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Robinson Henriques Alves São Paulo Rede Internacional de Universidades Laureate 2015 Direito Empresarial Robinson Henriques Alves São Paulo Rede Internacional de Universidades Laureate 2015 Sumário Capítulo 1: Introdução ao Direito Empresarial ------------------------------------------------5 Introdução ------------------------------------------------------------------------------------------5 1 Conceitos e definições -------------------------------------------------------------------------6 1.1 Conceito de empresa -----------------------------------------------------------------------6 1.2 Conceito de empresário --------------------------------------------------------------------6 2 Constituição social da empresa ---------------------------------------------------------------8 2.1 Sociedade empresária ----------------------------------------------------------------------8 2.2 Sociedade Limitada (Ltda.) -----------------------------------------------------------------9 2.3 Sociedade simples ------------------------------------------------------------------------- 10 2.4 Obrigações dos empresários ------------------------------------------------------------- 11 3 Falência e recuperação judicial de empresas (Lei no 11.101/05) --------------------- 11 3.1 Falência ------------------------------------------------------------------------------------- 11 3.2 Recuperação judicial ---------------------------------------------------------------------- 13 4 Contratos mercantis -------------------------------------------------------------------------- 14 4.1 Factoring (fomento mercantil) ------------------------------------------------------------ 14 4.2 Leasing (arrendamento mercantil) ------------------------------------------------------- 14 4.3 Compra e venda mercantil --------------------------------------------------------------- 15 Síntese -------------------------------------------------------------------------------------------- 16 Referências Bibliográficas ---------------------------------------------------------------------- 17 5 Capítulo 1Introdução ao Direito Empresarial Introdução Este Capítulo tem por objetivo a identificação dos princípios teóricos que regem a legislação comercial no Brasil e o entendimento do funcionamento das empresas do ponto de vista jurídico. 6 Laureate- International Universities Introdução ao Direito Empresarial 1 Conceitos e definições O Direito empresarial, antigo Direito comercial, é o ramo do Direito que estuda as relações que envolvem a empresa e o empresário. Nessas relações estão o estudo da empresa, o Direito societário, as relações de título de crédito, as relações de Direito concorrencial, as relações de Direito intelectual e industrial e os contratos mercantis. As principais fontes do Direito empresarial são o Código Comercial (Lei no 556, de 25 de junho de 1850), o Código Civil (Lei no 10.406 de 10 de junho de 2002), os tratados e regulamentos comerciais, e também os usos e costumes do comércio. NÃO DEIXE DE VER... Mauá – O Imperador e o Rei é um filme brasileiro de 1999, dirigido por Sérgio Rezende, que nos dá uma boa perspectiva histórica sobre a elaboração do Código Comercial de 1850. 1.1 Conceito de empresa O estudante deve ter cuidado com a utilização que fazemos no dia a dia do vocábulo “empresa”, que tem um significado próprio para o Direito. Nas palavras do professor Marlon Tomazette: A empresa, entendida como a atividade econômica organizada, não se confunde nem com o sujeito exercente da atividade, nem com o complexo de bens por meio dos quais exerce a atividade, que representam outras realidades distintas. (TOMAZETTE, 2014, p. 41). Esse conceito demonstra que empresa não é sinônimo de empresário (“sujeito exercente da atividade”), tampouco de estabelecimento comercial (“complexo de bens por meio dos quais exerce a atividade”). 1.2 Conceito de empresário O Código Civil (Lei no 10.406 do dia 10 de junho de 2002), no seu artigo 966, traz expressamente o conceito de empresário: Art. 966 Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Esse conceito deve ser desdobrado em diversas caraterísticas para seu completo entendimento. A atividade econômica, sempre com fins lucrativos, deve ser exercida com profissionalismo, que é qualificado pela habitualidade, pela pessoalidade e pelo monopólio das informações. A habitualidade indica que a atividade econômica não pode ser esporádica, como a pessoa que está de mudança para uma casa menor e se desfaz de seus móveis promovendo um bazar em sua garagem. Ao contrário, a pessoa deve manter a empresa de maneira constante, repetida. 7 A pessoalidade, por sua vez, aponta para o fato de que o empresário não necessita exercer sua profissão sozinho, sem a ajuda de outra espécie de mão de obra. Pode, então, exercer sua atividade econômica por prepostos. O monopólio das informações evidencia que o empresário conhece tudo aquilo que envolve sua atividade, como insumos necessários, qualificação da mão de obra, tempo de produção etc. A organização dos fatores de produção é outra condição para definir o empresário. Os fatores de produção do empresário são o capital, a mão de obra, os insumos e a tecnologia (Know-how) própria para o desenvolvimento do negócio. Somente se pode falar em empresário se houver produção e/ou circulação de bens e/ou de serviços. A produção de bens é a transformação de um material em outro, por exemplo, a borracha em pneus; a circulação, por sua vez, se dá na transferência do bem de uma pessoa para outra, como a venda de pneus. Já quando se fala em serviços, pode se citar como exemplos de produção o transporte aéreo de pessoas e a circulação com a venda por agência de turismo de passagem aérea. Outro elemento essencial para que se reconheça a atividade do empresário é a assunção do risco. O empresário assume o risco total da empresa, sem garantia, com sua remuneração sendo intimamente atrelada aos resultados da empresa. Por fim, é importante ressaltar que algumas atividades não constituem prática empresarial, como enunciado no parágrafo único do mesmo artigo 966 do Código Civil: Art. 966 [...] Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. O empresário pode ser pessoa natural (o empresário individual) ou pessoa jurídica (sociedade empresarial). Para ser empresário individual, uma pessoa deve ter capacidade civil e não ser impedida por lei. As pessoas impedidas por lei são: os funcionários públicos; os militares das forças armadas na ativa; os falidos enquanto não estiverem reabilitados; os estrangeiros não residentes no país; e os membros auxiliares do comércio, como os leiloeiros. Em algumas situações, há exceção à capacidade civil. Um incapaz pode ser empresário individual com representação ou assistência e autorização judicial prévia, que será concedida em duas hipóteses: herança ou incapacidade superveniente (art. 974 CC). A incapacidade superveniente é aquela que acarreta a perda da capacidade por quem era capaz. Exemplo: uma pessoa que sofreu um acidente de trânsito e ficou em coma. O empresário também pode ser uma pessoa jurídica, isto é, “a entidade abstrata com existência e responsabilidade jurídicas, por exemplo, uma associação, empresa, companhia, legalmente autorizadas”.1 1 Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/pessoa%20jur%C3%ADdica/>. Acesso em: 31 maio 2015. 8 Laureate- International Universities Introdução ao Direito Empresarial Atenção! Não devem ser confundidas duas expressões que, na linguagem comum, são utilizadascomo sinônimas: empresário e sócio. Empresário é a pessoa natural ou jurídica que exerce a atividade econômica. Sócio é o investidor da sociedade empresária. NÓS QUEREMOS SABER! 2 Constituição social da empresa A pessoa jurídica, quando opta pelo exercício de atividade lucrativa, é denominada sociedade. Se a atividade for aquela reservada aos empresários, será classificada como sociedade empresarial; em outros casos, será uma sociedade simples. Ambas podem se constituir segundo os vários tipos societários admitidos pela legislação brasileira: sociedade simples, sociedade em comandita por ações, sociedade em nome coletivo, sociedade anônima, sociedade em comandita simples, sociedade limitada, cooperativa. Pessoa Jurídica é aquela que, sendo incorpórea, é compreendida por uma entidade coletiva ou artificial, legalmente organizada, com fins políticos, sociais, econômicos e outros, a que se destine, com existência autônoma, independente dos membros que a integram. É sujeita, ativa ou passivamente, a direitos e obrigações. As Pessoas Jurídicas classificam-se de acordo com a sua natureza, constituição e finalidades, em Pessoas Jurídicas de Direito Público (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e Pessoas Jurídicas de Direito Privado (sociedades civis, sociedades comerciais e fundações). NÓS QUEREMOS SABER! 2.1 Sociedade empresária Quando uma atividade necessita de investimentos, de capacitação e de articulação, forma-se o que chamamos de sociedade empresarial. Existem vários tipos de sociedades empresariais, com diversos tipos de gestão, de acordo com as finalidades almejadas. A sociedade empresarial é uma forma jurídica utilizada para a exploração de atividade econômica. É a sociedade empresarial que, como Pessoa Jurídica, explora a empresa. Fábio Ulhoa Coelho ensina que “as sociedades empresariais são sempre personalizadas, ou seja, são pessoas distintas dos sócios, titularizam seus próprios direitos e obrigações” (COELHO, 2010, p. xx). O artigo 997 do Código Civil indica quais são as cláusulas essenciais para o registro do contrato social na Junta Comercial: qualificação dos sócios, objeto social, nome empresarial, sede, prazo 9 de duração, capital social, cotas de cada sócio e nomeação do administrador. Sem esses itens, o contrato social não poderá ser registrado. 2.2 Sociedade Limitada (Ltda.) Um dos tipos societários que podem ser escolhidos pela Pessoa Jurídica é o da sociedade limitada, regida pelos artigos 1052 a 1087 do Código Civil. A sociedade limitada, como outros tipos societários, é formada por duas ou mais pessoas e tem como nota característica o fato de os sócios não responderem, via de regra, com seu patrimônio pessoal, pelas dívidas contraídas pela sociedade. Nesse sentido, para o registro de uma sociedade empresária, é necessário que no contrato social conste o capital social que pode ser definido como o valor dos recursos que os sócios se comprometem em contribuir para formação do patrimônio da sociedade. Precisam ser ressaltadas duas situações contidas nessa definição: o comprometimento em contribuir para a formação do capital social, que é a subscrição de cotas; e a contribuição propriamente dita, que é a integralização. Na formação do capital social, então, temos o primeiro ato, a subscrição e, a seguir, o sócio deve proceder à integralização cumprindo com a sua obrigação de contribuir para a formação do capital social. Essa integralização se dá pela transferência de patrimônio particular do sócio, que formará o patrimônio da sociedade, e pode ser feita com a entrega de capital, bens ou créditos. Jamais, entretanto, em serviços. A partir desse momento, o patrimônio do sócio não se confundirá mais com o patrimônio da sociedade, ficando resguardado em relação às dívidas sociais. Algumas exceções, contudo, existem e podem excepcionalmente fazer com que os bens dos sócios sejam utilizados para a satisfação de obrigações da sociedade. Elas ocorrerão nas hipóteses de fraude, de dívidas trabalhistas ou de dívidas com consumidores. É importante ressaltar que, como as pessoas naturais, as Pessoas Jurídicas também devem ter um nome que as identifiquem. Podem, então, ter uma firma ou uma denominação. É a lei que determina, para cada tipo societário, qual dessas modalidades será usada. Conforma ensina Fábio Ulhoa Coelho: A firma e a denominação se distinguem em dois planos, a saber: quanto à estrutura, ou seja, aos elementos linguísticos que podem ter por base; e quanto à função, isto é, a utilização que se pode imprimir ao nome empresarial. No tocante à estrutura, a firma só pode ter por base nome civil, do empresário individual ou dos sócios da sociedade empresarial. O núcleo do nome empresarial dessa espécie será sempre um ou mais nomes civis. Já a denominação deve designar o objeto da empresa e pode adotar por base nome civil ou qualquer outra expressão linguística (que a doutrina costuma chamar de elemento fantasia). Assim, “A. Silva & Pereira Cosméticos Ltda” é exemplo de nome empresarial baseado em nomes civis; já “Alvorada Cosméticos Ltda” é nome empresarial baseado em elemento fantasia. (COELHO, 2010, p. xx). Você o conhece o site da Junta Comercial do Estado de São Paulo? Faça uma pesquisa em <www.jucesponline.sp.gov.br> e verifique qual é o tipo societário mais utilizado no estado de São Paulo. NÓS QUEREMOS SABER! 10 Laureate- International Universities Introdução ao Direito Empresarial 2.3 Sociedade simples Outro tipo de sociedade é a sociedade simples, reservada às atividades não empresariais. O Código Civil brasileiro, no seu artigo 982, distingue os conceitos de sociedade empresarial dos de sociedade simples: Art. 982 Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Desse dispositivo podemos concluir que, ao contrário das sociedades empresariais, as sociedades simples não são sujeitas ao registro. Nas palavras de Marlon Tomazette: “assim, são sociedades simples aquelas que exercem as atividades não empresariais (nas quais a organização é menos importante que a atividade pessoal) ou atividade de empresário rural sem se registrar na Junta Comercial” (TOMAZETTE, 2014, p. 305). Contrariamente às sociedades empresariais, que são registradas na Junta Comercial, as sociedades simples devem se registrar no Registro Civil das Pessoas Jurídicas no prazo de 30 dias a partir de sua constituição e no seu contrato social devem constar: a qualificação dos seus sócios e da sociedade (nome, objeto, sede, prazo de duração); o montante de seu capital social (formação e divisão); a participação dos sócios nos lucros ou nas perdas; se estes respondem pelas obrigações societárias; e quais são as pessoas responsáveis por sua administração. Uma sociedade simples, pois, é a espécie de sociedade personificada que irá exercer a sua atividade de forma não empresarial, ou seja, sem profissionalismo ou sem organizar os fatores de produção, por exemplo, uma sociedade de médicos cuja mão de obra são os próprios médicos. Uma sociedade simples pode revestir várias formas societárias. Pode ser limitada, em comandita simples, em nome coletivo ou, ainda, ser uma cooperativa. A sociedade será da espécie simples ainda que exerça atividade com profissionalismo e de forma organizada, se exercer profissão intelectual de natureza científica, literária ou artística, salvo se no exercício da profissão for constituído elemento de empresa, nos termos do parágrafo único do art. 966 CC, como no caso de médicos que, num primeiro momento, exercem sua profissão conjuntamente em um consultório médico, cuja mão de obra é deles mesmos e, com o passar do tempo, o consultório se transforma num hospital, e a mão de obra deixa de ser deles,mas é por eles organizada. Aqui, a sociedade inicialmente simples, em razão do elemento de empresa, passará a ser empresária. Caso a sociedade simples opte por não adotar nenhum tipo societário específico, conforme é facultado, será considerada uma sociedade simples pura, hipótese em que seus sócios responderão ilimitadamente pelas obrigações sociais. 11 Figura 1 – ... Fonte: Sociedade Personificadas - Empresária - Limitada - Sociedade Anônima - Nome Coletivo - Comandita Simples - Comandita porações - Cooperativas- Simples Não Personificadas - Em comum - Em conta de participação 2.4 Obrigações dos empresários Os empresários, para que sejam considerados regulares, devem atender a três obrigações, quais sejam: o registro do contrato na Junta Comercial; a manutenção de registros regulares nos livros de registro; e os balanços anuais. O registro da sociedade deve ser feito no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins (comumente chamado de Junta Comercial) de sua respectiva sede antes de iniciar o exercício de sua atividade. Além do registro, o empresário deverá manter registros regulares nos livros de registros obrigatórios, sendo o livro diário o único obrigatório para todos os empresários. A terceira obrigação é a elaboração anual do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico. 3 Falência e recuperação judicial de em- presas (Lei no 11.101/05) Assim como a pessoa natural chega ao seu final no momento de sua morte, a Pessoa Jurídica também pode se encerrar. Seu encerramento pode ocorrer consensualmente, administrativamente ou judicialmente. Consensualmente, chega ao fim a sociedade por vontade dos sócios; administrativamente, em decorrência da inexequibilidade de seu objeto social; e judicialmente, por ordem do Poder Judiciário, como é o caso da falência. 3.1 Falência A falência é uma forma de execução concursal dos bens que integram o patrimônio do empresário devedor que se encontre juridicamente insolvente, conforme a Lei n° 11.101 de 9 de fevereiro de 2005. Contudo, alguns requisitos devem ser observados para que ocorra a falência: 12 Laureate- International Universities Introdução ao Direito Empresarial Somente o empresário pode ser sujeito da falência, sendo excluídas, no entanto, as empresas públicas e sociedades de economia mista, ou ainda as instituições financeiras que são objeto de liquidação extrajudicial. O pedido de falência, entretanto, pode ser feito por várias categorias de pessoas: o próprio empresário devedor (autofalência), credores, o cônjuge sobrevivente, herdeiros ou inventariantes, no caso de Pessoa Física, ou mesmo os sócios da sociedade empresária. Por outro lado, a insolvência jurídica se consubstancia pela impontualidade injustificada, execução frustrada ou prática de atos de falência: a) Impontualidade injustificada O empresário poderá ter a sua falência decretada sempre que não pagar na data do vencimento, sem relevante razão de direito, obrigação superior a quatro salários mínimos representada em título executivo devidamente protestado. b) Execução frustrada O empresário devedor poderá ter a sua falência decretada sempre que, ao ser executado por qualquer quantia não paga, não depositada, nem forem nomeados bens à penhora no prazo legal. c) Atos de falência O empresário devedor poderá ter sua falência decretada sempre que praticar um dos comportamentos previstos nas alíneas do art. 94, II, chamados de atos de falência: abandono do estabelecimento comercial, sem deixar representante habilitado; alienação irregular do estabelecimento empresarial; descumprimento do plano de recuperação judicial. Com a decretação da falência, algumas providências são tomadas: A primeira delas é a mensuração do ativo que consiste na prática de determinados atos que têm por finalidade propiciar o conhecimento dos bens que integram o patrimônio do falido e formam a massa falida. São arrecadados os bens e documentos que estiverem na posse do falido. A mensuração do passivo é a etapa seguinte durante a qual são praticados atos para que sejam conhecidos os credores do falido. A seguir, ocorre a liquidação do ativo, que nada mais é do que a venda dos bens arrecadados. Por fim, há a satisfação do passivo, pagando-se os credores. Deve-se pagar primeiro os credores extraconcursais: administrador judicial, perito, imprensa, que são despesas que surgiram depois da decretação da falência. A seguir, são pagos os credores concursais, nesta ordem: a) Créditos trabalhistas até 150 salários mínimos e acidentes de trabalho; b) Créditos com garantia real; c) Créditos tributários; d) Créditos privilegiados especiais: decorrem de lei especial; e) Créditos privilegiados gerais; f) Créditos quirografários (excesso aos 150 salários mínimos); g) Multas decorrentes de infrações legais e contratuais; h) Créditos subordinados (sócios, acionistas). 13 A pessoa não é considerada falida para sempre, já que pode ser reabilitada. A reabilitação do falido consiste na declaração por decisão judicial da extinção de todas as obrigações decorrentes da falência, havendo quatro hipóteses: pagamento de todos os credores; pagamento de ao menos 50% dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido utilizar recursos próprios para atingir tal percentual; após 5 anos do encerramento do processo falimentar, desde que o falido não tenha sido condenado por crime falimentar; após 10 anos, se houver condenação por crime falimentar. 3.2 Recuperação judicial O artigo 47 da Lei n° 11.101 define o conceito de recuperação judicial nos seguintes termos: Art. 47 A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Conforme o artigo 48 da mesma lei, poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: não ser falido; não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio-controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nessa lei. Nota-se também que a recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio-remanescente. Existem vários meios de recuperação judicial, todos eles elencados no artigo 50 da Lei n° 11.101. A recuperação judicial pode se dar mediante concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas; cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos administrativos; concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto em relação às matérias que o plano especificar; aumento de capital social; trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios empregados; redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva; dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria ou de terceiro; constituição de sociedade de credores; venda parcial dos bens; equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratosde crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica; usufruto da empresa; administração compartilhada; emissão de valores mobiliários; ou ainda pela constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar em pagamento dos créditos os ativos do devedor. Esses meios de recuperação serão apresentados pelo devedor por meio do Plano de Recuperação Judicial no prazo de 60 dias a contar da decisão que deferir a recuperação judicial, sob pena de convolação em falência. O plano será apreciado pelos credores e, caso não seja aprovado, o juiz decretará a falência da empresa. 14 Laureate- International Universities Introdução ao Direito Empresarial 4 Contratos mercantis Contratos mercantis são aqueles celebrados entre empresários e que se submetem ao regime jurídico do Direito Civil, por exemplo, o arrendamento mercantil (leasing), a faturização (factoring) e a compra e venda mercantil, que serão estudados a seguir. 4.1 Factoring (fomento mercantil) O Factoring, ou fomento mercantil, foi definido pela Lei no 8.981/95 (revogada), como a: [...] prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring). Essa definição legal, entretanto, não contempla suas modalidades, diferentemente daquela exposta por Fábio Ulhoa Coelho, que deve ser preferida àquela: O fomento mercantil (factoring) é o contrato pelo qual um empresário (faturizador) presta a outro (faturizado) serviços de administração do crédito concedido e garante o pagamento das faturas emitidas (maturity factoring). É comum, também, o contrato abranger a antecipação do crédito, numa operação de financiamento (conventional factoring). (COELHO, 2010, p. xx). Dessa forma, um empresário, o faturizado, que tenha créditos que serão descontados a prazo, pode vendê-los a outro, o faturizador. Assim, o empresário pode receber de forma rápida seus créditos, aumentando sua liquidez e, portanto, sua capacidade de realizar novos negócios. Consoante se depreende da definição de Fábio Ulhoa Coelho, temos duas modalidades de factoring: o maturity factoring e o conventional factoring. No maturity factoring, ocorre o contrato de administração dos créditos do faturizado, enquanto no conventional factoring, tem-se a compra dos créditos do faturizado pelo faturizador, o que é a operação mais comum. 4.2 Leasing (arrendamento mercantil) O leasing (arrendamento mercantil, em português) encontra-se disciplinado pela Lei no 6099/74, sendo definido, segundo o parágrafo único de seu art. 1º como: [...] o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta. Isso quer dizer que a pessoa que é proprietária de um bem deixa que outra o utilize, por prazo determinado e mediante o pagamento de prestações periódicas. No final desse prazo, o arrendatário tem a opção de adquirir o bem objeto do negócio jurídico pelo valor residual. Para que o contrato de arrendamento mercantil seja válido, ele precisa conter: o prazo do contrato; o valor de cada contraprestação por períodos determinados, não superiores a um semestre; opção de compra ou renovação de contrato, como faculdade do arrendatário; preço para opção de compra ou critério para sua fixação, quando for estipulada essa cláusula. O leasing pode ser classificado em leasing financeiro, que é realizado por instituições financeiras 15 expressamente autorizadas pelo Conselho Monetário Nacional, na forma do art. 9º da Lei no 6099/74. Podemos utilizar como exemplo o arrendamento mercantil de automóvel por intermédio de uma instituição bancária, na qual temos três pessoas interessadas: a concessionária que fornece o automóvel, a instituição financeira (arrendadora) e o cliente (arrendatário). No final do contrato, o cliente teria a opção entre comprar o bem, renovar o leasing ou devolver o bem. Outra modalidade é o Ieasing operacional, segundo o qual, além do uso de determinado bem, ainda são asseguradas a assistência técnica e a manutenção. Por fim, temos o leasing de retorno ou lease back. Por esse tipo de leasing, uma sociedade vende a outra um bem que lhe é arrendado de volta. Esse tipo de operação pode parecer sem utilidade, mas é uma boa forma de levantamento rápido de recursos, pois a Sociedade A vende bem à Sociedade B, que arrenda à Sociedade A aludido bem. Ora, no final da operação, a Sociedade A, primeira proprietária do bem e arrendatária, tem a opção de comprá-lo de volta. Para a Sociedade A, essa operação pode ser vantajosa, por deixá-la com caixa para realizar seus negócios. 4.3 Compra e venda mercantil O último contrato que veremos neste Capítulo é o de compra e venda mercantil. O Código Civil, nos artigos 481 e seguintes, regulamenta os contratos de compra e venda. Dita o art. 481: “Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”. Com fundamento nesse artigo, pode-se definir a compra e venda como a transferência do domínio de certa coisa de uma pessoa a outra, mediante o pagamento de seu preço em dinheiro. Por exemplo, quando Maria vende seu automóvel a José, estamos diante de uma venda e compra; quando a concessionária de automóveis vende um automóvel a José, temos uma venda e compra; existe, ainda, venda e compra quando a indústria automobilística vende carros à concessionária. Três situações diferentes, três relações de venda e compra. Porém, elas são iguais? Na primeira hipótese, em que Maria vende seu automóvel a José, verifica-se que é um negócio realizado entre dois particulares. Nenhum dos dois atuou na venda como empresário, pois faltou ao menos o profissionalismo na atividade. Nesse caso, o contrato tem natureza civil e será regido pelas normas de Direito Civil. No segundo exemplo, temos a venda de um automóvel por uma concessionária a José, um particular (poderia ser uma Pessoa Jurídica), para uso próprio. José é o consumidor final do produto vendido. Existe uma relação de consumo, que será regida pelas regras do Direito do Consumidor, com certas especificidades, como o prazo de garantia. Por fim, no último caso, a concessionária que compra os automóveis não é consumidora final porque não utilizará os bens, apenas fará a revenda. Aqui estamos diante de uma venda e compra mercantil, assim definida por Fábio Ulhoa Coelho: A compra e venda é mercantil quando comprador e vendedor são empresários. Trata- se do contrato elementar da atividade empresarial. Numa esquematização simples, o comércio pode ser explicado como a sucessão de contratos de compra e venda. O importador compra o produto do fabricante sediado no exterior e o revende ao atacadista, que o revende ao varejista e assim por diante. (COELHO, 2010, p. xx). 16 Laureate- International Universities Introdução ao Direito Empresarial Neste Capítulo, estudamos os principais temas em torno da organização da empresa. Vimos, num primeiro momento, a distinção dos conceitos de empresa e de empresário. Deparamos com as regras de constituição social de uma empresa, o papel do empresário e suas obrigações legais. Analisamos o funcionamento da falência e de que maneira uma empresa pode pleitear sua recuperação judicial, conforme a Lei no 11.101/05. Por fim, estudamos alguns contratos mercantis, como o factoring, o leasing e a compra e venda mercantil. Agora que se tornou mais claro o funcionamento empresarial, você está pronto para montar sua própria empresa? SínteseSíntese17 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2. TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2014. v. 1. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/pessoa%20jur%C3%ADdica/>. Acesso em: 31 maio 2015. ReferênciasBibliográficas 4 Contratos mercantis 4.1 Factoring (fomento mercantil) 4.2 Leasing (arrendamento mercantil) 4.3 Compra e venda mercantil 3 Falência e recuperação judicial de empresas (Lei no 11.101/05) 3.1 Falência 3.2 Recuperação judicial 1 Conceitos e definições 1.1 Conceito de empresa 1.2 Conceito de empresário Introdução 2 Constituição social da empresa 2.1 Sociedade empresária 2.2 Sociedade Limitada (Ltda.) 2.3 Sociedade simples 2.4 Obrigações dos empresários Síntese
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