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1 PROPAGAÇÃO DE FIGUEIRA POR ESTAQUIAS HERBÁCEAS EM SOLUÇÃO NUTRITIVA Daniel Vinicius Mocellin1; Leonardo Alberto Mützenberg1; Renata Albertina Magro1 e Talita Durante Bosetti1 INTRODUÇÃO A Ficus carica, é uma frutífera de grande importância, sendo esta uma planta rústica a qual possui grande adaptação climática. Por se adaptar as condições facilmente, está se espalhou rapidamente em pequenos pomares domésticos, e evoluiu para produção de larga escala (NORBERTO et al., 2001). A parte retirada da planta mãe, com o mínimo de uma gema vegetativa que tem capacidade para originar uma nova planta é chamada de estaca, podendo ser estaca lenhosa, herbácea ou de raízes. A propagação através de estaquia é estudada em vários países, onde são utilizadas substâncias reguladoras de crescimento ou fitorreguladores (auxinas), em diversas concentrações e em diferentes espécies vegetais (LAJÚS et al., 2007). A estaquia multiplicada em ambiente controlado, onde pode- se utilizar estacas de menor comprimento e diâmetro, o qual facilita o manejo das mudas nos viveiros (ARAÚJO et al., 2005). Uma alternativa que está ganhando cada vez mais espaço na produção de mudas é a estaca herbácea oriunda da desbrota que é realizada de 30 a 60 dias após a desbrota hibernal da planta, onde conserva-se de 1 a 2 brotos de cada haste, eliminando os demais (CHALFUN et al., 2002). Segundo Norberto et al. (2001), o potencial de enraizamento, a qualidade e a quantidade de raízes emitidas nas estacas, variam com a espécie, cultivar, condições ambientais e condições internas da planta. Para Pio et al. (2004) as condições internas das plantas são traduzidas pelo balanço hormonal entre inibidores, promotores e co-fatores do enraizamento, que interferem no desenvolvimento das raízes. Quando o balanço hormonal é favorável aos promotores ocorre o processo inicial radicular. Para beneficiar o balanço hormonal é comum a aplicação exógena de reguladores vegetais como a auxina AIB (ácido indolbutirico). Reservas de maior quantidade de carboidratos, são relacionados com maior porcentagem de enraizamento e sobrevivência das estacas. Sendo que os carboidratos são fundamentais para a formação de raízes uma vez que as auxinas necessitam de fonte de carbono para a biossíntese de proteínas e ácidos nucléicos, levando assim a necessidade carbono e energia para produção de raízes. Sendo assim, objetivou-se com o presente trabalho, avaliar o potencial de enraizamento através de solução nutritiva. MATERIAL E MÉTODOS Foram coletadas estacas herbáceas com comprimento entre 15 e 20 cm, de figueira Ficus Carica variedade pingo de mel, no momento da brotação da planta (setembro). Após a coleta, as estacas foram acondicionadas em um recipiente contendo água para evitar a entrada de ar no xilema e a desidratação durante o transporte. Foram conservadas apenas uma folha da extremidade superior. Dando sequência, as estacas receberam diferentes soluções nutritivas e foram acondicionadas em vasos de plástico com capacidade de cinco litros, sendo que foi utilizado três litros de solução nutritiva aerado. Para a aeração das plantas foi utilizado uma bomba de aquário. Segundo Maestri et al. (2012), a cultura em solução nutritiva é caracterizado pelo cultivo de plantas com suas raízes submersas em uma solução de composição química conhecida (sais minerais e água). A partir disso, os elementos minerais disponíveis às plantas podem ser controlados e, ainda, pode-se verificados sintomas de toxidez e deficiência dos mesmos na planta. 1 Acadêmicos do curso de Agronomia do Instituto Federal Catarinense - Campus Concórdia. 2 Nesta técnica há necessidade de aeração artificial das soluções nutritivas e a troca constante das mesmas, devido ao fato das composições químicas mudarem constantemente à medida que as raízes absorvem íons. Vale ressaltar que algumas raízes apresentam absorção diferencial de íons, o que pode acarretar em variação de pH nas soluções nutritivas, influenciando no equilíbrio de oxirredução e forma iônica de vários elementos contidos nas mesmas (MAESTRI et al., 2012). Logo, necessita-se que esta variação de pH seja controlada para obtenção de resultados confiáveis. As soluções nutritivas em estudo foram: solução completa (T1), solução com deficiência de nitrogênio (T2), solução com deficiência em fosforo (T3) e solução com deficiência potássio (T4), foram analisadas após 50 dias, verificando-se o número de raízes emitidas (NR), o comprimento da maior raiz (CR), comprimento da maior folha (CF) e porcentagem de estacas mortas (EM). As soluções nutritivas foram preparadas de acordo com a Tabela 1. Tabela 1: Tabela para preparo das soluções-estoques e soluções nutritivas para cada tratamento. Solução estoque Composto Concentração Quantidades (em mL) das soluções estoques para preparar um litro de solução nutritiva A Ca (NO3)2 4H2O 1,0 molar (236 g/l) Solução nutritiva A B C D E F G I J B KNO3 1,0 molar (101 g/l) Completa 5 5 2 1 1 1 C Mg SO4 7H2O 1,0 molar (246,5 g/l) Sem K 5 2 10 1 1 D KH2PO4 1,0 molar (136 g/l) Sem P 4 6 2 1 1 E Ca(H2PO4)2 H2O 0,01 molar (2,52 g/l) Sem N 2 10 5 200 1 1 F K2SO4 0,05 molar (8,61 g/l) G Ca SO4 2H2O 0,01 molar (1,72 g/l) I Microelementos J Fe-EDTA 0,50% Fonte: Adaptado de Maestri et al. (2012). O delineamento utilizado foi em blocos completamente casualizados, composto por duas repetições e blocos com oito unidades experimentais. Foram coletados os seguintes dados ao decorrer do experimento: quantidade de raízes, tamanho da maior raiz, comprimento da maior folha e porcentagem de estacas mortas. Os dados foram submetidos a análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey ao nível de 5% probabilidade. As análises estatísticas foram realizadas pelo programa computacional Statística® Release 7. RESULTADOS E DISCUSSÕES Ao término do experimento, após 50 dias decorridos, foi possível observar alterações nas plantas, como emissão de raízes e, por conta das deficiências nutricionais, alguns sintomas visuais também foram observados. Em sua abordagem quanto as funções do nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) na planta, Taiz & Zeiger (2009) destacam que o N é o elemento mineral mais exigido pelas mesmas, sendo utilizado como constituinte de muitos componentes da célula vegetal, como aminoácidos, proteínas e ácidos nucleicos. O P é um componente integral de fosfato-açúcares, de fosfolipídios que compõem as membranas vegetais. Ainda, é um componente de nucleotídeos utilizados no ATP, DNA e RNA. Por fim, o K atua de forma importante na regulação do potencial osmótico das células, abertura e fechamento de estômatos e ainda ativa muitas enzimas envolvidas na respiração e fotossíntese. Quanto aos resultados observados nas plantas submetidas à solução nutritiva completa (T1) não foram observados sintomas de deficiência nutricional. Por outro lado, este foi o tratamento com 3 maior percentual de estacas mortas (62,5%), fato este que ocorreu por conta de problemas envolvendo a aeração da solução. Plantas submetidas a deficiência de N (T2) demonstraram sintomas visuais, como clorose (amarelecimento) das folhas mais velhas (Figura 1), já quanto a emissão de raízes, este processo não foi afetado pela falta do nutriente em questão (Figura 2). Conforme Taiz & Zeiger (2009), além de clorose nas fohas velhas, sintomas como caules delgados e lenhosos são característicos de plantas de milho sob deficiência de N, porém estes não foram observados no experimento com estacas de figueira. Nasplantas induzidas a deficiência de P (T3), segundo Taiz & Zeiger (2009) deveriam ser observados coloração roxa escura esverdeada, contudo não foi constatado este sintoma durante o experimento com figueira. Pode-se afirmar, segundo Grant et al. (2001), o período de tempo requerido para a deficiência de P mostrar efeito depende da quantidade de reservas de P nos tecidos da planta. Logo, por se tratar de uma espécie vegetal de ciclo longo, o curto período de realização do experimento influenciou nos resultados observados. Quanto as raízes, o T3 foi o que apresentou maior número de raízes emitidas (Figura 2), podendo ser justificado, de acordo com Grant et al. (2001), por conta da deficiência de P induzir o crescimento de raízes secundárias. Quanto as plantas sob deficiência nutricional de potássio (T4), sintomas visuais foram claramente observados, como a clorose e manchas marginais na folha, aparecendo primeiramente nas folhas mais velhas (Figura 1). Ainda, Taiz & Zeiger (2009) afirmam que as folhas podem curvar-se e secar nas pontas. Quanto as raízes, neste tratamento não observou-se a emissão das mesmas (Figura 2), mostrando que o K tem papel fundamental neste processo. Taiz & Zeiger (2009) afirmam que estes sintomas foliares são característicos desta deficiência nutricional. Além disso, as raízes tornam- se mais suscetíveis a fungos da podridão, resultando a uma maior tendência ao tombamento. Em estudo realizado por Ferreira (2012), avaliou-se sintomas de deficiência de macro e micronutrientes em milho híbrido BRS 1010 com aporte de nutrientes via solução nutritiva, nota-se algumas diferenças entre os resultados observados quanto à parte aérea. Em milho as plantas com sintomas de deficiência de N apresentaram uma diminuição acentuada do porte e uma clorose generalizada, ao mesmo tempo que folhas mais velhas adquiriram um tom rosado, seguido de necrose. Já as folhas de figueira apresentaram leve clorose nas folhas velhas (Figura 1). Além disso, Ferreira (2012) observou também que as plantas de milho com sintomas de deficiência de P apresentaram uma diminuição no porte. Inicialmente as folhas mais velhas adquiriram uma coloração arroxeada, que progrediu para as folhas mais novas. Posteriormente, essa coloração arroxeada evoluiu para necrose, começando nas pontas das folhas e seguindo em direção à base. Vale ressaltar que este fato não ocorreu no experimento realizado com figueira, provavelmente por conta do curto prazo de realização do experimento aliado com a longa duração do ciclo da cultura utilizada, prorrogando a manifestação do sintoma de deficiência de P. Por fim, quanto aos sintomas em plantas de milho com deficiência de K, Ferreira (2012) afirma que estas apresentaram uma redução acentuada no porte, mais severas que nas plantas com deficiência em P. As folhas mais velhas apresentaram uma necrose que se iniciava nas pontas e margens e evoluía em direção à nervura central. Nas estacas de figueira também foi possível notar necrose nas pontas e margens das folhas (Figura 1). Vale ressaltar que, ao término do experimento, obteve-se um índice de 20,3% de estacas mortas, levando em conta todos os tratamentos. Segue abaixo a Figura 1 e 2, representativas da parte aérea e sistema radicular, respectivamente. 4 Figura 1: Parte aérea de estacas de Ficus Carica em seus respectivos tratamentos. Figura 2: Sistema radicular de estacas de Ficus Carica em seus respectivos tratamentos. Dados resumidos da ANOVA estão descritos abaixo pela Tabela 2. Tabela 2: Resumo da análise de variância. Número de raízes Tamanho da raiz Comp. de folhas FV GL QM p QM p QM p Bloco 1 530,24 556,78 11,50 Trat 3 1036,16 0,4561 546,20 0,8644 79,71 0,2395 Erro 3 728,18 2280,20 32,41 Média 32,90 71,57 73,07 CV (%) 82,02 66,71 7,79 Conforme resultados da ANOVA (Tabela 2), não houve diferença significativa entre as médias dos tratamentos, ao nível de 5% de probabilidade, em todas as variáveis resposta observadas (NR, CR e CF), (P > 0,05). Logo, não há a necessidade da realização do teste de médias. Ainda, observa-se um valor do coeficiente de variação (CV) elevado para as variáveis NR e CR, enquanto que a variável CF apresenta valor de CV dentro do esperado. Pode-se afirmar que o elevado CV mencionado deve-se à não uniformidade dentro dos blocos tratados, como por exemplo, diferença de tamanho e diâmetro entre as estacas utilizadas, influenciando na reserva de nutrientes nos tecidos das mesmas e, da mesma forma, a luminosidade no local de realização do experimento também pode ter influenciado nos resultados. Mesmo que os resultados não apresentem diferenças significativas (P > 0,05) entre si, é possível analisar quais foram os tratamentos que obtiveram melhores médias de desempenho, com base nos dados coletados após 50 dias de realização do experimento. As médias observadas nas diferentes características dos tratamentos estão sendo apresentados na Figura 3. 5 Figura 3: Gráficos representativos das médias dos tratamentos em cada variável resposta. Pode ser observado nos gráficos que o T3 (deficiência nutricional de P) apresentou melhores médias quanto ao número de raízes e tamanho da maior folha. Enquanto o T2 (deficiência nutricional em N) apresentou melhor média para a análise do tamanho da maior raiz. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, J. P. C. et al. Propagação da figueira por estaquia tratadas com AIB. Biosci, J., Uberlândia, v.21, n.2, p. 59-63, mai./ago., 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA PESQUISA DA POTASSA E DO FOSFATO. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 95: A importância do fósforo no desenvolvimento inicial da planta. Piracicaba, 2001. 16p. CHALFUN, N. N. J. et al. Poda e condução da figueira. Lavras: UFLA, 2002. 12 p. (Boletim técnico, 104). Disponível em: <http://livraria.editora.ufla.br/upload/boletim/extensao-tmp/boletim- extensao-072.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2017. FERREIRA, M. M. M. Sintomas de deficiência de macro e micronutrientes de plantas de milho híbrido BRS 1010. Revista Agro@mbiente On-line, Boa Vista, v. 6, n. 1, p. 74-83, jan./abr., 2012 LAJÚS, C. R et al. Ácido Indolbutírico no Enraizamento de Estacas Lenhosas de Figueira (Ficus carica L.). Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 1107-1109, jul. 2007 MAESTRI, M. et al. Fisiologia Vegetal (Exercícios Práticos). Visçosa, UFV, 2012. NORBERTO, P. M. et al. Efeito da época de estaquia e do AIB no enraizamento de estacas de figueira (Ficus carica L.). Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.3, p.533-541, mai./jun., 2001 PIO, R. et al. Enraizamento adventício de estacas apicais de figueira e desenvolvimento inicial das plantas no campo. Ciênc. agrotec., Lavras, v. 28, n. 1, p. 213-219, jan./fev., 2004. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia Vegetal. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 848 p. 0 50 100 T4 T1 T3 T2 Ta m an h o ( m m ) Tratamento TAMANHO DA MAIOR RAIZ 0 50 100 T4 T1 T2 T3 Ta m an h o ( m m ) Tratamento TAMANHO DA MAIOR FOLHA 0 20 40 60 T4 T1 T2 T3M éd ia - N º d e ra íz es Tratamento NÚMERO DE RAIZ
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