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LEI N. 8.072/1990 LEI DOS CRIMES HEDIONDOS Introdução e Histórico • A lei surgiu - promulgada logo após a extorsão mediante sequestro de dois empresários, Abílio Diniz e Roberto Medina foi aprovada pelo Senado em apenas 34 dias, contados da data da apresentação do projeto, sendo que a Câmara aprovou um substitutivo em dois dias. • Houve mesmo incerteza dos parlamentares quando da votação da Lei 8.072/1990: “(...) Por uma questão de consciência, fico um pouco preocupado em dar meu voto a uma legislação que não pude examinar. (...) Tenho todo o interesse em votar a proposição, mas não quero fazê-lo sob a ameaça de, hoje à noite, na TV Globo, ser acusado de estar a favor do sequestro. Isso certamente acontecerá se eu pedir adiamento da votação.” – Deputado Plínio de Arruda Sampaio (PT) Indignação Popular - O caso Daniela Perez • Daniela Perez: A indignação popular que se seguiu a esse episódio, interpretado como "impunidade" por parte da população, precipitou a alteração da Lei dos Crimes Hediondos: a partir daí, o homicídio qualificado (praticado por motivo torpe ou fútil ou cometido com crueldade) passou a ser incluído na Lei dos Crimes Hediondos, que não permite pagamento de fianças e impõe que a pena deva ser cumprida integralmente em regime fechado. Somente em 2007, com a Lei 11.464 passou a ser legalmente admitida a progressão de regime (2/5 para réu primário e 3/5 para reincidente). Noção de Crime Hediondo • O Brasil adotou na Lei n. 8.072/90 o critério legal enumerativo, estabelecendo taxativamente quais os crimes considerados hediondos e assemelhados, senão vejamos: • Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto- Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: • I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V); • II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); • III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); • IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); • V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); • VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); • VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). • VII-A – (VETADO) • VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais) São considerados assemelhados a hediondos os crimes de: • genocídio (Lei n.º 2.889/56); • tortura (Lei n.º 9.455/97); • tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (Lei n.º 11.343/2006); • terrorismo. ANISTIA, GRAÇA E INDULTO • Vedação de Anistia: perdão, por meio do esquecimento de fatos, concedido pelo Congresso Nacional, por lei – critérios de política criminal. • Vedação de Graça: indulto individual – clemência concedida pelo PR, por decreto, em razão de política criminal. O pedido de graça é sempre submetido à apreciação do Conselho Penitenciário – art. 189 da LEP. • Vedação de Indulto: perdão coletivo – concedido pelo PR, por decreto, em razão de política criminal, a sentenciados indeterminados, qdo preencherem determinadas condições. FIANÇA E LIBERDADE PROVISÓRIA • Os crimes hediondos e assemelhados são insuscetíveis de fiança, conforme redação do art. 2º, II da Lei n.º 8.072/90. • Entretanto, referido art. incluía, ainda, a proibição de liberdade provisória a tais crimes – polêmica doutrinária e jurisprudencial – cessou com a edição da Lei n.º 11.464/2007, q/ modificou a redação do citado art., suprimindo o termo “liberdade provisória” → possível a LP aos crimes hediondos e assemelhados. • O fato de ser inafiançável não impede a LP sem fiança. REGIME INTEGRALMENTE FECHADO - ALTERAÇÃO LEI N. 11.464/2007 • Segundo a redação originária da Lei n.º 8.072/90, a pena aplicada em razão da prática de crimes hediondos e assemelhados deveria ser cumprida integralmente em regime fechado, vedando-se qq espécie de progressão. ↓ • polêmica doutrinária e jurisprudencial ↓ • STF – decidiu pela inconstitucionalidade recentemente – HC n.º 82.959, de São Paulo em 23/02/2006 – princípio da individualização da pena ↓ • Recentemente a Lei n.º 11.464/2007 – alterou expressamente a redação do §1º do art. 2º - permitindo a progressão de regime PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS EM CRIMES HEDIONDOS • É controvertida na doutrina e na jurisprudência a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade imposta em crime hediondo ou assemelhado por pena restritiva de direitos. Há julgados nos dois sentidos. • Em regra, é incabível em razão da pena ser, na maioria das vezes, superior a 4 anos, ou por se tratar de delito cometido com violência ou grave ameaça à pessoa. • Porém, no tráfico ilícito de entorpecentes era viável a aplicação de pena não superior a 4 anos e, por óbvio, não se trata de crime violento e caberia a substituição, se não falhassem os requisitos subjetivos – art. 44, III do CPB. • Entretanto, c/ a edição da Lei 11.343/06 tornou-se expressamente vedada a substituição (art. 33, caput e §1º, e 34 a 37). RECOLHIMENTO À PRISÃO PARA APELAR • O recurso de apelação, nos crimes hediondos e assemelhados, tem como pressuposto de admissibilidade o recolhimento do réu à prisão. • Somente em caráter excepcional e, motivadamente, pode o juiz autorizar o contrário. • Essa proibição não afronta o princ. da presunção de inocência, consagrado na CR/88, art. 5º, LVII. PRISÃO TEMPORÁRIA EM CRIMES HEDIONDOS • A duração da prisão temporária, nos crimes hediondos e assemelhados, é de 30 dias, c/ possibilidade de prorrogação por mais 30 dias. ↓ • Somente deve ser utilizada em casos excepcionais, uma vez que prazo normal são 05 dias prorrogáveis por mais 05 dias. ESTABELECIMENTO PRISIONAL DE SEGURANÇA MÁXIMA • Os condenados por crimes hediondos e assemelhados deverão cumprir pena em estabelecimentos penais de segurança máxima – art. 3º. LIVRAMENTO CONDICIONAL EM CRIMES HEDIONDOS • O LC p/ crimes hediondos e assemelhados somente poderá ser concedido ante o preenchimento dos requisitos genéricos do art. 83 do CPB, além de 02 requisitos específicos impostos pela Lei n. 8.072/90: a) cumprimento de mais de 2/3 da pena; b) ausência de reincidência específica por parte do apenado. BANDO OU QUADRILHA PARA A PRÁTICA DE CRIMES HEDIONDOS • Segundo o art. 8º da Lei n. 8.072/90: • Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. • Temos, no Dir. Brasileiro, 03 espécies de bando ou quadrilha: • bando ou quadrilha genérica – art. 288 do CPB; • bando ou quadrilha específica p/ prática de crimes hediondos e assemelhados – art. 8º da Lei n.º 8.072/90; • bando ou quadrilha específica p/ prática de tráfico de drogas (02 ou mais pessoas) – art. 35 e 36 da Lei n.º 11.343/06 – pena 03 a 10 anos de reclusão e pg de 700 a 1200 dias-multa. DELAÇÃO PREMIADA • A Lei n. 8.072/90 prevê ainda a delação premiada p/ o crime de bando ou quadrilha envolvendo crimes hediondos e assemelhados, senão vejamos o parágrafo único do art. 8º: • O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um adois terços. • - Essa causa de diminuição de pena somente se aplica ao crime de bando ou quadrilha p/ a prática de crimes hediondos e assemelhados, ou seja, não se aplica ao tipo básico previsto no art. 288 do CPB. CAUSAS ESPECIAIS DE AUMENTO DE PENA • O art. 9º da Lei dos Crimes Hediondos prevê a incidência de causas especiais de aumento de pena, senão vejamos: • As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal. PENAL. RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO. AUMENTO PREVISTO NO ART. 9º DA LEI Nº 8.072/90. VIOLÊNCIA REAL E GRAVE AMEAÇA. INCIDÊNCIA. SUPERVENIÊNCIA DA LEI Nº 12.015/2009. I - Esta Corte firmou orientação de que a majorante inserta no art. 9º da Lei nº 8.072/90, nos casos de presunção de violência, consistiria em afronta ao princípio ne bis in idem. Entretanto, tratando-se de hipótese de violência real ou grave ameaça perpetrada contra criança, seria aplicável a referida causa de aumento. (Precedentes). II - Com a superveniência da Lei nº 12.015/2009 restou revogada a majorante prevista no art. 9º da Lei dos Crimes Hediondos, não sendo mais admissível a sua aplicação para fatos posteriores à sua edição. Não obstante, remanesce a maior reprovabilidade da conduta, pois a matéria passou a ser regulada no art. 217-A do CP, que trata do estupro de vulnerável, no qual a reprimenda prevista revela-se mais rigorosa do que a do crime de estupro (art. 213 do CP). III - Tratando-se de fato anterior, cometido contra menor de 14 anos e com emprego de violência ou grave ameaça, deve retroagir o novo comando normativo (art. 217-A) por se mostrar mais benéfico ao acusado, ex vi do art. 2º, parágrafo único, do CP.
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