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A NATUREZA DAS ATITUDES Eagly, A. H. e Chaiken, S. Algumas pessoas apoiam políticas sociais como a legalização do aborto ou assistência de saúde aos pobres, e outros se opõem a estas políticas. Algumas pessoas endossam ideologias como o feminismo ou o conservadorismo político, enquanto outros as desaprovam. Algumas pessoas estão satisfeitas com seus empregos, e outras não. Entender diferenças individuais como estas tem sido a muito tempo um interesse de psicólogos sociais, que usam o conceito de atitude para descrevê-las. Na linguagem da psicologia social, uma pessoa que é a favor da legalização do aborto é vista como possuidora de uma atitude positiva em relação a esta política, enquanto uma pessoa que não é favorável em relação à legalização do aborto é vista como possuidora de uma atitude negativa em relação a esta política. Psicólogos sociais têm tradicionalmente suposto que as avaliações das pessoas a respeito de políticas sociais e outras entidades em seu ambiente social têm grandes conseqüências. Têm-se postulado que as atitudes motivam o comportamento e exercem efeitos seletivos em vários estágios do processamento de informações (ex., atenção, percepção, evocação). Acredita-se que as atitudes discrepantes que freqüentemente caracterizam diferentes subgrupos de uma sociedade estão por trás do conflito social que questões políticas e sociais às vezes engendram. Por causa da importância atribuída às atitudes como causa de fenômenos individuais tais como comportamento atitude-consistente e percepção seletiva, assim como de fenômenos societários tais como discriminação e conflitos sociais, o conceito de atitude tornou-se um constructo fundamental para a maioria dos cientista sociais. Embora a pesquisa sobre atitudes seja popular em todas as ciências sociais, o constructo tem sido mais central para a psicologia social do que para qualquer outra disciplina acadêmica. A afirmação de Allport (1935) de que “o conceito de atitude é provavelmente o mais distinto e indispensável conceito na psicologia social americana contemporânea” (p.198) é válida hoje do mesmo modo que era a cinqüenta anos atrás. Apesar de algumas flutuações na popularidade da pesquisa sobre atitude (ver McGuire, 1986b), o conceito de atitude permanece de amplo uso na psicologia social e tem sido foco de extensivo desenvolvimento empírico e teórico desde os anos 20. É esta literatura sobre psicologia social a respeito de atitudes que é o assunto principal de nosso livro. DEFINIÇÃO DE ATITUDE A definição conceitual de atitude que nós utilizamos neste livro é a seguinte: Atitude é uma tendência psicológica que é expressa pela avaliação de uma entidade particular com algum grau de favorabilidade ou desfavorabilidade. Como nós iremos explicar em mais detalhes, tendência psicológica refere-se a um estado que é interno à pessoa, e avaliação refere-se a todas as classes de respostas avaliativas, evidentes ou ocultas, cognitivas, afetivas, ou comportamentais. Esta tendência psicológica pode ser considerada como um tipo de influência que predispõe o indivíduo a respostas avaliativas que são positivas ou negativas. Um atitude se desenvolve com base em uma resposta avaliativa: Um indivíduo não tem uma atitude até que ele ou ela responda avaliativamente a uma entidade em uma base afetiva, cognitiva ou comportamental. Resposta avaliativa, sendo evidente ou oculta, pode produzir uma 2 tendência psicológica a responder com um grau particular de avaliação ao encontrar subseqüentemente o objeto atitudinal. Se esta tendência para resposta é estabelecida, a pessoa formou uma atitude em relação ao objeto. Além do mais, uma representação mental da atitude pode ser armazenada na memória e pode, portanto, ser ativada pela presença do objeto atitudinal ou indícios relacionados a ele. Em termos desta definição, atitude é um de vários constructos hipotéticos utilizados por psicólogos (MacCorquodale & Meehl, 1948). Assim como outros constructos hipotéticos, atitudes não são diretamente observáveis mas podem ser inferidas a partir de respostas observáveis. As observações relevantes são respostas que são eliciadas por (ou ocorrem em conjunção próxima com um certo estímulo. Como uma estratégia geral em psicologia social, quando certos tipos de respostas são eliciados por uma certa classe de estímulos, os psicólogos inferem que algum estado mental (ex., humor, emoção, atitude) ou disposição mental (ex., característica de personalidade) estava comprometido. Diz-se que é este estado ou disposição que explica a co-variação entre estímulos e respostas. Atitude é um de vários disposições ou estados implícitos que os psicólogos construíram para explicar por que as pessoas reagem de certos modos na presença de certos estímulos. Se os psicólogos usam o termo atitude ou algum outro constructo para explicar uma co-variação observada entre estímulos e respostas, isto depende das convenções que ele estabeleceu para definir estes estados internos que estão implicados na definição da atitude como uma tendência avaliativa. ATITUDES COMO TENDÊNCIAS Um aspecto deste estado interno é inerente a nossa definição de atitude como tendências. Referindo-nos a uma atitude como uma tendência, nós intecionamos implicar que a atitude é um estado interno que dura ao menos um curto período. Assim como o termo tendência, o termo disposição tem sido usado por psicólogos para referirem-se a tais estados internos, e, também, alguns psicólogos sociais têm usado o termo disposição (ou predisposição) em suas definições de atitude (ex., Ajzen, 1984; Chein, 1948; D. Davis & Ostrom, 1984). Por exemplo, Donald Campbell (1963), em sua discussão amplamente lida sobre o constructo atitude tratou a atitude como uma disposição comportamental adquirida, isto é, um estado aprendido que cria uma inclinação para responder de maneira peculiar. Além da atitude, Campbell refletiu a respeito de conceito, hábito, ‘schema’, e vários outros constructos como exemplos de disposições comportamentais adquiridas. No entanto, porque o termo disposição é freqüentemente usado por psicólogos e leigos para descrever a personalidade, o termo tende a conotar estados que perduram por um período relativamente longo. Ainda algumas atitudes são relativamente temporárias e mutáveis, especialmente se elas não são importantes para as pessoas que as possuem (ver Capítulo 12). Porque o termo tendência não implica necessariamente uma estado de longa duração, nós preferimos usar este termo em nossa definição do constructo atitude, embora várias atitudes, é claro,são bem duradouras. Apesar da definição de Campbell (1963) de atitude como adquirida e da suposição de vários outros teóricos que atitudes são aprendidas (ex., Allport, 1935; Doob, 1947), é melhor que não seja incluída a idéia que atitudes são aprendidas na definição do constructo atitude. Ao invés disto, a definição de atitude deve permitir a possibilidade de que algumas atitudes não sejam totalmente aprendidas, que elas originem-se, ao menos parcialmente, a partir de alguma base biológica. Por exemplo, McGuire (1985) sugeriu que algumas atitudes podem surgir de fontes genéticas, e esta sugestão tem recebido algum apoio da pesquisa sociobiológica (ex., Lumsden & Wilson, 1081) e estudos sobre atitudes de geneticistas comportamentais baseados em gêmeos 3 criados juntos e separados (ex., Lykken, 1982; Waller, Kojetin, Bouchard, Lykken, & Tellegen, 1990). Além do mais, a argumentação de Zajonc (1980b, 1984; Zajonc, Murphy, & Inglehart, 1989) de que o afeto pode ser disparado por ‘input’ puramente sensorial sem a mediação de processos mentais superiorestambém apoia a visão de que algumas atitudes podem ter um componente não aprendido. Embora as atitudes mais amplamente estudadas por psicólogos sociais são provavelmente aprendidas, não é prudente que os teóricos excluam por mandato definicional atitudes que não são adquiridas a partir da experiência. Deve ser evidente agora que nossa definição de atitude em termos de uma tendência que é expressada avaliando uma entidade com alguma grau de favorabilidade ou desfavorabilidade possua vantagens em termos de suas generalidade. Esta definição prontamente inclui atitudes que são aprendidas e não aprendidas, duráveis e mutáveis, e importantes e não importantes. ATITUDES COMO AVALIATIVAS Nossa definição de atitude como uma tendência avaliativa presume que a atitude é um estado avaliativo que intervém entre certas classes de estímulos e certas classes de respostas (ver Figura 1.1). Além do mais, presume-se que este estado avaliativo explique a co-variação entre estes estímulos e estas respostas. Explicar o importante papel da avaliação nesta definição requer uma discussão sobre as classes de estímulos e respostas cuja co-variação é habitualmente atribuída às atitudes. Nós primeiro consideramos o problema das respostas. As respostas que são consideradas como atitudinais são avaliativas por natureza, onde avaliação é definida como a atribuição de algum grau de bondade ou maldade a uma entidade. Porque a avaliação é a característica crítica das atitudes, as respostas observáveis relevantes para a inferência da presença de uma atitude são,. portanto, aquelas que são consideradas como revelando ou expressando avaliação. Deste modo, respostas avaliativas são aquelas que expressam aprovação ou reprovação, favorabilidade ou desfavorabilidade, gostar ou não gostar, aproximação ou evitação, atração ou aversão, ou reações similares. Considera-se que as respostas avaliativas e as tendências que supostamente estão por detrás delas diferem em valência e direção, porque elas podem ser bifurcadas em avaliações positivas e negativas. Além do mais, avaliações de uma dada valência difere em intensidade e extremidade, quando , por exemplo, avaliações muito positivas são distinguidas de avaliações moderadamente positivas, as quais são, por sua vez, distinguidas de avaliações ligeiramente positivas. Portanto, os cientistas sociais freqüentemente representam o estado hipotético que eles supõem que está por trás do ato de responder avaliativamente como uma posição num contínuo bipolar ou dimensão que varia de extremamente positiva a extremamente negativa e isto inclui 4 um ponto de referência de neutralidade. A tarefa de medir atitudes, a qual nós examinamos no Capítulo 2, é a de ordenar pessoas em termos desta variável quantitativa latente. 1 Avaliação, a atribuição de algum grau de bondade ou maldade a uma entidade, pode ser considerada como um aspecto da atribuição de significado a entidades do ambiente. Embora pesquisadores de atitude tenham sido ocasionalmente criticados por sua ênfase na avaliação (McGuire, 1985), esta tradição tem permanecido muito forte ao longo dos anos. Em um sentido mais amplo, a utilidade de enfocar a avaliação, em contraste com outros tipos de propósitos, pode ser julgada pelo corpo de pesquisas sobre atitude, que é revisado neste livro. Por exemplo, a medida em que a pesquisa tem mostrado o comportamento das pessoas pode ser predita a partir do conhecimento do significado avaliativo que elas atribuem a entidades (ver capítulo 4), o estudo das atitudes é importante e propriamente um dos principais enfoques da psicologia social. Outro testemunho da importância da avaliação é encontrado na pesquisa de Charles Osgood sobre significado (ex., Osgood, Suci & Tannenbaum, 1957). Em numerosos estudos, Osgood e seus colegas solicitaram que os respondentes escalonassem um amplo número de conceitos em escalas de adjetivos, cada uma definida por uma par de palavras com significados opostos (ex., duro-mole, fraco-forte, excitável-calmo, bom-mal, ativo-passivo, barulhento-quieto, valoroso- imprestável). Quando o escalonamento dos conceitos feito pelas pessoas era submetido ao procedimento estatístico de análise fatorial, três dimensões de componentes de significado usualmente emergiam e explicavam a maior parte da variabilidade destes escalonamentos (ver discussão sobre diferencial semântico no Capítulo 2). A dimensão que normalmente explicavam a maior proporção do total de variância foi rotulada de avaliação porque ela estava intimamente relacionada ao escalonamento em escalas do tipo bom-mal e valoroso-imprestável. As duas outras dimensões que habitualmente emergiam, mas explicavam proporções menores de variância nos escalonamentos dos respondentes, foram rotuladas de potência (relacionada a escalonamentos em escalas do tipo forte-fraco e duro-mole) e atividade (relacionada a escalonamentos em escalas do tipo ativo-passivo e rápido-devagar). Esta pesquisa, portanto, sugeriu que uma grande proporção do significado que as pessoas atribuem a entidades em seu mundo são avaliativas por natureza. De fato, Osgood e seus associados equipararam a localização de um conceito na dimensão avaliativa com atitude em relação ao conceito (ex., Osgood et al., 1957) OBJETOS ATITUDINAIS Uma avaliação é sempre feita a respeito de alguma entidade ou coisa que é o objeto da avaliação. Esta entidade produz o estímulo que elicia as respostas avaliativas que são consideradas como conseqüentes da atitude. Na linguagem da psicologia social, entidades que são avaliadas são conhecidas como objetos atitudinais. Virtualmente qualquer coisa que é discriminável pode ser avaliada e, desta forma, pode funcionar como um objeto atitudinal. Alguns objetos atitudinais são abstratos (ex., liberalismo, humanismo secular), e outros são concretos (ex., uma cadeira, um sapato). Entidades particulares (ex., minha caneta verde) podem funcionar como objetos atitudinais, assim como classes de entidades (ex., canetas esferográficas). Comportamentos (ex., jogar voleybal) e classes de comportamentos (ex., participar em atividades atléticas) também podem funcionar como objetos atitudinais. Em geral, 1 Se as pessoas representam suas próprias atitudes como um ponto num contínuo é uma questão consideravelmente mais sutil sobre a qual nós discurssamos no Capítulo 3. Aqui nós nos referimos apenasa prática comum de cientistas sociais de definir operacionalmente atitudes como pontos ao longo de umj contínuo avaliativo (ver Capítulo 2). 5 qualquer coisa que seja discriminada ou que torne-se de algum modo um objeto do pensamento pode servir como um objeto atitudinal. Embora os objetos atitudinais que podem ser estudados sejam ilimitados, certos tipos de objetos atitudinais têm recebido uma larga quota de atenção da pesquisa. Cientistas sociais têm examinado mais freqüentemente atitudes em relação a políticas sociais (ex., perfuração marítima de petróleo, preparar as crianças em idade escolar para atingir integração racial), ideologias (ex., liberalismo político e conservantismo), e grupos sociais, especialmente minorias (ex., negros, hispânicos). Os termos atitudes sociais e atitudes políticas são de certa forma livremente aplicados a tais atitudes, que geralmente têm implicações para relações entre grupos sociais e são relevantes para a política governamental também. Além disso, atitudes em relação a grupos minoritários são freqüentemente chamadas de preconceito, especialmente se estas atitudes tendem a ser negativas. Atitudes em relação a indivíduos, freqüentemente chamadas de vínculo ou atraçãointerpessoal, também têm sido bastante estudadas. Atitude em relação a si próprio é freqüentemente chamada de auto-estima (M. Rosenberg, 1965). Atitudes em relação a estados da existência humana ou metas abstratas (ex., igualdade, liberdade e salvação) também têm sido de interesse. Estas atitudes usualmente recebem a terminologia de valores 2 . Embora nós não façamos distinções conceituais entre valores e atitudes que alguns teóricos têm feito (ex., Rokeach, 1968, 1980; M. J. Rosenberg, 1960a), nós endossamos a importância de entender que as relações existentes entre avaliações de objetos atitudinais mais abstratos e mais concretos (ver Capítulo 3). Um objeto atitudinal, mesmo que seja uma única entidade, é codificado a partir de uma variedade de estímulos. Por exemplo, o objeto atitudinal meu irmão é de fato percebido através de uma variedade de estímulos (seu nome, uma fotografia sua, uma carta sua, etc.). Quando a classe de estímulos que denotam meu irmão é observada eliciando respostas que expressem um certo grau de avaliação, é inferido que eu possuo uma atitude em relação a ele descrita por algum grau de favorabilidade ou desfavorabilidade. Em geral, quando as observações de um indivíduo mostram que a classe de estímulos (aqueles que denotam um dado objeto atitudinal) e a classe de respostas deste indivíduo (aquelas que expressam um certo grau de avaliação) co- varia, cientistas sociais inferem que este indivíduo possui uma atitude em relação a esta entidade. Atitude é distinguível de outros conceitos que também se referem a disposições ou tendências implícitas das pessoas porque uma atitude é inferida apenas quando o estímulo que denota um objeto atitudinal é observado eliciando respostas que expressam um certo grau de avaliação. Alguns outros conceitos, como características de personalidade, são consideravelmente mais amplos do que atitude porque a classe de estímulos que permite ao observador inferir a disposição em questão envolve estímulos bem mais variados do que aqueles que denotam uma única entidade. Por exemplo, porque pessoas caracterizadas como possuindo alto nível da característica de personalidade auto-monitoramento são particularmente sensíveis a indícios que relacionam-se a adequação de seu comportamento, elas iriam responder a outras pessoas e uma ampla variedade de eventos interpessoais de modos distintos (ver M. Snyder, 1974, 1987). Além disso, para conceitos do tipo características, a classe de respostas que é relevante para inferir a disposição é geralmente mais extensa do que a das respostas avaliativas. Por exemplo, comportamentos relevantes para o auto-monitoramento incluem auto-apresentação, escolha de 2 Por exemplo, Rokeach (1968, p. 160) definiu valor como “uma crença duradoura que um modo específico de conduta ou estado final de existência é pessoalmente e socialmente preferível a modos de conduta ou estados finais de existência alternativos.” Avaliação é a característica central desta afirmação, que é, portanto, consistente com nossa definição de atitude. 6 amizades, comportamento sexual, e sensibilidade a comunicações persuasivas. Outros conceitos tais como humor, são mais extensos no lado dos estímulos, mas são primariamente avaliativos no lado das respostas. Por exemplo, um humor deprimido pode ser atribuído a pessoas que reagem desfavoravelmente (e talvez um pouco passivamente também) a uma variedade de entidades pessoais e impessoais. Especificando que a atitude deve ser inferida apenas com base em evidência de respostas avaliativas a uma entidade circunscrita, cientistas sociais oferecem precisão e significado distintivo ao conceito. Nossa definição de atitude como uma tendência avaliativa representa um uso consensual dentro da psicologia social moderna. Ainda, como mostrado pela longa e interessante história do conceito de atitude, este significado desenvolveu-se gradualmente ao longo de um número de décadas (ver Allport, 1935; D. T. Campbell, 1963; D. Fleming, 1967; McGuire, 1969). A afirmação de Gordon Allport (1935), sem dúvida a mais conhecida das primeiras definições fornecidas por psicólogos, ilustra a natureza mais global das primeiras definições: “Uma atitude é um estado neural e mental de prontidão, organizado através da experiência, que exerce uma influência diretiva ou dinâmica sobre as reposta do indivíduo a todos os objetos e situações aos quais ela está relacionada” (p. 810). Embora historicamente importante, esta definição não distingue satisfatoriamente uma atitude de característica, humor, hábito ou outras tendências ou disposições do indivíduo porque a noção chave de avaliação está faltando. Ainda, nossa definição compartilha uma importante característica com a de Allport - a saber, a idéia de que uma atitude é um estado interno que intervém entre o estímulo e as respostas e que afeta estas respostas. Além do mais, a ênfase de Allport em um estado interno (ou, como nós nomearíamos, uma tendência psicológica) era consistente com as primeiras concepções de atitude (ex., Spencer, 1862/1895; Titchener, 1910). ATITUDE E PROCESSOS LATENTES O tratamento da atitude como um constructo hipotético ou variável latente que não é diretamente observável faz surgir a questão de se a atitude é meramente uma conveniência conceitual - um constructo inventado pelos cientistas sociais porque ela é uma ferramenta acessível para descrever um certo tipo de co-variância entre estímulos e respostas. Por outro lado, atitude pode ser descrita como implicando em algum tipo de mecanismo oculto ou processos latentes que verdadeiramente existem nas mentes das pessoas mas que não podem ser observados diretamente, dada a tecnologia atual. Embora o conceito de atitude tenha sido usado de ambas as maneiras (ver DeFleur & Westie, 1963), o uso moderno favorece a idéia de processo latente. A conceitualização processual latente pressupõe que eventos psicológicos e fisiológicos estão por trás das atitudes, embora a descrição exata destes eventos seja um assunto ainda em debate científico. Um sentido mínimo no qual as atitudes presumem um processo latente segue a idéia de que a formação das atitudes está vinculada a atividade cognitiva de atribuição de significado avaliativo. Zanna e Rempel (1984, 1988) consideraram esta atividade cognitiva como um tipo de categorização por meio da qual é atribuído algum grau de significado avaliativo a uma entidade; ele definiram atitude como a categorização de uma entidade ao longo da dimensão avaliativa. No entanto, do nosso ponto de vista, atitude não deve ser definida como um sinônimo deste processo de categorização. Ao contrário, atitude é mais adequadamente considerada como um produto deste processo de categorização (ou outros processos. Como uma conseqüência de ter avaliado uma entidade com algum grau de favorabilidade ou desfavorabilidade, o indivíduo pode atribuir significado avaliativo a entidade. O indivíduo possuiria uma atitude, que é um estado 7 interno que dura ao menos um período de tempo e presumivelmente energiza e direciona o comportamento. O fenômeno cognitivo que abrange este estado interno pode incluir uma representação mental da tendência que é proveniente de repostas avaliativas a uma entidade. Esta representação mental é armazenada na memória e pode ser subseqüentemente ativada. Estes processos mnêmicos estão sendo considerados por psicólogos sociais contemporâneos, cujos interesses centram-se na acessibilidade desta representação mental (ex., Fazio, Sanbonmatsu, Powell & Kardes, 1986). Outro tipo de pesquisa cognitiva diz respeito aos detalhes estruturais dasrepresentações mentais das atitudes. Por exemplo, uma questão estrutural de interesse atual é em que extensão as representações de atitudes são unipolares e deste modo representam apenas uma posição própria ou são bipolares, representando posições opostas em relação às questões (ver Capítulo 3). Amplificando adicionalmente os processos latentes que estão por trás das atitudes situa-se a pesquisa psicofisiológica sobre as conexões entre atitudes e substratos fisiológicos (ex., Cacioppo, Petty & Geen, 1989; ver capítulo 2). Considerações sobre os processos latentes levanta a questão de se a definição abstrata de atitude deve ser enquadrada em termos de um ou mais destes processos latentes. Por exemplo, Doob (1947) definiu atitude como uma resposta antecipatória implícita aprendida e analisou atitudes por meio dos constructos da teoria de aprendizagem de Hullian tais como gradientes de generalização e discriminação. Zanna e Rempel (1988) definiram atitude em termos do processo cognitivo de categorização. A definição atualmente popular é a de Fazio (1986, 1989), de atitude como uma associação na memória entre um objeto atitudinal e uma avaliação. A partir da nossa perspectiva, tais definições são excessivamente limitadas porque elas presumem um modelo particular dos processos que estão por trás das atitudes. Deste modo, a definição de Doob (1947) reflete a perspectiva da teoria da aprendizagem de Hullian, popular nos anos 40. Esta definição não somente resulta de um entendimento particular da natureza do aprendizado (ver Chein, 1948), como também esta definição imprudentemente exclui a possibilidade de que algumas atitudes não sejam aprendidas. A definição de Zanna e Rempel (1988) ilustra a perspectiva geral da psicologia cognitiva com sua ênfase na categorização. A definição de atitude de Fazio (1986) reflete um modelo de aprendizagem associativa que foi popular em vários momentos da história da psicologia (ver J. R. Anderson & Bower, 1973), e mais recentemente os modelos de memória associativos de rede contemporâneos (ex., J.R. Anderson, 1983; Bower, 1981; ver Capítulo 3). Esta e outras definições de atitude que invocam modelos particulares de processos psicológicos correm o risco de sair de moda à medida que o enfoque das teorias psicológicas evoluem ao longo das décadas. Somente uma definição mais geral e abstrata pode persistir entre pesquisadores e acadêmicos, apesar das mudanças inevitáveis na opinião consensual a respeito de que processos chaves estão por trás das atitudes. Definições de atitude em termos de processos particulares são às vezes difíceis de se tornaram mais objetivas do que as definições mais abstratas como a que defendemos. Acredita-se que esta objetividade deriva de uma atitude alinhada com um processo específico que pode ser avaliado usando métodos aceitos em laboratórios psicológicos. Nós ainda vemos as definições mais abstratas de atitude , tais como nossa definição de tendência avaliativa, como igualmente objetiva porque elas também podem ser avaliadas usando indicadores objetivos. Por não equiparar a atitude com um processo particular, no entanto, definições mais abstratas possibilitam que as atitudes sejam avaliadas por meio de uma variedade de indicadores. Estas questões de mensuração são examinadas no Capítulo 2. 8 Apesar de nossa preferência por uma definição de atitude mais geral e abstrata, definições mais restritas são sensatas dentro de certas tradições teóricas e certamente podem fornecer um roteiro útil para pensar a respeito de certos problemas. Por exemplo, em termos da definição de Fazio (1986) de atitude como uma associação de objeto-avaliação, a força desta associação torna-se importante, e a força é avaliada pela latência da pesquisa sobre respostas avaliativas dos sujeitos a representações do objeto atitudinal (ver Capítulo 4). A perspectiva de Fazio sugere uma teoria de como as atitudes guiam o comportamento - isto é, que atitudes mais fortes são mais propensas a induzir comportamento atitude-consistente. No entanto, várias outras considerações são relevantes para o entendimento da relação atitude-comportamento, e a maioria destes fatores não podem ser prontamente coordenados à concepção associacionista de atitude (ex., conhecimento anterior, ver Capítulo 4). Também em outros domínios da pesquisa sobre atitude, a definição associacionista produziria certos insights mas fracassaria para abranger outros. Resumindo, embora nós não defendamos a definição de atitude em termos de processos psicológicos particulares, há evidência crescente da realidade da atitudes ao nível de processos fisiológicos e cognitivos latentes. Esta realidade sugere que o conceito de atitude é mais do que uma mera conveniência conceitual postulada para descrever ampla correlação estímulo-resposta. Na verdade, evidência científica demonstrando que processo latentes estão por trás das atitudes empresta considerável plausibilidade a reivindicação de Allport (1935) de que uma atitude é “um estado neural e mental de prontidão”(p.810). O JUÍZO DO CONCEITO DE ATITUDE No dia-a-dia, os leigos usam o conceito de atitude aproximadamente da mesma maneira que os cientistas sociais. Como nós explicamos, os cientistas sociais inferem uma atitude a partir da observação de que respostas avaliativas são eliciadas por um estímulo que denota um objeto atitudinal particular. Leigos também podem inferir atitudes com base em tais observações. Por exemplo, ao notar que um indivíduo envia dinheiro a uma organização tal como o Sierra Club, escreve cartas para representantes legislativos que apoiam a regulamentação da poluição industrial, e circula petições contra usinas de energia nuclear e extração de petróleo na costa marítima, os observadores são levados a rotular esta pessoa como um ambientalista. Neste exemplo, o objeto atitudinal pode ser considerado como sendo a preservação ambiental, um objeto que abrange um número de objetivos sociais específicos assim como organizações que apoiam estes objetivos. Do mesmo modo, ao notar que um indivíduo doa dinheiro a políticos de direita, endossa um código de impostos de limitada progressividade, e se opõe a legalização do aborto marítima os observadores podem ser levados a rotular esta pessoa como conservadora. Neste exemplo, o objeto atitudinal pode ser considerado como sendo o conservadorismo político, que abrange várias políticas sociais. Desta modo, em domínios tais como estes, os leigos freqüentemente inferem que as atitudes sociais de um indivíduo explicam o padrão de seu comportamento avaliativo. Embora os leigos possam espontaneamente invocar o termo atitude apenas ocasionalmente (ex., “ela tem um atitude racista”), a prática muito comum de usar um rótulo que implica em um aposição atitudinal (ex., ela é racista”) certamente qualifica-se como um exemplo de inferência atitudinal. Ocasionalmente o termo atitude é usado na linguagem natural em um sentido mais amplo que é usado na literatura científica social. Por exemplo, na gíria contemporânea americana, uma pessoa é às vezes descrita como “tendo atitude”, quando um traço de “combatividade”, divergência mal-humorada, e autoconfiança que sugere arrogância”(Safire, 1990, p.18) está implícita. Do mesmo modo, quando uma pessoa não-cooperativa é descrita como tendo uma “má atitude” ou um “problema de atitude”, atitude é tomada com um sentido de característica de 9 personalidade, e nenhum objeto atitudinal específico é indicado. Além disso, quando atletas e seus treinadores enfatizam uma “atitude mental” que explica o sucesso numa competição, não há objeto atitudinal no sentido que nós o definimos. Apesar de taisexceções, a definição formal de atitude apresentada neste livro é consistente com a maioria dos usos do termo atitude assim como com o uso de rótulos que implicam posições atitudinais (ex., “ambientalista”). Este vínculo próximo com a linguagem natural é sem dúvida uma fonte de popularidade e aparência duradoura da pesquisa atitudinal nas ciências sociais. Mesmo assim, os cientistas sociais restringiram o termo atitude a um significado particular e forneceram uma definição formal e precisa. Significado claro deste tipo é uma grande vantagem porque ele favorece o desenvolvimento de instrumentos de mensuração e facilita a pesquisa. PESQUISA SOBRE INFERÊNCIAS A RESPEITO DE ATITUDES Na psicologia social uma literatura de pesquisa de bom tamanho tem sido acumulada a respeito das inferências das pessoas sobre as atitudes dos outros (ver E.E. Jones , 1979; M. Ross & Fletcher, 1985). Em experimentos típicos deste gênero, são apresentados aos sujeitos afirmações sobre crenças a respeito de um objeto atitudinal que supostamente foram feitas por uma pessoa alvo (ex., um ensaio de um estudante contendo a afirmação “Castro pode e tenta tomar conta de nossos vizinhos e convertê-los a satélites comunistas [sic] usando métodos de sabotagem infiltrada e subversão [sic]” Jones & Harris, 1967, p.5. Os sujeitos são então solicitados a inferir a atitude desta pessoa alvo. (i.e., em relação a Castro). Em tais pesquisas, os sujeitos geralmente inferem que as pessoas alvo possuem atitudes que são avaliativamente consistentes com as afirmações das crenças. Ainda, estas inferências são também influenciadas de certo modo pela informação a respeito das condições sob as quais as afirmações do alvo forma feitas. Por exemplo, se é dito que a pessoa alvo foi solicitada a assumir um ponto de vista nas afirmações expressas, os sujeitos inferem uma atitude menos extrema do que eles inferem se é dito que o alvo fez essas afirmações de sua própria vontade. Em geral, se indícios situacionais sugerem que o alvo foi coagido a assumir um ponto de vista particular, os observadores são menos propensos a acreditar que a atitude do alvo corresponde ao seu ponto de vista expresso, especialmente se o fato de ter que defender esta posição parecer ter sido uma conseqüência imprevista ou, de um outro modo, um comportamento não planejado (H.J. Fleming & Darley, 1989). 3 Em pesquisas relacionadas sobre as inferências dos sujeitos em relação a suas próprias atitudes (ex., Bem, 1989), revelou-se que as pessoas usam a implicações avaliativas de seus próprios comportamentos como um roteiro para inferir suas atitudes (ver capítulo 11). Esta pesquisa tem produzido também importantes insights em relação aos indícios que as pessoas levam em consideração para fazer inferências atitudinais. Questões em relação aos processos que estão por trás das inferências atitudinais são bastante importantes em psicologia social, afinal elas são parte de um interesse mais geral em relação ao entendimento das atribuições causais das pessoas assim como suas inferências sobre disposições e tendências pessoais (E.E. Jones & Davis, 1965; H.H. Kelley, 1967; L. Ross, 1977). Neste livro, inferências atitudinais são exploradas em algum detalhe como aspectos da persuasão e influência social (ser Capítulo 8, 11 e 13). Estas formas de mudança atitudinal requerem que as pessoas interpretem e reajam a afirmações que expressam atitudes de outras pessoas. 3 Ainda a maior questão nesta tradição de pesquisa é se observadores levam em consideração suficientemente as restrições situacionais que podem induzir as pessoas a tomar posições atitudinais. De acordo com o conceito amplamente citado de erro de atribuição fundamental (L. Ross, 1977), observadores pesam insuficientemente restrições situacionais nas suas interpretações do comportamento dos outros e superestimam a importância de disposições e tendências pessoais, que incluem características de personalidade e habilidades assim como atitudes. 10 Em experimentos sobre inferências sobre consenso atitudinal, os sujeitos são solicitados a responder inquéritos sobre atitudes. Deste modo, suas inferências espontâneas não são examinadas 4 . Apesar desta limitação, esta pesquisa é geralmente consistente com a reivindicação de que as pessoas geralmente inferem as atitudes que estão por trás de seu próprio comportamento e do comportamento dos outros. As pessoas podem freqüentemente pensar sobre elas mesma e sobre os outros em termos das atitudes que suas afirmações públicas e comportamento evidente expressam. A ANÁLISE COGNITIVA, AFETIVA E COMPORTAMENTAL DAS ATITUDES Classes de Respostas Avaliativas Como representado na Figura 1.2, os cientistas sociais têm freqüentemente pressuposto que respostas que expressam avaliação e, portanto, revelam atitudes das pessoas podem ser ou devem ser divididas em três classes - cognição, afeto e comportamento (ex., D. Katz & Stotland, 1959; M. J. Rosenberg & Hovland, 1960). A categoria cognitiva contém pensamentos que as pessoas têm sobre o objeto atitudinal. A categoria afetiva consiste em sentimentos ou emoções que as pessoas têm em relação ao objeto atitudinal. A categoria comportamental abrange as ações das pessoas em relação ao objeto atitudinal. Respostas avalitivas do tipo cognitivo são pensamentos ou idéias sobre o objeto atitudinal. Estes pensamento são freqüentemente conceitualizados como crenças, onde crenças são entendidas como sendo associações ou vínculos que as pessoas estabelecem entre o objeto atitudinal e vários atributos (Fishbein & Ajzen, 1975). Estas respostas avaliativas cognitivas incluem as respostas veladas que ocorrem quando essas associações são inferidas ou percebidas assim como as respostas evidentes de afirmar verbalmente uma crença. Os atributos que são associados com o objeto atitudinal expressam avaliação positiva ou negativa e, portanto, podem ser situados por psicólogos em um contínuo avaliativo em qualquer posição de extremamente positiva a extremamente negativa, incluindo o ponto neutro. Por exemplo, algumas pessoas acreditam que usinas de energia nuclear causam contaminações nucleares perigosas. Esta crença vincula o objeto atitudinal com um atributo negativo. Outras pessoas podem acreditar que usinas de energia nuclear fornecem eletricidade abundante e barata. Esta crença vincula o objeto atitudinal 4 Embra as pesquisas de Winter e Uleman (1984) e de Winter, Uleman e Cunniff (1985) tenham examinado a espontaneidade das inferências das pessoas sobre características de personalidade, pesquisas análogas sobre inferências atitudinais ainda não foram conduzidas. 11 com um atributo positivo. Embora nós usemos o termo crença para descrever todos os pensamentos que as pessoas têm a respeito de objetos atitudinais, respostas avaliativas que são cognitivas por natureza têm recebido freqüentemente uma variedade de outros nomes, incluindo cognições, conhecimento, opiniões, informação, e inferências. Estes termos são úteis em alguns contextos mas se sobrepõem consideravelmente com o conceito de crença que nós enfatizamos. Uma questão que estudantes levantam de tempos em tempos é se crenças que estão situadas no ponto neutro de uma dimensão avaliativa devem ser consideradas como avaliativas. Embora uma crença situada no ponto neutro ou zero do contínuo avaliativo possa ser considerada não- avaliativa por alguns psicólogos, nós preferimos considerá-la como expressando um grau de avaliação que caiu entre os valores positivos e negativos. Embora em teoria crençaspossam ser verdadeiramente não-avaliativas no sentido que elas expressam apenas outros aspectos do significado (ex., potência ou atividade), virtualmente todas as crenças, incluindo aquelas que são fortemente consideradas como tendo significado não-avaliativo, expressam avaliações em algum grau. Por exemplo, a crença de que os trabalhadores de caldeiras são fortes expressa primariamente potência, mas, além disso, expressa avaliação positiva de um certo modo. Em geral, as pessoas que avaliam um objeto atitudinal favoravelmente tendem a associá-lo com atributos positivos e tendem a não associá-lo com atributos negativos, enquanto pessoas que avaliam um objeto atitudinal desfavoravelmente tendem a associá-lo com atributos negativos e tendem a não associá-lo com atributos positivos. Formular modelos mais exatos desta suposta relação entre avaliação das pessoas sobre objetos atitudinais e suas crenças sobre estes objetos tem sido o enfoque de pesquisas sobre atitude por vários anos. Nós examinamos este material em detalhe no Capítulos 3 e 5. Respostas avaliativas do tipo afetivo que consistem em atividade do sistema nervoso simpático, sentimentos, humores, emoções e que as pessoas experienciam em relação a objetos atitudinais. Estas respostas afetivas podem ser escalonadas de extremamente positivas a extremamente negativas e, portanto, podem ser situadas em uma dimensão avaliativa de significado. Por exemplo, ao considerar o conceito de usinas de energia nuclear, alguns indivíduos podem experienciar uma emoção ou sentimento de raiva, e outros podem experienciar uma emoção ou sentimento de esperança e otimismo. Em geral, pessoas que avaliam um objeto atitudinal favoravelmente tendem a experienciar reações afetivas positivas em conjunto com ele e tendem a não experienciar reações afetivas negativas; pessoas que avaliam um objeto atitudinal desfavoravelmente tendem a experienciar reações afetivas negativas em conjunto com ele e tendem a não experienciar reações afetivas positivas. Nós analisamos a importância de respostas afetivas em várias partes deste livro (ver Capítulos 3, 9, e 10). Psicólogos sociais têm às vezes considerado afeto como isomórfico de avaliação e intercambiando o uso dos termos (ex., Fishbein & Ajzen, 1975; M. J. Rosenberg, 1060a; Zajonc & Markus, 1982). Em concordância com alguns tratamentos mais recentes de atitude (ex., Millar & Tesser, 1986a; Zanna & Rempel, 1984, 1988) e em reconhecimento ao crescente corpo de pesquisa sobre afeto e emoção, nós preferimos considerar avaliação e afeto como conceitualmente distintos. Deste modo, nós tratamos avaliação como um estado interveniente que explica a co-variação entre classes de estímulos e as respostas avaliativas eliciadas pelos estímulos, e nós tratamos afeto como um tipo de reposta através das quais as pessoas podem expressar suas avaliações. Respostas avaliativas do tipo comportamental (ou conativo) consistem nas ações evidentes que as pessoas exibem em relação ao objeto atitudinal. Porque estas respostas também escalonam-se 12 de extremamente positivas a extremamente negativas, elas também podem ser situadas em uma dimensão avaliativa de significado. Por exemplo, em relação a usinas de energia nuclear, alguns indivíduos podem circular petições contra sua construção, e outros podem escrever cartas a seus representantes legislativos solicitando apoio governamental para sua construção. Em geral, pessoas que avaliam um objeto atitudinal favoravelmente tendem a se engajar em comportamentos que o promovem ou apoiam, e pessoas que avaliam um objeto atitudinal desfavoravelmente tendem a se engajar em comportamentos que opõem-se a ele ou o impedem. Respostas comportamentais também podem ser consideradas como intenções circundantes para agir que não são necessariamente expressas em comportamento evidente. Por exemplo, um indivíduo pode ou não realmente realizar esta intenção. Não surpreendentemente, avaliações positivas estão relacionadas a manutenção de intenções de apoio em relação a objetos atitudinais, e avaliações negativas a manutenção de intenções de não-apoio. Modelos mais exatos do modo que as avaliações se relacionam com comportamentos e intenções comportamentais são examinados em detalhe no Capítulo 4. A divisão de respostas avaliativas em três categorias tem uma longa história que, como McGuire (1969, 1985) argumentou, se estende no passado desde os filósofos clássicos da Grécia e Hindus. Certamente a tradição tem uma longa história nas discussões sobre atitude na psicologia social, onde as três classes de respostas são às vezes referidas como os três componentes da atitude (ver D. Katz & Stotland, 1959; Krench & Crutchfield, 1948; M. J. Rosenberg & Hovland, 1960; M.B. Smith, 1947; Triandis, 1971). Dada a tendência, tanto dos psicólogos como dos filósofos, para pensar em termos desta trindade de cognição, afeto e comportamento, a distinção deve criar um acordo de certo valor heurístico. No entanto, para valer a pena ser preservada na teoria moderna da atitude, a distinção deve ter mais do que um valor heurístico. A divisão de respostas avaliativas em três componentes deve ser alguma validade diferenciada. (D. T. Campbell & Fiske, 1959). Deste modo, apesar das correlações positivas entre cognição, afeto e comportamento que seguem-se ao fato de que respostas de todos os três tipos podem ser situadas na dimensão de avaliação comum subjacente, respostas dentro de cada uma das três categorias deveriam relacionar-se mais fortemente com outras respostas dentro daquela categoria do que com respostas das outras duas categorias. Isto é, como Ajzen (1988) também argumentou, cada um dos três componentes deve possuir uma variância única não compartilhada com os outros dois. Felizmente, vários estudos empíricos têm examinado estas questões. Nos estudos inicias que examinavam o modelo tripartite de respostas atitudinais, os sujeitos completavam um número de instrumentos designados para fornecer medidas de questionário de repostas cognitivas, afetivas e comportamentais eliciadas por um objeto atitudinal, e correlações entre e dentro de tipos de medidas foram examinadas (ver revisões de Breckler, 1984a. 1984b). Estudos deste tipo por Kothandapani (1971) e Ostrom (1969) produziram três dimensões. No entanto, técnicas de análise de dados mais sofisticadas envolvendo análise de equação estrutural (ver Bentler, 1980; Kenny, 1979, 1985) tem sido aplicadas subseqüentemente a estes conjuntos de dados por Bagozzi (1978) e Breckler (1984b), que concluíram ambos que os dados de Ostrom (1969) sustentavam fragilmente o modelo tridimensional, enquanto os dados de Kothandapani (1971) não conseguiram sustentá-lo. Além disso, com base na análise de medidas de atitude por questionário (excluindo as medidas de intenções comportamentais e comportamentos auto- relatados) relatados por Fishbein e Azjen (1974), Bagozzi e Burnkrant (1979, 1985) reivindicaram um modelo bidimensional para representar afeto e cognição, enquanto Dillon e Kumar (1985) argumentaram que modelos alternativos conceitualmente consistentes com o modelo de um componente se encaixam aos mesmos dados. 13 Breckler (1984a) adotou a visão de que estes testes do modelo tripartite eram insuficientes porque eles baseavam-se em medidas verbais de respostas das três classes e apresentavam aos sujeitos apenas representações simbólicas dos objetos atitudinais (i.e., um rótulo verbal). Para corrigir estas deficiências Breckler fez com que sujeitos respondessem a um objeto atitudinal (uma cobra) que estava fisicamente presente e avaliou suas respostas cognitivas, afetivas e comportamentais usando medidastanto verbais quanto não-verbais. A análise dos dados resultantes revelou um modelo tridimensional, mas não unidimensional, estatisticamente aceitável. Em um segundo estudo, Breckler fez com que sujeitos respondessem ao rótulo verbal de “cobra” e obteve apenas auto-relatos verbais das três classes de respostas. Embora neste estudo o modelo tripartite tenha sido rejeitado porque ele não explicou suficientemente a variabilidade sistemática nos dados, ele se encaixou aos dados de certa forma melhor do que o modelo unidimensional. Dados estes vários achados, parece que uma determinação empírica definitiva da dimensionalidade das respostas avaliativas não é provável num futuro próximo. Atualmente, os resultados de análise estatísticas da dimensionalidade parecem ser afetados por métodos de análise de dados (incluindo a versão particular de LISREL ou outros programas de computador que os investigadores utilizam para desempenhar analises estruturais) e os detalhes dos modelos particulares que os investigadores propõem (ver Bagozzi & Burnkrant, 1979, 1985; Dillon & Kumar, 1985). Mais importante, a pesquisa de Breckler (1984a) sugere que a dimensionalidade pode variar em função do modo direto ou indireto de apresentação do objeto atitudinal e da natureza verbal ou não-verbal das medidas das respostas. Além disso, diferentes tipo de objetos atitudinais podem produzir diferentes tipos de reações, e , a respeito disso, a escolha de Breckler por um objeto atitudinal (uma cobra), a qual se sabe que provocou fortes reações de medo em algumas pessoas, pode ter sido importante para assegurar um resultado multidimensional nesta pesquisa. Estas questões têm ainda que ser exploradas em profundidade. É suficiente dizer que, no momento, evidências apoiam a separação empírica de três classes de respostas avaliativas sob algumas, mas certamente não todas, circunstâncias. Porque respostas cognitivas, afetivas e comportamentais são freqüentemente não empiricamente distinguíveis em três classes, a terminologia de três componentes é excessivamente forte e é inapropriada nas suas implicações de que os três tipos de respostas sejam geralmente distintas, isto é, distinguíveis na maioria das pessoas a maioria das vezes (ver Fishbein, 1967c; Fishbein & Ajzen, 1974). Um modelo formal de três componentes será provavelmente rejeitado para várias, talvez a maioria das, atitudes. No entanto, a distinção tripartite fornece um importante enquadramento conceitual, que permite aos psicólogos expressar o fato de que uma avaliação pode ser manifestada através de respostas de todos os três tipos, independentemente de se os tipos comprovam ser separáveis em análises estatísticas apropriadas. O uso dos termos cognitivo, afetivo e comportamental deve ajudar os pesquisadores a expandir um entendimento das condições sob as quais as atitudes verdadeiramente têm um variável número de componentes. Em resumo, a terminologia tripartite continua sendo uma linguagem conveniente para pensar a respeito de respostas atitudinais. Portanto, neste livro nos referimos a três classes de respostas avaliativas, mas evitamos a formalidade de um modelo de atitude de três componentes. Por causa de nosso limitado suporte para a linguagem tripartite, nós não concordamos com os detalhes da aprovação não qualificada de Fishbein (1967c) do modelo de um componente e rejeição do modelo de três componentes. Fishbein argumentou que apenas um modelo unidimensional de atitude é aceitável porque todas as medidas de atitude, se baseadas em 14 respostas cognitivas, afetivas ou comportamentais, ordenam indivíduos ao longo de um contínuo avaliativo. O ponto de Fishbein de que todas as medidas de atitude avaliam avaliação é realmente válido é um fato não-controverso: teóricos de atitude têm usualmente considerado respostas avaliativas dos três tipos como expressando um grau de avaliação. Os componentes cognitivo e comportamental das atitudes têm ordinariamente sido pensados de forma a refletir uma localização em uma dimensão avaliativa comum, assim como o componente afetivo. Contudo, a suposição de que estas respostas podem ser divididas em três classes implica, como nós mencionamos, na hipótese testável de que correlações entre respostas da mesma classe são maiores do que correlações entre respostas de diferentes classes. Mesmo em circunstâncias nas quais esta hipótese se sustenta, correlações entre respostas de diferentes classes são positivas porque estas respostas são manifestações de uma posição em um contínuo avaliativo comum subjacente. A dimensionalidade de respostas atitudinais, portanto, permanece como uma importante questão para desenvolvimento empírico e teórico. CLASSES DE ANTECEDENTES ATITUDINAIS Consoante com idéia de que respostas atitudinais podem ser divididas em três classes está a suposição de que atitudes têm três tipos diferentes de antecedentes (ver Figura 1.3). Na verdade, a idéia de que as atitudes são formadas através de processos cognitivos, afetivos e comportamentais tem sido proposta em numerosas discussões sobre atitudes (ex., Breckler, 1984a; A. G. Greenwald, 1968; Insko & Schopler, 1967; Triandis, 1971; Zanna & Rempel, 1988). A suposição de que as atitudes derivam de um processo de aprendizado cognitivo está implícita em muitas das pesquisas que nós revisamos neste livro e explícita em algumas perspectivas teóricas. Supõe-se que um processo de aprendizado cognitivo ocorra quando as pessoas recebem informação sobre um objeto atitudinal e, deste modo, formem crenças. Informação é obtida através de experiência direta com objetos atitudinais e experiência indireta com eles. Por exemplo, alguém pode aprender diretamente sobre os atributos de uma nova marca de refrigerante bebendo-o. De outra maneira, alguém pode aprender indiretamente assistindo um comercial de televisão que descreve o sabor da bebida e outras de suas qualidades ou observando a reação de um amigo ao provar a bebida. Supõe-se que a atitude de uma pessoa deriva da favorabilidade das crenças que são adquiridas diretamente ou indiretamente. Se as crenças são adquiridas por experiência direta ou indireta com o objeto atitudinal é um determinante da extensão até a qual as atitudes da pessoas predizem seu comportamento (ver Capítulo 4). Além disso, a idéia geral de que as atitudes derivam da informação que as pessoas recebem sobre objetos atitudinais, especialmente a partir de experiência indireta com eles, é particularmente importante em pesquisas sobre persuasão (ver Capítulos 6,7 e 8). Em tais pesquisas, recipientes 15 de mensagens são apresentados com informação sobre um objeto atitudinal. Na medida que os recipientes concordam com esta informação, é esperado que eles formem novas crenças a partir das quais uma atitude nova ou alterada é derivada. Desenvolvimento mais formal da idéia de que atitudes se formam a partir de crenças sobre objetos atitudinais tem sido fornecido pela teoria da expectância-valor e outros modelos algébricos sobre a natureza das atitudes (ver Capítulos 3 e 5). A reivindicação de que as atitudes são formadas com base em experiências afetivas ou emocionais tem aparecido de diferentes formas na literatura sobre atitudes (ver Capítulo 9). Por exemplo, em uma de suas primeiras manifestações, a suposição de que a formação da atitude é um processo afetivo apareceu no modelo clássico de condicionamento de mudança de atitude (ex., A. W. Staats & Staats, 1958). A partir desta perspectiva, atitude é um produto do pareamento de um objeto atitudinal (estímulo condicionado) com um estímulo que elicia uma resposta afetiva (estímulo incondicionado). Como resultado de associaçõesrepetidas, o objeto atitudinal passa a eliciar a resposta afetiva, e atitude é, desta forma, formada. Por exemplo, estímulos repetidamente associados com a aplicação de choque elétrico iriam adquirir uma avaliação negativa por este processo afetivo, e estímulos pareados com a retirada do choque elétrico iriam adquirir uma avaliação positiva (ex., Zanna, Kiesler & Pilkonis, 1970). Em uma manifestação diferente e mais recente da idéia de que respostas afetivas são subjacentes às atitudes, Zajonc (1980b, 1984) argumentou que “preferências” (i.e., avaliações) são baseadas primariamente em respostas afetivas, as quais freqüentemente são totalmente imediatas e não são mediadas pelo pensamento sobre os atributos dos objetos atitudinais. A idéia de que avaliações são baseadas em respostas comportamentais era central na pesquisa de Bem (ex., 1972), que argumentava que as atitudes derivam de comportamentos passados (ver Capítulo 11). Por esta explicação de auto-percepção sobre a formação das atitudes, que nós já nos referimos em nossa discussão sobre inferências atitudinais, as pessoas tendem a inferir atitudes que são consistentes com seu comportamento prévio. No entanto, Bem também argumentou que as pessoas levam em consideração as condições sob as quais elas desempenham seus comportamentos , com o resultado de que elas formam atitudes mais prontamente com base em comportamentos quando elas não pensam que forças externas compelem-nas a engajar-se no comportamento. Além disso, teóricos da aprendizagem têm descrito atitudes como derivadas de respostas comportamentais. Na tradição da teoria comportamental de estímulo-resposta, quando comportamentos observáveis (ou respostas cognitivas implícitas) eliciados por objetos atitudinais são reforçados ou punidos, respostas avaliativas implícitas ocorrem (ex., Doob, 1947; Hovland, Janis & Kelley, 1953). Como nós observamos em nossa discussão sobre a definição de atitude de Doob, são estas respostas avaliativas implícitas que os teórico da aprendizagem consideram como atitudes. IMPLICAÇÕES DA ANÁLISE COGNITIVA, AFETIVA E COMPORTAMENTAL Nós afirmamos que atitudes se manifestam através de respostas cognitivas, afetivas e comportamentais e são formadas com base em processos cognitivos, afetivos e comportamentais. Esta visão tripartite da formação da atitude e resposta atiudinal e levanta um número de importantes questões. Uma questão é se as atitudes devem ter todos os três aspectos, seja do ponto de vista da formação da atitude ou do ponto de vista da resposta atitudinal. Embora a definição de três componentes da atitude mais antiga possa ter implicado que estes três aspectos têm que estar situados para que uma verdadeira tendência avaliativa emerja, nossa resposta a esta questão é 16 um decidido não. Atitudes podem ser formadas primariamente ou exclusivamente com base em qualquer um dos três tipos de processo. Indivíduos podem , por exemplo, aprender sobre certos objetos atitudinais inteiramente com base em leituras. Sob tais circunstâncias de experiência indireta com um objeto atitudinal, eles podem não se engajar em comportamentos relevantes para a atitude (exceto pelo comportamento de leitura) quando a atitude está sendo formada, a natureza remota do contato com o objeto atitudinal provavelmente diminui a propensão de respostas emocionais serem eliciadas a partir do estímulo que representa o objeto atitudinal. Em tais circunstâncias a atitude seria formada com base em crenças que estão sendo adquiridas sobre um objeto atidudinal. Outras atitudes podem ser formadas primariamente por processos afetivos ou comportamentais ou por uma miscelânea de processos, especialmente quando as pessoas encontram objetos atitudinais diretamente, a formação da atitude ocorre por uma variedade de processos (ver Zanna & Rempel, 1988). Também não é universal o fato das pessoas responderem a objetos atitudinais com repostas cognitivas, afetivas e comportamentais. As pessoas podem ter crenças sobre objeto atitudinais, mas não se engajarem em comportamentos evidentes relacionados aos mesmos ou terem reações emocionais. Outras atitudes podem ser carregadas de emoções ou indutoras de ações no sentido que elas induzem primariamente respostas afetivas ou comportamentais. Outra questão relacionada a limitada idéia tripartite que nós abraçamos é a extensão até a qual as três classes de respostas avaliativas são consistentes entre si. Neste contexto, consistência significa que as pessoas tendem a expressar mais ou menos o mesmo grau de avaliação de um objeto atitudinal através de respostas de cada uma das três classes. Como nós expomos em nossa discussão sobre a dimensionalidade das atitudes, consistência muito alta entre classes de respostas avaliativas implica que uma análise estatística adequada do domínio atitudinal resultaria em uma solução unidimensional. Na medida que as classes de respostas exibem alguma inconsistência, uma solução multidimensional seria obtida. Como nós indicamos, análises estatísticas de atitudes têm produzido soluções de dimensionalidade variada. Portanto, respostas associadas com algumas atitudes são bastante consistentes ao longo das classes de respostas, e respostas associadas com outras atitudes são de certo modo menos consistentes. Eiser (1987) sugeriu que respostas cognitivas , afetivas e comportamentais serão avaliativamente consistentes na medida que todas as três classes de respostas contribuem para a formação inicial da atitude. Breckler e Wiggins (1989a) apresentaram achados que sugerem que as facetas cognitiva e afetiva das atitudes são mais consistentes na medida em que os domínios da atitude são familiares e propensos a serem discutido freqüentemente (ex., aborto, armas nucleares). Embora outras pesquisas tenham examinando tais questões de consistência, a maioria das pesquisas está de certo modo limitada em termos modernos por causa de sua tendência inicial a ver avaliação e afeto como sinônimos, tendo como conseqüência o fato de que apenas consistência entre afeto (i.e., avaliação geral) e cognição foi investigada (ver Capítulos 3,5 e 10). Uma questão amplamente inexplorada é a extensão até a qual os processos afetivos, cognitivos e comportamentais pelos quais é adquirida uma atitude relacionam-se com as respostas cognitivas, afetivas e comportamentais que o objeto atitudinal subseqüentemente elicia. É possível que algum tipo de cruzamento tenda a ocorrer (Millar & Tesser, 1986a; ver Capítulo 4). Por exemplo, uma atitude adquirida por via cognitiva pode tender a eliciar primariamente respostas cognitivas, e uma adquirida por via afetiva pode tender a eliciar primariamente respostas afetivas, e uma adquirida por via comportamental pode tender a eliciar primariamente respostas comportamentais. no entanto, qualquer relação biunívoca forte deste tipo é muito improvável. Como sugerido particularmente pela pesquisa sobre a interface cognitiva-afetiva que nós discutimos no Capítulo 9, diferentes classes de respostas avaliativas impingem-se e 17 existem no que pode ser descrito como uma relação cooperativa sinergística. Alguém pode, por exemplo, adquirir crenças sobre um objeto atitudinal, pensar a respeito deste conhecimento, e consequentemente decidir por um curso de ação ou gerar uma resposta emocional. Uma atitude cognitivamente embasada, portanto, retroalimenta outros processos psicológicos e dá às atitudes bases afetiva e comportamental. Do mesmo modo, a resposta inicial de alguém a outra pessoa pode ser emocional (ex., atração sexual). Além disso, a atitude positiva produzida nesta base pode levar ao curso de uma ação (ex., convidar o indivíduo para jantar)ou influenciar a percepção dos atributos da pessoa (ex., formação de crenças de que o indivíduo é caloroso e amigável). Entender como os modos de formação de atitudes relacionam-se a respostas avalitivas subsequentes é claramente muito desafiador, e aspectos desta questão são considerados em vários pontos deste livro. ATITUDES COMO ‘SCHEMAS’ Uma perspectiva útil para pensar a respeito de atitudes é considerá-las como um tipo de schema, que é a mais ampla classificação de estruturas cognitivas que tem sido investigada muito extensivamente por psicólogos cognitivos e psicólogos sociais cognitivos. Embora o exato significado deste conceito popular tenha de certo modo variado (ver Landman & Manis, 1983; Markus & Zajonc, 1985), diz-se geralmente que schemas são “estruturas cognitivas de conhecimento anterior organizado, abstraídos da experiência com instâncias específicas” (Fiske & Linville, 1980, p.543). Exploração da atitude como um tipo de schema destaca as implicações das atitudes para o processamento de informações. Aplicando o constructo schema ao mundo social, psicólogos sociais têm construído a partir das teorias e métodos que os psicólogos cognitivos desenvolveram para explicar a representação e processamento de um estímulo não- social. O corpo de conhecimento resultante sobre cognição social é proximamente relacionado a alguns dos trabalhos que têm sido tradicionalmente desenvolvidos por investigadores de atitudes. Além do mais, tratar a atitude como um tipo de schema tem muito em comum com uma tradição consideravelmente mais antiga de considerar atitude com um tipo de enquadramento de referência (A.L. Edwards, 1941; J.M. Levine & Murphy, 1943; M. Sherif, 1936; W.S. Watson & Hartmann, 1939). Esta tradição também foi aliada à psicologia cognitiva - em particular, com a demonstração de F.C. Bartlett (1932) da influência de fatores culturais e individuais n a evocação. Com nós observamos, existe um consenso de que schemas são estruturas cognitivas que representam experiências passadas em um domínio de um estímulo por uma ordem mais elevada ou abstrata de estrutura cognitiva. No que diz respeito a isso, o constructo schema assemelha-se ao aspecto cognitivo das atitudes. Portanto, supõem-se que experiência com objetos atitudinais leva as pessoas a associá-los com atributos ou mais geralmente a pensar a respeito de objetos atitudinais. Estes pensamentos são armazenados e, como nós explicamos em maior profundidade no Capítulo 3, podem ser considerados com estruturas cognitivas que organizam conhecimento anterior. A suposição de que atitudes têm aspectos afetivos e comportamentais, além de cognitivos, é central para o enquadramento teórico que nós introduzimos. Paralelamente às suposições de teóricos das atitudes sobre afeto, teóricos do schema (ex., Fiske & Linville, 1980) afirmaram que schemas “eliciam afeto assim como inferências” (p.522). No entanto, outros teóricos do schema (ex., S.E. Taylor & Crocker, 1981) preferiram limitar os schemas aos seus aspectos cognitivos. Paralelamente a atenção dos teóricos de atitudes às manifestações comportamentais das atitudes 18 estão as suposições dos teóricos do esquema de que os schemas têm conseqüências comportamentais. No entanto, apesar da universalidade desta suposição, o impacto dos schemas no comportamento têm sido relativamente pouco explorado. Em contraste, a relação entre atitudes e comportamento tem sido estudada extensivamente (ver capítulo 4). Dado que os aspectos cognitivos das atitudes assemelham-se muito àqueles dos schemas e que as suposições feitas sobre as manifestações afetivas e comportamentais das atitudes parcialmente sobrepõem-se às suposições feitas sobre schemas, é importante enfatizar o sentido em que os dois conceitos são distinguíveis. Os conceitos diferem porque o termo atitude refere-se a avaliação , enquanto o termo schema tem sido usado mais amplamente. Porque a atitude diz respeito a avaliação e não a todos os aspectos das representações mentais, é possível considerar a atitude como um subtipo do conceito mais geral de schema, todavia, o foco dos pesquisadores de atitude nas avaliações tenderá a manter alguma separação entre a cognição social e a pesquisa sobre atitude. Porque as estruturas avaliativas são muito propensas a serem impregnadas com afeto e enegizar e dirigir o comportamento, esta concentração dos pesquisadores de atitude nas avaliações pode ser vantajosa no que diz respeito a alguns tipos de predição, especialmente aqueles relacionados ao comportamento. Cognições não carregadas de significados bom-versus- mal são provavelmente menos propensas a eliciar emoções ou energizar comportamentos. Portanto, é com razão que vários teóricos do schema têm sido cautelosos no que diz respeito a fazer reivindicações específicas concernentes as manifestações afetiva e comportamental dos schemas. O ganho de pensar as atitudes como um tipo de schema vem do vínculo que é forjado com o conhecimento existente sobre o impacto dos schemas no processamento cognitivo. Tem-se sustentado que schemas influenciam todos os aspectos do processamento de informações (ver revisão de Markus e Zajonc, 1985). Na entrada ou lado de codificação, tem-se mostrado que os schemas afetam a atenção dada à informação assim como a codificação e julgamento desta informação. Evidência deste impacto na atenção e codificação vem de uma variedade de estudos que mostram que a compreensão e a memória para estímulos é melhorada se algum rótulo, categoria ou conceito é também apresentado para capacitar a pessoa organizar o estímulo de alguma maneira (ex., Bransford & Johnson, 1972). Presumivelmente o rótulo, categoria ou conceito ativa um schema, que permite as pessoas compreenderem e organizarem o estímulo em seus termos. Na saída ou lado da decodificação do processamento de informações, sustenta-se que os schemas têm um efeito seletivo na retenção, evocação e organização da memória. Sob algumas circunstâncias, as pessoas têm melhor memória para estímulos que se encaixam, e sob outras circunstâncias, informação inconsistente com o schema é particularmente memorizável (ver Higgins & Bargh, 1987; Stangor & McMillan, 1992). Portanto, os efeito dos schemas no processos mnêmicos parecem ser de certo modo complexos. Varias questões similares sobre seletividade no processamento de informações têm sido por muito tempo um interesse de pesquisadores de atitudes, que reivindicam que as atitudes influenciam a atenção e interpretação de informação atitude-relevante assim como a memória para esta informação. Estas questões são consideradas primariamente no Capítulo 12. ATITUDES E QUESTÕES MOTIVACIONAIS A visão de que schemas são úteis porque eles permitem às pessoas representar e organizar a informação que elas encontram repercutem um dos importantes temas das análises dos teóricos de atitudes sobre as funções ou necessidades que as atitudes servem aos indivíduos. Por 19 exemplo, em sua taxinomia de quatro tipos de funções relevantes paras as atitudes, Daniel Katz (1960; Katz & Stotland, 1959) afirmou que uma das funções que as atitudes servem é organizar e simplificar as experiências das pessoas. O pensamento de Katz sobre este aspecto das atitude assemelha-se a visão de que necessita-se de schemas para que as pessoas sejam capazes de compreender suas experiências. Katz (1960; Katz & Stotland, 1959) propôs três funções adicionais que as atitudes podem servir. Sua função de ajustamento ou utilitária presumia que as atitudes possibilitam às pessoas maximizar recompensas em seus ambientes e minimizar punições. Com seria de se esperar desta herançada função da teoria da aprendizagem, as atitudes satisfazem esta função por meio de um presumida tendência das pessoas formarem atitudes favoráveis em relação a estímulos associados com a satisfação de necessidades e atitudes desfavoráveis em relação a estímulos associados punições. De acordo com a função ego-defensiva de Katz, atitudes também possibilitam as pessoas se protegerem de realidades desagradáveis. A teorização a respeito desta função deriva das idéias psicanalíticas sobre mecanismos de defesa. Finalmente, de acordo com a função valor-expressiva de Katz, as atitudes permitem as pessoas expressarem sues valores pessoais e seu auto-conceito. A teorização a respeito desta função deriva da psicologia do ego e outras variedades de teoria da personalidade. Estas funções propostas por Katz (e por outros teóricos; ver M.B. Smith, Bruner & White, 1956) presumem que certas necessidades gerais ou motivos energizam e dirigem o funcionamento atitudinal. As necessidades particulares e motivos que são considerados pelos pesquisadores de atitudes em qualquer período no tempo tendem a derivar de um tipo de teoria que é popular na psicologia social e na psicologia mais geral. Por exemplo, a função utilitária de Katz refletiu a importância da teoria da aprendizagem, e sua função ego-defensiva refletiu o impacto da teoria psicanalítica. Ambas teorias eram muito mais populares nos anos 50, quando Katz desenvolveu sua topologia, do que elas são agora. Porque a teorização cognitiva tem sido dominante na psicologia social e na psicologia mais geral durante os últimos anos, a maior parte do pensamento sobre questões motivacionais do pesquisadores de atitudes tem o sabor cognitivo da função de conhecimento de Katz. As explicações cognitivas da motivação têm incluído, além da idéia de que as pessoas são motivadas as simplificar e organizar estímulos, a idéia de que as pessoas desejam reduzir inconsistências entre cognições correlatas. Além disso, as teorias sobre auto-conceito e auto-apresentação tem se tornado gradativamente mais importantes na psicologia social (ex., A.G. Greewlad, 1980; Schlenker, 1980; Steele, 1988), princípios de certo modo parecidos com aqueles que Katz incluiu em sua função valor-expressiva têm ganho adeptos em alguns tipos de pesquisa sobre atitudes. Explicações sobre motivação que enfatizam que as atitudes facilitam a formação e manutenção de relações sociais também têm sido importantes na pesquisa sobre atitudes (ex., Kelman, 1958; Smith, Bruner & White, 1956). Além disso, como observado em nossa discussão sobre o constructo atitude, supõe-se que as próprias atitudes energizam e dirigem o comportamento, e , portanto, têm implicações motivacionais delas e nelas mesmas, bem distante de motivos mais amplos que elas podem servir. Considerações a respeito destes temas motivacionais são feitas no Capítulo 10 e em vários outros pontos deste livro. Certamente motivação é um componente crescentemente importante da pesquisa sobre atitudes contemporânea. 20 ____________ In: EAGLY, A. H. e CHAIKEN, S. (1993) The Psychology of attitudes. Orlando, FL: Harcourt Brace Jovanovich, Inc. Cap. 1 (p. 1-22). Texto traduzido para uso exclusivo nas disciplinas Comportamento Organizacional e Indivíduo e Organizações (PPGA / UFBa.).
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