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Trabalho 4: Síntese do Ácido Acetilsalicílico Lígia Figueiredo Gustavo Lopes 23 de Maio de 2006 Resumo Efectuámos a síntese do ácido acetilsalicílico (ácido 2-acetoxiben- zóico). Para o efeito, procedemos à acetilação do ácido salicílico (á- cido 2-hidroxibenzóico) ao fazê-lo reagir com anidrido acético com catálise ácida (usou-se ácido sulfúrico). A solução foi subsequente- mente arrefecida; provocámos então a formação de cristais de ácido acetilsalicílico, os quais foram isolados por filtração à trompa e recris- talizados de uma mistura 1:1 de etanol e água. A pureza do produto foi avaliada por TLC e pela medição do ponto de fusão (127,6-130,4 oC). Concluímos que obtivemos, com fraco rendimento, um produto de baixa pureza. Adicionalmente, determinámos a quantidade de ácido acetilsalicílico numa pastilha de aspirina Bayer. Concluímos que, conforme esperado, esta possuía cerca de 0,50 g de substância activa (84% da massa total). 1 Introdução OHO O O Figura 1: Fórmula de estrutura da aspirina. A aspirina (ácido acetilsalicílico, de nome sistemático ácido 2-aceto- xibenzóico, na figura 1) é uma droga da família dos salicilatos com pro- priedades analgésicas, antipiréticas e anti-inflamatórias. Adicionalmente, 1 1 INTRODUÇÃO 2 uma vez que a aspirina inibe a agregação de plaquetas e a coagulação do sangue, é também usada em doses baixas para tratar doentes em risco de ataque cardíaco. Pertence ao grupo dos medicamentos anti-inflamatórios não-esteróides (NSAIDs), os quais também incluem o ibuprofeno (ácido 2- (4-isobutilfenil)propanóico) e o naproxeno (ácido (S)-2-(6-metoxinaftalen- 2-ilo)propanóico), todos eles com um volume de vendas muito grande[2]. Entre os efeitos secundários adversos, incluem-se, especialmente para doses elevadas, dores gastrointestinais – nalguns indivíduos, úlceras e ho- morragias – e tinnitus (zumbido nos ouvidos). Outro efeito secundário, devido ao seu efeito anticoagulante, é uma maior hemorragia em mulhe- res com menstruação[1]. 1.1 Descoberta As propriedades medicinais do pó amargo da casca do salgueiro eram conhecidas pelos antigos gregos e egípcios[1]. As mesmas foram pela pri- meira vez descritas pela ciência ocidental em 1763. Pela década de 1830, os químicos alemães já purificaram o princípio activo da casca do salgueiro e de uma outra planta, a ulmária (rainha-dos-prados). No entanto, em si, esse princípio activo (o salicilato) é amargo e tem efeitos secundários graves, incluindo, nalguns casos, irritação gástrica a- guda. Em 1897, Felix Hoffmann e Arthur Eichengrün, da empresa alemã Friedrich Bayer & Co., adicionaram a um dos grupos hidroxilo do ácido salicílico um grupo acetilo (formando a aspirina), o que reduziu em grande extensão os efeitos negativos da droga[2]. 1.2 Mecanismo bioquímico da aspirina A aspirina e outros NSAIDs inibem a actividade de ciclooxigenase da prostaglandina H2 sintase (também conhecida por COX, de ciclooxige- nase), que adiciona oxigénio molecular ao araquidonato para sintetizar a prostaglandina H2. As prostaglandinas regulam muitos processos fisiológicos, incluindo agregação de plaquetas, contrações uterinas, dor, inflamação e a secreção de mucinas que protegem a mucosa gástrica do ácido e das enzimas pro- teolíticas. A irritação gástrica, um efeito secundário comum da aspirina, 1 INTRODUÇÃO 3 resulta da interferência da droga com a secreção de mucina gástrica1. 1.3 Mecanismo da reacção de síntese OH O OH ácido salicílico OO O anidrido acético OHO O O O OH ácido acéticoácido acetilsalicílico + + Figura 2: Esquema da reacção de acetilação empregue no trabalho. As reacções químicas gerais usadas para sintetizar ácido acetilsalicílico neste trabalho são semelhantes àquelas usadas industrialmente, com a ex- cepção de que nos servimos de ácido salicílico já preparado2. Este método é, no entanto, distinto daquele usado pelos inventores da aspirina. Em am- bos se efectua a acetilação do ácido salicílico, mas, enquanto neste trabalho se usou anidrido acético (conforme a figura 2) para o efeito, originalmente utilizou-se cloreto de acetilo[6]. Esta reacção envolve um mecanismo de catálise ácida. O primeiro passo, representado na figura 3, consiste na protonação do anidrido acé- tico pelo ácido sulfúrico. Forma-se então um catião com um grupo hidro- xilo. Este catião é adicionado ao grupo hidroxilo do ácido salicílico, que fica com uma carga formal positiva. No passo seguinte, o protão (e carga) 1Os mamíferos possuem duas isoenzimas da prostaglandina H2 sintase, COX-1 e COX-2. Estas possuem funções diferentes, mas sequências de aminoácidos e mecanismos reaccionais muito semelhantes. A COX-1 é responsável pela síntese de prostaglandinas que regulam a secreção de mucina gástrica, enquanto a COX-2 trata daquelas que me- deiam as inflamações, dor e febre. A aspirina inibe as duas isoenzimas de igual forma[2]. Posto isto, houve um grande esforço em econtrar drogas específicas para a COX-2. Encontraram-se candidatos promissores como o celecoxib e o rofecoxib, comercializados sob os nomes Celebrex e Vioxx, que rapidamente se tornaram muito populares, exce- dendo os 100 milhões de receitas anuais por Outubro de 2000. No entanto, foi detectado que estas drogas provocavam um maior risco de acidentes cardiovasculares. Em Setem- bro de 2004, o Vioxx foi voluntariamente retirado do mercado[3]. Estão neste momento em fase de teste clínico novos inibidores selectivos de COX-2[4]. 2Industrialmente, este composto é produzido com recurso à reacção de Kolbe-Schmitt. Esta consiste numa reacção de carboxilação – sob pressão, aquece-se fenolato de sódio com dióxido de carbono (100 atm, 125 oC) e, de seguida, trata-se o produto com ácido sulfúrico.[5] 2 PARTE EXPERIMENTAL 4 OO O anidrido acético H2SO4+ OHO O HSO4-+ Figura 3: Primeiro passo do mecanismo reaccional. HO O HO ácido salicílico + HO OHO OOHO O O O OHO O H HO O HO Figura 4: Segundo passo do mecanismo reaccional. são transferidos para o átomo de oxigénio do catião adicionado (figura 4). Por fim, ocorre uma reacção de eliminação que origina ácido acético. O outro produto converte-se no ácido acetilsalicílico apenas pela perda de um protão, o que permite, adicionalmente, a recuperação do catalisador (figura 5). 2 Parte Experimental 2.1 Aparelhagem e Montagens A determinação do ponto de fusão foi efectuada com uma precisão de 0,1oC, com um medidor de pontos de fusão Stuart Scientific. De modo a determinar a quantidade de ácido acetilsalicílico que está numa pastilha de aspirina Bayer procedemos a uma titulação. A titu- limetria (ou volumetria) é uma técnica de análise em que os resultados da composição de um sistema se obtêm mediante o uso de uma solução de concentração bem definida, à qual se dá o nome de titulante (solução- padrão)[7]. Neste trabalho, efectuou-se uma titulação ácido-base. Adicionou-se, gradualmente, uma solução de hidróxido de sódio contida numa bureta (titulante) à solução que se encontrava num erlenmeyer (titulado) até que 2 PARTE EXPERIMENTAL 5 O O OHO O H O O HO O OH ácido acético HO HO O O O HO ácido acetilsalicílico + + H+ + ácidoacético Figura 5: Terceiro passo do mecanismo reaccional. fossem adicionadas quantidades equivalentes das duas soluções (figura 6); atingiu-se nessa altura o ponto de equivalência, pequiv. A detecção deste ponto foi feita com o indicador fenolftaleína3. Para além da medição do ponto fusão, realizámos uma cromatografia, de modo a determinar a pureza do produto sintetizado. A cromatografia é uma família de técnicas químicas analíticas para a separação de mistu- ras. Envolve passar a amostra na fase móvel, frequentemente num fluxo de solvente, através da fase estacionária. A fase estacionária atrasa a pas-sagem dos componentes da amostra. Cada compondente tem um tempo de passagem pela sistema característico, pelo que se tornam separados no tempo[10]. Neste trabalho, a técnica de cromatografia usada foi a cromatografia em camada fina (TLC) – caracteriza-se por a fase estacionária consistir numa camada fina de um absorvente como sílica-gel, óxido de alumínio ou ce- lulose sobre uma placa rasa de vidro, plástico ou uma folha espessa de alumínio, entre outros[10]. Em particular, aplicaram-se soluções de ácido salicílico e ácido acetilsalicílico na extremidade inferior de uma placa com sílica-gel, que se introduziu, de seguida, num recipiente de vidro coberto, com o fluido de desenvolvimento no seu interior (o eluente, neste caso acetato de etilo). Por fim, realizou-se uma filtração à trompa, cujos detalhes não explica- remos novamente. 2.2 Reagentes Ao longo da actividade experimental usaram-se, como reagentes, ácido salicílico, C7H6O3, 99%, da Aldrich; ácido sulfúrico, H2SO4, 95-97%, da 3A zona de viragem da fenolftaleína é 8,2-10[8]. A escolha deste indicador deve-se ao facto de estarmos a titular um ácido fraco (o pKa do ácido acetilsalicílico é 3,48[9]) com uma base forte, o que colocará o pH do ponto de equivalência numa zona básica. 2 PARTE EXPERIMENTAL 6 50 40 30 20 10 0 Figura 6: Esquema da montagem usada na titulação ácido-base. Merck; anidrido acético, C4H6O, 100%, da Merck, e etanol, C2H6O, 99,5%, da Panreac Química S.A. Para fazer a titulação, utilizaram-se fenolfta- leína, C20H14O4 e hidróxido de sódio, NaOH, 0,1 M. Na cromatografia, utilizaram-se acetona, CH3COCH3, 100%, da Higilim, e acetato de etilo, C4H8O2. 2.3 Método Experimental A experiência, nas linhas indicadas a seguir, foi realizada Terça-feira, dia 9 de Maio de 2006. Pesámos 5,1 g de ácido acetilsalicílico e juntámos-lhe, de seguida, 10 ml de anidrido acético e 1 ml de ácido sulfúrico. Ao combinar os dois primeiros, obtivemos uma substância de aspecto opaco e leitoso, que se tornou transparente quando se adicionou o ácido. Levámos a mistura a aquecer. Passados 8 minutos, ao repararmos que o ácido salicílico não se estava a dissolver e que a mistura apresentava um aspecto opaco e espumoso, tratámos de substituir a placa de aquecimento. A partir deste momento, aquecemos a mistura mais 12 minutos e começá- mos a observar-lhe uma mudança de tonalidade logo após os primeiros 5 2 PARTE EXPERIMENTAL 7 minutos – tornou-se amarelada/alaranjada. Notámos, ainda, a formação de agregados amarelados e a saída de vapores pelo topo do Erlenmeyer. Terminado o aquecimento, adicionámos à mistura 50 ml de água destilada gelada e registámos, novamente, uma mudança no aspecto da mistura, que se tornou menos cor-de-laranja e mais opaca. Seguidamente, preparámos um banho de gelo, onde colocámos o reci- piente com a mistura. À medida em que esta era arrefecida, rasparam-se vigorosamente as paredes do recipiente com uma vareta durante cerca de 20 minutos, a fim de permitir a formação de cristais de ácido acetilsalicí- lico. Entretanto, juntámos 5 ml de água a 5 ml de etanol, preparando, assim, o solvente 1:1 no qual dissolvemos o pó branco com resíduos amarelados que obtêramos filtrando à trompa amistura com ácido acetilsalicílico. Esta solução foi preparada em ebulição e com a menor quantidade possível de solvente. Dissolvido todo o sólido, realizou-se, rapidamente, uma filtração a quente (o funil havia sido aquecido imediatamente antes). Recolheu-se, então o filtrado, constituído principalmente por ácido acetilsalicílico e im- purezas menos solúveis. A fim de descartar as impurezas mais solúveis, a solução foi colocada num banho de gelo e submetida a segunda filtração à trompa. Obteve-se, assim, um sólido húmido com uma cor branca/ama- relada. Deixámos o sólido secar, pesámo-lo, retirámos um pouco para reali- zar a cromatografia, pesámos o restante e colocámo-lo no exsicador. Uma semana mais tarde, dia 16 de Maio, tornaríamos a pesar o sólido e deter- minaríamos o seu ponto de fusão. Para avaliar a quantidade de ácido acetilsalicílico presente numa pas- tilha de aspirina Bayer, realizou-se uma titulação ácido-base. Pesámos o medicamente, desfizemo-lo num almofariz e juntámos o pó resultanto a 20 ml de etanol. Depois de se filtrar esta solução por gravidade, recolheu-se o filtrado, um líquido transparente, e adicionou-se-lhe 3 gotas de fenolf- taleína. Adicionámos então NaOH até que a solução se tornasse carmim. Anotámos a quantidade de NaOH gasta. Por último, executou-se a cromatografia. Aplicámos uma pequena a- mostra de ácido salicílico e do ácido acetilsalicílico sintetizado, ambos dis- solvidos em acetona, sobre um traço horizontal marcado próximo da ex- tremidade inferior da placa de sílica-gel e colocámos esta última na câmara com acetato de etilo. Nem as concentrações, nem as quantidades das so- luções usadas eram iguais. Após cerca de 8 minutos, retirámos a placa da câmara. O solvente já ultrapassara o topo da placa, a qual foi então co- locada sob uma lâmpada ultra-violeta. Delimitámos a lápis as manchas resultantes dos dois arrastamentos. 3 RESULTADOS 8 3 Resultados 3.1 Quantidades de Reagentes e Produtos Na tabela 1, encontram-se as quantidades de reagentes realmente uti- lizadas. A precisão da balança usada era 0,01 g. No final da etapa expe- rimental, obteve-se, então, ácido acetilsalicílico, cuja massa foi medida em vários estádios da actividade experimental. Os resultados dessas medi- ções estão expressos na tabela 2. Note-se que os dois últimos valores se referem à amostra após lhe ter sido retirada alguma parte para realizar a cromatografia. Substância Quantidade ác. salicílico 5,10 g; alguns dg (crom.) ác. sulfúrico 1 ml anidrido acético 10 ml etanol 5 ml; 20 ml (titul.) fenolftaleína 3 gotas hidróxido de sódio 27,6 ml acetona alguns ml acetato de etilo alguns ml pastilha Bayer 0,59 g Tabela 1: Quantidades de reagentes usados. Estado Quantidade húmido, antes da cromatografia 1,26 g húmido, depois da cromatografia 1,24 g seco, depois da cromatografia 1,11 g Tabela 2: Quantidades de ácido acetilsalicílico obtidas. 3.2 Rendimento Amassa de ácido acetilsalicílico máxima que poderíamos obter é aque- la em que todo o ácido salicílico inicial é acetilado. Havendo partido de determinada massa mAS = 5,10 g, a correspondente quantidade química, 3 RESULTADOS 9 nAS, seria, na melhor das hipóteses, igual (e na prática superior) à quan- tidade de ácido acetilsalicílico que obteríamos. Podemos então calcular a massa máxima do produto,mmaxAAS, da seguinte forma: mmaxAAS = n max AAS ·MAAS = nAS ∗MAAS = mAS MAS ·MAAS = 5,10 g 138,12 g/mol · 180,16 g/mol = 6,65 g O rendimento da síntese é determinado dividindo a massa de ácido acetilsalicílico realmente obtida,mAAS, pela máxima possível,mmaxAAS 4: η = mAAS mmaxAAS = 1,11 g 6,65 g = 16,7% 3.3 Fracção de ácido acetilsalicílico numa pastilha Bayer Por definição, quando se atinge o ponto de equivalência, praticamente todo o ácido acetilsalicílico na solução reagiu com o titulante e deixou de existir em solução. Tratando-se de um ácido monoprótico (que reage numa proporção 1:1 com o titulante), então a quantidade de hidróxido de sódio que adicionámos à solução deverá ser igual à quantidade de ácido inicialmente na solução. Uma vez que adicionámos 27,6 ml de uma solução 0,1 M de hidró- xido de sódio, a quantidade de ácido acetilsalicílico na solução terá sido nAAS = 27,6ml · 1 × 10−4 mol/ml = 2,76 × 10−3 mol. Dada a massa mo- lar do ácido acetilsalicílico,MAAS = 180,16 g/mol, então a massa de ácido acetilsalicílico presente serámAAS = nAAS ·MAAS = 0,497 g. Assim, a fracção de ácido acetilsalicílico presente na cápsula com mas- samcaps = 0,59 émAAS/mcaps = 84%. 3.4 Determinação da pureza recorrendo à TLC Verificámos que se obteveuma mancha para a amostra de ácido salicí- lico e duas manchas para o ácido acetilsalicílico, com a primeira ao nível 4Optámos por usar a massa medida com a amostra seca, apesar de parte da mesma ter sido, pela altura destamedição, retirada para realizar a cromatografia. Dadas asmedições com a amostra húmida, antes e após haver sido retirada essa fracção, note-se que, mesmo considerando o pior caso dos erros nos arredondamentos feitos pela balança, a diferença no valor da massa da amostra não deve exceder os 0,03 g, o que representa um erro inferior a 3% no cálculo do rendimento. 3 RESULTADOS 10 da única mancha do ácido salicílico, e a segunda por cima desta (mais afastada do ponto de aplicação). A partir dos valores da tabela 3, e considerando a distância entre a linha de base e a frente do solvente, x, 5,7 cm5, podemos calcular o factor de retenção Rf das amostras, dado, por definição, pela expressão Rf = a x onde a corresponde à distância entre a linha de base e o centro das man- chas. Amostra No manchas Distância ác. salicílico 1 2,9 cm ác. acetilsalicílico 2 (1) 3,0 cm; (2) 3,6 cm Tabela 3: Distâncias das manchas na TLC. Podemos então calcular os factores de retenção dos componentes iden- tificados na cromatografia: RASf = 2,9 5,7 = 0,51 RAAS,1f = 3,0 5,7 = 0,53 RAAS,2f = 3,6 5,7 = 0,63 3.5 Pontos de Fusão O ponto de fusão da amostra de ácido acetilsalicílico foi determinado uma semana depois de a amostra ter sido colocada no exsicador. A fusão deu-se nos 127,6-130,4 oC. 3.6 Espectros IV e 1-HNMR Uma boa forma de avaliar o grau de pureza de um produto é traçar os seus espectros de IV e de 1-HRMN e compará-los com os espectros 5Esta é a distância entre a linha de base – local de aplicação das amostras – e o topo da placa. Na verdade, a frente do solvente ultrapassou o topo da placa. Este facto não deve afectar muito o cálculo do factor de retenção, dado que o solvente passou o topo da placa pouco tempo antes de esta ter sido retirada da câmara. 4 DISCUSSÃO 11 característicos no estado puro. No caso desta experiência avaliou-se o grau de pureza do ácido acetilsalicílico recorrendo, não a estes métodos, mas antes à cromatografia e ao registo do ponto de fusão. Apresentamos, no entanto, ambos os espectros (o espectro IV na figura 7 e o espectro 1-NMR na figura 8). Figura 7: Espectro IV do ác. acetilsalicílico (técnica nujol mull)[11]. 4 Discussão 4.1 Rendimento O rendimento da síntese de aspirina foi bastante baixo – cerca de 17%. A explicação para este baixo número compreende vários factores. Em pri- meiro lugar, parte das misturas ficam sempre nos recipientes. Este pro- blema é especialmente significativo quando se removem os sólidos, ainda ligeiramente húmidos, dos funis – parte fica sempre agarrada ao papel e ao próprio funil. Por outro lado, também parte da amostra caiu sobre a 4 DISCUSSÃO 12 Figura 8: Espectro 1-HNMR do ác. acetilsalicílico (400 MHz em CDCl3)[11]. bancada quando tentávamos transferi-la para o frasco do exsicador. A se- gunda parte da explicação assenta na baixa extensão da própria reacção química de síntese. Um dos factores poderá ser o facto de que, quer o ácido salicílico, quer o ácido acetilsalicílico são muito pouco solúveis em água (< 0,3 g por 100 ml a 20oC)[12, ICSC 0563,0822], o que limita a sua reactividade. Finalmente, o factor mais determinante[1] deverá ser a sig- nificativa dificuldade em extrair o ácido acetilsalicílico do estado aquoso. A solução foi colocada num banho de gelo e o recipiente raspado durante aproximadamente 20 minutos a fim de, respectivamente, diminuir a so- lubilidade do ácido e libertar partículas que funcionassem como centros para a formação dos cristais. A formação dos cristais, mesmo sob estas condições, foi bastante lenta e pouco extensa findo aquele tempo. 4.2 Pureza Obtivemos, no final da síntese, um produto que apresentava uma cor branca/amarelada, e não somente branca, como era de esperar. Isto acon- 4 DISCUSSÃO 13 teceu porque, devido a problemas com a placa de aquecimento, a mistura de ácido salicílico, anidrido acético e ácido sulfúrico aqueceu durante de- masiado tempo e com a placa excessivamente quente. Não sabemos com certeza a que se deve esta alteração na cor, mas provavelmente dever-se-á à decomposição de algum composto na mistura. O aspecto da amostra não se alterou significativamente após a recristalização. A fusão do ácido acetilsalicílico teve início aos 127,6 oC e terminou aos 130,4 oC. Ao notar a amplitude deste intervalo e comparar estes valores com aquele da substância no estado puro, 135oC[13, CAS 50-78-2], pode- mos concluir que a nossa amostra continha impurezas. A corroborar a existência de impurezas na amostra, temos os resulta- dos da cromatografia. Os factores de retenção que determinámos não pos- suem um valor absoluto, isto é, não podemos compará-los com valores tabelados para determinar a que corresponde cada mancha6. No entanto, podemos ainda tirar algumas conclusões úteis. Verificamos que a amos- tra de ácido acetilsalicílico se desdobrou em duas manchas, o que implica que a mesma estava contaminada com, no mínimo, um outro composto químico. O facto de a uma das manchas corresponder um factor de reten- ção idêntico àquele do ácido salicílico, sugere que essa mancha represente algum ácido salicílico contaminando a amostra. A outra mancha corres- ponderia ao ácido acetilsalicílico. Esta correspondência para as manchas é suportada teoricamente – sen- do os dois ácidos em questão muito semelhantes, é previsível que o ácido salicílico interaja em maior grau com a sílica devido a poder formar mais interacções por ponte de hidrogénio. Note-se que não é de todo inverosímil que a amostra final esteja bas- tante contaminada de ácido salicílico. De facto, é bastante díficil separar os dois ácidos através da técnica de purificação usada – a recristalização. Ambos possuem solubilidades bastante semelhantes, com a agravante de que a aspirina é mais solúvel do que o ácido salicílico[9] (em água a 20 oC, o valor é 0,2 g/100 ml para o ácido salicílico e 0,25 g/100 ml para a aspirina[12, ICSC 0563,0822]7). Para que se obtivesse um produto mais puro seria necessário efectuar repetidas recristalizações, o que por sua vez ainda lesaria mais o já fraco rendimento da processo. 6Há muitos factores que influenciam a reproducibilidade do factor de retenção, in- cluindo: a própria placa, o quantidade de amostra aplicada na placa, a distânia de desen- volvimento e a temperatura ambiente.[14] 7Tomemos estes valores de solubilidade com algumas reservas. Nem o solvente, nem a temperatura são exactamente aqueles da experiência. Devem também referir-se à forma não ionizada dos compostos. 4 DISCUSSÃO 14 4.3 Fracção de ácido acetilsalicílico numa pastilha Bayer Através de uma titulação ácido-base, medimos a quantidade de ácido acetilsalicílico presente na pastilha de aspirina Bayer. O valor obtido fo- ram 0,497 g para a massa do ácido. Dado que aquela era uma pastilha de aspirina 500 mg (contém 500 mg de substância activa), o valor que ob- tivemos está muito próximo. Isto significa que, quer o erro de titulação foi muito baixo (graças à escolha de um indicador apropriado e a uma execução correcta), quer a perda de ácido no almofariz e na filtração foi desprezável. Este valor indica-nos também que a fracção de substância activa na pastilha de aspirina Bayer é 84%. Esta há-de conter outros ingredientes para contrariar os efeitos secundários da droga. Nomeadamente, as pasti- lhas de aspirina devem incluir um revestimento para proteger a garganta e o estômago da acidez da substância activa[15]. Parte destes aditivos terá ficado retida na etapa da filtração, em que notámos alguns resíduos bran- cos no filtro. 4.4 Análise de espectros 4.4.1 Espectro de IV Analisemos agora o espectro deIV da figura 7. Começamos por en- contrar entre, aproximadamente, os 600 e 800 cm-1 picos que se deverão em parte referir a estarmos ante um anel aromático orto-substituído. A cerca dos 1200 cm-1 e dos 1700 cm-1 encontramos as marcas das ligações carbono-oxigénio do grupo éster – respectivamente a ligação simples e a ligação dupla. A banda dos 1700 cm-1 também pode corresponder à liga- ção C=O do grupo carboxilo. A extensão O-H relativa a este último grupo funcional encontra-se entre os 2500-2700 cm-1. Por último, identificamos uma banda forte entre os 2900 e os 3000 cm-1, que corresponderá prova- velmente à extensão das ligações C-H. 4.4.2 Espectro de 1-HNMR O espectro de 1-HNMR, na figura 8, apresenta 6 picos, um dos quais muito fraco, perto de 11 ppm, e os restantes a cerca de 8,1, 7,6, 7,4, 7,1 e 2,4 ppm (zonas A, B, C, D, E e F da figura 9, respectivamente[11]). Pela análise dos dados picos da Spectral Database for Organic Coum- pounds[11], observamos que aqueles a 7,4 e 7,6 ppm são tripletos, a 8,1 e 7,1 ppm são dupletos e o pico a 2,4 ppm é um singleto. Adicionalmente, 4 DISCUSSÃO 15 O OHO O A B C D E F Figura 9: Zonas de átomos de hidrogénio com diferente deslocamento quí- mico. os quatro picos entre os 7,1 e os 8,1 ppm possuem aproximadamente a mesma área (embora os dados não sejam muito conclusivos) e o pico a 2,4 ppm um integral muito próximo do triplo da média daqueles. Estas observações são coerentes com a estrutura do ácido acetilsalicí- lico. A área relativa daqueles cinco picos será 1:1:1:1:3; os quatro primeiros referentes a cada um dos átomos de hidrogénio ligados ao ciclo aromático (apenas um por átomo de carbono) e o pico a 2,4 pm com área tripla por se referir ao grupo metilo, com três átomos de hidrogénio equivalentes. Ao restante hidrogénio corresponde um pico muito fraco por estar ligado a um átomo electronegativo com pares não partilhadados, o oxigénio. Por outro lado, os picos correspondentes às zonas C e D são tripletos devido ao desdobramento provocado pelos átomos de hidrogénio das zo- nas E/D e B/C, respectivamente. Já os picos das zonas B e E são dupletos devido à existência de apenas de um átomo de hidrogénio em ligação com átomos adjacentes ao respectivo átomo de carbono da zona – aquele da zona D no caso da B e o da zona C no caso da E. Naturalmente, o pico da zona F é um singleto devido à inexistência de átomos de hidrogénio capazes de desdobrar os seus três hidrogénios. Os átomos de hidrogénio com menor deslocamento químico e, conse- quentemente, a campo mais alto (maior blindagem), são aqueles da zona F, inclusos num grupo CH3. Este grupo apresenta tipicamente desloca- mentos químicos muito baixos, da ordem dos 0,8-1,0 ppm; neste caso, todavia, os átomos de oxigénio próximos provocam uma desblindagem que coloca o deslocamento químico nos 2,4 ppm. Os quatro picos com aproximadamente o mesmo desvio (zonas B, C, D e E) dizem respeito aos hidrogénios que estão ligados aos carbonos do anel aromático e, portanto, encontram-se menos blindados devido ao movimento circular dos elec- trões pi deslocalizados, o qual gera um campo magnético que reforça a intensidade do campo exterior. Destas quatro zonas, a que se encontra a 5 CONCLUSÃO 16 campo mais baixo é a zona B, possivelmente por apresentar junto de si átomos muito electronegativos, que atraem os electrões e desblindam adi- cionalmente os protões desta região. Finalmente, a zona A encontra-se a campo muito baixo porque o átomo de hidrogénio está ligado a um oxigé- nio, o que causa (ainda com outro na vizinhança), da mesma forma, maior desblidagem. 5 Conclusão Não estamos na posse do rendimento típico para este processo, no en- tanto, aquele que obtivemos – 17% – parece-nos bastante baixo. Adicio- nalmente, o produto continha algumas impurezas, como podemos con- cluir pela medição do ponto de fusão, pela cromatografia e pelo próprio aspecto da amostra. Os resultados são, portanto, insatisfatórios. Já a titulação ácido-base foi bem sucedida. Concluímos que de facto uma pastilha de aspirina Bayer contém 500 mg de ácido acetilsalicílico. Referências [1] Aspirin.Wikipedia. 2006. Wikimedia Foundation. 20Maio 2006 <http ://en.wikipedia.org/wiki/Aspirin>. [2] Nelson, David L., e Michael M. Cox. Lehninger Principles of Biochemis- try. 4th ed. W. H. Freeman and Company, 2005. 19. [3] COX-2 Inhibitor. Wikipedia. 2006. Wikimedia Foundation. 21 Maio 2006 <http://en.wikipedia.org/wiki/COX-2_selective_ inhibitor>. [4] Rofecoxib.Wikipedia. 2006. Wikimedia Foundation. 21 Maio 2006 <ht tp://en.wikipedia.org/wiki/Rofecoxib>. [5] Kolbe-Schmitt Reaction. Wikipedia. 2006. Wikimedia Foundation. 19 Maio 2006 <http://en.wikipedia.org/wiki/Kolbe-Schmit t>. [6] Bengu, G. 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