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Gêneros e Tipos Textuais

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1
Texto complementar
PORTUGUÊS
Gêneros e tipos textuais
José Luiz Fiorin (USP)
1
Português
Assunto: Textos e gêneros
Gêneros e tipos textuais
Significação e gênero textual
Qualquer pessoa que olha o texto acima vê que se trata de um sinal de trânsito. Um motorista paulistano 
entende que a placa indica que a Avenida Liberdade está interditada, que, à direita, na direção mostrada pela 
seta, ele vai para o bairro do Paraíso, para a Vila Mariana e para o Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN). 
No entanto, esse texto aparece num livro de poesia. Isso significa que o texto ganha novas significações. 
Ele está dizendo que a liberdade, ou seja, a condição daquele que não está submetido a nenhuma força 
constrangedora física ou moral, está proibida, interditada, vedada. Por isso, os indivíduos devem adotar uma 
direção obrigatória seja para realizar suas atividades práticas (ir ao DETRAN), seja para dirigir-se aos lugares 
onde vão efetuar suas atividades cotidianas (Vila Mariana) ou aos lugares onde se realizam os sonhos, as 
atividades extraordinárias (Paraíso). A placa de trânsito transforma-se num poema que fala sobre a impossibili-
dade do querer (a interdição da liberdade) e a coerção do dever.
Por que houve essa mudança da significação do texto? Porque se alterou o gênero do texto.
Todos os textos que produzimos sejam eles orais ou escritos, sejam eles manifestados por qualquer outra 
linguagem que não a verbal, são sempre a materialização de um gênero. Assim, por exemplo, uma conversa 
com amigos é diferente de uma conversa com os pais, uma aula é distinta de um sermão, uma carta comer-
cial é diversa de uma carta de amor, um filme de bang-bang é diferente de uma filme policial, uma novela 
de época é distinta de uma novela urbana e assim por diante. Todos os textos são produzidos dentro de um 
gênero, todos os textos são manifestações de um gênero. 
Os gêneros são organizações relativamente estáveis caracterizadas por uma temática, uma forma compo-
sicional e um estilo. A temática não é o assunto de que trata o texto, mas é a esfera de sentido de que trata o 
gênero. Assim, numa conversa de amigos, a temática são os acontecimentos de nossa vida mesmo íntima; numa 
oração, a temática é o agradecimento ou a súplica a Deus ou aos santos; numa carta comercial, a temática é o 
Jo
sé
 P
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PAeS, José Paulo (1998). “Sick transit”. Poesia 
completa de José Paulo Paes. Apresentação de rodrigo 
Naves. São Paulo, Companhia das Letras, 2008, p. 188.
2
tratar de um negócio; num requerimento, a temática é um pedido a uma autoridade pública. A forma com-
posicional é a estrutura do texto. Assim, uma carta comercial tem lugar e data, assunto, fórmula de cortesia, 
assinatura. O estilo é o conjunto de marcas linguísticas exigidas por um gênero. Assim, numa carta comercial, é 
preciso usar uma linguagem formal, donde estão excluídas quaisquer expressões afetivas; é necessário utilizar a 
norma culta; deve-se ser conciso e direto. Numa carta a um amigo ou parente, o estilo é completamente outro. 
Os gêneros são inúmeros, pois eles dizem respeito à esfera das atividades cotidianas (relações de amizade, 
convívio familiar, etc.), bem como à esfera das atividades institucionalizadas (prática religiosa, atividades escolares, 
relações jurídicas). Em cada uma dessas esferas de atividade, há inúmeros gêneros textuais. Por exemplo, na 
esfera da prática religiosa, temos o sermão, a oração, as fórmulas rituais, etc. No nível das atividades jurídicas, há 
a petição, a sentença, etc. Na esfera das atividades jornalísticas, temos, por exemplo, o gênero editorial, em que 
se opina sobre os acontecimentos, e o gênero notícia, em que se dão informações sobre os acontecimentos.
O que é importante é ter presente que a mudança de gênero do texto altera os significados dos elementos 
do texto (palavras, imagens, gestos, etc.). Isso quer dizer que seu significado depende também do gênero do 
texto. Foi o que aconteceu no exemplo acima. A mudança do gênero sinal de trânsito para o gênero poesia 
produziu uma mudança no sentido dos elementos do texto.
Observe o caso abaixo: 
Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho que receberá o nome de Emanuel, que significa “Deus conosco”
(Mateus, 1, 23).
Se esse texto pertencesse ao gênero informação científica, por exemplo, ele seria um absurdo, porque 
todos sabemos que uma virgem não pode conceber nem dar à luz. No entanto, como ele pertence ao 
gênero profecia, da esfera da prática religiosa, o texto ganha um sentido perfeitamente coerente, já que, dentro 
da lógica do discurso religioso, um Deus que se faz homem só poderia nascer de uma Virgem, porque, se ele 
nascesse como todos os outros homens, seria apenas homem e não um Deus feito homem.
Numa conversa entre amigos, às vezes, um dirige-se ao outro, com palavras que, em outro gênero de 
texto, seriam um xingamento, mas que, nesse gênero, são formas de marcar uma grande intimidade.
Pode-se parodiar ou estilizar um gênero. No gênero receita, o texto tem duas partes: ingredientes e modo 
de preparar. O tema é sempre ensinamento para preparar um alimento. No texto abaixo, o poeta Nicolas Behr 
mantém a estrutura composicional e o estilo do gênero receita, mas muda a temática. Fala não de uma 
receita de alimento, mas de uma receita de poesia. Ele estilizou a receita de alimento para construir seu texto 
de receita poética.
Receita
Ingredientes
2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles
Modo de preparar
dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração
leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos
de gerações às esperanças
perdidas
corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos
beatles o mesmo processo usado
com os sonhos eróticos mas desta
vez deixe ferver um pouco mais e
mexa até dissolver
parte do sangue pode ser
substituído por suco de 
groselha mas os resultados 
não serão os mesmos
sirva o poema simples
ou com ilusões
Behr Nicolas. In: hOLLANDA, heloísa Buarque de; PereIrA, Carlos Alberto Messeder (Org.). 
Poesia jovem anos 70. São Paulo: Abril, 1982. 
3
Tipos textuais
Como se disse acima, comunicamo-nos por meio de textos, que pertencem sempre a um gênero deter-
minado: o bate-papo com os amigos, o bilhete, a reportagem, a notícia, o horóscopo, o edital de concurso, 
a bula de remédio, o cardápio, etc. Cada esfera de comunicação tem os seus gêneros próprios. Por exemplo, 
o discurso jornalístico usa gêneros, como a notícia, o editorial, os gráficos, etc. Há, no entanto, uma categoria 
mais geral de organização dos textos, que poderia ser denominada tipo textual. Os tipos são construções 
textuais que apresentam determinadas características linguísticas. São bem poucos os tipos textuais: o 
narrativo, o descritivo, o expositivo, o opinativo, o argumentativo e o injuntivo. Quando dizemos que o tipo 
textual é uma categoria mais geral do que o gênero, o que queremos dizer é que os gêneros fazem uso dos 
tipos na sua composição. Assim, um mesmo tipo é utilizado por diferentes gêneros: os gêneros notícia, 
fofoca, romance, conto, etc. usam o tipo textual intitulado narração. Por outro lado, é preciso dizer ainda que 
o mesmo gênero se vale de mais de um tipo textual: por exemplo, no gênero romance, encontramos o tipo 
narrativo, que será predominante, mas podemos também deparar com o tipo descritivo, quando o narrador 
nos mostra os lugares, as personagens; o tipo opinativo, quando o narrador dá sua opinião sobre os acon-
tecimentos relatados, etc. Por isso, é preciso ficar claro que os tipos, frequentemente, não são encontrados 
em estado puro, já que um gênero pode valer-se de vários tipos.Quando dizemos que um texto é narrativo, 
estamos classificando-o, assim, porque nele predomina o tipo narrativo e não porque ele se vale exclusivamente 
do tipo narrativo. A classificação do tipo de texto faz-se pela dominância e não pela exclusividade. O tipo textual 
dominante num gênero faz parte de sua estrutura composicional. Assim, o tipo injuntivo faz parte da forma 
composicional da receita de cozinha. Vamos analisar alguns tipos textuais. Deixamos de lado a narração e a 
descrição e a argumentação por serem os tipos mais frequentemente estudados. 
A dissertação
Observemos o texto que segue:
Há três métodos pelos quais pode um homem chegar a ser primeiro-ministro. O primeiro é saber, com prudência, 
como servir-se de uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; o segundo, como trair ou solapar os predecessores; e o 
terceiro, como clamar, com zelo furioso, contra a corrupção da corte. Mas um príncipe discreto prefere nomear os que 
se valem do último desses métodos, pois os tais fanáticos sempre se revelam os mais obsequiosos e subservientes 
à vontade e às paixões do amo. Tendo à sua disposição todos os cargos, conservam-se no poder esses ministros 
subordinando a maioria do senado, ou grande conselho, e, afinal, por via de um expediente chamado anistia (...), 
garantem-se contra futuras prestações de contas e retiram-se da vida pública carregados com os despojos da nação.
SWIFT, Jonathan. Viagens de Gulliver. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 234-235.
Esse texto explica os três métodos pelos quais um homem chega a ser primeiro-ministro, aconselha o 
príncipe discreto a escolher entre os que clamam contra a corrupção na corte e justifica seu conselho.
O texto é temático, isto é, trabalha com abatrações, pois analisa e interpreta a realidade com conceitos 
abstratos e genéricos (não se fala de um homem particular e do que faz para chegar a ser primeiro-ministro, 
mas do homem em geral e de todos os métodos para atingir o poder). Mesmo os termos concretos são 
tomados em seu valor genérico: por exemplo, quando se fala em se servir de uma filha, a palavra filha está 
tomada em seu valor genérico, isto é, refere-se a toda e qualquer filha.
A progressão dos enunciados não se fez temporalmente, mas logicamente. As ideias encadeiam-se por 
relações lógicas (por exemplo, clamar contra a corrupção da corte implica ser corrupto depois da nomeação 
para primeiro-ministro).
O tempo verbal fundamental nesse tipo de texto é o presente com valor atemporal. Ele aparece nas 
frases que enunciam o que o autor pretende sejam verdades válidas em todos os tempos e lugares: veja-se, 
por exemplo, “um príncipe discreto prefere nomear os que se valem do último desses métodos, pois os tais 
fanáticos sempre se revelam os mais obsequiosos e subservientes à vontade e às paixões do amo”. 
O texto compõe-se de duas partes bem determinadas: a) introdução: no caso, os três métodos pelos 
quais um homem pode chegar a ser primeiro-ministro; b) o desenvolvimento: no texto acima, o conselho 
dado ao príncipe para nomear como primeiro-ministro aquele que clama contra a corrupção na corte.
O texto acima é uma dissertação, tipo textual que serve para analisar, interpretar, explicar e avaliar os 
dados da realidade. 
4
As características da dissertação são:
a) é um texto temático, pois não se destina a contar episódios singulares ou a descrever seres concretos 
e particular, mas dá explicações, faz análises, interpretações e avaliações válidas para muitos casos 
concretos e particulares; por isso, constrói-se dominantemente com termos abstratos;
b) a ordenação do texto não é temporal como na narrativa, em que se relata um acontecimento depois 
do outro, de acordo com sua progressão no tempo, mas é uma ordenação construída com base em 
relações lógicas: pertinência, causalidade, coexistência, implicação, correspondência, etc.;
c) como esse tipo de texto pretende expor verdades gerais (ou pelo menos tomadas como tal), válidas 
para muitos casos particulares, o tempo por excelência da dissertação é o presente atemporal; podem-se 
eventualmente usar outros tempos, principalmente, os outros dois tempos do sistema do presente: o 
pretérito perfeito e o futuro do presente; 
d) esse tipo textual apresenta, normalmente, a seguinte estrutura composicional: introdução, desenvol-
vimento, conclusão;
e) normalmente, o enunciador não se projeta no interior do enunciado: daí a preferência por não usar, nesse 
tipo textual, a primeira pessoa do singular, mas a primeira pessoa do plural ou as formas impessoais.
Um texto dominantemente dissertativo pode referir-se ao que é particular e concreto, valendo-se, portanto, 
de descrições e narrações. No entanto, elas não são o elemento central do texto; elas servem apenas para 
ilustrar afirmações gerais ou para argumentar a favor delas ou contra elas.
A dissertação é o tipo textual predominante nos gêneros das esferas da ciência (por exemplo, a exposição 
científica, a divulgação científica, o relatório técnico) e da filosofia (por exemplo, a exposição filosófica), bem 
como em gêneros de outras esferas de circulação (por exemplo, os editoriais dos jornais).
Poder-se-ia notar que a dissertação não estava arrolada entre os tipos textuais mencionados acima. 
No entanto, dissertação é um termo usado há séculos na escola. Por isso, preferimos tratar dela. No entanto, 
pode-se refinar mais o estudo do tipo dissertativo, dizendo que ele é um macrotipo textual, que recobre dois 
outros tipos: o expositivo e o opinativo. 
O texto expositivo e o texto opinativo
Observemos os textos que seguem. O primeiro foi retirado do site lqes.iqm.unicamp.br, que divulga 
notícias científicas numa linguagem acessível e agradável; o segundo é um trecho de um artigo de autoria 
do psicanalista Hélio Pellegrino, foi colhido no site www.dhnet.org.br.
Stradivarius perde o véu de mistério! 
Quem, pelo menos uma vez, não teria lido ou ouvido o nome Stradivarius? Isso sem falar daqueles que tiveram o 
prazer de ouvir o som ma-ra-vi-lho-so de um dos instrumentos de corda – violinos (os mais famosos), harpas, violões, 
violas ou violoncelos –, assim conhecidos. De um total de mais de 1100 instrumentos fabricados por Stradivarius, cerca 
de 650 vivem até os dias de hoje. 
Antonio Stradivari, mais tarde Stradivarius (1644-1737), célebre “luthier”, original de Cremona (Itália), tem hoje seu 
nome reconhecido como sinônimo de violino de grande valor. Por mais de 250 anos, tanto a geometria quanto o 
design, propostos por Stradivarius, têm servido como modelo conceitual para a fabricação de violinos.
Não foram poucos os que tentaram descobrir o segredo de fabricação de tais instrumentos: tratar-se-ia do verniz 
utilizado, de um trabalho particular sobre a madeira, do quê, enfim? Para responder a estas perguntas, pesquisadores 
da Universidade de Colúmbia e da Universidade do Tenessee, ambas nos Estados Unidos, debruçaram-se sobre o 
assunto, chegando à conclusão de que a qualidade acústica dos famosos violinos provém das próprias características 
da madeira, marcada por um clima sobremodo particular. 
Estudando os anéis da madeira com a qual foram feitos os instrumentos, reconstituíram a história do crescimento das 
árvores que lhes deram origem. Constataram que elas tinham conhecido longos períodos invernais, dado que entre a 
segunda metade do século XV e a primeira metade do século XIX a Europa sofrera um pequeno período de glaciação, 
com um ponto culminante entre 1645 e 1715, conhecido com o nome de “mínimo de Maunder” (E. W. Maunder foi 
um astrônomo do séc. XIX que documentou a falta de atividade solar no período em questão).
Ocorre ter sido exatamente entre 1700 e 1720 que os melhores trabalhos do mestre foram executados. Os pesqui-
sadores observaram que os invernos rigorosos são responsáveis por um crescimento bastante lento das árvores, 
fato atestado também pelos anéis, bastante próximos um dosoutros, que acabaram por reforçar não somente 
a resistência da madeira mas também sua densidade. Tais fenômenos, segundo eles, explicariam o caráter único 
dos Stradivarius, os quais se destacam por sua insuperável qualidade de som e pela beleza da cor de sua madeira. 
5
Pena de morte
(...) Na avaliação do problema da pena de morte, há que levar em conta o fato de que ela, uma vez aplicada, 
cria uma situação absoluta – e irreparável. A morte é a impossibilidade de qualquer possibilidade, seja lá do 
que for. Na medida em que condenemos alguém à execução capital, estaremos praticando um ato absoluto. 
desmesurado e ilimitado na sua irretratabilidade. Ora, para que uma ação desse tipo fosse minimamente legiti-
mável, seria necessário que os julgamentos humanos pudessem reivindicar para si um grau também absoluto de 
certeza – e de verdade. Só posso castigar quem quer que seja, de maneira absoluta, na medida de uma absolutização 
paranoica de minhas razões, critérios e discernimentos. A pena de morte, por parte daqueles que a defendem, é uma 
usurpação do lugar da divindade. Só Deus é senhor absoluto – e juiz supremo – da vida e da morte. (...)
Além dos aspectos filosóficos e religiosos que a condenam, a pena de morte é perfeitamente indefensável a partir 
de argumentos sociais e políticos. Cada sociedade tem os criminosos que merece, isto é, a prática do bem e do 
mal, ou a maneira pela qual os seres humanos se relacionam, tem tudo a ver com a vida comunitária e com o grau 
de justiça – ou de injustiça – que lhe define a estrutura. A fome, a opressão espoliadora, o abandono da infância, 
o desemprego em massa, os graves – e clamorosos – desníveis entre as classes não constituem, obviamente, boa 
fonte de inspiração para um correto exercício da cidadania. O processo civilizatório, pelo qual cada um de nós dá 
o salto da natureza para a cultura, de modo a tornar-se sócio da sociedade humana, exige renúncias cruciais – e 
sacrifícios cruciantes. Na infância, através das vicissitudes do complexo de Édipo, temos que abrir mão de nossas 
primeiras – e decisivas – paixões. Depois, o corpo social nos impõe a lenta e dolorosa aquisição de uma competência, 
que nos qualifique para o trabalho e para o pão de cada dia. 
Tudo isto – contadas as favas – nos custa os olhos da cara, e da alma. É preciso, de maneira absoluta, que cada tra-
balhador, seja ele qual for, receba da comunidade um retorno salarial e existencial condigno, expressão do respeito 
coletivo pelo seu esforço. Este é um dever social irrevogável, ao qual corresponde um direito sagrado. A ruptura 
desta articulação constitui uma violência inaudita, capaz de tornar-se a matriz de todas as violências – e de todos 
os crimes. Uma sociedade como a nossa, visceralmente comprometida com a injustiça e, portanto, geradora de 
revolta e delinquência, cometeria uma impostura devastadora – e destruidora –, se adotasse a pena de morte. 
Ao invés de fabricarmos bodes expiatórios, temos todos que assumir, sem exceção de ninguém, a responsabilidade 
geral pela crise – e pelo crime. 
Há, por fim, a favor da pena de morte o argumento psicológico da intimidação. O criminoso, diante do risco de 
perder a vida, pensa duas ou mais vezes na consequência fatal do delito que o tenta, acabando por desistir de 
praticá-lo. Afirma-se aqui o princípio – psicanaliticamente ilusório – de que o delinquente grave tem arraigado amor 
à própria vida. Em verdade, acontece o oposto. A autoestima do ser humano se constrói a partir dos cuidados – do 
amor – recebidos de fora, dos outros. Este amor, internalizado, vai constituir o fundamento da possibilidade que cada 
um terá de amar-se a si mesmo, por ter sido amado. Se sou capaz de amar a mim próprio, e à minha vida, sou também 
proporcionalmente capaz de amar ao Próximo, meu semelhante, meu irmão – e meu espelho. 
O criminoso grave, ao liquidar sua vítima, condena-se, por mediação dela, à morte, com ódio e desprezo. Não o 
imitemos, através da pena de morte. 
Os dois textos acima são dissertações. No entanto, há uma diferença entre eles. O primeiro expõe os 
motivos que levam os instrumentos fabricados pelo célebre luthier (= palavra francesa que designa o 
 fabricante de instrumentos de corda) Antonio Stradivarius a ter qualidades acústicas excepcionais. O texto 
mostra que isso se deve à qualidade da madeira usada, que tem uma resistência e uma densidade muito 
grandes, devidas ao fato de que ela foi retirada de árvores que cresceram num período em que a Europa 
passou por uma glaciação. O segundo texto entra na polêmica sobre a adoção da pena de morte no Brasil, 
apresentando três argumentos contra ela: a) a pena de morte produz um efeito irreparável e, portanto, sua 
adoção deveria pressupor a inexistência de erros judicários, o que é impossível; b) a violência é fruto de uma 
sociedade injusta e, portanto, deveriam ser eliminados as causas estruturais da violência; c) a pena de morte 
não intimida os criminosos mais frios e sanguinários, pois eles não têm amor à vida. O autor do segundo 
texto manifesta, com uma série de argumentos, sua opinião sobre um assunto controvertido.
A diferença entre os dois textos é que o primeiro é um texto que identifica um problema (por que os 
instrumentos fabricados por Stradivarius têm qualidades acústicas excepcionais?), estabelece uma ligação de 
causalidade entre fenômenos (características da madeira e glaciação no período em que os instrumentos foram 
construídos) e, assim, explica o problema identificado. Esse é um texto expositivo, que serve para transmitir e 
6
construir um saber sobre um dado tema. O segundo externa o ponto de vista do autor sobre uma questão 
da vida social. É o que chamaríamos um texto opinativo. É preciso deixar claro que um texto opinativo não se 
funda apenas num eu acho que. Na verdade, é um texto que exige uma argumentação objetiva e consistente 
para expor um ponto de vista sobre uma dada questão. Como as questões que atingem os seres humanos (por 
exemplo, os programas de governo, a questão do aborto, das quotas nas universidades) são sempre polêmi-
cas, o texto opinativo é um pronunciamento sobre uma questão da vida social. O ponto de vista do enunciador 
revela sempre suas representações do mundo social e subjetivo, sua visão de mundo: por exemplo, manifestar-se 
a favor da extensão de direitos a minorias mostra uma visão de mundo, pôr-se contra elas evidencia outra 
concepção do mundo. O texto opinativo sustenta determinadas posições e refuta outras.
Os textos expositivos são utilizados em gêneros da esfera da ciência, da filosofia, da escola, etc. (por exemplo, 
o livro didático, a exposição científica, a divulgação científica, a demonstração do teorema). Os textos opinativos 
são usados em gêneros da esfera da política, do jornalismo, etc. (por exemplo, o editorial, o discurso parlamentar, 
as declarações de voto).
Muitas vezes, a diferença entre eles é bastante sutil. No entanto, a questão não é classificar os textos 
como expositivos ou opinativos, uma vez que, na verdade, os textos reais não são puros, mas valem-se de 
diferentes tipos textuais. O que importa é saber que há textos que servem para expor a demonstração da 
solução de um dado problema, para explicar um fenômeno, e há textos que servem para expressar uma 
dada opinião, consistentemente argumentada, sobre uma questão da vida social.
É preciso considerar ainda que não é apenas no texto opinativo que o enunciador expressa uma 
posição. No texto opinativo, ele o faz de maneira clara. No entanto, em todos os outros tipos de texto, estão 
presentes os pontos de vista de quem elabora o texto. O que é diferente em cada tipo de texto é o modo 
como o produtor apresenta suas perspectivas. No texto expositivo, o autor manifesta seu ponto de vista ao 
considerar como válida uma explicação e não outra. Uma coisa é explicar as características de um indivíduo 
pela posição dos astros nomomento de seu nascimento, outra muito diferente é fazê-lo pela hereditariedade; 
outra ainda é fazê-lo pelo ambiente em que foi educado.
O texto injuntivo
Observemos o texto que segue:
Frango com azeitonas pretas
1 kg de sobras de frango assado
100 g de azeitonas pretas
4 filés de anchova
3 dentes de alho
1/2 copo de sobra de vinho branco seco
3 colheres (sopa) de azeite
2 colheres (sopa) de vinagre
sal e pimenta
Coloque numa frigideira o azeite e os dentes de alho espremidos e leve ao fogo. Quando começar a dourar, junte o fran-
go em pedaços. Deixe fritar até conseguir um dourado escuro. Molhe com o vinho e o vinagre e acrescente as anchovas 
picadas, metade das azeitonas picadas e as restantes inteiras, sem caroços. Espere até que o vinho evapore totalmente 
e junte um copo e meio de água. Deixe ferver novamente, até a água evaporar e engrossar o molho, e sirva em seguida.
PICCheTTO, Mariella; CATTANI, roberto. Reciclar é gostoso. São Paulo: Ática, 1994. p. 98. 
O texto acima é uma receita de cozinha. Nela se ensina a preparar o prato frango com azeitonas pretas, 
feito com sobras de frango assado e outros ingredientes. No título, expõe-se o objetivo da receita, o prato 
que se pretende ensinar a preparar. Depois de listar os ingredientes que são necessários, apresentam-se as 
ações que devem ser feitas para chegar ao objetivo visado. Essas ações são apresentadas na ordem em que 
devem ser executadas. Ao apresentá-las, usam-se verbos no imperativo (coloque, junte, deixe fritar, molhe, 
acrescente, etc.). Esse texto é chamado texto injuntivo. O nome vem do fato de que ele se constrói basicamente 
com o imperativo, o modo da injunção (= prescrição). 
Os textos injuntivos, embora se apresentem como uma sequência de injunções, na verdade, transmitem 
um saber sobre como realizar alguma coisa, expõem um plano de ação para atingir determinado objetivo. 
7
Explicitam, por exemplo, como montar um computador, como preparar um prato, como tomar direito uma 
medicação, como tornar-se mais sensual, como perder a barriga, como portar-se em sociedade. Os textos 
injuntivos estão predominantemente presentes nos chamados textos instrucionais-programadores, que com-
preendem gêneros como receitas, guias, manuais de instalação; textos de aconselhamento, que comportam o 
gênero dicas sobre beleza, saúde e comportamento; textos reguladores-prescritivos, que abarcam o gênero legal 
(leis, regimentos, regras de jogos, etc.).
As características do texto injuntivo são:
a) exposição do objetivo da ação: aquilo a que se visa com a realização do que vem prescrito a seguir; 
essa exposição pode aparecer no título ou numa breve introdução (por exemplo: Dicas para perder a 
barriga ou Quando os filhos se tornam adultos sua relação com os pais muda. (...) Eis algumas orientações 
para essa nova fase de relacionamento (VEJA no 1868, 25/08/2004, p. 108));
b) apresentação da sequência de ações a realizar para atingir um dado objetivo: essas ações devem ser 
realizadas simultânea ou sucessivamente (por exemplo, numa receita há ações que devem ser realizadas 
umas depois de outras: dourar o alho, juntar a carne para fritar; há ações que devem ser executadas simul-
taneamente: por exemplo, os deveres de um condômino); há ações que são obrigatórias (por exemplo, 
bata as claras em ponto de neve), outras que são eventuais (por exemplo, Se seu filho apresentar 
sintomas de regressão, procure mostrar a ele que é amado) e outras que são opcionais (por exemplo, 
numa receita, quem não gostar de peras, pode substituí-las por maçãs); há certas ações que são 
principais para atingir um dado objetivo (por exemplo, cozinhe em fogo lento por vinte minutos) ou 
outras que são secundárias (por exemplo, lave as maçãs); as ações são apresentadas no imperativo ou 
em forma verbal com valor de imperativo;
c) justificativa da ação: essa característica é opcional (por exemplo, seja firme nas suas decisões, para 
que seu filho não cresça achando que todas as normas podem ser contornadas).
Conclusão
Os gêneros são formas linguísticas concretas, que são utilizadas nas diferentes esferas de atividade em que se 
organiza a vida social. São formas de ação verbal. O processo de socialização implica a apropriação dos gêneros: 
socializar-se é aprender a usar determinado gênero numa dada situação de interação. Os gêneros são entidades 
sócio-históricas. Por conseguinte, podem mudar de uma sociedade para outra, de uma época para a outra (por 
exemplo, na discussão acadêmica os norte-americanos são muito mais diretos do que os brasileiros ao apresentar 
suas críticas: isso faz parte do estilo do gênero discussão científica, que é diverso nos Estados Unidos e no Brasil). 
Os tipos são matrizes linguísticas, que podem ser usadas em diferentes gêneros. Dado seu grau de abstração, os 
tipos têm uma permanência muito grande, podem ser idênticos em sociedades diferentes e em épocas diversas.
Gêneros e tipos textuais. In: Ensaios sobre leitura. Belo horizonte: editora da PUC-Minas, 2005. p. 101-117.
Bibliografia
BAKhTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
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