionais. São as 
chamadas populações marginalizadas. No Brasil é comum a formação de 
favelas, onde não há as condições mínimas de higiene e serviços públicos, 
como luz, água, telefone etc. A grande maioria dessas pessoas, no Brasil, é 
analfabeta e não tem emprego. 
A organização e eficácia dos serviços bibliotecários ou de informação é 
de fundamental importância para a criação dos hábitos de necessidade 
informativa. Nice Menezes de Figueiredo (24) cita as barreiras e fatores que 
causam a subutilização da informação: 
 
a) Acesso à informação: 
- falta de controles bibliográficos em nível nacional; 
- barreiras linguísticas; 
- falta de serviços de referência; 
- falta de recursos para a aquisição de fontes de dados; 
b) Disponibilidade de documentos: 
- falta de um catálogo coletivo nacional; 
- falta de um depósito e reposição de documentos; 
- restrições políticas, de segurança nacional, de copyright; 
c) Absorção e uso eficaz da informação: - nível educativo dos usuários; 
- falta de motivação para o uso da informação; 
- falta de treinamento do usuário; 
- falta de promoção do uso da informação; 
- prestação deficiente dos serviços/sistemas de informação. 
Para a promoção do uso da informação, esta mesma autora propõe que se 
realizem: 
a) um estudo de usos/usuários definindo hábitos, motivações, necessidades, 
percepções e atitudes com relação ás suas necessidades e aos 
serviços/produtos existentes; 
b) a evolução dos recursos informativos existentes para atender ás demandas 
de informação; 
c) uma análise do aspecto físico e da disposição geral da coleção/serviço, 
para acondicioná-lo às necessidades e prioridades que requeira a difusão da 
informação; 
d) atualização permanente do pessoal, treinando-o na prestação de serviços 
de referência/informação e preparação dos instrumentos de difusão da 
informação; 
e) adequação do usuário para um uso eficiente dos recursos informativos 
disponíveis em sua área de atuação; 
f) uso do marketing e promoção dos serviços/produtos através de guias, 
folhetos informativos, contatos, comunicação, campanhas etc. 
As necessidades de informação dos não-usuários são muito distintas e 
compreendem o que poderíamos denominar como informação utilitária, 
destinada a resolver os problemas cotidianos. Ana Maria Polke (25), 
bibliotecária dedicada em grande parte ao estudo desta informação utilitária, 
estrutura esta informação em seus aspectos essenciais: 
1) saúde: problemas de assistência médica e hospitalar; como, onde e a quem 
recorrer para a solução dos problemas referentes à saúde, planejamento 
familiar, prevenção de doenças, vacinação; 
2) emprego: problemas para obter trabalho, estabilidade ou flutuação, 
agências, conciliação das atividades fora de casa com as tarefas domésticas; 
3) legislação: problemas de obtenção de documentos, conhecimento de 
direitos e deveres legais, assistência jurídica, existência de associações de 
moradores, aposentadoria e obtenção de benefícios; 
4) educação: problemas de vagas escolares, abandono da escola, reprovação, 
alfabetização de adultos, formação profissional, obtenção de bolsas, 
orientação sexual, educação para adultos (trabalhos manuais, artesanais); 
5) lazer: problemas relacionados com o tempo livre, quais são os horários 
preferidos para distração, obstáculos ao lazer, papel da televisão e do rádio, 
leitura para o lazer (o que, como e para que ler); 
6) moradia: problemas de posse da terra, aluguel, invasão de terras, serviços 
de água, esgoto e luz, condições da residência, vizinhança. 
A referida bibliotecária chegou a essas conclusões baseando-se em um 
estudo realizado no bairro de Pompéia, em Belo Horizonte (Brasil), tendo o 
objetivo de analisar como a informação utilitária circulava na comunidade, 
quais eram as informações necessárias de maneira cotidiana e quais as 
dificuldades com que a comunidade se defrontava em sua busca. As respostas 
mostram que a informação mais usada por esta população é a oral, obtida 
geralmente de vizinhos, amigos e parentes. Enquanto nos níveis superiores 
socioeconomicamente a informação registrada ou impressa é utilizada para 
complementar a informação oral, nos níveis mais baixos isso não é possível, 
devido ao analfabetismo, á falta do hábito de leitura e ao baixo poder 
aquisitivo. A obtenção da informação é tanto mais difícil e penosa quanto mais 
baixo seja o nível socioeconômico do individuo que a busca. A demanda de 
informação na área de emprego tem revelado ser a mais solicitada e onde a 
comunidade se encontra com maiores obstáculos. Existem instituições que 
prestam assistência (ofertas de emprego), mas, na opinião dos que as utilizam, 
não atendem a suas necessidades. O grande "não-público" da Biblioteca de 
Pompeya indica ao bibliotecário as possibilidades de atenção que se requerem 
para a provisão de informação utilitária. 
O desemprego faz com que todos os anos milhares de emigrantes do 
Norte e Nordeste brasileiro vão a São Paulo e Brasília em busca de melhores 
condições de vida. A grande maioria são operários sem especialização e 
analfabetos. No "Estudo das Necessidades de Informação dos Migrantes do 
Nordeste Brasileiro que Foram a São Paulo e Brasília", realizado por Angele 
R. F. A. dos Santos e outros (26), o objetivo era diagnosticar se a falta de 
informação pode ser um dos fatores que motivaram esta gente a não 
permanecer em tais cidades. 
Os objetivos específicos do mencionado estudo eram averiguar se 
existia uma necessidade de informação por parte dos emigrantes, determinar o 
que era preciso para assentar-se numa região que não era a sua de origem e 
diagnosticar os fatores que determinaram o grau de informação dos emigrantes. 
Além do mais, se propunha a avaliar as condições que concorreram para a sua 
residência em tais cidades, caracterizar o grupo de emigrantes que chegou a 
Brasília e São Paulo, os quais finalmente não se instalaram, detectar as 
diferentes necessidades de informação entre os que chegaram a uma e outra 
cidade e definir os serviços básicos de informação necessários para sua 
adaptação social nestas localidades. Por último se tentava comprovar se os 
serviços de assistência ao grupo de emigrantes foram satisfatórios, propondo a 
participação da biblioteca em um serviço não-convencional de informação 
utilitária compatível com o tipo de necessidade de informação desses 
emigrantes. 
O estudo apresentava também uma revisão da literatura com a definição 
e caracterização que do emigrante se fazia, assim como as causas e motivos 
das emigrações, a seletividade migratória, a região Nordeste do Brasil e o 
emigrante próprio dessa zona, a afluência do mesmo até São Paulo e Brasília e 
a adaptação do emigrante no meio social urbano, além da política de 
emigração, o papel social da biblioteca e a informação comunitária-utilitária. 
O passo seguinte consistiu em apresentar a metodologia com os 
parâmetros utilizados para medira falta de informação nos imigrantes do 
Nordeste, a limitação de estudos e o processo de aquisição de dados, que neste 
caso se realizou com uma entrevista estruturada. 
A análise continuava com uma interpretação dos dados, oferecendo no 
último capítulo algumas conclusões e sugestões. A metodologia apresentada no 
referido trabalho serve de modelo para diagnosticar necessidades de 
informação à comunidade. Na realidade, para os emigrantes que chegavam a 
São Paulo, pouco importava que a Biblioteca Municipal Mário de Andrade 
fosse a principal da América Latina e tivesse mais de dois milhões de livros em 
seu acervo. Os emigrantes não necessitavam da informação bibliográfica mas 
sim a referente à educação de seus filhos, saúde, moradia e principalmente 
questões de emprego. 
Por outro lado, devemos contemplar também o fato de que o número de 
analfabetos no Brasil é muito grande, o qual conduz à falta de interesse que o 
tipo de pessoa nessa situação tem pela informação bibliográfica e dai que 
sejam não-usuários das bibliotecas públicas. 
Quando se fala de educação e de bibliotecas destinadas a pessoas 
marginalizadas não podemos esquecer de Paulo Freire. Seu trabalho contribuiu 
em grande medida à educação brasileira e funde suas raízes em um contexto 
sócio-histórico muito concreto: o Nordeste brasileiro. Sua pedagogia se dirige 
às classes oprimidas, subalternas, marginalizadas, classes que se encontram 
longe do desenvolvimento educacional, cultural e socioeconômico. Daí que seu 
trabalho entende ser um processo de transformação das estruturas sociais (27). 
Os aspectos antropológicos constituem a base de sua pedagogia: seu 
método se enlaça com um processo de educação libertadora, em que o homem 
é sujeito criador de cultura: "cultura como resultado de seu trabalho, de seu 
esforço criador e recriador. A cultura como aquisição sistemática da 
experiência humana” (28). 
Freire (29) ensina que" o homem é um ser de relações e não de contatos; 
não só está no mundo senão com o mundo". O homem como ser de relações 
implica uma integração com o mundo e com os outros numa atividade 
dinâmica que o faz sujeito de sua ação. Disto se deduzem também 
possibilidades ilimitadas de criação no homem, fazendo com que cada um 
assuma sua identidade. O autor acrescenta que, na medida em que o homem se 
relaciona, cria e recria. 
Por outro lado, o homem, como um ser de contatos, tem um nível de 
adaptação e acomodação no processo educativo. Isto lhe conduz a uma posição 
de objeto, convertendo-se em depositário de atos alheios, sacrificando desta 
maneira sua capacidade criadora. 
Na educação libertadora, a alfabetização não é um mero jogo de 
palavras, nem sempre memorização; não se limita ao ensino da leitura e escrita 
de uma maneira mecânica, pois o conhecimento não é um ato de doação ou 
transferência que deva ser aceito pelos analfabetos de uma forma passiva ou 
receptiva, onde se é, então, objeto da ação. Ao contrário, toda ação educativa 
deve estar vinculada à realidade, e dessa maneira se aprender a entender o 
mundo. Desde esta perspectiva, o analfabeto buscaria manifestar suas atitudes 
básicas ante esta realidade de uma maneira critica. Isso "implica a negação do 
homem abstrato, ilhado, solto, fora do mundo". 
Paulo Freire baseia-se na informação ontológica de que todos os 
homens são iguais ante a natureza e o conhecimento e o tratamento que se deve 
dispensar ao adulto em sua prática educativa se centra neste mesmo aspecto. 
Não há homem ignorante em sua totalidade, em quem falte um conhecimento 
sistematizado, pois “o homem, por ser inacabado, incompleto, não sabe de 
maneira absoluta" (30), e como ser inacabado está em constante busca, já que 
"ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo" (31). A preocupação de Freire 
centra-se na participação e emancipação da pessoa. Destaca fortemente uma 
valorização positiva do homem e uma fé em sua liberdade e em seu poder de 
criação e critica. Freire destaca também a necessidade do homem de ter 
consciência de seu lugar na sociedade. Para substituir a realidade da escola, 
propõe o âmbito da leitura, que é um contexto mais flexível e dinâmico. No 
lugar do professor aparece o moderador de debates e seu papel é o de criar os 
estímulos necessários para o ato de conhecimento, onde, juntamente com o 
educando, se procura refletir a situação real desde uma postura critica. Os 
ensinamentos de Paulo Freire são de grande importância para a biblioteca 
pública por dirigirem-se às classes marginalizadas da sociedade e 
especialmente aos analfabetos. 
O nome mesmo "biblioteca pública" pressupõe uma biblioteca aberta a 
todas as pessoas, sem nenhum tipo de discriminação. No entanto, o certo é que 
muitos grupos sociais não utilizam a biblioteca, já que não empregam 
metodologias para integrar em si as diversas pessoas que compõem a 
comunidade. Atender adequadamente a este não-público é um objetivo 
fundamental da biblioteca pública. 
Como já dissemos, a porcentagem dos não-usuários é altamente superior 
em relação aos usuários nas bibliotecas públicas. Para atrair esta nova e 
importante clientela é necessária uma nova postura por parte dos profissionais 
da informação, pois, em muitas regiões, o próprio pessoal da biblioteca pública 
tem contribuído para que as pessoas marginalizadas do ponto de vista 
educacional, econômico e social não utilizem a biblioteca. Ao ser construída 
no centro da cidade, a biblioteca facilita o acesso dos habitantes da zona 
urbana, mas até hoje não tem conseguido ampliar os serviços à periferia, à 
zona rural, a hospitais, presídios etc. Muitas bibliotecas públicas têm passado a 
reservar um espaço físico para as academias de letras, os intelectuais, mas 
jamais se têm preocupado em promover reuniões com os trabalhadores da 
construção civil ou com os habitantes das favelas, para discutir problemas 
relacionados com a moradia ou com a dignidade humana. Devido a este tipo de 
comportamento, as populações mais humildes têm sido paulatinamente 
desmotivadas a freqüentar a biblioteca. É verdade que o primeiro contato do 
indivíduo com a biblioteca deve ser feito por meio da escola nos primeiros 
anos de ensino e, muitas vezes, a falta do bibliotecário não tem tomado 
possível a concretização dessa iniciação à biblioteca. Com poucas exceções, 
não tem havido promoção ou divulgação dos serviços bibliotecários e o 
marketing tampouco tem chegado a ser utilizado pela biblioteca pública. Por 
isso, a maioria da população desconhece as atividades bibliotecárias. 
É chegada a hora em que os bibliotecários se unam a outros 
profissionais, como sociólogos e psicólogos, para investigar as barreiras que 
separam os usuários da biblioteca pública. Na realidade, o problema 
econômico está em primeiro lugar, pois a população menos favorecida tem 
obrigatoriamente de ter mais de um emprego, e dedicar-se ao comércio 
ambulante para sobreviver. Com isso não há tempo para satisfazer as 
necessidades intelectuais. Devemos considerar também a inibição natural 
dessas populações quando entram em uma biblioteca pública para solicitar 
informações. 
Por outro lado, a falta de tempo e escassez de informação necessária são 
seguramente as desculpas mais comuns das pessoas que não utilizam a 
biblioteca pública. Mas neste círculo vicioso a biblioteca tem também parte da 
culpa, pois na maioria dos casos não prolonga o horário de atendimento ao 
público usuário. Se a comunidade não encontra realmente a informação que 
requer, o problema é muito grave, pois não é correto denominar esta instituição 
de "biblioteca pública"; se seu principal objetivo é o de manter um acervo 
suficiente e adequado, e oferecer as informações de que a comunidade

Outros materiais